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PSICOLOGIACOMUNITÁRIA E CONDIMÍNIO DE MORADIA POPULAR: relatos de uma experiência de intervenção.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir os resultados de um projeto de intervenção, realizado em um condomínio de moradia popular, no Município de São Paulo, através de uma parceria entre Universidade e o órgão responsável. Este trabalho foi desenvolvido no campo estágio da Psicologia Social Comunitária. A Psicologia Social Comunitária vem atuando historicamente no sentido de implementar ações que visam a promoção da saúde e a transformação da realidade. A intervenção teve início com visitas domiciliares, propiciando a construção de vínculos com os moradores do condomínio. Em um segundo momento, foram realizados encontros abertos com a proposta de mediação de conflitos, totalizando 16 encontros. Inicialmente, a participação e presença eram pequenas, considerando o número de moradores, porém no decorrer, outros moradores iniciaram sua participação, através dos convites de outros participantes. Os encontros possibilitaram a compreensão do que estava em jogo nos conflitos e as posições das pessoas envolvidas, evidenciando um posicionamento individualista. Contudo, as discussões em grupo foram relevantes para a reflexão e a consciência, sendo que o grupo passou a assumir a responsabilidade pelas ações no espaço coletivo, acolhendo e orientando alguns moradores que necessitavam de maior apoio psíquico. Procuramos, assim, contribuir com o desenvolvimento do convívio em espaço coletivo, refletindo na melhoria das relações intersubjetivas. Conclui-se que, foi possível a transformação dos sujeitos em agentes da sua própria história e da comunidade no qual estavam inseridos. A partir da intervenção realizada, foi possível refletir sobre o papel da Psicologia Comunitária, favorecendo a autonomia e a autogestão, consequentemente a melhoria da qualidade de vida dos moradores
Palavras – Chave: Moradia popular. Psicologia comunitária. Promoção da saúde.
UNIVERSIDADE SÃO FRANCISO
CAMPUS - PARI
PSICOLOGIACOMUNITÁRIA E CONDIMÍNIO DE MORADIA POPULAR: relatos de uma experiência de intervenção.
Autoras:
Elisângela Pereira Lacerda Tatiane de Souza Santos
Supervisora:
Profª. Drª Katia Varela Gomes
DEZEMBRO 2011
1 – INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta dois momentos de atuação, sendo o primeiro um
momento de investigação e criação de vínculos por parte das estagiárias com os
moradores do condomínio, enquanto que o segundo momento objetivou-se trabalhar as
questões e demandas levantadas, a partir das visitas aos moradores da comunidade. Foi
criado um projeto de intervenção, e apresentado à comunidade para sua aprovação.
A Psicologia Social e Comunitária vem atuando historicamente no sentido de
implementar ações na sociedade que visam a prevenção de problemas e a promoção da
saúde. Para atingir estes objetivos pauta-se pelos conceitos de Inclusão e Cidadania. Ela
tenta aproximar-se da comunidade/instituição, entender seu contexto, seus valores, suas
crenças, a dinâmica comunitária, a distribuição do poder, isto é, está preocupada em
captar o modus vivendi da comunidade/instituição para que se possa intervir de uma
maneira mais eficaz. Assim, a construção de projetos de intervenção se dá de forma
conjunta, numa troca constante entre o profissional e a comunidade.
A realização de um projeto na comunidade pauta-se na organização dos seus
problemas, na forma como se vive, nas normas que a regem, suas necessidades e a
maneira de satisfazê-las. Objetiva-se que a comunidade tome consciência ou
conhecimento de seus problemas, assim como no esclarecimento das fugas ou negação
dos problemas reais. Sendo fundamental auxiliar no esclarecimento dos problemas e
objetivos já em funcionamento e, sobretudo ajudar para que os integrantes tomem
consciência de suas atitudes e de suas possibilidades como seres humanos (BLEGER,
1984).
Segundo Bleger (1984)
[...] uma comunidade se define como um conjunto de pessoas que vivem juntas, no mesmo lugar e entre as quais há estabelecidos certos nexos, certas funções em comum ou certa organização. Quer dizer que no conceito de comunidade intervêm duas características fundamentais: a geográfica e a funcional. A primeira se refere a certo espaço no qual transcorre a vida dos seres humanos; a segunda se refere aos aspectos que lhe dão certo grau de coesão, de inter-relação, de unidade (p.83).
1 – 1. Psicologia Social
A psicologia social começou a se desenvolver como estudo científico no pós-
guerra procurando compreender as crises e revoluções que abalaram o mundo e
questionaram se a psicologia poderia responder a esta demanda e os psicólogos sociais
se puseram a estudar os fenômenos sociais e grupais (LANE, 2008).
Ainda segundo esta autora, é nos Estados Unidos, com sua tradição pragmática e
através de pesquisas experimentais procuravam procedimentos e técnicas de intervenção
nas relações sociais para garantir uma vida melhor e adequar o ser humano ao contexto
social. No Brasil se reproduzem os conhecimentos desenvolvidos nos Estados Unidos
aplicando conceitos e adaptando-se as condições do país, contudo não respondia a
demanda e a teoria começa a ser criticada.
De acordo com Lane (2008), no Brasil em 1980, surge a Associação Brasileira de
Psicologia Social (ABRAPSO), através das mãos de alguns pesquisadores como Lane e
Codo rompendo com a Psicologia Social cientificista norte-americana, passando a
estudar o comportamento de indivíduos enquanto seres socialmente influenciados, como
se forma a concepção de mundo, sua vinculação a linguagem aprendida e aos valores
assimilados, discutindo o desenvolvimento da consciência social na escola e no
trabalho, compreendendo o que transforma os indivíduos em agentes da história de sua
sociedade.
