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TATIANA DE ARRUDA ORTIZ
Influência do operador e do reanimador manual na
manobra de hiperinsuflação manual: estudo em
simulador do sistema respiratório
Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina para obtenção do título de Mestre em Ciências
Área de concentração: Fisiopatologia Experimental
Orientador: Dr. Mauro Roberto Tucci
SÃO PAULO
2008
Agradecimentos
Primeiramente, existem duas pessoas a quem tenho extremo carinho,
consideração, respeito, e, me ensinaram muito: Dr. Mauro Tucci e Prof.
Germano Forti:
À vocês, o meu MUITO OBRIGADA pelo incentivo, força, paciência, cuidado, generosidade e competência; Á minha família, em especial, meus pais, torcendo e sofrendo comigo desde o início; me apoiando, e incentivando a cada minuto; obrigada pelos conselhos e palavras de carinho! Vocês são os pais que qualquer filho gostaria de ter! Obrigada por vocês existirem! Á vovó Alzira (IM), que com certeza torce por mim e, de alguma forma, está ao meu lado; Ao avô Paulo, pelo orgulho que sente de sua neta; Ao meu namorado Flaubert Luiz, pelo seu amor, compreensão, tolerância e paciência; Aos amigos fisioterapeutas voluntários, porque sem eles esse trabalho não teria sido realizado; Eli e Josi, amigas do coração, que estiveram presentes desde o início dessa etapa; Aos colegas de trabalho do HGP, em especial à Rita, pela compreensão; À Marcinha, que me ajudou muito na qualificação, clareando minhas idéias; À amiga Mariles, pela colaboração na revisão gramatical; E graças a Deus por ter colocado no meu caminho essas pessoas tão especiais.
ORTIZ TA. Influência do operador e do reanimador manual na manobra de
hiperinsuflação manual. Estudo em simulador do sistema respiratório.
[dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São
Paulo; 2008, 84p.
Introdução: A hiperinsuflação manual (HM) é uma técnica comum para facilitar a remoção de secreção traqueal de pacientes em UTI, e teoricamente, deveria ser realizada com uma insuflação lenta. Muitos fisioterapeutas não realizam a manobra com a insuflação lenta e os reanimadores manuais (RM) fabricados no Brasil possuem válvula de alívio de pressão, que não pode ser fechada na grande maioria desses dispositivos. Objetivos: Avaliar, em modelo mecânico, a influência da manobra de HM no volume corrente, picos de fluxo inspiratório e expiratório, e pressões alveolar e proximal por oito fisioterapeutas brasileiros, utilizando dois tipos de RM (com e sem válvula reguladora de pressão), de acordo com duas situações [conforme a “prática clínica” (PC) e após orientação de realizar a HM com a insuflação lenta, chamada de “recomendada pela literatura” (RL)], e em três cenários clínicos simulados (paciente normal, restritivo e obstrutivo). Resultados: Seis dos 8 fisioterapeutas realizaram a técnica com mais de duas insuflações; as pressões proximais geradas na situação RL foram menores devido aos menores picos de fluxo inspiratório. Os valores de pressões alveolares foram menores que 42,5 cmH2O (mediana = 13,9; intervalo interquartil:10,2-20,3) mesmo com altas pressões proximais (máximo 96,6 cmH2O, mediana 31,4; 19,2-44,8). Os volumes correntes foram menores do que os encontrados na literatura pesquisada (mediana = 514mL; 410-641). Os picos de fluxo inspiratórios (1,32; 0,92-1,80) foram maiores que os expiratórios (0,88; 0,54-1,13) em quase todas as medidas. O pico de fluxo expiratório se correlacionou com o volume corrente: em cada cenário, os menores picos de fluxo expiratórios estavam correlacionados com baixos volumes correntes. Pressões, volumes e fluxos foram mais baixos com o RM com válvula reguladora de pressão. Conclusão: A manobra de HM foi realizada de forma diferente da preconizada na literatura; o RM com válvula reguladora de pressão gerou menores volumes, pressões e fluxos na maior parte dos cenários; as pressões proximais geradas não determinam, necessariamente, risco para o paciente, pois as pressões alveolares se mantiveram baixas.
Descritores: Modalidades de fisioterapia, hiperinsuflação manual, teste de
materiais, terapia respiratória
ORTIZ TA. Influences of operator and manual resuscitator on manual
hyperinflation maneuver. A lung model study. [dissertation]. São Paulo:
“Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2008, 84p.
Background: Manual hyperinflation (MH) is a common technique used for removing pulmonary secretions in ICU and theoretically should be performed with a slow inflation. Many Brazilian respiratory therapists do not perform the maneuver with a slow inflation and manual resuscitators (MR) made in Brazil have pressure relief valve (PRV) which in many of them cannot be closed to perform MH. Objectives: evaluate, in a lung model, the influence on tidal volume, inspiratory and expiratory peak flow, proximal and alveolar pressures of MH performed by eight Brazilian respiratory therapists using two types of MR (with and without pressure relief valve), in two manners [like clinical practice (CP) and after orientation to perform MH with a slow inflation, named “literature recommended” (LR)] and in three clinical simulated scenarios (normal, restrictive and obstructive patient). Results: Six of 8 respiratory therapists performed MH with two or more inflation. After instruction proximal pressure generated was lower because of the slower inspiratory peak flow. The alveolar pressure values were lesser than 42.5 cmH2O (median = 13.9; interquartile range: 10.2-20.3), despite of high proximal pressure (max 96.6 cmH2O, median 31.4; 19.2-44.8). Inspiratory tidal volume were smaller than other reports (median=514mL; 410-641). Inspiratory peak flow (1.32; 0.92-1.80) were higher than expiratory (0.88; 0.54-1.13) in almost all measurement. Expiratory peak flow was correlated with tidal volume: for each scenario, the low expiratory peak flow was mainly generated by small tidal volume. Pressures, volumes and flows were lower with MR that uses PRV. Conclusion: In this small sample of respiratory therapists, MH was done different that literature recommends; MR whit pressure limiting system generate lower tidal volume, pressures and peak pressures in most scenarios; proximal pressure generated not determine, necessarily, risk for patient, because alveolar pressure was maintained low.
Descriptors: Physical therapy modalities, manual hyperinflation, materials
testing, respiratory therapy.
SUMÁRIO
Resumo
Summary
1. INTRODUÇÃO................................................................................... 02
1.1. Reanimadores Manuais.................. 03
1.2. Remoção de secreções de pacientes em ventilação mecânica................................................................................ 07
1.3. Hiperinsuflação manual .......................................................... 09
1.4. Hiperinsuflação manual nas UTIs brasileiras......................... 15
2 .OBJETIVOS..................................................................................... 18
3. MÉTODOS....................................................................................... 20
3.1. Sistema de aquisição de dados............................................. 21
3.2. Teste de manobra de hiperinsuflação manual....................... 22
3.3. Variáveis analisadas.............................................................. 26
3.4. Análise estatística.................................................................. 30
4. RESULTADOS.................................................................................. 32
4.1. Análise da manobra de hiperinsuflação manual.................... 32
4.1.1. Pressões geradas.................................................... 36
4.1.2. Análise dos fluxos.................................................... 42
4.1.3. Volume corrente....................................................... 51
4.1.4. Análise do tempo inspiratório................................... 53
5. DISCUSSÃO 56
5.1. Simulador do sistema respiratório........................................ 56
5.2. Variações entre a manobra realizada pelos voluntários e o modo como se sugere que seja executada....................... 58
5.3. Influência do reanimador manual........................................... 62
5.4. Variação do tempo inspiratório.............................................. 63
5.5. Volume corrente durante a manobra..................................... 64
5.6. Pressões nas vias aéreas durante a manobra........................ 65
5.7. Variações dos fluxos inspiratório e expiratório....................... 68
5.8. Limitações do estudo............................................................. 73
5.9. Importância dos achados para a prática clínica..................... 75
6. CONCLUSÕES.................................................................................. 80
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................. 81
1. INTRODUÇÃO
2
1. INTRODUÇÃO
Os reanimadores manuais (RM), ressuscitadores manuais ou
“ambu” * são comumente utilizados em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
para otimizar a oxigenação (através do incremento do volume corrente que
pode reverter atelectasias), facilitar a remoção de secreção traqueal em
pacientes em ventilação mecânica invasiva (VM), transportar pacientes
dentro do hospital e ventilar temporariamente paciente que precise ser
desconectado do ventilador mecânico, por exemplo, durante a parada
cardiorrespiratória ou durante mau funcionamento do ventilador mecânico
(Dorsch e Dorsch, 1994; Rusterholz e Ellis, 1998; Stiller, 2000; Maxwell e
Ellis, 2002).
Uma das técnicas realizadas nas UTIs pelos fisioterapeutas, usando o
reanimador manual, é a hiperinsuflação manual (HM), para auxiliar na
remoção de secreções e para reexpansão de atelectasias (Rusterholz e
Ellis, 1998; Denehy, 1999; Stiller, 2000; Maxwell e Ellis, 2002). Apesar das
diversas controvérsias sobre essa técnica, quanto à segurança e eficácia em
pacientes intubados (McCarren e Chow, 1996; Denehy, 1999; Turki et al.,
2005), ela é muito utilizada por profissionais que trabalham em UTI (King e
Morrel, 1992; Hodgson et al., 1999; Branson, 2007).
Sabe-se que seus resultados são influenciados por diversos fatores,
como o tipo de reanimador manual utilizado e o profissional que a
realiza (Hess e Spahr, 1990; Rusterholz e Ellis, 1998; Maxwell e Ellis, 2002;
* marca registrada de reanimador e denominação utilizada por profissionais no Brasil como
sinônimo de reanimador manual
3
Maxwell e Ellis, 2003; Maxwell e Ellis, 2004). Nesta introdução, será feita
uma revisão sobre tópicos relativos aos reanimadores manuais e à manobra
de hiperinsuflação manual para se justificarem os objetivos deste estudo.
São eles: avaliar, em simulador do sistema respiratório, a influência sobre os
fluxos (inspiratório e expiratório), volume corrente e pressões (proximal e
alveolar) através do modo como a manobra é realizada por oito
fisioterapeutas utilizando dois tipos de RM (um com válvula limitadora de
pressão e outro sem).
1.1. Reanimadores manuais
Os reanimadores manuais (RM) são equipamentos que incorporam
uma bolsa cuja função é ventilar manualmente o paciente. Podem ser
classificados de acordo com sua forma de enchimento: auto-infláveis ou
infláveis por fluxo (White, 2005; Godoy et al., 2008) (figura 1) e em
descartáveis ou não (White, 2005; Godoy et al., 2008). Nas UTIs brasileiras,
geralmente são utilizados os auto-infláveis. Um RM auto-inflável geralmente
é composto de um balão compressível e auto-inflável, uma válvula para
reenchimento do balão e uma válvula inspiratória/expiratória (válvula para o
paciente) (Dorsch, 1994; Godoy et al., 2008).
Equipamentos para ventilação manual, que podem ser adaptados a
uma via aérea artificial ou máscara facial, são fabricados desde o
século 18 (Colice, 2006). No entanto, devido ao temor de barotrauma, esses
dispositivos para ventilação com pressão positiva foram temporariamente
banidos da prática médica no final do século 18 e somente passaram a ser
utilizados rotineiramente no século 20 (Colice, 2006).
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Figura 1 - Exemplos de RM inflável por fluxo (a esquerda) e auto-inflável (a
direita) #
A ventilação manual com uso de RM teve papel importante no
tratamento de pacientes durante a epidemia de poliomielite no ano de 1952
em Copenhague (Colice, 2006). A partir dos conhecimentos obtidos nesta
epidemia, houve uma grande revolução no tratamento dos pacientes com
insuficiência respiratória e expressivo desenvolvimento de equipamentos
para ventilação com pressão positiva (Colice, 2006). Em 1955,
Ruben (Ruben, 1955; Ruben, 1957), em colaboração com a empresa
Ambu®, desenhou o primeiro RM leve (figura 2), portátil, auto-inflável e com
uma nova válvula unidirecional para não-reinalação, o qual minimizava os
problemas encontrados nos RMs antigos que necessitavam de oxigênio
(fluxos entre 10 e 15L/min) e da utilização das duas mãos do operador
simultaneamente para o seu funcionamento: uma para a manipulação da
bolsa e a outra para fechar a porta exalatória da válvula. Os RMs auto-
infláveis produzidos atualmente são, de certo modo, semelhantes a este
equipamento fabricado na década de 50 (figura 2).
# Disponível em: soa.group.shef.ac.uk/museum/mapleson_5.html;
www.grupovida.com.br/sbv_princ.htm [em 03 out 2008].
