TCC - Dialogo Ciencia x Religião - V.05 - Final
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INSTITUTO DE ENSINO VIDA
CURSO DE TEOLOGIA
LIGIA CLAUDIA PINTO
UM BREVE DIALOGO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO
Ampliando Conhecimentos para a Fé Cristã
São Paulo
2015
LIGIA CLAUDIA PINTO
UM BREVE DIALOGO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO
Ampliando Conhecimentos para a Fé Cristã
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Instituto de Ensino Vida - IEV, como requisito
parcial para a obtenção do título de Bacharel em
Teologia.
Orientador: Prof. Paulo Bruno dos Santos
São Paulo
2015
LIGIA CLAUDIA PINTO
UM BREVE DIALOGO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO
Ampliando Conhecimentos para a Fé Cristã
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado, apresentado ao IEV - Instituto de
Ensino Vida, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em
Teologia, com nota final igual a _____, conferida pela Banca Examinadora
formada pelos professores:
__________, ___ de _____________ de _____.
________________________________________
Prof. _____________________
__________________________
________________________________________
Prof. _____________________
__________________________
________________________________________
Prof. _____________________
__________________________
Dedico aos colegas e amigos, que
confiando tanto na ciência e não
reconhecendo a plenitude, a sabedoria e
a soberania de Deus sobre todas as
coisas, me inspiraram na escolha deste
tema.
AGRADECIMENTOS
A Deus, este Pai Maravilhoso, por ter me dado saúde e força para superar todas as
dificuldades.
Ao meu filho, que com dedicação e amor sempre me deu apoio, incentivo e muitas
vezes me animou a prosseguir nesta jornada.
Aos meus pais, pelo amor, carinho, incentivo que me deram durante toda a vida.
Ao Instituto Vida Nova, que Abriu suas portas fornecendo a oportunidade de
enxergar um horizonte mais amplo do que é “Ser Cristão”.
Aos professores, que me ensinaram muito mais que a expectativa. Transformando
meu parco conhecimento em algo melhor para o Reino de Deus.
Ao meu orientador Bruno, pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas
correções e incentivos.
Aos colegas de classe, que tornaram as aulas não só fonte de conhecimento, mas
de compartilhamento de vida.
E a todos que direta ou indiretamente participaram do processo de minha formação,
o meu muito obrigado.
“Tudo dele procede;
Tudo acontece por intermédio dele; Tudo termina nele;
Glória para sempre, Louvor para sempre! Amém. Amém. Amém”.
Romanos 11:36 (Bíblia A Mensagem)
“Quem diz que há oposição entre a Religião e a Ciência apenas mostra que vai atrasado na ciência.
A ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é cega.”. Albert Einstein
PINTO, Ligia Claudia. Um Breve diálogo entre ciência e religião: Ampliando
Conhecimentos para a Fé Cristã. 2015. 57 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharel em Teologia) – Departamento de Ciências Teológicas, do Instituto de
Ensino Vida, São Paulo, 2015.
RESUMO
Atualmente os cristãos trazem a público seus pontos de vista limitando sua postura
apenas ao conhecimento religioso e negligenciando o conhecimento científico. A
proposta deste trabalho é ampliar o conhecimento cristão; mostrando a possibilidade
de diálogo entre a ciência e a religião, através da reflexão de que são temas
complementares na compreensão da ação de Deus, valorizando a diversidade e
buscando uma nova ótica de utilização deste conhecimento para promover o bem
social.
Palavras-chave: religião, ciência, teologia, diálogo, razão, fé.
PINTO, Ligia Claudia. Um Breve diálogo entre ciência e religião: Ampliando
Conhecimentos para a Fé Cristã. 2015. 57 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharel em Teologia) – Departamento de Ciências Teológicas, do Instituto de
Ensino Vida, São Paulo, 2015.
ABSTRACT
Currently Christians publicly express their views limiting your posture only to the
religious knowledge and neglecting scientific knowledge. The purpose of this work is
to expand the Christian knowledge; showing the possibility of dialogue between
science and religion, through the reflection that both are complementary themes in
the understanding of God's action, valuing diversity and seeking a new way to use
this knowledge to promote social well.
Key-words: religion, science, theology, dialog, reason, faith.
SUMÁRIO
1 Introdução ........................................................................................................... 10
2 Fatos históricos ................................................................................................... 11
2.1 Os debates astronômicos nos séculos XVI e XVII .................................................. 12
2.2 A visão newtoniana entre os séculos XVII e XVIII .................................................. 16
2.3 A controvérsia darwinista no século XIX. ............................................................... 18
3 Diálogo e Metodologia ........................................................................................ 22
3.1 A Importância do Debate. ....................................................................................... 22
3.2 Tipologia Metodológica .......................................................................................... 24
3.2.1 Conflito ..........................................................................................................................24
3.2.2 Independência. .............................................................................................................25
3.2.3 Diálogo. .........................................................................................................................25
3.2.4 Integração. ....................................................................................................................25
3.3 Considerando a diversidade no diálogo ................................................................. 26
3.3.1 Abertura. .......................................................................................................................26
3.3.2 Crítica. ..........................................................................................................................27
3.3.3 Respeito. .......................................................................................................................27
3.3.4 Não submissão. ............................................................................................................27
4 Os debates entre ciência e religião ..................................................................... 29
4.1 A guerra que não existe ......................................................................................... 29
4.2 As Principais Questões. ......................................................................................... 30
4.2.1 A Origem do Universo ..................................................................................................31
4.2.1.1 Big Bang ......................................................................................................................... 32
4.2.1.2 Princípio Antrópico ......................................................................................................... 33
4.2.2 Evolucionismo ...............................................................................................................34
4.2.2.1 Darwinismo ..................................................................................................................... 35
4.2.2.2 Neodarwinismo ............................................................................................................... 36
4.2.2.3 Teísmo evolucionário ..................................................................................................... 37
5 Nos dias contemporâneos .................................................................................. 39
6 Conclusão ........................................................................................................... 41
Referências ............................................................................................................... 43
Anexos ...................................................................................................................... 46
Anexo A - Pessoas que contribuem/contribuíram para o diálogo ......................................... 47
Anexo B - Supostos erros da Bíblia ..................................................................................... 54
10
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta um conhecimento básico, introduzindo alguns
princípios necessários para que um cristão, que supostamente pouco ou nada saiba
sobre o tema, precisa para entender o diálogo entre ciência e religião.
Ele começa introduzindo fatos históricos que marcaram o início da ciência
moderna e da física clássica e as mudanças que trouxeram na interpretação dos
textos das Escrituras, e menciona como a “guerra” entre ciência e religião
supostamente teve seu princípio.
Logo após apresenta que para compreender o debate é preciso utilização
de um método, então descreve os tipos metodológicos mais aceitos entre os
acadêmicos cristãos e os teólogos.
Em seguida mostra quais os temas mais discutidos academicamente em
relação ao debate entre ciência e religião.
Por fim, apresenta como este debate se encontra nos dias de hoje.
Na conclusão, reúne os pontos importantes a serem considerados e quais
as possibilidades que o diálogo pode trazer como benefícios a sociedade.
Os anexos trazem nomes de pessoas que hoje são referências,
contribuindo para o debate entre religião e ciência; e alguns argumentos utilizados
para os supostos erros da Bíblia.
11
2 FATOS HISTÓRICOS
Não é fácil entender como a interação entre ciência e religião começou no
mundo ocidental sem examinar três fatos históricos importantes:
Os debates astronômicos nos séculos XVI e XVII;
A visão newtoniana entre os séculos XVII e XVIII e
A controvérsia darwinista no século XIX.
Estes três temas são muito utilizados e comentados na literatura
relacionada com “ciência e religião”, este é um dos motivos para conhecermos
minimamente sobre eles.
Antes de apresentá-los é preciso contextualizar o cenário ocidental, onde
as ciências naturais se desenvolveram, em três momentos:
Durante a Idade Média importantes textos científicos da antiga tradição
grega e árabe foram traduzidos para o latim, língua corrente dos eruditos europeus.
Muitas obras de Aristóteles e comentários árabes sobre seus textos trouxeram
grande impacto sobre a filosofia e a teologia medievais, estimulando os debates
sobre as ciências naturais, impulsionando o seu desenvolvimento.
Na Europa ocidental aparecem as grandes universidades da Idade
Média, que contribuíram muito para o desenvolvimento das ciências naturais. Nessa
época as faculdades eram basicamente quatro: artes, medicina, direito e teologia,
com ensinamentos de lógica, geometria, música, aritmética, astronomia e filosofia
natural. Nas faculdades de Artes ofereciam as bases para estudos mais avançados
e eram onde se encontravam os cursos de filosofia natural que Abriam as
possibilidades para os estudos de temas científicos.
No contexto universitário começou a surgir uma nova classe de
“filósofos-teólogos naturais” que consideravam que o estudo do mundo natural era
teologicamente legítimo. Aristóteles (embora pagão) oferecia com suas obras,
recursos para a melhor compreensão do mundo natural, que Deus havia criado.
Devemos observar que muitos dos grandes nomes da ciência natural, nesta época,
foram teólogos que não viam contradição entre a fé e o estudo investigativo da
ordem natural.
12
Dentro deste contexto e com a crescente ênfase na filosofia natural, era
necessário considerar a atenção dada à interpretação da Bíblia. Algumas passagens
eram interpretadas literalmente e outras alegoricamente; o debate acerca desta
questão e seu desenvolvimento adquiriram grande importância na Idade Média.
A distinção entre o sentido literal ou histórico e o sentido espiritual ou
alegórico mais profundo, acabou por ser aceita nos primeiros séculos da Idade
Média. O método de interpretação na época, chamado de “Quadriga” – sentido
quádruplo das Escrituras podia ser resumido em quatro sentidos:
Sentido literal – interpretando o texto como está escrito;
Sentido alegórico – interpretando certas passagens com o objetivo de
estabelecer doutrinas. Levando em consideração passagens pouco compreensíveis
ou com sentido literal inaceitável (por razões teológicas);
Sentido tropológico ou moral – interpretando passagens destinadas à
orientação moral para a conduta cristã;
Sentido analógico – interpretando passagens fundamentadas na
esperança da fé cristã, voltadas para a consumação futura de promessas divinas.
No ápice da Idade Média, Agostinho enfatizava que era necessário
respeitar as conclusões da ciência nos trabalhos interpretativos das Escrituras. Ele
acreditava que era preciso incentivar as pesquisas científicas para ajudar na
compreensão adequada de determinados textos. Para ele a interpretação bíblica
devia considerar o que pudesse ser aceito como fato estabelecido.
O método de Agostinho foi adotado e desenvolvido por Tomás de Aquino,
tornando-se popular entre os acadêmicos, e adotado por influentes e grandes
teólogos católicos romanos no século XVI.
2.1 Os debates astronômicos nos séculos XVI e XVII
Nesta época o mais importante elemento da cosmovisão era a crença no
geocentrismo. A Bíblia era interpreta a luz desta idéia e os pressupostos
geocêntricos eram aplicados a muitas passagens. O modelo geocêntrico foi
imaginado por Claudio Ptolomeu (sec. II) a partir das seguintes premissas:
A terra é o centro do universo.
Todos os corpos celestes circulam ao redor da Terra.
13
Estas rotações são circulares, o centro das quais se movendo também
em outro círculo.
No final do século XV este modelo tornou-se complexo e insustentável,
conforme a observação mais detalhada acrescentava mais corpos celestes ao
modelo.
