Taís Klein

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE BENTO GONÇALVES CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLOGIA AVALIAÇÃO DE AROMAS CARACTERÍSTICOS PRODUZIDOS POR DIFERENTES LEVEDURAS COMERCIAIS INOCULADAS NO MOSTO DA CV. CHARDONNAY Taís Klein Bento Gonçalves, setembro de 2006.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE BENTO GONÇALVES

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLOGIA

AVALIAÇÃO DE AROMAS CARACTERÍSTICOS PRODUZIDOS POR

DIFERENTES LEVEDURAS COMERCIAIS INOCULADAS NO MOSTO DA CV.

CHARDONNAY

Taís Klein

Bento Gonçalves, setembro de 2006.

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE BENTO GONÇALVES

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM VITICULTURA E ENOLOGIA

AVALIAÇÃO DE AROMAS CARACTERÍSTICOS PRODUZIDOS POR

DIFERENTES LEVEDURAS COMERCIAIS INOCULADAS NO MOSTO DA CV.

CHARDONNAY

Trabalho de Conclusão do

Curso Superior de Tecnologia

em Viticultura e Enologia

Orientadora: Prof. Ms Giselle Ribeiro de Souza

Supervisor: Luciano Salton

Taís Klein

Bento Gonçalves, setembro de 2006.

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AGRADECIMENTOS

A minha família, especialmente a minha mãe, pelo incentivo e carinho desde

criança.

Ao Lucindo, diretor técnico da Vinícola Salton, por todas as oportunidades que

recebi nesses anos de trabalho.

Ao pessoal da Salton Luciano e Marcos, por todo conhecimento transmitido, em

especial as minhas colegas e amigas Andréa e Joice pela motivação e companheirismo em

todas as horas.

A Duda, pelo sorriso lindo que me anima todos os dias.

Ao João, pelo apoio e principalmente pela paciência!

A todos os professores e funcionários do Cefet, responsáveis pelo meu

aprendizado e formação acadêmica.

A professora Gisele, que apesar de sobrecarregada, esteve disposta a orientar meu

trabalho.

A meus colegas, pela amizade.

Aos meus amigos (as), especialmente a Michelle e Maritê, pelo companheirismo,

ajuda e pelos “debates” enogastronômicos que sempre me animam.

Enfim, a todos os que me sempre me ajudaram!

Muito obrigada!

Fazer vinho é uma técnica, um bom vinho é uma arte.

Robert Mondavi

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SUMÁRIO

1. Introdução ........................................................................................................................... 11

2. Revisão Bibliográfica ......................................................................................................... 12

2.1 Vinificação em branco .................................................................................................... 12

2.2 Fermentação alcoólica .................................................................................................... 14

2.3 O mosto da uva como microecossitema ........................................................................ 16

2.4 O metabolismo da levedura ............................................................................................ 16

2.5 Necessidades e fatores de crescimento ........................................................................... 17

2.6 Influência do oxigênio ................................................................................................... 17

2.7 Necessidades nutritivas................................................................................................... 18

2.7.1 Alimentação carbonada ........................................................................................ 18

2.7.2 Alimentação nitrogenada ...................................................................................... 19

2.8 Definição de levedura selecionada ................................................................................. 19

2.8.1 “A levedura terroir não existe” ............................................................................. 19

2.9 Critérios para seleção de leveduras enológicas .............................................................. 20

2.9.1 Poder fermentativo ............................................................................................... 20

2.9.2 Baixa produção de ácidos voláteis........................................................................ 21

2.9.3 Cinética fermentativa ............................................................................................ 21

2.9.4 Resistência ao SO2 ............................................................................................... 22

2.9.5 Fator killer ............................................................................................................ 23

2.9.6 Outras características importantes ...................................................................... 23

2.10 Influência das leveduras na composição aromática do vinho....................................... 24

2.10.1 Os constituintes voláteis da etapa fermentativa ................................................. 25

2.10.2 Os álcoois superiores .......................................................................................... 30

2.10.3 Os ácidos e seus ésteres ...................................................................................... 30

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2.10.4 Etanal ou acetaldeído ........................................................................................... 31

2.11 Utilização das leveduras selecionadas em escala industrial ......................................... 31

2.11.1 Os primeiros inóculos .......................................................................................... 31

2.11.2 Pé de cuba clássico .............................................................................................. 32

2.11.3 Levedura seca ativa ............................................................................................. 32

2.11.4 Tecnologia de produção....................................................................................... 33

3. Materiais e métodos ............................................................................................................. 35

3.1 Leveduras utilizadas ....................................................................................................... 35

3.1.1 Levedura n° 1 - EC-1118 Saccharomyces cerevisiae bayanus ............................ 35

3.1.2 Levedura n° 2 – LNF 01 Saccharomyces cerevisiae ............................................. 36

3.1.3 Levedura n° 3 – M2 Saccharomyces cerevisiae bayanus ..................................... 37

3.2 Fermentação e características do mosto ......................................................................... 38

3.3 Metodologias analíticas .................................................................................................. 40

4. Resultados e discussão ..................................................................................................... 41

4.1 Resultado da análise química ..................................................................................... 41

4.1.1 Rendimento em etanol ........................................................................................... 41

4.1.2 Produção de ácidos voláteis ................................................................................... 42

4.1.3 Produção de acetaldeído. ....................................................................................... 43

4.1.4 Equilíbrio da acidez total ....................................................................................... 43

4.1.5 Tempo de fermentação .......................................................................................... 45

4.2 Resultado da análise sensorial ....................................................................................... 45

4.2.1 Análise estatística .................................................................................................. 46

4.2.2 Aromas produzidos pela levedura EC 1118 .......................................................... 46

4.2.3 Aromas produzidos pela levedura LNF 01 ............................................................ 46

4.2.4 Aromas produzidos pela levedura M2 ................................................................... 47

4.3 Apreciação global ........................................................................................................... 47

5. Conclusão ........................................................................................................................... 48

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6. Referências Bibliográficas .................................................................................................. 50

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1. INTRODUÇÃO

Desde que Pasteur averiguou os detalhes da fermentação alcoólica e identificou

as leveduras como seres vivos, desenvolvem-se pesquisas em torno do melhoramento da

fermentação com o uso de leveduras selecionadas. Hoje, existem técnicas que permitem

selecionar e isolar determinadas cepas de leveduras, e seu uso está sendo cada vez mais

difundido. Um dos avanços tecnológicos mais significativos na indústria vitivinicola é o

controle microbiológico do processo fermentativo por inoculação de cultivos selecionados

de Saccharomyces cerevisiae.

O setor enológico brasileiro e mundial usa abundantemente as chamadas

leveduras secas ativas. A utilização de leveduras selecionadas contribuem para uma

fermentação uniforme e podem evitar alterações químicas e microbiológicas durante a

etapa fermentativa.

No mercado, as leveduras secas ativas estão disponíveis com distintas propostas

de uso na fermentação. Diversas marcas comerciais colocam a disposição do enólogo uma

infinidade de ofertas que prometem garantir um vinho único e com características

desejadas.

Cabe ao enólogo, escolher a levedura mais adequada para cada variedade de uva

e tipo de vinificação adotada, bem como estabelecer a relação custo-benéfico que uma

determinada cepa traz ao seu produto final.

Dentro desses aspectos, esse trabalho objetiva avaliar quimicamente e

sensorialmente as características finais de um mesmo mosto da variedade Chardonnay,

vinificado com três diferentes cepas de leveduras disponíveis no mercado.

Também é objetivo do trabalho buscar o melhor custo beneficio entre as

leveduras.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Vinificação em branco

Para elaboração de vinho branco seco, como em toda vinificação, a composição e

firmeza das uvas são de grande importância, pois determina a qualidade dos vinhos

obtidos. A maturação das uvas para uma vindima depende do tipo de vinho que se queira

elaborar, mas a maturação normal se encontra entre 15,2 a 19° Babo. Vinhos elaborados

com a variedade Chardonnay podem beneficiar-se com uvas mais maduras (RANKINE,

2000).

A vinificação para obter vinhos brancos finos deve ser conduzida de modo a evitar

ao máximo a dissolução e passagem dos constituintes sólidos da uva. Os melhores vinhos

brancos são aqueles que contém o mínimo de compostos fenólicos-taninos, catequinas e

apicatequinas (RIZZON et. al., 2001).

Na vinificação em branco, a condução das operações pré-fermentativas, isto é, a

manipulação da uva e do mosto, é determinante para a qualidade do vinho. Essas operações

consistem em extrair o máximo de mosto e após, clarificá-lo (RIZZON et. al., 2001).