Para Lane (1994), o indivíduo já é inserido no contexto social antes de nascer, pois
é a família que já adquiriu modos de vivência terá pré-estabelecido o ambiente no qual
surgirá um novo membro, durante toda a vida o indivíduo fará parte de grupos que são
fundamentais para a sua sobrevivência, a começar pela família, e em cada grupo que o
indivíduo participa haverá normas e regulamentos que norteiam essas relações, sendo
que a vida em grupos possibilita o confronto entre indivíduos, onde cada um constrói
nesta interação o seu “eu”, através de semelhanças, diferenças e constatações entre nós e
os outros.
O psicólogo social pretende ir além do que é observável, buscando compreender o
mundo invisível do homem. Entende-se que o indivíduo aprende nas relações com o
outro, quando se apropria da realidade criada pelas gerações anteriores, apropriação que
se dá pelo aprendizado da cultura humana, assim compreendendo que o homem como
ser social esta sempre em movimento e em processo de transformação. Assim a teoria
deve ser capaz de captar este homem em movimento (LANE, 1994).
1 – 2. Psicologia Comunitária
No Brasil, a Psicologia Comunitária tinha a finalidade assistencialista, não
considerava a população com autonomia para se desenvolver e decidir, tornando-os
dependentes. Os psicólogos iam para as comunidades com modelo Clínico e com as
transformações são obrigados a mudar o método, agora trabalhando com grupos e
entendendo o contexto que vive o grupo (LANE, 2008).
Segundo Góis (1993) apud Campus (2008)
[...] define a psicologia comunitária “como uma área da psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar / comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar / comunidade e aos grupos comunitários. Visa ao desenvolvimento da consciência dos moradores como sujeitos históricos e comunitários, através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade. (...) Seu problema central é a transformação do indivíduo em sujeito” (p.11).
Segundo Lane (2008), teremos uma psicologia comunitária com duas tendências
prevenção de saúde, aonde o psicólogo comunitário trabalha com em conjunto com
equipe multidisciplinar para passar informações de como se prevenir de determinadas
doenças e outra em educação propondo atividades que desenvolva a consciência da
comunidade, estas tendências se confundem em 1981 com relatos dos psicólogos no
encontro da ABRAPSO, podendo observar o contraste entre preocupações com a saúde
mental e aqueles com a educação popular, ambos com objetivos diferentes.
Os trabalhos comunitários partem do levantamento das necessidades e carências
vividas pelo grupo-cliente, como educação, saúde, saneamento básico. Trabalha-se com
método e conscientização com os grupos populares para que eles assumam o papel de
sujeitos de sua própria história, conscientes dos determinantes sócio-políticos de sua
situação e ativos na resolução de problemas, buscando o desenvolvimento da
consciência crítica, da ética, da solidariedade e de práticas cooperativas a partir da
análise dos problemas da comunidade, marcando a produção da psicologia social
comunitária (FREITAS, 2008).
O psicólogo comunitário trabalha basicamente com intervenções grupais, sempre
tentando envolver a população alvo na construção de propostas que visem à promoção
da saúde e prevenção de doenças, assim como uma melhora na qualidade de vida, da
auto-estima e da autonomia dos sujeitos. A área de Psicologia Comunitária também
desenvolve projetos que visam um intercâmbio entre a instituição e a comunidade,
contribuindo com a construção de um trabalho em rede. A questão da
Exclusão/Inclusão, do preconceito e estigma vividos por certos grupos sociais é
trabalhada através de projetos e oficinas (FREITAS, 2008).
Segundo Lane (2008)
[...] o psicólogo na comunidade trabalha fundamentalmente com a linguagem e representações, com relações grupais – vínculo essencial entre o indivíduo e a sociedade – e com as emoções e afetos próprios da subjetividade, para exercer sua ação a nível da consciência, da atividade e da identidade dos indivíduos que irão, algum dia, viver em verdadeira comunidade (p. 31).
1 – 3. Mediação
A mediação é um processo pacífico de resolução de conflitos, em que uma
terceira pessoa, imparcial e independente, com a necessária capacitação, facilita o
diálogo entre as partes para que melhor entendam o conflito e busquem alcançar
soluções criativas, entretanto, a mediação não visa simplesmente ao acordo, mas atingir
a satisfação dos interesses e das necessidades dos envolvidos no conflito (SAMPAIO E
NETO, 2007).
Ainda segundo este autor, na mediação o que está em jogo são meses, anos ou
mesmo décadas de relacionamento, razão pela qual demanda que o terceiro tenha
conhecimento mais profundo sobre a inter-relação entre as partes. O mediador, para
poder melhor auxiliá-las nas questões controversas, deve ter mais tempo para investigar
toda a complexidade daquela inter-relação.
Para Sampaio e Neto (2007), a mediação é um método de resolução de conflitos
em que um terceiro independente e imparcial coordena reuniões conjuntas ou separadas
com as partes envolvidas em conflito, e um dos objetivos é estimular o diálogo
cooperativo entre elas para que alcancem a solução das controvérsias em que estão
envolvidas. O procedimento exige humildade do profissional coordenador para com os
mediados, partimos do principio que os atores envolvidos no conflito são os mais
indicados para solucionar suas questões, pois sabem o que é melhor para eles próprios,
embora seja o momento conflituoso o elemento que dificulta colocar em prática esse
conhecimento, cabe, ao terceiro, auxiliar neste sentido.
A determinante com relação ao tempo é decorrente das partes, ás quais cabe
indicar disponibilidades, possibilidades e interesses, pois são a matéria-prima básica
dessa atividade (SAMPAIO E NETO, 2007).
Ainda segundo este autor, no Brasil a mediação não tem ainda uma lei
específica, sua prática e fundamentação teórica têm se estruturado segundo a
experiência e a formação do profissional que intervém como mediador, é um campo
profissional que se beneficia da multidisciplinaridade, geradora de uma interação
interdisciplinar em busca de soluções transdisciplinares.