Durante o século XVI este modelo geocêntrico foi preterido em favor do
modelo heliocêntrico, onde o Sol ocupava o lugar central do universo e a Terra era
um dos muitos corpos a sua volta. Três grandes cientistas contribuíram para este
modelo:
Nicolau Copérnico (1473-1543)
Tycho Brahe (1546-1601)
Johanes Kepler (1571-1630)
O antigo modelo era amplamente aceito pelos teólogos, eles se
habituaram tanto a leitura bíblica através da visão geocêntrica que sentiam
problemas para a interpretação dos textos pela nova abordagem. Mas, como
encarar os aspectos teológicos deste novo modelo? Como repensar os conceitos
diante de mudança tão radical quanto ao centro do universo?
Isso levou os teólogos a reformular a interpretação de algumas
passagens bíblicas. Foram três tipos de interpretação mais importantes usados com
relação ao diálogo entre ciência e religião:
O modo literal – considera o texto como ele está escrito. Ao interpretar
o primeiro capítulo do Gênesis afirma que a obra da criação foi realizada em seis
dias (seis períodos de 24 horas cada).
O modo alegórico – admite que algumas passagens foram escritas de
forma inadequada a interpretação literal. Neste caso os primeiros capítulos de
Gênesis considerados narrativas poéticas ou alegóricas, de onde se tiravam
princípios éticos e teológicos; não tratando estas passagens como relatos históricos
literais sobre as origens da Terra.
O modo por acomodação - Este foi considerado o mais importante
método interpretação para a interação entre as ciências naturais e a interpretação
bíblica. Considerando que a revelação se dá de maneiras e formas cultural e
antropologicamente condicionadas, exigindo uma interpretação adequada. Entendia-
14
se que os primeiros capítulos de Gênesis usam uma linguagem e imagens
correspondentes à cultura da audiência original e que deveriam ser interpretados
pelos contemporâneos adaptados, ou melhor, acomodados às condições de cultura
e dos costumes da época e local em que foram escritos.
O método por acomodação tornou-se de grande valor nos debates sobre
a relação entre teologia e astronomia nos séculos XVI e XVII.
O reformador João Calvino (1509-1564) fez duas contribuições positivas
para a avaliação e o desenvolvimento das ciências naturais. Incentivando o estudo
científico da natureza sua primeira contribuição diz respeito especificamente à
ênfase na ordem da criação, tanto o mundo físico como o corpo humano dá
testemunho da sabedoria e do caráter de Deus. A segunda contribuição importante
de Calvino foi eliminar o literalismo bíblico, que oferecia obstáculos ao
desenvolvimento das ciências naturais. Ele que a Bíblia se preocupava com o
conhecimento de Jesus, portanto, não era um texto astronômico, biológico ou
geográfico. Para a interpretação deveria ter em mente o fato de que Deus se “ajusta”
ás capacidades da razão e do coração humano. Deus precisa chegar ao nível
humano para que haja revelação, essa revelação oferece uma versão “acomodada”
e flexível de Deus para conosco, por causa de nossas limitações.
O impacto destas ideias no processo de teorização científica,
principalmente no século XVII, foi considerável.
No início do século XVII, na Itália, surgiu uma nova controvérsia
relacionada com o sistema heliocêntrico. Galileu Galilei (1564-1642) ao adotar a
posição copernicana em montar a principal defesa da teoria de copernicana do
sistema solar, usou um método de interpretação da Bíblia semelhante ao do frei
carmelita Paolo Antonio Foscarini. Este método não introduzia nenhum principio
novo, utilizando regras já existentes e argumentava que o modelo heliocêntrico não
era incompatível com a Bíblia, conforme a Lettera sopra l’opinione de Pittagorici e
del Copernico (Carta sobre a opinião dos pitagóricos e Copérnico), trabalho
publicado em 1615 por Foscarini.
Inicialmente as idéias de Galileu foram recebidas com simpatia nos
círculos mais respeitáveis da Igreja, influenciados por sua amizade com Giovanni
Ciampoli, o favorito do papa. Mas com a queda de Ciampoli em 1632, Galileu
tornou-se vulnerável as acusações e a Igreja Católica Romana acabou por condená-
lo, publicando a sua sentença em 1633. Esta condenação e a controvérsia gerada
15
quase sempre são consideradas a luta entre ciência e religião ou entre o liberalismo
e autoritarismo, mas ficou claro que o tema dominante da discussão entre Galileu e
seus críticos estava na maneira de interpretar certas passagens. A condenação
oficial baseou-se em duas considerações:
Primeira: As Escrituras deviam ser interpretadas segundo o “significado
próprio das palavras”. Assim o método de Foscarini foi rejeitado a favor do método
literal. Ambos os métodos, eram considerados legítimos, além de há muito tempo
serem utilizados na teologia. O debate centralizou-se em determinar qual deles seria
o apropriado para certas passagens.
Segunda: A Bíblia deveria ser interpretada segundo a “interpretação e
a compreensão comuns dos Santos Padres e dos teólogos competentes”. O
argumento principal era que nenhuma “autoridade” respeitável havia adotado o
método de Foscarini até o momento, portanto deveria ser rejeitado como inovação.
Determinou-se, que para o catolicismo romano, os procedimentos de
Foscarini e Galileu fossem abandonados, pois não possuíam precedentes na história
do pensamento cristão.
O segundo ponto citado acima é muito importante e precisa ser analisado
com cuidado. Ele se relaciona principalmente com o amargo e longo debate
incentivado pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) entre o protestantismo e o
catolicismo romano. A ideia da imutabilidade da tradição católica tornou-se elemento
integral e constante da polêmica contra os protestantes.
O ambiente altamente politizado da época prejudicava o diálogo teológico,
com medo de que qualquer concessão ao novo pudesse ser considerada como
apoio às reivindicações protestantes de legitimidade.
Compreende-se assim por que as ideias de Galileu foram recebidas com
resistência. A questão principal era a inovação teológica: a aceitação do método de
interpretação utilizado por Galileu em certas passagens arruinaria a crítica católica
ao protestantismo. Para a igreja católica os protestantes introduziram novas
(portanto, erradas) interpretações.
Assim, a rejeição completa do ponto de vista de Galileu já estava
marcada. Em sua condenação por “heresia por inovação” Galileu teve a sentença de
abjurar publicamente suas ideias e à prisão por tempo indeterminado. Seus livros
foram censurados e inscritos no Index Librorum Prohibitorum (índice de livros
proibidos) do catolicismo romano.
16
2.2 A visão newtoniana entre os séculos XVII e XVIII
O surgimento do modelo heliocêntrico resolvera os problemas de
geometria, no entanto, as questões de mecânica continuavam sem solução. Kepler
estabelecera princípios sobre o movimento e as órbitas planetárias, mas ainda era
necessário verificar seus fundamentos e sua importância. Era possível a
determinação destes movimentos poderiam depender de um único princípio? Isaac
Newton (1642-1727) utilizou grande parte de sua genialidade em demonstrar que
esse princípio poderia se fundamentar na “mecânica celeste”.
A contribuição dele foi demonstrar a conexão entre observações que
aparentemente não se relacionavam entre si e estabelecendo precisão a ideias que
não eram discutidas com frequência.
Ele começou seu trabalho buscando descobrir as leis que geravam os
movimentos, Definiu três leis que determinavam os princípios gerais do movimento
terrestre. Ao estudar as leis de Kepler, conseguir demonstrar que a força de atração
entre o sol e os planetas poderia ser determinada matematicamente, conhecida
depois por “lei da gravitação universal”.
Newton conseguiu determinar a órbita da lua com uma margem de
aproximadamente 10% de erro, margem que mais tarde foi corrigida quando a
distância entre a terra e a lua foi determinada com maior precisão; provando que a
teoria e a observação coincidiam.
Após esta breve análise histórica (sem grandes detalhes) de Newton e
suas conclusões, pode-se ver a importância de que Newton foi capaz de demonstrar
que uma grande parte das observações e dos seus dados era explicada a partir de
princípios universais.
O sucesso destas explicações da mecânica terrestre e celestial contribuiu
para o surgimento da “visão mecanicista” do mundo, que se baseava na ideia de um
universo considerado como uma grande máquina funcionando segundo “leis fixas”.
Esta teoria gerou implicações religiosas. Newton aceitava a interpretação
de que a ideia de um mundo como uma máquina sugeria uma imagem de design.
Alguns escritores posteriores sugeriam que este mecanismo era autocontido,
autogovernado e autossustentado, assim, não havia exigência da existência de
Deus. Esta visão não era comum por volta de 1690. Aplicando o pensamento de
Newton, Willian Paley, em seus escritos, comparava a complexidade do mundo
17
natural ao mecanismo de um relógio. Ambas as realidades, necessitavam de
desenho e propósito, portanto, precisavam de um projetista criador.
O sucesso da cosmovisão mecanicista impulsionou o desenvolvimento
religioso, ajudando no surgimento do “deísmo”. Este termo é usado para a doutrina
que aceita a criação divina, mas nega o envolvimento de Deus com o mundo. O
deísmo pode ser avaliado como uma forma de cristianismo dado o destaque dado a
regularidade do mundo e muito criticado por reduzir Deus a um mero relojoeiro.
A cosmovisão newtoniana forneceu ao deísmo meios mais apurados de
defender e propagar suas ideias, concentrando-se no ponto da sabedoria de Deus
para criar o mundo.
John Locke, em 1690, com Essay concerning Human Understanding
(Ensaio sobre o entendimento humano) estabeleceu grande parte dos fundamentos
do deísmo. Em resumo, ele afirmava que a ideia de Deus resulta de nossas
qualidades morais e racionais elevadas a um grau infinito.
Para Matthew Tindal a religião cristã nada mais era de uma “reedição da
religião da natureza”, onde Deus é compreendido como uma extensão das ideias
humanas de justiça, racionalidade e sabedoria. Esta “religião universal” estaria
sempre disponível em todos os lugares em todos os tempos, já o cristianismo
dependeria sempre da revelação divina, não alcançando aqueles que viveram antes
do Cristo. Estes pontos de vista de Tindal se disseminaram e ilustravam o
racionalismo peculiar que posteriormente exerceram grande influência no
iluminismo.
O racionalismo iluminista tem sido considerado muitas vezes como o
ápice final do florescimento do deísmo inglês. É necessário observar o consenso
entre o deísmo e a cosmovisão newtoniana. Podemos afirmar, assim, que o grande
sucesso do deísmo deve-se à visão mecanicista do mundo postulado por Newton.
Como apontamos anteriormente, as discordâncias entre a mecânica
celeste e a religião estavam diminuindo. Esta mecânica celeste sugeria que o mundo
constituía-se de um mecanismo autossuficiente sem necessidade alguma de
intervenção divina para seu funcionamento. Porém, alguns estudiosos e interpretes
da obra de Newton já identificavam o perigo e apresentavam preocupação com as
possíveis implicações desta crescente ênfase na regularidade da natureza, como
Samuel Clark. A imagem do Deus “relojoeiro” poderia influenciar uma compreensão
puramente naturalista do universo, onde Deus nada representava.
18
2.3 A controvérsia darwinista no século XIX.
Assim como Newton usou sua genialidade ao relacionar observações que
já existiam, mas ainda não tinham conexão, Charles Darwin (1809-1882) também foi
influenciado por estudos que contribuíram para o desenvolvimento de sua teoria.
Entre estes estudos a obra Principles of Geology (Princípios da Geologia)
de Charles Liell publicado em 1830. Ele apresentava a ideia do “uniformismo”, onde
as forças que podem ser agora observadas atuando no mundo seriam as mesmas
em ação ao longo de extensos períodos no passado. Darwin Baseou-se em
premissas relacionadas a esta ideia: de que forças provocadoras de novos tipos de
animais e plantas no presente já operavam ao longo de tempos passados.
O naturalista sueco Carl Von Linné (1707-1778), conhecido por Carolus
Linnaeus (versão latina de seu nome) influenciou Darwin como um rival póstumo.
