TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

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Bruna Ferreira Leal OS MISTÉRIOS DO SONO 1

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Bruna Ferreira Leal

OS MISTÉRIOS DO SONO

Itapecerica da serra2011

Bruna Ferreira Leal1

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OS MISTÉRIOS DO SONO

Trabalho apresentado àDisciplina Biologia do

Colégio Adventista deItapecerica da Serra.

Itapecerica da Serra 2011

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1.Introdução

Até o início da década de 50 o sono era visto como um processo passivo, onde

ocorriam lapsos no cérebro, induzindo o sono, devido a estímulos sensoriais insuficientes

para manutenção da vigília.

A partir do final da década de 50, identificou-se o sono como um processo ativo,

caracterizado por uma sucessão cíclica de diferentes fenômenos psicofisiológicos.

Descobriu-se que os estágios do sono ocorrem numa sequencia relativamente pré-

estabelecida a cada noite, e são controlados por diferentes, mas interligados, sistemas

neuroquímicos.

Para gerar repouso e recuperação das funções mentais, essas fases devem acontecer

de forma organizada, durante a noite. A alteração destas fases resulta na não recuperação

completa das funções mentais, repercutindo no declínio da atenção, concentração, lentidão

de raciocínio, hipersonolência diurna, alteração de humor e comprometimento de outros

sistemas orgânicos, contribuindo para o surgimento de doenças.

Essa pesquisa estará em enfoque na atividade do cérebro durante o sono e nos mais

misteriosos distúrbios do sono, insônia, narcolepsia e as parassônias.

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2.Natureza do Sono

A necessidade de dormir é uma força organizadora para os seres vivos. Coelhos

regressam a suas tocas, ursos a suas cavernas, pássaros a seus ninhos. Os primeiros seres

humanos eram nômades que levavam consigo peles de animais para dormir. Os primeiros

habitantes das cavernas estabeleceram o conceito lar como um local para dormir. Hoje, a

maioria dos anúncios imobiliários define o tamanho de um apartamento ou casa pelo numero

de dormitórios.

Durante muito tempo o sono esteve

envolto em mistério, considerado como um

período tanto de paz quanto de perigo. De

acordo com a mitologia grega, a deusa da

noite, Nyx, teve filhos gêmeos: Hipnos, o

deus do sono, e Thanatos o deus da morte.

Os povos primitivos acreditavam

que a alma deixava o corpo durante o

sono. Assim, tomavam cuidado para não

acordar quem dormia, porque a alma

talvez estivesse um pouco longe e não

tivesse tempo de voltar. Eles acreditavam que alguém acordado sem sua alma poderia ficar

doente ou mesmo morrer.

Uma noite normal de sono não é tão profunda quanto a hibernação dos animais e não

é verdadeiramente um estado de inconsciência. Pessoas que estão dormindo podem ouvir

ruídos tais como o do transito eu passa, da chuva que cai, ou um bebe que chora. Podem

perceber uma corrente de ar frio ou calor demasiado dos cobertores. Podem sentir o cheiro

de fumaça. E suas mentes não param de funcionar – apenas o pensamento toma a forma dos

sonhos.

Muitas culturas acreditavam que os sonhos mostram lugares visitados, pessoas

conhecidas e outras aventuras de alma viajante do adormecido. Os sonhos também foram

considerados como mensagens de outro mundo ou uma parte do ser que não é usualmente

acessível durante a vigília. Os antigos egípcios achavam que os sonhos que iluminavam sua

existência eram de inspiração religiosa. O filósofo grego Platão escreveu no século IV a.C.:

“Mesmo nos homens bons há uma natureza de besta selvagem que irrompe durante o sono”

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– um conceito elaborado no começo deste século pelo pai da psicanálise, Sigman Freud. Ele

via os sonhos como o “caminho real” para o inconsciente. Os índios Dakota, das planícies

americanas, penduram redes de sonhos apavorantes sejam detidos pela rede, enquanto os

sonhos bons passarão pelo pequeno orifício aberto no centro, para chegar à criança.

Até o início do século XX os cientistas encaravam o sono como um estado unitário e

passivo. Mas o desenvolvimento do

eletroencefalógrafo (EEG) em 1920 tornou

possível medir a atividade elétrica natural do

cérebro por meio de eletrodos aplicados na cabeça

da pessoa e ligados por fios a um aparelho de

registros. A partir desses registros, em 1930

foram, pela primeira vez, identificados ciclos de

padrões específicos de ondas cerebrais durante o

sono, mas à época os pesquisadores podiam

apenas imaginar o significado desses ciclos.

3.REM e NREM

Em 1952, Nathaniel Kleitman e Eugene Aserinsky, da Universidade de Chicago,

decidiram examinar a atividade não apenas no cérebro, durante o sono, mas também dos

músculos dos olhos, de forma a verificar se os lentos movimentos de rotação que ocorrem

quando a pessoa adormece também têm lugar durante o sono. Descobriram que,

periodicamente, os olhos de movem com rapidez durante o sono, de forma muito semelhante

à que acontece quando a pessoa está acordada. Quando os adormecidos são acordados

durante o que acabou de se chamando de períodos de sono REM (Rapid Eye Movement –

Movimentos Rápidos do Olho) e lhes é perguntado sobre o que se passava em suas mentes, a

grande maioria descreve sonhos vívidos, com grande riqueza de imagens. Quando acordados

durante o período NREM (Non Rapid Eye Movement – Não Movimentos Rápidos do Olho),

a maioria não relatou sonhos, mas sim pensamentos banais muito parecidos com o que se

tem no dia-a-dia, quando se está desperto.

A atividade cerebral durante períodos NREM é lenta e uniforme. No sono REM, por

contraste, a atividade cerebral é irregular e semelhante à que ocorre em estado de vigília.

Assim, o sono REM foi denominado de “sono ativo” e o sono NREM, de “sono inativo”.

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Estudos a respeito de centenas de adormecidos de todas as idades mostraram que o sono

normal segue um padrão previsível: períodos de sono ativo e inativo se alternam em ciclos

que duram aproximadamente noventa minutos.

Os dois estados de sono apresentam curiosos paradoxos. Durante o sono REM, os

músculos que movem os braços, as pernas e o resto do corpo ficam paralisados. Em

contraste, durante o sono NREM, o corpo se move com frequência; tal movimentação

provavelmente faz parte do sistema de auto proteção do corpo: exercita os músculos e

mantém flexibilidade das juntas. A pressão sanguínea é baixa, e tanto os batimentos

cardíacos quanto a respiração são lentos e constantes no sono NREM, e mais variáveis no

sono REM.

Depois do apagar das luzes, numa noite comum, a maioria dos adultos jovens

adormece em poucos minutos. O sono começa com um sono NREM, que é dividido em três

(originalmente quatro) estágios – 1, 2 e 3-4 – representando a progressão do sono mais leve

ao mais profundo. A distinção entre os estágios se baseia na altura do som necessário para

obter o despertar e nas características ondas cerebrais que ocorrem em cada estágio.

No estágio 1, os pensamentos flutuam. Muitas pessoas relatam sentirem-se como que

boiando ou caindo. Elas podem ter breves divagações, semelhantes a sonhos. Os batimentos

cardíacos, a pressão sanguínea e a temperatura começam a cair. No registro das emissões

cerebrais, as ondas alfa, que caracteriza a vigília relaxada e têm um ciclo de frequência de

oito a treze vezes por segundo, gradualmente é lugar às ondas teta, cujo ciclo é de quatro a

oito vezes por segundo.

Breves e característicos espasmos de atividade cerebral, aparentes para o olho

treinado de um leitor de registros EEG, servem como indicação de que o adormecido passou

para o estágio 2 do sono. Se acordasse nesse ponto, muitas pessoas relatam pensamentos

curtos, enquanto outras negam que estivessem dormindo. Poucas relatam sonhos vívidos.

