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AVALIAÇÃO DE ÍNDICES DE BOAS PRÁTICAS DE CANTEIRO DE OBRAS EM EMPRESAS CONSTRUTORAS NO BRASIL Guilherme Augusto de Góes DIAS, UFSCar Sheyla Mara Baptista SERRA, UFSCar, [email protected] Joana Siqueira de SOUZA, UFRGS Fabrício Borges CAMBRAIA, UFS, [email protected] Carlos Torres FORMOSO, UFRGS, [email protected] RESUMO Diversos autores apontam para a precariedade das ações relativas ao planejamento de canteiros de obras, embora esse planejamento seja reconhecido por desempenhar papel fundamental no cumprimento de prazos, custos e qualidade da construção. Mediante este cenário, foi elaborada uma lista de verificação com os principais aspectos a serem atendidos na implantação de um canteiro de obras. Para o preenchimento da lista é necessária a visita in loco no canteiro de obras e o registro das situações observadas, identificando as que podem ser consideradas como Boas Práticas. Na análise dos dados obtidos, atribui-se uma nota que demonstra a avaliação do canteiro. Este método de avaliação se expandiu por várias regiões do Brasil através das pesquisas incentivadas por diversas universidades, gerando um banco de dados sobre o desempenho das obras e o registro de boas práticas de gestão nos canteiros. Este trabalho visa apresentar dados referentes aos estudos realizados no Brasil, em especial nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, gerando uma compreensão sobre a evolução da sistemática de planejamento do canteiro. Os resultados obtidos demonstram que houve uma evolução no planejamento do canteiro segundo os indicadores analisados durante o período de quatorze anos. Destaca-se a importância da ferramenta de investigação para propor medidas efetivas de melhoria das condições de trabalho, comparando-as com as consequências do não atendimento ao plano de segurança nacional. ABSTRACT In 1997, a verification list was elaborated with the principal aspects they be assisted in the implantation of the construction site. The verification list works as an indicator of the application of the planning guidelines and safety of the construction site. For the completion of the list it is necessary the visit in the construction site and the registration of the observed situations, identifying ones that can be considered as Good Practices. This work seeks to present referring data to the studies accomplished in Brazil, especially in the states of Rio Grande do Sul and São Paulo, generating an understanding about the evolution of the systematic of planning of the construction site. PALAVRAS-CHAVE: PLANEJAMENTO DO CANTEIRO. BOAS PRÁTICAS. INDICADORES DE DESEMPENHO. CANTEIRO DE OBRA.

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AVALIAÇÃO DE ÍNDICES DE BOAS PRÁTICAS DE CANTEIRO DE

OBRAS EM EMPRESAS CONSTRUTORAS NO BRASIL

Guilherme Augusto de Góes DIAS, UFSCar

Sheyla Mara Baptista SERRA, UFSCar, [email protected]

Joana Siqueira de SOUZA, UFRGS

Fabrício Borges CAMBRAIA, UFS, [email protected]

Carlos Torres FORMOSO, UFRGS, [email protected]

RESUMO

Diversos autores apontam para a precariedade das ações relativas ao planejamento de canteiros de obras, embora esse planejamento seja reconhecido por desempenhar papel fundamental no cumprimento de prazos, custos e qualidade da construção. Mediante este cenário, foi elaborada uma lista de verificação com os principais aspectos a serem atendidos na implantação de um canteiro de obras. Para o preenchimento da lista é necessária a visita in loco no canteiro de obras e o registro das situações observadas, identificando as que podem ser consideradas como Boas Práticas. Na análise dos dados obtidos, atribui-se uma nota que demonstra a avaliação do canteiro. Este método de avaliação se expandiu por várias regiões do Brasil através das pesquisas incentivadas por diversas universidades, gerando um banco de dados sobre o desempenho das obras e o registro de boas práticas de gestão nos canteiros. Este trabalho visa apresentar dados referentes aos estudos realizados no Brasil, em especial nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, gerando uma compreensão sobre a evolução da sistemática de planejamento do canteiro. Os resultados obtidos demonstram que houve uma evolução no planejamento do canteiro segundo os indicadores analisados durante o período de quatorze anos. Destaca-se a importância da ferramenta de investigação para propor medidas efetivas de melhoria das condições de trabalho, comparando-as com as consequências do não atendimento ao plano de segurança nacional.