Uma extração adequada limita também os fenômenos oxidativos, a dissolução dos

compostos fenólicos da película e da semente, bem como o aumento de pH, relacionada à

extração de potássio da parte sólida da uva (RIBEREAU-GAYON et. al., 2003).

As prensas pneumáticas são as mais indicadas para prensagem do mosto para

elaboração de vinho branco fino, pois garantes um mínimo aumento do teor de compostos

fenólicos no decorrer do ciclo (RIZZON et. al., 2001).

O mosto para fermentação deve sofrer o processo de clarificação. Os vinhos

elaborados com quantidade elevada de borras apresentam aromas herbáceos, sabor amargo

e são mais sujeitos a oxidação (RIZZON et. al., 2001).

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Os vinhos provenientes de mosto clarificados apresentam teores mais baixos de

álcoois superiores de aromas pesados e teores mais elevados de ésteres de ácidos graxos e

ésteres de álcoois superiores com aromas mais agradáveis (RIZZON et. al., 2001).

O modo mais simples e mais eficaz de efetuar a clarificação do mosto é através do

processo estático, isso é sedimentação natural das borras, que pode ser realizada a frio (5 a

10°C) e com adição de enzimas pectolíticas. As enzimas pectolíticas permitem uma

clarificação rápida do mosto, redução de viscosidade, facilitam a filtração e aumentam a

qualidade da fermentação e do vinho. A clarificação ideal do mosto deve ficar entre 100 e

250 NTU, o que corresponde a 0,3 e 0,5% de partículas em suspensão (RIZZON et.al,

2001).

A escolha de uma levedura seca ativa para vinificação em branco apresenta

conseqüências importantes para o desenvolvimento da fermentação e característica

aromática do vinho (RANKINE, 2000).

Uma boa fermentação em vinhos brancos deve ocorrer a temperatura entre 10 a

16°C (alguns enólogos preferem ainda temperatura mais baixas). Aconselha-se manter um

ritmo linear de fermentação dos açúcares, que está compreendido entre 0,6 e 1,2° Babo por

dia (RANKINE, 2000).

As leveduras são organismos mesófilos, ou seja, a fermentação pode ocorrer

dentro de uma faixa de 10°C até 35°C. Dentro deste intervalo quanto maior a temperatura,

maior será a velocidade do processo fermentativo, sendo também maior a formação de

produtos secundários a fermentação (RODRIGUES et. al.,2005).

Uma boa levedura para vinificação em branco é aquela que permite a expressão de

fineza e da complexidade aromática da uva e não mascara esse aroma, por um excesso de

aroma fermentativo. A utilização de leveduras secas ativas em vinificação é criticada pela

uniformização do aroma em vinho branco (RIZZON et.al., 2001).

Em um mosto inoculado com cultivo puro selecionado de leveduras, deve-se ter

preferencialmente uma contagem total de 200 milhões de células de leveduras por ml de

mosto (RANKINE, 2000).

Pode-se adicionar ao mosto 100 a 200 miligramas por litro de fosfato de amônia,

como forma de nitrogênio assimilável pelas leveduras, evitando assim a formação de

aroma sulfídrico durante a fermentação e também para ajudar na fermentação completa dos

açúcares do mosto. A vitamina B1 (tiamina) também pode ser utilizada como nutriente

para levedura favorecendo a fermentação dos mostos muito clarificados (RANKINE,

2000).

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2.2 Fermentação Alcoólica

Fermentação é um termo geral que denota a degradação anaeróbica da glicose,

para obter energia conservada em ATP. A quebra anaeróbica da glicose é, provavelmente,

o mais antigo mecanismo biológico para obtenção de energia conservada na forma de ATP

(NELSON e COX, 2000).

Como se sabe, os principais produtos da fermentação alcoólica são o etanol e o

anidrido carbônico, segundo a seguinte equação:

C6H12O6 + 2ADP + 2Pi 2C2H5OH + 2CO2 + 2ATP + 2H2O

180 gramas 92 gramas 88 gramas

A base do cálculo pra rendimento em álcool procedente da fermentação do açúcar

do mosto da uva é que o etanol e o dióxido de carbono são os produtos majoritários, mas

não os únicos. Durante a fermentação, o açúcar é degradado a álcool e dióxido de carbono

e transformado em uma ampla variedade de produtos secundários, também utilizados pela

levedura para o seu crescimento. Um quilo de açúcar invertido (glicose e frutose) produz

aproximadamente 480 gramas de álcool em uma fermentação completa, dependendo da

temperatura, aeração e tipo de levedura (RANKINE, 2000).

A degradação dos açúcares pelas leveduras, via glicolítica, compreende um

conjunto de reações que permitem as células transformar a glicose em ácido pirúvico,

graças a um importante conteúdo enzimático encontrado no citoplasma (NELSON e COX,

2000).

A levedura e outros microorganismos fermentam a glicose em etanol e CO2. A

glicose é convertida em piruvato pela glicólise, e o piruvato é convertido em etanol e CO2

por um processo de dois passos. No primeiro passo, o piruvato sofre descarboxilação em

uma reação irreversível catalisada pela piruvato descarboxilase. Essa reação é uma

descarboxilação simples e não envolve a oxidação do piruvato. A piruvato descarboxilase

requer Mg2+ e tem uma coenzima firmemente ligada, a tiamina pirofosfato. No segundo

passo, por ação da álcool desidrogenase, o acetaldeído é reduzido a etanol, com o NADH

derivado da atividade da gliceraldeido-3-fosfato desidrogenase fornecendo poder redutor.

Portanto, em vez de lactato, os produtos finais da fermentação alcoólica são o etanol e o

CO2 (NELSON e COX, 2000).

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A piruvato descarboxilase está caracteristicamente presente nas leveduras de

fermentação de bebidas alcoólicas, em outros microorganismos fermentadores, e inclusive

em algumas plantas. O CO2 produzido na descarboxilação do piruvato por esse tipo de

leveduras é responsável pela carbonatação característica do espumante (NELSON e COX,

2000).

Figura 1 – Ciclo de conversão do piruvato em etanol

Resumindo o processo fermentativo, pode-se estabelecer que (LEPE E LEAL,

1992):

a. As fermentações são reações em cadeia catalisadas por uma série de

enzimas;

b. As secreções enzimáticas das distintas espécies microbianas, que têm

em comum uma atividade fermentativa fundamental, apresentam uma notável

diversidade qualitativa e quantitativa;

c. Os agentes físico-químicos influenciam notavelmente na produção e

funcionalidade dos processos enzimáticos microbianos. Por tanto, o andamento e

resultado final de cada fermentação pode ser diferente segundo as características

fisiológicas da levedura e das condições ambientais em que é realizada.

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2.3 O mosto da uva como microecossistema

O mosto da uva pode ser contemplado como um ecossistema do qual a

transformação fermentativa ocorre espontaneamente no vinho.

Os três elementos que o constituem são: o físico, o químico e o biológico. Estão

em estreita e harmônica inter-relação dinâmica, mudando desde uma base pouco estável –

dominada por um caráter organoléptico doce – até uma etapa mais estável – dominada por

um caractere ácido-alcoólico ou vinoso. Estes três elementos variam de forma

sincronizada, e ativam o processo microbiológico.

Sabe-se que o processo bioquímico da fermentação que arranca de um mesmo

ponto de partida, pode não chegar ao mesmo fim quando desenvolvido espontaneamente. É

assim pois as diferentes condições dadas ao mesmo mosto fermentado em diferentes

recipientes podem condicionar a diferentes vias ou caminhos metabólicos, chegando a

produtos de composição diferente.

Pode-se resumir da seguinte forma: todo vinho é obra das leveduras, mas estas

sempre se encontram, temporal e espacialmente, em situações ecológicas determinadas,

condicionando com esses fatores com o resultado do produto final (LEPE e LEAL, 1992).

2.4 Metabolismo da levedura

A composição química da levedura é evidentemente muito variável, dependendo

da espécie e do meio em que vive. Em geral é composta de 75% de água e 25% de matéria

seca. Dentro disso tem-se aproximadamente 25 a 40% de glucídios, 2 a 5% de protídeos, 2

a 5 % de lipídios e 3 a 10% de substâncias minerais. As substâncias minerais

compreendem, sobretudo ao ácido fosfórico de 50 a 60% e o potássio de 30 a 40%.

Assim como sua composição a levedura necessita para viver de água, glucídios,

protídeos, e substâncias minerais, que normalmente são encontrados no mosto da uva

(NAVARRE, 1991).

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2.5 Necessidades e fatores de crescimento

As leveduras necessitam para o seu crescimento ainda de outras substâncias, que

são as vitaminas indispensáveis, especialmente biotina, piridoxina, tiamina, ácido

pantotênico, mesoinositol, nicotinamida e riboflavina. Estes atuam em baixas

concentrações na multiplicação e na atividade celular. São indispensáveis para os

microrganismos e sua carência perturba seu metabolismo (RIBEREAU GAYON et al,

1985).

