TCC Revisado

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO DEPARTAMENTO DE CIËNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS FLORIANÓPOLIS 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO

DEPARTAMENTO DE CIËNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO

ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI

ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS

FLORIANÓPOLIS 2012

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ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI

ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Ciências da Administração do Centro Sócio-Econômico da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para conclusão do Processo de Reconhecimento do Diploma de Bacharel em Administração. Área de Concentração: Administração Geral

FLORIANÓPOLIS 2012

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ADRIANA RODRIGUES CAMPELLI ARMONICI

ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE NEGÓCIOS

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado, atendendo os requisitos parciais para obtenção do título de Bacharel em Administração da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 15 de fevereiro de 2012.

Banca Examinadora

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ARMONICI, Adriana. Aspectos da Globalização na Internacionalização de Negócios. 2012. 68 p. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Administração. Centro Sócio-Econômico. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2012.

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“A globalização permite alcançar o mundo como nunca foi feito antes e permite ao mundo que alcance a cada um de nós como jamais aconteceu.”

(Thomas Friedman)

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DEDICATÓRIA

A minha mãe Crenilde, fonte inesgotável de amor, força, sabedoria, apoio e inspiração. E ao meu marido Carlo e filhas Isabella e Giuliana, razão do meu viver e minha maior alegria.

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AGRADECIMENTOS Ao Professor MSc. João Nilo Linhares, pelo cuidado com que acolheu o meu pedido de validação, pela Universidade Federal de Santa Catarina, de diploma de Graduação em Administração obtido junto à New York University. Ao Professor Dr. Luiz Salgado Klaes, que me orientou para equacionar todas as exigências e requisitos documentais e tornar o processo mais completo. Ao Professor Dr. Irineu Manoel de Souza, pela preciosa orientação e por ter resgatado, em análise criteriosa, a equivalência entre currículos, metodologias e créditos obtidos no exterior, em complementação aos obtidos nesta universidade. Ao Professor Dr. Gilberto de Oliveira Moritz, admirado Chefe do Departamento de Ciências da Administração, pela extraordinária habilidade em conduzir equipes e criar resultados. Às secretárias do Centro de Ciências da Administração Lindamir Bosse Brinhosa e Rosângela T. Emerim Moreira, e à estagiária Helena de Freitas Ferreira, por personificarem as melhores qualidades como seres humanos e como servidoras da Universidade Federal de Santa Catarina. Ao amigo e empresário Carlos Alberto Marin pela disponibilidade em compartilhar a história de sucesso da Weightech, uma empresa catarinense de perspectiva verdadeiramente global.

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RESUMO

Este é um estudo sobre globalização na internacionalização dos negócios. O trabalho parte de conceitos, emitidos por autores de diversos campos do conhecimento e publicados em livros e artigos científicos, para sintetizar aspectos relevantes do fenômeno. Globalização é tratada como processo complexo, multifacetado e ainda em curso, composto por outros processos interdependentes e intrinsecamente relacionados entre si. Aspectos relevantes desses processos são descritos para caracterizar as dimensões econômica, política, social, ambiental e tecnológica da existência humana em todo o mundo. Alguns conceitos teóricos do trabalho são resumidos e exemplificados, no relato da experiência de internacionalização de negócios, de uma empresa de tecnologia, provedora de soluções em sistemas de pesagem, operando em mercado globalizado. Palavras-chave: Globalização. Integração Econômica. Interdependência Social. Internacionalização de Negócios. Alianças Estratégicas. Empresas transnacionais. Mercados Globais.

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ABSTRACT

This is a study about globalization in the internationalization of business. The study summarizes relevant aspects of the phenomenon, based on concepts developed by authors from various fields of knowledge and published in books and scientific papers. Globalization is treated as a complex, multifaceted, and ongoing process, composed by many other interdependent and inextricably related processes. Relevant aspects of these processes are described in order to characterize the economic, political, social, environmental and technological dimensions of human existence around the world. Some of the theoretical concepts studied are summarized and exemplified in the internationalization experience of a technology company that operates as a weight systems solutions provider in the global market. Keywords: Globalization. Economic Integration. Social Interdependency. Business Internationalization. Strategic Alliances. Transnational Organizations. Global Markets.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALAI – Associação Latino-Americana de Integração MERCOSUL – Mercado Comum do Sul OEM – Original Equipment Manufacturer (Fabricante de Equipamento Original) OXFAM – Oxfam International – Oxford Committee for Famine Relief (Comitê de Oxford de Combate à Fome) FMI – Fundo Monetário Internacional ONU – Organização das Nações Unidas AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida CELTA – Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas HBM – Hottinger Baldwin Messetechnik INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia SISCOMEX – Sistema de Gerenciamento de Comércio Exterior do Governo Brasileiro

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – O indivíduo e a história: Alexandre, o Grande e a globalização.......20 Quadro 2 – Um Revolucionário Improvável.........................................................41 Quadro 3 – Tecnologia da Informação e a Nova Economia................................42 Quadro 4 – Perfil de Globalistas, Tradicionalistas e Transformacionalistas........46

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

1.1 TEMA E QUESTÃO DO TRABALHO............................................................... 14

1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................... 16

1.3 OBJETIVOS ......................................................................................................... 17

1.3.1 Objetivos Gerais ......................................................................................... 17

1.3.2 Objetivos Específicos ............................................................................... 17

1.4 METODOLOGIA .................................................................................................. 18

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 20

2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..................................................................... 20

2.2 DELIMITAÇÃO OPERACIONAL DE CONCEITOS ....................................... 22

2.3 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................. 28

2.4 CONCEITUAÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO ......................................................... 29

2.5 ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO ................................................................... 32

2.5.1 Globalização Econômica ......................................................................... 33

2.5.2 Globalização Política ................................................................................ 35

2.5.3 Globalização Social ................................................................................... 37

2.5.4 Globalização Ambiental ........................................................................... 39

2.5.5 Globalização Tecnológica ....................................................................... 41

3. TEORIAS CRÍTICAS DA GLOBALIZAÇÃO ....................................................... 43

4. WEIGHTECH: UMA EXPERIÊNCIA DE INTERNACIONALIZAÇ ÃO DE

NEGÓCIOS NO MERCADO GLOBAL ...................................................................... 46

4.1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 46

4.2 CONEXÕES COM OS CONCEITOS DESTE TRABALHO .......................... 47

4.3 ENTREVISTA....................................................................................................... 49

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS, CONCLUSÃO E SUGESTÕES PAR A

PESQUISAS FUTURAS ............................................................................................... 59

5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 59

5.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS

....................................................................................................................................... 62

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5.3 CONCLUSÃO....................................................................................................... 63

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 65

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1. INTRODUÇÃO

1.1 TEMA E QUESTÃO DO TRABALHO

Pode parecer retórico falar na globalização de mercados, das empresas e

do mundo, dada a banalização do termo no vocabulário empresarial de hoje.

Mas o verdadeiro entendimento do que é globalização e de como este fenômeno

mundial afeta as operações de uma empresa é fundamental não só para o seu

sucesso, como para a sua sobrevivência.

Por séculos a humanidade tem se ocupado de negócios que buscam

oportunidades além das fronteiras nacionais. Em tempos recentes, mais do que

nunca, os negócios e a vida das pessoas, em todo mundo, vem sendo afetada

por eventos de nível internacional.

Organizações que conduzem operações de negócios além das fronteiras

do país de origem são denominadas empresas internacionais ou corporações

multinacionais e mesmo transnacionais.

As empresas têm numerosas razões para efetivar negócios além-

fronteira. Uma das maiores vantagens talvez seja a de alcançar mais clientes e

consumidores para seus produtos e serviços, aumentando retornos sobre

investimentos e assim a lucratividade.

Outra forte razão seria ampliar garantias de suprimento de matérias

primas e outros fatores de produção para redução de custos.

Além da busca pelo crescimento e expansão de mercado, as empresas

potencialmente encontram outras razões vantajosas para iniciar, continuar e

expandir operações internacionais.

Segundo David (2005, p.27) algumas destas vantagens são:

1. Operações no exterior podem absorver excesso de capacidade,

reduzir custos unitários, e diluir riscos econômicos entre um

número mais amplo de mercados.

2. Operações no exterior podem permitir às empresas estabelecer

unidades produtivas em localizações próximas de matérias primas

e/ou mão de obra barata.

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3. A concorrência em mercados estrangeiros pode ainda não

existir ou ser menos intensa do que nos mercados domésticos.

4. Em certos países, operações no exterior podem resultar em

tarifas reduzidas, tributos menores e tratamento político favorável.

5. Operações em parcerias (joint-ventures) podem capacitar as

empresas a aprenderem tecnologias, culturas e práticas de

negócios de outros povos e fazer contatos com potenciais

consumidores, fornecedores, financiadores e distribuidores em

países estrangeiros.

6. Muitos governos e países estrangeiros oferecem diversos

incentivos para encorajar investimentos externos em localizações

específicas.

7. Economias de escala podem ser mais facilmente atingidas em

operações globais do que apenas em mercados domésticos.

Produção em larga escala e melhor eficiência permitem maiores

volumes de venda e menores preços.

Estes aspectos positivos não eliminam a consideração de dificuldades e

riscos que resultam da falta de compreensão das peculiaridades dos diversos

ambientes a nível internacional, onde ocorrerão as operações.

David (2005, p.28) também enumera possíveis desvantagens:

1. Quando realizam negócios internacionalmente, as empresas

encontram forças sociais, culturais, demográficas, ambientais,

políticas, governamentais, legais, tecnológicas, econômicas e

competitivas, frequentemente pouco entendidas e diferentes das

suas. Essas forças podem dificultar a comunicação entre a

empresa matriz e suas subsidiárias.

2. As fraquezas de competidores em terras estrangeiras são

frequentemente superestimadas enquanto suas forças são

frequentemente subestimadas. [...]

3. Idioma, cultura e sistema de valores variam entre países, e isso

pode criar barreiras de comunicação e dificuldades em gerenciar

pessoas.

4. Desenvolver um entendimento sobre organizações regionais

como a Comunidade Econômica Européia, Associação Latino-

Americana de Integração (ALAI), Mercado Comum do Sul

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(MERCOSUL), Banco Internacional para Reconstrução e

Desenvolvimento, e Corporação Internacional Financeira é difícil

mas é frequentemente necessário para se fazer negócios no

exterior.

5. Lidar com dois ou mais sistemas monetários pode complicar as

operações de negócios internacionais.

6. A disponibilidade, profundidade, confiabilidade de informações

econômicas e de marketing em diferentes países variam

imensamente, como também as estruturas industriais, práticas de

negócios e o número e natureza das organizações regionais.

Mesmo as pequenas empresas que operam apenas em seu país de

origem, com matérias primas regionais, e investem somente no mercado

nacional, precisam estar alertas, pois seus competidores serão globais e

idealmente seus clientes também.

De acordo com Kanter (1995, p.227), “No futuro, o sucesso virá para

aquelas empresas, grandes e pequenas, que conseguirem alcançar padrões

globais e infiltrar redes globais... e virá para aquelas cidades, estados, e regiões

que conseguirem fazer o melhor trabalho de ligar as empresas que nelas

operam com a economia global.”

Este trabalho foi realizado a partir da seguinte questão: O que é

globalização e quais seus aspectos mais relevantes?

1.2 JUSTIFICATIVA

A procura de entendimento sobre as características e dinâmicas mais

expressivas do fenômeno que vem sendo designado por “globalização” é

suscitado pela importância que a dimensão internacional, cada vez mais, impõe

à continuidade dos negócios e sua expansão para destinos que abrangem o

mundo.

Em busca do aumento de eficiência, de eficácia e de efetividade, como

condição de crescimento, os esforços dos dirigentes de negócios se voltam para

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a melhoria final da competitividade, segundo opções estratégicas, nas escolhas

de mercado que integram distâncias cada vez maiores.

A intensificação da concorrência a nível mundial está obrigando uma

mudança de conduta, que significa abertura para mercados externos. Muitas

empresas que antes só operavam nos mercados domésticos e sem qualquer

tradição internacional, hoje buscam um novo posicionamento empresarial

voltado para o mundo.

Seja a busca por crescimento de mercado, por maior competitividade, por

novas oportunidades de negócios, pela construção de parcerias estratégicas, ou

pela redução de riscos, as empresas hoje se encontram em um processo de

globalização.