5
Figura 2 - Primeiro reanimador da marca Ambu com válvula de não-
reinalação (inspiratória/expiratória) fabricado na década de 50 (à esquerda)
e RM atual da mesma marca (à direita) ∗
Os RMs auto-infláveis utilizam válvula de não-reinalação (ou válvula
inspiratória/expiratória, ou válvula para o paciente, ou unidirecional) para
direcionar o fluxo para o paciente quando a bolsa é insuflada e direcionar o
fluxo para a atmosfera durante a exalação (Hess, 1999). Os três tipos mais
usados são: “disco e mola”, “diafragma”, também chamada de válvula tipo
“flap” ou “cogumelo”, e “bico de pato”.(Dorsch, 1994; Hess, 1999). Ao RM
pode ser acoplada, na porta expiratória, uma válvula de PEEP. À válvula do
paciente também pode ser incluída uma válvula limitadora de pressão e,
também, adaptado um manômetro para a monitorização da pressão proximal
(Hess, 1999).
Um RM inflável por fluxo somente funciona através de uma conexão
com fluxo contínuo (Godoy et al., 2008), o que o diferencia do tipo auto-
∗ Disponível em: http://www.ambu.com/RespiratoryCare/Respiratory_Care/Brochures.aspx
[em 03 out 2008].
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inflável, que é capaz de se reexpandir após sua compressão sem a
necessidade de receber um fluxo contínuo. No Brasil, os RMs infláveis por
fluxo são usados em anestesia, diferente de outros países, como na
Austrália, onde são usados também na UTI, por exemplo, para realizar a
manobra de HM (Maxwell e Ellis, 2004). Os resultados da manobra realizada
com um ou outro tipo de RM vão depender da experiência do operador, da
familiaridade com o equipamento e do treinamento da técnica (Denehy,
1999).
Em alguns países existem normas a serem seguidas pelos fabricantes
de reanimadores manuais. A “American Society of Testing Materials –
Designation: F920-93” (ASTM, 1993) que inclui a norma ISO (International
Organization for Standardization - International Standard 8382) (ISO,1988)
preconiza que os seguintes quesitos sejam atendidos:
• Resistência de válvula exalatória ≤ 5 cmH2O/L/seg para um fluxo
de 50 L/min.;
• Resistência de válvula inspiratória ≤ 5 cmH2O/L/seg para um fluxo
de 50 L/min.;
• Não utilização de válvulas de alívio de pressão para reanimadores
manuais adulto e, caso tenham, que elas possam ser fechadas;
• Avaliação do volume de ar entregue pelo reanimador usando
simulador do sistema respiratório (ajustado com resistência de
20 cmH2O/L/seg e complacência de 0,02 L/cm H2O):
7
- Volume corrente ≥ a 600ml para um paciente ≥ a 40 kg de
massa corpórea (ASTM,1993).
Alguns autores avaliaram diferentes RMs e constataram variação do
volume corrente insuflado, pico de pressão e pico de fluxo dependendo do
RM usado, do diâmetro do tubo traqueal, da impedância do sistema
respiratório (complacência e resistência), e do número (uma ou duas) e
tamanho de mãos utilizadas para comprimir o reanimador (Eaton, 1984;
Hess e Spahr, 1990; Hess, 1999; Maxwell e Ellis, 2002). Os diferentes RMs
também apresentam variação na FIO2 do ar insuflado e na resistência da
válvula exalatória (Eaton, 1984; Hess, 1999).
No Brasil não existe, até o momento, norma técnica específica para
fabricação dos reanimadores manuais. A maioria dos reanimadores adultos
nacionais dispõe de válvula reguladora de pressão, item não exigido pela
ASTM. Em muitos, essa válvula limitadora de pressão não pode ser fechada.
A diretriz da AHA (2000) recomenda que o reanimador ou não tenha válvula
ou, caso tenha, que ela possa ser fechada. A ASTM F920-93 preconiza
como essencial que os reanimadores manuais contendo esse dispositivo
sejam capazes de ofertar um volume corrente satisfatório, ou seja, ≥ 600ml.
1.2. Remoção de secreções de pacientes em ventilação mecânica
Pacientes sob ventilação mecânica têm o risco de retenção de
secreção por uma série de fatores: a intubação endotraqueal prejudica o
funcionamento dos cílios, o que os predispõe à infecção, pois aumenta o
volume e viscosidade do muco; os pacientes confinados no leito estão
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susceptíveis à formação de atelectasias porque a eficiência da tosse fica
prejudicada devido a procedimentos como cirurgia torácica ou abdominal
alta ou aos quadros neurológicos (rebaixamento de consciência e coma); a
fraqueza muscular do paciente de UTI associada à imobilidade e a
neuromiopatia de diversas causas (infecção etc.), também pode contribuir
para o acúmulo de secreção pulmonar (Branson, 2007).
Nos pacientes em ventilação mecânica, a secreção pulmonar retida
nas vias aéreas pode ser expelida pela tosse e também pela aspiração
traqueal (Windsor et al., 1972). Dois fatores impedem a eliminação das
secreções: o acúmulo de secreção em vias aéreas distais (alvéolo e
bronquíolos) e a incapacidade de o paciente tossir efetivamente, como em
casos de dano cerebral, sedação e dor após cirurgia (Windsor et al., 1972).
A tosse efetiva depende da habilidade em direcionar o fluxo
expiratório em uma alta velocidade linear através das vias aéreas, além da
interação entre o fluxo de gás e o muco. Esses eventos dependem da
capacidade dos músculos respiratórios em aumentar a pressão intratorácica,
e da compressão dinâmica das vias aéreas (McCool, 2006).
Atualmente, as técnicas de fisioterapia mais utilizadas em pacientes
com via aérea artificial sob ventilação mecânica baseiam-se no mecanismo
de variação do fluxo respiratório. O Consenso de Lyon (2001) define as
técnicas que utilizam aumento do fluxo expiratório como sendo realizadas a
partir de uma expiração ativa, ativa – assistida, ou passiva, com volume
pulmonar mais ou menos alto, em que a velocidade, força e duração podem
variar.
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Segundo Kim et al. (1987), a velocidade de transporte do muco numa
direção é governada pelo maior pico de fluxo; um fluxo expiratório 10%
maior que o pico de fluxo inspiratório, ou uma relação fluxo inspiratório /
fluxo expiratório menor que 0,9 seria capaz de criar um gradiente de fluxo no
sentido expiratório, podendo assim mobilizar as secreções pulmonares para
as vias aéreas mais proximais. Um estudo (Volpe et al., 2008) que avaliou o
transporte de “muco artificial” em modelo de via aérea simulada através de
um tubo plástico mostrou que o transporte do muco é dependente da
diferença entre o fluxo expiratório e inspiratório, isto é, quanto maior o fluxo
expiratório em relação ao inspiratório melhor o transporte.
1.3. Hiperinsuflação manual
A principal técnica fisioterapêutica que se baseia no mecanismo de
variação do fluxo respiratório, indicada para pacientes sob ventilação
mecânica com objetivo de auxiliar na remoção de secreções, é denominada
de “hiperinsuflação manual” (HM) (Maxwell e Ellis, 2002; Maxwell e Ellis,
2003; Maxwell e Ellis, 2004; Savian et al., 2005; Maxwell e Ellis, 2007). A HM
pode ser associada com a compressão torácica e aspiração traqueal
conforme a descrição original da manobra denominada “Bag-
Squeezing” (Clement e Hubsch, 1968; Windsor et al., 1972) ou não (HM sem
compressão torácica).
Essa técnica é freqüentemente usada em UTIs pois se acredita que
melhore a complacência pulmonar (McCarren e Chow, 1996; Stiller, 2000)
(por reversão do colapso pulmonar), aumente o volume de secreções
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aspiradas (pelo aumento do fluxo expiratório) e possa reduzir o risco de
pneumonia associada à VM (Stiller, 2000; Savian et al., 2005). É
recomendada para remoção de secreção alveolar e brônquica em pacientes
não cooperativos e para reversão de atelectasias.
Existem variações na denominação dessa técnica. Há autores que
definem a compressão da caixa torácica na expiração sem a utilização da
hiperinsuflação com o RM como outra técnica para mobilizar secreção,
chamada de “squeezing” (Unoki et al., 2003; Unoki et al., 2004). Alguns
deles se referem à técnica de HM sem compressão torácica com outra
denominação, como “ventilação manual” com intuito de otimizar a
oxigenação (Turki et al., 2005) ou como “hiperventilação manual” (Clarke et
al., 1999) com objetivo de mobilizar secreções.
De modo geral, quando a técnica é utilizada para auxiliar na remoção
de secreções, seu objetivo é simular uma “tosse artificial”, através da
geração de um grande volume corrente e um de fluxo expiratório alto o
suficiente para mobilizar as secreções para as grandes vias aéreas onde
possam ser aspiradas. Isso impediria a formação de “rolhas” de secreção e,
por conseqüência, poderia reduzir o risco de pneumonia hospitalar em
pacientes intubados (Maxwell e Ellis, 2002; Savian et al., 2005).
A HM com compressão do tórax ou “Bag-squeezing” foi descrita,
primeiramente, em 1968 (Clement e Hubsch, 1968; Windsor et al., 1972).
Segundo esses autores era necessário que o RM entregasse um VT alto
(4L) para que houvesse a máxima insuflação do tórax, sendo que a
insuflação da bolsa não precisava ser rápida, e que fosse feito um platô de 1
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segundo para recrutar as unidades alveolares colapsadas, pois com um
tempo inspiratório curto, sem platô, somente seriam ventilados alvéolos
normais. Em seguida, o fisioterapeuta aplicava a compressão no tórax do
paciente a partir do final do platô inspiratório até o final da expiração. Por
fim, a técnica era finalizada com a aspiração traqueal.
Windsor et al. (1972), definiu melhor a técnica: envolve três
profissionais os quais, de forma coordenada, possibilitam a realização da
manobra. Primeiramente realiza-se uma manobra de HM, de forma lenta e
profunda, seguida de uma pausa inspiratória de 1 a 2 segundos. Durante
toda a fase expiratória, outro profissional realiza a compressão torácica
manual com objetivo de aumentar o fluxo expiratório e otimizar a simulação
da tosse. Quanto maior o sincronismo entre a liberação do RM e o início da
compressão torácica, maior será sua efetividade. Em seguida, o terceiro
profissional realiza o procedimento de aspiração, com técnica asséptica, não
excedendo 20 segundos de execução, sendo aplicada a cada 5 a 6 ciclos de
insuflação e compressão.
Para este autor (Windsor et al., 1972) a insuflação do RM, de forma
lenta e profunda, deve gerar pressões entre 20 a 40 cmH2O, para ofertar um
volume de aproximadamente 1L com fração inspirada de oxigênio de 1,
seguida de uma pausa de 1 a 2 segundos, sendo que a expiração ocorre
pela descompressão do RM de forma rápida.
Em uma revisão recente sobre a técnica de HM, Denehy (1999)
define a hiperinsuflação como uma inspiração lenta e profunda através da
compressão do RM, gerando pressões entre 20 a 40 cmH2O, após
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desconexão do ventilador, para se obter o aumento do volume corrente (VT),
seguida de uma pausa inspiratória por 1 ou 2 segundos, para o
preenchimento alveolar, e, por fim, uma fase expiratória, que se caracteriza
pela descompressão rápida do RM (“rapid release”) para determinar um
aumento no fluxo expiratório, simulando a tosse, que permitiria a mobilização
de secreção traqueal.
Outros autores procuraram definir a técnica de HM torácica de outros
modos: VT maior do que o VT do paciente no ventilador (McCarren e Chow,
1996); VT deve ser 50% maior do que o ajustado no ventilador (Singer et al.,
1994).
A freqüência do uso da HM entre os fisioterapeutas é variável
conforme o país e sua região. Hodgson et al. (1999) avaliaram a freqüência
de utilização desta manobra em 32 UTIs da Austrália e constataram que
91% dos fisioterapeutas entrevistados utilizavam a HM no tratamento
fisioterapêutico, mas sem uma monitorização adequada, pois somente 31%
dos entrevistados avaliavam a pressão de via aérea durante a manobra. Os
autores discutem que não existe consenso ou “guideline” que definam a
melhor forma de praticar a técnica de HM. Outro estudo (King e Morrel,
1992) avaliou o uso da HM entre os fisioterapeutas de 176 hospitais do
Reino Unido e observou que todos os entrevistados faziam uso regular de
HM como técnica fisioterapêutica, principalmente para remoção de
secreções. Os autores sugerem que alguns pacientes podem estar
recebendo a manobra de HM inapropriadamente. Segundo Branson (2007),
a HM com o intuito de remoção de secreção pulmonar é prática comum no
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Reino Unido e em algumas colônias da Ásia, mas, nos Estados Unidos, não
é comumente utilizada.
Ainda não existe consenso sobre a real eficácia da HM na prática
clínica e quais são, precisamente, suas indicações. Uma revisão (Robson,
1998) que questiona se a HM deve ou não ser aplicada em UTI relata que
existe muita variação no modo de realizar a HM nos diversos estudos e que
faltam estudos mais fundamentados que mostrem os benefícios e os efeitos
da técnica.
Denehy (1999) em sua revisão sobre o papel da HM na remoção de
secreções conclui que, apesar da popularidade da técnica, os estudos sobre
seu uso são conflitantes, com amostras pequenas e metodologias falhas.