ABSTRACT

In 1997, a verification list was elaborated with the principal aspects they be assisted in the implantation of the construction site. The verification list works as an indicator of the application of the planning guidelines and safety of the construction site. For the completion of the list it is necessary the visit in the construction site and the registration of the observed situations, identifying ones that can be considered as Good Practices. This work seeks to present referring data to the studies accomplished in Brazil, especially in the states of Rio Grande do Sul and São Paulo, generating an understanding about the evolution of the systematic of planning of the construction site.

PALAVRAS-CHAVE: PLANEJAMENTO DO CANTEIRO. BOAS PRÁTICAS. INDICADORES DE

DESEMPENHO. CANTEIRO DE OBRA.

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INTRODUÇÃO

O setor da construção civil é um dos setores de grande importância econômica para a maioria dos países. No Brasil, este setor vem passando por um processo de mudança a fim de melhorar seu desempenho e garantir mais rapidez, praticidade, segurança e ergonomia para seus trabalhadores. Em 1995, foi publicada a nova Norma Regulamentadora 18 (NR-18), principal dispositivo legal de segurança aplicado nas construções do Brasil. Esta legislação apresenta as diretrizes de condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção, com o intuito de estabelecer no canteiro de obras medidas preventivas de segurança e saúde durante a execução da mesma. Com a melhoria do ambiente de trabalho, espera-se que a empresa seja mais produtiva e tenha melhores indicadores de desempenho e menores índices de acidentes do trabalho.

Partindo da necessidade de conhecer a realidade e identificar boas práticas de segurança, foi elaborado pelo Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NORIE/UFRGS) um indicador que busca avaliar as condições de meio ambiente, segurança e saúde do trabalho em obras que se encontram na fase de execução (SAURIN, 1997). Ressalta-se que os itens de observação foram elaborados contemplando exclusivamente obras de construção de edifícios. A lista de verificação proposta funciona como um revisor ou pontuador segundo aspectos de boas práticas para a gestão do canteiro, passando a oferecer uma visão simplificada e facilitada para as ações de segurança a serem tomadas. De acordo com Saurin (1997), apesar da grande importância, o planejamento de canteiro geralmente não recebe muita atenção da parte dos gerentes, sendo prática usual do setor resolver os problemas à medida que os mesmos surgem no decorrer da execução da obra.

O canteiro de obras pode ser entendido como a “fábrica da obra” e, dessa forma, deve ser projetado segundo os princípios de organização e administração da produção. Diversos pesquisadores enfatizam a importância do projeto da produção, que considere a distribuição espacial dos espaços internos do canteiro e sua relação com o ambiente externo da obra. A adoção de diretrizes e metodologias de planejamento e de projeto tem sido enfatizada como estratégia que, além de observarem o aspecto legal, apresentam também cuidados em relação à racionalização, qualidade e produtividade da produção. A partir da publicação da nova NR-18, foram desenvolvidos métodos para o planejamento do canteiro de forma a prever o desenvolvimento do projeto da produção, como Ferreira (1998), Souza e Franco (1997), Elias et al. (1998), Maia (2003), Wakamatsu e Cheng (2001), entre outros.

O trabalho iniciado com Saurin (1997) se disseminou com a publicação Saurin e Formoso (2000), que passou a ser utilizado por diversos estudos acadêmicos e também pela própria indústria. Posteriormente, Costa et al. (2005) agregaram o indicador gerado na lista de verificação a um processo de Benchmarking no ambiente da construção.

Segundo Lima (2005), especificamente no setor de construção civil existem muitos problemas referentes à utilização de Benchmarking em suas práticas. Isto se deve ao fato de que este setor convive com a falta de desenvolvimento de banco de dados sobre informações da construção civil, incluindo aspectos como a variabilidade de produção. Estas características tornam difícil utilizar os dados efetivamente como uma base para comparação. Adicionam-se a estas dificuldades a natureza temporária em organizar os processos de construção e um grande número de organizações envolvidas em projetar e executar um único empreendimento, tornando ainda mais complexa a tarefa de realizar Benchmarking na construção civil. Assim, trabalhos que apresentem estratégias de comparação e de obtenção de indicadores de referência tornam-se importantes para fornecer informações para o setor.