A prática da mediação tem enfoques diferentes que dependerão da natureza do
conflito e das experiências e dos recursos de quem intervém como mediador, ou seja, a
intervenção do mediador que tem como profissão advogado é diferente do mediador que
é psicólogo, isso não quer dizer que uma melhor ou pior que a outra, mas que cada um
terá uma visão diferenciada do problema, que poderá contribuir na mediação
(SAMPAIO E NETO, 2007).
De acordo com Breitman (2001), a mediação é uma alternativa para resolução de
conflitos em que as pessoas envolvidas buscam atingir seus interesses e suas
necessidades. É um procedimento voluntário e envolve a participação de um terceiro
imparcial que coordena o processo, estimulando as partes envolvidas por intermédio do
diálogo.
“Quando alguém nos escuta com atenção, abstendo-se de julgamento, críticas e opiniões, pode despertar em nós algo surpreendentemente novo, capaz de transformar uma situação aparentemente impossível numa nova possibilidade, despertando nossa disposição e coragem de negociar possíveis interesses e necessidades” (Breitmam, 2001, p. 93).
Para Breitman (2001), desse modo, o processo de mediação deve estimular a
reflexão, criar espaço para uma maior consciência de si mesmo e ampliar a consciência
a respeito das necessidades e pontos de vista do outro. Deve garantir que o interesse de
cada indivíduo seja protagonizada por ele mesmo, atribuindo-lhe um sentido de
compromisso e autodeterminação em relação ao próprio destino e agindo como sujeito
de sua própria história.
De acordo com Seidel (2007), a mediação é um processo que, através da ajuda
de uma pessoa neutra e imparcial (o mediador), ajuda as pessoas a dialogarem e a
cooperarem para resolver um problema. Nesse sentido, a mediação é mais do que um
método para solucionar os conflitos; também é uma forma de impedir conflitos no
futuro, pois já cria um clima de cooperação entre as pessoas.
Ao todo, podemos dizer que mediação de conflitos tem quatro principais
objetivos: a solução de conflitos, a prevenção de conflitos e a inclusão social. O
principal objetivo da mediação é a solução de maneira pacífica do conflito, o diálogo é o
principal meio para se atingir este objetivo, pois, é através de um diálogo franco que as
partes chegam a um acordo satisfatório para ambas as partes. (SEIDEL, 2007)
Ainda segundo este autor, quando falamos em um acordo, vale a pena lembrar
que esta deve ser justo, consequencia de um diálogo honesto. É papel da mediação
garantir que essa comunicação aconteça de forma livre, franca mas tranqüila, sempre
buscando a solução para o conflito.
Para Seidel (2007), durante o processo de mediação, tanto o mediador quanto as
pessoas envolvidas devem se aprofundar no problema existente, de forma a buscar uma
solução definitiva, ou seja, que não deixe o problema voltar no futuro e através dessa
colaboração, as pessoas já criam as condições para evitar futuros conflitos. A mediação,
nesse sentido, é transformadora, pois cria uma relação que vai além do acordo que
resolveu o problema original: esse relação de respeito entre as partes envolvidas já é o
primeiro passo para resolver qualquer conflito de forma pacífica.
Através do processo de mediação, as pessoas criam uma consciência maior dos
seus direitos e deveres, possibilitando uma reflexão profunda sobre as questões sociais.
Nesse processo, as pessoas percebem que, independente da classe social, todo mundo
possui direitos e que todos podem colaborar para escolher o melhor caminho a ser
tomado (SEIDEL, 2007).
Ainda segundo este autor a mediação estimula as pessoas a resolver os seus
próprios conflitos. Isso faz com que cada indivíduo conheça melhor os seus direitos e
deveres; e como o diálogo pode levar a uma solução de seus problemas de modo que
todos podem sair ganhando. Esse processo ajuda na inclusão de todos, ao perceberem o
papel importante que têm na luta para fazer valer os seus direitos.
1 – 4. Conflitos
Há um conflito inerente à vida, presente nos organismos, por meio do qual a
evolução se processa. O nascimento de uma criança é um exemplo típico de um
conflito, presente no ciclo vital, há a tendência a permanecer no conforto intra-uterino,
contudo a evolução solicita que se enfrente o desafio de vir ao mundo, com todos os
desconfortos que isso acarreta. Daí em diante o conflito não mais abandonará, porque se
encontra presente em todas as relações e relacionamentos. Falar em conflito é falar em
vida (SAMPAIO E NETO, 2007).
Ainda segundo este autor, a mudança é a causa raiz de todos os conflitos,
quando algo ou alguém intervém em um sistema, que pode ser desde um indivíduo até
uma sociedade completa, surge uma mudança e em conseqüência dela algum tipo de
conflito, afetando a percepção do “eu” que cada indivíduo possui, essa percepção é uma
complexa soma de elementos, tais como corpo, afetos, relacionamentos, propriedades
materiais, valores morais e éticos, crenças, identidade profissional, competências e
habilidades etc.
Segundo Folger e Bush (1999), o conflito é parte da condição humana: não é
sempre bom ou sempre ruim, mas todo conflito traz consigo a possibilidade de mudança
e transformação, seja para duas pessoas, uma comunidade ou vários países. Se as
mudanças serão para melhor ou para pior, isso dependerá naturalmente da forma como
serão encarados os conflitos e, principalmente, de que modo serão resolvidos.
“[...] o conflito em si só é potencialmente transformativo: ou seja, a argúcia oferece aos indivíduos a oportunidade de desenvolver e integrar suas capacidades de força individual e empatia pelos outros [...]”. (FOLGER e BUSH, 1999, P.85)
Comunicação e emoção encontram-se intrinsecamente interligadas. A emoção
delimita a intenção do comunicador e a compreensão do receptor. Assim é que quando
existe um conflito, o fluxo natural do diálogo é interrompido, acarretando falhas de
comunicação, que muitas vezes resultam em interpretações equivocadas ou intenções
atribuídas que levam a mais conflitos, porque a comunicação entre as pessoas é um
elemento a ser permanentemente entendido em uma perspectiva histórica (SAMPAIO
E NETO, 2007).