Ele argumentava a favor da “fixidez das espécies”, ou seja, alegava que a
quantidade de espécies agora observadas representava o modo como as coisas
haviam acontecido no passado e como seriam no futuro. A classificação detalhada
das espécies que realizou aparentava que a natureza era fixa desde o momento de
sua origem. Conceito este que parecia Ester de acordo com a tradicional narrativa
de Genesis, e sugeria que o mundo de hoje seria muito semelhante ao constituído
na criação. Ele compreendia que Deus havia criado cada espécie separada e
distinta e recebiam um caráter imutável.
Já o George-Louis Leclerk (1707-1788), conde de Buffon, influenciou
Darwin com suas observações de que alguns fosseis continham evidências da
extinção de algumas espécies, os fosseis encontrados continham restos
preservados de animais e plantas que já não existiam mais. Ora, isso não
contradizia a “imutabilidade” das espécies? E se antigas espécies desapareciam, era
possível que novas surgissem? Outros pontos também divergiam da criação
especial, como a distribuição geográfica irregular das espécies como Darwin
observara em suas viagens.
Para Darwin haviam determinados pontos que careciam de explicação:
Adaptação: A maneira que as formas dos organismos se adaptam as
suas necessidades, A doutrina da criação especial argumentava que o criador
relacionara cada organismo criado com o seu ambiente.
19
Extinção de algumas espécies: inicialmente só era possível explicar a
extinção de uma espécie notadamente bem adaptada e bem sucedida através da
utilização de teorias de “catástrofes”.
Distribuição desigual das espécies: as viagens de Darwin
convenceram-no que era preciso uma teoria capaz de explicar as particularidades
das populações das ilhas.
Existência de certos vestígios de estruturas: como, por exemplo, os
mamilos em mamíferos machos. Não era possível explicar pela teoria da criação
especial, pois eram características redundantes e não possuíam propósito
específico.
Darwin publicou seis edições de The Origen of Species (A Origem das
Espécies) entre 1859 e 1872. Os principais pontos abordados eram:
A forma como novos tipos de animais e plantas eram produzidos por
produtores comerciais.
A adaptação. Era um processo que lhe parecia semelhante ao dos
produtores, mas as variações ocorriam naturalmente. As menores variações
tenderiam a tornarem-se grandes variações com o tempo. Mas havia o
questionamento se a nova variante seria mais bem adaptada a sobreviver do que a
variante anterior.
A sobrevivência do mais apto. As variantes melhor adaptadas teriam
maiores chances de sobrevivência, passando suas características para as novas
gerações.
A Seleção Natural. Influenciado pelos estudos de Thomas Malthus
(1766-1834) sobre populações, onde a ideia de que a competição pela sobrevivência
de uma espécie seria superada por espécies melhores adaptadas, não sendo
necessário recorrer a “teorias de catástrofe” para explicar a extinção de espécies.
Darwin então busca adaptar a teoria de Malthus com muita ênfase para os reinos
animal e vegetal.
Examinando as dificuldades. Darwin sabia que havia certos pontos em
sua teoria que eram problemáticos, como as imperfeições de dados geológicos que
indicavam a não existência de espécies intermediárias e como a extrema perfeição e
complexidade de certos órgãos individuais como o olho.
20
Sua teoria mostrava inúmeras fraquezas e inconsequências. Uma delas
era a exigência de que o surgimento de novas espécies sempre ocorreria, mas não
existiam evidências disso. Porém, ele acreditava que estas dificuldades poderiam
ser toleradas diante da superioridade explanatória de sua abordagem. Sabia que
sua teoria não resolveria todas as questões, mas tinha o conhecimento de que sua
explicação era a melhor disponível:
Muitas objeções se devem, sem dúvida, ter apresentado ao espírito do leitor antes que haja chegado a esta parte da minha obra. Umas são tão graves que ainda hoje não posso refletir nelas sem me sentir um tanto abalado; mas, tanto quanto posso julgar, a maior parte são apenas aparentes, e quanto às dificuldades reais, não são, creio eu, fatais à hipótese que sustento. (DARWIN, C. The Origen of Species, Poeteiro Editor Digital - São Paulo – 2014, p.138).
A Origem das Espécies e Descent of Man (A descendência do Homem),
de 1871, os principais livros de Darwin, afirmavam que todas as espécies – incluindo
a humanidade – resultam de um longo e complexo processo de evolução biológica.
As implicações religiosas eram claras. A teoria de Darwin sugeria que a
humanidade desenvolvera-se gradualmente ao longo dos tempos e que não havia
distinção biológica (origem e desenvolvimento) entre o homem e os animais,
enquanto o pensamento cristão tradicional considerava a humanidade separada por
Deus do resto da criação como a “coroa da criação” e única possuidora da “imagem
e semelhança de Deus”.
Samuel Wilberforce, bispo de Oxford, escreveu longa resenha sobre A
Origem das Espécies indicando algumas de suas sérias fraquezas, mas não
apresentava vestígios de “obscurantismo eclesiástico”. Darwin levou tão a sério a
resenha, que modificou alguns pontos de sua discussão em resposta às críticas de
Wilberforce.
A controvérsia darwinista tornou-se popular depois do encontro da
Associação Britânica de Oxford, em 30 de junho de 1860. O principal objetivo desta
associação era a popularização da ciência, então era natura a discussão sobre a
obra de Darwin, publicada um ano antes.
A teoria de Darwin tornou-se ainda mais popular devido a uma lendária
discussão durante este encontro, entre Wilberforce e Thomas Henry Huxley
(cientista amigo e defensor de Darwin e suas ideias). O encontro tinha centenas de
espectadores, a maioria interessada nos pensamentos de Huxley. Ao contrário da
crença popular, Wilberforce não foi intolerante às teorias de Darwin durante o
21
debate, apresentando até mesmo argumentos científicos, mas ao argumentar que a
teoria da evolução ensinava que os humanos tinham macacos por descendência, foi
duramente corrigido e criticado por Huxley e no calor do debate Wilberforce
perguntou se "foi através da sua avó ou do seu avô", que Huxley, "considerava a
descendência de um símio". Huxley prontamente respondeu que "preferia ser
descendente de um símio a um homem altamente favorecido pela natureza que
possui grande capacidade de influência, mas mesmo assim emprega essa
capacidade e influência para o mero propósito de introduzir o ridículo em uma
discussão científica séria".
No início do século XIX com essa lendária discussão já estabelecida o
modelo de “conflito” ou de “guerra” entre a ciência e a religião foi consideravelmente
reforçado.
Cronologia de personalidades, fatos e publicações descritos neste capítulo.
22
3 DIÁLOGO E METODOLOGIA
3.1 A Importância do Debate.
Apresentamos aqui a opinião de quatro personalidades, três
estadunidenses e um indiano quanto ao debate sobre religião e ciência.
Para John Polkinghorne, a ciência e a teologia têm coisas a dizer uma a
outra, pois compartilham uma conexão na busca comum pela verdade real atingível.
Tanto a ciência como a teologia procura explorar a natureza da realidade,
mas o fazem em esferas diferentes e para responder questões diferentes.
As ciências naturais têm como objeto de estudo o mundo físico e os seres
vivos que o habitam. O propósito da ciência é compreender precisamente como as
coisas acontecem. Sua preocupação é descobrir como os processos ocorrem no
mundo.
A teologia trata que questão da verdade sobre a natureza de Deus, Seu
propósito central é responder por que os eventos ocorrem. Sua preocupação é com
temas de significado e propósito. Crer em um Deus criador exige que uma
inteligência divina esteja por trás do que ocorrem no universo.
As crenças religiosas e científicas têm motivações diferentes, mas ambas
procuram responder ao real, então, deve existir um ponto de concordância entre
suas respostas. São duas questões que nos ajudam a admitir estes pontos de
concordância: a questão da admirável capacidade humana de capturar
reacionalmente a estrutura da natureza e a questão da ética, de como usar os
poderes que a ciência torna disponíveis.
Para Holmes Roston III, a importância do diálogo é vital e objetivamente
lista seis razões:
A ciência não pode ensinar o que mais precisamos saber sobre a
natureza, ou seja, como apreciá-la e valorizá-la;
A ciência não pode ensinar o que mais precisamos saber sobre a
cultura, ou seja, como apreciá-la e valorizá-la;
A ciência apresenta cada vez mais questões religiosas;
23
O futuro da religião depende deste diálogo;
O diálogo oferece novas oportunidades para confrontação do
sofrimento e do mal e
O diálogo é importante porque o futuro da humanidade e do planeta
depende dele.
Para George Ellis, o diálogo traria benefícios para ambos os lados. A
religião ganhará porque uma percepção religiosa amadurecida conviverá melhor
com a ciência e uma ciência aberta a realidade suprema e a riqueza da humanidade
se guardará melhor do fundamentalismo científico e de visões desumanizantes.
Juntas, poderão definir valores éticos e afirmar as dimensões plenas da
humanidade, conduzindo-nos a sermos “plenamente humanos”, livres de
fundamentalismos, seja religioso, seja científico.
Para Amit Goswani, nossa fé nos elementos espirituais da vida está
sendo minada e corroída por um ataque implacável do materialismo científico.
Desde os primórdios da ciência aceitamos o materialismo apesar da
inaptidão de explicar as experiências mais simples da vida cotidiana. Temos uma
visão incoerente do mundo. As adversidades da vida tem fomentado a exigência de
um novo modelo que construa uma ponte sobre o abismo que hoje se encontra entre
a ciência e a religião, um modelo que apresente uma visão do mundo que integre
mente e espírito na ciência.
Há possibilidade de se construir uma ciência que Abranja as religiões,
trabalhando juntas para compreender a condição humana em sua totalidade. Este
novo modelo deve refletir o reconhecimento de que a ciência moderna confirme que
a ideia de consciência - e não matéria - é o fundamento, a essência de tudo o que
existe.
24
3.2 Tipologia Metodológica
Como deve ser a interação entre teologia e ciência? Para que o diálogo
possa se iniciar devemos considerar que esta é uma questão de metodologia.
Nas últimas décadas surgiu um grande em número de modelos
metodológicos importantes. Embora as questões essenciais sejam diferentes estes
modelos se desenvolveram convergindo desde um ponto único até uma grande
variedade de propostas de pesquisa.
Citando brevemente o entendimento de John Polkinghorne sobre a
relação entre religião e ciência diz que esta relação é desenvolvida entre diferentes
áreas de conhecimento e tem sido definidas por uma variedade de posições, entre
estas posições as mais importantes seriam: a independência, o diálogo, a interação,
a consonância e a assimilação. Onde nas posições conflitantes uma área quer
ultrapassar a legitimidade da outra.
Entre as tipologias metodológicas que surgiram nas últimas décadas para
classificar a interação entre ciência e religião, a tipologia proposta pelo físico Ian
Barbour ainda é a mais utilizada pelos estudiosos e acadêmicos. Ele simplifica as
demais tipologias e lista quatro posições possíveis nesta interação:
3.2.1 Conflito
Identificado pelo materialismo científico de um lado e o literalismo bíblico
de outro. O materialismo científico afirma que o mundo é formado apenas de
matéria, onde não há lugar para a mente, para a consciência, para o espírito e para
Deus; impossibilitando assim uma precisa percepção religiosa do mundo. O
literalismo bíblico se estabelece como o único detentor da verdade, acreditando que
a Bíblia deve ser interpretada literalmente e que só através dela obtemos o
conhecimento real a respeito do mundo, da humanidade e de Deus.
