Taxa de câmbio e balança comercial

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  • 7/24/2019 Taxa de cmbio e balana comercial

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    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    Taxa de Cmbio e Balana Comercial

    Luis Felipe de Oliveira Cavalcante

    Rio de Janeiro

    Novembro / 2015

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    INTRODUO

    Este estudo tem por finalidade verificar as relaes entre a taxa de cmbio

    e a balana comercial brasileira no perodo de janeiro de 1999 at outubro de

    2015. Inicia-se o estudo em 1999 pela mudana de regime cambial adotado no

    Brasil na poca, utilizando assim apenas um regime cambial em todo o trabalho.

    Um dos estudos j realizados e que se observa no caso brasileiro a

    condio Marshall-Lerner onde a desvalorizao cambial afeta o saldo da

    balana comercial seguindo 3 modos: aumento da exportao, aumento da

    demanda por produtos nacionais e aumento do preo relativo dos importados.

    A partir de dados do Banco Central do Brasil e anlise dos dados pode-

    se verificar a situao do pas de acordo com a taxa de cmbio e a balana

    comercial. So grandes as oscilaes nestes anos como a taxa de cmbio com

    valores que foram de R$ 1,50 o dlar em janeiro de 1999 a R$ 3,91 em setembro

    de 2015.

    Este perodo tambm foi marcado por grandes variaes no saldo da

    balana comercial, que teve um supervit de R$ 5,659 bilhes de dlares no

    governo Lula at um dficit de R$ 4,066 bilhes em janeiro de 2014 no governo

    Dilma Rouseff.

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    REFERNCIAL TERICO

    Para verificar a relao da taxa de cmbio e balana comercial

    necessrio estudar em conjunto o impacto sobre a economia. Essa estreita

    relao segundo Senaglio, Scalpo e Campos (2010), tem resultado, nos ltimos

    anos, em estudos mais tcnicos e nos efeitos que isso traz para as transaes

    comerciais e o crescimento dos pases.

    Segundo Moura (2005), o primeiro estudo sobre a relao da taxa de

    cmbio e balana comercial foi desenvolvido por Bickerdike, Robinson e Merzler,

    entre 1920 e 1948, em um modelo de balana comercial com elasticidade. Neste

    processo visto que um pas, para atender suas necessidades econmicas,

    aprecie ou desvalorize o cmbio para gerar um efeito direto na balana comercial

    aumentando sua competitividade no cenrio internacional.

    Um desses estudos segundo Moura a condio Marshall-Lerner que

    segue a ideia da desvalorizao cambial para uma melhora no resultado da

    balana comercial. Segundo esta condio, a elasticidade deve ser

    obrigatoriamente maior que um, em termos absolutos, para ser verificado a

    melhora na balana comercial devido desvalorizao cambial, compensandoo preo das importaes. Essa melhora na balana comercial se deve ao fato do

    aumento das exportaes lquidas, como explicado a condio abaixo:

    Uma mudana na taxa de cmbio real influencia a balana comercial de

    trs modos:

    1) Aumento das exportaes: visto que aumenta a demanda por bens e

    servios produzidos no pas pelo fato do preo relativo estar maisbarato em relao ao dlar.

    2) No movimento contrrio ao primeiro, a moeda desvalorizada torna-se

    os produtos importados menos vantajosos, aumentando a demanda

    por produtos nacionais.

    3) Aumento do preo relativo dos produtos importados, visto que para se

    comprar a mesma quantidade de produto/servio demandado mais

    recursos pois a valorizao cambial do dlar torna os produtos maiscaros.

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    Para que a condio Marshall-Lerner acontea necessrio que a

    mudana nos dois primeiros tpicos sejam maiores que da terceira para

    aumentar as exportaes lquidas.