1-5 – Formas de encarar conflitos
Cada pessoa encara o conflito do seu próprio jeito, depende da maneira como foi
educada, do que está acontecendo á sua volta, do que está em jogo e até do seu humor,
ou seja, cada pessoa pode reagir frente ao mesmo problema de muitas formas diferentes,
de acordo com o seu ponto de vista. Para entender e mediar conflitos, é preciso atentar
para os diferentes modos de agir, fazendo com que as pessoas envolvidas experimentem
se colocar no lugar do outro (FOLGER E BUSH, 1999).
Folger e Bush (1991), afirmam que para enfrentar um conflito, não basta uma
atitude, seja colaboração ou evitação. Antes de tudo, precisamos entender o que está em
jogo, quais são as posições das pessoas envolvidas e por que elas não conseguem
resolver seus conflitos sem ajuda.
Na perspectiva de Breitman (2001), a análise do conflito é o primeiro passo
para sua compreensão e, em seguida, para sua solução. Assim, juízes, promotores,
advogados, delegados, mediadores, enfim todos aqueles que lidam com situações de
conflitos entre partes têm a obrigação de analisá-los de modo sistemático e neutro, seja
para aplicar a lei com justiça, ou seja, para ajudar a solucioná-los.
A análise do conflito ajudará a escolher o melhor caminho para tratar os pontos
mais sensíveis do conflito. Quando separamos as pessoas do problema e dos processos,
fica mais fácil visualizar o conflito e buscar soluções (BREITMAN (2001).
Ainda segundo este autor, é fundamental que as pessoas envolvidas no conflito
entendam “o outro lado” do problema e na medida do possível, que tendem se colocar
“do outro lado”, ou seja, elas precisam ver o que desejam as pessoas do outro lado,
assim, elas começam a reconhecer o conflito, conforme já dissemos antes, este é o
primeiro passo para uma solução pacífica dos problemas.
1 – 6. Funções do Mediador
Todo e qualquer conflito envolve um elemento importante na vida das pessoas, o
poder. O poder de mudança, o poder de fazer as coisas evoluírem sob sua própria ótica,
o poder de influenciar pessoas e o de ser influenciados por elas (SAMPAIO E NETO).
Segundo Sampaio e Neto (2007, p. 80) o mediador tem a função de:
� acolher os mediados; � prestar esclarecimentos necessários de forma clara, objetiva e correta a
respeito dos procedimentos e dos objetivos da mediação; � administrar a participação de todos os envolvidos, assegurando o bom
andamento dos trabalhos, a manutenção da ordem, o respeito á integridade física e emocional, a livre expressão e outras afins;
� formula perguntas de modo empático, construtivo e agregador; � buscar clareza de todas as idéias; assegurar o equilíbrio de poder entre
os membros; � é agente de realidade; é o guardião do processo; � neutraliza comportamentos repetitivos; � facilita a comunicação; � orienta oportunamente para o futuro com base no presente tendo
respeito pelo passado; � cria contextos alternativos; � focaliza interesses comuns; � atribui a decisão aos protagonistas ; e
� assegura as condições do cumprimento da solução, quando alcançada.
1 – 7. Mediação Comunitária
Com a globalização as mudanças na ordem política, social, econômica e cultural,
têm sido mais profundas e aceleradas, essa situação acaba por oferecer a transformação
permanente na comunidade e da forma de sociabilidade dos indivíduos pertencentes a
uma população, região ou comunidade. Esse convívio gera numerosas inter-relações que
acaba em se tornando fonte inesgotável de conflitos que demandam a busca por
respostas urgentes para que a convivência seja baseada no respeito e no reconhecimento
mútuo de diferenças (SAMPAIO E NETO, 2007)
De acordo com Sampaio e Neto (2007)
[...] a mediação comunitária promove essa busca e contribui para a criação de espaços em que as pessoas transmitem suas diferenças e constroem de maneira participativa, dinâmica e pacífica seus respectivos lugares na sociedade. Permite também estabelecer canais facilitadores para a articulação política, institucional e social, convidando a todos, ao mesmo tempo, para uma reflexão responsável sobre a diversidade das temáticas da realidade atual e constituindo um desafio para o mediador comunitário em preservar uma sociedade pluralista, equitativa e integradora (p.107).
A mediação comunitária é utilizada em conflitos existentes em uma comunidade,
como relação entre vizinhos de uma área urbana ou campestre, ressaltamos ainda que tal
tipo de mediação não está voltada apenas para a população com baixos recursos, na
verdade, ela é ampla e pode ser usada por todas as classes sociais, pois pressupõe a
pacificação da sociedade como um todo e não de determinada classe. Por isso, convém
ressaltar a importância de ser incluída como política pública pelo poder. (SAMPAIO E
NETO, 2007)
I – 8. Habitação
De acordo com Vasconcelos (2008), o habitar é um dos requisitos básicos para a
qualidade de vida, sendo que relacionar habitação e qualidade de vida é deparar com
toda uma série de fatores políticos e econômicos a definir essa relação nesta ou naquela
comunidade, nesta ou naquela época. A intimidade, por exemplo, que marca
modernamente a qualidade do habitar, seria ela ligada a uma necessidade humana, ou a
valores e a necessidades fabricadas por ideologias.
A intimidade não se põe como elemento de qualidade de vida habitacional, mas
antes como exigência de nível de vida, ligada á ascensão econômica de uma classe, a
burguesia, que passa a ditar os modelos culturais de tudo, inclusive o habitar. A partir
do século XVIII o ideário da intimidade habitacional burguesa teria precipitado o corte
entre família e sociedade, entre Estado e sociedade civil, entre trabalho social e trabalho
doméstico (VASCONCELOS, 2008).