A uva, em condições normais, é suficientemente provida de fatores de

crescimento para assegurar uma boa multiplicação das leveduras. Mas em caso de

carências ou conteúdos insuficientes, em uvas pouco ou muito maduras, é possível o uso de

certas técnicas de vinificação que separam as melhores partes da uva. Além disso, à

medida que o mosto vai fermentando e que as gerações de leveduras vão sucedendo, os

fatores de crescimento esgotam-se e a facilidade de fermentação diminui. Se

experimentalmente fize-se fermentar sucessivamente várias vezes o mesmo mosto

retirando de cada vez o álcool por ebulição sob vácuo, e voltando a juntar açúcar e

nitrogênio amoniacal, o que é realizável em laboratório, obtém-se à terceira vez um líquido

açucarado que já não pode fermentar. As leveduras esgotaram tudo o que era necessário.

Basta então juntar um pouco de sumo natural contendo fatores de crescimento, por

exemplo, um pouco de mosto fresco, para que a fermentação seja possível novamente

(RIBEREAU GAYON et al, 1985).

2.6 Influência do oxigênio

As leveduras têm necessidade de oxigênio para se multiplicar. Na ausência

completa de ar, apenas formam algumas gerações e depois param o seu crescimento. Basta

então voltar a dar-lhes um pouco de ar para que tudo volte ao normal. Se o estado de

asfixia se prolonga, a maior parte das células morre. Pasteur definiu a fermentação como

“vida sem ar” porque uma célula de levedura privada de oxigênio, encontra a energia que

lhe é necessária na transformação do açúcar. Mas para ter uma fermentação prolongada e

obter produtos fermentados ricos em álcool, têm que se formar novas gerações de

leveduras constantemente, e para isso o oxigênio, embora em pequenas doses, é necessário.

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Esta necessidade de oxigênio é de certa forma indireta. As leveduras necessitam

de oxigênio para sintetizar os esteróis e assimilar os ácidos graxos de grande cadeia de que

necessitam. Os esteróis são substâncias orgânicas com vários ciclos de átomos de carbono

e com função álcool, fonte de vários hormônios e vitaminas, e cuja importância biológica é

considerável. No princípio da fermentação, as primeiras gerações de leveduras beneficiam

das reservas de esteróis das células-mãe, e depois dos esteróis dos meios naturais. Se a

fermentação prossegue ao abrigo do ar, os esteróis esgotam-se e não são renovados. O

oxigênio é então indispensável à sua síntese e à continuação da fermentação. Os esteróis e

ácidos graxos de cadeia longa são considerados fatores de sobrevivência, ou seja, possuem

ação sobre a atividade das leveduras e o ritmo da fermentação. Estudos concluem que estes

compostos são indispensáveis para as leveduras em condições de anaerobiose estrita,

porque nestas condições elas não têm condições de sintetizá-las. A presença de esteróis é

necessária para assegurar a permeabilidade das membranas. Em presença de oxigênio, a

levedura é capaz de assegurar por ela mesma, sua provisão de esteróis. Em anaerobiose, o

ergosterol é, de alguma maneira, um substituto do oxigênio para as leveduras. Estudos

mostram que células de leveduras mais ricas em esteróis mantêm por mais tempo sua

atividade fermentativa e ao fim da fermentação se degrada uma maior quantidade de

açúcares (RIBEREAU GAYON et al, 1985).

2.7 Necessidades Nutritivas

2.7.1 Alimentação carbonada

A levedura encontra no mosto da uva, a glicose e a frutose que serve como fontes

de carbono e alimentos energéticos. O teor de açúcares totais no mosto está entre 170 e

220g . l-1.. A quantidade de açúcar de uma fermentação influirá na seleção de cepas de

leveduras que assegurem o bom andamento da fermentação.

Em resumo, uma taxa de açúcar elevada afeta o crescimento da levedura e diminui

a população máxima. Em conseqüência, a fermentação reduz-se, inclusive antes da

formação de uma quantidade significativa de etanol, que possui efeito antisséptico

(RIBEREAU GAYON et. al., 2003).

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2.7.2 Alimentação nitrogenada

O mosto da uva é essencialmente rico em constituintes nitrogenados (0,1 – 1g . l-1

de nitrogênio solúvel). O teor de nitrogênio da uva depende da variedade e do porta-

enxerto, do meio e das condições de cultivo, e em particular da fertilização nitrogenada que

diminui em caso de sobrematuração (RIBEREAU GAYON et. al., 2003).

A capacidade da levedura de se desenvolver em meio nitrogenado, indica

evidentemente que ela é capaz de sintetizar aminoácidos, que são a base da composição

das proteínas e dos ácidos nucléicos (ZAMBONELLI, 1998).

As leveduras do mosto utilizam o nitrogênio, unicamente na forma de cátion

amônio (NH4+), uréia, aminoácidos e peptídeos. A uréia não existe no mosto e sua adição

não é permitida. Já os compostos nitrogenados podem ser adicionados (DELFINI, 1995).

A riqueza inicial do mosto em cátion amônio (NH4+) é um dos elementos mais

importantes para o bom andamento da fermentação. Em quantidades abaixo de 25mg . l-1,

o arranque da fermentação é pouco provável. Uma adição de nitrogênio é necessária

quando o teor de nitrogênio prontamente assimilável pelas leveduras é inferior a 130mg . l-

1, e não é necessária a partir de 300mg . l-1 (DELFINI, 1995).

2.8 Definição de levedura selecionada

Pode-se definir selecionada a levedura que sofreu um processo de seleção de

características, que irão consentir um resultado final desejável. Mediante o emprego de

leveduras selecionadas, é possível evitar certos inconvenientes como fermentação lenta,

devido a presença de resíduos de agrotóxicos e sulfitação, escassa presença de leveduras na

fermentação, formação excessiva de ácidos voláteis, e formação de espuma alta e

persistente, desenvolvimento de microorganismos não desejáveis, que influenciam

diretamente na qualidade do vinho (ZAMBONELLI, 1998).

2.8.1 “A levedura terroir não existe”

Sobre as uvas vivem várias espécies de leveduras, da mesma forma que uma

infinidade de microorganismos vive sobre outras plantas, animais, no ar e no solo. As

leveduras não têm a finalidade expressa de produzir um tipo particular de vinho, apenas

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trabalham conforme seu metabolismo. Não cabe falar aqui, do determinismo genético da

vinificação operada pela levedura. Na verdade, numerosos estudos avaliam a inexistência

de uma flora especificamente associada ao “terroir”. As cepas de leveduras que mais

proliferam durante a fermentação podem proceder da videira ou ser resultado de uma

contaminação pelo equipamento de vinificação. Em todos os casos, estas terão que

competir com outros microorganismos cuja presença também é aleatória e os melhores

adaptados ao meio, permanecerão. No entanto, as cepas de leveduras que multiplicam-se

com maior facilidade não são necessariamente as que produzem o melhor vinho. Por isso

convém eleger tanto as cepas idôneas para o mosto que se quer fermentar como dotadas de

propriedades enológicas que sejam de interesse. Esse é o principal objetivo dos trabalhos

de seleção de cepas de leveduras (VALADE, 2004).

2.9 Critérios para seleção de leveduras enológicas

Em ‘Estudos Sobre o Vinho’ Pasteur escrevia em 1876: “as qualidades do vinho

dependem em grande parte da natureza específica das leveduras que se desenvolvem

durante a fermentação do mosto. Podemos pensar que se submetermos um mesmo mosto a

ação de leveduras distintas, obteríamos vinhos de natureza distinta”.

Ao longo dos anos, as leveduras têm sido objeto de investigação e seleção, em

função dos critérios para melhoria de qualidade do vinho, ou em caso de controlar

tecnologias para conseguir produtos tipificados por região (NAVARRA, 1991).

Tradicionalmente seleciona-se leveduras para vinificação naturais da microflora

da uva, devido a relações existentes entre o binômio vinhedo-levedura, preconizada em

regiões que utilizam as chamadas ‘leveduras local selecionada’ (NAVARRA, 1991).

Abaixo seguem alguns critérios utilizados para seleção e isolamento de leveduras.

2.9.1 Poder fermentativo

Um poder fermentativo elevado tende a deixar os vinhos com teores mínimos de

açúcares residuais, ou seja, totalmente secos, com baixa acidez volátil, e uma correta

cinética fermentativa, marcam inicialmente os três primeiros critérios para seleção de

leveduras (LEPE e LEAL, 2004).