Entre quinze e trinta minutos após pegar no sono, a pessoa entra no estágio 3-4. As

ondas cerebrais características desse estágio conhecido como ondas delta, são as mais longas

e lentas de todas, com um ciclo de frequência menor do que quatro vezes por segundo.

Originalmente, os cientistas tentaram estabelecer uma distinção entre os estágios 3 e 4 pela

frequência das ondas delta, mas hoje a maioria dos pesquisadores combinam esses estágios.

Se acordasse nesse ponto, em geral as pessoas reconhecem que estavam dormindo. De fato,

algumas vezes encontram-se tão profundamente adormecidos que só recobram o estado de

alerta após alguns minutos e mal se lembram de seus pensamentos. Os batimentos cardíacos,

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a pressão sanguínea e a temperatura diminuem. Para um jovem adulto, o sono no estágio 3-4

dura cerca de uma hora; o adormecido retorna, então, ao estágio 2 e rapidamente entra numa

sono REM.

O primeiro período de sono REM ocorre cerca se setenta a noventa minutos depois

que o sono começa e dura em torno de dez a quinze minutos, funcionando como uma

espécie de introdução para os sonhos que ocorrerão mais tarde. Os batimentos cardíacos

aumentam a pressão

sanguínea e outros índices

metabólicos também, e a

temperatura do corpo se

torna mais irregular. A s

ondas cerebrais se tornam

mais irregulares e exibem

picos de “dentes de serra”,

assim chamadas por sua

semelhança física com a

lâmina de uma serra. Logo

adormecido volta ao sono

NREM, e o ciclo se repete.

À medida que o sono prossegue os períodos NREM se tornam mais curtos e mais

leves, enquanto os períodos REM ficam mais longos. Resultado: quanto mais dura o sono,

mais longos são os sonhos. Quando as pessoas acordam espontaneamente pela manhã, em

geral estão acordadas de um período REM, ou pouco depois dele, o que torna o último sonho

da noite o mais fácil de ser lembrado.

Os adultos jovens gastam cerca de 5% do seu tempo total se sono no estágio 1, 50%

no estágio 2, 20 a 25% no estágio 3-4, e 20 a 25% em sono REM.

O tempo de sono dos animais varia de umas meras duas horas ou três horas para

cavalos e vacas, há até vinte horas para uma preguiça. É típico que animais mais jovens

durmam por um período maior do que os mais velhos, e isso vale também para os seres

humanos.

Recém-nascidos podem dormir de dezesseis a dezoito horas por dia, e passam a

metade do tempo que dormem em sono REM. A proporção de tempo gasta em sono REM

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cai para cerca de 1/3 do tempo de sono por volta dos 2 anos, e para cerca de 1/5 aos 10 anos.

E permanece nesse nível até uma idade extremamente avançada. A necessidade de maior

quantidade de sono REM nos primeiros meses de vida levou pesquisadores a sugerir que o

sono REM é crucial para o aprendizado e para o desenvolvimento da memória, também foi

comprovado que os bebes ainda na barriga da mãe sonham não se sabe com o quê.

Entre a juventude e a velhice, a proporção do sono profundo do estágio 3-4 cai cerca

de 20 a 25% do tempo total de sono a virtualmente 0%, enquanto a proporção do sono leve

do estágio 2 aumenta cerca de 50 para 70% e é acompanhada por um aumento no tempo em

que se passa acordado durante a noite. O sono leve ou agitado queixa comum dos mais

velhos, se reflete nos registros de EGG à medida que se envelhece.

Recém-nascidos, de modo geral, despertam e dormem de seis a oito vezes por dia,

mas, pelo terceiro mês de idade, eles aprendem a dormir principalmente a noite. A típica

criança de 2 anos dorme cerca de doze horas por dia, incluindo um breve cochilo diurno.

Aos 4 anos, a maioria das crianças abandona esse cochilo e dorme cerca de dez horas

seguidas. Aproximadamente dos 6 aos 13 anos, as crianças dormem cerca de nove horas e se

mantêm alertas ao longo do dia.

A maioria dos adolescentes – como a maioria dos adultos – dormem menos durante a

semana e mais nos fins de semana. É uma necessidade física. Mas o horário tardio de dormir

e a insuficiência de sono não explicam a sonolência diurna dos adolescentes – que, ao que

parece, seria um traço inato.

4.Soneca

Existem poucos estudos que investigam o efeito de um breve cochilo na

consolidação de memórias declarativas ─ as que envolvem fatos e eventos. A maioria desses

estudos descreve um melhor desempenho após o sono, quando comparado com a vigília,

mostrando melhoras na eficiência de 4% a 46% na memória para pareamento de palavras

após uma sesta. Até um cochilo rápido, em torno de cinco minutos, melhora a eficiência da

memória em relação à vigília. Já uma soneca mais prolongada, de 35 minutos, mostra

resultados muito superiores. Curiosamente, uma série de experimentos mostra que o sono

beneficia a memória independentemente da hora em que se dorme o que destaca o potencial

cognitivo do cochilo após as refeições.

Uma pesquisa sobre memória procedural, ─ que inclui habilidades perceptivas e

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motoras, como aprender a tocar um instrumento ─ mostra que uma sesta de 60 a 90 minutos

melhora a percepção visual apenas se, nesse período de sono, os olhos fazem os dois

movimentos de ondas lentas e rápidas, as duas fases que o cérebro atravessa enquanto

cochilamos.

Os estudos se concentraram nas habilidades motoras como, por exemplo, aquelas em

que os participantes devem digitar várias vezes certas sequencias em um teclado. Após um

sono de 60 ou 90 minutos há melhora no desempenho da digitação, mas resultados muito

melhores são obtidos após uma noite inteira de sono.

Em resumo, essas observações sugerem que um cochilo pode ajudar uma pessoa a se

lembrar do que acabou de aprender, mas ela precisa de períodos mais longos, com os olhos

fechados, para extrair o pleno potencial do sono.

Já sentiu alguma vez uma incontrolável sonolência depois do almoço? Isso não

significa necessariamente que você esteja sofrendo de privação de sono. É normal sentir

sonolência no começo da tarde, por causa de uma queda natural da temperatura do corpo.

Além disso, os cientistas descobriram recentemente uma proteína chamada hipocretina, ou

orexina, que é produzida no cérebro e nos ajuda a ficar acordados. Que relação existe entre a

hipocretina e os alimentos?

Quando comemos, o organismo produz leptina, a fim de nos dar a sensação de

saciedade. Mas a leptina inibe a produção de hipocretina. Em outras palavras, quanto mais

leptina presente no cérebro, tanto menos hipocretina e maior a sensação de torpor. Talvez

seja por isso que em alguns países as pessoas tiram uma siesta — uma interrupção do

trabalho que permite às pessoas dormirem um pouco depois do almoço.

4.1.Soneca vital para a saúde

Mas isso não é tudo. O sono facilita o metabolismo dos radicais livres — moléculas

que alegadamente influem no envelhecimento celular e até causam câncer. Num estudo

recente na Universidade de Chicago, 11 rapazes saudáveis foram restritos a apenas 4 horas

de sono por noite durante seis dias. Ao final desse período, a atuação de suas células era

comparável à de pessoas com mais de 60 anos, e seu nível de insulina no sangue caiu para

níveis de diabéticos. A falta de sono afeta até mesmo a produção de glóbulos brancos e do

hormônio cortisol, deixando a pessoa mais propensa a infecções e doenças cardiovasculares.

Sem dúvida, o sono é vital para um corpo e mentem sadios. Na opinião do

pesquisador William Dement, fundador do primeiro centro de estudos do sono, na

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Universidade Stanford, nos EUA, “parece que o sono é o mais importante indicador de

quanto tempo uma pessoa viverá”. Deborah Suchecki, pesquisadora de um centro de estudos

do sono em São Paulo, Brasil, comenta: “Se as pessoas soubessem o que acontece no

organismo privado de sono, pensariam duas vezes antes de achar que dormir é perda de

tempo e coisa de preguiçoso”.