Afirma, também, que é difícil comparar tais estudos devido à variedade de
técnicas de HM empregadas, às diferentes populações estudadas e, ainda, à
freqüente associação de HM a outros procedimentos no tratamento do
paciente como posicionamento, drenagem postural e vibração.
Na revisão realizada por Stiller (2000), sobre fisioterapia em terapia
intensiva, a autora relata que os efeitos da técnica a longo prazo, seu papel
na resolução da doença pulmonar e na prevenção de complicações foram
pouco estudados. Esta autora classifica sua aplicação em UTI como
“evidência moderada”, justificando que seus benefícios na função
respiratória são alcançados por um curto período de tempo e que, devido
aos efeitos hemodinâmicos que ela promove, devem-se monitorizar as
pressões e o volume corrente gerados durante sua aplicação para detectar
possíveis efeitos deletérios durante sua utilização na prática clínica.
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Em uma revisão mais recente sobre manejo das secreções
respiratórias em pacientes em ventilação mecânica, Branson (2007) relata
que a evidência da eficácia da manobra de HM é escassa e que vários
estudos têm mostrado melhora na complacência e oxigenação (Berney e
Denehy, 2002; Jones, 2002; Berney et al., 2004; Choi e Jones, 2005;
Hodgson et al., 2007), mas as conclusões sobre a quantidade de secreção
eliminada com a técnica de HM ainda são inconsistentes.
Existem estudos que questionam o segurança da manobra do modo
habitualmente realizado na prática clínica. Turki et al (2005) avaliaram o pico
de pressão, volume corrente, e a freqüência respiratória gerada por
fisioterapeutas durante a HM como forma de otimizar a oxigenação em
modelo mecânico, através de diferentes situações de mecânica respiratória,
e constataram que o pico de pressão gerado às vezes excedia 100cmH2O,
aumentando os questionamentos sobre risco de barotrauma. Clarke et al
(1999) avaliaram pressão de pico e volume corrente em 25 pacientes
durante a HM para mobilização de secreção pulmonar e constataram que a
média de pressão proximal foi de 51,5cmH2O, e concluem que a técnica
determina risco de barotrauma em pacientes com pulmão susceptível.
Um estudo (Maxwell e Ellis, 2003) analisou a performance dos
fisioterapeutas ao realizarem a técnica HM em um simulador do sistema
respiratório e verificou que a fase inspiratória da manobra varia bastante, e é
freqüentemente diferente da preconizada. Além disso, foi observado que o
tipo de circuito influencia o pico de fluxo inspiratório e expiratório, e também
o volume corrente obtido com os reanimadores manuais testados.
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1.4. Hiperinsuflação manual nas UTIs brasileiras
Observamos, na prática clínica, que os fisioterapeutas da cidade de
São Paulo utilizam com freqüência a HM em UTI como técnica de remoção
de secreção pulmonar, mas de forma diversa daquela preconizada pela
literatura sobre fisioterapia (insuflação lenta seguida de pausa inspiratória).
Não conhecemos estudos nacionais que avaliem como os
fisioterapeutas realizam a manobra de HM no Brasil e se há diferenças entre
a manobra feita habitualmente na prática clínica e o modo como é
recomendado pela literatura. Além disso, conforme dissemos anteriormente,
a maioria dos RMs nacionais têm válvula limitadora de pressão que
normalmente não pode ser fechada. Esses RMs foram pouco testados em
estudos nacionais e nunca foi feita uma comparação entre RM com e sem
válvula limitadora de pressão ao se realizar a HM. Do mesmo modo, os
estudos anteriores, em simuladores do sistema respiratório, geralmente
avaliam apenas pressão proximal, mas não a pressão alveolar, que
realmente reflete o risco de barotrauma. Para abordar alguns desses tópicos
realizamos este estudo.
Nosso objetivo é avaliar, em simulador do sistema respiratório,
através de variadas situações de complacência e resistência pulmonar, a
influência sobre os fluxos, pressões e volume corrente produzidos por uma
amostra de oito fisioterapeutas ao realizar a HM do modo habitual que a
fazem em sua prática clínica e, após orientação, do modo recomendado
pelos especialistas na área utilizando, em cada uma das situações, dois
16
diferentes reanimadores manuais, um com e outro sem válvula reguladora
de pressão.
2. OBJETIVOS
18
2. OBJETIVOS
• Avaliar as pressões determinadas, proximal e alveolar, bem como os
volumes e fluxos gerados pela manobra de hiperinsuflação com
objetivo de remoção de secreção pulmonar, em simulador do
sistema respiratório, por uma pequena amostra de fisioterapeutas:
- Avaliar se são geradas elevadas pressões alveolares e proximais
durante a manobra, que poderiam estar associadas ao maior risco
de barotrauma;
- Verificar se existe diferença entre a manobra preconizada pela
literatura e a realizada na prática clínica;
- Avaliar a influência de dois reanimadores manuais sobre a
manobra de HM, um com válvula e outro sem válvula limitadora
de pressão.
3. MÉTODOS
20
3. MÉTODOS
O estudo foi realizado no Laboratório Experimental de Ventilação
Mecânica do Serviço de Pneumologia do Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo.
Foram recrutados oito voluntários fisioterapeutas graduados no Brasil,
sendo quatro homens e quatro mulheres, com no mínimo dois anos de
experiência em UTI, que atuaram operando os reanimadores manuais em
modelo mecânico. Os dados referentes aos fisioterapeutas estão no quadro
1.
Quadro 1- Referência dos fisioterapeutas recrutados
Fisioterapeuta Universidade Conclusão do curso
Tempo UTI
Peso Altura
1 PUC (Campinas-SP) 2002 3 anos 53 kg 1,53m
2 UMESP (São Bernardo
do Campo - SP) 2001 4 anos 50 Kg 1,55m
3 Universidade de
Cuiabá (Cuiabá-MT) 2002 3 anos 50 Kg 1,62m
4 UMESP (São Bernardo
do Campo - SP) 2002 3 anos 63 Kg 1,63m
5 Fac. Sta. Terezinha
(São Luiz- MA) 2003 2 anos 88 Kg 1,80m
6 UMESP (São Bernardo
do Campo - SP) 2003 2 anos 72 Kg 1,76m
7 UNICASTELO
(Descalvado - SP) 2003 2 anos 115 Kg 1,78m
8
Fac. de Ciências Médicas de Belo Horizonte (Belo Horizonte - MG)
2003 2 anos 65 Kg 1,76m
21
3.1. Sistema de aquisição de dados
Foi utilizado um simulador do sistema respiratório (TTL 1600 -
Michigan Instruments, Grands Rapids, MI) composto de 2 foles aos quais
foram conectados circuitos plásticos que se uniam através de uma peça
plástica em Y a um tubo plástico onde foram conectados os sensores e o
RM (figura 1). Três sensores (um de fluxo e dois de pressão) foram
utilizados no experimento. Esses sensores tinham seus sinais amplificados
para serem capturados por um microcomputador. Esse simulador permite
ajuste da complacência dos foles através de molas. Para o ajuste da
resistência foram utilizados resistores com diâmetros internos variados que
foram colocados entre o reanimador e o simulador.
Para aquisição dos dados foi utilizado um microcomputador com
placa de aquisição de dados analógico-digital (PCI-Mio-16XE-50, National
Instruments, TX), que se conectou a um acessório intermediário (BNC 2090
National Instruments, TX), que, por sua vez, estava ligado a um amplificador
de sinais (Model CD-280, Validyne, CA). O sinal proveniente do amplificador
foi convertido em dados de pressão e fluxo através de um aplicativo
desenvolvido no software Labview (National Instruments, TX), sendo cada
medida armazenada em disco magnético para posterior análise. A
freqüência de amostragem do sinal foi de 200 Hz.
A calibração de cada transdutor foi realizada uma vez por dia. A
calibração do transdutor de pressão foi realizada fornecendo-se um valor
“zero” (transdutor aberto para a atmosfera) e um valor referência de
22
40 cmH2O através de uma coluna d’água. A calibração do fluxo foi realizada
fornecendo-se um valor “zero” (pneumotacógrafo aberto para atmosfera) e o
valor de referência foi obtido pela técnica de retrocalibração (“back
calibration”). Essa técnica consiste em realizar um ciclo respiratório
(inspiração e expiração) através da insuflação de 0,5 litro de ar no sistema
com uma seringa de alta precisão (Hans Rudolph Inc, MO), sendo que o
aplicativo obtém, por regressão dos pontos adquiridos, uma fórmula para
determinação do fluxo a partir da voltagem do sinal do transdutor. Esse
procedimento de retrocalibração foi repetido tantas vezes quantas
necessárias para obtermos uma calibração com erro menor que 1% do
volume corrente utilizado.
3.2. Teste da manobra de hiperinsuflação manual
Para analisar o desempenho dos fisioterapeutas em relação à
manobra de HM, foram recrutados oito fisioterapeutas, com os critérios
especificados anteriormente.
Selecionamos dois reanimadores para essa etapa: um RM sem
válvula reguladora de pressão (Ambu® Silicone Resuscitator, modelo adulto;
reanimador de silicone, cor semi-transparente azul, reutilizável, capacidade
1500mL, com válvula não-reinalação do tipo diafragma sem válvula
limitadora de pressão; procedência: EUA); e outro com válvula reguladora de
pressão (UNITEC modelo adulto; reanimador polivinil, com capacidade de
1000mL da bolsa, cor verde, reutilizável, com válvula não-reinalação do tipo
23
diafragma, com válvula limitadora de pressão, incapaz de ser fechada;
fabricado no Brasil).
Esses dois RMs foram escolhidos a partir de uma análise prévia de
oito RMs manuais nacionais e importados (dados ainda não publicados),
cinco deles com válvula limitadora de pressão e três sem. A escolha dos
dois RMs se baseou nos resultados das análises, nas quais o RM sem
válvula limitadora de pressão obteve um bom desempenho em todos os
testes e o RM com válvula somente não obteve um bom desempenho no
quesito volume corrente. Optamos pela escolha deste RM nacional por ser
ele muito comum nas UTIs brasileiras, possivelmente devido ao seu baixo
custo em relação à média dos RMs produzidos no Brasil.
As figuras 3 e 4 mostram a disposição do modelo mecânico durante o
teste da manobra de hiperinsuflação manual.
Figura 3 - Teste da manobra de hiperinsuflação manual. 1. sensor de fluxo; 2. sensor de pressão proximal; 3. sensor de pressão alveolar
1 2resistência
3
Computador
Fole
24
Figura 4 - Ilustração do modelo mecânico
O desempenho dos fisioterapeutas foi avaliado com o simulador
ajustado em três cenários de impedância:
1. simulação de paciente sem patologia pulmonar, ou normal:
resistência de 5 cmH2O/L/s e complacência de 0,05 L/cmH2O;
2. simulação de paciente restritivo: resistência de 5 cmH2O/L/s e
complacência de 0,025 L/cmH2O;
3. simulação de paciente obstrutivo: resistência de 20 cmH2O/L/s e
complacência de 0,08 L/cmH2O.
As situações acima foram ventiladas pelos fisioterapeutas
considerando duas situações:
1. ventilação como se o fisioterapeuta estivesse realizando a manobra
de HM conforme sua prática clínica – denominada como PC;
2. ventilação como se o fisioterapeuta estivesse realizando a manobra
de HM conforme recomendada pela literatura, ou seja, com uma
25
insuflação lenta, platô de aproximadamente 2 a 3 segundos, e uma
expiração rápida, simulando a tosse – denominada como RL.
Todos os testes foram realizados com uma cânula orotraqueal número
8,5mm. A figura 5 mostra o fluxograma do estudo.
Figura 5 - Fluxograma do estudo
PC: prática clínica; RL: recomendada pela literatura; RM: reanimador manual
O modelo permaneceu coberto durante todo o procedimento para que
os fisioterapeutas somente visualizassem o “movimento do tórax do
paciente”. Os oito fisioterapeutas estavam em outra sala, e, durante a coleta
dos dados, permaneciam no laboratório somente o fisioterapeuta avaliado,
um membro do estudo que ficou no computador gravando as medidas e
outro membro que constantemente dava a voz de comando ao
fisioterapeuta, explicando qual a situação clínica do “paciente” (restritiva,
normal e obstrutiva) e de que modo o fisioterapeuta deveria proceder, ou
seja, ventilar da forma PC ou RL.
RM sem válvula RM com válvula
3 cenários (impedâncias):
Obstrutivo, Normal e Restritivo
Fisioterapeutas
(4 homens + 4 mulheres)
RLPCRLPC
26
Não houve treinamento prévio para os profissionais. Houve somente
uma explicação verbal de que o objetivo da HM era remover secreções e, na
situação RL, foi explicado o modo correto de realizar a técnica. O
fisioterapeuta iniciava a manobra e, após um período de estabilização, as
medidas eram gravadas por cerca de 40 segundos. Dos ciclos gravados,
foram selecionados três que eram analisados isoladamente.