Podemos dizer que o materialismo científico, em seu máximo sentido, e o
fundamentalismo bíblico radical são duas posições que trazem prejuízo tanto a
religião como a ciência; por causa da arrogância e falta de tolerância de ambos os
25
lados. No materialismo científico, a ciência engole a religião; no literalismo bíblico, a
religião engole a ciência.
3.2.2 Independência.
Entende a religião e ciência como independentes e autônomas, adotando
métodos contrastantes e linguagens diferentes e isoladas uma da outra.
Entende que o desenvolvimento das investigações são totalmente
diferentes, com a fé e a razão em pontos opostos, com a ciência firmando-se em
fatos e a religião em valores. Este dualismo entre espírito e matéria, entre o corpo e
a alma, traz o enfraquecimento desta posição, separando as duas áreas evitando o
conflito e não apresentado a possibilidade do diálogo.
3.2.3 Diálogo.
Baseia-se em admitir e aceitar que cada uma, tanto ciência como religião,
tem algo a dizer e aprender uma a outra; considerando as questões limítrofes e as
analogias metodológicas. Apesar de a ciência trazer o conhecimento de muitas
coisas a respeito do mundo, existem questões que ela faz que beirem os seus
limites, questões que não consegue responder. Algumas destas questões podem ser
respondidas através de textos sagrados, experiências religiosas ou litúrgicas. Ambas
usam a razão, ambas estão em busca da verdade.
Num diálogo entre ciência e religião, ambas devem contribuir com
estudiosos que tenham a disposição de encontrar juntos a verdade, valorizando o
que a ciência pode acrescentar para o refinamento do pensamento teológico e
também admitindo que a religião possa contribuir com posições básicas para um
crescimento científico em favor da promoção da vida e da justiça social.
3.2.4 Integração.
Caracteriza a relação entre teologia natural, teologia da natureza e
síntese sistemática. A teologia natural envolve a utilização de métodos científicos
para buscar “provas” da existência de Deus. A teologia na natureza parte da
proposta de acomodar suas crenças na tentativa de incorporar as descobertas da
26
ciência na teologia. A síntese sistemática tem como objetivo a concordância entre
teologia e ciência usando modos similares nas teorias e nas pesquisas, como uma
estrutura única.
Para reforçar esta posição podemos atribuir uma disposição filosófica
onde se entende que as estruturas da consciência podem estar de acordo com as
estruturas do mundo, pois ambas surgem de um único pensamento absoluto.
Como ponto negativo, podemos citar que a utilização de modelos
científicos impostos a religião é temporariedade das teorias e postulados científicos,
pois devido à acomodação de crenças tornaria provisória a construção teológica.
Portanto, o ideal na integração é que o relacionamento entre ciência e
religião deve existir para que uma contribua com a outra promovendo o
desenvolvimento do conhecimento humano, mas sem necessariamente reformular
suas bases.
3.3 Considerando a diversidade no diálogo
Mário Antônio Sanches tem afirmado que diante da diversidade cultural a
sociedade necessita acolher e valorizar o diferente, o outro. Para tal valoração uma
cultura deve aprender com a outra (abertura), deve admitir que existissem em outras
culturas elementos que não compreendemos total ou parcialmente (respeito), deve
saber que os esquemas culturais ocultam vínculos de poder (crítica) e não deve se
deixar ser engolida ou dominada por outra (não submissão). Estas posturas:
abertura, crítica, respeito e não submissão; são um bom caminho para o diálogo
com a diversidade.
Sanches mostra a possibilidade de aplicar estas posturas ao diálogo entre
religião e ciência, considerando que a sabedoria produz conhecimentos que não se
limitam aos métodos científicos nem as crenças religiosas e que cada conhecimento
é diferente de outro.
3.3.1 Abertura.
Entende que o ponto inicial do diálogo precisa do compartilhamento dos
conhecimentos entre religião e ciência. A teologia que possui um conhecimento
milenar tem maior dificuldade para compreender e aceitar os questionamentos pelas
27
recentes descobertas de outras áreas de conhecimento. A postura de abertura é
indispensável para que uma visão coerente da realidade seja construída através da
somatória das conquistas do passado e das novas descobertas.
3.3.2 Crítica.
Esta postura apresenta se apresenta quando se compreende que cada
religião surgiu dentro de um contexto sócio-histórico-cultural específico e que a
ciência também está envolvida com a realidade histórica, cultural e social.
Considerando que a base do fundamentalismo religioso é defender a sua visão
como única visão possível e correta e que a na ciência coexistem várias teorias
científicas sobre o mesmo objeto, portanto não é tão universal quanto se julga. A
postura de um religioso com conhecimentos científicos ou de um cientista que
também é religioso, deve ser crítica e consciente da complexidade das relações
entre religião e ciência, sabendo que alem do tratarem de conhecimentos
diferenciados, também considerando a problemática do poder envolvida nestas
relações.
3.3.3 Respeito.
Esta postura é necessária para que não exista a diminuição ou
simplificação, nem da ciência, nem da religião. Ambas Abrangem áreas diversas da
realidade humana, às vezes reconhecendo que a interação seja possível sem
prejuízo a elas e às vezes reconhecendo que q mútua independência seja o melhor
caminho. Em algumas áreas o conflito poderá se estabelecer, mas não
necessariamente gerar arrogância ou intolerância. Mas sabendo que sempre será
indispensável um diálogo sincero, humilde e aberto.
3.3.4 Não submissão.
Entende que muitas vezes ciência e religião são complementares, por
isso não deve existir submissão de uma a outra. Compreendendo que a ciência trata
de fenômenos físicos e a religião trata da contemplação de princípios morais e de
28
crença. O que uma enxerga, a outra não alcança a visão, por que observam a
mesma realidade de ângulos diferentes.
Como percebemos os debates tem sido intensos, mas entre teólogos e
cientistas há um aumento no consenso de que só será possível uma interação
satisfatória se for considerado com seriedade o assunto pela visão da diversidade,
incluindo a diversidade religiosa.
No caso do cristão, este pode sustentar que a sua visão de Deus é
compatível com o avanço da ciência, mas de forma alguma pode afirmar que
apenas a visão cristã possibilita o diálogo entre religião e ciência de forma coerente
e adequada.
29
4 OS DEBATES ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO
4.1 A guerra que não existe
A imagem de conflito e antagonismo entre ciência e religião é muito
recente. Esta ideia de batalha surgiu no final do século XIX, um dos primeiros
colaboradores para esta situação foi Tomas Huxley (como citado no Capitulo 1,
amigo e defensor de Darwin).
Durante os séculos XVI a XIX houve praticamente 300 anos onde o
relacionamento entre ciência e religião podia ser visto até como uma aliança. Até o
final do século XIX, os cientistas eram caracteristicamente cristãos e não
consideravam a existência de qualquer conflito entre a ciência e a sua fé. Para eles
o objetivo da ciência era buscar “a glória de Deus e o benefício da humanidade”,
mesmo enfrentando oposição política do clero católico. Boa parte deles produziam
tanto textos científicos como teológicos, incluindo orações e louvores em suas
anotações (como Paracelsus, Boyle, Kepler, Newton, etc.).
Podemos citar Kepler, que ao criar o conceito das orbitas elípticas que
resolvia a diferença de 8 minutos entre os cálculos das orbitas circulares e as
medições observadas; se referiu a esses 8 minutos como uma “dádiva de Deus”.
Abaixo uma observação encontrada em um dos seus trabalhos:
I give you thanks, Creator and God, that you have given me this joy in thy creation, and I rejoice in the works of your hands. See I have now complete the work to which I was Called. In it I have used all the talents you have lent to my spirit. I have revealed the majesty of your works to those who will read my words, insofar as my narrow understanding can comprehend their infinite richness. (JOHANNES KEPPLER citado em: KAISER, CHRISTOPHER B. Creation and the history of science, Marshall Pickering, 1991, p.127) Eu te dou graças, Criador e Deus, pois tem me dado essa alegria em tua criação e me alegro nas obras de suas mãos. Veja, completei agora o trabalho para o qual fui chamado. Nele usei todos os talentos que concedeu ao meu espírito. Eu revelei a majestade de suas obras para aqueles que lerão minhas palavras, na medida em que o meu limitado entendimento pode compreender sua infinita riqueza. (tradução livre)
A partir do final do século XIX, os naturalistas fomentaram a ideia da
“guerra” entre religião e ciência, uma vez que aspiravam sufocar o domínio cultural
do cristianismo ocidental substituindo-o pelo naturalismo.
Na segunda metade do século XX, surgiram filósofos, cientistas,
acadêmicos e estudiosos que compreenderam que esta “guerra” entre a ciência e a
30
teologia era inegavelmente banal. Amit Goswami, autor de O Universo
Autoconsciente, afirma que o florescimento da física quântica e as mudanças na
psicologia transpessoal, na biologia evolucionista e na medicina; a ciência vem
sofrendo mudanças de visão, de extremamente materialista para espiritualista, onde
a consciência é considerada como uma possibilidade e deve ser usada como base
na ciência, solucionando um dos problemas mais estudados na física: o problema da
medição quântica.
Não podemos esquecer que também surgiram estudiosos e cientistas que
atuam na divulgação do naturalismo. Eles acreditam que de alguma forma a ciência
apoia e suporta ou mesmo é amigável ao naturalismo. Eles relacionam a ciência ao
neoateísmo que defende agregar a ciência como arma de ataque a religião. Os
neoateus produzem literatura e artigos que defendem esta posição, entre eles os
mais conhecidos são Richard Dawkins, Daniel Dennet, Steven Weinberg, Sam Harris
e Christopher Hitchens.
4.2 As Principais Questões.
As questões mais importantes serão brevemente descritas. A intenção
não é que haja uma compreensão científica ou teológica profunda, mas que pelo
menos um conhecimento básico seja apresentado.
Considerando que hoje há uma diversidade de disciplinas nas ciências
naturais e que dentro de cada disciplina há diferenças entre as várias matérias,
estas são as áreas onde os debates são mais significativos:
Física e cosmologia: Big Bang e Princípio Antrópico.
Biologia: Darwinismo, Neodarwinismo e Teísmo Evolucionário.
Não serão considerados os pontos de conflito constantes entre
extremistas científicos e fundamentalistas religiosos (entre estes, os criacionistas
radicais), pois um lado despreza ou reduz o potencial de conhecimento do outro.
31
4.2.1 A Origem do Universo
Quando se fala sobre a origem do universo há duas questões a
considerar:
Tempo e eternidade:
A principal visão de tempo aceita pelos teólogos é uma visão de tempo
que surge da experiência humana comum, chamada de “tempo em fluxo”, o que era
presente se torna parte do passado enquanto um novo momento futura Roma o seu
lugar. A visão de eternidade é que está corresponde ao “tempo todo”, sem a
percepção do passado perdido e do futuro potencial, a relação de Deus com o
tempo, é uma visão onde Deus eterno é a fonte “supratemporal” da temporariedade
do mundo. A eternidade está antes, acima e após o tempo do universo.
Esta noção de “tempo em fluxo” foi incorporada a ciência nos séculos XVI
e XVII. A física clássica pressupõe que o tempo linear e refere-se a passado,
presente e futuro.
A teoria da relatividade especial de Einstein trouxe um desafio a esta
noção de “tempo em fluxo” por que elimina dois pressupostos: o primeiro, que o
tempo presente é compartilhado universalmente por todos os observadores e o
segundo, que o ritmo como o tempo flui do futuro para o passado é o mesmo para
todos os observadores.
As implicações teológicas não provem diretamente da teoria científica,
mas como será interpretada filosoficamente. Tanto entre teólogos quanto entre
cientistas existem várias interpretações, portanto, a questão de “tempo e eternidade”
ainda se encontra nas fronteiras entre teologia e ciência.