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Além disso, o poder fermentativo, garante o poder alcoogênico, que é designado

como a capacidade das leveduras para produzir vinhos de elevado grau alcoólico. Entende-

se portanto que corresponde à máxima porcentagem em etanol que uma levedura é capaz

de produzir ao fermentar um mosto estéril com excesso de açúcares (SUÁREZ, 1997).

O poder alcoogênico representa uma ampla variabilidade, entre as diferentes

espécies de leveduras vínicas, e em alguns casos entre as diferentes cepas de uma mesma

espécie. Por seu poder fermentativo as os gêneros em destaque são: Saccharomyces,

Zygossaccharomyces e Schizosaccharomyces, sendo que as espécies do primeiro,

S.cerevisiae e S. bayanus, as que têm destaque especial na seleção clonal. Normalmente as

cepas mais alcoogênicas procedem de uvas de zonas mais quentes, onde alcança-se uma

perfeita maturação dos frutos (SUÁREZ, 1997).

A produção de etanol pode ser otimizada, modificando as condições de

fermentação, mediante adição de substrato a concentrações não inibidoras (SUÁREZ,

1997).

2.9.2 Baixa produção de ácidos voláteis

A acidez volátil de um vinho esta essencialmente ligada a presença de ácido

acético, e varia sensivelmente com as espécies de leveduras que realizam a fermentação

alcoólica. Esta variabilidade também é notável mesmo com espécies do gênero

Saccharomyces (LEPE e LEAL, 2004).

A maior parte dos ácidos voláteis se forma nos primeiros estágios da fermentação,

por descarboxilação oxidativa do ácido pirúvico, ou de forma simultânea a biossíntese do

ácido fórmico, variando a sua concentração conforme o pH do mosto, potencial de oxi-

redução e genótipo celular (LEPE e LEAL, 2004).

2.9.3 Cinética fermentativa

No que se refere a uma correta cinética fermentativa, seu estudo estabelece

basicamente a determinação de:

� Fase de latência a uma dada temperatura;

� Regularidade fermentativa;

� Duração total do processo;

� Curva termodinâmica de cada cepa;

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� Resposta ao estresse fermentativo;

As curvas termodinâmicas de algumas cepas mostram em distintos níveis, ou

diferentes concentrações de açúcares, amplas variações no tempo que tem lugar aos

máximos consumos, e por tanto, produção dos máximos calóricos. Esse problema térmico

originado pela elevação da temperatura de fermentação, particularmente em mostos muito

ricos em açúcares, pode ser resolvido com o simples controle de temperatura por

refrigeração do mosto e fermentação a temperatura controlada, principalmente em vinhos

brancos.

A velocidade da fermentação, regularidade da atividade fermentativa, duração

total da fermentação, e conteúdo de etanol a produzir, devem ser bem controlados durante

a fermentação.

Quanto ao estresse fermentativo, há estudos que compravam a capacidade

inibidora de ácidos graxos saturados de cadeia curta sobre cepas do gênero

Saccharomyces, sendo o efeito inibitório crescente conforme aumenta a quantidade de

ácidos graxos do mosto. O ácido com maior efeito é o C10 (n-Decanóico) (MORATA,

2002).

2.9.4 Resistência ao SO2

O anidrido sulfuroso é um composto tradicionalmente e largamente utilizado em

enologia, pelas suas ações antioxidante e estabilizante e também por sua atividade

anticéptica, essa inibe o desenvolvimento de bactérias láticas e acéticas que são muito

sensíveis ao efeito do SO2. Já, as leveduras são mais resistentes, algumas cepas de

Saccharomyces cerevisiae podem desenvolver-se no mosto da uva com concentrações de

150 a 200 ppm de SO2. No entanto, a maioria das cepas em quantidades de 100ppm de SO2

têm certa dificuldade no metabolismo da fermentação (ZAMBONELLI, 1998).

A resistência ao anidrido sulfuroso é muito variável entre leveduras fermentativas,

mas em geral é diminuída pela presença de etanol (ZAMBONELLI, 1998).

O mecanismo de ação e morte da célula de levedura está relacionado com a

modificação da membrana celular e bloqueio de certos sistemas enzimáticos essenciais no

metabolismo energético, além de causar danos no interior da célula a nível mitocondrial,

indução de mutações, e de diminuição intracelular de ATP por inibição sulfídrica (LEPE e

LEAL, 2004).

Page 20: Taís Klein

23

2.9.5 Fator Killer

As leveduras killer foram descobertas em 1965 e hoje se dispõem de amplas

informações a respeito deste assunto. Um grupo de leveduras do mesmo gênero produz o

que se denomina toxina killer, que são proteínas ou glicoproteínas, que matam outras

leveduras. A presença de toxina killer aparece da mesma maneira que a presença de

compostos antibióticos liberados por certos mofos, mediante observação da inibição do

crescimento de uma cepa em presença de outra (RANKINE, 2000).

O fator killer, ou neutro, pode representar uma propriedade fisiológica de interesse

industrial e sua atividade consegue expressar-se me condições enológicas reais. Algumas

cepas de Saccharomyces cerevisiae têm a capacidade de produzir certas toxinas, a qual a

mesma resiste, mas que pode ser letal a outras cepas. As toxinas K1 e K2 apresentam um

pH ótimo e temperatura de inativação que pode ser compatível com algumas vinificações

(RANKINE, 2000).

A toxina killer é constituída de uma macromolécula composta por 90% de um

carboidrato (D-mannosio) e por 10% de proteína, o efeito tóxico é atribuído totalmente a

fração protéica. A toxina killer é dotada de pouca estabilidade: essa pode ser facilmente

inativada pela enzima pectolítica. É estável em valores de pH muito limitados, entre 4,6 e

4,8. Temperaturas superiores a 25°C também inativam a toxina killer (ZAMBONELLI,

1998).

As características killer não são efetivas em cultivos puros, porque uma levedura

killer somente produzirá a morte de outras quando estiver em contato com cepas de

leveduras que se mostrem sensíveis a ela. As leveduras killer não têm efeito esterilizante

sobre o mosto (RANKINE, 2000).

Ainda faltam estudos sobre o efeito das leveduras killer sobre o consumidor de

bebidas, mas em princípio não são prejudiciais à saúde (RANKINE, 2000).

2.9.6 Outras características importantes

- Intensidade respiratória;

- Baixa produção de espuma;

- Não produção de H2S;

- Boas característica de aromas e sabor (produção de compostos voláteis:

ésteres, álcoois superiores, cetonas e ácidos graxos);

Page 21: Taís Klein

24

- Não formação de uréia e etil carbamato (componente cancerígeno produzido

através da reação de uréia e etanol). A uréia é formada por parte das leveduras através da

rota da arginase, por tanto é conveniente o uso de leveduras que não tenham essa enzima

para fermentar mostos com altos níveis de aminoácidos;

- Produção de glicerol, que é o produto mais importante quantitativamente

depois do etanol e que afeta favoravelmente os aromas do vinho;

- Atividade β glucosidásica: diretamente relacionada com a liberação de

terpenos, responsáveis pelo flavor varietal do mosto;

- Floculação rápida e sedimentação compacta;

Degradação do ácido málico e de alguns ácidos orgânicos que podem ser

metabolizados pelas leveduras.

2.10 Influência das leveduras na composição aromática do vinho

O aroma dos vinhos constitui na sua globalidade, uma das suas mais importantes

características organolépticas definidoras da sua qualidade e da sua tipicidade (GARCIA,

1988).

O vinho está constituído por cerca de 800 substâncias voláteis presentes em

concentrações de algumas nanogramas por litro. O grau de percepção olfativa desses

compostos cobre uma grande gama de valores. O grau de percepção olfativa dos

constituintes voláteis do vinho está ligado por sua vez a sua concentração e natureza

(RIBEREAU GAYON et. al., 2003).

Os constituintes aromáticos dos vinhos podem ser classificados segundo sua

origem, distinguindo-se em (FLANZY, 2000):

• Os constituintes varietais provenientes da uva, que dependem

essencialmente da variedade e de outros fatores (fitossanitários, climáticos,

condução da vinha, etc.);

• Os constituintes pré-fermentativos, formados durante a etapa que vão

desde a colheita até o princípio da fermentação alcoólica, são essencialmente

compostos de 6 átomos de carbono;

• Os constituintes fermentativos, formados pela levedura durante a

fermentação alcoólica e pelas bactérias no caso da fermentação malolática seja

Page 22: Taís Klein

25

realizada. A levedura tem o papel essencial de produzir etanol, a partir de açúcar.

Os constituintes fermentativos são os produtos secundários do metabolismo da

levedura, implicando os nutrientes não específicos do meio que provém da uva.