Ainda segundo este autor, falar em subjetividade é falar em corpo, não
evidentemente enquanto mero substrato fisiológico, mas sim como nossa presença no
mundo, e falar dessa presença é falar de sua apresentação sexuada atravessar todas as
outras formas de apresentação, econômicas e culturais. Considerando os papéis de
gênero na construção do corpo e na formação da subjetividade não irá certamente
resolver todos os conflitos da presença humana no mundo, ou os conflitos habitacionais
dessa presença, mas é condição indispensável para o diagnóstico desses conflitos e para
seu processo de resolução.
Para Vasconcelos (2008), a transparência social da habitação só têm sentido se
for acessível ao habitante e não apenas ao investigador, sem essa consciência da parte
do sujeito a alienação habitacional se instaura, sendo comum nos aglomerados urbanos.
Mas não basta aos sujeitos perceberem, criticamente o reflexo sobre seu habitat das
estruturas e dos sistemas sociais, porque os modelos que lhe são oferecidos reproduzem
planos que lhes são alheios, que não os consultam em suas necessidades habitacionais, é
preciso que percebam o quanto a desapropriação espacial vai a par no nível de pessoa,
do corpo em substrato dela.
A desapropriação do corpo tem a ver com a questão da qualidade de vida e com
a habitação, evidenciam a facilidade da vivência do espaço habitado na vivência e na
auto-estima do próprio corpo e da sexualidade, com repercussões diretas sobre a saúde,
o bem estar físico e emocional, os relacionamentos afetivos e sociais, a atuação
profissional, enfim sobre tudo o que se relaciona com qualidade de vida
(VASCONCELOS, 2008).
Partindo da hipótese de que entre imagem do corpo e imagem da casa existe uma
troca simbólica de natureza projetiva, no qual indica relação arcaica e primitiva e de
nela a diferenciação sexual é uma variável importante, sendo importante para o
deciframento de sintomas individuais, assim como para a explicação e compreensão de
comportamentos grupais, interessando assim tanto a uma clínica quanto a uma ação
político-social (VASCONCELOS, 2008).
1 – 9. Autogestão
De acordo Heckert (2004), a autogestão está relacionada à cooperação e a
solidariedade entre as pessoas envolvidas em um grupo, se ampliando nas relações de
gênero, raciais, ecológicas, multiculturais, entre outras, onde tem como princípio a
inclusão, na medida em que seus participantes superem ações individualistas.
Segundo Singer (2002), para que a autogestão aconteça, as pessoas tem que
terem em mente que são responsáveis pela sua tarefa de forma individual e também pela
tarefa do grupo, no coletivo.
Todos devem ficar a par das coisas que estão passando pelo grupo, para que
através da cooperação entre os participantes do grupo, os prejuízos sejam menores
possíveis ou os objetivos sejam alcançados de maneira satisfatória, entre todos os
membros. Onde a importância de todos ficarem a par da situação, contribui para uma
cooperação inteligente, onde todos se sintam iguais no grupo (SINGER, 2002).
Singer (2002) salienta que o desinteresse das pessoas inseridas no grupo, é um
grande problema na prosperidade do grupo, visto que em alguns casos, uma pessoa pode
pedir para outra representá-la e não gostar da decisão final, podendo suscitar daí um
conflito posterior.
Ainda segundo o autor, pode ocorrer em um grupo com a prática
autogestionária, que haja a necessidade de resolver alguma situação urgente, onde
alguma pessoa do grupo tome essa decisão, sem contar com as opiniões dos demais
integrantes, contudo salienta o autor, que nessas situações o aconselhável é que na
próxima assembléia, ou reunião, essa urgência seja exposta para o grupo de maneira
reflexiva e não como simples fato consumado, para que a situação não vire hábito e as
informações que sejam relevantes não se concentrem em um ou dois responsáveis,
evitando com isso, o perigo do grupo começar a ser gerido pela lei do menor esforço,
pois todos são responsáveis direto pela continuação do grupo e pelas atividades nele a
serem exercidas.
A autogestão tem como mérito principal, o desenvolvimento humano que
proporciona aos participantes do grupo que adere essa técnica. Pois as decisões são
discutidas no coletivo, independente do grupo que a pessoa está associada, ocorrendo
também à conscientização, tendendo a tornar a pessoa mais realizada, autoconfiante e
segura. Contudo, as pessoas não apreciam as potencialidades da autogestão (SINGER,
2002).
Baremblitt (1994) acredita que para um grupo conseguir gerir-se pela
autogestão, ele necessita de primeiro passar pelo processo da auto-análise. Em uma
comunidade a auto-análise seria a produção de um saber, do conhecimento, acerca de
seus problemas, assim como de suas condições de vida, necessidades, demandas,
prioridades, entre outras coisas, como também de seus recursos para suprir estas
demandas.
Onde após esse processo de auto-análise ou autoconhecimento, o grupo ou a
comunidade, tende a se focar na organização, a fim de encontrarem meios de
resolverem seus problemas e transformar suas condições de existência (BAREMBLITT,
1994).
Baremblitt (1994) acrescenta que os processos de auto-análise e autogestão são
processos diferenciados, contudo são concomitantes, simultâneos e articulados. Pois à
partir do autoconhecimento é que a comunidade vai se articular, para conseguir os
recursos que ela necessita.
Em grupos que são geridos pela autogestão costuma-se pensar que ocorre uma
falta de denominações, como líderes hierárquicos, gerentes e outros títulos, contudo
Baremblitt (1994) salienta que o que ocorre não é a falta desses títulos, mas sim o que
está em jogo é a igualdade do poder, onde a pessoa que recebe um título, não tem poder
hierárquico sobre os outros, mas sim uma delegação em sua atividade, que vai ser
decidida pelo coletivo, assim como todas as decisões a serem tomadas pelo grupo.