É objetivo deste artigo apresentar uma análise sobre o cumprimento dos itens de boas práticas a partir da revisão de estudos que utilizaram a ferramenta de coleta de dados proposta por Saurin (1997). Este artigo, contudo, está restrito a três estudos, realizados nas regiões sul e sudeste do Brasil, e com dados coletados nos últimos quatorze anos (DIAS e SERRA, 2011; SOUZA, 2005; SAURIN e FORMOSO, 2000). A análise comparativa é importante para compreender se há alguma tendência no processo de incorporação das boas práticas ao setor da construção. Como delimitação do trabalho destaca-se que apesar do grande número de obras, a análise realizada não pode ser considerada como uma amostragem estatística.

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METODOLOGIA

As informações necessárias para caracterização do canteiro de obras foram obtidas por meio de entrevistas com engenheiros e mestre de obras, através do preenchimento de um questionário e do registro das condições através de câmera fotográfica. O método de pesquisa utilizado compreendeu as seguintes etapas: estudo e aplicação do questionário desenvolvido por Saurin (1997), combinação de entrevistas com observação direta e análise dos resultados. Saurin (1997) desenvolveu um protocolo de auditoria técnica baseado na NR-18 e em outros requisitos que foram diagnosticados como relevantes para a realização de uma análise qualitativa nos canteiros. O objetivo deste estudo foi desenvolver uma ferramenta - check list ou lista de verificação - que permitisse um rápido diagnóstico dos principais problemas de layout de canteiro, e que fosse acima de tudo um instrumento fácil de ser implementado nas obras. A limitação da ferramenta, entretanto, se restringia à quantidade de itens identificados na mesma. A lista foi aplicada em vinte e cinco obras do sul do Brasil (SAURIN, 1997).

Durante o preenchimento do questionário existiam três possíveis respostas: “SIM”, “NÃO” e “NÃO SE APLICA”. As respostas assinaladas com a opção “SIM” representavam a existência de boas práticas e as respostas assinaladas com “NÃO” significavam que as práticas não estavam implementadas no canteiro em análise. Já as respostas “NÃO SE APLICA” (NA) indicavam que as práticas não eram necessárias no canteiro, seja devido à tipologia da obra ou a fase de execução no dia da visita. A partir dessas respostas, foi obtida a quantidade de resultados afirmativos, negativos e as que não se aplicavam e foi realizado o seguinte cálculo por item de análise:

10xNÃOSIM

SIMNOTA

[Eq. 01]

onde, = Somatório das respostas afirmativas

= Somatório das respostas negativas

Segundo Costa et al. (2005), os resultados da verificação da lista podem ser simplificados como:

PO = Pontos Obtidos, ou seja, são todos os itens que foram assinalados com a opção “SIM” na lista de verificação para um dos grupos analisados;

PP = Pontos Possíveis, ou seja, total de itens que foram assinalados com as opções “SIM” e “NÃO” para cada grupo. Para fins de cálculo do indicador, excluem-se os itens assinalados com “NÃO SE APLICA”.

A partir dessa fórmula foram geradas as notas para cada item observado no questionário que avaliavam as condições a que os trabalhadores estavam expostos durante seu expediente. A nota obtida por uma obra em um determinado item, tópico ou grupo de tópicos correspondia a uma razão entre o total de itens “SIM” em relação ao total de pontos possíveis de serem obtidos (soma dos “SIM” com os “NÃO”), conforme trecho da lista representada no Quadro 1. O resultado obtido era multiplicado por dez para que a nota final fosse tabulada em uma escala que variava de zero a dez.

Quadro 1 – Trecho do questionário utilizado para a obtenção dos dados

INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS SIM NÃO Não se aplica

TIPOLOGIA DAS INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS São utilizadas instalações móveis (contêiners) ( ) sim ( X ) não

Há modulação dos barracos X

Os painéis são unidos com parafusos X

Os painéis são pintados e estão em bom estado de conservação X

Foram aproveitadas construções existentes para instalação da obra X

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Os itens de análise propostos por Costa et. al (2005) foram divididos em três grupos principais, a saber:

Instalações Provisórias: envolvia a análise da conformidade de itens como o escritório da obra, o almoxarifado, o refeitório, o vestiário, os acessos, entre outros;

Segurança: eram avaliadas as condições de uso das escadas, do poço de elevador, de objetos de proteção, tais como plataformas e andaimes, uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (como proteção contra incêndio, por exemplo).