Quantitativamente, estes são mais abundantes e considerados responsáveis pela

nota vinosa comum a todos os vinhos.

• Os constituintes pós-fermentativos, que incluem todos os compostos

voláteis que se formam durante a conservação do vinho, cuja duração pode

ultrapassar dezenas de anos.

Nos vinhos novos, o aroma é essencialmente determinado pelos constituintes

voláteis provenientes das uvas e da vinificação. Os aromas das uvas, característicos da

variedade, e os resultantes da fase pré-fermentativa, são os que importam efetivamente

fazer sobressair, constituindo uma das bases em que deverá assentar a tecnologia de

vinificação mais correta (GARCIA, 1988).

Neste trabalho vamos nos deter aos constituintes fermentativos atribuídos às

leveduras.

2.10.1 Os constituintes voláteis da etapa fermentativa

O processo de fermentação é a etapa essencial da transformação do em mosto em

vinho. Essa etapa implica em duas transformações biológicas, a fermentação alcoólica e a

malolática. Em termos de aroma, a fermentação alcoólica é mais importante já que é

responsável pela nota vinosa, que constitui a base aromática de todos os vinhos. Além

disso, os constituintes aromáticos formados durante a fermentação alcoólica representam

quantitativamente a maior parte dos aromas do vinho. São, em sua maioria, os mais fáceis

de analisar pelos métodos físico-químicos.

As substâncias voláteis formadas durante a fermentação alcoólica apresentam,

sem dúvida alguma, um importante papel da definição do aroma dos vinhos resultantes

Nos vinhos novos, o aroma é essencialmente determinado pelos constituintes voláteis

provenientes das uvas e da vinificação, essencialmente trata-se de álcoois superiores,

ácidos e ésteres (GARCIA, 1988).

Page 23: Taís Klein

26

Álcoois, ácidos e seus ésteres

R=H

R=CH3-C=O

Etanol

Acetato de etila

Álcool

Picante

R=H

R=CH3-C=O

3-metilbutanol

Acetato de 3-

metilbutila

Creme de

amêndoas

Banana

R=H

R=CH3-C=O

2-feniletanol

Acetato de 2-

feniletilo

Rosa

Rosa, mel

R=H Ácido acético Vinagre, picante

R=H

R=ETIL

Ácido hexanóico

Hexanoato de etila

Suor, agrio

Maçã

R=H

R=ETIL

Ácido octanóico

Octanato de etila

Manteiga rança

Abacaxi, pêra

R=H

R=ETIL

Ácido 3-

metilbutanóico

3-metilbutanoato de

etila

Suor, podridão

Frutado, maçã

R=H

R=ETIL

Ácido fenilacético

Fenialacetato de

etila

Animal

Mel

Page 24: Taís Klein

27

R=H

R= ETIL

Ácido acético

Lactato de etila

Leite azedo

R=H

R=ETIL

Ácido succínico

Succinato de etila

Tabela 1 – Substâncias voláteis da fermentação – Álcoois, ácidos e seus ésteres

(FLANZY, 2000).

Compostos carbonados

Acetaldeído ou etanal Maçã verde

Fenilacetaldeído Jacinto, rosa

Diacetilo Manteiga

Acetoína Manteiga

Tabela 2 – Substâncias voláteis da fermentação – Compostos carbonados (FLANZY,

2000).

Compostos do SO2

Ácido sulfídrico Ovo podre

Page 25: Taís Klein

28

Metil mercaptano Gosto de luz

3-metiltiopropanol Batata cozida

2-metiltiofan-3-ona Migalha de pão

Tabela 3 – Substâncias voláteis da fermentação –Compostos do SO2 (FLANZY, 2000).

Lactonas

γ -nonalactona Noz de coco

∆ – decalactona Melão

4-carbetoxi- γ – butirolactona Noz de coco

Tabela 4 – Substâncias voláteis da fermentação – Lactonas (FLANZY, 2000).

Fenóis

4-vinilfenol Aguado, queimado

Page 26: Taís Klein

29

4- vinilguayacol Cravo

4- etilfenol Medicinal, esterco de cavalo

4- etilguayacol Especiarias, caramelo,

queimado

Tabela 5 – Substâncias voláteis da fermentação – Fenóis (FLANZY, 2000).

A levedura exerce um notável efeito no perfil aromático dos vinhos, o que tem

sido objeto de vários estudos. Soumailainen (1971) referiu-se muito concretamente a

importância desse efeito, explicando-o pelas diferentes composições enzimáticas da

membrana plasmática da levedura. Di Stefano (1981) assinalou, por exemplo, a forte

produção de ésteres e ácidos por S. cerevisiae e S. italicus, uma também elevada produção

de acetato de etila por S. bayanus e auma produção elevada de 2-fenil-etanol por S. uvarum

(GARCIA, 1988).

O papel essencial da fermentação alcoólica é formar etanol e produtos

secundários. Os agentes destas transformações biológicas são as diversas cepas de

Saccharomyces cerevisiae. O etanol intervém na percepção olfativa no vinho diretamente

por seu odor, e indiretamente diminuindo a polaridade do meio, e portanto, os coeficientes

de participação ar/vinho da maior parte dos constituintes aromáticos (FLANZY, 2000).

A levedura utiliza igualmente os açúcares fermentáveis da uva para formar através

da fermentação glicero-pirúvica, essencialmente glicerol e ácido pirúvico. A bioenergia é

obtida pela glicólise e pela respiração celular da levedura, quando o meio contém oxigênio

que é posto a disposição das leveduras para seu crescimento e formação de produtos

secundários, entre os quais se encontram os constituintes fermentativos do aroma,

procedentes do metabolismo glucídico, nitrogenado, lipídico e do SO2 (FLANZY, 2000).

Page 27: Taís Klein

30

2.10.2 Os álcoois superiores

Esta classe está amplamente dominada quantitativamente pelo 2 e 3-metilbutanol,

o propanol, o butanol, 2 feniletanol, pentanol e o trisol. Seu conteúdo total no vinho é da

ordem de 400 a 500 mg.l-1, o que corresponde ao conteúdo ótimo para o aroma.

Sua formação está ligada ao metabolismo dos aminoácidos, e dessa maneira,

fortemente influenciado pela fonte de nitrogênio do mosto. Uma carência de nitrogênio

assimilável causa a acumulação de α – cetanóicos, produtores de quantidades importantes

de álcoois correspondentes, no caso contrário, a presença de quantidades elevadas de

aminoácidos provoca a retro-inibição da via anabólica, e por tanto a diminuição dos álcoois

correspondentes a essa via.

No geral, a produção de álcoois superiores parece depender da cepa de levedura,

quer dizer de seu perfil de utilização de aminoácidos e demanda de nitrogênio total

(FLANZY, 2000).

2.10.3 Os ácidos e seus ésteres

Os ácidos graxos e seus ésteres são, com seus álcoois, os principais marcadores do

aroma fermentativo.

Na verdade, os ácidos graxos são produzidos em quantidades elevadas nos vinhos

apresentando um aroma fermentativo agradável, principalmente frutados, com exceção do

acetato de etila. Geralmente, esta família compõe-se de ácidos graxos de cadeia curta (C2 a

C10), de seus ésteres etílicos e seus acetatos de álcoois superiores. Biogeneticamente

derivam todos da acil S-coenzima A que dá lugar aos ácidos graxos por hidrólise, ou aos

ésteres etílicos de ácidos graxos e aos acetatos de álcoois superiores por alcoólise (etanol e

álcoois superiores).

As condições de fermentação são muito importantes para a produção de ácidos e

ésteres, as principais são: anaerobiose estrita, baixa temperatura de fermentação e uma

clarificação do mosto adequada. Porém, deve-se ter cuidado, pois nestas condições é

favorável que os ácidos graxos C6, C8, C10 e C12 e seus ésteres inibam a multiplicação

celular das leveduras (FLANZY, 2000).

Page 28: Taís Klein

31

2.10.4 Etanal ou Acetaldeído

A importância do etanal em enologia deriva essencialmente das características

organolépticas (influenciando de forma acentuada o aroma e sabor dos vinhos), da sua

grande reatividade química (combinando-se rapidamente com o ácido sulfuroso,

influenciando de forma decisiva a estabilidade e a evolução da cor e originando compostos

derivados, igualmente importantes), da estreita relação dos seus teores com os níveis de

oxidação alcançados e do fato de se tratar de um importante intermediário nos mecanismo

da fermentação alcoólica dos açúcares pelas leveduras.

Sabe-se que a principal causa da origem do etanal está interligada com a

descarboxilação enzimática do ácido pirúvico, sendo um composto formado durante a

fermentação alcoólica, constituindo assim, um componente presente nos vinhos novos.