A ação divina:
Esta é uma questão explicita da teologia filosófica e surge exclusivamente
nas discussões entre ciência e teologia, seguindo subjacente a toda extensão da
teologia sistemática.
Segundo a doutrina da criação cristã Deus fez o universo a partir do nada
(ex nihilo) dando a ele uma estrutura racional e inteligível, também continua a criar
estruturas no tempo (cratio continua). A “providência geral” de Deus guia todos os
processos e eventos. A “providência especial” sustenta que Deus às vezes opera
32
intencionalmente por meio de processos e eventos específicos, caracterizados como
“milagres”, mas parecem não pertencer ao que a natureza poder realizar sozinha.
Cientistas cristãos e teólogos se agrupam e apresentam diversas abordagens para
esta questão.
O grande desafio de mostrar como Deus gera inovações quando a ciência
retrata a natureza de modo determinista, desde Newton e sua visão mecanicista até
o desenvolvimento e a grande extensão da física quântica e da biologia evolutiva,
ainda existe a busca em responder a abordagem à questão “tempo/eternidade”
apresentada anteriormente.
4.2.1.1 Big Bang
Ao contrário do que muitos cristãos pensam a teoria da evolução e a
teoria do Big Bang não são complementares, nem possuem fundamentos comuns. A
teoria da evolução é uma área da biologia que trata da explicação sobre a evolução
das espécies de seres vivos, a teoria do Big Bang é um modelo cosmológico que
trata da origem e das transformações que o universo passou por bilhões de anos.
Outro grande erro é que grande parte dos protestantes (a maioria
criacionistas) define esta teoria como antibíblica, pois foi uma “explosão” que
aconteceu há bilhões de anos. Mas o conceito real desta teoria é o de “expansão”. A
teoria diz que no princípio de todo universo tempo e espaço estavam restritos a uma
singularidade (nome dado pela ciência a algo desconhecido para ela), havia
somente esta singularidade, nada mais, até que “algo” ou “alguém” fez com que esta
singularidade sofresse uma grande liberação de energia, gerando o espaço-tempo e
iniciando o processo de expansão do universo. As primeiras partículas começaram a
se associar formando os átomos leves, como hidrogênio, hélio e lítio. O universo ao
se expandir também se esfriou, cerca de um milhão de anos do início a matéria e a
radiação luminosa se separaram. Cerca de um bilhão de anos após os elementos
químicos começaram a se unir, dando origem as galáxias.
Existem evidências a favor da teoria do Big Bang. Muitos cientistas
contribuíram para o desenvolvimento da teoria para ela ser o que é atualmente.
Einstein e sua teoria geral da relatividade apresenta que o universo não pode ser
estático, portanto, ou está em expansão oi em retração. A lei de Hubble mostra na
prática que quanto mais distante está uma galáxia mais rápido ela se afasta.
33
A teoria do Big Bang também consegue explicar aspectos aparentemente
inexplicáveis antes de sua formulação:
Prevê que a radiação cósmica de fundo deveria aparecer de forma
igual em todas as direções. Esta previsão pode ser observada na prática através da
termodinâmica.
Prevê e explica a abundância de elementos primordiais (hidrogênio,
deutério, hélio e lítio) Nenhuma teoria jamais foi capaz de fazer isso.
Prevê que o universo muda com o tempo. Como a velocidade da luz é
constante, olhar para grandes distâncias significa olhar para o passado.
Prevê a existência de matéria escura. Existência que já foi comprovada
pelos efeitos gravitacionais que causa em corpos celestes e na luz. Apesar de não
ser definida ao certo o que é a matéria escura, atualmente não há dúvidas quanto a
sua existência.
Muitos dizem que apesar de possuir fundamentos científicos suficientes
há um grande confronto como o que diz a Bíblia. Na verdade, antes da teoria do Big
Bang, os cientistas acreditavam que o universo sempre havia existido, assim como
toda a matéria e energia nele existente. Quando a teoria foi formulada afirmando que
o universo não é eterno e que teve um início causou grande rejeição de muitos
cientistas que até hoje tentam refutá-la, tentando propor várias teorias para explicar
o que havia antes do Big Bang e o que causou a expansão.
Podemos entender que na visão cristã se a teoria do Big Bang afirma que
o universo teve um princípio, fortalece exatamente o que a Bíblia diz.
4.2.1.2 Princípio Antrópico
A ideia principal do Principio Antrópico (PA) é de estabelecer que o
caráter de qualquer teoria válida sobre o universo tem que assumir um forma muito
particular (ajuste-fino das leis naturais) para a possibilidade do aparecimento do “ser
humano”, ou seja, toda teoria tem que ser consistente com a existência do “ser
humano”.
Todos os cientistas concordam que o desenvolvimento físico do universo
concebeu uma forma única para que a vida baseada em carbono evoluísse ao longo
de sua história. O atrito se inicia quando o debate trata de qual seria a relevância
deste notável evento. A inclinação natural é achar que o universo seja tipicamente
34
como deveria ser, mas o Princípio Antrópico demonstrou que o nosso universo é
muito especial: A estrutura inerente deste mundo precisou estar dentro de limites
restritos para a viabilidade da vida baseada em carbono. Porém, se o universo foi
dotado com particularidades finamente e delicadamente ajustadas, isto indica a
necessidade de uma “mente” ajustadora.
Para o debate sobre a interpretação foram estabelecidas formulações
distintas do Principio Antrópico:
PAS (Princípio Antrópico Suave): Alega que o universo se comportou
de tal forma que possibilitou a nossa presença em seu interior.
PAF (Princípio Antrópico Forte): Alega que o universo teve
necessariamente que possuir as propriedades e as grandezas físicas e
cosmológicas assumem os valores necessários para permitir o surgimento e
desenvolvimento da vida. Esta é uma declaração fortemente teológica, por que
parece não se fundamentar na ciência.
PAP (Princípio Antrópico Participativo): Afirma que há necessidade de
observadores para trazer o universo a existência. Apela para uma polêmica
interpretação da teoria quântica que considera uma “realidade criada pelo
observador”, mas é difícil concordar que os observadores tenham aparecido antes
do universo existir.
PAFi (Princípio Antrópico Final): Alega que uma vez que o processo
inteligente de informação tenha se iniciado no universo, ele continuará para sempre.
Todas estas formulações têm seus problemas, a sugestão de John
Polkinghorne é que se deve buscar uma formulação de um Princípio Antrópico
Moderado, onde seja considerada a atenção ao caráter especial do universo e
reconheça que o mesmo não poderia ser tratado como um feliz acidente, mas como
algo que clama por uma explicação.
4.2.2 Evolucionismo
Em relação às ciências biológicas uma das questões mais importantes é a
origem da humanidade e suas implicações, desde a explicação darwiniana até o
entendimento cristão da natureza humana.
35
4.2.2.1 Darwinismo
Alguns aspectos principais sobre o darwinismo e suas controvérsias foram
examinados no capítulo 2 (item 2.3). No momento é interessante conhecer temas
específicos que possuem relação direta com a religião.
A seguir estão elencados quatro temas significativos encontrados nas
obras de Darwin:
Darwin sugeriu evidências que tanto espécies animais como vegetais
sofrem mudanças e desenvolvimento, ou seja, certas espécies que existem hoje não
existiam no passado e certas espécies que existiam no passado já se encontram
extintas. Este método evolucionário contradiz a visão defendida pela teologia
tradicional que as narrativas bíblicas sobre a criação deveriam ser interpretadas
como atos permanentes que determinaram a ordem imutável da natureza.
A teoria de Darwin apresentava que o processo evolutivo se
desenvolvera caminhando junto com grandes lutas pela existência, assim muitas
espécies teriam sido extintas pela competição entre elas. Este elemento de perda
aparentemente entrava em conflito com a noção da “providência divina”: como um
Deus bondoso e sábio poderia permitir este desperdício na natureza? Neste ponto a
teoria também aparentava salientar as implicações relacionadas ao tradicional
problema do mal: por que há tanto sofrimento no mundo se Deus é essencialmente
onipotente e bom?
A função do acaso no processo evolutivo, a solução natural e a noção
de “sobrevivência do mais apto” aparentemente afirmavam que o desenvolvimento
acontecera através de inúmeros eventos acidentais e ocasionais, sem nenhum a
interferência da orientação divina, sem interferência de um Deus “planejador”.
A maior dificuldade religiosa com a teoria da evolução provavelmente é
em relação com a posição da humanidade neste processo. Darwin sugeriu, com
muita cautela, que assim como as plantas e os animais descendiam de outras
formas de vida, assim também acontecia com a espécie humana, da mesma forma
herdando as características de seus antecessores. Darwin considerava a
humanidade como o mais excelente produto da evolução e que exercia domínio
sobre a natureza devido a sua tremenda capacidade de sobrevivência. Claro que
esta visão foi de encontro com as ideias tradicionais cristãs, sobre a criação especial
da humanidade (Gênesis 1 e 2) e feria especialmente a noção de “imagem e
36
semelhança de Deus”. Darwin não discordava da superioridade humana sobre o
resto da ordem natural, mas a forma como ele apresentava esta superioridades era
completamente incompatível com o tradicional pensamento religioso.
A partir destes pontos surgiram duas vertentes de pensamento. A primeira
descarta a crença em Deus e se baseia em descobertas posteriores da biologia
molecular (neodarwinismo). A segunda acredita que o darwinismo força a teologia
cristã a ponderar a sua visão sobre o governo de Deus na ordem natural, mas não
descarta a crença fundamental de que Deus tenha criado tudo (teísmo
evolucionário).
4.2.2.2 Neodarwinismo
No começo de século XX foi redescoberta a obra de Gregor Mendel
(ignorada por quase 50 anos), com isso houve um crescimento rápido nos
conhecimentos sobre a “base cromossômica da herança”. O que para Mendel era
um conceito de quantificação tornou-se uma entidade física. Em meados do século
XX agregou-se o material de Frederich Meischer (de aproximadamente um século
antes) nas pesquisas e conseguiu-se demonstrar a natureza química dos genes
(DNA). Da associação da genética com a biologia molecular surgiu a síntese
neodarwiniana.
Este novo modelo acrescentou novas características a teoria de Darwin:
Os genes apresentam informações na forma de combinação linear das
bases nitrogenadas que formam o DNA nos cromossomos.
O genótipo (informações encontradas nos genes) são expressas no
fenótipo (características de um organismo).
Em organismos individuais são observadas variações sutis nestas
informações. Estas variações correspondem a alterações na ordem dos pares de
base que formam genes específicos.
As alterações nos genes surgem por ocorrência de mutações que
acontecem “aleatoriamente”. Este “aleatório” significa a imprevisibilidade no sentindo
mecânico quântico e de nenhuma forma significa ocorrências caóticas.
Uma população de organismos terá diversidade de características
resultantes de ocorrências de mutação.
37
Assim, a força da seleção natural atua na diversidade genética,
permitindo que a características com maior aptidão de reprodução estejam
representadas nas próximas gerações.
Com o modelo neodarwiniano organizado a biologia moderna conseguiu
levantar grande quantidade de dados convincentes o suficiente para sustentar o
modelo darwiniano de história natural. A genômica e a bioinformática fornecem
volumes consideráveis de dados que sustentam a noção da descendência de um
ancestral comum. No raciocínio biológico este modelo se aplica a todos os níveis de
organização: do micro (moléculas) ao macro (ecossistemas).
Porém, esta nova maneira de enxergar a natureza afetou tanto as
ciências naturais quanto a postura filosófica de cientistas e teólogos.