A seqüência do estudo não foi randomizada, sendo seguida a
seqüência das impedâncias, ou seja, com coleta do cenário obstrutivo,
normal e restritivo. A coleta foi realizada na seguinte seqüência: inicialmente,
cada profissional realizava a manobra no cenário obstrutivo e situação PC
com o RM sem válvula seguido do RM com válvula limitadora de pressão;
em seguida, usando o mesmo cenário (obstrutivo), era explicada a forma RL,
ou seja, era solicitado ao fisioterapeuta realizar uma insuflação lenta, com
platô de 2 a 3 segundos, e soltar o RM rapidamente; a situação RL era
realizada também com os dois RM, primeiro o sem válvula e depois o RM
com válvula limitadora de pressão. Essa mesma seqüência era repetida para
os cenários normal e restritivo.
3.3. Variáveis analisadas
Para cada condição simulada, foram gravados cerca de 8 (entre 7 e
10) ciclos que foram analisados através do software Labview. Esse
programa permite determinar o início e o final do ciclo de forma automática,
no entanto foi necessário o ajuste manual do início da maioria dos ciclos
devido ao fato de que os ciclos referentes à PC eram compostos de várias
insuflações para depois permitir a expiração. Portanto, a manobra (ciclo) a
27
ser analisada incluiu todas essas insuflações (figura 6). Definidos o início e o
final dos ciclos, foram escolhidos 3 ciclos com tempo inspiratório parecidos,
os quais foram analisados através do software Labview (National
Instruments, TX) para determinação das variáveis de mecânica ventilatória:
- Pico de pressão proximal (cmH2O): maior pressão gerada no canal
de pressão proximal (figura 7);
- Pico de pressão alveolar (cmH2O): maior pressão gerada no canal
de pressão alveolar (figura 8);
- Pico de fluxo inspiratório (L/s): fluxo mais positivo no canal de fluxo
(figura 9);
- Pico de fluxo expiratório (L/s): fluxo mais negativo no canal de fluxo
(figura 9);
- Relação I:E: divisão, para cada medida, do pico de fluxo inspiratório
pelo expiratório;
- Volume corrente inspiratório (mL): obtido a partir da integral do canal
de fluxo (figura 10);
- Tempo inspiratório (seg): tempo entre o início do ciclo inspiratório
(fluxo zero) e final da inspiração (quando o fluxo volta a atingir zero
antes da expiração) (figura 10).
28
RM sem válvula
Segundos
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5
Pre
ssão
pro
xim
al (
cmH
2O)
-5
0
5
10
15
20
25
30
Recomendada pela literaturaPrática clínica
Figura 6 - Representação gráfica das curvas de pressão de uma manobra
na situação prática clínica e outra na situação recomendada pela literatura
realizada pelo mesmo fisioterapeuta com um RM sem válvula reguladora de
pressão na simulação de um paciente normal
Figura 7 - Tela do software para obtenção do pico de pressão proximal
29
Figura 8 - Tela do software para obtenção do pico de pressão alveolar
Figura 9 - Tela do software para obtenção do pico de fluxo inspiratório e
expiratório
30
Figura 10 - Tela do software para obtenção do volume corrente e do tempo
inspiratório
3.4. Análise estatística
Foi feita uma análise descritiva dos resultados das variáveis obtidas.
As variáveis quantitativas foram testadas para normalidade e como eram
não-paramétricas foram relatadas como mediana (intervalo interquartil:
percentil 25%-percentil 75%).
Para comparação dos dados obtidos para cada variável (pressões,
fluxos e volumes) nas situações de RM com válvula e sem válvula, entre as
três situações de impedância e entre a PC e a RL, foi utilizado o teste de
Anova de medidas repetidas. Para avaliar a significância estatística foi usado
um p <0,05.
Para avaliação das correlações do fluxo expiratório com a pressão
alveolar e volume corrente foi utilizado o teste de Spearman, pois a
distribuição dessas variáveis não era normal.
Para análise estatística foi utilizado o software SPSS versão 13.
4. RESULTADOS
32
4. RESULTADOS
Um total de 96 medidas foram realizadas (oito fisioterapeutas
ventilaram o simulador com dois RMs diferentes, em duas situações e em
três cenários diferentes de mecânica), sendo que para cada medida foram
escolhidos três ciclos para análise.
4.1 Análise da manobra de hiperinsuflação manual
Na tabela 1 temos as medianas das variáveis para os dois tipos de
RMs, para as duas situações (RL e PC) e para todas as medidas. Nas
tabelas 2 e 3 temos, respectivamente, as medianas e os percentis (25% e
75%) das variáveis do RMs sem válvula e com válvula reguladora de
pressão. Após mostraremos os resultados das variáveis individualmente.
Visualmente, a manobra de HM na situação PC foi realizada de forma
diferente da situação RL em 6 dos 8 fisioterapeutas (com variação de 2 a 4
insuflações durante cada ciclo da fase inspiratória - vide figura 11B). Essas
variações entre os operadores se mantiveram nos 3 cenários de impedância.
Na figura 11 temos os traçados de pressão proximal de dois fisioterapeutas
(A e B) e podemos observar que no fisioterapeuta B a manobra na situação
PC é composta de mais de uma insuflação.
33
Tabela 1- Medianas das variáveis
Reanimador Manual Situação
Total das
medidas
Sem válvula Com válvula PC RL
Pressão proximal 36,7
(22,9-49,4) 26,2
(17,4-39,3) 41,9
(30,5-54,5) 22,5
(17,1-33,9) 31,4
(19,2-45,4)
Pressão alveolar 16,1
(11,7-24,5) 11,7
(8,4-19,5) 13,9
(10,3-20,9) 13,8
(10,2-20,3) 13,9
(10,2-20,4)
Pico de fluxo inspiratório
1,37 (1,00-1,90)
1,28 (0,83-1,64)
1,62 (1,27-2,11)
1,03 (0,73-1,36)
1,32 (0,92-1,80)
Pico de fluxo expiratório
1,02
(0,56-1,28)
0,76 (0,48-0,98)
0,96 (0,54-1,17)
0,77 (0,53-1,01)
0,88 (0,54-1,13)
Volume corrente 640
(505-735) 433
(367-517) 531
(441-629) 487
(390-648) 514
(409-514)
Tempo inspiratório 1,00
(0,79-1,26) 0,76
(0,59-0,83) 0,87
(0,74-1,12) 0,78
(0,66-1,10) 0,82
(0,69-1,12)
Relação I:E 1,57
(1,02-2,17) 1,69
(1,27-2,37) 1,77
(1,32-2,43) 1,34
(1,02-1,95)
1,62
(1,14-2,28)
Dados representados como mediana (percentil 25% - percentil 75%)
PC: Prática Clínica; RL: Recomendada pela literatura;
Pressões em cmH2O; Fluxos em L/seg; Volume corrente em mL; Tempo em seg.
Tabela
2-
Me
dia
na
s da
s va
riáve
is a
na
lisa
das
pa
ra o
RM
sem
vá
lvu
la r
egu
lad
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al
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Obstr
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l das m
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as
P
C
RL
PC
R
L
PC
R
L
PC
R
L
Pre
ssão
pro
xim
al
40,1
(26,4
-51
,8)
19,5
(15,0
-27
,4)
46,3
(38,5
-63
,3)
30,0
(23,4
-36
,6)
43,9
(41,5
-81
,6)
35,7
(23,2
-49
,9)
44,5
(33,6
-63
,3)
26,8
(18,7
-37
,3)
Pre
ssão
alv
eola
r 16,1
(12,8
-17
,4)
14,9
(13,8
-17
,2)
29,4
(25,8
-32
,2)
28,8
(23,9
-33
,2)
11,4
(10,2
-13
,1)
11,1
(10,5
-13
,1)
16,3
(11,7
-25
,2)
14,9
(11,7
-23
,7)
Flu
xo
inspir
ató
rio
2,0
0
(1,5
0-2
,24)
1,1
6
(0,9
0-1
,39)
1,8
6
(1,5
1-2
,28)
1,2
1
(1,0
0-1
,40)
1,2
9
(1,2
0-1
,97)
1,0
5
(0,8
5-1
,39)
1,8
4
(1,2
9-2
,15)
1,1
4
(0,8
8-1
,40)
Flu
xo
expir
ató
rio
1,0
4
(0,9
7-1
,12)
0,9
9
(0,9
6-1
,07)
1,4
2
(1,3
3-1
,49)
1,4
0
(1,2
7-1
,47)
0,5
4
(0,5
3-0
,57)
0,5
4
(0,5
1-0
,55)
1,0
4
(0,5
7-1
,32)
0,9
9
(0,5
5-1
,26)
Volu
me
corr
ente
628
(526-7
57)
622
(559-7
16)
588
(497-6
62)
593
(491-6
90)
663
(570-6
95)
674
(628-8
17)
628
(497-6
98)
647
(520-7
41)
Tem
po
inspir
ató
rio
0,8
6
(0,7
0-1
,12)
1,0
0
(0,7
7-1
,24)
0,9
4
(0,8
7-1
,18)
0,9
8
(0,7
8-1
,23)
1,0
0
(0,7
9-1
,20)
1,2
4
(1,0
6-1
,59)
0,9
3
(0,7
6-1
,15)
1,0
9
(0,9
1-1
,29)
Da
do
s re
pre
sent
ado
s co
mo
me
dia
na
(pe
rce
ntil
25
% -
pe
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ntil
75
%)
PC
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RL:
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L/s
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Vo
lum
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en
te e
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L; T
em
po e
m s
eg.
34
Tabela
3-
Me
dia
na
s da
s va
riáve
is a
na
lisa
das
pa
ra o
RM
com
vá
lvu
la r
egu
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o
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as
P
C
RL
PC
R
L
PC
R
L
PC
R
L
Pre
ssão
pro
xim
al
30,1
(20,9
-39
,2)
16,8
(15,4
-19
,5)
34,6
(30,2
-47
,4)
23,3
(19,5
-26
,8)
46,2
(34,5
-53
,0)
20,4
(15,3
-30
,6)
36,1
(28,7
-47
,7)
20,1
(16,0
-25
,4)
Pre
ssão
alv
eola
r 12,4
(10,2
-12
,2)
10,6
(9,8
-11,8
)
22,2
(20,2
-23
,6)
20,3
(17,5
-21
,9)
9,0
(8,3
-9,8
)
7,5
(7,4
-8,1
)
12,9
(9,1
-20,1
)
10,6
(7,8
-16,9
)
Flu
xo
inspir
ató
rio
1,5
8
(1,3
3-2
,05)
1,1
8
(0,9
7-1
,32)
1,7
1
(1,3
7-2
,18)
0,9
2
(0,7
3-1
,43)
1,3
4
(1,1
6-1
,64)
0,7
5
(0,6
9-1
,01)
1,5
4
(1,2
5-1
,97)
0,9
5
(0,7
1-1
,3)
Flu
xo
expir
ató
rio
0,9
4
(0,8
7-1
,00)
0,7
2
(0,6
0-0
,79)
1,1
8
(1,1
1-1
,28)
0,8
6
(0,7
3-0
,95)
0,5
1
(0,4
7-0
,52)
0,3
7
(0,3
4-0
,41)
0,9
1
(0,5
2-1
,10)
0,6
9
(0,4
1-0
,84)
Volu
me
corr
ente
470
(393-5
45)
387
(344-4
54)
430
(383-4
89)
396
(322-4
34)
517
(448-5
49)
416
(388-4
53)
466
(405-5
35)
400
(359-4
28)
Tem
po
inspir
ató
rio
0,8
1
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,13)
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,94)
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(0,7
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0,7
7
(0,7
5-0
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0,8
0
(0,6
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0,6
7
(0,5
5-0
,77)
Da
do
s re
pre
sent
ado
s co
mo
me
dia
na
(pe
rce
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25
% -
pe
rce
ntil
75
%)
PC
: P
rátic
a C
línic
a;
RL:
Re
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end
ada
pe
la li
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tura
Pre
ssõ
es
em
cm
H2O
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xos
em
L/s
eg;
Vo
lum
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en
te e
m m
L; T
em
po e
m s
eg.
35
36
Reanimador manual sem válvula limitadora de pressão
Segundos
0 1 2 3 4 5
Pre
ssã
o p
roxi
mal
(cm
H2O
)
-5
0
5
10
15
20
25
30
Segundos
0 1 2 3 4 5
Recomendada pela literaturaPrática clínica
A B
Figura 11- Representação gráfica de um ciclo isolado de pressão proximal de dois fisioterapeutas (A e B) na situação prática clínica (curva tracejada) e recomendada pela literatura (curva cheia). Observe que no fisioterapeuta B a manobra conforme a prática clínica é composta por mais de uma insuflação. As curvas de pressão são referentes ao cenário normal. 4.1.1. Pressões geradas
Em relação às pressões geradas entre os fisioterapeutas, podemos
notar que as pressões proximais na situação RL são menores do que na PC
(tabelas 2, 3 e figura 12), pois a manobra RL é feita com pico de fluxo menor
(tabelas 2 e 3; vide item 4.1.2, figuras 20 e 21). Entretanto, as pressões
alveolares nas duas situações são similares (p=0,288), mesmo quando
analisamos os fisioterapeutas individualmente (figura 13 e 14).