A formação do etanal, durante a fermentação dos mostos, depende também

significativamente da natureza das leveduras, da composição do meio (substâncias

carbonadas, pH) e da temperatura (GARCIA, 1988).

2.11 Utilização de leveduras selecionadas em escala industrial

2.11.1 Os primeiros inóculos

Historicamente, a fermentação do vinho se dava de forma espontânea, devido a

presença das leveduras indígenas do mosto, os resultado eram imprevisíveis. Os cultivos

puros foram utilizaram pela primeira vez na indústria cervejeira por volta do ano de 1890,

e posteriormente para vinificação. É interessante destacar que Pasteur em seus clássicos

estudos sobre fermentação não trabalhou com cultivos puros (LEPE, 1997).

Anteriormente aos estudos dos critérios de seleção clássicos de leveduras vínicas,

considerava-se que um pé de cuba, não era mais do que um mosto em plena fermentação,

conduzida nas melhores condições possíveis procurando, assim um predomínio das

melhores cepas de leveduras. Deste mosto em plena fermentação, adicionava-se 2 a 6% em

um mosto, que ainda não arrancara a fermentação. Está técnica assegurava uma plena

fermentação do mosto com uma população elevada de leveduras (LEPE, 1997).

Page 29: Taís Klein

32

2.11.2 Pé de cuba clássico

É o nome dado a um certo volume de mosto em plena fermentação, preparado a

partir de um mosto estéril, e adicionado de leveduras selecionadas em cultivo.

Para preparação de um pé de cuba em escala industrial, todo o processo inicial

deve realizar-se em condições estéreis, tentando assim garantir a pureza do cultivo

selecionado. O pé de cuba com leveduras selecionadas em meio de cultura deve representar

ao menos 4% do volume total a fermentar (LEPE, 1997).

1- Controle da pureza da seleção,

2- Cultura pura de partida,

3- Inoculo em mosto estéril,

4- Multiplicação intermédia de leveduras,

5- Multiplicação de mosto parcialmente estéril,

6- Adição ao mosto para fermentação.

Figura 2– Esquema de preparação do pé de cuba (FLOREZANO, 1978)

2.11.3 Levedura seca ativa

A célula microbiana em estado desidratado conserva sua vitalidade por muito

mais tempo, e quando hidratada em meio nutritivo, retoma sua atividade com muito

potencial.

Page 30: Taís Klein

33

As leveduras secas ativas comerciais apresentam-se na forma granulada em

coloração creme-bege. O material é constituído essencialmente de células de leveduras,

sem nenhum composto nutritivo.

Países como Canadá, Alemanha e EUA foram os pioneiros na produção de

biomassa de leveduras secas ativas. Hoje, essas leveduras são largamente utilizadas em

escala industrial, por diversos países vitícolas.

As leveduras secas ativas possuem uma alta estabilidade e baixo nível de

umidade, o que facilita seu transporte e armazenamento por longos períodos. Quando

guardadas em lugar fresco e seco podem manter sua viabilidade por um ano ou mais. Suas

principais características são:

- melhor conservação, devido às técnicas de envase com gás inerte;

- economia no transporte;

- fácil e rápida disponibilidade em caso de necessidade

As leveduras secas ativas representam o modo mais fácil e operativo de utilização

de leveduras vínicas selecionada, especialmente para grandes indústrias. Permitem dispor

de grande quantidade de inóculo sem preparação prévia à vindima, como no caso do pé-de-

cuba tradicional. As leveduras secas ativas podem ser inoculadas em qualquer quantidade

de mosto, através de um processo de reidratação que dura cerca de 30 a 40 minutos (LEPE,

1997).

2.11.4 Tecnologia de produção

A tecnologia de produção de leveduras secas ativas para vinificação esta baseada

na produção e rendimento da biomassa e engloba as seguintes etapas, segundo LEPE E

LEAL, 1992:

Preparação de matérias prima: as principais matérias primas utilizadas são a cana-

de-açúcar e a beterraba, como fonte de carbono, com um conteúdo de aproximadamente

480g de sacarose por quilo de melaço.

- Multiplicação de leveduras: trata-se de um processo aeróbico, onde se

necessita de 4 a 5Kg de melaço para produção de 1kg de levedura seca. A quantidade de ar

necessário depende do tipo de fermentador utilizado. Dependendo das condições do

processo, em um período de 25 a 30 horas, pode-se obter uma biomassa de

aproximadamente seis toneladas ou mais de leveduras secas.

Page 31: Taís Klein

34

- Separação: consiste na separação do meio de fermentação da biomassa obtida

(creme de leveduras) por centrifugação e lavagem com água fria, que são operações

prévias a filtração a vácuo. Esta operação tem a finalidade de alcançar uma quantidade de

matéria seca em torno de 30%.

- Granulação: operação onde a massa de leveduras passa através de placas

metálicas perfuradas, diminuindo assim seu diâmetro, e facilitando o processo de secagem.

- Secagem: geralmente feita por leito fluidificado, que permite obter produtos

de mais fácil reidratação.

- Acondicionamento: as leveduras são envasadas em caixas ou sacos, sob

atmosfera de gás inerte ou vácuo, e armazenadas em baixa temperatura, garantindo assim

sua boa conservação e atividade.

- Controle de qualidade: as leveduras secas ativas encontradas no mercado,

devem possuir características como: apresentar grânulos redondos, de cor bege, com

densidade de 0,6 a 0,7 e umidade em torno de 8% ou inferior. Não devem ser adicionadas

de aditivos e apresentar uma população de 1,0 a 3,0 . 1010 leveduras vivas por grama.

Também devem ter pureza microbiológica (bactérias e leveduras selvagens não podem

apresentar porcentagens superiores a 0,004% e 0,005%, respectivamente) e ser livres de

organismos patógenos, como Salmonellas e aflatoxinas.

Page 32: Taís Klein

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Leveduras utilizadas

Foram escolhidas três marcas comercias de levedura seca ativa disponíveis no

mercado, sendo elas EC 1118, LNF 01 e M2. Estas foram inoculadas no mosto da

variedade Chardonnay, da safra de 2006. Segundo o fabricante as leveduras possuem as

seguintes características:

3.1.1 Levedura n° 1 – EC 1118 Saccharomyces cerevisiae bayanus

Características microbiológicas e enológicas:

- Possui fator Killer;

- Alta tolerância ao álcool: até 18%;

- Fase de latência curta;

- Rápida velocidade de fermentação;

- Ampla gama de temperaturas de fermentação, variando de 10°C a

30°C;

- Baixa necessidade em nitrogênio assimilável;

- Baixa necessidade em O2;

- Produção média em acidez volátil;

- Produção média em SO2;

- Produção média de H2S;

- Escassa produção de espuma.

Page 33: Taís Klein

36

Aplicações:

Esta levedura foi selecionada na região de Champagne, França, sua utilização foi

validada pelo Comitê Internacional do Vinho de Champagne.

É recomendada principalmente para a segunda fermentação de vinhos

espumantes, visto que possui alta resistência ao álcool, porém pode ser utilizada também

para fermentação de vinho base.

Doses recomendadas:

- Vinificação em branco, tinto e rosado: 20 a 40g/hl;

- Tomada de Espuma: 50g/hl;

- Tratamento de parada de fermentação: 40g/hl.

Preço: R$ 4,42x /Kg

3.1.2 Levedura n° 2 – LNF 01 Saccharomyces cerevisiae

Aplicações:

Incubação inicial de mostos nos quais se deseja garantir a predominância

fermentativa sobre as leveduras selvagens.

Características:

- Resistente a altas temperaturas (32-35oC);

- Levedura polivalente utilizada na fermentação de mostos tintos e

brancos;

- Resistente ao SO2;

- Levedura neutra do ponto de vista organoléptico;

- Alto poder álcoolgênico, o que a faz recomendada em

refermentações e fermentações lentas.

Dose de aplicação:

Page 34: Taís Klein

37

- Mostos brancos e tintos: 15-20g/hl;

- Ativação de fermentações e refermentações: 20-25g/hl.

Utilização:

- Rehidratar conforme norma geral.

Apresentação:

- Caixas de 10kg.

Preço: R$ x /Kg

3.1.3 Levedura n° 3 – M2 Saccharomyces cerevisiae bayanus

Origem – Cepa selecionada pelo departamento de tecnologia Alimentícia da

universidade de Massey, Nova Zelândia.

“Os aromas da cepa, são neutros, respeitam as características varietais.