Um dos defensores mais ferrenhos deste novo paradigma é Richard
Dawkins que como James Watson e Edward Wilson (citados neste capítulo, item
4.1) defendem pressupostos materialistas e reducionistas. Estes pressupostos não
consideram uma “ação divina” e adotam como tipologia metodológica a posição de
conflito do materialismo científico (capitulo 3, item 3.2), são eles:
A ciência só considera os aspectos naturais do mundo natural.
A ciência se limita a causas secundárias ignorando a causa primária
(ação divina) para fundamentar suas explicações.
A ciência busca reduzir os sistemas observados a suas partes
componentes simplificando a observação e a explicação dos níveis superiores da
organização.
4.2.2.3 Teísmo evolucionário
Muitos teólogos consideravam as ideias de Darwin hostis a fé cristã, mais
uma vez a narração de Genesis e a humanidade como coroação da criação
(imagem e semelhança de Deus) gerou conflito.
Porém, com o passar do tempo alguns viram que no processo
evolucionário era possível considerar a atuação de Deus dirigindo a criação a graus
mais elevados de consciência e desenvolvimento.
No século XIX já existiam teólogos que compartilhavam a possibilidade da
teologia cristã da providência divina se integrar a teoria de Darwin.
38
Henry Ward Beecher (1818-1887) é um ótimo exemplo, escritor simpático
ao calvinismo, adotou certa forma de evolução teísta. Ele expôs sua visão do
complexo processo de evolução guiado por Deus em sua obra Evolution and
Religion (Evolução e Religião) de 1885. Para ele, Deus providencialmente ordenou a
gradual eliminação das origens animais da humanidade, estabelecendo assim sua
capacidade superior moral e espiritual.
Benjamin B, Warfield (1887-1921) um dos maiores pensadores
protestantes conservadores, professor de teologia em Princeton, com notável
reputação para a ortodoxia protestante, era também teísta evolucionista. Pra ele não
existiam incompatibilidades entres o cristianismo e a teoria darwinista. Defendia que
a ideia de seleção natural poderá ser aceita sem dificuldades pelos evangélicos,
como uma lei natural agindo sob a proteção geral da providencia divina.
Muitos outros estudiosos defenderam o teísmo evolucionário e ainda o
defendem.
A Criação e o Cristo: reflexões no âmbito da Biologia e Teologia de Mário
Antônio Sanches, publicado em 2012, é um exemplo de como a biologia e a teologia
podem interagir positivamente. Ele afirma que existem duas visões de “ser humano”,
na biologia – uma espécie de ser vivo entre milhares de outras – e na teologia
bíblica – um ser chamado a uma relação especial com o criador, criado a sua
imagem e semelhança. As duas visões são compatíveis e trazem um entendimento
mais amplo do ser humano e do papel que ele exerce na criação. O cristão,
atualmente, necessita de todos os recursos disponíveis para construir uma visão
integral da realidade. Para fazer biologia é não necessário livrar-se dos
conhecimentos teológicos e não é possível fazer teologia negando os
conhecimentos comprovados da biologia moderna, pois, o ser humano redefinido
pelo biologia poderia ser reduzida apenas a dimensão genética. Para propor que o
reducionismo é insustentável se deve acrescentar o envolvimento de outras
disciplinas, no caso a teologia, criando um discurso mais amplo. Este novo discurso
necessita fazer justiça a dignidade humana, sem desconsiderar as comprovações
científicas que podem gerar novas perspectivas para que a mesma dignidade
humana seja contemplada.
39
5 NOS DIAS CONTEMPORÂNEOS
A Igreja Católica Romana hoje assume em papel determinado pelo Papa
atual (Francisco I), que aceita alguma legitimidade científica quando declara que
tanto a “evolução” quanto o “Big Bang” são compatíveis com a existência de um
Deus criador, mas assume uma posição conservadora quanto à contracepção, o uso
de células-tronco embrionárias e o uso dos preservativos, entre outros. Conclui-se
então que há um princípio de diálogo, mas também de conflito, dependendo do tema
em pauta.
Hoje no Brasil, há uma posição de independência pela maioria das Igrejas
Protestantes. Geralmente as duas áreas, ciência e religião, são separadas para
evitar o conflito.
Abaixo um resumo de um trecho do “Fórum – Ortodoxia e Reforma” do
Congresso Lutando Pela Igreja (Missão Integral) onde o teólogo e filósofo Ariovaldo
Ramos comenta sobre o tema:
Ele afirma que a Bíblia é por definição um livro de fé, infalível e inerrante e
que a relação entre a fé (bíblica cristã) e a ciência é dialética e não dilemática. A fé
não abre mão das suas certezas e a ciência não precisa abrir mão das suas
dúvidas. A ciência prescinde de Deus e a fé diz que Deus fez e faz ciência. A fé e a
ciência só são dadas a seres racionais, só seres racionais investigam e somente
seres racionais creem. A ciência tem um método diferente da fé, enquanto o método
da fé é dedutivo (parte da certeza de que há um todo e busca o significado das
partes) o método da ciência é indutivo (investiga as partes para ver a possibilidade
de haver um todo). O cristão deve perder a carência infantil e se sentir forçado a
provar a sua fé pela ciência, precisa perder a vergonha de crer e a necessidade de
precisar de aval para sua fé. A fé é tão racional quanto a ciência, não há questão de
um julgar o outro.
Porém no meio acadêmico percebemos que a cada dia a posição de
diálogo cresce, principalmente nas áreas de teologia, ciência da religião, biologia,
neurociência, bioética, genética, termodinâmica, física e mecânica quântica, entre
outras. Curiosamente as instituições que apoiam e financiam pesquisas e debates,
envolvendo teologia e ciência, são cristãs como, por exemplo, a PUCSP, PUCPR e
Universidade Mackenzie, outras instituições laicas como UNESP e USP também
fornecem grandes contribuições.
40
A grande maioria das pesquisas se dedica a ir além de comparar as
competências e legitimidades dos diferentes conhecimentos e também a abordar
temas específicos e tratá-los a partir de múltiplas visões.
Há também, no Brasil, outros grupos que debatem o tema como, por
exemplo, o Encontro Internacional de Cientistas Cristãos, mas devemos considerar
que a maioria dos palestrantes são tendenciosamente criacionistas quando utilizam
uma posição de conflito entre a religião cristã e a ciência, defendendo principalmente
os conceitos do “Design Inteligente” (não apresentado neste trabalho pelas razões
descritas no item 4.2).
Já nos Estados Unidos e na Europa, nas últimas décadas, há um
crescimento do diálogo entre ciência e religião.
Inúmeras instituições e sociedades tem se formado para a promoção
deste diálogo, como: European Society for the Study of Science and Theology
(Sociedade Europeia para Estudos da Ciência e Teologia), Science and Religion
Forum (Fórum sobre Ciência e Religião), Berkeley Center for Theology and Natural
Science (Centro para Teologia e Ciência Natural de Berkeley), entre outros. O
Centro de Berkeley e o Observatório do Vaticano têm patrocinado conferências
significativas, onde grandes cientistas como Stephen Hawking e Paul Davies junto
com notáveis teólogos como John Polkinghorne e Wolfhart Pannenberg, exploram
juntos as implicações da ciência para a teologia.
Também existem inúmeros periódicos dedicados a este tema, não só no
campo teológico e científico como no meio secular, que publicam artigos, trabalhos e
teses sobre as implicações mútuas da ciência e da religião.
A fundação Templeton oferece uma premiação em ciência e religião, de
um milhão de dólares, para os mais notáveis pensadores integrativos, como: John
Polkinghorne, George Ellis e Paul Davies.
Este diálogo entre ciência e religião atingiu tamanha importância que
universidades com Oxford e Cambridge instituíram cátedras em ciências e religião.
Os acadêmicos estão entendendo que, cada vez mais, o diálogo se torna
significativo, ciência e religião descobriram que possuem importantes interesses
mútuos e considerações relevantes uma para com a outra, explorando juntas as
maneiras que as tornam aliadas na busca pela verdade.
41
6 CONCLUSÃO
A partir do que foi apresentado neste trabalho pode-se considerar que:
Os debates entre ciência e religião se dão quase totalmente em
ambientes acadêmicos e estão crescendo cada vez mais com o passar do tempo.
Os cristãos geralmente não são instruídos para pensar além da
“espiritualidade”.
A ciência e a fé não são opostas, mas complementares.
E preciso pensar que nem toda a ciência é boa, deve-se distinguir a
boa e a má ciência, assim como se deve distinguir a boa e a má fé.
É necessário uma dose extra de fé para crer nas teorias do início do
universo, acreditando ou não em Deus.
Assim como a progresso na ciência, a teologia também deve progredir.
Os cristãos devem olhar ao redor e perceber a realidade que o cerca.
Precisa desacelerar o ritmo que se vive atualmente e buscar o autoconhecimento, a
adoração e a humildade para não tornar o presente absoluto e imediatista. Deve
contemplar as obras de Deus através da ciência, pois Ele é soberano para dar
capacidade e inteligência aos homens para o desenvolvimento da ciência e para
descobertas que podem melhorar a qualidade de vida da humanidade.
Os cristãos devem retirar o diálogo entre ciência e religião da quase
exclusividade acadêmica, tentando trazer este diálogo mais próximo da comunidade,
utilizando a ciência para o bem comum, tratando e restaurando a dignidade daquele
que precisa.
Os cristãos devem fazer a diferença utilizando as novas tecnologias e
descobertas para fazer justiça, glorificando a Deus, tentando ser a voz daqueles que
não tem voz, lutando para que todos “tenham vida e a tenham em abundância” (Jô
10:10).
A formação de líderes cristãos deve ser focada na manifestação do
amor de Deus e na expansão do seu “Reino” e não focada na importância da
intelectualização e da manipulação das massas.
Tanto a religião quanto a ciência devem ser observadas para o
estabelecimento de limites que não permitam agressões ao direito de vida.
42
Finalmente, e infelizmente, os cristãos devem reconhecer que mesmo
entre eles não há um consenso, ainda que utilizem o mesmo “livro de fé”, que
possuam o mesmo Salvador, que tenham o mesmo objeto de adoração, Deus Pai, e
o mesmo orientador e consolador, o Espírito Santo; ainda não conseguem obter um
diálogo interdenominacional. Os cristãos devem reconhecer que ainda resta
percorrer um longo caminho para estarem amadurecidos e abrir possibilidades para
um diálogo mais popular entre a Fé Cristã e a Ciência Moderna.
REFERÊNCIAS
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ANEXOS
Anexo A - Pessoas que contribuem/contribuíram para o diálogo
Alister E. McGrath (1953-): formado em química, cursou teologia em
Oxford e Cambridge, detém dois doutorados da Universidade de Oxford, Um Ph.D.
em Biofísica Molecular e um doutorado em Divindade em Teologia.
Amit Goswani (1936-): físico nuclear e quântico, Ph.D. em física
quântica e professor titular de Física da Universidade de Oregon.
Aracy Terezinha Martignoni: graduada em Teologia pela Faculdade
Missioneira do Paraná e possui mestrado em Teologia Sistemática Pastoral pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Arthur Peacocke (1924-2006): bioquímico físico, teólogo e padre
anglicano, foi pioneiro na investigação do DNA na área físico-química, se tornou um
dos principais defensores para a interação criativa entre fé e ciência. Possui vários
doutorados e Ph.D. em suas áreas de atuação. Vencedor do Prêmio Templeton para
o Progresso da Religião 2001.
Charles A. Coulson (1910-1974): Atuou nas áreas de química, física e
química, Professor e cátedra na Universidade de Oxford, escreveu muitos livros
nestas áreas e outras tantas sobre as relações das ciências com a fé cristã.
Charles H. Townes (1915-2015): Físico e teólogo, Ph.D. em Física
Nuclear. Ganhou o Nobel de Física em 1964, por trabalhos fundamentais no campo
da eletrônica quântica, Vencedor do Prêmio Templeton para o Progresso da Religião
2005.