5.Insônia

Vários são os distúrbios do sono. A insônia é um deles e é definida assim: “variação

do tempo de sono necessário e suficiente para cada indivíduo sentir-se bem e ter um bom

desempenho no dia seguinte”. Muitos pacientes que se queixam de insônia, na verdade

sofrem com outras formas de transtornos do sono e se a queixa não for bem investigada o

profissional poderá cometer enganos. Como o termo insônia é ao mesmo tempo técnico e

popular, o paciente ao mencioná-lo induz o entrevistador a pensar que seu problema é a

insônia. Devemos encarar a queixa do paciente como uma descrição de seu problema e não

como um diagnóstico.

Na psiquiatria muitos são os transtornos que cursam com insônia: psicoses, mania,

hipomania, depressão, ansiedade, etc. Várias doenças também provocam “insônia”, por

exemplo, a insuficiência cardíaca congestiva, na qual o paciente sente falta de ar ao deitar-se

e precisa ficar sentado para dormir. Normalmente a insônia nesses casos não é o primeiro

sintoma, mas, prescrever medicações para dormir antes de tratar a insuficiência cardíaca,

seria um erro.

Sempre que se identifica algum problema concomitante à insônia devemos primeiro

tratar a causa de base: o problema que leva a insônia. Como a relação de causa e efeito

dificilmente pode ser comprovada, consideramos por princípio de probabilidade que a

insônia é secundária ao problema principal localizado. Quando uma pessoa apresenta várias

queixas de início num mesmo período devemos inicialmente admitir que sejam todos

oriundos de uma só fonte. Tratar insônia e depressão ao mesmo tempo é redundância. A

insônia é um sintoma depressivo e cederá quando os sintomas da depressão descerem. No

caso de um paciente menos paciente, podemos complementar sob caráter temporário o

tratamento da depressão com algum hipnótico. O mesmo se aplica aos outros problemas

psiquiátricos.

Na avaliação da insônia o profissional deverá investigar as condições mentais, físicas,

as substâncias e medicações em uso, bem como os hábitos. Deve-se ainda considerar o

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ambiente em que se vive (locais barulhentos, por exemplo), a situação de vida pela qual o

paciente está passando e por último, mas não menos importante, as condições do colchão e

travesseiros e a influência do companheiro de cama. Muitas medicações prejudicam o sono e

como é humanamente impossível conhecer todas as medicações, nessas horas a melhor

atitude é solicitar a bula das medicações em uso e averiguar todos os seus efeitos. Caso o

paciente esteja fazendo uso de uma medicação que prejudica o sono antes de se prescrever

um hipnótico é melhor, quando possível, substituir o remédio por outro similar que não

altere o sono.

5.1.Tratamento da insônia

Nos casos de insônia primária, não derivada de nenhum problema físico, mental ou

ambiental, deve-se primeiro tentar mudar alguns hábitos antes de se indicar uma medicação.

Os hábitos que normalmente prejudicam o sono são: dormir durante o dia, tomar muito café

durante o dia, tentar forçar o sono ficando deitada na cama, irregularidade na hora de dormir

e levantar. O procedimento recomendado para se combater a insônia é: procurar ter atividade

física durante o dia afastada da hora de dormir. Tomar no máximo cinco xícaras de café por

dia evitando-as após 16:00h. Nunca brigar com o sono, se não dormiu depois de no máximo

30 minutos, levantar-se e entreter-se com alguma atividade calma como a leitura, evitar TV,

até que o sono chegue, para então deitar. Se o sono não chegar e a noite for passada em claro

não se deve compensar durante o dia, mas deitando-se apenas na hora que tiver sono à noite.

Usar a cama só para dormir, evitando ficar deitado várias horas ao longo do dia, muito

menos dormir durante o dia: mesmo 15 minutos atrapalham o sono da noite. A Nicotina tem

efeito estimulante. A interrupção do fumo pode permitir que a pessoa com insônia, durma

melhor.

5.2.Insônia Familiar Fatal

A insônia familiar fatal (ou IFF) é uma patologia neurovegetativa, geneticamente

transmitida, que produz um grande sofrimento e que não tem um tratamento ou cura. As

alterações do sono, provocadas pela doença, a principio não são reconhecidas, devendo o

médico aprofundar-se nos detalhes familiares e no prontuário do paciente. As mudanças

cognitivas tardias incluem um estado de confusão mental que desembocará em um quadro

de demência, e por fim na morte. Os homens iniciam este quadro por volta dos 50 anos,

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sendo que a maioria dos casos ocorre entre os 20 e os 61 anos de idade. A duração típica da

IFF é de 7 a 36 meses, com uma média de duração de 18 meses.

5.2.1.Diagnóstico

O diagnóstico se baseia na historia do paciente e também na historia familiar. Os

casos são graves, de duração moderada, levando invariavelmente à morte em um período de

aproximadamente 1 ano. Durante o período de maior sintomatologia o paciente apresenta

demência, tremores musculares e dificuldade em caminhar. Não é uma doença genética

associada ao sexo. É rara em pacientes de origem asiática, sendo que o primeiro caso de

Insônia Familiar fatal em chineses foi descrito somente em 2004.

Exames laboratoriais nem sempre estão disponíveis. O Eletroencefalograma (EEC) mostrará

alterações, sendo que foram descritos pacientes que aparentam estar dormindo, mas ao EEC

permaneciam "acordados".

5.2.2.Qual é a explicação para a doença?

As alterações cerebrais incluem uma degeneração talâmica, cerebelar e do córtex

cerebral. Essa degeneração resulta do acúmulo anormal de uma proteína, a PrPres no

cérebro. Existem duas explicações para a degeneração cerebral, provocada por esta proteína:

ou apenas certas partes do cérebro são afetadas por ela, já que outros setores cerebrais não se

manifestam na doença ou ela alteraria outra proteína, a PrNP, que seria a responsável pela

proteção cerebral e conseqüentemente o cérebro estaria vulnerável. Em animais observou-se

que a PrP é uma proteína que é necessária para o sono.

Na IFF o sono vai reduzindo progressivamente, até que ocorra uma redução total da sua

duração e uma desorganização intensa do ciclo de organização do sono.

O ritmo circadiano do sono envolve uma substancia, a melatonina, que vai

desaparecendo aos poucos nessa doença, até finalmente extinguir-se. A somatotrofina

também mostra uma diminuição semelhante, até desaparecer, quando ocorre a perda do sono

profundo. Somente a prolactina, que também influencia no sono mantém seu ritmo

inalterado.

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5.2.3.Tratamento

A literatura clinica não relata um tratamento definitivo. Além de tratamentos

paliativos, as intervenções se baseiam no fato de que alguns sintomas podem ser secundários

à insônia, e outros resultam diretamente da doença. Estratégias resultantes de tentativas

podem projetar o sono e aumentar posteriormente o estado de alerta.

As intervenções tentadas incluem suplemento com vitaminas, narcolepticos, anestesia,

estimulantes, deprivação sensorial, exercícios, tratamentos à base de luz, hormônio do

crescimento e tratamentos com eletrochoques.

Os tratamentos existentes na atualidade, para a FFI, são apenas paliativos. Sedativos

e benzodiazepínicos foram tentados sem sucesso. Tentativa de tratamento com gama

hidroxibutirato (GHB), tiveram sucesso apenas temporário. Durante o tratamento o paciente

mostrou melhor coordenação e um estado permanentemente mais alerta.

O tratamento da insônia, com certeza, mesmo que levando apenas a uma melhora

discreta, pode influenciar positivamente o paciente, melhorando a qualidade de vida dos seus

dias restantes.