37
NormalRestritivo
Pre
ssã
o p
roxi
mal
(cm
H2O
)
0
20
40
60
80
100
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Obstrutivo
***
com válvula com válvulasem válvula sem válvula sem válvulacom válvula
Figura 12- Representação gráfica das medianas (e percentil 25% ou 75%) das pressões proximais geradas pelos 8 fisioterapeutas com o RM com e sem válvula, na situação prática clínica (traço cheio) e recomendada pela literatura (traço pontilhado), nos cenários restritivo, obstrutivo e normal
Pressão Alveolar
Segundos
0 1 2 3 4 5
Pre
ssão
Pressão Proximal
Segundos
0 1 2 3 4 5
Pre
ssão
(cm
H2
O)
-5
0
5
10
15
20
25
30
Recomendada pela literatura Prática clínica
Figura 13- Representação gráfica de um ciclo isolado das pressões proximal (à esquerda) e alveolar (à direita) gerados pelo mesmo profissional nas situações prática clínica (curva tracejada) e recomendada pela literatura (curva cheia) com o RM sem válvula limitadora de pressão no cenário normal
38
Pressão Proximal
Segundos
0 1 2 3
Pre
ssão
(cm
H2O
)
-5
0
5
10
15
20
25
30Pressão Alveolar
Segundos
0 1 2 3
Recomendada pela literaturaPrática clínica
Figura 14- Representação gráfica de um ciclo isolado das pressões proximal (à esquerda) e alveolar (à direita) gerados pelo mesmo profissional nas situações prática clínica (curva tracejada) e recomendada pela literatura (curva cheia) com o RM sem válvula limitadora de pressão no cenário normal
Na tabela 2 e nas figuras 15 e 16 temos as medianas das pressões
proximal e alveolar geradas com os RMs sem válvula limitadora de pressão
(figura 15) e com válvula (figura 16). Podemos observar a diferença entre as
pressões proximais nas duas práticas (PC e RL; p=0,005), entre os 3
cenários (p=0,041) e quando comparamos os dois RMs (p=0,021) como
demonstrado na figura 17.
39
NormalRestritivoP
ress
ão (
cmH
2O
)
0
20
40
60
80
100
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Obstrutivo
pressãoalveolar
pressãoproximal
pressãoalveolar
pressãoproximal
pressãoalveolar
pressãoproximal
###
**
*
Figura 15- Representação gráfica das medianas (e percentil 75%) das pressões proximal e alveolar geradas pelos oito fisioterapeutas com o RM sem válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
* P<0,05 entre as pressões proximais nas situações PC e RL ; # p<0,05 entre os cenários
Normal ObstrutivoRestritivo
Pre
ssã
o (c
mH
2O
)
0
20
40
60
80
100
pressãoalveolar
pressãoproximal
pressãoalveolar
pressãoproximal
pressãoalveolar
pressãoproximal
###
* **
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 16- Representação gráfica das medianas (e percentil 75%) das pressões proximal e alveolar geradas pelos oito fisioterapeutas com o RM com válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
* P<0,05 entre as pressões proximais nas situações PC e RL ; # p<0,05 entre os cenários
40
Pressão alveolarPressão proximal
com válvula
Pre
ssã
o (c
mH
2O
)
0
10
20
30
40
50
RestritivoObstrutivoNormal
sem válvula com válvula sem válvula
**
Figura 17- Representação gráfica das medianas das pressões proximal (à esquerda) e alveolar (à direita) geradas pelos 8 fisioterapeutas com os 2 RMs, nos cenários restritivo (cheio), obstrutivo (pontilhado) e normal (tracejado)
* P<0,05 entre os reanimadores manuais
A figura 18 exemplifica as pressões proximal e alveolar de 1 ciclo com
o mesmo profissional realizando as duas situações estudadas (PC e RL)
com o RM com válvula limitadora de pressão. Notamos que há vazamento
de ar (pela válvula limitadora de pressão) na curva de pressão proximal
quando o profissional realiza a situação RL com pausa inspiratória. Na
situação PC mostrada, como não há pausa inspiratória, o vazamento não é
notado.
41
Pressão Proximal
Segundos
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
Pre
ssão
(cm
H2O
)
0
10
20
30
40
Recomendada pela literaturaPrática clínica
Pressão Alveolar
Segundos
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0
Figura 18- Representação gráfica da pressão proximal (à esquerda) e alveolar (à direita) de um ciclo isolado geradas pelo mesmo profissional realizando as situações prática clínica (curva tracejada) e recomendada pela literatura (curva cheia) utilizando o RM com válvula limitadora de pressão no cenário normal
Existe grande variação da pressão proximal conforme o operador
(figura 19).
42
Práticaclínica
0
20
40
60
80
100
Pre
ssão
pro
xim
al (
cmH
2O
)
Recomendadaliteratura
Figura 19- Representação gráfica das pressões proximais (média de 3 medidas) realizadas pelos 8 fisioterapeutas com RM com válvula limitadora de pressão no cenário restritivo, nas situações prática clínica (à esquerda) e recomendada pela literatura (à direita)
4.1.2. Análise dos fluxos
Nas figuras 20 e 21 podemos notar que os picos de fluxo expiratórios,
em geral, são menores do que os inspiratórios. Quando comparamos as
situações de todas as medidas, houve diferença entre os picos de fluxo
inspiratórios (p=0,02) e expiratórios (p=0,01), tanto na situação PC quanto
na RL. Em relação aos RMs, o sem válvula limitadora de pressão gerou
maiores picos de fluxo, porém somente com diferença estatística para os
fluxos expiratórios (p<0,001); a diferença entre os fluxos inspiratórios não foi
significante (p=0,053).
43
Normal
Fluxo insp Fluxo exp
Obstrutivo
Fluxo insp Fluxo exp
Restritivo
Fluxo insp Fluxo exp
Flu
xo (
L/s
eg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
* * *
Figura 20- Representação gráfica das medianas (e percentil 75%) dos picos de fluxo inspiratórios e expiratórios gerados pelos profissionais com o RM com válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
* P<0,05 entre as situações PC e RL
Normal
Fluxo insp Fluxo exp
Obstrutivo
Fluxo insp Fluxo exp
Restritivo
Fluxo insp Fluxo exp
Flu
xo (
L/s
eg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
* * *
Figura 21- Representação gráfica das medianas (e percentil 75%) dos picos de fluxo inspiratórios e expiratórios gerados pelos profissionais com o RM sem válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
* P<0,05 entre as situações PC e RL
44
Na figura 22 podemos observar que a mediana dos picos de fluxo
expiratórios foram menores do que a dos inspiratórios tanto no RM com
válvula limitadora de pressão como naquele sem válvula. Na figura 23 temos
as curvas de pico de fluxos de um fisioterapeuta nas situações PC e RL com
os 2 RMs, demonstrando menores picos de fluxos inspiratório e expiratório
com o RM com válvula limitadora de pressão, tanto na situação PC quanto
na RL.
fluxoinspiratório
fluxoexpiratório
fluxoinspiratório
fluxoexpiratório
RM sem válvulaRM com válvula
Flu
xo (
L/s
eg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 22- Representação gráfica das medianas dos picos de fluxo inspiratórios e expiratórios gerados pelos oito profissionais com os RM com válvula (à esquerda) e sem válvula limitadora de pressão (à direita) nas situações prática clínica (traço cheio) e recomendada pela literatura (traço pontilhado)
45
RM com válvula
Segundos
0 1 2 3
RM sem válvula
Segundos
0 1 2 3
Flu
xo (
L/s
eg)
-1.5
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0Recomendada pela literaturaPrática clínica
Figura 23- Representação gráfica de uma curva de fluxo isolada realizada pelo mesmo fisioterapeuta com o RM sem válvula (à esquerda) e com válvula limitadora de pressão (à direita) nas situações prática clínica (curva tracejada) e recomendada pela literatura (curva cheia)
Nas figuras 24 e 25 (RM com válvula limitadora de pressão) podemos
verificar como variam os picos de fluxos inspiratório e expiratório para cada
um dos fisioterapeutas. Visualmente, o pico de fluxo inspiratório, que
depende da força do operador, teve maior variação do que o expiratório.
46
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Flu
xo (
L/s
eg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 24- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos picos de fluxo inspiratório gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM com válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Flu
xo (
L/s
eg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 25- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos picos de fluxo expiratório gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM com válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
Nas figuras 26 e 27 podemos observar os valores médios dos picos
de fluxo inspiratórios e expiratórios para cada um dos 8 fisioterapeutas com
o RM sem válvula limitadora de pressão.
47
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Flu
xo (
L/s
eg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Figura 26- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos picos de fluxo inspiratório gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM sem válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Flu
xo (
L/s
eg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Figura 27- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos picos de fluxo expiratório gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM sem válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
Na figura 28 notamos que a média dos picos de fluxo expiratório é
menor do que o inspiratório para a maioria (sete) dos fisioterapeutas.
48
Figura 28- Representação gráfica dos picos de fluxos inspiratório (à esquerda) e expiratório (à direita) dos 8 fisioterapeutas (médias dos 3 cenários de impedância e das situações prática clínica e recomendada pela literatura) com o RM com válvula limitadora de pressão
Na tabela 1 podemos observar que as medianas da relação I:E foram
maiores do que 0,9 para todas as medidas, para os dois RMs e para cada
uma das situações (PC e RL). Na tabela 4, observamos que apenas 12,6%
de todos ciclos tiveram relação I:E menores que 0,9, sendo que a maior
parte dessas medidas ocorreu para um mesmo fisioterapeuta (19 de 36
medidas) e na situação RL (25 de 36 medidas).
Fluxo insp Fluxo exp
L/s
eg
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
49
Tabela 4- Relação fluxo I:E para cada fisioterapeuta
Fisioterapeuta Número de ciclos com relações I:E< 0.9 (%)
Número de ciclos
analisados
Fisioterapeuta 1 0 36
Fisioterapeuta 2 0 36
Fisioterapeuta 3 0 36
Fisioterapeuta 4 1 (2,8%) 36
Fisioterapeuta 5 2 (5,6%) 36
Fisioterapeuta 6 7 (19,4%) 36
Fisioterapeuta 7 7 (19,4%) 36
Fisioterapeuta 8 19 (52,8%) 36
Todos fisioterapeutas 36 (12,5%) 288
Relação I:E: relação para cada ciclo entre o pico de fluxo inspiratório e expiratório
A figura 29 mostra a correlação entre as pressões alveolares geradas
pelos oito fisioterapeutas (nos 3 cenários, com os dois RMs e nas situações
RL e PC) e os fluxos expiratórios. Quando maior a pressão alveolar maior o
fluxo expiratório (coeficiente de correlação de Spearman: rs 0,866, p<0,001),
já que este depende da pressão alveolar e da resistência de vias aéreas.
50
Pressão alveolar (cmH2O)
0 10 20 30 40 50
Flu
xo e
xpira
tório
(L/
seg)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
Figura 29- Correlação entre pressão alveolar e fluxo expiratório de todas as medidas (3 ciclos dos 8 profissionais nos 3 cenários de impedância, com os 2 RMs e nas situações RL e PC)
Na figura 30 observamos a correlação entre o volume corrente gerado
em cada um dos 3 cenários pelos oito fisioterapeutas (com os dois RMs e
nas situações RL e PC) e o fluxo expiratório. O coeficiente de correlação de
Spearman para os cenários normal, restritivo e obstrutivo foram,
respectivamente, rs 0,880 (p<0,001), rs 0,868 (p<0,001) e rs 0,845 (p<0,001).
Nota-se que o cenário obstrutivo gerou menores fluxos expiratórios (tabelas
2 e 3) do que os outros cenários, devido à maior resistência.
51
Normal
Volume corrente (L)
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Flu
xo e
xpir
ató
rio
(L
/se
g)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0 Restritivo
Volume corrente (L)
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Obstrutivo
Volume corrente (L)
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
Figura 30- Correlação entre o volume corrente gerado pelos profissionais e o fluxo expiratório realizado com os 2 RMs nos cenários normal (à esquerda), restritivo (ao centro) e obstrutivo (à direita)
4.1.3. Volume corrente
Em relação ao volume corrente (VT) o que fica mais evidente na
figura 31 (e tabela 1) é que a presença da válvula reguladora determina um
VT menor (p<0,001).
Restritivo
com válvula sem válvula
Vol
ume
(L)
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Normal
com válvula sem válvula
Obstrutivo
com válvula sem válvula
***
Figura 31- Representação gráfica das medianas (e percentil 75%) do volume corrente gerado pelos profissionais com o RM com válvula e sem válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
* P<0,05 entre os reanimadores manuais
52
Quando avaliamos os valores de VT gerados individualmente entre os
fisioterapeutas (figuras 32 e 33), observamos um comportamento
heterogêneo na situação PC em relação à RL, porém sem diferença
estatística (p=0,622) Também não houve diferença entre as situações de
mecânica estudadas (p=0,337).