Denis Alexander (1945-): biólogo molecular e autor sobre religião e
ciência. Doutor Emérito do Instituto Faraday para Ciência e Religião no St. Edmund
College, Cambridge. Editor do periódico Science and Christian Belief., estudou
bioquímica e possui Ph.D. em neuroquímica do Instituto de Psiquiatria, ambos em
Oxford.
Eduardo Rodrigues da Cruz: Mestrado em Física Nuclear pela USP,
bacharel em teologia pela Faculdade Teologia N.Sa. Assunção, professor na
PUCSP, doutorado em Teologia pela Lutheran School of Theology em Chicago e
pós-doutorado no Institute for the Advanced Study of Religion. Recebe vários
auxílios da Fundação John Templeton para pesquisas.
Elizabeth A. Johnson (1941-): teóloga feminista cristã, professora de
Teologia na Universidade de Fordham. Membro das Irmãs de São José de
Brentwood. Atuou como presidente da Sociedade Teológica Católica da América.
Ernan McMullin (1924-2011): sacerdote católico, filósofo da ciência
internacionalmente respeitado que escreveu e ensinou extensivamente sobre
assuntos que vão desde a relação entre a cosmologia e a teologia, ao papel dos
valores na compreensão da ciência, ao impacto do Darwinismo no pensamento
religioso ocidental. Ele era um especialista sobre a vida de Galileu.
Freeman Dyson (1923-): matemático e físico teórico, recebeu vários
prêmios, entre eles, o Templeton de 2000. Participa de eventos internacionais para
difundir o estudo da Teologia Natural.
Gaymon Bennett: Ph.D. em Antropologia pela Universidade de
Berkeley, Ph.D. em Teologia pela Graduate Theological Union. Coordenador de
Comunicações, Programa de Cursos de Ciência e Religião do Centro para Teologia
e Ciências Naturais, em Berkeley.
George Francis Rayner Ellis (1939-): professor emérito de Sistemas
Complexos no Departamento de Matemática e Matemática Aplicada na Universidade
da Cidade do Cabo na África do Sul. Foi coautor de The Large Scale Structure of
Space-Time junto com o físico Stephen Hawking, publicado em 1973, e é
considerado um dos teóricos mais importantes do mundo em cosmologia. Ganhou o
Prêmio Templeton, em 2004, por suas pesquisas centradas sobre os aspectos mais
filosóficos da cosmologia.
George L. Murphy: associado de pastoral na Igreja Episcopal de St.
Paul em Ohio. Leciona e realiza pesquisas no Luther College, The University of
Western Australia, e no Westminster College. Ganhou o prêmio Templeton para o
desenvolvimento de cursos de ciência-religião, em 1995. É profissional associado a
instituições como The American Physical Society, The Center for Theology and the
Natural Sciences, e the American Scientific Affiliation.
Guilherme V. R Carvalho: formado pela Escola Superior de Teologia
Mackenzie, mestre em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, e
mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Foi
professor de teologia por vários anos, e tem interesse especial por filosofia da
religião, teologia natural e teologia da cultura. Atualmente é pastor da Igreja
Esperança em Belo Horizonte e diretor de L’Abri Fellowship Brasil.
Holmes Roston III (1932-): filósofo, professor de filosofia na
Universidade Estadual do Colorado. Conhecido por suas contribuições para a ética
ambiental e para a relação entre ciência e religião. Entre outras honrarias, ganhou o
Prêmio Templeton 2003.
Ian G. Barbour (1923-2013): físico, com vários doutorados e Ph.D. em
física. Ganhou Prêmio Templeton, em 1999, por seus esforços para criar um diálogo
entre os mundos da ciência e da religião. Recebeu o crédito de ter criado a área
contemporânea de estudo da ciência e da religião, por realizar estudos com grande
amplitude de tópicos e campos trazidos para essa integração.
Ian H. Hutchinson (1951-): Bacharel em física pela Universidade de
Cambridge, PH.D. em Engenharia Física pela Universidade Australiana Nacional,
professor de Ciência e Engenharia Nuclear no Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT). Ele tem se relacionado com a American Scientific Affiliation
sobre as interseções do cristianismo com a ciência, e no Fórum Veritas.
John Carson Lennox (1945-): professor de Matemática da Universidade
de Oxford, orientador em Matemática e Filosofia da Ciência e conselheiro pastoral
no Green Templeton College de Oxford, professor Adjunto da Wycliffe Hall na
Universidade de Oxford e no Centro de Oxford para Apologética Cristã, orientador
sênior do Trinity Forum. e apologista cristão. Estudioso das relações entre ciência e
religião, publicou vários livros e participa de debates públicos sobre o assunto,
notoriamente com o neoateísta Richard Dawkins.
John Polkinghorne (1930-): físico teórico Inglês, teólogo, escritor e
sacerdote anglicano. Trabalhou com física teórica de partículas elementares por 25
anos; foi Professor de Física Matemática na Universidade de Cambridge e, em
seguida, Presidente do Queens’ College, em Cambridge. Membro da Royal Society,
foi o Presidente Fundador da International Society for Science and Religion e é autor
de cinco livros sobre física, e 26 sobre a relação entre ciência e religião; Suas
publicações incluem o mundo quântico (1989), Física Quântica e Teologia:, incluindo
Science and Theology, além de inúmeros artigos e trabalhos em periódicos
internacionais.
Kirk Wegter McNelly: professor assistente do Departamento de Estudos
Religiosos da Manhattan College, Nova York, onde leciona cursos voltados para a
relação entre religião e ciência. Possui doutorado em teologia sistemática e filosófica
da Graduate Theological Union, em Berkeley. Produziu trabalhos que lidam com a
ação divina, uma focada em biologia evolutiva e outra sobre as neurociências. Suas
pesquisas se concentram no envolvimento entre a teologia cristã e a física
contemporânea. Ganhador de vários prêmios tanto na área das ciências Naturais
como em teologia.
Marcos Campos Botelho: graduado em Teologia pelo Seminário
Presbiteriano Brasil Central em Goiânia, graduado e mestre em Filosofia pela
Universidade Federal de Goiás e professor da Faculdade FAIFA e do Seminário
Presbiteriano Brasil Central.
Mariano Artigas (1938-2006): físico, filósofo, professor universitário e
sacerdote da Igreja Católica, membro da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz e
Opus Dei. Foi membro da European Association for the Study of Science and
Theology, do Comitê do projeto Science Human Values, da Academia Pontifícia de
Santo Tomás (Vaticano), da Sociedade Internacional para a Ciência e Religião da
Universidade de Cambridge, subvencionado pela European Science Foundation e
correspondente da Academia Internacional de Filosofia das Ciências. Foi consultor
do Pontifício Conselho para o Diálogo com os não crentes, professor em diversas
universidades latinas (Peru; Colômbia, Chile, México) e europeias (Roma, Suíça,
Holanda). Recebeu bolsa da Fundação Templeton por seus trabalhos na área da
ciência e da religião.
Mário Antônio Sanches: pós-doutorado em Bioética na Cátedra de
Bioética da Universidad Pontificia Comillas, em Madrid, com bolsa da
CAPES/Fundação Carolina, doutor em Teologia, mestre em Antropologia Social pela
UFPR, especialista em Bioética e licenciado em Filosofia, professor no Programa de
Pós-Graduação em Teologia, coordenador do Programa de Pós-Graduação em
Bioética da PUCPR, líder do Grupo de Pesquisa Teologia e Bioética da PUCPR,
membro da SBB/PR e membro do Comitê de Ética em Pesquisa. Possui vasta lista
de publicações acadêmicas, artigos e periódicos em suas áreas de atuação onde
grande parte há relacionamento entre ciência e teologia.
Martinez J. Hewlett (1942-):Professor Emérito de Biologia Molecular e
Celular da Universidade do Arizona. Professor adjunto na Escola Dominicana de
Filosofia e Teologia da Graduate Theological Union e um membro leigo da Ordem
Dominicana. Autor de dois livros sobre a relação entre ciência e religião com Ted
Peters.
Muzaffar Iqbal (1954-): químico, presidente fundador do Center for
Islamic Sciences, Canadá. Escreveu vinte e três livros. Editor de uma revista de
perspectivas islâmicas sobre ciência e civilização, Islamic Sciences. Suas obras são
sobre o Islã, o sufismo, os muçulmanos e sua relação com a modernidade. Foi um
dos experts para o Physics and Cosmology Group of the Center for Theology and
the Natural Sciences, ao lado de cientistas como Andrei Linde, John Polkinghorne,
Paul Davies e Charles Townes; entre 1996 e 2003 o grupo realizou um diálogo
público intensivo sobre ciência e espiritualidade.
Nancey Murphy (1951-): filósofa e teóloga, professora de Filosofia
Cristã no Fuller Theological Seminary em Pasadena. Bacharel em filosofia e
psicologia pela Universidade de Creighton, Ph.D. em filosofia da ciência pela
Universidade da Califórnia, em Berkeley e Doutora em Teologia pela Graduate
Theological Union. Seus interesses de pesquisa concentram no papel da filosofia
moderna e pós-moderna na formação da teologia cristã; sobre as relações entre a
teologia e a ciência; e mais recentemente na filosofia da mente e da neurociência
Nancey Randolph Pearcey (1952-): bacharel pela Universidade
Estadual de Iowa e Mestra em Estudos Bíblicos pelo Covenant Theological
Seminary em St. Louis, Missouri. Realizou um estudo adicional em filosofia no
Institute for Christian Studies em Toronto. Foi acadêmica durante muitos anos do
Francis A. Schaeffer no World Journalism Institute. Em 2007, nomeada acadêmica
pelo Worldview Studies at the Center for University Studies at Philadelphia Biblical
University, Pennsylvania, e acadêmica na Residence at Houston Baptist University.
Paul Davies (1946-): físico, escritor e apresentador, reconhecido
internacionalmente. Atualmente ocupa o cargo de professor de Filosofia Natural no
Centro Australiano de Astrobiologia na Universidade de Macquaire, Sydney. Doutor
pela Universidade de Londres, trabalhou também nas universidades de Cambridge e
de Adelaide. Seus campos de pesquisa incluem cosmologia, teoria quântica de
campos e Astrobiologia. Desde 2005, ocupa a liderança da SETI: Post-Detection
Science and Technology Taskgroup da International Academy of Astronautics.
Recebeu o Prêmio Templeton de 1995 por suas contribuições às implicações mais
profundas da ciência.
Peter M. J. Hess: trabalha como Diretor de Extensão para
Comunidades Religiosas com o Centro Nacional de Ciências da Educação em
Oakland, para promover a compreensão da relação entre a ciência e crença
religiosa. Mestre pela Universidade de Oxford e Ph.D. pela Graduate Theological
Union, em Berkeley. Coautor de foi coautor do livro Catholicism and Science com
Paul Allen . Membro da Sociedade Internacional para a Ciência e Religião (ISSR).
Atualmente ministra cursos em ética ambiental e ciência e religião em várias
universidades na área da Baía de San Francisco.
Philip Clayton (1955-): teólogo e filósofo contemporâneo, professor de
Teologia em Ingraham Claremont School of Theology. Possui doutorado duplo de
filosofia e teologia em Yale, orientado por Louis Dupre. Foi bolsista do Serviço
Alemão de Intercâmbio Acadêmico sob orientação de Wolfhart Pannenberg,
eventualmente trabalha como tradutor da obra de Pannenberg. Manteve cátedras
na Williams College, na California State University Sonoma, na Universidade de
Harvard e na Universidade de Cambridge. Sua pesquisa se concentra na relação
entre religião e ciência, teologia do processo, filosofia da religião, e questões
contemporâneas em ecologia, religião e ética. Recebeu várias bolsas de
investigação e docência internacional.