O prognóstico destes pacientes é que o paciente, portador desta patologia, geralmente

supera a media de tempo de sobrevivência sem dormir, em mais ou menos 1 ano.

A conclusão dos tratamentos tentados, leva a um aumento do tempo de vida durante

a doença, embora não exista uma prevenção, nem previsão da morte. Espera se que algum

destes métodos possa inspirar terapias futuras.

5. 2.4.Como a insônia pode levar à morte?

A causa precisa da morte, em pacientes com FFI, ainda não está clara. Embora as

alterações degenerativas cerebrais falem a favor de uma morte tardia, o quadro ainda não

está totalmente esclarecido. Pode ser que a insônia determine alterações de certas funções,

que são de realização automática pelo cérebro, e que isso leve à morte do portador de FFI,

mesmo sem a presença de degenerações cerebrais importantes. A existência desta

possibilidade abre caminho pra que um tratamento mais agressivo da insônia seja

estabelecido, e que isso possa prolongar a vida do paciente.

Os benefícios do sono já foram demonstrados tanto em humanos quanto em animais.

Em animais, a privação total do sono resultou em morte, em torno de 4 a 6 dias para os

filhotes e 2 a 4 semanas para camundongos. A morte é precedida por perda de peso, mesmo

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se o paciente estiver se alimentando, fraqueza, diminuição da ação do hormônio tireoidiano,

maior atividade do sistema simpático e menor resistência à infecções.

6.Narcolepsia

A Narcolepsia é um distúrbio de sono caracterizado por sonolência diurna excessiva,

cataplexia e anormalidades do sono REM. Sua prevalência é em torno de 0.02-0.18% na

população em geral considerando E.U.A, Europa e Japão, no Brasil ainda não há um estudo

de prevalência da Narcolepsia. Esta prevalência equivale a 1 caso da doença em cada 2000

pessoas e não é uma prevalência muito baixa sendo semelhante a prevalência da esclerose

múltipla ou da fibrose cística, patologias nas quais a frequência dos pacientes nas suas

respectivas clínicas é muito maior que a frequência de pacientes narcolépticos na clínica de

sono.

Este fato se deve a narcolepsia ser uma patologia de difícil diagnóstico. Três dos

quatro principais sintomas da narcolepsia podem existir em outros distúrbios de sono ou

mesmo em situações comuns na vida em geral. A cataplexia e o único sintoma específico

para a narcolepsia, mas em grande parte dos casos só aparece como sintoma após o

aparecimento da sonolência excessiva diurna. Na ausência de cataplexia o diagnóstico se

torna muito mais difícil, um questionário específico para a determinação da cataplexia já foi

validado e é de uso corrente na clínica de sono da Universidade de Stanford, EUA. Outro

problema é que muitas vezes a cataplexia é confundida com desmaios e a narcolepsia é

interpretada como epilepsia pelo neurologista menos atento.

Fatores genéticos estão envolvidos com o aparecimento da narcolepsia. Este

distúrbio é muito associado a um alelo do complexo maior de histocompatibilidade

denominado DQ*0602, o qual pode ser utilizado também como uma ferramenta de

diagnóstico, embora a presença desse alelo não seja conclusiva, mas simplesmente um

instrumento de apoio ao diagnóstico.

A transmissão genética da narcolepsia em humanos não obedece as regras

mendelianas, trata-se de uma herança complexa, multifatorial na qual fatores ambientais tem

papel importante. Embora a maioria dos caos seja esporádica e não familiar, o risco de um

parente de 1° grau de um paciente narcoléptico ter o mesmo distúrbio é 40 vezes maior que

na população em geral.

A narcolepsia também acontece em cães com uma sintomatologia muito parecida

com a do Homem. Estudos farmacológicos, fisiológicos e genéticos nesta espécie têm

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ajudado a desvendar os mecanismos cerebrais envolvidos na gênese da narcolepsia. O gene

para narcolepsia foi primeiramente encontrado em cães e depois sequenciado em

narcolépticos humanos. Se constatou que a mutação que acontece nos cães e causa a

narcolepsia não ocorre em humanos, com raras exceções. A narcolepsia humana é causada

pela falta da proteína hipocretina no cérebro.

Experimentos usando o modelo canino mostram que um aumento na

neurotransmissão colinérgica e diminuição na noradrenérgica são possivelmente as bases

fisiopatológicas da doença em adição a uma deficiência nos sistema da hipocretina. Os

medicamentos usados para tratar a narcolepsia; estimulantes do sistema nervoso central e

antidepressivos tricíclicos agem diretamente ou indiretamente através destes sistemas de

neurotransmissão. Os efeitos na inibição da recaptação da noradrenalina na fenda sináptica

inibem de forma leve a cataplexia e os fenômenos anormais associados ao sono REM na

narcolepsia, enquanto os estimulantes em geral agem diminuindo a sonolência através do

sistema dopaminérgico. É bom ressaltar que estes tratamentos são somente parcialmente

efetivos e que provavelmente a descoberta da hipocretina como um agente preponderante no

estabelecimento da narcolepsia levará a criação ou a descoberta de uma droga mais efetiva

no tratamento nos próximos anos.

6.1.Tratamento

A narcolepsia é uma doença de certa forma benigna, porém o tratamento é

prolongado. O objetivo do tratamento é o controle dos sintomas, principalmente das crises

de sono e da cataplexia (perda do tônus muscular), com a administração de medicamentos,

permitindo assim que o paciente mantenha suas atividades normais nos campos profissionais

e sociais.

Como medidas paralelas ao tratamento, recomenda-se alguns cochilos voluntários

durante o dia para reduzir a sonolência diurna.

Durante o tratamento, é de bom tom não exercer atividades de risco tais como dirigir

ou manipular equipamentos que exijam atenção contínua.

7.Melatonina

Melatonina é um neuro hormônio produzido pela glândula pineal e, acredita-se que

ela apresenta, como principal função, regular o sono. Esse hormônio é produzido a partir do

momento em que fechamos os olhos. Na presença de luz, entretanto, é enviada uma

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mensagem neuroendócrina bloqueando a sua formação, portanto, a secreção dessa

substância é quase exclusivamente determinada por estruturas fotossensíveis,

principalmente à noite.

A Melatonina é uma substância classificada como indolamina e tem como precursora

a serotonina, um importante neurotransmissor. Especula-se que a as estruturas

fotoreceptivas, da retina e da glândula pineal, produzem a Melatonina, modificando a via de

síntese da serotonina através de uma enzima, a serotonina-N-acetiltransferase. A

Melatonina circulante atuaria em diversos sistemas do organismo preparando e induzindo o

sono. Este aparato de produção da Melatonina esta presente nos vertebrados em geral.

Acredita-se, também, que a Melatonina materna, possa ajudar no controle do ciclo

do sono do lactente. Pesquisas feitas mostraram que os bebês apresentavam sincronia com

a mãe. Como a Melatonina está presente no leite materno e sua concentração é maior à

noite, os bebês dormem mais com o leite oferecido a noite.

Para termos um sono reparador é necessário que a Melatonina seja secretada

adequadamente pela pineal e supõe-se que outras funções sejam exercidas pela

Melatonina, tais como a de regulação térmica do organismo e alterações do

comportamento sexual.

7.1.Produção e Ação

Assim como acontece com a Serotonina, a Melatonina também é produzida a partir

de um aminoácido chamado Triptofano, normalmente ingerido numa alimentação

equilibrada. Dessa forma a seqüência seria que o Triptofano se transfotmasse em

Serotonina, e esta em Melatonina. É por isso que a concentração de Serotonina fica

elevada na glândula pineal durante o dia, enquanto há luz, inversamente ao que ocorre com

a Melatonina.

Como vimos a produção da Melatonina esta diretamente ligada à presença da luz.