Na autogestão os coletivos mesmos deliberam e decidem. Eles têm maneiras diretas de comunicar decisões. Existem hierarquias em matéria de potência, peculiaridades e capacidade de produzir; mas não há hierarquias der poder, ou seja, a capacidade de impor a vontade de um sobre o outro (BAREMBLITT, 1994, p.20).
Baremblitt (1994) destaca que muitas vezes para a comunidade ou um grupo,
fazer esse exercício da auto-análise ela precisa da ajuda de um profissional, onde ele
chama de experts (médicos, psicólogos, engenheiros, advogados, comunicólogos,
assistentes sociais e etc.), que integrado a comunidade, vai contribuir em pé de
igualdade, para que ocorra esse trabalho de reflexão e análise, onde esse profissional vai
contribuir para que ocorra este trabalho de reformulação, salienta também que este
processo de autoconhecimento e autogestão é interminável.
2 – DIAGNÓSTICO COMUNITÁRIO
Demandas
Falta de autonomia dos moradores, controle da vida do outro, ausência de
relações solidárias e problemas de comunicação..
A partir das demandas e necessidades identificadas pelos moradores, foram
estabelecidas atividades educativas e motivacionais, visando à conscientização dos
moradores e a convivência coletiva, favorecendo a transformação das relações
interpessoais, a compreensão e o valor da comunicação.
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
- Mediar conflitos
- Auxiliar na elaboração da autonomia dos moradores.
- Melhorar o relacionamento e convivência entre os moradores.
3.2 Objetivos Específicos
- Propiciar espaço para discussões reflexivas.
- Contribuir para a promoção da qualidade de vida dos moradores.
4 METODOLOGIA
Procedimentos:
4. 1 - Tipo de Trabalho
Pesquisa qualitativa tendo como base a coleta de dados por meio de entrevistas
semi-dirigidas e observação participante.
Na perspectiva de Marconi & Lakatos (1990) a observação participante:
[...] consiste na participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste (p.82).
4. 2 - Local: Condomínio de Moradia Popular na cidade de São Paulo.
4. 3 - Participantes: Moradores do Condomínio
4. 4- Frequência: Semanal
5 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
O presente projeto visa promover a qualidade de vida dos moradores da locação
social, desenvolvendo a consciência dos moradores quanto à promoção da saúde, à
convivência no coletivo, manutenção e organização do espaço em que vivem, dentro das
regras existentes nesta comunidade.
Para a criação desta proposta realizamos visitas domiciliares nos moldes do
PSF (Programa Saúde da Família), onde conseguimos visitar vinte famílias, o que nos
possibilitou levantarmos as seguintes questões: falta de autonomia dos moradores,
controle da vida do outro, falta de união, problemas de comunicação, e por esses
fatores diversos conflitos.
A proposta sugerida aos moradores foi a mediação de conflitos, contribuindo
para que os moradores recuperem sua autonomia e resolvam seus conflitos.
6 CRONOGRAMA DE INTERVENÇÃO
VISITAS DATAS ATIVIDADE PROPOSTA
OBJETIVOS
1º Encontro 02/06/2011 Grupos de discussão
Apresentar as demandas levantadas com as visitas domiciliares e integrarmos os moradores em uma atividade grupal
2º Encontro 11/08/2011 Visitas domiciliares
Reaproximação das estagiárias com os moradores do condomínio e entrega do convite para o retorno das atividades do projeto
3º Encontro 18/08/2011 Grupos de discussão
Favorecer o encontro grupal dos moradores, fazermos o contrato dos nossos encontros, tirarmos dúvidas e possíveis esclarecimentos
4º Encontro 25/08/2011 Dinâmica do telefone sem fio
Compreensão do valor da comunicação e reconhecimento do seu uso
5º Encontro 01/09/2011 Dinâmica do novelo de lã
Mostrar que o movimento grupal é de responsabilidade de todos, visto que um é o alicerce do outro
6º Encontro 08/09/2011 Discussão sobre o movimento grupal
Conhecermos de uma maneira mais particular, o que os moradores entendem e consideram como viver em ambiente coletivo
7º Encontro 15/09/2011 Dinâmica do feitiço virou contra o feiticeiro
Trabalhar questões ligadas ao respeito, afim de mostrarmos como o outro se sentiria em determinadas situações
8º Encontro 22/09/2011 Músicas de alongamento e discussão sobre a atividade
Os moradores alongar-se com o objetivo de favorecer a percepção do próprio corpo e após poderem compartilhar uns com os outros como se sentiram
9º Encontro 29/09/2011 Dinâmica do auxílio mútuo
Trabalhar questões relacionadas à união e seus ganhos
10º Encontro 06/10/2011 Apresentar a música “É preciso saber viver” Titãs
Favorecer a discussão sobre a letra da música, direcionando a vivência coletiva
11º Encontro 13/10/2011 Parábola “Quem seria a escolhida?”
Trabalhar conceitos como crenças e valores; ética entre os moradores
12º Encontro 20/10/2011 Dinâmica desenhe sua casa
Trabalhar a comunicação, cooperação, feedback, resolução de problemas e tomada de decisão
13º Encontro 27/10/2011 Parabóla “A arte de resolver conflitos”
Trabalhar a administração de conflitos e a comunicação
14º Encontro 03/11/2011 Dinâmica Atividade da colheita
Trabalhar respeito e valores pessoais
15º Encontro 11/11/2011 Teatro “encenação de uma situação de conflito”
Reflexão da sua atitude na situação e se colocar no lugar do outro
16º Encontro 17/11/2011 Apresentação da música “Tente outra vez” – Raul Seixas Discussão sobre a letra da música
Fazer com que o grupo analise as dificuldades encontradas na sua rotina e proponham novas alternativas
17º Encontro 24/11/2011 Finalização 18º Encontro 01/12/2011 Feedback
7 RESULTADOS OBTIDOS
A partir das visitas realizadas nos moldes do PSF, junto a vinte famílias
residentes na locação social, conseguimos levantar as demandas para formulação e
aplicação da proposta de intervenção e construímos um vínculo junto aos moradores.