Viana e Hortinha (2005) apontam que o processo de globalização se

baseia em mercados globais, onde consumidores de diferentes lugares do

mundo partilham as mesmas necessidades provocadas pela propagação de

meios de comunicação verdadeiramente globais, viabilizados pela revolução da

Internet, que em segundos permite estabelecer contato entre quaisquer pontos

da rede.

Buscar um entendimento sobre este processo a partir das contribuições

de autores de diferentes campos de estudo é a justificativa deste trabalho.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivos Gerais

É objetivo geral deste estudo compreender o processo de globalização

conforme descrito por autores selecionados.

1.3.2 Objetivos Específicos

São objetivos específicos deste trabalho:

a) Caracterizar aspectos da globalização econômica;

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b) Caracterizar aspectos da globalização política;

c) Caracterizar aspectos da globalização social;

d) Caracterizar aspectos da globalização ambiental;

e) Caracterizar aspectos da globalização tecnológica;

f) Exemplificar conceitos do processo de globalização na experiência

real de empresa.

1.4 METODOLOGIA

Rodrigues (2007, p. 02) define metodologia científica como “um conjunto

de abordagens, técnicas e processos utilizados pela ciência para formular e

resolver problemas de aquisição objetiva de conhecimento, de uma maneira

sistemática.”

Com respeito aos seus objetivos, a pesquisa científica pode ser

subdividida em exploratória, descritiva, ou explicativa.

A pesquisa exploratória proporciona uma maior familiaridade sobre o

tema, através de levantamento bibliográfico, entrevistas e estudos de caso. Já

na pesquisa descritiva, os fatos são observados, registrados, analisados,

classificados e interpretados, sem interferência do pesquisador. Finalmente, na

pesquisa explicativa, o pesquisador identifica fatores determinantes para a

ocorrência de fenômenos. (GIL 2002; RODRIGUES, 2007).

Como descrito anteriormente, este trabalho tem por objetivo compreender

o que é globalização, através de pesquisa exploratória com base nas

contribuições de autores que se ocuparam em analisar o processo de

globalização que é vivenciado hoje.

Considerando os procedimentos técnicos usados, este trabalho é uma

pesquisa bibliográfica. Gil (2002) caracteriza a pesquisa bibliográfica como

aquela que utiliza material já elaborado, constituído principalmente de livros e

artigos científicos.

Os autores consultados mereceram a escolha, sobretudo, pelo respeito

que têm recebido nos países de origem, bem como nos meios editoriais e

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acadêmicos voltados ao estudo de administração e, concentradamente, na área

de marketing, além de economia, notadamente, economia política.

A literatura investigada com freqüência favoreceu o uso de textos em

idioma estrangeiro, principalmente quando o levantamento bibliográfico remeteu

aos pioneiros do estudo da globalização como Robert Buzzell, Theodore Levitt, e

Peter Druker. Nestes casos, a tradução do inglês para o português foi realizada

pela autora.

Adicionalmente, foi realizada extensa entrevista semi-estruturada com o

empresário Carlos Alberto Marin, proprietário e Diretor Executivo da Weightech

Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda.,

empresa provedora de soluções de pesagem para o mercado de Original

Equipment Manufacturer (OEM).

De acordo com Boni e Quaresma (2005) a entrevista semi-estruturada

utiliza uma combinação de perguntas abertas e fechadas em um contexto

semelhante ao de uma conversa informal. Seguindo um roteiro de questões

previamente definidas, este tipo de entrevista permite delimitar o volume de

informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema, intervindo a

fim de que os objetivos sejam alcançados.

De modo sucinto, quanto à abordagem uma pesquisa pode ser

classificada como quantitativa ou qualitativa.

A pesquisa quantitativa caracteriza-se pelo emprego da quantificação,

tanto das modalidades de coleta de informações, quanto ao tratamento destas

através de técnicas estatísticas (REIS, 2008). Em outras palavras, ela traduz

em números as opiniões e informações a serem classificadas e analisadas, e o

faz através de técnicas estatísticas.

A pesquisa qualitativa, por sua vez, é descritiva. Nela as informações

obtidas não podem ser quantificadas e são analisadas indutivamente. Nesta

abordagem o pesquisador trabalha com descrições, comparações e

interpretações. (ZANELLA, 2007).

Na pesquisa qualitativa, como é o caso neste trabalho, a interpretação

dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Quadro 1 O indivíduo e a história: Alexandre, o Grande e a g lobalização

Alexandre (356 a.C. – 323 a.C.), filho de Felipe da Macedônia, tornou-se rei aos 20 anos. Liderou os gregos na destruição do império persa de Dario.

“Que diferença uma pessoa pode fazer no mundo? Quanto um indivíduo sozinho pode mudar a história? Alexandre viveu num mundo em que a imagem do herói era onipresente e sempre

demonstrou o desejo de igualar-se às figuras da mitologia. Se, por um lado, ele desejava sinceramente superar os heróis das lendas, é inegável que o poder do mito funcionava como uma estratégia de dominação.

... a helenização do mundo antigo pode ser interpretada como a primeira globalização da história.

Alexandre foi o primeiro a realizar um projeto de unificação dirigida, planificada, deliberada. Com a fundação de cidades gregas por todo o Oriente, ele estabeleceu focos de irradiação da cultura clássica.

... durante séculos, Alexandre foi adotado como modelo por vários governantes, incluindo os imperadores romanos e monarcas medievais...” (Botelho, 2005, p.48-49).

“Filho de Felipe. Subiu ao trono com 20 anos. Sua personalidade..., seu espírito, ilustrado e inventivo, sua fé numa ascendência divina, sua coragem heróica, as paixões vividas de seu temperamento sem freios...

Reconhece-se nele a ‘ambição desmedida’ que fez com que o considerassem o último, em data, dos ‘heróis’” (Larousse, 1962, tomo II, p. 761).

Fontes: José F. Botelho, “Alexandre, do homem ao mito”. Super-Interessante, edição 209, janeiro 2005. Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro: Editora Delta, 1962. Fonte: Gonçalves (2005, p. 41).

Há quem considere que a globalização não é algo novo ou recente na

história da humanidade. Em tempos de paz e mesmo em tempos de

colonização, povos de todo mundo trocavam suas mercadorias além das suas

fronteiras, na busca por uma maior gama de produtos, ainda que as transações

ocorressem num perímetro limitado pela capacidade de viagem com animais ou

barcos.

No auge da tecnologia marítima, no século XVI, viagens patrocinadas

pelas coroas Portuguesa, Espanhola e Holandesa, deram impulso a integração

mundial. Contudo, foi na segunda metade do século XIX, com o advento da

eletricidade, a invenção da locomotiva a vapor, a expansão das ferrovias e o

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estabelecimento do padrão-ouro, que a globalização teve o seu primeiro grande

impulso.

É importante lembrar que esta primeira grande onda de comércio

internacional e integração financeira foi interrompida por uma fase de

protecionismo e nacionalismo agressivo, que levou à Grande Depressão dos

anos de 1930 e à Segunda Guerra Mundial (KÖHLER, 2003).

Mesmo depois de recuperar propulsão mundial após a Segunda Guerra, o

movimento de globalização como caracterizada hoje não se cimentou até uma

nova revolução tecnológica – a Internet, maior difusora de informação da história

do mundo.

De acordo com Druker (1998), estamos vivenciando a quarta revolução

da informação da história da humanidade:

A primeira revolução foi a invenção da escrita há 5.000 ou 6.000

anos atrás na Mesopotâmia; depois – independentemente, mas

milhares de anos mais tarde – na China; e alguns 1500 anos

depois, na Civilização Maia da América Central. A segunda

revolução foi a invenção do livro escrito, primeiro na China por

volta de 1.300 a.C.; e em seguida, independentemente e 800 anos

mais tarde, na Grécia (quando Peisistratos, o tirano de Atenas,

mandou transcrever para livros os poemas épicos de Homero –

que até então eram apenas recitados). A terceira revolução

aconteceu com a invenção da imprensa escrita e prensa móvel

entre 1450 e 1455, pela qual Guttenberg foi responsável, e pela

invenção contemporânea do processo de gravação de texto e

imagem. Na quarta revolução, o foco vai além da tecnologia, dos

equipamentos, das técnicas, dos softwares, e da velocidade com

que informação é trocada. Estes, fornecem a estrutura que

sustenta verdadeira revolução atual, centrada no uso da

informação, que questiona a utilidade e o significado dos dados

disponíveis.

Como difusora de informação, a Internet é uma tecnologia revolucionária

que eliminou as barreiras geográficas entre consumidores e fornecedores,

independentemente da distância entre eles.

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2.2 DELIMITAÇÃO OPERACIONAL DE CONCEITOS

Com o objetivo de facilitar a compreensão dos conteúdos que são

tratados neste trabalho, é formulada uma delimitação operacional de conceitos,

como a seguir exposta:

Acomodação gerencial – inércia em conseqüência da proteção contra a

concorrência, que amortece a eficiência gerencial da empresa.

Ação afirmativa – iniciativa de empresários e empregadores para incluir

minorias marginalizadas abrindo oportunidades de acesso à economia produtiva,

através de emprego, treinamento e remuneração.

Aliança estratégica – acordo de cooperação entre concorrentes para

ampliar sinergias em áreas delimitadas de interesse comum, para desenvolver

vantagem competitiva no mercado global.

Barreiras não tarifárias – obstáculos sem a forma de tarifas aduaneiras

(como normas e regulamentos) que põem em desvantagem competidores

estrangeiros.

Bens de capital – conjunto de máquinas e instalações em que a empresa

investe com recursos próprios ou obtidos no mercado de capitais.

Bens públicos – qualidade dos bens que incluem todos os indivíduos

como usuários potenciais; bens que têm a propriedade de consumo não rival ou

concorrente e a impossibilidade de excluir alguém do seu consumo.

Bens rivais – bens cujo consumo ou uso por uma pessoa exclui o

consumo por outra.

Blocos comerciais regionais – conjunto de países vizinhos que

concordam em eliminar barreiras, não só ao comércio, como ao fluxo de capital

e de trabalho.

Capital humano – estoque de qualificações e experiências que tornam

os trabalhadores capazes para produção de bens e serviços.

Comércio bilateral – transações e trocas entre duas partes, quer sejam

empresas ou países.

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Comércio multilateral – transações e trocas envolvendo mais de duas

partes, quer sejam empresas ou países.

Concorrência – rivalidade ou disputa entre ofertantes de bens e serviços

por clientes ou consumidores; rivalidade ou disputa entre clientes ou

consumidores por bens e serviços em oferta no mercado.

Correlação – relação entre a alteração de uma variável e a alteração de

outra, sistematicamente associadas entre si.

Crescimento liderado pelas exportações – estratégia pela qual os

governos incentivam as exportações de produtos em que o país tem vantagem

comparativa, para promover o crescimento econômico.

Divisão do trabalho – separação do processo produtivo em etapas e

tarefas, concentrando-se cada trabalhador em um conjunto limitado de

atividades, de sorte a favorecer o aperfeiçoamento em certas habilidades e

competências específicas.

Economia de mercado – sistema produtivo de bens e serviços que aloca

recursos basicamente através da interação entre indivíduos (famílias) e

empresas privadas.

Empresa ou firma – unidade técnica que produz bens e serviços; pessoa

jurídica de direito privado (ou público) capaz de estabelecer operações

produtivas comerciais no mercado interno e/ou no mercado externo.

Escassez – disponibilidade limitada de recursos.

Estado nacional ou Estado nação – instituição que contém uma

sociedade politicamente organizada, com um governo que atua dentro de um

território demarcado e que se mantém unido por cultura, símbolos e valores

comuns.

Estratégia dominante – conjunto de ações e decisões que dão os

melhores resultados não importa o que façam outros parceiros intervenientes no

jogo.

Estrutura de mercado – organização da economia quanto à competição

entre os elementos constituintes da oferta e da procura, em que se identifica o

grau de competição.

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Excesso de demanda – situação em que a quantidade procurada a um

dado preço de um produto excede à oferta.

Excesso de oferta – situação em que a quantidade ofertada a um dado

preço de um produto excede à demanda.

Exportações – bens produzidos internamente em um país, mas vendidos

no exterior.

Externalidade – fenômeno que ocorre quando um indivíduo ou empresa

tem uma atividade, mas não arca com todos os custos (externalidade negativa)

ou não recebe todos os benefícios (externalidade positiva).

Função de produção – relação entre os insumos usados na produção de

bens e serviços e o nível de produção obtido.

Ganho de capital – variação positiva do valor de um ativo entre o

momento da compra e o da venda.