Quando a luz incide na retina o nervo óptico e as demais conexões neuronais levam até a

glândula pineal essas informações inibindo a produção da Melatonina. A maior produção

da Melatonina ocorre à noite, entre 02h00min e 03h00min horas da manhã, num ritmo de

vida normal, e esta produção elevada produz sono.

Durante o sono normal, onde grande parte da energia e do equilíbrio orgânico se

restabelece, além da adequada produção de Melatonina outros fenômenos concomitantes

acontecem e dentre eles podemos citar:

16

Page 17: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

Diminuição significativa da produção de cortisol e de adrenalina.

Restauração das moléculas de DNA lesadas

Bloqueio dos canais de cálcio

A Melatonina apresenta o seu pico máximo de produção aos 3 anos de idade, e declina

de forma importante entre os 60 e 70 anos o que faz com que o idoso tenha um sono de má

qualidade. Aos 60 anos temos metade da quantidade de Melatonina que tínhamos aos 20 e

por volta dos 70 os níveis são baixíssimos em muitas pessoas, quase nulos.

CONCENTRAÇÃO DE MELATONINA NO

SANGUE EM ng/ml

 Idade Diurno Noturno

 PRÉ-PUBERDADE 21,8 97,2

 ADULTA 18,2 77,2

 SENIL 16,2 36,2

 Concentração de melatonina no sangue nas diferentes

fases da vida, em homens chineses. Observa-se

importante diferença entre a produção noturna e

diurna e as variações de produção noturna entre o

grupo da Pré-puberdade, da fase Adulta e da Senil.

Tendo em vista o efeito de a Melatonina causar sonolência e sensação de

relaxamento quando liberada, depois de 1994, ela passou a ser mais indicada entre pessoas

que realizam viagens internacionais, com a finalidade de ajustar o horário biológico com

os fusos horários. Apesar de induzir o sono a Melatonina não causa dependência.

A Melatonina também pode ser secretada, causando sonolência e relaxamento,

quando se faz uma refeição muito rica em carboidratos, quando se toma um banho quente

prolongado.

Além de induzir o sono, a Melatonina é um poderoso agente antioxidante que,

como outros antioxidantes, ela pode retardar o processo de envelhecimento. Como

antioxidante a Melatonina possivelmente reduz o nível do hormônio catabólico cortisol.

Existem também evidencias de que a Melatonina estimula a produção de Hormônio do

Crescimento.

17

Page 18: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

7.2.A Glândula Pineal

Nos animais a glândula pineal determina muito do comportamento sazonal, de

acordo com as estações climáticas. Graças a essa atividade pineal eles migram no inverno,

hibernam, se acasalam, enfim mantém comportamentos típicos que se repetem a cada ano.

A Melatonina é o mais importante hormônio produzido pela nossa glândula pineal, uma

pequeníssima glândula existente no cérebro, situada aproximadamente atrás da região dos

olhos, responsável pelo controle do ritmo de harmonia entre o dia e a noite, a luz e o

escuro.

Nas crianças a glândula pineal é muito pequena e sua secreção de Melatonina não

está regularizada. Talvez seja esta uma das explicações sobre o sono imprevisível das

crianças. A melhor produção da Melatonina se dá na adolescência e no adulto jovem,

começando a decair após os trinta ou quarenta anos e na idade de setenta ou oitenta anos a

secreção do hormônio está severamente diminuída. Recentes estudos demonstraram que os

níveis de Melatonina são maiores na mulher, tornando-a mais sensível às mudanças

sazonais da luz que os homens. No outono e inverno, a mulher está mais exposta aos

distúrbios sazonais psíquicos, ganho de peso, do que no verão. Porém o suplemento

hormonal tanto no homem quanto na mulher é igual: decresce e torna-se semelhante em

perdas nas mesmas idades. O funcionamento da pineal é importante para que o corpo se

mantenha adaptado às condições de necessidade, como por exemplo, atividades durante o

dia e repouso durante a noite.

7.3.Conseqüências do Declínio da Melatonina 

Uma pessoa sob stress produz normalmente mais adrenalina e cortisol. Para cada

molécula de adrenalina formada, quatro moléculas de Radicais Livres irão ser produzidas e

com isto a probabilidade de lesão nas células aumenta. Além disto, a adrenalina e o cortisol

induzem a formação de uma enzima a “Triptofano pirolase" capaz de destruir o Triptofano

antes que este atinja a Glândula Pineal. Com isto, nem a Melatonina é fabricada e nem a

Serotonina, o que pode gerar compulsão a hidrato de carbono, com tendência a aumento de

peso e depressão. A Melatonina é uma substância anti-radical livre, portanto, antioxidante.

Ela é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica (membrana que protege o cérebro),

portanto, capaz de desempenhar funções a nível neuronal. Essa ação é de fundamental

18

Page 19: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

importância na proteção dos neurônios contra as lesões dos radicais livres. Nosso tecido

cerebral é muito mais suscetível à ação dos radicais livres que qualquer outra parte do

nosso organismo e na medida em que os níveis de Melatonina vão caindo pode haver um

concomitante declínio na função cerebral. As desordens do sono podem ser também um

dos efeitos do decréscimo da Melatonina. Com o envelhecimento a glândula pineal

funcionaria menos e haveria uma queda na produção da Melatonina. Isso acaba fazendo

com que alguns pacientes idosos reclamem da qualidade do sono ou de insônia, porém,

pode ser que durmam com facilidade quando não deveriam, durante o dia, assistindo

televisão, etc.

Na medida em que envelhecemos nosso Sistema Imunológico vai perdendo o

desempenho vigilante, diminuindo as defesas e permitindo que nosso organismo fique

mais vulnerável às constantes agressões. As pesquisas atuais têm nos sugerido haver uma

importante relação entre alguns hormônios (Estrogênio, Testosterona, DHEA, Melatonina,

Pregnenolona e Hormônio do Crescimento) e o Sistema Imunológico.

Nesse ponto a Melatonina vem se destacando como um agente de manutenção da

harmonia e do funcionamento do Sistema Imunológico.

Ela parece ser capaz de aumentar a mobilidade e atividade das células de defesa,

fortalecer a formação dos anticorpos, facilita a defesa contra os vírus, moderar a super

produção de corticóides gerados pelo stress prolongado ou repetitivo e equilibrar a função

tireoidiana, a qual atua diretamente na produção de importantíssimas células de defesa, os

linfócitos T.

8.Sonhos e revelações

A oniromancia, previsão do futuro pela interpretação dos sonhos, tem grande

credibilidade nas religiões judaico-cristãs: consta na torá e na bíblia que Jacó, José e Daniel

receberam de Deus a habilidade de interpretar os sonhos. No Novo Testamento, São José é

avisado em sonho pelo anjo Gabriel de que sua esposa traz no ventre uma criança divina, e

depois da visita dos Reis Magos um anjo em sonho o avisa para fugir para o Egito e quando

seria seguro retornar à Israel. Mas ai que tudo muda, e os livros de oriomancia. Cada um tem

uma linguagem própria, não existem significados.

No Islamismo, os sonhos bons são inspirados por Alah e podem trazer mensagens

divinatórias, enquanto os pesadelos são considerados armadilhas demoniacas. Pensadores e

matemáticos como René Descartes e Friedrich August Kekulé von Stradonitz também

19

Page 20: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

tiveram em sonhos visões reveladoras. Descartes, em viagem à Alemanha, teve uma visão

em sonho de um novo sistema matemático e científico. Kekulé propôs a fórmula hexagonal

do benzeno após sonhar com uma cobra que mordia sua própria cauda.

8.1.Sonhos

O sonho é uma

experiência que possui

significados distintos se

for ampliado um debate

que envolva religião,

ciência e cultura. Para a

ciência, é uma

experiência de

imaginação do

inconsciente durante

nosso período de sono.