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Vol
um
e (L
)
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 32- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos volumes correntes gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM com válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Vol
um
e (L
)
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 33- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos volumes correntes gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM sem válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
53
4.1.4. Análise do tempo inspiratório
As figuras 34 e 35 mostram as variações do tempo inspiratório (Ti) por
fisioterapeuta, com o RM que possui e o que não possui válvula reguladora
de pressão, respectivamente. Nota-se que o Ti não se comportou de forma
igual entre os fisioterapeutas. O Ti foi diferente entre os RM com e sem
válvula (p<0,001) (vide tabela 1) e entre os cenários (p<0,001) (vide tabela
1).
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Tem
po
insp
irat
ório
(s)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 34- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos tempos inspiratórios gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM com válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
54
Normal
1 2 3 4 5 6 7 8
Obstrutivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Restritivo
1 2 3 4 5 6 7 8
Tem
po in
spira
tório
(s)
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
Prática clínicaRecomendada pela literatura
Figura 35- Representação gráfica das médias de 3 ciclos dos tempos inspiratórios gerados por cada um dos fisioterapeutas nas 3 situações de impedância com o RM sem válvula limitadora de pressão, nas situações prática clínica (em preto) e recomendada pela literatura (em cinza)
55
5.DISCUSSÃO
56
5. DISCUSSÃO
Em nosso estudo, avaliamos a manobra de hiperinsuflação manual
em um simulador do sistema respiratório, verificando a influência do
operador (antes e após ter sido instruído sobre o modo recomendado pela
literatura de realizar a HM) e também, a influência do tipo de reanimador
manual (um com válvula limitadora de pressão fabricado no Brasil e outro
sem válvula limitadora) sobre as pressões, fluxos e volumes gerados.
Observamos que houve variação entre o modo como os voluntários
realizam a manobra na sua prática clínica e o modo como se sugere que
seja realizada; observamos influência do tipo de RM sobre a manobra; as
pressões alveolares foram baixas, mesmo com elevadas pressões
proximais; os fluxos inspiratórios foram maiores que os expiratórios entre os
fisioterapeutas. A seguir discutimos os principais achados e limitações do
estudo.
5.1. Simulador do sistema respiratório
Diversos estudos avaliaram a manobra de HM sem compressão do
tórax usando simuladores do sistema respiratório com fisioterapeutas
voluntários (McCarren e Chow, 1996; Maxwell e Ellis, 2002; Maxwell e Ellis,
2003; Maxwell e Ellis, 2004; Turki et al., 2005). A montagem do modelo em
nosso estudo é bem simples e muito similar ao modelo utilizado nos outros
estudos (a não ser aparato de aquisição e o software de análise).
Basicamente é composto do RM que estava sendo testado conectado a um
circuito plástico (onde estão adaptados o pneumotacógrafo e os transdutores
57
de pressão) que, por sua vez, está conectado ao simulador do sistema
respiratório que permite o ajuste da complacência através de molas, sendo a
resistência ajustada com resistores de orifício adaptados ao circuito plástico.
Em nosso estudo avaliamos também a pressão alveolar, que não foi
avaliada por outros autores, que somente monitorizavam a pressão proximal.
O software de aquisição e análise usado em neste estudo foi desenvolvido
em nosso laboratório e já foi utilizado em outros estudos.
Os RMs testados neste estudo foram os do tipo auto-inflável, o tipo
usado nas UTIs brasileiras que conhecemos. Por esse motivo, não
avaliamos RMs infláveis por fluxo como outros estudos (McCarren e Chow,
1996; Clarke et al., 1999; Patman et al., 2001; Redfern et al., 2001; Berney e
Denehy, 2002; Maxwell e Ellis, 2002; Maxwell e Ellis, 2003; Maxwell e Ellis,
2004; Maxwell e Ellis, 2007) realizados em países que utilizam esses
dispositivos. Não conhecemos estudos nacionais avaliando a HM realizada
com o uso de RMs nacionais com válvula limitadora de pressão.
A escolha do número de voluntários teve por objetivo expressar a
variabilidade nas manobras (valor de volume corrente, pressões
inspiratórias, fluxo etc.) que já se sabe que ocorre com o sexo do operador
(menor volume no sexo feminino), com o tamanho das mãos e o número
(uma ou duas mãos) (Hess, 1993; Rusterholz e Ellis, 1998; Maxwell e Ellis,
2002). Estudos prévios com fisioterapeutas, em modelo mecânico, utilizando
reanimadores manuais foram realizados com um número de fisioterapeutas
voluntários entre oito e quinze (McCarren e Chow, 1996; Rusterholz e Ellis,
1998; Maxwell e Ellis, 2003; Turki et al., 2005).
58
Procuramos recrutar fisioterapeutas oriundos de diferentes centros
universitários, para que fosse possível avaliar, de forma menos tendenciosa,
o desempenho dos mesmos em relação à manobra estudada, pois sabemos
que o modo de realização das manobras também é influenciado pelo serviço
em que o profissional foi treinado ou onde ele trabalha. Nosso objetivo não
foi determinar ou fazer nenhum tipo de inferência sobre como essas
manobras são realizadas em todo Brasil, mas sim, apenas, comparar uma
pequena amostra de profissionais graduados no Brasil com estudos que
avaliaram profissionais graduados em outros países. A partir disso pudemos
fazer uma análise qualitativa para verificar se encontramos os mesmos
problemas encontrados em outros relatos, como: erro na execução na
manobra, grande variabilidade entre os profissionais em sua realização,
utilização de pressões de insuflação elevadas colocando em risco a
segurança do paciente, etc.
5.2. Variações entre a manobra realizada pelos voluntários e o modo
como se sugere que seja executada
Quando solicitados a fazer a HM do modo que a realizam em sua
prática diária (“prática clínica” – PC), observamos que seis dos oito
fisioterapeutas avaliados a executaram de modo diferente daquele
recomendado pela literatura e, de certo modo, de uma maneira diferente da
observada em outros países, relatada na literatura pesquisada (McCarren e
Chow, 1996; Patman et al., 2001; Maxwell e Ellis, 2002; Maxwell e Ellis,
2004). Esse modo diferente consistiu em realizar uma manobra com fluxo
59
inspiratório elevado, com mais de uma insuflação (2 a 4) sem permitir a
expiração e com tempo inspiratório menor (sem pausa), sem preocupação
em insuflar um volume corrente maior do que o habitual. Parece que a
manobra se foca mais em gerar elevados fluxos e pressões proximais
inspiratórias do que em maximizar o volume corrente e o fluxo expiratório,
que são os principais objetivos da HM como descrita.
Encontramos pressões proximais altas (> 40cmH2O em algumas
situações), as quais estão associadas à força utilizada na inspiração para a
realização da manobra. Como conseqüência, observamos elevados valores
de fluxo inspiratório. Os valores de VT em nosso estudo foram baixos, assim
como os picos de fluxo expiratório, que se mantiveram mais baixos do que
os inspiratórios, o que, segundo os estudos que avaliam o mecanismo da
HM (McCarren e Chow, 1996; Rusterholz e Ellis, 1998; Clarke et al., 1999;
Patman et al., 2001; Maxwell e Ellis, 2002; Maxwell e Ellis, 2003; Maxwell e
Ellis, 2004; Maxwell e Ellis, 2007), tornaria as manobras simuladas em nosso
estudo muito pouco efetivas para auxiliar na remoção de secreções.
Conforme já dissemos, não podemos, com este estudo, generalizar,
afirmando que o modo de realização da HM desta pequena amostra de
fisioterapeutas represente a prática clínica no Brasil. Em verdade, não há
estudos mostrando com que freqüência e para quais pacientes a HM é
utilizada em nosso país. Em nossa prática clínica, e na opinião de outros
fisioterapeutas da cidade de São Paulo, nas UTIs que realizam a HM, na
maioria das vezes, parece que ela é feita de modo diferente do que é
recomendado pela literatura da área.
60
Qual seria a explicação para este comportamento dos fisioterapeutas?
Provavelmente, um fator que deve ter influenciado muito é o aprendizado.
De fato, em alguns serviços de referência e formação (especialização em
fisioterapia respiratória) na cidade de São Paulo, a manobra é realizada e
ensinada dessa forma. Talvez, esta forma de realizar a manobra geraria
mais tosse, tornando-a mais efetiva. Teoricamente, se a manobra fosse
realizada em pacientes com reflexo de tosse, provavelmente os pacientes
tossiriam mais, o que talvez pudesse nos trazer resultados diferentes dos
encontrados.
Outros estudos já constataram grande variabilidade da MH entre os
fisioterapeutas. Patman et al. (2001) avaliaram a consistência e a
modificação da técnica entre 17 fisioterapeutas, simulando três situações de
impedância em modelo mecânico, com dois tipos de RM (um inflável por
fluxo: Mapleson; outro auto–inflável: Air-viva), e constataram que nenhum
dos fisioterapeutas que utilizou o RM Air-viva realizou pausa inspiratória,
preconizada pela literatura. Concluíram que apesar dessas variações, os
fisioterapeutas realizam a HM com boa consistência, dependendo da
mecânica do paciente. Maxwell e Ellis (2004) compararam duas práticas
comuns na Austrália com o uso de RM inflável por fluxo (tipo Mapleson), a
HM com a bolsa inflada durante a fase expiratória e a HM desinsuflando a
bolsa durante a fase expiratória, e constataram que quando o profissional
mantém a bolsa inflada, os picos de fluxo expiratório entregues aos
pacientes diminuíram significantemente e, nesse caso, podem tornar a
manobra menos efetiva. Em outro estudo (Maxwell e Ellis, 2002), os
61
mesmos autores dizem que existem várias formas de utilizar a válvula
exalatória do RM para a prática de HM (deixando-a totalmente fechada,
parcialmente fechada ou totalmente aberta). O estudo comparou o
comportamento dos volumes, pressões e fluxos com o RM do tipo Mapleson
C nessas três situações. Os autores concluíram que, quando a válvula
estiver totalmente fechada durante a fase inspiratória e o operador utilizar a
pausa inspiratória de três segundos e mantiver a bolsa do RM insuflada
durante toda a fase expiratória da manobra, o volume corrente entregue para
o paciente pode exceder a capacidade do RM, aumentando o pico de
pressão, tornando manobra indicada para reverter atelectasia e contra-
indicada para mobilizar secreção, devido ao risco de barotrauma.
Talvez esta variabilidade da manobra observada neste e em outros
estudos se deva à falta de uma definição clara, e aceita por todos, de como
a HM deva ser realizada, o que, associado à variabilidade determinada pelos
diversos RMs utilizados, torna praticamente impossível avaliar e comparar
sua efetividade nos estudos clínicos (Berney e Denehy, 2002). De modo
geral, podemos notar que se torna difícil definir, também, a população que
mais se beneficia com a manobra. Em revisões sobre a técnica (Denehy,
1999; Stiller, 2000; Branson, 2007), os autores dizem que faltam estudos
mais consistentes, com populações semelhantes, avaliando os efeitos da
técnica em longo prazo, para poderem realmente definir a população que
mais se beneficiará com a manobra, seus efeitos e aplicabilidade clínica.
62
5.3. Influência do reanimador manual
Não conhecemos estudos nacionais que avaliaram a HM realizada
por RMs nacionais, com válvula limitadora de pressão, e compararam com
dispositivos sem válvula. Nesta questão, este estudo é inédito.
Nosso grupo realizou estudo (dados ainda não publicados), em
simulador do sistema respiratório, comparando oito RMs, sendo cinco
nacionais (com válvula limitadora de pressão) e três importados (sem válvula
limitadora de pressão), em relação às resistências inspiratória e expiratória
da válvula do paciente, ao volume corrente entregue (com uma e duas
mãos) e ao funcionamento da válvula limitadora de pressão. Foi observado
que, nos RMs nacionais (com válvula limitadora de pressão), o volume
corrente gerado foi menor que nos RMs sem a válvula. Estes resultados são
concordantes com os achados deste estudo em que avaliamos a MH com
dois RMs e observamos diferenças entre os RMs, com pressões, volumes e
fluxos significantemente menores com o RM com válvula limitadora de
pressão, na maioria das medidas avaliadas, tanto na situação prática clínica
quanto na recomendada pela literatura.
Esse resultado, possivelmente é explicado pela presença da válvula
limitadora que, por não poder ser travada, permitiu vazamento de ar pela
válvula reduzindo os volumes, fluxos e pressões. Outros fatores que
poderiam explicar a redução do volume corrente no RM com válvula é que a
capacidade da bolsa era menor (1500mL para o RM sem válvula contra
1000mL para o RM com válvula) e o material da bolsa mais rígido (silicone
para o RM sem válvula, contra polivinil para o RM com válvula) (Hess e
63
Spahr, 1990; Rusterholz e Ellis, 1998; Maxwell e Ellis, 2002; Maxwell e Ellis,
2003; Maxwell e Ellis, 2004). Quando comparamos os RMs entre os
fisioterapeutas individualmente, pudemos observar a queda da pressão
proximal e alveolar quando havia pausa inspiratória (no geral na situação
recomendada pela literatura) com o RM com válvula limitadora de pressão
(vide figura 18), refletindo o escape pela válvula. Na situação prática clínica,
o tempo inspiratório foi mais curto, e esse efeito não pôde ser observado em
algumas situações.