Ganhos de comércio – os benefícios que cada parceiro obtém de uma

troca.

Globalização – estreitamento da integração entre os países do mundo,

especialmente maior nível de comércio e movimentos de capital decorrente da

redução dos custos de transporte e de comunicação (STIGLITZ; WALSH, 2003a,

p. 428).

Globalização econômica – ocorrência simultânea de expansão

extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais, o

acirramento da concorrência nos mercados mundiais e maior integração entre

sistemas econômicos nacionais (GONÇALVES, 2003, p. 21-22).

Hardware – parte física dos elementos constituintes de um computador,

especificamente unidade essencial de processamento, presente em

computadores e em qualquer utensílio que automatiza informações.

Importações – bens produzidos no exterior, mas comprados

internamente.

Imposto seletivo – tributo seletivo que recai sobre bens considerados

luxuosos, em geral consumidos mais do que proporcionalmente pelos indivíduos

e grupos mais ricos.

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Incentivos – benefícios ou redução de custos, como tributos, que

motivam decisões em favor de uma escolha particular.

Indutores de globalização – condições do segmento que determinam o

potencial e a necessidade de competir com uma estrutura global; condições

críticas de qualquer segmento que afetam o potencial para globalização (YIP,

1996 p.15)

Informação – base da tomada de decisões que pode afetar a estrutura

do mercado e o uso eficiente dos recursos escassos de uma sociedade.

Internacionalização de produção – processo pelo qual residentes de

um país acessam bens e serviços com origem não residentes.

Internet – conglomerado de redes em escala mundial de milhões de

computadores interligados pelo TCP/IP (Protocolo de Controle de

Transmissão/Protocolo de Interconexão) que permite o acesso a informações e

todo tipo de transferência de dados. Ela carrega uma ampla variedade de

recursos e serviços, incluindo os documentos interligados por meio de

hiperligações da World Wide Web (Rede de Alcance Mundial), e a infra-estrutura

para suportar correio eletrônico e serviços como comunicação instantânea e

compartilhamento de arquivos.

Investimento financeiro – aplicações de dinheiro em ações, títulos de

dívida ou outros instrumentos financeiros que constituem fontes para bens de

capital.

Joint-Venture – acordo de parceria entre empresas, juridicamente

independentes, e em que é preservada a individualidade de cada qual, com o

objetivo de partilharem o risco do negócio, os investimentos, as

responsabilidades e os lucros associados a determinado projeto ou ação

estratégica essencial, de internacionalização ou de globalização.

Liquidez – facilidade com que um investimento pode ser convertido em

dinheiro vivo.

Livre comércio – ausência de barreiras legais, burocráticas, tarifárias ou

de quotas para transações comerciais entre países.

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Mercado – local de encontro para a finalidade da permuta ou da compra

e venda (POLANYI, 1980, p. 71); onde oferta e demanda se encontram.

Nacionalidade – condição única e excludente pela qual o indivíduo

(pessoa, empresa, organização) se identifica pela origem em um território

determinado, sob jurisdição de um Estado soberano.

Nação – sociedade humana consciente de fazer parte de uma

comunidade que compartilha uma cultura e história em comum, em um território

claramente demarcado e que reclama o direito de se governar.

Negócio mundial – aquele que possui operações abrangentes e

significativas em mais de um continente, produzindo e vendendo em vários

países.

OEM – Original Equipment Manufacturer é uma modalidade diferenciada

de distribuição de produtos originais, na qual eles são vendidos a outras

empresas (chamadas de VAR ou Value-Added Reseller) que montam os

produtos finais (por exemplo, computadores) e os vendem ao consumidor final.

Privatização – processo pelo qual funções antes providas pelo Estado

são delegadas, cedidas ou transferidas ao setor privado da economia (pessoas

e firmas).

Propriedade intelectual – condição em que um conhecimento ou idéia é

reconhecido como pertencente à pessoa ou instituição como direito de

propriedade (em geral protegido por patentes e “copyright”).

Proteção da indústria nacional – medidas compensatórias e barreiras

de entrada à competição estrangeira, em geral quando são novas e até que

adquiram pela experiência a capacidade de competir em condições de

igualdade.

Quotas – quantidade de bens estrangeiros que se é permitido importar;

limites aos volumes de produção que se é permitido exportar.

Recursos naturais – natureza da base territorial de um país com

interesse para exploração econômica (clima, fertilidade e forma do solo,

reservas hidrominerais).

Page 27: TCC Revisado

27

Royalty – taxa de rendimento cobrada por titular de uma patente de

invenção, criação ou extração para permitir que outro a use.

Sistema econômico internacional – espaço de encontro entre atores de

diferentes nacionalidades e atores transnacionais para interações econômicas.

Soberania do consumidor – idéia de que os indivíduos são os melhores

juízes a respeito do próprio interesse ou do que lhes proporciona mais bem

estar.

Software – Qualquer programa ou grupo de programas que instrui o

hardware sobre a maneira como ele deve executar uma tarefa, inclusive

sistemas operacionais, processadores de texto e programas de aplicação.

Tecnologia – conjunto de conhecimentos aplicados na forma de utilidade

para produção de bens e serviços.

Teoria – conjunto de hipóteses e conclusões que delas derivam,

apresentadas como explicação de algum fenômeno.

Transnacionalidade – condição da inserção econômica no mundo em

que há dispersão da atividade produtiva além das fronteiras do país de origem

para diversos outros países, deixando de haver uma referência nacional

predominante em termos de interesses e valores.

Vantagem absoluta – vantagem de um país sobre outro quando produz

um bem ou serviço de modo mais eficiente ou com menos insumos.

Vantagem comparativa – condição em que um país tem eficiência

relativamente mais favorável do que outra na produção de um bem ou serviço.

Vantagem competitiva – conceito de que o modo como a estratégia

escolhida e seguida pela organização pode determinar e sustentar o seu

sucesso competitivo (PORTER, 1989).

Vantagem competitiva global – condição favorável que decorre da

combinação de vantagem competitiva com vantagem comparativa.

Vantagem estratégica – condição favorável que decorre da estratégia do

negócio essencial da empresa.

Page 28: TCC Revisado

28

2.3 REVISÃO DA LITERATURA

Globalização é tema de estudo em vasta literatura onde não faltam

controvérsias e contestações. O interesse sobre a crescente interdependência

entre países ao redor do mundo suscita a abordagem de globalização sob os

mais diversos enfoques, metodologias e conseqüentes conclusões, difíceis de

conciliar em presença de críticas ainda não superadas.

Em outras palavras, ainda falta consenso entre os estudiosos sobre o que

seja “globalização”, não existindo, pois, um conceito único e inquestionável para

explicá-lo.

Em certo sentido, “global” tem sido usado como sinônimo de “mundial” e

muitas vezes de “internacional” e até estendido para “universal”. Assim,

globalização se confunde com mundialização, internacionalização e

universalização.

Em sentido estrito, pode-se dizer que a confusão tem fundamento. De

acordo com o Dicionário Michaelis (2008), “global” significa considerado em

globo, por inteiro ou em conjunto; “mundial” significa que diz respeito ao mundo,

ao maior número de seus países; universal, geral; “internacional” significa

relativo às relações entre nações, que se faz entre nações, que se estabelece de

nação para nação, ou que reúne ou interessa a representantes de todas as

nações. Finalmente, de acordo com o mesmo dicionário, “universal” significa

geral, total, comum a todos, que abrange todas as coisas, que se estende a

tudo, que provém de todos, que é feito de todos, que tem caráter de

generalidade absoluta.

Além da confusão causada pelo uso intercambiável entre os termos

acima qualificados, outra razão para a dificuldade de consenso na abundante

literatura disponível sobre o tema, é que ela provém de diferentes disciplinas e

campos do conhecimento, cada qual focalizando aspectos que são vistos como

relevantes para a respectiva área de atuação.

Até os anos recentes, na maioria dos estudos, a ênfase está posta em

aspectos econômicos e tecnológicos da globalização.

Page 29: TCC Revisado

29

Economistas se ocupam da internacionalização do comércio, das

finanças e da produção como sendo o fenômeno conhecido por “globalização da

economia mundial” (GREMAUD, 2004).

Em geral, os economistas têm destacado questões como fluxos de

capital, de bens e de serviços, inclusive questões monetárias e financeiras,

abordando ainda alianças regionais, distribuição de renda e emprego no país

sob estudo, em face das influências externas.

Sociólogos e cientistas políticos, e outros da área de ciências humanas,

estão preocupados com fragilidades sociais, o enfraquecimento e fracionamento

dos Estados Nacionais, a crise da cidadania e novos códigos de ética para o

século XXI (NAISBITT, 1994).

Para definir globalização, a discussão se amplia sobre os paradoxos da

substância econômica e política de mercados (PESQUEUX, 2010).

Geólogos e ambientalistas se preocupam com o esgotamento dos

recursos naturais, a destruição e desaparecimento de espécimes botânicos e

espécies animais, poluição e aquecimento do mundo, degelo das calotas

polares, como conseqüências adversas nas relações entre globalização e a vida

no planeta.

Os administradores vêm se ocupando da globalização dos mercados e

ampliando os estudos de marketing para novas fronteiras.

2.4 CONCEITUAÇÃO DE GLOBALIZAÇÃO

Na maioria das tentativas de conceituar globalização, os resultados vêm

embutidos em juízos de valor a respeito de como o mundo funciona e de como

deveria funcionar. Os aspectos descritivos vêm inextricavelmente ligados com o

prescritivo e o normativo (LEE, 2002).

A questão da globalização estaria intrinsecamente ligada aos movimentos

de capital, “commodities”, pessoas, imaginação e práticas culturais (BRAH;

HICKMAN; MAC AN GHAILL, 1999).

Page 30: TCC Revisado

30

Uma discussão aparentemente inacabada é a respeito de quando teria

iniciado a globalização econômica, quando se teria intensificado, e se o

fenômeno é atual, sem precedentes, ou se já ocorreu no passado.

A Oxfam, uma instituição dedicada à luta contra a pobreza e a injustiça ao

redor do mundo, conceitua globalização como “um processo de rápida

integração econômica, impulsionada pela liberação do comércio, fluxos de

investimento e de capital, assim como pela rápida mudança tecnológica e a

revolução da informação” (OXFAM, 2000).

Rejeitando essa visão de globalização como integração rápida dos

mercados, Hirst e Thompson (2009) argumentam que “a atual economia

altamente internacionalizada não é sem precedentes na história, já que altos

níveis de comércio internacional ocorreram desde a segunda metade do século

XIX.”

Além disso, os fluxos de comércio, investimentos e capitais estariam

concentrados entre a Europa, Japão e Norte América, sendo raras as empresas

tipicamente transnacionais que operem em todo o mundo. Isto põe em

evidência que a globalização não acontece de modo homogêneo no mundo

todo.

O crescente número de pesquisadores e centros de pesquisa dedicados à

geração e disseminação do conhecimento sobre globalização e seus efeitos,

têm em comum a necessidade de serem considerados os impactos da

globalização descontrolada sobre a vida humana no mundo, fora e além do

espaço do mercado.

Outros autores reconhecem a continuidade da economia lastreada em

estados nacionais e o caminho desigual da mudança que está ocorrendo no

mundo.

Dicken (1998) aponta para o que chama de emergência de uma nova

geoeconomia mundial com estrutura qualitativamente diferente do passado, algo

que envolve tanto processos de internacionalização quanto de globalização.

Os processos de internacionalização conteriam a simples extensão das

atividades econômicas além das fronteiras nacionais. Nesse sentido, a

Page 31: TCC Revisado

31

internacionalização seria uma mudança essencialmente quantitativa que está

levando a padrões geográficos mais intensos e mais extensos de atividade

econômica.

Em contraste, os processos de globalização envolveriam não apenas a

extensão geográfica da atividade econômica além das fronteiras nacionais, mas

também e mais importante ainda – a integração funcional de tais atividades

internacionalmente dispersas.

Assim, em sentido muito amplo, globalização poderia ser entendida como

processos, procedimentos, e tecnologias – econômicos, culturais e políticos –

que embasam a atual compressão de tempo/espaço e que gera um senso de

imediatismo e de simultaneidade no mundo.

O Fundo Monetário Internacional (IMF, 1997) define globalização como

sendo,

“a crescente interdependência econômica entre países do mundo,

através do aumento no volume e variedade de transações além

fronteira de bens e serviços, dos fluxos internacionais de capitais,

bem como da difusão acelerada e generalizada de tecnologia.”