Recentemente,

descobriu-se que até os

bebês no útero têm sono REM e sonham, mas não se sabe com o quê. Em diversas tradições

culturais e religiosas, o sonho aparece revestido de poderes premonitórios ou até mesmo de

uma expansão da consciência. Inicialmente temos de esclarecer que prioritariamente o sonho

é uma ocorrência química do cérebro, que ocorre quando o corpo está em estado de

repouso.  Nesse momento então o cérebro fica com um excesso de energia. O cérebro

controla todas as funções corporais, sejam voluntárias ou involuntárias, mas quando o corpo

dorme então o cérebro fica isento de agir nas funções voluntárias, que foram desligadas e

aquela energia que sobrou provoca alterações químicas.  Daí resulta que essa energia vai

sendo usada em diferentes áreas, e nisso temos pessoas que falam dormindo, outros se

mexem muito e em casos mais extremos temos o sonambulismo, que é o top dos distúrbios

do sono.  Mas de um modo geral essa energia é usada na produção de imagens, sons e

sensações oníricas  que são retiradas de diferentes áreas do cérebro.  Às vezes no sonho

sentimos cheiros ou temos as mais variadas sensações, ouvimos sons, lembramos de coisas

que há muito estavam esquecidas, etc. O sonho é uma necessidade orgânica, tanto que existe

20

Page 21: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

um tipo de tortura que consiste em impedir alguém de sonhar, que é algo que pode levar à

loucura, pois impedir a projeção de imagens oníricas levará a um desequilíbrio cerebral em

poucos dias. Os sonhos são eminentemente simbólicos, mas é preciso ressalvar que esse

simbolismo é pessoal. Por isso ninguém deve perder seu tempo com coisas inúteis com

leitura daqueles livros de interpretação de sonhos, que dizem que sonhar com determinada

coisa significa X ou Y. Um sonho só tem significado para quem sonhou, seu subconsciente

está usando símbolos tirados de seu universo  pessoal para se comunicar com o

sonhador. Para uma pessoa, sonhar com o mar  tem um significado, mas para outra pessoa o

significado será outro.  Assim, os tais livros de interpretação são perda de tempo.

8.1.1.Como os cegos de nascença sonham?

Todas as pessoas sonham e fazem isso várias vezes por noite. Muitas vezes, ao

acordar, lembramos claramente do que vimos, do que passamos como nos sentimos e quem

estava no sonho. Mas é exatamente aí que surge uma interessante questão. Se os cegos de

nascença nunca tiveram contato com a imagem visual, então, como são formados seus

sonhos?

Segundo Liliane Camargos, psicóloga e mestre em teoria psicanalítica pela

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), "os sonhos surgem no período REM do

sono, em que a atividade cerebral é semelhante a da vigília". A psicóloga afirma ainda que

os sonhos sejam fundamentais para uma boa saúde física e mental. "Eles possuem

importância para aprendizagem, para transformar a memória de curta duração em

memória de longa duração". Além disso, acrescenta Liliane, o sonho "é um recurso do qual

nosso aparelho psíquico se apropria para manifestar desejos inconscientes reprimidos". E

ela garante que eles sempre têm um sentido, por mais bizarros que possam parecer.

"Os sonhos são feitos, perceptivamente, de materiais capturados pelos órgãos dos

sentidos recolhidos no dia anterior ao momento do sono. Se uma pessoa possui uma

memória perceptiva visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa, todos estes elementos podem

aparecer reconfigurados nos sonhos", diz a psicóloga.

Por isso, segundo Liliane, as pessoas que já vieram ao mundo cegas sonham

normalmente todas as noites usando as suas experiências, "As pessoas confundem muito o

sonho com a percepção visual, por isso existe a dúvida se uma pessoa cega sonha. Isso

acontece porque o sentido visual, para quem enxerga, se torna o mais utilizado e evidente,

21

Page 22: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

inclusive nos sonhos. Mas nada impede que uma pessoa com visão também sonhe sem

imagens visuais".

No caso das pessoas que já nasceram cegas seus sonhos são compostos por situações

de diversos tipos, vividas e percebidas do modo como elas "veem" o mundo acordadas,

esclarece ela. "Seus sonhos são formados por imagens perceptivas, não visuais, como

imagens auditivas, táteis, olfativas e gustativas. Mesmo sem a imagem visual, a sensação

que um cego de nascença tem ao sonhar é a mesma de uma pessoa que possui a visão".

E então surge outra dúvida. Será que uma pessoa que perdeu a visão sonha de modo

diferente de uma pessoa que já nasceu cega? De acordo com Liliane, quando uma pessoa

perde toda a visão, ela sonhará com imagens visuais por certo período. Mas com o tempo,

tais imagens visuais irão se apagando de sua memória e ela passará a utilizar outros sentidos

para sonhar.

9.Parassônias

As parassônias são sonhos e atividades físicas vívidas que ocorrem durante o sono.

Durante o sono, podem ocorrer diversos movimentos inconscientes, os quais, na sua maioria,

não são lembrados e são mais frequentes em crianças que em adultos. Imediatamente antes

de adormecer, praticamente todas as pessoas ocasionalmente apresentam um espasmo breve

e involuntário de todo o corpo. Algumas pessoas também apresentam paralisia do sono ou

alucinações breves. Durante o sono, as pessoas geralmente apresentam espasmos ocasionais

de membros inferiores. Segue abaixo os tipos mais comuns de parassônias.

9.1.Sonilóquios

Falar durante o sono, consistindo na vocalização de sons, sílabas e frases, geralmente

ininteligíveis e desconexas. Geralmente não acarreta em prejuízo para o paciente, a não ser

quando falar durante o sono possa criar situações de constrangimento para o paciente. Este

distúrbios ocorre no estágio 1 do sono-REM.

9.2.Sonambulismo

Consiste na execução de comportamentos motores durante o sono, desde sentar-se no

leito, levantar-se e até deambular. Da mesma forma que o sonilóquio, não requer tratamento

22

Page 23: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

medicamentoso sendo, porém, fundamental a orientação do paciente e dos familiares,

principalmente quanto ao risco que este quadro oferece aos acidentes.

O familiar deve tentar levar o paciente de volta para a cama. O local em que o sonâmbulo

dorme deve ser seguro para evitar a ocorrência de acidentes. O sonambulismo ocorre nos

estágios 3 e 4 do sono-REM, sobretudo neste último.

9.3.Terror noturno

São episódios de agitação e aparenta medo ou terror originando-se abruptamente durante

o sono, em que o indivíduo encontra-se irresponsivo ou parcialmente responsivo ao estímulos

ambientais. Caracteriza-se por conduta aguda de agitação e tentativa de sair da cama ou do

quarto.

Manifestações autonômicas podem incluir taquicardia, midríase, ruborização e sudorese.

Extrema agitação pode induzir injurias: o indivíduo pode pular da janela ou cair da escadaria e

pode reagir violentamente à tentativa de restrição por terceiros. Estes episódios são mais comuns

em crianças com idade variada de 4 a 10 anos; só aproximadamente 1 a 2% das crianças entre as

idades de 6 a 14 anos apresentam terror noturno; entretanto, início na vida adulta pode ocorrer.

Nestes casos, o indivíduo não faz referência a sonhos ou pesadelos e frequentemente não se

recorda do episódio no dia seguinte. O terror noturno ocorre no estágio 4 do sono-REM.

9.4.Enurese noturna

Micção involuntária durante o sono. Primária, quando há persistência episódios após os 5

anos de idade, sem se ter conseguido o controle noturno. Secundária, quando ocorre

aparecimento de micção noturna involuntária em crianças que já tiveram o controle da mesma

durante seis meses.

Na enurese secundária, devem-se excluir lesões urológicas, neurológicas, metabólicas e

psiquiátricas. Esta parassônia ocorre durante o sono de ondas lentas, desde o estágio 1, até o

estágio 4.