    Alm da condio Marshall-Lerner, Carneiro (2014) exemplifica estudos

    sobre a depreciao cambial e seus efeitos ao longo do tempo. Uma abordagem

    bastante debatida sobre a dinmica dos efeitos da desvalorizao, conhecido

    como curva J. Segundo MENDES (2007) o estudo sobre a curva J, se iniciou a

    partir de 1972 nos Estados Unidos. Apesar da desvalorizao do dlar em 1971,

    a balana comercial americana teve uma deteriorao. Aps vrios estudos a

    explicao mais utilizada para explicar o que acontece, que os contratos, tanto

    de importao, quanto de exportao, vigente em 1971 na poca dadesvalorizao foram acertados em um perodo anterior utilizando-se de uma

    antiga taxa de cmbio. Verifica-se assim que, no curto prazo, no existe

    modificao no volume de exportao e importao. Nos novos contratos, j com

    o efeito da variao cambial esta relao modificada no longo prazo.

    At chegar a um novo equilbrio, Mendes relaciona cinco tipos de

    defasagem que justificam o no imediato equilbrio.

    1) O mercado reconhecer a diferena de competitividade com a mudana

    cambial.

    2) Tempo para deciso de novos contratos e novas relaes comerciais.

    3) Tempo de entrega das novas encomendas.

    4) Atualizao de novas tecnologias e reposio de novas mquinas.

    5) Tempo e capacidade de produo que ser demandado com a nova

    situao.

    Existem diversas evidncias empricas sobre a curva J que so bastante

    amplas. Alguns estudos sugerem a existncias em alguns pases e alguns

    estudos que existem em determinadas relaes comerciais.

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    TAXA DE CMBIO E BALANA COMERCIAL

    A taxa de cmbio , segundo o Banco Central do Brasil, o preo da moeda

    estrangeira medidos em unidades ou frao. A partir de 1999 h uma mudana

    no regime de taxa de cmbio no Brasil. O regime fixo da taxa de cmbio que

    estava em vigor na poca passa a ser flutuante (tambm conhecido como taxa

    flexvel) onde so livremente negociadas pelos agentes interessados.

    Com a globalizao dos fluxos de capitais e o Brasil com a moeda Real

    (uma moeda extica), recebe grande influncia na sua taxa de cmbio por

    variaes externas. As incertezas polticas tambm so responsveis pela

    oscilao na taxa de cmbio brasileira como pode ser verificado no grfico

    abaixo.

    Fonte: Banco Central do Brasil

    O principal pico de desvalorizao cambial foi visualizado em setembro

    de 2015 diante da incerteza da permanncia da presidenta Dilma com

    especulaes sobre o impeachment e as dificuldades de viabilizar o ajuste fiscal.

    O segundo maior pico foi relacionado ao temor do mercado a uma provvel

    vitria do Lula para presidncia, que se confirmou mais adiante, e como a

    esquerda conduziria a economia do pas.

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    Variao Cambial 1999-2015

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    Essa variao cambial gera no curto prazo alteraes na balana

    comercial brasileira onde consta as importaes e exportaes do pas.

    A exportao brasileira gerada principalmente pelos commodities

    bastante suscetvel a essa variao tornando o produto mais ou menos atraente

    de acordo com a taxa de cmbio. De 1999 at 2015 as exportaes geraram o

    seguinte grfico.

    Fonte: Banco Central do Brasil

    No mesmo perodo as importaes se comportaram desta maneira:

    Fonte: Banco Central do Brasil

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    Importaes

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    Assim como demonstra os estudos de Bickerdike, Robinson e Merzler,

    existe uma relao entre o saldo da balana comercial e a taxa de cmbio.

    Fonte: Banco Central do Brasil

    Pode ser verificado que com o temor da eleio do Lula, houve uma

    disparada da taxa de cmbio que levou a uma melhora no saldo da balana

    comercial. Apesar da melhora da balana comercial no curto prazo com o dlar

    chegando prximo dos R$ 4,00 observado que nos prximos anos, mesmo

    com uma tendncia de queda da taxa de cmbio o saldo da balana continua

    subindo chegando a mais de 5,5 bilhes de dlares em julho de 2006.

    Isso explicado em partes pelo fato dos contratos de exportaes e

    importaes serem de mdio e longo prazo, alterando a sincronizao entre taxa

    de cmbio e saldo da balana comercial.