5.4. Variação do tempo inspiratório
Os valores de tempo inspiratório foram curtos; com o RM com válvula
limitadora de pressão, as medianas foram de 0,80 (0,69-1,00) segundos
para a situação PC e 0,67 (0,55-0,77) segundos para a situação RL. Em
relação ao RM sem válvula, as medianas foram de 0,93 (0,76-1,15)
segundos para a situação PC e 1,09 (0,91-1,29) segundos para a situação
RL. Esses valores foram inferiores aos encontrados por um estudo (Maxwell
e Ellis, 2007) que avaliou o padrão da técnica de HM entre fisioterapeutas
em 18 pacientes, com um RM inflável por fluxo: média de 1,45 (± 0,1)
segundos, com variação de 1 a 2 segundos, sendo preconizado um tempo
inspiratório de 3 segundos. Em outro estudo (Maxwell e Ellis, 2003), foi feito
questionário prévio sobre o quanto de tempo inspiratório os fisioterapeutas
se recordam de entregar ao paciente durante a manobra. Os valores
respondidos entre os 15 fisioterapeutas avaliados variaram entre 1,5 e 5
segundos. Os autores não analisaram os valores de tempo inspiratório
64
nesse estudo e atribuíram a grande variação de pico de fluxo inspiratório
obtida à variação das respostas sobre o tempo inspiratório encontrada no
questionário.
De modo geral, encontramos valores de tempo inspiratório curto em
nosso estudo. Os profissionais praticamente não realizaram a pausa
inspiratória na situação prática clínica (mediana 0,87; 0,74-1,12) e, na
situação recomendada pela literatura, a pausa inspiratória foi pequena,
gerando, também, um tempo inspiratório curto (mediana 0,78; 0,66-1,10).
5.5. Volume corrente durante a manobra
A mediana do VT encontrada em nosso estudo foi de 640 mL (508-
732) com o RM sem válvula e 433 (367-517) mL com o RM com válvula
limitadora de pressão, e foi muito inferior aos valores encontrados em outros
estudos. Maxwell e Ellis (Maxwell e Ellis, 2007) obtiveram média de VT de
1,23 L (± 0,07) na manobra de HM realizada em 18 pacientes com um RM
inflável por fluxo, diferente dos RMs usados em nosso estudo. Esses
mesmos autores, em outro estudo (Maxwell e Ellis, 2003), observaram as
médias de 1,67 L (± 0,09) e 1,93 L (± 0,25) de VT com fisioterapeutas
testando 2 tipos de RM inflável por fluxo, e média de 1,49 L (± 0,1) de VT
com o RM auto-inflável em modelo mecânico. Outro estudo (Maxwell e Ellis,
2002), testando três maneiras de realizar a HM em modelo mecânico, obteve
valores de VT entre 1,33 L (± 0,21) e 3,55 L (± 0,12) com o RM Mapleson
(inflável por fluxo), dependendo da forma de realizar a manobra. Em estudo
(McCarren e Chow, 1996) comparando o VT entregue por um RM auto-
65
inflável (Laerdal) e outro inflável por fluxo (Magill), as médias de VT obtidas
com o RM auto- inflável variaram de 1368 mL (± 196) com a complacência
de 0,05L/cmH2O a 1262 mL (± 229) com complacência de 0,035L/cmH2O e,
para RM inflável por fluxo, variaram de 1776 mL (± 305) com complacência
de 0,05L/cmH2O e 1550 mL (± 331) com complacência de 0,035L/cmH2O. O
autor discute que o tipo de equipamento, além da experiência e a
familiaridade do operador com o equipamento, influenciam na manobra.
Observamos VTs bem abaixo do que a ASTM preconiza (≥ 600mL).
De modo geral, podemos dizer que o RM sem válvula limitadora de pressão
entrega um VT dentro do preconizado, diferentemente do outro dispositivo
testado. Essa diferença provavelmente se deva à presença da válvula
limitadora de pressão que não podia ser fechada.
5.6. Pressões nas vias aéreas durante a manobra
Considerando todas as medidas juntas (os cenários, as situações, e
os RMs), o valor máximo de pressão proximal encontrado em nosso estudo
foi de 96,6 cmH2O com mediana de 31,4 cmH2O (19,2-44,8). O valor
máximo de pressão alveolar encontrado foi de 42,5 cmH2O, com mediana de
13,9 cmH2O (10,2-20,4). Podemos concluir que, de maneira geral, apesar de
valores elevados de pressão proximal (que são descritos como de risco para
o pacientes), as pressões alveolares geradas, que efetivamente podem
determinar risco ao paciente, estão dentro de valores seguros, variando
conforme o VT gerado e com a situação de mecânica (maiores nos
pacientes restritivos). Pudemos observar que as pressões geradas com o
66
RM com válvula limitadora de pressão são menores devido à atuação da
válvula, que permitiu o vazamento de ar por não poder ser fechada.
A pressão proximal depende da complacência do sistema respiratório
e da resistência de via aérea. Por outro lado, a pressão alveolar depende
somente da complacência do sistema respiratório. Deste modo, a pressão
proximal não reflete, em algumas situações, a pressão transpulmonar que
melhor se associa com o risco de barotrauma. As diferenças encontradas
entre as pressões se devem ao fato de os fisioterapeutas utilizarem um
esforço inspiratório intenso para insuflar o RM, o que devido à resistência
nas vias aéreas determina maiores pressões proximais. Os baixos valores
de pressão alveolar se devem ao pequeno volume de ar que foi insuflado
pelos fisioterapeutas.
Como os valores de pressão alveolar atingidos em nosso estudo
foram baixos, podemos dizer que, no contexto estudado (complacência do
simulador e volumes atingidos), a manobra de HM foi segura. Porém,
existem autores que contestam a segurança da manobra. Uma revisão sobre
remoção de secreção em pacientes em VM (Branson, 2007) diz que a
manobra de HM não é isenta de risco, pois altas pressões proximais e altos
volumes correntes promovem efeitos hemodinâmicos adversos, podendo
ocasionar barotrauma e volutrauma. Clarke et al. (1999) avaliaram a pressão
proximal e o VT em 25 pacientes durante a HM para mobilização de
secreção pulmonar com um RM inflável por fluxo, tendo observado média de
pressão proximal de 51,5 (± 7,6) cmH2O e VT de 1120 (± 274) mL.
Concluem que há maior possibilidade de barotrauma em pulmão susceptível,
67
porém o autor não avaliou a pressão de platô que poderia estimar a pressão
alveolar. No entanto, ele não explica como a manobra foi feita pelos
profissionais, mas somente que foi solicitado que os fisioterapeutas a
realizassem conforme sua prática habitual. Caso as manobras tenham sido
feitas com uma longa pausa inspiratória, essa pressão de platô poderia
refletir a média da pressão dos alvéolos, indicando risco para o paciente.
Turki et al. (2005) avaliaram o pico de pressão proximal gerado por
fisioterapeutas em simulador do sistema respiratório durante a HM com
intuito de otimizar a oxigenação e concluíram que a pressão gerada às
vezes excede 100 cmH2O, o que poderia aumentar risco de barotrauma.
Esse trabalho também não avaliou as pressões alveolares geradas. Outro
estudo em simulador do sistema respiratório (Maxwell e Ellis, 2002) ajustado
com uma complacência de 0,05 L/cmH2O, avaliou três formas de realizar a
manobra de HM, tendo encontrado pressões proximais de 14,3 (± 0,82)
cmH2O quando a técnica foi feita com a válvula exalatória totalmente aberta,
24 (±0,47) cmH2O, com a válvula parcialmente fechada e 30,2 (± 0,92)
cmH2O, com a válvula exalatória totalmente fechada. De forma geral, esses
valores foram menores que os encontrados em nosso estudo para o mesmo
ajuste de complacência; em nossa simulação de paciente normal, a
complacência utilizada foi de 0,05 L/cmH2O, e as medianas da pressão
proximal variaram de 16,8 cmH2O (15,4-19,5) para a situação RL com o RM
com válvula limitadora de pressão a 40,1 cmH2O (26,4-51,8) para a situação
PC com o RM sem válvula limitadora de pressão. Um estudo
brasilieiro (Rodrigues, 2007) realizado em pacientes de pós-operatório de
68
cirurgia cardíaca comparou a HM associada à compressão torácica,
realizada com RM, e a HM com a utilização do ventilador mecânico e
verificou valores médios de pressão proximal entre 60 e 64 cmH2O com a
técnica realizada com o RM.
Redfern et al. (2001) mostraram que o uso de um manômetro de
pressão, durante a realização da manobra como forma de monitorização,
impede que os profissionais atinjam pressões proximais elevadas com a HM.
5.7. Variações dos fluxos inspiratório e expiratório
Em relação aos fluxos, o principal resultado encontrado foi que os
picos de fluxo inspiratório foram maiores que os expiratórios em sete dos
oito fisioterapeutas avaliados. A mediana de pico de fluxo inspiratório foi de
1,32 (0,92-1,80) L/seg e de 0,88 (0,54-1,13) L/seg para o pico de fluxo
expiratório. Como discutido anteriormente, os nossos resultados se devem à
força gerada pelos profissionais ao insuflarem os RMs. Podemos concluir
que a manobra está sendo feita de modo diferente do estabelecido pelos
especialistas (Consenso de Lyon, 2001) os quais definem que as técnicas de
fisioterapia se baseiam no mecanismo de variação de fluxo respiratório para
remoção de secreções e deveriam ter um fluxo expiratório maior que o
inspiratório. Tomamos por base as constatações de Kim et al. (1987) que,
para mobilizar secreções para regiões mais proximais, o fluxo expiratório
deve ser 10% maior do que o inspiratório.
Podemos argumentar que isso faz sentido quando aplicado ao
paciente sedado e que não tosse ao ser estimulado, mas talvez não se
69
aplique àquele que tosse, pois o fluxo expiratório gerado pela tosse é maior
e mais efetivo para remover as secreções.
Outros estudos que avaliaram a técnica constataram picos de fluxo
expiratórios maiores do que os inspiratórios. Maxwell e Ellis (2007)
estudaram o padrão da técnica de HM entre os fisioterapeutas, com o RM do
tipo Mapleson (inflável por fluxo) em 18 pacientes em 34 sessões de
fisioterapia. Os valores médios dos picos de fluxo inspiratórios encontrados
foram de 1,51 L/seg contra 3,26 L/seg de fluxos expiratórios, sendo que
estes últimos apresentaram variação importante (entre 1,06 e 7,18 L/seg).
Os autores atribuem essa diferença a diferentes resistências entre os
pacientes, ao esforço expiratório realizado por alguns durante o
procedimento e à variação individual dos fisioterapeutas durante
manipulação do equipamento. Outro trabalho desses mesmos autores
(Maxwell e Ellis, 2003) avaliou o efeito de 3 RMs (2 infláveis por fluxo –
Mapleson C e F e 1 auto inflável – Air Viva 2), no VT e nos picos de fluxos
gerados durante a desinsuflação rápida, “rapid release”, em simulador do
sistema respiratório. Constataram picos de fluxo inspiratórios maiores que
expiratórios com o RM auto inflável (2,03 ± 0,54 L/seg de fluxo inspiratório e
1,72 ± 0,06 L/seg de fluxo expiratório) quando a manobra era feita como o
profissional a realizava em sua prática clínica, o que é similar ao que foi
obtido em nosso estudo. E as médias de pico de fluxo inspiratório e
expiratório com os RMs infláveis por fluxo foram de 1,27 (± 0,03) com o
Mapleson C e 1,48 (± 0,78) L/seg de pico de fluxo inspiratório com o
Mapleson F, e 2,19 (± 0,08) com o Mapleson C e 2,25 (± 0,25) L/seg de pico
70
de fluxo expiratório com o RM Mapleson F. Os valores obtidos de fluxo
inspiratório maiores que os expiratórios encontrados nesse estudo não foram
relevantes, pois na média geral entre os fluxos, os valores de fluxo
expiratório foram maiores que os de fluxo inspiratório. Os autores discutem
que os fisioterapeutas não regulam o fluxo inspiratório suficientemente,
ocorrendo grandes variações de fluxo inspiratório, e concluem que o tipo de
RM e o operador influenciam nos fluxos e que o “rapid release” pode ser
recomendado para mobilizar secreção, por gerar maiores picos de fluxo
expiratórios, independente do RM utilizado. Um terceiro estudo desses
mesmos autores (Maxwell e Ellis, 2004) comparou, em simulador do sistema
respiratório, duas formas rotineiras de realizar a HM na Austrália:
comprimindo e soltando o RM normalmente durante a fase expiratória, e
comprimindo e mantendo a compressão do RM durante essa fase. Foram
avaliados dois tipos de RM infláveis por fluxo, tendo se encontrado valores
médios de pico de fluxo inspiratório de 1 e 1,34 L/seg, contra 1,54 e 2,29
L/seg de fluxo expiratório. Concluíram que a forma de realizar a manobra
influencia o fluxo expiratório. Em outro estudo, Maxwell e Ellis (Maxwell e
Ellis, 2002) avaliaram três formas comuns de utilizar o RM na Austrália (com
a válvula exalatória totalmente fechada, parcialmente fechada e totalmente
aberta) para realizar a HM em simulador do sistema respiratório, tendo
relatado valores de pico de fluxo inspiratório entre 1,13 e 1,51 L/seg, contra
1,62 e 2,10 L/seg de fluxo expiratório. Concluíram que o operador e a forma
como o circuito está adaptado influenciam no padrão da ventilação (quando
a válvula exalatória estiver totalmente fechada durante a inspiração, o VT, as
71
pressões e fluxos inspiratórios gerados podem estar muito altos), e que o
fisioterapeuta deve estar atento aos riscos quando for realizar a manobra de
HM nessas condições.