Para o segundo momento, objetivamos realizar atividades educativas e
motivacionais visando à conscientização dos moradores e a convivência coletiva.
Trabalhar atividades grupais favorecendo a união do grupo, a compreensão e o
valor da comunicação Utilizar dinâmicas de grupos com o objetivo de favorecer a
compreensão dos moradores referente a respeito, autonomia, ética, crenças e valores.
Trabalhar a comunicação, cooperação, feedback, resolução de problemas e tomada de
decisão.
No segundo momento do estágio, foi possível realizar 16 encontros, onde em
cada encontro, conseguimos trabalhar questões diferentes, contudo sempre ligadas à
reflexão sobre a autonomia, a autogestão, a comunicação, ética, respeito entre as
diferenças dos moradores, formas de convivência, entre outras questões.
Nos encontros levamos a reflexão da convivência entre os moradores,
objetivando a consciência dos mesmos, o que segundo Breitman (2001), é o objetivo do
mediador, visto que essa atividade cria possibilidades para uma consciência coletiva a
respeito de suas necessidades, favorecendo com que o sujeito apresente seus interesses,
a fim de tornarem sujeitos de sua própria história.
Através das nossas atitudes neutras e imparciais, (mediadoras) os nossos
encontros possibilitaram que as pessoas dialogassem e cooperassem entre si para a
resolução dos problemas (SEIDEL, 2007). Percebemos tal fato, ao longos dos
encontros, visto que o grupo de apoio da locação social estava se fortalecendo com
maior participação dos moradores do condomínio.
A nossa atuação, de acordo Baremblitt (1994), foi para que os moradores da
locação fizessem um exercício de auto-análise, onde exercemos o papel de experts, que
são profissionais que integrados a comunidade, ,contribuem para o trabalho de reflexão
e análise.
Realizamos o resgate da autonomia dos moradores, a fim deles próprios se
autogerirem, onde segundo Singer (2002), para que a autogestão aconteça, as pessoas
tem que terem em mente que são responsáveis pela sua tarefa de forma individual e
também pela tarefa do grupo, no coletivo.
Entendemos que é através do conflito que surge a compreensão do problema em
questão e a partir daí, surge o primeiro passo para a resolução do mesmo, onde todo
mediador tem a obrigação de analisar o conflito para que possa ajudar os envolvidos a
solucionar o conflito em questão.
8 ANÁLISE E DISCUSSÃO
O estágio de psicologia institucional/comunitária levantou algumas questões que
são fundamentais para serem discutidas e analisadas de acordo a fundamentação teórica
abordada para a realização do mesmo.
Notamos em nossas visitas ao condomínio, muitos conflitos, vinculados aos
moradores que ali habitam. Sampaio e Neto (2007) defendem que os conflitos estão
presentes em todas as relações e relacionamentos, visto que falar em conflito é falar em
vida. Nessa perspectiva, podemos dizer que o conflito que existe na comunidade
presente, está de fato ligado aos relacionamentos entre os moradores, pois envolvem
questões de afetos, valores morais e éticos, crenças, , respeito, propriedades materiais,
entre outros.
De acordo Sampaio e Neto (2007), a mudança é a causa raiz de todos os
conflitos, sendo um ponto muito importante a ser pensando nas causas dos conflitos que
ocorrem no condomínio, visto que todos que residem no mesmo passaram de alguma
forma por mudanças, sejam elas, de ordem pessoal, social, cultural, política ou
econômica, onde segundo os autores, a conseqüência dessa mudança pode afetar a
percepção do “eu”, não somente como corpo, pensando em substrato fisiológico, mas
pensando neste corpo como subjetividade, sendo fundamental esse entendimento para
que ocorra o diagnóstico do conflito e o seu processo de resolução.
Lane (1994) entende que o indivíduo já está inserido em um grupo social antes
mesmo de nascer, e que durante toda a vida, este mesmo indivíduo fará parte de vários
grupos e que cada grupo terá suas características próprias, como normas, regras e
regulamentos, onde através da interação com as pessoas desses grupos possibilitará a
construção do seu “eu”, através de semelhanças e diferenças, diante disso entendemos
que os moradores do condomínio de locação social, estão inseridos em um grupo neste
caso de habitação, porém alguns não estão se adaptando as normas deste, não estão
respeitando as diferenças uns dos outros e esses comportamentos estão abalando toda a
dinâmica do grupo, dessa maneira não proporcionando uma interação entre os
integrantes, mas um afastamento uns dos outros, impossibilitando a construção do “eu”.
Na perspectiva de Freitas (2008), o psicólogo comunitário parte do levantamento
das necessidades e carências vividas pelo grupo como saúde, educação e saneamento
básico. No campo de estágio, realizamos a atuação de acordo com Freitas, iniciamos
realizando o levantamento das demandas e necessidades dos moradores da locação
social, através das visitas domiciliares e com os dados em mãos realizamos um projeto
de intervenção grupal, apresentamos a comunidade com o objetivo de que os moradores
assumam o papel de sujeitos de sua própria história, buscando a consciência crítica,
ética, da solidariedade e de práticas cooperativas a partir dos problemas da comunidade,
ou seja, visando a melhora na qualidade de vida, da auto-estima e da autonomia dos
sujeitos.