    Com a entrada de dlares devido ao supervit da balana comercial e a

    verificao do mercado que o governo Lula no alteraria a poltica econmica do

    pas, houve uma queda na taxa de cmbio entre outubro de 2002 e agosto de

    2008. Essa baixa taxa de cmbio comprometeu a competitividade das empresas

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    Saldo da balana comercial x Dlar

    Saldo da balana Dlar

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    locais levando em janeiro de 2009 um dficit na balana comercial de

    aproximadamente 500 milhes de dlares.

    Foi verificado nos anos seguintes a 2009 uma grande oscilao na

    balana comercial mesmo com a queda da taxa de juros entre janeiro de 2009

    (R$ 2,31) at julho de 2011 (R$ 1,56). Essa oscilao pode ser verificada no

    grfico abaixo:

    Fonte: Banco Central do Brasil

    Entre outubro de 2010 e fevereiro de 2011, o dlar teve uma pequena

    variao passando R$ 1,68, chegando a R$ 1,71 em novembro e finalizando

    nessa amostra em R$ 1,67.

    J a balana comercial teve grande oscilao no supervit no mesmo

    perodo, saindo de 1,8 bilhes de dlares em outubro, em novembro caindo para

    290 milhes, aumentando em dezembro para 5,3 bilhes, caindo drasticamente

    em janeiro de 2011 para 397 milhes e com leve alta em fevereiro para 1,1

    bilhes de dlares.

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    Saldo da balana comercial x Dlar

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    TEMPOS ATUAIS

    Foi visto no governo Dilma, a partir de 2011, uma piora nos resultados da

    balana comercial e um vis crescente da desvalorizao cambial chegando ao

    maior valor histrico do perodo estudado.

    Fonte: Banco Central do Brasil

    Com as incertezas polticas e econmicas o saldo da balana comercial

    sofre o maior dficit desde 1999, 4 bilhes de dlares em janeiro de 2013 e

    repete em janeiro de 2014 o mesmo resultado negativo.

    Aps a reeleio da presidenta Dilma, em um perodo de grande oscilao

    da balana comercial verificado uma desvalorizao do cmbio de mais de

    40% em 2015. No ltimo perodo apurado, setembro de 2015, a taxa de cmbio

    fechou o ms em R$ 3,91 com um supervit da balana comercial de quase 3

    bilhes de dlares. o resultado dos estudos que no curto prazo as exportaes

    melhoram quando a moeda desvaloriza.

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    Saldo da balana comercial x Dlar

    Saldo da balana Dlar

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BANCO CENTRAL DO BRASIL. Taxa de Cmbio. Disponvel emhttp://www.bcb.gov.br/?TAXCAMFAQ. Acesso em 10 de novembro de 2015.

    CARNEIRO, F. L. A influncia da taxa de cmbio sobre os fluxos de comrcio

    exterior. 2014. Disponvel em:

    http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2

    2736. Acesso em 02 de novembro de 2015.

    MENDES, Salomo Isaac. A relao entre a taxa de cmbio e a balanacomercial: um teste emprico sobre a curva J no comrcio bilateral BrasilEUA.

    2007. Disponvel em:

    http://www.mackenzie.br/portal/dhtm/seer/index.php/jovenspesquisadores/articl

    e/viewFile/910/419. Acesso em 08 de novembro de 2015.

    MOURA, G. V. Condio de Marshall-Lerner e quebra estrutural na economia

    brasileira. 2005. Disponvel em:

    https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7827/000557954.pdf?sequence=1. Acesso em 01 de novembro de 2015.

    SONAGLIO, C. M.; SCALCO, P. R.; CAMPOS, A. C. Taxa de Cmbio e a

    Balana Comercial Brasileira de Manufaturados: Evidncias da J-Curve. 2010.

    Disponvel em: http://www.anpec.org.br/revista/vol11/vol11n3p711_734.pdf.

    Acesso em 03 de novembro de 2015.