Esta definição, conquanto seja bem aceita em círculos institucionais e

profissionais, apresenta três limitações do ponto de vista da Ciência da

Administração:

1. Ao configurar a interdependência global usando a categoria “países”, a

definição implicitamente excluí empresas, associações profissionais e

outras organizações internacionais que são agentes importantes no

processo;

2. Ao se concentrar no aumento do volume de transações e na difusão

de tecnologia, a definição ignora novos métodos impostos pela

abertura de fronteiras (cooperação entre empresas, a quebra e

reestruturação da cadeia de valores, relocação e terceirização);

3. Ao se limitar à interdependência entre países, a definição negligencia

a descompartimentação dos mercados nacionais.

Page 32: TCC Revisado

32

Em resposta às limitações da definição de globalização proposta pelo

Fundo Monetário Internacional, Milliot (2005, p.43) interpreta o significado da

globalização de mercados como sendo, “uma movimentação que facilita a

coordenação e/ou a integração de operações industriais e de marketing além de

fronteiras nacionais, através da descompartimentação dos mercados e

ressaltando a interdependência de seus atores.”

Pieterse (2003) descreve globalização como um processo

multidimensional que, como todos os processos sociais significantes, desdobra-

se simultaneamente em múltiplas realidades da existência. Assim, haveria

tantos modos de globalização, quantos sejam os agentes globalizantes e as

dinâmicas ou impulsos.

Similarmente, Giddens (1990) refere a intensificação de relações sociais

ao redor do mundo de tal modo que acontecimentos locais são moldados por

eventos ocorrendo a muitas milhas de distância e vice-versa.

Deve-se, pois, pensar em globalização no plural – globalização

econômica, globalização política, globalização ambiental, globalização social,

globalização cultural, e assim por diante, processos que são múltiplos e

intimamente inter-relacionados.

2.5 ASPECTOS DA GLOBALIZAÇÃO

Tão variadas quanto os conceitos de globalização, são as diferentes

óticas dos autores que as conceituam. Considerando a globalização como um

fenômeno abrangente e com impacto em múltiplas esferas existenciais, se faz

necessário visitar algumas destas dimensões crescentemente interconectadas.

Para os fins deste trabalho são destacados aspectos da globalização

econômica, política, social, ambiental e tecnológica.

Estas são apenas algumas das dimensões da globalização. Alguns

autores discutem ainda outras dimensões como a militar, a comunicacional, a

científica, a financeira, a religiosa, a interpessoal-afetiva, a populacional-

Page 33: TCC Revisado

33

migratória, a esportiva, a epidemiológica e a criminal-policial (FERREIRA;

VIOLA, 1996).

2.5.1 Globalização Econômica

Muitos autores argumentam que o ponto de partida da globalização é o

processo de internacionalização da economia, ininterrupta desde a Segunda

Guerra Mundial. De acordo com Vieira (1998, p.76), entende-se por

internacionalização da economia mundial,

“um crescimento do comércio e do investimento internacional mais

rápido do que o da produção conjunta dos países, ampliando as

bases internacionais do capitalismo e unindo progressivamente o

conjunto do mundo num circuito único de reprodução das condições

humanas de existência.”

Dicken (1998) complementa que a economia mundial está sendo

transformada numa estrutura altamente complexa e caleidoscópica, envolvendo

a fragmentação de muitos processos produtivos e sua relocação, em escala

global, de tal modo que atravessam as fronteiras nacionais.

Em conseqüência, acredita-se que esteja ocorrendo algum tipo de

transição de industrialização para modernização ou mesmo “pós” modernização

tardia, uma fase às vezes chamada de pós-industrial ou economia pós-fordista.

Conforme Dicken (1998), os fatores de definição dessa nova ordem são

amplamente conhecidos através das seguintes características:

� deslocamento de indústria pesada e de manufatura para maior

proteção de provisão de serviços;

� crescimento de atividades econômicas envolvidas com geração,

processamento e disseminação de informação;

� aprofundamento da integração econômica desde transações com

bens e serviços entre firmas independentes, até movimentos

internacionais de capital para estreita ligação na produção de bens e

serviços além das fronteiras nacionais;

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34

� uma tendência em produção e consumo no sentido de maiores

economias de escala, do nível sub-nacional e nacional para o regional

e o global;

� maior grau de mobilidade de capital, bens e serviços e, em grau mais

limitado, seções selecionadas do mercado de trabalho.

Complementarmente, Naisbitt (1999) desenvolveu um conceito que ele

denomina “paradoxo global”, considerando que, quanto maior a economia

mundial, mais poderosos são seus protagonistas menores: “O estudo do

protagonista econômico menor, o empreendedor, se mesclará com o estudo de

como funciona a economia global.” Como o empreendedor é também o

protagonista mais importante da economia global, as grandes empresas estão

se descentralizando e reconstituindo a si mesmas, como redes de

empreendedores.

O princípio do paradoxo global decorre da observação de que mega-

empresas que promoveram a globalização, para se beneficiarem das economias

de escala, agora tiveram que se reestruturar como redes de pequenas unidades

de negócios ou redes de empreendedores, ou ainda como redes de unidades

autônomas.

Redução de tamanho, reengenharia, organizações em rede ou, mais

recentemente a empresa virtual, qualquer que seja a denominação, trata do

mesmo fenômeno: empresas grandes são obrigadas a desmantelar a

burocracia, reduzir número de níveis, agrupar competências em unidades

menores, para reduzir custos e poder sobreviver.

Ainda segundo Naisbitt (1999), a economia de escala está dando lugar à

economia de escopo que é encontrar a quantidade correta de sinergia,

flexibilidade diante do mercado e, sobretudo velocidade na tomada de decisão e

ação. O resultado buscado é a unidade menor e mais forte, como meio de

globalizar mais eficientemente as economias.

Page 35: TCC Revisado

35

Resumindo, quanto maior e mais aberta a economia mundial, maior o

domínio das pequenas e médias empresas, exceto naqueles setores

intensamente exigentes de capital (como por exemplo, a indústria aeronáutica).

Numa compensação desse movimento, mais reforçando a autonomia das

unidades de negócio, verifica-se outra tendência para a constituição de alianças

estratégicas – acordos de cooperação em que são delimitados espaços de

integração de parte das atividades entre concorrentes. Alianças estratégicas

estão sendo criadas para um mundo de mercado unificado onde fica cada vez

mais difícil distinguir a nacionalidade de um produto ou de uma empresa.

Apesar de que a dimensão econômica possa impulsionar e até mesmo

dirigir processos de globalização, a esfera econômica é vista mais

frequentemente como parte de um amplo leque de mudanças complexas para a

sociedade humana como um todo.

2.5.2 Globalização Política

Nas discussões sobre a globalização dos negócios, resumidas na

expressão “pense globalmente, aja localmente”, Pesqueux (2010) denuncia o

antagonismo entre os valores do espaço geográfico dos mercados e os valores

contidos nos espaços das nações.

Afirma ele que, em verdade, a globalização apóia a assertiva de que o

espaço dos mercados deve se sobrepor ao das nações.

O impacto das atividades de corporações multinacionais faz o mercado

global parecer um espaço privativo, onde as normas que estas corporações

propõem (ou impõem) tendem a criar um verdadeiro modo de governo. Isto leva

a uma transposição de “local-geral”, que é apropriado para descrever atividades

de negócios, para o “específico-universal” que, é apropriado a uma

compreensão política das sociedades.

Isto põe em evidência a questão da dimensão política da globalização:

enquanto a dimensão econômica do fenômeno é suficientemente reconhecida,

Page 36: TCC Revisado

36

as categorias que ajudariam a representar a dimensão política ainda estão

sendo formuladas.

De Senarclens (2001) assinala três aspectos da dimensão política:

1. A evolução do conteúdo e das práticas associadas com o interesse

nacional (“raison d’état”), considerando a ampliação da esfera internacional,

rumo a uma forma de soberania que é limitada pelo reconhecimento da

expansão do comércio internacional – expansão que é percebida como o bem

comum “superior – tal qual o desenvolvimento de entes políticos além do Estado

(por exemplo, a União Européia).

2. A capacidade de Estados e instituições internacionais lidarem com

estes desenvolvimentos políticos, considerando, em particular, a vontade política

da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico destinada a

promover uma economia capitalista, firmada no comércio de bens e serviços, e

fluxos financeiros. Esta vontade se assenta em ações políticas de liberação do

comércio e criação de áreas comerciais, baseadas em questões de integração

econômica e, mais marginalmente, em questões políticas e sociais.

3. O desenvolvimento de estruturas conceituais a respeito de meio

ambiente, saúde e segurança (como por exemplo, o “direito de interferência”

humanitária ou mesmo política, contra ditadores) e a atenção dada a agentes

não governamentais cujas reivindicações têm sido favorecidas.

Vieira (1998, p. 120) ousa propor que, como o Estado soberano já não é a

melhor instância para a tomada de decisões em escala planetária torna-se

imperiosa a necessidade de regulação em termos mundiais – uma

governabilidade global para enfrentar os desafios impostos à humanidade e ao

planeta.

Como Miotti e Sachwald (2006) enfatizam, a internacionalização dos

mercados já não é mais conduzida por países mais desenvolvidos, mas por

grandes companhias, que se tornam uma força propulsora dos processos desde

2000. Suas estratégias de desenvolvimento, que geralmente ignoram fronteiras

políticas, mais do que nunca estão rompendo hábitos de consumo, métodos de

organização do trabalho e tendências políticas de estados nacionais.

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37

Apesar da marcante impressão causada por Levitt (1983), com suas

análises sobre a globalização dos mercados, ainda está longe de acontecer a

padronização da maioria dos bens de consumo que ele previu. De fato, em

reação à globalização, um número crescente de consumidores parece querer

retornar aos produtos tradicionais, estabelecidos na cultura de seu país. Num

mundo que evolui rapidamente e nem sempre oferece pontos de referência

estáveis, estes produtos oferecem sensação de segurança às pessoas e lhes

permitem manter certa identidade.

As forças contraditórias emergem de uma rede complexa de diferentes

idéias interagindo para criar numerosos paradoxos. Estes paradoxos afetam,

em particular e em diferentes graus, o funcionamento das empresas e seus

métodos de desenvolvimento.

Parece haver um crescente sentimento de atração – repulsão em relação

a produtos conhecidos como “produtos globais” (BRIARD, 2007). Consumidores

claramente manifestam desejo de serem cidadãos do mundo – cosmopolitas –

mas rejeitam qualquer mudança em suas particularidades locais. Gostariam de

viver numa sociedade que está aberta para o mundo, mas rejeitam a idéia de um

ambiente sem profundidade e sem raízes. Esta demanda ambivalente desafia

as companhias que tem sido vistas como os principais vetores da globalização.

2.5.3 Globalização Social

Céticos sobre globalização sustentam que os processos de mudança no

trabalho vão muito além da esfera econômica e incluem outros amplos

processos sociais.

Durante o século XX, a economia global passou por um processo de

reestruturação que levou inúmeros países em desenvolvimento à fome, e

grandes parcelas da população ao empobrecimento.

De acordo com Jean Ziegler, relator especial da ONU para o Direito à

Alimentação, “mais de dois milhões de pessoas morrem de fome a cada dia,

mais do que pela malária, a AIDS e a tuberculose juntas” (EFE, 2005).

Page 38: TCC Revisado

38

A globalização da pobreza ocorre em época de notável progresso

tecnológico nas áreas de engenharia de produção e de biotecnologia.

Chossudovsky (1999) afirma que pela primeira vez na história da

humanidade, a agricultura mundial tem capacidade de satisfazer as

necessidades alimentares de todo o planeta. A fome hoje não resulta da falta de

alimentos, mas sim de interesses industriais e financeiros que estão em

crescente conflito com os interesses da sociedade civil.

Naisbitt (1999) reporta o retorno do que foi denominado “tribalismo” no

sentido de crença na fidelidade ao próprio grupo, definido pela etnia, pelo

idioma, pela cultura, pela religião, ou pela profissão. O tribalismo é distinto do

conceito de nacionalismo, pelo qual o Estado-nação de cada um é mais

importante do que princípios internacionais ou considerações pessoais.

Naisbitt (1999) afirma que o desejo de equilibrar o tribal e o universal

sempre existiu entre os povos, mas, agora a democracia e a revolução das

telecomunicações (que dissemina a idéia de democracia e a torna premente)

alçaram essa necessidade de equilíbrio a um novo patamar.