Movimentação e Armazenamento de Materiais: considerava o projeto dos fluxos, através de três aspectos (vias de circulação, armazenamento de materiais e centrais de produção como, por exemplo, de argamassa e concreto).

Conforme Costa et. al (2005), a partir da contagem das respostas de cada categoria de observação, podia-se calcular o índice de desempenho das instalações provisórias (IIP), o índice de segurança (IS) e o índice de movimentação e armazenamento de materiais (IMAM). Estes índices formavam o Índice de Boas Práticas de Canteiros de Obras (IBPC), conforme equações a seguir.

10xPP

POIIP [Eq. 02]

10xPP

POIS [Eq. 03]

10xPP

POIMAM [Eq. 04]

3

IMAMISIIPIBPC

[Eq. 05]

A nota geral da obra (IBPC) era um indicador do comportamento do canteiro em relação aos parâmetros avaliados, não podendo ser considerada como única determinante da segurança da obra, visto que vários outros dados poderiam ter sido analisados, como os pontos não abrangidos na lista de verificação.

A pesquisa de Saurin e Formoso (2000) fez a coleta entre os anos de 1996 e 2000, em 40 canteiros de obras, dos quais 20 eram localizados na região metropolitana de Porto Alegre, incluindo São Leopoldo, Canoas e Novo Hamburgo e os outros 20 eram em Santa Maria, Passo Fundo e Santa Rosa. As obras caracterizavam-se por serem basicamente construções de edificações residenciais e comerciais verticais de múltiplos pavimentos.

A pesquisa realizada posteriormente no Rio Grande do Sul (SOUZA, 2005) analisa dados provenientes de 41 obras provenientes de 21 empresas construtoras. O período de análise corresponde a obras acompanhadas entre os anos de 2004 e 2005 durante a realização do Clube do Benchmarking apoiado pelo NORIE/UFRGS em conjunto com 21 construtoras.

A pesquisa realizada por Dias e Serra (2011) aborda resultados referentes à caracterização das condições do meio ambiente de trabalho em 45 canteiros de obras visitados durante os anos de 2003 a 2010 localizados no Estado de São Paulo, Brasil. As obras visitadas caracterizam-se por estarem localizados no perímetro urbano da cidade e serem referentes a edificações para uso residencial ou comercial.

RESULTADOS OBTIDOS

A partir dos dados oferecidos pelos questionários e da aplicação da equação proposta po Saurin (1997) foram calculadas as entre 0 a 10 que medem o nível de boas práticas que foram observadas nas obras, sendo 0 a nota corresponde a nenhuma condição acatada e 10 a nota que significa que todos os requisitos, constantes da lista de verificação, foram executados. A seguir são apresentados os resultados das 3 pesquisas referentes aos itens de verificação e correspondentes índices IIP, IS, IMAM e IBPC. A análise dos dados foi realizada segundo duas diretrizes: análise por tópicos da lista de verificação e em seguida, análise dos indicadores calculados.

Instalações Provisórias

O item de Instalações Provisórias (IIP) verifica a tipologia e condições das áreas de vivência no canteiro de obras. Os dados obtidos nas pesquisas podem ser observados na Tabela 1.

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Tabela 1 – Pontuação dos itens verificado nas Instalações Provisórias

INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS

Saurin e Formoso

(2000)

Souza

(2005)

Dias e Serra

(2011)

Acessos 4,6 6,2 6,4

Almoxarifado 2,8 5,7 5,6

Escritório (Sala do mestre/Engenheiro) 6,2 8,2 7,5

Instalações sanitárias 5,2 6,3 6,2

Local para refeições 5,4 7,1 6,4

Tapumes 7,6 8,4 7,6

Tipologia das instalações provisórias 4 7,1 5,6

Vestiário 4,6 6,8 4,7

Visualmente pode-se observar no Gráfico 1 que as notas obtidas pelo trabalho de Souza (2005) encontravam-se acima das demais, sendo a melhor nota referente aos Tapumes em todos os trabalhos. Este quesito observava basicamente se os tapumes eram constituídos de materiais resistentes e se existiam logomarca e pinturas da empresa nos mesmos.