De acordo com Vasconcelos (2008), o habitar é um dos requisitos básicos para
qualidade de vida não separando fatores políticos e econômicos, porque a habitação esta
inteiramente relacionada à questão política e econômica, pois de acordo com nossa
Constituição de 1988, a moradia é uma das necessidades básicas que todo ser humano
tem direito, sendo obrigação do Estado fornecer moradia digna para a população. Ainda
de acordo com a autora, levantamos a questão do condomínio no sentido de qualidade
de vida, visto que os moradores estão em conflitos constantes..
No condomínio de Locação Social, o Estado fornece a moradia para a população
que reside em condições de vulnerabilidade social, ganha menos de três salários
mínimos, não tendo condições de ter e manter uma moradia adequada, por este motivo
concordamos com Vasconcelos na questão que a habitação é um requisito fundamental
para qualidade de vida e seu envolvimento com fatores políticos e econômicos,
informação esta confirmada na prática de estágio.
Para Vasconcelos (2008), falar em subjetividade é falar em corpo como um todo,
uma presença no mundo e falar desta presença é falar de sua apresentação sexuada no
mundo atravessar todas as outras apresentações, econômicas e culturais. Dividindo as
analogias corpo-casa, em analogias estruturais e analogias funcionais resultando nos
papéis de gênero e dos estereótipos sexuais nas comparações feitas pelos sujeitos, a uma
estreita relação entre habitar na casa e habitar no corpo, relação vivida diferentemente
por mulheres e homens.
Nos homens a casa entra na categoria do simbólico, conotando orgulho e nas
mulheres a casa entra na categoria do sintomático, que fica exposto a forças naturais,
feitiçarias, invasões, doenças e solidão. Sendo que esta pregnância simbólica da
habitação no psiquismo é muito importante para o deciframento de sintomas individuais
e explicação de comportamentos grupais.
Entendemos que o condomínio entra na categoria do sintomático, pois de acordo
com relato dos moradores o espaço doméstico, fica exposto, sem defesa de forças tanto
sociais, como inveja, controle dos vizinhos, quanto naturais e sobrenaturais. Temos
como hipótese que pode ser sintomático por ter a maioria de seus moradores do sexo
feminino, corroborando novamente com Vasconcelos nas analogias corpo-casa
resultando nos papéis de gênero.
Segundo Vasconcelos (2008), a transparência social da habitação só têm sentido
se for acessível ao habitante e não apenas ao investigador, essa situação é comum em
aglomerados urbanos e repercute diretamente na saúde, o bem estar físico e emocional,
os relacionamentos afetivos e sociais.
No condomínio existe a transparência social, porém, não tem sentido, porque
apenas os investigadores tem acesso e consciência sobre seu habitat, sua estrutura, os
sistemas sociais, porque os modelos oferecidos lhe são alheios, a moradia cedida teve
um plano, foi tombada e restaurada para moradia, contudo sem participação dos
moradores, pois não sabiam os planos e não puderam optar pela reforma, ou qualquer
necessidade habitacional, identificamos em campo que o prédio não foi construído ou
planejado para morar crianças e idosos, contudo foi disponibilizados para famílias que
possui em sua composição crianças e idosos, em nosso projeto temos como objetivo
tornar os moradores conscientes de seu habitat para que possam decidir nos planos e
necessidades habitacionais, assim dando sentido a transparência social da habitação.
Sampaio e Neto (2007), delimitam algumas funções ao mediador de conflitos,
como acolher os mediados, facilitar a comunicação, neutralizar comportamentos
repetitivos, orientar para o futuro com base no presente tendo respeito pelo passado,
entre outros. Acreditamos que o respaldo maior de atuação no condomínio, está pautado
nessas questões, pois pelo que observamos em nossas visitas, nos relatos a comunicação
é um problema muito grande entre os moradores, e os comportamentos são já são
rotulados por serem repetitivos, as pessoas não conseguem se orientar sozinhas para o
futuro, porque além de não respeitar o passado, estão presas no presente
De acordo Sampaio e Neto (2007), a mediação comunitária, permite facilitar a
articulação política, institucional e social, e é nesse objetivo que queremos atuar com a
comunidade Locação Social, para que através dessa articulação, eles juntos consigam
trabalhar conscientes para conseguirem alcançar os objetivos que almejam, sabendo se
comunicarem e respeitando uns aos outros, para que assim possam se orientar para o
futuro e se desprenderem do presente.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estágio de psicologia institucional/comunitária foi considerado um grande
aprendizado, visto que conhecemos uma comunidade, portadora de muitos conflitos, e
conseguimos criar um vínculo com os moradores, através das entrevistas domiciliares,
levantarmos as demandas trazidas pelos moradores e construírmos um projeto com
objetivo de melhorar a qualidade de vida dos moradores do condomínio.
Com essa vivência, foi possível entendermos o que estava em jogo no conflito,
as posições das pessoas envolvidas e porque elas não conseguiam resolver os seus
conflitos sem ajuda, visto que diante da ação ou o movimento conflituoso, os
moradores não conseguiam tomar consciência do que estava em jogo, contudo a nossa
mediação, foi extremamente relevante para esse processo de reflexão dos mesmos.
10 REFERÊNCIAS
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LANE, S. T. M. O Que é Psicologia Social ?, 5. reimpr. da 22. ed. 1994. São Paulo: Brasiliense, 2004. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa, 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 1990. SAWAIA, B.B.; LANE, S.T.M. Novas veredas da Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, 1995. SAMPAIO, L. R.C.; NETO, A.B. O que é mediação de conflitos. São Paulo: Brasiliense, 2007.
SEIDEL, Daniel (Org.) Mediação de Conflitos: a solução de muitos problemas pode estar em suas mãos. Brasília: Vida e Juventude, 2007. SINGER, P. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2007. VASCONCELOS, N.A. Qualidade de vida e habitação. In: CAMPOS, R.H.F. Psicologia social comunitária: da solidariedade à autonomia. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.