Uma forma de tribalismo moderno são as tribos virtuais ou eletrônicas,

conjunto de pessoas interagindo em razão de interesses comuns,

compartilhados através de correios eletrônicos. A eletrônica estimula a

constituição de tribos ao mesmo tempo em que globaliza. Com a nova ênfase

no tribal, em um mundo cada vez mais global, o mantra da Nova Era “pense

globalmente, aja localmente” vira de ponta cabeça. Agora é “pense localmente,

aja globalmente”, propõe Naisbitt (1999).

O atual padrão mundial de acumulação e desenvolvimento, assentado no

domínio das informações, do saber e das novas tecnologias, reduz a oferta de

empregos produtivos e reforça as tendências de exclusão social.

A competição global recompensa aquele que é mais apto e eficiente, o

que se reflete no mercado de trabalho. Como resultado, ocorre uma

transferência espacial de investimentos para mercados emergentes, onde a

mão-de-obra é mais barata. Além disso, o uso de tecnologias que dispensam

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39

trabalho em países industrializados, devido aos altos custos salariais e à

concorrência, gera desemprego e limitação de imigrações (VIEIRA, 1998).

Cabe a cada comunidade desenvolver a sua população produtiva, de

modo a manter competitividade no mercado de trabalho global.

Kanter (2000) argumenta que comunidades (cidades, estados, países)

podem estabelecer elos com empresas globais ao investirem e se

especializarem em capacidades que conectam suas populações locais com a

economia global, como pensadores, executores ou comerciantes:

� Os pensadores se especializam em conceitos. Tais lugares atraem

pesquisadores, estudiosos e indivíduos dotados de suprema criatividade em

solucionar problemas, e concentram estes talentos em empresas do

conhecimento. A vantagem competitiva destes centros é a capacidade de

oferecerem inovação contínua, dominando a criatividade tecnológica do mundo.

� Os executores se destacam por oferecerem habilidades superiores de

produção e por possuírem a infra-estrutura necessária para manter produção de

alta qualidade a baixo custo. Estes são centros de excelência em manufatura.

� Finalmente, os comerciantes se especializam em estabelecer conexões

comerciais, desde a negociação de acordos à logística do transporte de

mercadorias e serviços além das suas fronteiras.

Ao se especializarem em uma competência central essas comunidades

voltam a se inserir no mercado de trabalho global. Atualmente, Florianópolis se

destaca como polo tecnológico. Seguindo a classificação proposta por Kanter,

Florianópolis é hoje um centro de pensadores e ao se tornar conhecida como tal,

a cidade passa a atrair novos talentos e novos negócios.

2.5.4 Globalização Ambiental

De todas as distintas esferas da globalização, nenhuma carrega o

sentimento de globalidade como a ambiental. Por certo, a tangibilidade que o

meio ambiente oferece quando comparado às demais, facilita este entendimento

Page 40: TCC Revisado

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– o planeta forma um todo frágil, onde todos os seres vivos são solidariamente

interdependentes.

Historicamente, o crescimento populacional, a urbanização acelerada, a

produção industrial e agrícola, as queimadas e desmatamento de florestas, a

extração de minérios, a contaminação das águas e do ar, a perda da

biodiversidade ameaça a sobrevivência da vida no planeta.

Alguns desequilíbrios ecológicos provocados pelas atividades

econômicas podem ser percebidos imediatamente como no caso da

desertificação, da erosão, ou da crise urbana. Acidentes tecnológicos como

vazamentos de petróleo, vazamentos químicos ou nucleares, são ainda mais

imediatos. Outros, porém, só serão percebidos com o tempo. É o caso do efeito

estufa, da destruição da camada de ozônio, e do esgotamento da diversidade

biológica (VIEIRA, 1998).

Isso não significa que seja preciso escolher entre meio ambiente ou

desenvolvimento. Significa sim, escolher novas formas de desenvolvimento que

se preocupem com o meio ambiente.

Empresas verdes, ecologicamente corretas, ou também chamadas de

sustentáveis, buscam a preservação do que é exaurível e a renovação do que

pode ser cultivado ou reposto, como no caso do cultivo de pescados, de

repovoamento de rios e florestas, ou a simples redução na produção de

resíduos.

Cabe aos consumidores exigir tal política das empresas e governos, bem

como assumir a responsabilidade de educar as gerações futuras para defesa e

uso racional do meio ambiente.

Page 41: TCC Revisado

41

Quadro 2 Um Revolucionário Improvável

Em uma entrevista para a Business Ethics, em 1992, Richard J. Mahoney,

presidente da Monsanto, conclamou à ação que evidencia uma mudança profunda na forma como os líderes empresariais vêem a sua intendência do planeta:

“O nosso compromisso é alcançar um desenvolvimento sustentável daqueles aspectos do ambiente sobre os quais exercemos um impacto. O nosso compromisso é obter um desenvolvimento sustentável que beneficie as pessoas tanto das nações desenvolvidas como das menos desenvolvidas.”

Entretanto, ele insistiu que não basta apenas “despoluir” o planeta: “As empresas precisam retificar o passado e proporcionar a tecnologia necessária

para servir os habitantes do futuro sem deixar para trás um bagunça.” Fonte: Executives of the World Unite. Business Ethics Set/Out 1992. Fonte: NAISBITT (1999, p.184)

2.5.5 Globalização Tecnológica

Juntamente com o desenvolvimento de microprocessadores, a Internet é

a inovação tecnológica mais significativa das últimas décadas, e desempenha

um papel crucial no crescimento da globalização.

Numa evolução sem precedentes, a tecnologia se desenvolve em um

ritmo de crescente aceleração, com cada tecnologia nova capitalizando a

velocidade e as capacidades daquelas que a precederam.

A união da infra-estrutura necessária estabelecida pela Internet, com o

desenvolvimento acelerado da indústria de hardware e software, com melhores

computadores e conexões à rede, promoveram o estágio avançado das

telecomunicações que se presencia hoje.

A Internet permitiu o desenvolvimento de um meio de comunicação

instantâneo e mais barato, e eliminou completamente as barreiras geográficas,

aproximando fornecedores e consumidores, independentemente da distância

entre eles – aumentando a competitividade das partes a um nível global.

Além disso, o desenvolvimento da Internet propiciou a propagação de

informação sem censura ou barreiras, e a expansão do comércio eletrônico.

Page 42: TCC Revisado

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De acordo com Naisbitt (1999), as telecomunicações são a força

propulsora que está, simultaneamente, criando a gigantesca economia global e

tornando as suas partes menores e mais poderosas.

O autor também argumenta que “assim como estamos progredindo

globalmente para um mercado econômico unificado, nas telecomunicações

estamos progredindo para uma teia mundial única de redes de informações

onde tudo estará interligado [o tempo todo] a todo o restante” (NAISBITT, 1999,

p. 96).

A crescente conectividade, propiciada pela Internet, oferece à

comunidade global hoje o meio e o modo da comunicação do futuro.

Quadro 3 Tecnologia da Informação e a Nova Economia

A característica que talvez defina a nova economia é o papel das tecnologias de

informação. Essas novas tecnologias permitem a coleta, a análise e a transmissão de vastas quantidades de informação – em maior escala do que qualquer um podia imaginar há apenas dez anos. As novas tecnologias sem dúvida vão melhorar o fluxo de informação em todos os mercados, inclusive mercados de produtos. Alguns sugeriram que elas vão eliminar completamente a necessidade de intermediários como varejistas e atacadistas. Em lugar disso, os consumidores poderão lidar diretamente com os produtores. Essas interpretações são extremamente exageradas.

Certamente, em alguns mercados, as tecnologias da informação vão diminuir o papel dos intermediários. Muitos consumidores já estão comprando computadores, seguro, livros e passagens aéreas pela Internet. A Internet fará uma diferença enorme na disseminação de preços para produtos homogêneos – determinado tipo de trigo, ou aço, ou um novo Buick com direção elétrica, assentos de couro, etc. Mas as escolhas mais difíceis muitas vezes envolvem diferença de qualidade e de características. De fato, a maior parte dos varejistas entende sua função como a de procurar entre os produtores e julgar a qualidade dos bens produzidos por diferentes manufaturas. Os varejistas que estabelecem uma reputação, o conseguem na base da qualidade que eles oferecem dentro de uma certa faixa de preços. Boa parte da informação relevante sobre qualidade e características não pode ser facilmente transmitida pela Internet, de modo que o consumidor precisa de acesso direto ao produto. Por exemplo, sem de fato sentar no assento do motorista, como pode o comprador de um carro avaliar sua sensação dos controles do carro? O mesmo se pode dizer de vários outros produtos. Assim, não só é pouco provável que a tecnologia da informação tornará obsoletos os intermediários, mas pode até ser que vá torná-los ainda mais competitivos e eficientes. Eles poderão varrer o planeta em busca de melhores preços, checar os produtores para ter certeza de que são confiáveis e de que o produto é de boa qualidade, e assim ajudar a criar um mercado verdadeiramente global.

Fonte: STIGLITZ; WALSH (2003b, p.246)

Page 43: TCC Revisado

43

3. TEORIAS CRÍTICAS DA GLOBALIZAÇÃO

A Teoria Tradicional se baseia no método de Descartes, pelo qual

através do questionamento e da dúvida, fica estabelecido que algo só é

considerado verdadeiro se puder ser comprovado (“penso, logo existo”). A

Teoria Crítica, iniciada por Horkheimer, argumenta que não basta analisar um

fenômeno e provar a sua existência, é preciso interpretá-lo para que possa ser

entendido (EL-OJEILI; HAYDEN, 2006).

A Teoria Crítica procura unir a teoria e a prática. Os cientistas que

compartilham o diversificado campo da produção teórica incluída na teoria crítica

têm como traço de união, o compromisso com a emancipação do ser humano.

Em intenção, mantém uma preocupação de analisar as causas e prescrever

soluções contra todas as formas de dominação, exploração e injustiça. Ou

conforme Hoffman (1987, p. 233):

“A teoria crítica delineia a visão de que a humanidade tem outras

potencialidades além das que se manifestam na realidade concreta

da sociedade atual. A teoria crítica, portanto, procura não apenas

reproduzir a sociedade através da descrição, mas compreendê-la e

mudá-la. É ao mesmo tempo, descritiva e construtiva em suas

intenções teóricas; é ao mesmo tempo, um ato intelectual e social.

Não é meramente expressão das realidades concretas da situação

histórica, mas também uma força para a mudança dentro destas

condições.”

A Teoria Crítica contribui para o estudo da globalização oferecendo uma

estrutura normativa diferenciada, pois, apesar de estar imersa nas

complexidades e problemas do mundo em que vivemos, ela se recusa a abrir

mão da imaginação moral e política necessárias para avançar nas possibilidades

de transformação social e política da era global (EL-OJEILI; HAYDEN, 2006).

Dentro desta estrutura, Held e McGrew (2002) definem globalização como

uma crescente interconexão mundial, levando em consideração uma

transformação na organização social humana que liga comunidades

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44

geograficamente distantes e expande o alcance das relações de poder nas

principais regiões e continentes do mundo.

Assim, de acordo com Cochrane e Pain (2000), a globalização passa a

ser vista através de quatro conceitos:

� há uma extensão dos relacionamentos sociais, de modo que eventos

e processos ocorridos em uma parte do globo têm impacto significativo em

outros lugares do mundo;

� há uma intensificação de fluxos por todo o mundo, com uma

intensidade maior nos fluxos social, cultural, econômico e político;

� há um maior aprofundamento da integração mundial, na medida em

que a extensão dos relacionamentos sociais aumenta, também aumenta o

aprofundamento de práticas sociais e econômicas, fazendo com que culturas

distantes se encontrem face a face;

� cria-se uma infra-estrutura global, formada pelos acordos

institucionais, formais e informais, essenciais para o funcionamento de redes

globais.

Estes conceitos embasam três filosofias de globalização, a globalista, a

tradicionalista e a transformacionalista (COCHRANE; PAIN, 2000).

Para os globalistas, a globalização é vista como um processo social

contemporâneo vital e inescapável. Economias, políticas e culturas nacionais se

tornam, cada vez mais, partes de redes de fluxos globais. Globalistas podem

ser otimistas ou pessimistas, conforme a maneira como encaram o processo de

globalização. Os otimistas vislumbram a possibilidade de melhoria nos padrões

de vida, a difusão da democracia, e uma maior tolerância entre nações. Já os

pessimistas vêem a globalização como ameaçadora e destruidora, servindo

apenas a interesses políticos e econômicos restritos e com tendência a criar

homogeneidade, migração, violência e desigualdade.