Particularmente recomendada para vinhos de qualidade como a Chardonnay. Resistente

ao álcool, bom poder floculante”

Propriedades enológicas:

- Caráter killer: devido ao seu caráter killer, a cepa M2 está em ótimas

condições para dominar a fermentação;

- Cinética fermentativa: boa;

- Temperaturas ótimas: fermenta bem a temperatura entre 12 a 38°C;

- Produção de acidez volátil: 0,20 a 0,35 g/l;

- Produção de SO2: insignificante;

- Produção de H2S: nula;

- Produção de espuma: muito fraca;

- Tolerância ao álcool: até 16% v/v;

Page 35: Taís Klein

38

- Caráter aglomerante: a cepa M2 tende a flocular ao término da

fermentação produzindo um deposito compacto e deixando o vinho com muito

pouca turbidez, o que facilita a operação de trasfega.

Campo de aplicação

Aconselha-se o emprego da cepa M2 para elaboração de vinhos de qualidade

tanto brancos como tintos, suas propriedades não são atribuíveis ao glicerol. Em vinhos

brancos deve-se controlar a temperatura de fermentação.

Doses e modo de emprego:

Para obter os resultados, é necessário que a cepa inoculada prevaleça sobre as

indígenas. Para isso é necessário reidratar as leveduras em 10 vezes seu peso em água a 37

a 40°C, na dose de 20 a 40 g/hl. Deixar em repouso por 15 minutos, agitar bem e

incorporar ao mosto. Não deixar as leveduras no meio de hidratação por mais tempo que o

aconselhado.

Preço: R$ 7,68x /Kg

3.2 Fermentação e características do mosto

Para a fermentação foi utilizada uva da variedade Chardonnay, recebida em

caixas de 20kg. As características químicas da uva eram (ver tabela 6):

Tabela 6- Características químicas do mosto de Chardonnay

Características químicas

pH 3,41

Acidez total (meq/l) 81,58

Acidez volátil (meq/l) 4,95

Grau Babo 15

Page 36: Taís Klein

39

A uva teve como procedência o vinhedo localizado em Santa Lúcia, Vale dos

Vinhedos em Bento Gonçalves, pertencente a Vinícola Salton. O porta enxerto utilizado foi

o Paulsen 1103, sistema de condução em espaldeira simples, com 1m entre plantas e 2,5m

entre filas. Há 4.000 plantas por hectare. Utiliza-se o Chardonnay clone R8.

A uva foi desengaçada e sofreu adição de anidrido sulfuroso total na dose de

60mg/L e tratamento enzimático. Logo após, passou por prensagem pneumática e o mosto

foi conduzido para tanques de fermentação. Foram feitas correções no mosto, adicionou-se

ácido tartárico e ácido lático, para elevar a acidez total até 100meq/L e chaptalização

objetivando ao final da fermentação um teor alcoólico de 10,5% v/v. O mosto após

fermentado.

O mosto teve como destino três tanques de fermentação com capacidade de 7.000

litros, onde foi adicionada uma determinada cepa de levedura para cada tanque. A levedura

passou por hidratação, conforme orientação do fabricante e logo após foi incorporada ao

mosto. Todos os tanques receberam oxigenação por 30 min, auxiliando a multiplicação das

leveduras.

A fermentação foi controlada a temperatura de 17°C. Acompanhou-se

diariamente o processo com tomada de temperatura e densidade dos tanques. A cada dois

dias retiravam-se amostras para análise físico-química completa (densidade, determinação

do teor alcoólico, determinação dos açúcares totais, acidez total, acidez volátil, SO2 livre,

SO2 total, índice de polifenóis totais e pH).

Para avaliação das leveduras levou-se em conta: o tempo de arranque de

fermentação, a velocidade de fermentação, o rendimento em etanol, a produção de ácidos

voláteis, o equilíbrio da acidez total, a produção de acetaldeído e a avaliação sensorial do

vinho para cada um dos tanques fermentados.

Esta última teve maior importância para trabalho, pois são as características

organolépticas que definem a real qualidade de um vinho e que melhor podem avaliar a

viabilidade do uso de leveduras selecionadas.

Para análise sensorial do vinho foi utilizada a seguinte ficha de degustação

(apêndice 1).

Com o objetivo de avaliar em quantidades aproximadas, os aromas de

fermentação produzidos pela levedura na variedade Chardonnay, bem como a qualidade

global do vinho em boca. O exame visual não foi realizado devido a turbidez do vinho que

acabará de fermentar e não havia sofrido nenhum processo de clarificação. Os aromas

Page 37: Taís Klein

40

selecionados são: descritores típicos da variedade Chardonnay e defeitos comuns

apresentados em vinhos, onde podemos classificá-los como:

- Aromas típicos da variedade: maçã madura, abacaxi, melão, pêra,

frutas cítricas e banana;

- Aromas de defeito: maçã verde (acetaldeído), grama cortada e

sulfurados;

- Aromas de oxidação: mel e compota.

Também foram avaliados no aspecto gustativo a acidez, o amargor, a

persistência, o equilíbrio e a qualidade do vinho.

3.3 Metodologias Analíticas

Todas as análises foram realizadas no laboratório de enoquímica da Vinícola

Salton. As metodologias analíticas escolhidas seguem os métodos oficias da OIV (Office

International de la Vingne et du Vin).

A determinação do teor alcoólico no vinho foi realizada por destilação do mosto e

posterior leitura em densimetro digital.

A determinação da acidez volátil do vinho é realizada através do método Jaulmes,

ou seja, por meio do arraste dos ácidos por vapor de água, utilizando um borbotador

seguido de um condensador. A acidez volátil pode ser expressa em meq/l.

Para a determinação do acetaldeído utilizou-se o método usual da OIV, através da

destilação lenta e posterior titulação. A análise nos resulta a quantidade em mg/l de

acetaldeído presente no vinho.

A acidez total é a soma dos ácidos fixos e dos ácidos voláteis, e pode ser

determinada a partir da titulação através de solução alcalina, até o pH 7. O método

utilizado foi o e potenciometria. A acidez total é expressa em mq/l. Quantidades adequadas

de acidez total em vinhos brancos, proporcionam refrescância e equilíbrio ao vinho.

Page 38: Taís Klein

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Resultado da análise química

O produto final da fermentação das três distintas leveduras foi avaliado através de

análises químicas. Foram escolhidos quatro aspectos de avaliação, que determinam a

qualidade geral do vinho, sendo eles: o rendimento em etanol, a formação de ácidos

voláteis, e a formação de acetaldeído, e o equilíbrio da acidez total no vinho. Também foi

avaliado o tempo de fermentação de cada levedura.

Abaixo seguem os resultados das análises.

4.1.1 Rendimento em etanol

A quantidade inicial de açúcares totais no mosto era de 180g/l, esse aspecto é

importante na determinação do teor alcoólico final do vinho.

Como observa-se no gráfico 1, a levedura número 1 (EC 1118), resultou álcool

final de 10,58% v/v, ou seja, utilizou 17,01g de açúcar para produção 1% v/v de etanol. A

levedura número 2 (LNF 01), resultou álcool final de 10,33% v/v, utilizando 17,42g/l de

açúcar para produção 1% v/v de etanol. Enquanto, levedura número 3 (M2), resultou álcool

final 10,41% v/v, utilizando 17,29g/l de açúcar para produção de 1% v/v de etanol.

A quantidade de etanol produzida pelas leveduras foi bastante semelhante entre

todas as cepas. Quanto a esse aspecto da avaliação química, podemos concluir que as

leveduras obtiveram o mesmo rendimento quanto a produção de álcool final do vinho.

Page 39: Taís Klein

42

Rendimento em etanol (% v/v)

5

6,5

8

9,5

11

1

EC 1118

LNF 01

M2

Gráfico 1 – Rendimento em etanol produzido pela levedura 1 (EC 1118), levedura 2

(LNF 01) e levedura 3 (M2).

4.1.2 Produção de ácidos voláteis

Como representado no gráfico 2 a levedura número 1 (EC 1118), a levedura

número dois (LNF 01), e a número 3 (M2) resultaram vinhos com: 8,4 meq/l, 8,1 meq/L e

8,88 meq/l de acidez volátil, respectivamente.

A quantidade produzida de ácidos voláteis no produto final das leveduras foi

bastante semelhante entre todas as cepas. Quanto a esse aspecto da avaliação química,

podemos concluir que as cepas obtiveram o mesmo rendimento quanto a produção acidez

volátil final do vinho.

Acidez Volátil (meq/l)

6

7

8

9

10

1

EC 1118

LNF 01

M2

Gráfico 2 – Produção de acidez volátil pela levedura 1 (EC 1118), levedura 2 (LNF

01) e levedura 3 (M2).