9.5.Estado confusional do despertar

Caracteriza-se pelo despertar acompanhado de estado confusional e desorientação.

Costuma ocorrer na primeira metade da noite. Durante o despertar o indivíduo está desorientado,

confuso, e lento para falar ou responder.

23

Page 24: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

Conduta inapropriada e incerta pode ser acompanhada por gemido e vocalizações

incoerentes ou despropositadas, e alguns indivíduos tornam-se agitados ou violentos,

especialmente durante tentativa de despertar por terceiros. Apesar dos episódios usualmente

durar uns poucos minutos ou segundos, ocasionalmente podem durar até 10 minutos ou mais,

durante o qual é difícil ou impossível despertar o indivíduo.

Apesar dos episódios tenderem a tornar se menos frequentes com a idade, alguns adultos

jovens, têm episódios várias vezes por semana. Os fatores precipitantes podem ser: privação de

sono, distúrbios do ritmo circadiano e administração de drogas, como benzodiazepínicos e

álcool. Também pode ser observado em pacientes com sonolência excessiva, como nos casos de

apneia do sono. Esta é uma parassônia do estágio 4 do sono de ondas lentas (sono-REM).

9.6.Distúrbio Comportamental do sono-REM (período de sonhos)

Caracteriza-se por comportamento violento ou desorganizado que aparece durante o

sono-REM, com perda intermitente do tônus muscular na EMG, com atividade motora elaborada

associada aos sonhos. Inicia-se na sexta ou sétima década da vida, sendo mais frequente nos

homens. A polissonografia mostra ausência intermitente de atonia muscular, com espasmo

muscular das extremidades, com frequência maior que a observada durante o sono-REM normal,

movimentos corporais, comportamento complexo, e, por vezes, violentos. A arquitetura do sono

é normal. O diagnóstico diferencial deve ser feito com terror noturno, sonambulismo, distonia

paroxísticas noturna, apneia e crises epilépticas.

9.7.Pesadelos

São sonhos com forte conteúdo emocional, geralmente de caráter angustiante que

ocorrem durante o sono-REM e levam ao despertar. Geralmente decorrem de conflitos

emocionais, porém, podem ocorrer em diversas enfermidades ou após uso de drogas ou

medicamentos que atuam no sono-REM. Tendem a diminuir com a idade e parecem ter um

componente familiar. Os fatores precipitantes podem ser: estado emocional, rebote do sono-

REM, drogas dopaminérgica e retirada de drogas supressores do sono-REM (benzodiazepínicos).

Não trazem consequências, quando ocorrem esporadicamente, porém, requerem tratamento

quando frequentes.

24

Page 25: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

9.8.Bruxismo

Distúrbios de movimento estereotipado, caracterizado pelo ranger ou apertar dos dentes

durante o sono. Pode ser observado em duas formas: o apertamento ou bruxismo cêntrico,

caracterizado por episódios isolados de atividade muscular e o ranger de dentes, ou bruxismo

excêntrico, com contrações rítmicas dos músculos mastigatórios, ou a combinação desses dois

tipos. O bruxismo produz sintomas musculares, cefaleias e desgaste dental. O tratamento pode

ser feito com placas intra-orais ou o uso de relaxantes musculares (sob orientação). Este quadro

pode ocorrer em todos os 4 estágios do sono-NREM, sobretudo nos estágios 2 e 1.

9.9.Paralisia do sono

No sono normal durante o qual que se sonha, o cérebro está muito ativo, os olhos se

movem rapidamente e todos os principais músculos corporais estão paralisados. Não estão

rígidos e contraídos, mas muito relaxados. Estão paralisados porque os sinais que vêm do

cérebro são incapazes de estimulá-los a se contrair. Essa paralisia é necessária porque se não

fosse dessa forma você atuaria fisicamente nos seus sonhos. Normalmente as pessoas não

percebem conscientemente a paralisia.

Entretanto, ocasionalmente algo dá errado com

o mecanismo, por exemplo, se você está

muito cansado, se trabalhou demais ou

preocupado. Nestas situações, você pode ficar

paralisado antes de estar realmente

adormecido, ou acordar e ainda encontrar- se

paralisado por estar sonhando. Isto é

chamado de "paralisia do sono".

Como nossa cultura não é,

infelizmente, amadurecida no campo

onírico e nem tampouco para o contato com o mundo do inconsciente, não somos preparados

para experiências desta natureza. Como resultado foi apenas relatado não sabemos o que

fazer quando caímos na paralisia do sono, sendo tomados pelo medo. Alguns experimentam

intenso terror, supondo que estão enlouquecendo ou prestes a morrer. Outros, supersticiosos,

creem que o “diabo” os persegue e até que os sufoca. Leia a seguir um relato simples, mas

típico de alguém que experimenta frequentemente essa sensação estranha.

“De repente eu noto que estou parcialmente acordado, posso ouvir ruídos,tento falar,

25

Page 26: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

mas não consigo mover absolutamente nenhuma parte do meu corpo. Infelizmente, eu sei que

se conseguir entrar em sono profundo de novo, tudo fica bem, mas há um sentimento de

pânico completo de que se eu fizer isso eu morro e é por puro esforço mental que eu me faço

acordar - me sentindo exausto pelo esforço”.

Embora a paralisia do sono seja conhecida há muitos anos, existe poucas pesquisas

sobre ela, por exemplo, há evidências de que pessoas que sofrem de paralisia do sono são

bem ajustadas psicologicamente, e não há nenhuma evidência de patologia ou doença

associada a ela. O medo se deve ao desconhecimento. Na verdade, a paralisia do sono

corresponde a um estado não usual de consciência no qual atingimos lucidamente o limiar

entre a vigília e o sonho. Em outras palavras: nossa consciência se encontra em um ponto

limítrofe entre o mundo vígil e o mundo onírico. É importante diferenciar o patológico do

inócuo. A inofensiva paralisia analisada aqui surge quando nos acomodamos para relaxar,

dormir ou “tirar um cochilo”. Ocorre em situações facilitadoras do sono, podendo aparecer

na fase inicial ou final deste. Não se impõe contra a nossa vontade em situações inadequadas

ou de risco, como durante o ato de dirigir ou trabalhar. Sabe-se que a sensação de presença

pode ser criada estimulando os lobos temporais do cérebro. Eles estão acima das orelhas em

ambos os lados do cérebro e lidam com a integração entre memória e experiência, com a

imagem do corpo e muitas outras funções. Epilépticos frequentemente têm o foco dos seus

ataques nesta área do cérebro. Estimular o lobo temporal (por exemplo, com eletrodos) pode

causar experiências de projeção astral, experiências místicas, sensações de flutuar e voar e

também a sensação de que há alguém com você - mesmo que você não possa ver nada. O

lobo temporal é especialmente ativo durante certas fases do sono e assim pode haver uma

conexão aqui com a paralisia do sono. Algumas pessoas também têm lobos temporais muito

mais instáveis do que outras. O que é chamado de "instabilidade do lobo temporal" pode ser

medido, e as pessoas com altos graus nessa escala (com os lobos temporais instáveis ou

altamente ativos) tendem a ser mais artísticas. Relatam mais frequentemente experiências de

déjà vu, místicas, mediúnicas e de projeção astral, e têm mais frequentemente amigos

imaginários na infância. Ainda não está clara qual a conexão com paralisia do sono ou se os

fenômenos do lobo temporal podem ser responsáveis pela sensação de presença e pelas

criaturas estranhas. Uma pergunta fascinante surge aqui. A pessoa está realmente acordada,

com os olhos abertos, olhando de fato para o quarto e tendo uma alucinação a respeito da

criatura? Ou é tudo sonho? O fato de que as pessoas parecem ver seus quartos normalmente e

podem ouvir ruídos na rua ou no rádio sugerem que estão acordados, mas elas ainda podem