Os tradicionalistas são profundamente céticos a respeito da globalização.

Alguns se recusam a admitir sequer a existência da globalização. Apóiam-se no

argumento que em termos econômicos, o que existe hoje é uma regionalização

ou interconexão entre estados geograficamente vizinhos. Com freqüência,

Page 45: TCC Revisado

45

esses teóricos alegam que nações-estado e economias nacionais continuam a

ser de suma importância e negam que cultura seja global em qualquer sentido

pertinente.

Finalmente os transformacionalistas buscam um meio termo entre os

globalistas e os tradicionalistas. Para estes, a globalização não é algo

completamente novo ou uma irreconhecível era de transformação em direção a

economias, culturas e políticas globais. Mas também não alegam que nada

esteja acontecendo. O que os transformacionalistas defendem é que as

mudanças nas dimensões culturais, econômicas e políticas existem, são

complexas, e não evoluem na mesma velocidade.

O perfil dos três grupos é resumido no quadro abaixo.

Quadro 4 Perfil de Globalistas, Tradicionalistas e Transform acionalistas Globalistas � Existe hoje uma economia global completamente desenvolvida, que superou formas

passadas da economia internacional. � Esta economia global é impulsionada por forças de mercado incontroláveis que resultam

em redes multinacionais de interdependência e integração sem precedentes. � Fronteiras nacionais desapareceram e a categoria da economia nacional agora é

redundante. � Todos os agentes econômicos precisam ser competitivos internacionalmente. � Esta posição é defendida por neoliberalistas econômicos, mas condenada por

neomarxistas. Tradicionalistas � A economia internacional não progrediu ao estágio de uma economia global na extensão

alegada pelos globalistas. � Economias nacionais distintas permanecem como uma categoria saliente. � Ainda é possível organizar cooperação entre autoridades nacionais para desafiar forças

de mercado, administrar economias domésticas e governar a economia internacional. � A preservação de direitos a benefícios sociais, por exemplo, ainda pode ser assegurada

no nível nacional. Transformacionalistas � Novas formas de interdependência e integração intensa estão varrendo o sistema

econômico internacional. � Estas colocam limitações adicionais no modo como políticas econômicas são

desenvolvidas. � Elas também dificultam a formação de política pública internacional para governar e

administrar o sistema. � Esta posição vê a presente era como mais um passo num longo processo evolutivo, em

que economias locais e nacionais fechadas se desintegram e passam a formar sociedades cosmopolitas mais interdependentes e integradas.

Fonte: Held (2000, p. 90).

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46

4. WEIGHTECH: UMA EXPERIÊNCIA DE INTERNACIONALIZAÇ ÃO DE

NEGÓCIOS NO MERCADO GLOBAL

Após investigar os conceitos teóricos sobre globalização, houve interesse

em conferir na prática da realidade empresarial catarinense um exemplo que

ilustrasse as assertivas dos autores referidos no trabalho.

Mais precisamente, buscou-se conhecer o modo como uma empresa, a

partir de Florianópolis, vem operando com sucesso no mercado globalizado.

Pelo critério da acessibilidade, a escolha recaiu em uma unidade de

negócios do setor tecnológico, cujo empreendedor principal, Engenheiro Carlos

Alberto Marin, natural de São Paulo, se dispôs a relatar a história das iniciativas,

estratégias e cuidados na perseguição de resultados, que dependem de

cooperação com parceiros dispersos pelo mundo.

4.1 APRESENTAÇÃO

A Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de

Pesagem Ltda. foi fundada na cidade de São Paulo em 2 de setembro de 1986,

para prestar serviços de venda, assistência técnica, calibragem e aluguel de

balanças, bem como o desenvolvimento de sistemas de pesagem.

Em julho de 2001 aprovou projeto para se estabelecer na incubadora de

empresas de tecnologia do Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias

Avançadas (CELTA), em Florianópolis, para onde mudou a sede da empresa,

além dos objetivos sociais que passaram a ser “comercialização, importação e

exportação de equipamentos de pesagem” (WEIGHTECH, 2012).

Em outubro de 2001 firmou parceria comercial com a empresa alemã

Hottinger Baldwin Messetechnik (HBM) para distribuir, revender e atuar como

agente exclusivo de vendas HBM no Brasil, na divisão de equipamentos de

pesagem.

Sendo a HBM referência mundial em equipamentos e tecnologia, a

Weightech reforçou sua posição como uma das mais respeitadas empresas de

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47

tecnologia em pesagem, oferecendo serviços e produtos de primeira linha e

soluções completas para sistemas de pesagem e automação a indústrias,

agronegócios e outros.

Em maio de 2005 a Weightech obteve junto ao INMETRO – Instituto

Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia a aprovação de modelo do

primeiro equipamento de pesagem com a marca Weightech e, ainda em

dezembro do mesmo ano, a aprovação para modelo do primeiro equipamento

desenvolvido sob medida e com exclusividade de fornecimento para um cliente

específico.

Ainda em 2005, obteve junto à Secretaria da Fazendo do Estado de

Santa Catarina autorização para operar em sistema de “Trader”. Habilitada

assim, a importar qualquer tipo de mercadoria por conta e ordem de terceiros,

abriu mais um nicho de oportunidade de negócios que vieram otimizar as

atividades de importação da empresa.

Dois anos depois, a Weightech contabilizava 24 portarias de aprovação

junto ao INMETRO, o que a colocou entre as 10 empresas brasileiras mais

destacadas na área de tecnologia de pesagem.

4.2 CONEXÕES COM OS CONCEITOS DESTE TRABALHO

Especificadamente, podem ser encontradas conexões entre a experiência

da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de

Pesagem Ltda., e o estudo teórico deste trabalho, através da exemplificação dos

conceitos a seguir destacados:

� A movimentação de pessoas, capital, imaginação e práticas culturais

pelo mundo, a serviço do negócio (BRAH; HICKMAN; MAC NA GHAILL, 1999).

� A integração econômica ao redor do mundo, estimulada pela rápida

mudança tecnológica e a revolução da informação (OXFAM, 2000).

� A emergência de uma nova geoeconomia mundial, que envolve tanto

processos de internacionalização quanto de globalização e a integração

funcional de tais atividades (DICKEN, 1998).

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� A crescente interdependência econômica entre países e o mundo e a

difusão acelerada e generalizada de tecnologia (IMF, 1997).

� Uma movimentação que facilita a coordenação e integração de

operações industriais ou de marketing além das fronteiras nacionais (IMF, 1997).

� Os processos, procedimentos e tecnologias – econômicos, culturais e

políticos – que geram compressão de tempo e espaço, um senso de imediatismo

e de simultaneidade no mundo, a partir da instantaneidade das

telecomunicações (BRAH; HICKMAN; MAC NA GHAILL, 1999).

� O novo padrão mundial de acumulação e desenvolvimento econômico

assentado no domínio das informações, do saber e das novas tecnologias, que

requalifica a oferta de emprego e reforça as tendências de exclusão social

(CHOSSUDOVSKY, 1999).

� O mundo econômico transformado em uma estrutura altamente

complexa, envolvendo fragmentação em muitos processos de produção e sua

relocação em escala global, que encurta caminhos através das fronteiras

nacionais (DICKEN, 1998).

� A transição de uma fase industrial para a modernização ou pós-

modernização ou modernização tardia, por vezes chamada de pós-industrial,

caracterizada por deslocamento do foco na indústria pesada para maior

proporção de serviços, em especial os ligados à geração, processamento e

disseminação da informação (DICKEN, 1998).

� O fato de a competição global recompensar os mais aptos e mais

eficientes em produzir bens e serviços com qualidade, velocidade e baixo custo

(VIEIRA, 1998).

� A possibilidade de ligar populações locais com a economia global,

através da capacitação, em categorias, como pensadores, executores ou

comerciantes, concentrando talentos em empresas de conhecimento, de modo a

oferecer inovação contínua e dominar a criatividade tecnológica do mundo para

solucionar problemas (KANTER, 2000).

Page 49: TCC Revisado

49

� O paradoxo global pelo qual, quanto maior e mais aberta a economia

mundial, mais poderosos são os seus protagonistas menores – os

empreendedores (NAISBITT, 1999).

� A redução das unidades de negócio, para tamanhos cada vez

menores, como meio de globalizar mais eficientemente as economias. As

tendências apontam para a prevalência das micro, pequenas e médias

empresas, ou grandes empresas que se redefiniram como redes de

empreendedores (NAISBITT, 1999).

� A interdependência entre todas as sociedades, implicando em

extensão dos relacionamentos sociais; eventos e processos ocorridos em uma

parte do globo têm impacto em outras partes ou no mundo todo (HELD;

MCGREW, 2002).

� Uma complexa infra-estrutura, tecida por acordos institucionais,

formais e informais, alicerçando o funcionamento de redes sociais globais

(COCHRANE; PAIN, 2000)

4.3 ENTREVISTA

A entrevista realizada em 02 de fevereiro de 2012, com o Engenheiro

Carlos Alberto Marin, Diretor Executivo da Weightech Comércio, Importação e

Exportação de Equipamentos de Pesagem Ltda., é relatada a seguir.

O que significa Weightech?

O nome resulta da combinação, aliás, síntese do nome inglês para

peso/pesagem e da primeira sílaba, ou forma reduzida e abreviada para

designar, também em inglês, o conceito de tecnologia. Com matriz em

Florianópolis, polo tecnológico de Santa Catarina, e filial na capital de São

Paulo, a localização é estratégica para a Weightech atender a todo o território

brasileiro com extrema agilidade logística.

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50

O que faz a Weightech?

Precisamente, a Weightech é um provedor de soluções completas em

pesagem, para empresas que fabricam balanças eletrônicas e outras diversas

máquinas que incorporam uma balança entre seus elementos constituintes. É o

caso, por exemplo, das máquinas de empacotamento, onde as unidades dos

pacotes são definidas e graduadas pelo peso do conteúdo, ou sistemas de

engarrafamento onde o enchimento das garrafas também é regulado

automaticamente para quantidades programadas.

A Weightech não lida com os usuários finais dos produtos que o seu

produto vai integrar. A Weightech existe para os fabricantes que produzem em

série, com auxílio dos produtos Weightech, os mais diversos bens e serviços

destinados a alguns tipos de consumidor final ou usuário.

O que levou à escolha de um segmento de mercado tão

especializado?

Como filho de empresário que atuava no setor de pesagem, vendendo

balanças e serviços de assistência técnica e outros associados, como

calibragem, manutenção e aluguel, aprendi em família a operação deste

negócio. Trabalhando desde cedo na empresa da família pude acompanhar, de

perto, a evolução da tecnologia pela qual instrumentos de natureza mecânica,

ou analógicos, rapidamente mudaram para instrumentos eletrônicos.

Qual a principal diferença funcional entre as duas tecnologias?

A simplificação e a velocidade de operação, combinadas com precisão.

Pela maior integração entre os componentes dos instrumentos de pesagem,

poucos módulos passaram a ser exigidos para se construir uma balança. Antes,

havia um módulo estrutural, um módulo mecânico, um módulo eletrônico e uma

célula de carga – ou seja, um transdutor que transformava a grandeza da

força/peso em grandeza elétrica. Na célula de carga reside o essencial da nova

tecnologia, o princípio do funcionamento da balança eletrônica.

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51

Onde a Weightech adquiria as células de pesagem?

Ao final dos anos 80 e ao longo de toda a década de 90 podia-se recorrer

a fornecedores dentro do Brasil. Entretanto havia uma grande dificuldade em

lidar com fornecedores locais, estando na posição de empresa consumidora de

células de carga, pela descontinuidade de padrões de qualidade, incerteza em

cumprimento de prazos e irregularidade de suprimentos.

Na impossibilidade de continuar dependentes das incertezas desses

fornecedores optou-se pela erradicação desta dificuldade invertendo os polos da

relação. A conduta da Weightech foi deixar de ser compradora e passar a ser

fornecedora de células de carga. De usuários passamos a fornecedores de

células de carga, hoje principal produto da empresa.

Como era então o setor de pesagem no Brasil?

O mercado era dominado por uma só empresa, que existe ainda hoje e

que detinha o monopólio de 90% do total do setor. Era uma situação muito

desequilibrada. Um monopólio tão forte que contrariava a natureza de uma

verdadeira economia de mercado.