Page 40: Taís Klein

43

4.1.3 Produção de acetaldeído

A quantidade de acetaldeído presente no vinho fermentado, é representada no

gráfico 3. A levedura número 1 (EC 1118), produziu 66 mg/l, enquanto a levedura número

2 (LNF 01) produziu 37,84 mg/l, e a levedura número 3 (M2) produziu 33 mg/l.

Esses resultados apontam uma maior quantidade na produção de acetaldeído pela

levedura número 1, o que caracteriza um aspecto negativo quanto a composição aromática

do vinho.

Quantidades de acetaldeído acima de 40mg/l no vinho podem acarretar problemas

de ordem sensorial ao produto.

As outras leveduras produziram quantidades aceitáveis de acetaldeído.

Produção de Acetaldeido (mg/l)

0

20

40

60

80

1

EC 1118

LNF 01

M2

Gráfico 3- Produção de acetaldeído pela levedura 1 (EC 1118), levedura 2 (LNF 01) e

levedura 3 (M2).

4.1.4 Equilíbrio da acidez total

Como representado no gráfico 4, a levedura número 1 (EC 1118), a levedura

número dois (LNF 01), e a número 3 (M2) resultaram vinhos com: 106,7 meq/l; 103,29

meq/l e 106,28 meq/l de acidez total respectivamente. A análise de acidez total do produto

final das três leveduras demonstrou que todas as leveduras resultaram vinhos praticamente

iguais nesse aspecto.

Page 41: Taís Klein

44

Acidez total (meq/l)

98

100

102

104

106

1

EC 1118

LNF 01

M2

Gráfico 4 – Produção da acidez total pela levedura 1 (EC 1118), levedura 2 (LNF 01)

e levedura 3 (M2).

4.1.5 Tempo de fermentação

As leveduras foram adicionadas ao mosto no dia 28 de janeiro de 2006, quando a

densidade estava em 1,079.

A levedura 1 (EC 1118), teve um arranque de fermentação mais lento que as

demais, no entanto, o andamento da mesma foi mais rápido, conseqüentemente foi a

primeira a concluir a fermentação que ocorreu aproximadamente no dia 10 de fevereiro.

A levedura 2 (LNF 01) teve uma fermentação mais regular. O decréscimo na

densidade foi gradual e homogêneo.

A levedura 3 (M2) teve um bom arranque de fermentação e o processo foi mais

rápido. Porém, o ritmo da fermentação reduziu quando o mosto continha aproximadamente

12 g/l de açúcar. A levedura teve dificuldades em metabolisar as quantidades finais de

açúcar no mosto.

Page 42: Taís Klein

45

Tempo de fermentação

0,9945

1,0045

1,0145

1,0245

1,0345

1,0445

1,0545

1,0645

1,0745

28/01/0

6

30/01/0

6

01/02/0

6

03/02/0

6

05/02/0

6

07/02/0

6

09/02/0

6

11/02/0

6

13/02/0

6

15/02/0

6

Data

Den

sida

de EC 1118

LNF 01

M2

Gráfico 5 – Tempo de fermentação da levedura 1 (EC 1118), levedura 2 (LNF 01) e

levedura 3 (M2).

4.2 Resultados da análise sensorial

Abaixo estão graficamente representadas as quantidades dos aromas identificados

na análise sensorial.

Page 43: Taís Klein

46

0

5

10

15

20

25

30

Maça madura

Abacaxi

Melão

Pêra

Frutas cítricas

BananaMaçã verde

Grama cortada

Mel

Compota

Sulfurados

EC 1118

LNF 01

M2

Gráfico 6 – Quantidade de aromas presentes na levedura 1 (EC 1118), levedura 2

(LNF 01) e levedura 3 (M2).

4.2.1 Análise estatística

Para avaliação dos resultados da análise sensorial realizou-se a análise de

variância entre as amostras. O nível de significância adotado foi 0,05. Calculou-se a anova

para cada aroma apresentado no gráfico acima mediante a pontuação dada pelos

degustadores. Estatisticamente não houve diferença significativa entre nenhum dos aromas

apresentados para os vinhos resultantes das três leveduras.

4.2.2 Aromas produzidos pela levedura EC 1118

Os aromas produzidos pela levedura EC 1118 durante a fermentação do mosto de

Chardonnay, estão representados pela cor azul. Pode-se perceber que os aromas de frutas

tropicais, principalmente a pêra destacaram-se nessa cepa. Outros, como a maçã madura e

frutas cítricas, também obtiveram valor expressivo. No entanto, esta apresentou menor

média para os aromas frutados quando comparada às outras leveduras, o que indica menor

complexidade aromática. Os aromas vegetais como a maçã verde (acetaldeído), e de

Page 44: Taís Klein

47

oxidação como compota também estiveram presentes em quantidades consideráveis, o que

representa uma característica negativa para a análise sensorial do vinho. Os aromas

sulfurados praticamente não foram percebidos.

4.2.3 Aromas produzidos pela levedura LNF 01

Os aromas produzidos pela levedura LNF 01 durante a fermentação do mosto de

Chardonnay, estão representados pela cor verde. Os aromas mais intensos são a pêra e a

maçã madura. Frutas tropicais também receberam destaque como a banana e o abacaxi.

Nota-se uma maior complexidade maior para os aromas frutados, já que a pontuação

referente a esses aromas foi superior às demais leveduras. Os aromas de oxidação e

vegetais também foram detectados, porém em quantidades menores que a cepa EC 1118.

4.2.4 Aromas produzidos pela levedura M2

Os aromas produzidos pela levedura M2 durante a fermentação do mosto de

Chardonnay, estão representados pela cor vermelha. O aroma detectado em maior

quantidade na análise sensorial foi o de pêra, porém outros aromas foram encontrados em

quantidades aproximadas e significativas como a maçã madura, frutas cítricas e abacaxi, o

que proporciona equilíbrio aromático e complexidade ao vinho. Aromas oxidados e

vegetais encontram-se em quantidades menores quando comparados à levedura EC 1118.

4.3 Apreciação Global

A média da pontuação final dos degustadores ficou a seguinte:

Nota final

Levedura 1 - EC 1118 76 pontos

Levedura 2 – LNF 01 84 pontos

Levedura 3 – M2 78 pontos

Tabela 7- Nota final da apreciação global da levedura 1 (EC 1118), levedura 2 (LNF

01) e levedura 3 (M2).

Page 45: Taís Klein

5. CONCLUSÃO

Neste trabalho foi possível verificar, que diferentes marcas comercias de

leveduras disponíveis no mercado quando inoculadas no mosto da variedade Chardonnay

obtiveram o mesmo resultado estatístico na análise sensorial do vinho pronto, nessas

condições de pesquisa, de vinificação e na safra de 2006.

Constatou-se uma pequena diferença da análise química e sensorial, no vinho

elaborado com a cepa EC 1118, que produziu uma maior quantidade de acetaldeído, sendo

esse levemente perceptível no aroma de maçã verde, segundo a degustação do quadro de

enólogos. Os outros aromas e elementos químicos produzidos pela levedura EC 1118

obtiveram comportamento semelhante às demais cepas, ou seja, perfil frutado bem

definido, acidez total pronunciada e teor alcoólico equivalente.

Quanto aos vinhos elaborados com as cepas LNF 01 e M2, ambos obtiveram

caráter frutado, poucos aromas de defeito como o de maçã verde e grama cortada. As

características químicas como acidez total, acidez volátil, rendimento em etanol e produção

de acetaldeído também foram bastante semelhantes.

Quando compradas às características propostas pelo fabricante, as leveduras

atenderam a maioria dos requisitos propostos. Quanto à cinética fermentativa a levedura

EC 1118 teve dificuldades no arranque de fermentação, o que pode justificar as

quantidades maiores de acetaldeído, detectadas na análise química. Já a levedura M2 teve

um bom arranque de fermentação, mas dificuldades para fermentar as quantidades finais de

açúcar no mosto.

No entanto, a homogeneidade dos resultados das análises químicas e sensoriais

não justifica a tamanha diferença de preços entre elas. A cepas M2 e EC 1118 são 7,68 e

4,42 vezes mais caras que a cepa LNF 01, respectivamente.

Com esses resultados, torna-se evidente que nem sempre a cepa de levedura

recomendada pelo fabricante para uma determinada fermentação, traz a melhor relação

custo-benefício para o produto final. É necessário que a escolha da cepa seja um processo

Page 46: Taís Klein

49

experimental e que se adapte não só a variedade de uva utilizada, mas também as

condições de vinificação e as condições da safra.

Contudo, esse resultado ainda não pode conclusivo. É interessante que projetos

futuros realizem a repetição do experimento por mais algumas safras, para que o resultado

se torne efetivo. O uso de outras variedades e cepas também pode gerar resultados

diferentes.

Page 47: Taís Klein

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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