26

Page 27: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

estar com olhos fechados e tendo uma alucinação da cena inteira - o quarto incluído. Está

aqui um caso para ilustrar o problema. Esse estado limítrofe nos oferece a oportunidade de

experimentar um tipo especial d sonho: o sonho lúcido. Se, ao invés de nos deixarmos tomar

pelo medo, soubermos aproveitar a situação de imobilidade para trabalhar com a imaginação,

adentraremos conscientemente ao nosso mundo dos sonhos. Durante a paralisia do sono,

estamos às portas do nosso universo onírico. Em tal fase, podemos reverter o processo

letárgico ou dar-lhe continuidade. Se nos aterrorizarmos ante a impossibilidade de

movimento e as percepções alteradas, o reverteremos. Se nos mantivermos tranqüilos e

permitirmos que o processo natural do sono tenha continuidade, teremos a experiência

fantástica do sonho lúcido. É uma experiência cobiçada por muitos. Nos sonhos normais,

nunca percebemos que estamos sonhando. Sempre acreditamos estar acordados: fugimos dos

perigos, nos preocupamos em resolver os problemas com os quais nos deparamos, tememos

as reações das pessoas e animais com os quais estamos sonhando, etc. No sonho lúcido, esta

falta de discernimento não existe. O sonhador compreende que está sonhando e age de

acordo com esta compreensão.

Durante a fase intermediária entre o sono e a vigília, começamos a ter percepções

alteradas, os primeiros contatos imediatos com o mundo fantástico. Os nossos pensamentos

adquirem alto grau de nitidez e podem ser vistos e ouvidos como se pertencessem ao mundo

exterior. As vozes, sons, imagens e toques que percebemos são imaginais, isto é, são formas

mentais. Não obstante, seu impacto realístico e nitidez (luminosidade) são intensos e

espantam as pessoas que ainda não estão familiarizadas com isso. Nossos medos, desejos,

anelos, frustrações, etc. e corporificam em imagens mentais cujas formas apresentam

afinidade com o teor dos sentimentos que as geraram.

Uma mulher de Middlesex contou sua primeira experiência de 53 anos atrás quando

tinha 17 anos e era uma enfermeira em período de experiência na primeira jornada do turno

da noite: “Naquela noite em especial eu fui para o banheiro da equipe de funcionários às

duas da manhã e me aconcheguei em uma cadeira confortável pelas duas horas a que tinha

direito. Para mim sempre foi difícil relaxar o suficiente para dormir mas eu conseguia tirar

umas sonequinhas. Entretanto, nesta ocasião eu dormi. Eu acordei com a luz sendo ligada e

pela Irmã da noite chegando com a consultora sênior. Para meu horror eu era incapaz de

mover-me ou falar enquanto elas cruzavam o quarto para discutir sobre um paciente.

Naquela época as enfermeiras que estivessem sentadas sempre se levantavam quando um

médico ou funcionário mais velho entrava no recinto. Por isso fiquei realmente tomada de

27

Page 28: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

pânico, mas elas aparentemente não me notaram e logo saíram do quarto. Quando eu dei

por mim, estava acordando sacudida por um colega que disse que era hora de voltar ao

serviço. Quando eu cheguei à sala de trabalho eu estava tremendo e me desculpei com a

Irmã e expliquei sobre a paralisia. Houve um silêncio de espanto e de repente ela sorriu e

disse que ninguém tinha ido ao quarto enquanto eu estava dormindo e que o que eu tinha

experimentado era provavelmente a Paralisia das Enfermeiras da Noite”.

Esta enfermeira claramente teve uma alucinação com a Irmã e a consultora, mas ela

estava lá sentada e paralisada com os olhos fixamente abertos, como lhe pareceu, ou a cena

toda foi sonhada? A única maneira de descobrir deveria ser observando a paralisia do sono

no laboratório ou acoplando instrumentos de gravação nas pessoas que os têm

frequentemente em casa. Esta deve ser a etapa seguinte na pesquisa.  Lutar contra a paralisia

parece apenas piorá-la, e tentar respirar mais fundo faz você sentir-se como se estivesse

sendo sufocado (é melhor deixar em paz seu controle respiratório automático nesse estado) e

tentar gritar no máximo lhe causará uma garganta doendo. Se você conseguir relaxar, a

paralisia se dissolverá por si só em alguns segundos ou minutos. Entretanto, para muitas

pessoas esse conselho é totalmente irrealista. Elas estão com tanto medo que relaxar está

completamente fora de cogitação. E de fato para algumas pessoas parece que simplesmente

não funciona. Para elas, parece que a melhor maneira é tentar, com muito cuidado, mover

apenas uma coisa. Algumas crianças dizem que aprenderam a dobrar o dedo mínimo, ou um

dedo do pé. Outros tentaram mover o nariz ou piscar com força. Por isso, se você não

conseguir relaxar, tente deixar todo o resto parado e se concentrar em um pequeno

movimento.

Conclusão

28

Page 29: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

Após um dia cansativo, nada melhor do que chegar em casa, pular na cama e tirar

aquele sono até o dia raiar! Uma noite bem dormida faz a gente se sentir novo: mais atento,

saudável e de bom humor. É no sono que recuperamos as energias, e não é à toa que

passamos cerca de um terço de nossa vida dormindo.

  Uma noite sem sono diminui os reflexos e reduz a capacidade de raciocínio e

concentração. Se passar dois dias acordada, a pessoa pode ter dores no corpo, zumbidos e

esquecimento. Após cinco dias sem dormir, ela começa a agir de modo estranho, tem a

sensação de estar sendo perseguida e sofre alucinações (acha que está vendo ou ouvindo

coisas). Experiências com animais mostraram que eles morreram após um mês sem dormir.

  Há dois tipos de sono: o sono REM (Rapid Eye Movements - Movimentos rápidos

do Olho) e o sono N-REM (Non Rapid Eye Movements – Não Movimento Rápidos do

Olho) . O sono REM é aquele no qual acontecem os sonhos e corresponde a 25% do tempo

em que dormimos. O coração e a respiração ficam mais rápidos e o cérebro trabalha bastante

durante esse sono. No entanto, os músculos permanecem relaxados. O sono REM tem

relação direta com a memória. Por isso, é mais fácil memorizar dados antes de dormir do

que depois de acordar.

  O sono N-REM ocupa 75% da nossa noite e se divide em quatro estágios de

profundidade. O estágio 1 é o mais leve, e o 4, o mais pesado. O estágio 2 ocupa a metade

do tempo em que dormimos. Geralmente, uma noite de sono de um ser humano se inicia no

sono N-REM, passa do estágio 1 até o 4 e depois retorna ao estágio 2, para então entrar no

sono REM. Essa sequencia tende a se repetir de cinco a seis vezes durante a noite.

  O sono é importante para o organismo descansar. Mas muitas pessoas têm problemas

para dormir. Os distúrbios do sono são divididos em três grupos: insônias, parassônias e

hipersonias. Em geral, a insônia (falta de sono) é provocada pela falta de ar. Mas fatores

emocionais (tristeza, preocupação, ansiedade etc.) também estão ligados ao problema.

  As parassônias são perturbações do sono. As mais frequentes são o sonilóquio (falar

dormindo), pesadelos, terror noturno (gritar e chorar dormindo), sonambulismo (agir

inconscientemente durante o sono), fazer xixi na cama e bruxismo (ranger os dentes

enquanto dorme). Já a hipersonia é o resultado de noite mal dormida. A pessoa fica com

muito sono durante o dia.

  Para ter um sono saudável, não durma além do necessário.

Referências Bibliográficas

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Page 30: TCA -OS MISTÉRIOS DO SONO

LAMBERG, Lynne; Tudo Sobre Drogas. Nova Cultural, p. 15-23. 1989.

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