Como era a comunicação internacional na Weightech?

Quando casei em 1996, com uma catarinense, passamos a lua-de-mel

nos Estados Unidos. Em matéria de comunicação no exterior vivi uma

experiência frustrante – eu pensava que falava inglês e descobri na prática que

era deficiente no domínio dessa língua. Isto dá uma idéia das limitações para a

comunicação internacional.

A primeira atitude positiva ao retornar de viagem, foi começar um bom

curso de inglês. Eu comprometia 10% da minha renda com isso. Com o inglês

aprendido, foi preenchido um requisito mínimo para a comunicação

internacional. Com o progressivo domínio do inglês, ainda trabalhando na

empresa da família, foi-me atribuída a responsabilidade de desenvolver

parcerias estratégicas com fornecedores. Com este trabalho, estabeleci

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52

alianças de cooperação com fornecedores de equipamentos na Finlândia e

Estados Unidos, onde encontrei uma empresa fornecedora de células de carga.

Qual o efeito desta descoberta?

A partir de então a Weightech passou a ser consumidora de células

importadas. Mas as críticas e dificuldades persistiram devido ao decurso de

tempo entre o ato de fazer um pedido e dispor do produto importado na mão.

Tornou-se imperativo encontrar uma solução mais ágil e que também tivesse

continuidade.

Numa dessas críticas feitas a um fornecedor, o próprio criticado sugeriu

que a Weightech passasse a suprir a carência detectada. Aceito este desafio, o

próximo passo foi a preparação de um cuidadoso plano de negócios, que

resultou na vinda para Florianópolis.

Por que Florianópolis?

Ao nível pessoal, sempre houve o sonho de vir pra cá.

Coincidentemente, a adaptação de minha esposa em São Paulo foi muito ruim.

Percebemos que a nossa vida lá não daria certo.

A aprovação do projeto para a instalação na incubadora tecnológica da

Universidade Federal de Santa Catarina, no Centro Empresarial para Laboração

de Tecnologias Avançadas (CELTA), abriu caminho para a mudança da vida

pessoal e para a transferência da sede da empresa para Florianópolis.

O tempo e os resultados obtidos provaram o acerto da decisão de vir para

a Capital do Estado de Santa Catarina, que se converteu em centro de

convergência de pesquisadores, pensadores e criadores de soluções em

diversas tecnologias, um verdadeiro polo de informática.

Quais as principais ligações da Weightech com o ext erior?

Uma condição excepcional para o desenvolvimento da Weightech foi

merecer a escolha como representante exclusiva, para o Brasil, da empresa

alemã Hottinger Baldwin Messetechnik (HBM), referência mundial em

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equipamentos e tecnologia, e líder nesse mercado, com operações em todo o

mundo.

Tratando-se de produtos tipo “premium”, portanto de altíssima qualidade,

a representação da HBM se somou, ao longo do tempo, às parcerias negociadas

com outros fornecedores, que permitiram compor um portfólio de soluções

completas para o mercado de pesagem.

Que outras ligações a Weightech conquistou?

A busca por novas parcerias coincidiu com o advento da Internet. Ainda

no tempo em que as conexões eram feitas por “modem” via linha telefônica,

foram eliminadas barreiras da língua e das comunicações, abrindo ilimitadas

conexões para a Weightech com o mundo interno e externo.

De um lado, foram descobertos fornecedores no exterior, cujos produtos

tinham mercado no Brasil. Empresas de porte pequeno, semelhante ao da

Weightech, que estavam dispostas e aptas a fazer negócios. Negócios não da

ordem de milhões, mas de 10 a 20 mil dólares por embarque.

De outro lado, a abertura do Brasil para o mundo vem se consolidando,

desde a implantação do SISCOMEX, Sistema de Gerenciamento de Comércio

Exterior, do Governo Brasileiro, um sistema totalmente informatizado, moderno e

avançado, que reduziu dramaticamente a burocracia, o tempo exigido e

conseqüentemente os custos para quem se dedica ao comércio exterior. Esta

simplificação de procedimentos para atividades de importação e exportação

eliminou a obrigação de contratar intermediários para importar e/ou exportar,

que oneravam o processo e o inviabilizavam para as pequenas empresas.

Importante notar um fato especial e interessante correlacionado: as

telecomunicações viabilizaram às pequenas empresas e à Weightech iniciarem

operações em comércio exterior justamente para atender a uma demanda

reprimida, dentro do mercado interno, onde simplesmente não havia qualquer

produto similar nacional. Através da Internet a Weightech passou a ser vista por

novos fornecedores e clientes potenciais e também pôde enxergar

oportunidades antes inalcançáveis.

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54

De que modo a experiência acumulada em família cont ribuiu para a

Weightech?

O trabalho na empresa familiar pavimentou a minha formação

profissional, meu “background” e “expertise” no setor. Os anos de

relacionamento positivo com fornecedores de quem fomos cliente, e que

posteriormente passaram a ser nossos clientes, favoreceram a prospecção de

oportunidades de negócio a serem supridas pela Weightech.

Um exemplo enriquecedor ocorreu na transição da tecnologia de

equipamentos analógicos para eletrônicos. Pude observar que algumas

empresas, presentes por muito tempo no mercado – empresas de boa fé e boa

reputação, fabricantes de bons produtos – detinham excelência superior em

engenharia mecânica, mas reduzida “expertise” em eletrônica. Em resumo, toda

a trajetória de sucesso da empresa era baseada numa tecnologia então

ultrapassada.

Nessa desvantagem foi percebida uma oportunidade para a Weightech:

tornar-se um provedor de soluções para a carência de conhecimentos sobre

engenharia eletrônica. Como resultado, foram construídas boas parcerias,

baseadas no conceito de ser a Weightech um provedor de soluções globais.

Isto significa continuamente investigar qual tecnologia está sendo usada na

América do Norte, na Europa ou na Ásia, como um trabalho que a Weightech se

propõe a fazer.

É extremamente importante que os clientes no Brasil vejam a Weightech

como uma empresa conectada aos mercados globais, de tal modo que, se existir

alguma tecnologia diferente, em qualquer lugar no mundo, a Weightech possa

trazer essa tecnologia para o Brasil.

Como está a estrutura organizacional da Weightech?

Em 2010, houve uma estruturação da empresa, onde foram delegadas

para outras pessoas as atribuições operacionais antes concentradas na diretoria

executiva. Isso tornou a minha presença um pouco mais dispensável no

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55

cotidiano dos negócios, liberando-me para viagens, trabalho de campo com

clientes, visitação a feiras, identificação de oportunidades, contato com

fornecedores para desenvolvimento de novos produtos e relacionamentos

estratégicos. Em termos de significado para o futuro, meu trabalho principal é

prospectar negócios e desenvolver relacionamentos estratégicos com

fornecedores e clientes.

Dos vinte funcionários da empresa, treze trabalham em Florianópolis,

respondendo pelos departamentos de administração, finanças, logística e

estoque. Também há um setor de produção, onde produtos projetados e

manufaturados pela Weightech, através de módulos terceirizados, são

integrados aqui. Os demais funcionários trabalham na filial de São Paulo e são

responsáveis pelos departamentos comercial, de marketing e de suporte técnico

aos clientes. Na equipe predominam técnicos e engenheiros confirmando o

caráter tecnológico da empresa, que lida internacionalmente com conhecimento

aplicado a solução de problemas.

Como é a ligação da Weightech com os clientes?

O relacionamento da Weightech com clientes tem duas particularidades:

primeiro a repetição de pedidos em períodos irregulares – alguns clientes

compram uma vez por mês, outros semanalmente, outros todos os dias; e,

segundo, a falta de um bom planejamento de aquisições por parte destes

clientes.

Pouquíssimos fornecem uma previsão de consumo precisa – para tais

clientes a empresa reserva uma parte exclusiva do estoque, garantindo-lhes o

suprimento planejado. Para todos os outros, cabe a Weightech analisar

estimativas de demanda, de modo a estar apta a atendê-los. Isto é feito por

meios alternativos, estudando o mercado de atuação de cada cliente e levando

em consideração flutuações tais como sazonalidade e outras condições

conjunturais. O importante é manter o cliente confiante na Weightech como a

melhor opção de fornecedor de componentes para os produtos que ele fabrica.

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Como a imprevisão dos clientes afeta a Weightech?

Apesar de toda velocidade de comunicação que temos hoje, a logística

envolvida no processo de importação consome em média cento e vinte dias.

Isto porque, por uma questão de custo, continuamos a depender do modal de

transporte marítimo. O transporte aéreo só cabe para produtos com uma

relação peso/valor diferenciado, onde há alto valor agregado para pouco

volume/peso. De outro modo o custo é proibitivo.

Considerando as estimativas de demanda de clientes, a Weightech

mantém um estoque para cinco meses de venda, evitando o risco de não dispor

de produto para entrega. O que gera para a empresa uma imobilização de

recursos financeiros em estoques, com risco permanente de obsolescência

tecnológica e da variação cambial.

E o serviço pós-venda?

É dada a maior importância ao serviço pós-venda. Na transação de

venda é indispensável oferecer produtos de qualidade, a preços justos; na pós-

venda são necessários os melhores serviços de assistência técnica para

manutenção. O que mantém o elo com o cliente, porém, é a capacidade da

Weightech para ajudá-lo a alavancar mais negócios e gerar mais lucros. Isto só

acontecerá se a empresa conseguir resolver tecnicamente o problema por um

preço tal que gere lucro e/ou uma vantagem técnica no produto final.

Onde estão os clientes da Weightech?

O mercado nacional de usuários de equipamentos de pesagem está em

franca expansão. Os fabricantes destes equipamentos, que por sua vez são os

clientes da Weightech, estão concentrados, no sul e sudeste do Brasil. Como

resultado, apesar de a empresa atender clientes no país todo, 90% das receitas

procedem dos quatro estados do extremo sul. Neste sentido, Florianópolis está

estrategicamente situada no meio dos grandes mercados da Weightech.

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Como a Weightech vê a concorrência?

Desde que a Weightech entrou no mercado, surgiram alguns

competidores nacionais tentando fazer o mesmo que a empresa faz. Das três

concorrentes que tentaram copiar o modelo da empresa, uma foi mal sucedida e

duas outras operam até hoje em escala muito menor. Atualmente, nenhuma

outra oferece um portfólio tão amplo de soluções, ou alcança a estrutura de

vendas, de atendimento, ou de estoques comparável ao da Weightech. Em

2008, uma pressão maior da concorrência obrigou a uma redução da margem

de lucro, que foi parcialmente sacrificada em troca da confirmação de posição no

mercado, com manutenção do espaço conquistado, seguida de expansão.

Mas a visão de concorrência da Weightech vai além do concorrente local.

Dentro de uma perspectiva global, a empresa se preocupa não apenas com o

concorrente que está no mesmo bairro, na mesma cidade, no mesmo estado ou

no mesmo país. A empresa está ciente de que a visão de concorrência hoje é

muito mais ampla e do tamanho do mundo.

Isto significa que, como fornecedora, a Weightech precisa estar informada

acerca de mudanças que afetem o negócio próprio e o de seus clientes.

Grandes empresas têm equipes e uma estrutura estabelecida para cuidar disso,

as demais não. A Weightech foi idealizada como ponte entre o cliente, o

fabricante e as soluções para os seus problemas, onde quer que eles estejam.

O segmento de tecnologia, principalmente em eletrônica, tem tido

evolução vertiginosa e surpreendente. Nada é definitivo: uma solução para um

problema, que parece excelente depois de demoradas buscas, pode ser

ultrapassada por uma inesperada invenção que traz em si solução mais eficaz e

mais barata. Contra eficiência maior a menor custo, o que era novo fica

obsoleto. A busca pela excelência em padrões mundiais é permanente e sem

trégua. A Weightech se mantém competitiva desenvolvendo as competências

próprias em antecipar tendências para trazê-las até o cliente, agregando valor

aos seus processos e produtos.

Page 58: TCC Revisado

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Como avalia os últimos dez anos da Weightech?

Nos últimos dez anos de operação a Weightech pode usufruir de uma

série de condições favoráveis, derivadas da evolução da tecnologia, do

aperfeiçoamento das telecomunicações, da expansão do comércio exterior, do

tratamento diferenciado recebido do governo através de incentivos fiscais e da

simplificação dos procedimentos de importação e exportação para o Brasil.