No entanto, em um estudo nacional realizado no INCOR (Rodrigues,
2007) os picos de fluxo expiratório também foram menores, semelhante aos
nossos resultados. Os autores compararam a manobra de HM com
compressão torácica utilizando um RM auto-inflável e a uma manobra de HM
controlada pelo ventilador mecânico. Os picos de fluxo inspiratórios
encontrados na manobra de HM associada à compressão torácica com o
RM variaram entre 1,48 e 1,59 L/seg contra 0,86 e 0,87 L/seg de fluxo
expiratório. Os autores discutem que os altos fluxos inspiratórios
encontrados são dependentes da pressão manual exercida ciclo a ciclo pelo
profissional, os quais também geraram altos picos de pressão proximal
(valores médios entre 60 e 64 cmH2O).
Em relação à velocidade do fluxo expiratório, podemos questionar
também o fato de não termos associado o “squeezing” (compressão
torácica) em nosso estudo. Talvez a compressão torácica associada no
início da expiração tivesse gerado um fluxo expiratório muito maior, tornando
a manobra adequada para mobilizar secreção. No entanto, em um estudo
nacional realizado no INCOR (Herbst-Rodrigues et al., 2006), comparando
os picos de fluxo expiratórios durante a HM com e sem compressão torácica
em pacientes de pós-operatório de troca valvar, foi constatado que a
compressão torácica não aumenta significantemente os valores de fluxo
expiratório. Porém, o estudo foi realizado com pacientes sedados e os
72
autores discutem que, provavelmente, nesse caso a pressão exercida no
tórax não aumenta o fluxo expiratório e que, talvez, a curarização e o edema
da parede torácica causados pelo procedimento cirúrgico podem ter
contribuído para a redução da mobilidade torácica, dificultando a conversão
da força extrínseca em aumento do fluxo. Um estudo (Unoki et al., 2004) que
avaliou os efeitos na complacência, oxigenação, ventilação e quantidade de
muco retirado de coelhos induzidos a atelectasia, comparando a
compressão torácica associada ou não com aspiração, e aspiração traqueal
somente, ambas sem o uso de RM, constatou que não houve diferença em
nenhuma variável estudada com a compressão torácica sozinha, ou
associada à aspiração, e sim, pioraram a oxigenação e complacência
quando realizada a compressão torácica. Os autores discutem que os
animais desse estudo estavam comprometidos com uma área extensa de
atelectasia, e que provavelmente a compressão torácica exacerbou o
colapso pulmonar. Esses autores, em outro trabalho (Unoki et al., 2005)
avaliaram os efeitos da compressão torácica aplicada na expiração, sem a
utilização de ressuscitador manual, sobre a secreção traqueal, oxigenação e
complacência de 31 pacientes recebendo ventilação mecânica e concluíram
que não houve diferença na melhora da complacência, quantidade de
secreção removida e na oxigenação quando realizada a compressão
torácica. Os autores discutem que talvez os pacientes em questão tivessem
áreas de atelectasia ou microatelectasias difíceis de serem avaliadas com a
radiografia e que a compressão torácica não foi capaz de reexpandir o
73
colapso alveolar, por não conseguir gerar pressão de recolhimento elástico
suficiente nessa população estudada.
5.8. Limitações deste estudo
Este estudo tem algumas limitações. Uma delas, conforme dissemos
no início desta discussão, é o tamanho da amostra estudada. Apesar de não
podermos generalizar esses dados para a prática clínica, acreditamos que
pudemos realizar uma análise qualitativa para mostrar que problemas
podem ocorrer na prática clínica.
Outro problema é o uso do simulador do sistema respiratório, que não
consegue refletir fielmente o funcionamento do pulmão humano. Apesar dos
nossos resultados indicarem que a manobra, do modo como foi realizada,
seria pouco efetiva para mobilizar secreção, temos que considerar esta
limitação. O modelo mecânico não tem a complexidade do sistema
respiratório, e, portanto, não tem como representar os efeitos das
propriedades elásticas do pulmão e da compressão dinâmica das vias
aéreas. Além disso, o objetivo do estudo não foi avaliar a eficácia da
manobra, e sim, entre outros, avaliar as pressões alveolares geradas, já que
estudo em modelo mecânico (Turki et al., 2005) e em pacientes (Clarke et
al., 1999), não avaliaram essa variável.
Outra limitação a ser considerada é a seqüência da coleta dos dados.
Mais adequado teria sido realizar todas as medidas da situação PC e depois
as da RL. Do modo como foi realizado, isto é, para cada um dos três
74
cenários eram coletadas primeiro as medidas da PC e depois da RL, poderia
ter havido um aprendizado da forma correta de realizar a HM, isto é a
situação RL, o que teria influenciado a forma de realizar a situação PC. No
entanto, ao analisar as medidas, observamos que a forma de realização da
HM da PC foram similares nos diversos cenários, entre os oito
fisioterapeutas.
Analisando os dados, pudemos observar que, mesmo após
orientação, os fisioterapeutas não realizaram adequadamente a situação RL.
Talvez isso tenha ocorrido porque eles não estivessem familiarizados com
esse modo de realizar a manobra e, como não houve um treino prévio,
apenas uma orientação verbal, eles não conseguiram aprender a técnica
descrita corretamente.
Em relação à escolha dos reanimadores manuais utilizados no
estudo, o RM nacional foi escolhido a partir de um teste de cinco RM
nacionais e três importados (dados não publicados). O critério para sua
escolha foi ser ele um RM de baixo custo e, provavelmente por isso, muito
encontrado nas UTIs brasileiras. No entanto, nos testes que realizamos
(dados não publicados), apesar de ter desempenho semelhante ao dos
outros RM nacionais em alguns quesitos, foi o que apresentou o menor
volume corrente no teste de ventilação com duas mãos. Todos os cinco RMs
nacionais apresentaram VT menor que os RMs importados, mas,
possivelmente, a escolha do RM da marca Unitec determinou um maior
contraste com o RM sem válvula, neste estudo.
75
5.9. Importância dos achados para a prática clínica
Nesta pequena amostra de fisioterapeutas estudada observamos que
a manobra de HM foi realizada diferente da descrita, com volume corrente
baixo e fluxos expiratórios menores do que os inspiratórios. Como dissemos,
o estudo não tem como analisar a eficácia da manobra, mas também
devemos considerar a opção de fazê-la, utilizando outro recurso: um
ventilador mecânico, com o qual podemos ajustar os fluxos, o volume e as
pressões.
Em estudo (Berney e Denehy, 2002) que comparou a HM feita
manualmente com o RM com a manobra realizada com ventilador mecânico,
não encontrou diferença entre a quantidade de secreção retirada dos
pacientes e nem entre os ganhos de complacência após a HM. Esses
autores citam as vantagens do uso do ventilador em relação ao uso do RM:
não é necessário desconexão do paciente do ventilador mecânico; há
melhor controle sobre as pressões, fluxos, e da fração inspirada de oxigênio.
Outro estudo (Savian et al., 2006), que comparou os efeitos da técnica
realizada em ventilador mecânico com a HM feita com o uso de válvula de
PEEP acoplada no RM, não constatou diferenças na quantidade de
secreção eliminada entre as técnicas, nem nas trocas gasosas ou na
complacência do sistema respiratório (constatado somente aumento da
complacência nos 30 minutos pós-tratamento da HM no ventilador
mecânico). Os autores concluem que a técnica feita no ventilador parece
promover maior ganho na mecânica respiratória, com menos prejuízos
metabólicos.
76
No entanto, um estudo que avaliou o transporte de três tipos de muco
artificial em um tubo plástico (Jones, 2002), comparando a manobra de HM
realizada com o RM e com ventilador mecânico, verificou que a distância
percorrida pelo muco foi significantemente maior com o uso do RM do que
com o ventilador. A distância percorrida (definida após 3 séries de 20
insuflações) pelo muco mais viscoso foi de 1,77 cm para o RM contra
0,87cm para o ventilador. Para o muco menos viscoso foi, respectivamente,
de 4,73 cm e 2,8 cm. Os autores desse estudo concluem que a HM com o
RM mobiliza maior quantidade de secreção do que com o ventilador
mecânico em modelo de tubo.
Nosso estudo comparou um RM nacional, com válvula limitadora de
pressão, com outro sem válvula e pudemos observar uma redução do
volume corrente atingido. Talvez a presença da válvula limitadora não seja a
única causa para o menor volume corrente observado, no entanto,
acreditamos que para melhor eficácia da manobra, isto é, para atingir um
volume corrente maior e manter a pressão durante a fase de pausa
inspiratória, seria conveniente que os profissionais, quando realizarem a HM
com RMs nacionais com válvula limitadora de pressão, ocluíssem com o
dedo ou fechassem (quando possível) a válvula limitadora de pressão.
Existem dúvidas em relação à segurança e eficácia da HM (Clarke et
al., 1999; Redfern et al., 2001; Turki et al., 2005; Branson, 2007), entre
outros motivos porque existem poucos estudos que avaliam desfechos de
longo prazo e porque os estudos têm metodologias diferentes e, assim, são
pouco comparáveis (Denehy, 1999; Stiller, 2000; Berney e Denehy, 2002;
77
Branson, 2007). Importante frisar que ausência de evidência (poucos
estudos) não significa que a técnica não seja recomendada.
A eficácia da manobra de hiperinsuflação manual para reduzir
atelectasias, aumentar o recrutamento pulmonar e melhorar a complacência
parece ser menos questionável (Hodgson et al., 2000; Berney e Denehy,
2002; Jones, 2002; Berney et al., 2004; Choi e Jones, 2005; Maa et al.,
2005). No entanto, vale considerar que a HM não é recomendada para
recrutamento alveolar de pacientes com SDRA (síndrome do desconforto
respiratório agudo), por exemplo. Nesse caso, é importante frisar que há
várias outras técnicas de recrutamento pulmonar que podem ser realizadas
com o ventilador mecânico com grande eficácia e com monitorização da
pressão, sem necessidade de desconexão e ventilação manual. A aplicação
de CPAP (30 a 45 cmH2O) por até 30 segundos de forma intermitente ou o
“suspiro estendido”, que é definido como a elevação da PEEP
progressivamente com diminuição de VT até chegar a CPAP de 30 cmH2O
por 30 segundos (Lim et al., 2001), são formas de recrutamento descritas na
literatura e comumente aplicadas na prática clínica. Outra forma de se obter
recrutamento alveolar sem a desconexão do ventilador mecânico foi definida
em estudo (Pelosi et al., 1999) sugerindo elevação do pico de pressão
inspiratória entre 40 a 50 cmH2O por curto período ajustando o ventilador no
modo pressão controlada associado com tempo inspiratório elevado.
Podemos dizer que se o objetivo da HM for o recrutamento pulmonar, seja
mais recomendado manobras com o ventilador mecânico.
78
A eficácia da HM para remoção de secreção também é considerada
incerta, pois os poucos estudos encontrados são difíceis de serem
comparados, devido à heterogeneidade de pacientes, e devido à manobra
não ser realizada e comparada isoladamente, e sim na maioria das vezes
estar associada ao posicionamento ou à compressão do tórax. Com isso,
podemos questionar se os pacientes estudados realmente tinham indicação
para realizar a HM, e se os mesmos se beneficiariam com a técnica isolada,
quando comparada com aquela aplicada a um grupo controle.
Finalizando, diante dos tópicos avaliados acima, acredito que este
estudo apontou algumas questões que podem alertar os profissionais quanto
ao modo de realizar a HM, podendo torná-la uma ferramenta útil na prática
da fisioterapia.
6. CONCLUSÕES
80
6. CONCLUSÕES
• As pressões alveolares geradas foram baixas, apesar dos altos
valores de pressão proximal;
• A manobra de HM foi realizada, em simulador do sistema
respiratório, pela amostra dos fisioterapeutas estudados, de forma
diferente da preconizada na literatura;
• O RM com válvula reguladora de pressão gerou menores volumes,
pressões e fluxos, quando comparado ao desempenho do RM sem
válvula.
81
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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