Robert John Russell: fundador e diretor do Center for Theology and the
Natural Sciences e do Ian G. Barbour Professor of Theology and Science in
Residence na Graduate Theological Union. Ele escreveu e editou uma grande
quantidade de trabalhos sobre os possíveis mecanismos científicos para as crenças
do cristianismo. Ministro ordenado na Igreja Unida de Cristo. Ph.D. em Física pela
Universidade da Califórnia, bacharel em física pela Universidade de Stanford, mestre
em física pela UCLA, mestre em Teologia e M. Div. pela Pacific School of Religion.
Ensinou física em Carleton College e ciência e religião com Ian Barbour por vários
anos antes de se juntar a Graduate Theological Union em 1981. Publicou vários
trabalhos que exploram consonância e dissonância entre a física moderna, biologia
evolutiva e da teologia cristã. Pesquisador principal do STARS: Science and
Transcendence Advanced Research Series. No livro God’s Action in Nature’s World:
Essays in Honour of Robert John Russell, 15 acadêmicos analisam os pontos de
vista da contribuição de Russel sobre a interação entre a teologia e a ciência.
Ted Peters (1941-): teólogo luterano, professor de Teologia Sistemática
no Pacific Lutheran Theological Seminary. Trabalha como teólogo e educador, é um
autor prolífico e editor sobre a teologia cristã e luterana no mundo moderno, editor-
chefe de Dialog, A Journal of Theology, uma revista acadêmica trimestral da teologia
moderna e pós-moderna e coeditor de Theology and Science publicado pelo Center
for Theology and the Natural Sciences, em Berkeley. Bacharel pela Michigan State
University, M.Div. do Trinity Lutheran Seminary e mestre e doutor pela Universidade
de Chicago.
Varadaraja V. Raman (1932): professor emérito de Física e
Humanidades no Instituto de Tecnologia de Rochester. Lecionou e escreveu sobre o
patrimônio e a cultura indiana, autor de vários livros, resenhas de livros e artigos
sobre ciência e religião. Ele é considerado especialista na religião hindu,
especialmente a forma como ele se relaciona com a ciência moderna. Eleito membro
sênior do Instituto Metanexus. Recebeu o Raja Rao Award, em 2006, que reconhece
escritores que fizeram contribuições relevantes para a literatura da diáspora asiática
do Sul.
Willian Lane Craig (1949-): filósofo e teólogo cristão americano. Como
filósofo, se especializou em filosofia da religião, metafísica, e filosofia do tempo.
Como teólogo, sua especialidade são os estudos sobre o Jesus histórico e teologia
filosófica. Fez importantes contribuições para as discussões sobre o argumento
cosmológico em favor da existência de Deus, a onisciência divina, teorias do tempo
e eternidade e para a historicidade da ressurreição de Jesus. Doutor em filosofia
pela Universidade de Birmingham e em teologia pela Universidade de Munique.
Atualmente leciona filosofia na Talbot School of Theology. Conferencista
internacional e autor de dezenas de artigos e livros no campo da filosofia e da
apologética.
Wolfhart Pannenberg (1928-2014): teólogo protestante que mais
atenção deu à relação entre fé e razão na teologia contemporânea, chamado, muitas
vezes, de o maior teólogo da segunda metade do século 20. Foi professor em
diversas renomadas Universidades. Autor extremamente produtivo escreveu livros,
artigos e publicações acadêmicas (em dezembro de 2008, a sua “página de
publicação” na Universidade de site de Munique listava 645 publicações acadêmicas
para o seu nome). A obra Teologia Sistemática de Wolfhart Pannenberg, em três
volumes, é considerada a melhor teologia sistemática do século 20.
Anexo B - Supostos erros da Bíblia
O livro Uma História Politicamente Incorreta da Bíblia, de Robert J.
Hutchinson, apresenta em seu terceiro capítulo alguns argumentos utilizados pelos
neoateístas para buscar discrepâncias, criticar e atacar a Bíblia e a fé cristã; e
também apresenta as possíveis respostas a estes argumentos. Abaixo um breve
resumo do conteúdo deste capítulo.
Supostos erros.
Não é errado que nos dias de hoje, as pessoas questionem certas
passagens bíblicas e por que parecem ser inverossímeis em relação a outras áreas
de conhecimento como a ciência moderna e a história. Este fato é normal e
totalmente endossado pela Bíblia quando Paulo recomenda “Examinei tudo.
Retende o bem.” (1 Ts 5:21).
Porém, toda a contradição, discrepância, suposto erro histórico ou
científico, incorreção gramatical, fato ou comentário controverso referente à Bíblia e
apontado nos dias atuais; já foram percebidos, discutidos e debatidos
exaustivamente, milhares de vezes, por centenas de anos pelas maiores mentes da
história. Mas isso não significa que toda questão foi resolvida ou todo o problema
solucionado. Indica sim, que se deve ter um pouco de modéstia e respeito ao se
tratar com o livro sagrado de uma terço da população mundial, e antes de
anunciarem os “problemas” bíblicos, dever-se-ia verificar com aqueles de creem na
Bíblia se já perceberam estes fatos e como lidaram com essas potenciais ameaças a
sua fé.
Supostas inconsistências.
As inconsistências são conhecidas entre os cristãos conservadores como
“dificuldades bíblicas” e existem livros inteiros dedicados a elas, na tentativa de
resolvê-las, se é que realmente precisam ser resolvidas. Porém, muitas delas podem
ser explicáveis com uma leitura mais cuidadosa dos textos:
- O dilúvio durou quarenta dias (Gn 7:4) ou um ano inteiro (Gn 7:11)? A
duração do dilúvio é aparentemente contraditória, mas os textos salientam que
quarenta dias foi o tempo da duração da chuva, enquanto o ano inteiro foi o período
em que Noé e sua família permaneceram na arca até que as águas baixassem e
eles pudessem pisar em terra firme.
- Quantos animais de cada espécie entraram na arca, dois (Gn 6:19) ou
sete (Gn 7:2) ? Em Gn 6:19-20 fala-se de pelo menos dois animais de cada espécie,
enquanto Gn 7:2 é mais detalhado e diz sete pares de todos os animais limpos
(puros) e apenas um casal dos não limpos (impuros).
- Afinal Abraão veio de Ur dos Caldeus (Gn 11:28) ou de Harã (Gn 29:4)?
A família de Abraão era originalmente de Ur, mas migrou para Harã antes dele
receber o chamado de Deus.
- Quanto aos filhos de Abraão, Isaque era o “filho único” (Gn 22:2), havia
outro primogênito (Gn 16) ou Abraão tinha outros filhos (Gn 25)? Neste caso, como
na maioria das inconsistências apontadas, o problema é histórico-socio-cultural,
onde tentam impor um padrão mais atual e regional a pessoas que possuíam estilos
de vida, cultura e panoramas diferentes. Os outros filhos de Abraão, incluindo aí
Ismael, eram crianças que foram geradas com escravas, concubinas e com sua
segunda esposa, Quetura (após a morte de Sara).
Supostos erros de citações
Os autores do Novo Testamento parecem. muitas vezes, equivocar-se
nas citações das escrituras. Não necessariamente são erros como apontam os
críticos. Por exemplo, Mateus 4:14-16 cita Isaias 9:12, mas a citação não combina
com nossos textos de Isaías, nem na versão hebraica, nem na grega. Mateus 2:6
parece reproduzir Miquéias de modo errôneo, adicionando palavras que não
pertencem ao original. E Mateus 2:23 cita uma profecia “Ele será chamado
Nazareno” que nãoexiste na bíblia hebraica que temos acesso.
Estes exemplos podem ser explicados pelo fato que na época os judeus
citavam a Bíblia de cor e dificilmente ipsis literis (o acesso aos textos era restrito).
Muito frequentemente recorriam a paráfrases em aramaico muito livres do texto em
hebraicos, conhecidas como targumin (traduções). É possível que os textos do
nosso Novo Testamento pudessem ser traduções para o grego de paráfrases livres
do aramaico de citações em hebraico. Não é surpresa que os textos não sejam
citações feitas palavra por palavra.
Supostos erros históricos
Muitos dos supostos erros históricos ou anacronismos envolvem
topônimos – o que sugere a existência de um editor posterior à escrita do que um
“erro”. Por exemplo, em Genesis 14 descreve-se a perseguição dos reis
sobreviventes de Sodoma e Gomorra por Abraão até a cidade de Dã, mas esta não
existia nesta época. É como considerar um erro histórico a afirmação que “os
holandeses fundaram Nova York” quando, tecnicamente, não o fizeram: eles
fundaram Nova Amsterdã, que posteriormente foi rebatizada de Nova York.
Outro exemplo é a referencia aos “filisteus” em Genesis 21, pois este
povo só surgiu por volta do ano 1180 A.C., também solucionado como o exemplo
anterior, porque o texto se refere a “terra dos filisteus” e não ao povo.
Uma denúncia mais grave são as referências ao uso de camelos no
Genesis, porque aparentemente estes animais ainda não haviam sido domesticados.
Porém, já existem evidências de que nesta época e talvez antes, estes animais já
haviam sido domesticados pelos sumérios por volta de 1900 A.C., além de fosseis
de camelos encontrados em escavações de acampamentos humanos, no Irã
oriental, que levaram os cientistas a concluírem que pelos idos de 2700 A.C. os
camelos começaram a ser domesticados no Turcomenistão. Então, é possível que
os habitantes da Síria-Palestina possam ter tido contato com camelos domesticados.
Supostos erros científicos
Os refutadores contemporâneos insistem na questão do “morcego” e isto
prova que a Bíblia esta repleta de erros científicos. Em Levítico 11:19 há uma
descrição deste animal como pertencente ao grupo das “aves”, porém são
“mamíferos” voadores. Ainda há outros “erros científicos” apontados na Bíblia:
- Lv 11:6 – Os coelhos são descritos como “ruminantes”.
- Lv 11:21-24 – os gafanhotos e besouros são descritos como
possuidores de “quatro pés” (insetos possuem seis).
- Lv 11:4 – O camelo é descrito como não tendo “unhas fendidas” (quando
as tem).
- Gn 3:14 – É dito que a serpente estaria condenada a andar sobre o
próprio ventre (embora não tenha sido sempre assim).
- 2 Rs 6:5-6 – O profeta Eliseu é descrito como tendo feito um machado
de ferro flutuar na superfície da água (ferro não boia).
Entretanto, esses erros são apenas tentativas de impor uma precisão
científica a textos que não tem a pretensão de o ser. A Bíblia usa a linguagem
casual e imprecisa da vida cotidiana, e não a linguagem da ciência empírica. A Bíblia
se propões a transmitir amplas idéias morais e filosóficas e não minúcias sobre
zoologia.
Por exemplo, em hebraico a palavra para ave (ohf) pode também ser
traduzida como “coisa voadora”, em outras passagens é usada para pássaros,
morcegos e insetos. A expressão “andar em quatro pés” é coloquial, não tem cunho
científico. Os coelhos, em Levítico, são classificados como ruminantes, o que hoje
sabemos serem da família dos leporídeos coprófagos, mas esta classificação não
existia no passado.
Muitos outros erros a qual os críticos apontam se referem a milagres,
como na passagem de Eliseu e o machado, esta passagem é descrita como uma
acontecimento milagroso e não como um fenômeno normal da natureza. Enfim,
quase todos os exemplos de “erros científicos” são tentativas de recorrer a uma
linguagem padrão sistemática da ciência contemporânea, quando a Bíblia nunca
aspirou a ser, mas apenas refletiu a linguagem das pessoas comuns.