Foi exigido muito trabalho para provar que não estávamos no mercado

para viver uma aventura, mas sim para construir uma empresa capaz de

oferecer soluções tecnológicas avançadas para os seus clientes, mantendo-os

competitivos num mercado global.

Quais as perspectivas para o futuro da Weightech?

A Weightech é ponte entre a origem do conhecimento, aplicado ao

processo de pesagem e os usuários desse conhecimento, no setor produtivo,

tendo como clientes diretos os fabricantes de equipamentos e como clientes

indiretos os usuários dos produtos finais. Está comprometida em permanecer na

liderança dentro do Brasil, como provedora de soluções para esses fabricantes,

contribuindo para manter suas vantagens competitivas no novo mercado global.

Em anos recentes o Brasil tem sido visto como uma economia propícia a

expansão dos negócios nesta área. Fornecedores de outros países com

economia deprimida pela crise financeira internacional, como os Estados

Unidos, vêem no Brasil um novo mercado de destino de seus produtos e

serviços, ao ponto de se disporem a comprometer a margem de lucro, como

condição para competir aqui. A Weightech está atenta e compartilha a opinião

de que, não obstante as muitas turbulências, o Brasil está destinado a se tornar

um protagonista de peso na economia global do século XXI, já colocado entre as

dez maiores economias do mundo. É mantendo o cliente Weightech competitivo

aqui e no mundo, que a empresa se manterá próspera.

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59

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS, CONCLUSÃO E SUGESTÕES PAR A

PESQUISAS FUTURAS

5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho relata um estudo sobre o processo de globalização na

internacionalização dos negócios. Como estudo qualitativo de natureza

exploratória, nele predominaram procedimentos técnicos de pesquisa

bibliográfica, ou seja, partiu-se de conteúdos elaborados por autores

reconhecidos, publicados em livros e artigos científicos.

O objetivo geral de compreender o processo de globalização foi

alcançado ao longo do processo de busca dos conteúdos coletados, analisados

e descritos ao longo do trabalho.

Em complemento aos conhecimentos teóricos, buscou-se contato com a

experiência concreta de uma empresa de tecnologia, que a partir de

Florianópolis, está operando a internacionalização dos negócios em ambiente

globalizado. Foi realizada entrevista semi-estruturada com o Diretor Executivo

da Weightech Comércio, Importação e Exportação de Equipamentos de

Pesagem Ltda., empresa de tecnologia, inserida no segmento de pesagem, e

diretamente relacionada com parceiros dispersos no mercado global.

A fundamentação teórica a respeito de globalização realçou a idéia geral

de um processo social complexo, ainda em curso e em ritmo acelerado, nas

últimas décadas, em todo o mundo. Embora praticamente cada autor tenha uma

definição própria de globalização, conforme os fins a que se propõe, ou segundo

o campo profissional a que pertence, algumas convergências permitem sintetizar

uma aproximação de conceito geral nestes termos:

“Globalização é o estreitamento da integração entre países do

mundo, especialmente em maior nível de comércio e movimentos

de capital, decorrente da redução de custos de transporte e de

comunicação.” (STIGLITZ; WALSH, 2003a)

Page 60: TCC Revisado

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Os objetivos específicos foram alcançados levantando aspectos

relevantes da globalização econômica, política, social, ambiental e tecnológica.

A globalização econômica significa uma transformação do sistema de

produção e distribuição de bens e serviços em uma estrutura complexa e

multifacetada, que envolve a fragmentação em muitos outros processos

produtivos, integrados e interdependentes, e a sua relocação em escala global,

de tal modo que atravessam as fronteiras nacionais e às vezes se sobrepõem a

elas. Um aspecto novo da globalização econômica é a alta velocidade com que

pessoas, idéias e valores, bens e serviços, capitais e finanças se movem ao

redor do mundo.

Os aspectos estudados sobre a globalização política destacam a

progressiva diferença entre os valores dos espaços geográficos que constituem

os territórios dos Estados nacionais e os valores do espaço geográfico dos

mercados.

O estudo dos aspectos relevantes da globalização social aponta que os

processos de mudança no trabalho vão muito além da esfera econômica e

incluem outros amplos processos sociais, tais como a descontextualização, que

desprende o cidadão de suas origens e o liga a símbolos, valores e culturas

estrangeiras; a ameaça da padronização de hábitos, preferências, costumes,

arte e outros aspectos da vida cultural; e a extensão das relações sociais pelo

mundo todo (BRAH; HICKMAN; MAC AN GHAILL, 1999).

Kanter (2000) argumenta que comunidades (cidades, estados, países)

podem estabelecer elos com empresas globais, ao investirem e se

especializarem em capacidades que os conectem com a economia global. Ao

se especializarem em uma competência central voltam a se inserir no mercado

de trabalho global.

Os estudos das características essenciais da globalização ambiental

alertam para a finitude e os riscos de exaustão dos recursos naturais globais. A

tangilibidade do meio ambiente, que a todos envolve, facilita a percepção

imediata de desequilíbrios provocados por atividade econômica predatória,

desastres naturais ou acidentes tecnológicos (VIEIRA, 1998). Outros

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desequilíbrios, porém, só serão percebidos com o tempo. A conectividade que

aproxima a todos mobiliza para causas ambientais, favorecendo uma emergente

consciência global sobre a necessidade de preservar o que é patrimônio

exaurível e renovar o que pode ser cultivado e renovado, ou usado ao ritmo da

respectiva sustentabilidade.

De todos os processos de globalização, a tecnologia desempenha o papel

mais marcante de aceleração em todas as outras dimensões. A união da infra-

estrutura necessária estabelecida pela Internet, com o desenvolvimento

acelerado da indústria de computadores e conexões à rede, promoveu o estágio

avançado das telecomunicações que inclui mais e mais pessoas ao redor do

mundo.

As tecnologias de telecomunicação tornaram as conexões, entre as

pessoas, instantâneas e de baixo custo, ligando um ponto a qualquer outro

ponto do planeta e todos os pontos entre si, o tempo todo. Ampliando o

comércio por meio eletrônico as telecomunicações expandiram a integração dos

negócios. A compressão do tempo (instantaneidade) e a compressão do espaço

(simultaneidade) superam as distâncias e convertem o mundo inteiro em um

espaço único (BRAH; HICKMAN; MAC AN GHAILL,1999).

O último objetivo específico de ilustrar o trabalho foi alcançado com a

realização da entrevista semi-estruturada que integra este estudo. A formulação

prévia de questões abertas orientou a conversa. A transcrição dos conteúdos a

partir de entrevista gravada, e a submissão do texto, com o conteúdo ao

entrevistado, para eliminação de dúvidas, culminaram no texto final que integra

este trabalho.

A entrevista permitiu exemplificar como aconteceu na realidade, uma

mudança de tecnologia mecânica para tecnologia eletrônica; o acesso de

pequena empresa a fornecedores e clientes no exterior e no país; a

possibilidade de conexão com núcleos criadores de conhecimento onde quer

que estejam; a mudança de conceito de empresa, antes produtora de

equipamentos e serviços de pesagem para provedora de soluções de problemas

a fabricantes desses equipamentos; as estratégias usadas para manter a

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liderança no mercado e os esforços feitos para manter a vantagem competitiva,

própria e dos clientes, através de parcerias com fornecedores e alianças

estratégicas globais.

5.2 LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS

A exigüidade dos prazos levou a lidar com análise conceitual sem acesso

a dados quantitativos – estatísticas, análises financeiras, dados sobre produção

ou aspectos populacionais – que embasaram as proposições dos autores. Se,

por um lado, tornou o trabalho atemporal, no sentido de que não se prende a

dados transitórios, embora precisos, por outro lado indicou interpretações

cabíveis num estudo qualitativo, mas que mereceriam ser conferidas em estudos

quantitativos para confirmação ou rejeição de idéias.

Fica a sugestão de continuidade de investigações sobre o tema, sob

óticas mais específicas para o futuro. Para pesquisas e trabalhos futuros é

proposta ainda a análise das iniciativas do Brasil para a internacionalização da

economia em geral e dos segmentos típicos de empresas importadoras e

exportadoras, que têm Santa Catarina como ponto de partida para inserção em

mercados globais.

São propostos estudos na área de estratégia global, que se concentrem

em desenvolver os conceitos de vantagem competitiva em diferentes ramos de

negócios e empresas de particular interesse ao Estado e ao país. Os executivos

brasileiros precisam identificar e construir ativamente suas fontes de vantagem

competitiva. A capacidade de uma organização para formular e implantar

estratégias globais afeta diretamente o grau de benefícios que poderão ser

alcançados. Parece útil pesquisar quais os indutores da globalização do

segmento, os alavancadores de estratégia global e os fatores da organização

global em cada caso.

As empresas brasileiras podem progredir visando mercados globais, não

somente para explorar oportunidades, mas também para reforçar suas

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capacidades no mercado interno, aprendendo a competir com as melhores

empresas do mundo. Pesquisar a respeito pode abrir novos caminhos ao país.

Grandes benefícios podem advir da melhoria da qualidade de produtos e

serviços. Estudar seriamente o que é oferecido por competidores ao redor do

mundo permite avaliar as tecnologias disponíveis e remover obstáculos para

ganhar posições baseadas em qualidade.

Estudar processos gerenciais mais sistemáticos, que destaquem

planejamento estratégico e controle gerencial, contribuirá para aperfeiçoar o

desempenho dos executivos, qualificando-os com habilidades comparáveis às

das empresas mais bem dirigidas no mundo. Investigar alianças com empresas

internacionais e absorver o máximo de lições que o parceiro externo tenha para

oferecer contribui para ir além do lucro e encurtar o esforço para a continuidade

a caminho do êxito. Afinal, para desenvolver o potencial do Brasil, a

globalização – em suas dimensões econômica, política, social, ambiental e

tecnológica – oferece a oportunidade única de aprender com o resto do mundo.

5.3 CONCLUSÃO

Um dos poucos consensos entre os autores a respeito de globalização é

o conceito de fenômeno complexo, multidimensional que, como todos os

processos sociais significantes, desdobra-se em múltiplas realidades da

existência humana no mundo atual. Deve, portanto ser entendida como um

processo plural, existindo tantos modos de globalização quantos sejam os

agentes globalizadores e as dinâmicas ou impulsos que a conduzem e

aceleram.

A formação de grandes empresas internacionais e corporações

multinacionais, operando transações transnacionais, trouxe a perspectiva do

marketing global – que soma menor ênfase no mercado doméstico e maior

ênfase em segmentos de consumidores ao redor do mundo, ou seja, à escala

global. Na perspectiva de marketing global as empresas tratam o mundo como

sendo um único mercado.

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No início, a globalização dos mercados, como vista por Levitt (1983),

significou vender o mesmo produto, do mesmo modo em todos os lugares onde

a empresa quisesse atuar. Experiências de redução voluntária da margem de

lucro, enfrentamento de grandes prejuízos e até exclusão de mercados antes

dominados, levaram as empresas e seus estrategistas a compreender que os

consumidores – mesmo de produtos básicos ou essenciais – não têm

necessidades homogêneas, nem padrão de vida idêntico.

A concorrência entre empresas globais também acontece em escala

mundial. O que ocorre num país pode ter conseqüências e implicações

importantes na posição competitiva entre todos os concorrentes. Isto explica a

transferência da atenção, antes centrada no processo produtivo, para o

processo de distribuição dos próprios produtos e serviços, nos mercados

situados fora da sede da empresa. Ações competitivas globalmente integradas

alavancam a globalização mais do que fizeram no passado as estratégias com

produtos globalmente padronizados e propaganda de conteúdo uniforme para

todos os países e clientes (YIP, 1996).

Ainda hoje os processos que definem a globalização causam polêmica.

Por um lado, existe a grande preocupação de que eles sirvam para reforçar

desigualdades sociais de riqueza e qualidade de vida, para acelerar mudanças

que levem a degradação de ecossistemas, e fortalecer formas não democráticas

de governo. Por outro lado, a intensificação da interdependência econômica,

financeira, ecológica e cultural é proclamada por alguns como oportunidade para

se criar novas formas de solidariedade política que poderá levar a eliminação da

escassez, desmilitarização, cuidado com o planeta, e participação democrática

em múltiplos níveis de governo. Globalização, neste último cenário, é vista

como transformadora da ordem existente no mundo e criadora de uma nova

consciência sobre a necessidade de cooperação transnacional para garantir um

futuro melhor para a humanidade como um todo (BRAH; HICKMAN; MAC AN

GHAILL,1999).

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