0

1

23

4

5

67

8

9

Acesso

s

Alm

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ad

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Escrit

ório

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Tap

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vis

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s

Vesti

ário

Saurin; Formoso Souza Dias; Serra

Gráfico 1 – Pontuação dos itens verificados nas Instalações Provisórias

No quesito do Almoxarifado eram avaliados: a presença de etiquetas com nomes de materiais e equipamentos, a existência de planilhas para controle de estoque dos mesmos, a localização do almoxarifado em relação à descarga de caminhões, entre outros. Percebeu-se que o trabalho de Saurin e Formoso (2000) apresentou uma nota relativamente menor neste item em relação aos demais trabalhos. Observou-se que as duas pesquisas mais recentes apresentavam melhores índices de uma forma geral.

Segurança

Em relação à Segurança, de forma geral, muitos itens possuíam pontuação (IS) bem abaixo do aceitável, conforme Tabela 2, com muitas notas abaixo de 5. Isto gerava uma preocupação muito grande, visto que muitos dos requisitos incluídos diziam respeito às exigências da NR-18, ou seja, deveriam ser itens constantes e observavéis nos canteiros de obras analisados. Estes requisitos referiam-se principalmente a dispositivos indispensáveis no canteiro de obra para assegurar a segurança, uma vez que, se estes não fossem adequadamente implementados, podiam gerar riscos de acidentes graves aos trabalhadores.

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Tabela 2 – Pontuação dos itens verificados em relação à Segurança

SEGURANÇA

Saurin e Formoso

(2000)

Souza

(2005)

Dias e Serra

(2011)

Aberturas no piso 2 7,3 5,5

Andaimes suspensos 6,2 8,1 4,0

EPI's 6,9 7,2 6,5

Escadas 4,7 5,7 3,6

Escadas de Mão 1,5 4,6 3,2

Grua 3,3 4,6 3,6

Guincho 5,6 6,6 4,3

Instalações elétricas 6,5 6,7 6,4

Plataforma de proteção (bandeja salva-vidas) 4,4 7,4 3,8

Poço do elevador 5,6 7,7 6,4

Proteção contra incêndio 4 6 5,3

Proteção contra queda no perímetro dos pavimentos 3,1 5,3 4,0

Sinalização de segurança 2,8 5,7 5,8

Analisando-se o Gráfico 2, e fazendo-se a comparação com o trabalho de Saurin e Formoso (2000), verificou-se que as médias indicavam que, novamente, houve melhorias na maioria dos itens, como: Abertura no Piso, Sinalização de Segurança, Escadas de Mão e Proteção Contra Incêndio. Contudo, os itens EPI’s e Instalações Elétricas permaneceram com pouca alteração, e no caso do trabalho de Dias e Serra (2011) houve variação negativa. Isto mostrou que, alguns itens que em 2000 já possuíam um bom desempenho neste grupo foram pouco trabalhados desde aquela época até hoje, o que resultou neste pequeno aumento.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Abe

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piso

And

aim

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EPI's

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Saurin; Formoso Souza Dias; Serra

Gráfico 2 – Pontuação dos itens verificados em relação à Segurança

Analisando-se o Gráfico 2, pode-se observar, novamente, que as notas obtidas pelo trabalho de Souza (2005) encontravam-se acima das demais, sendo a pior nota referente à Escada de Mão em todos os

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trabalhos. Durante o estudo de Souza (2005) as empresas estavam envolvidas em um Clube de Benchmarking, bastante engajadas com a melhoria da gestão da produção. Notou-se que o item Proteção Contra Queda no Perímetro dos Pavimentos, apesar de ter obtido relativo crescimento na sua média, ainda estava com nota baixa, principalmente por se tratar de um dispositivo de segurança muito relevante, já que um dos acidentes mais freqüentes em canteiros de obras era justamente a queda de trabalhadores (COSTELA, 1999; MARTINS, 2004).

Este grupo (IS), em comparação aos outros grupos componentes do check list, é o que exigia um melhor desempenho das empresas, devido ao processo de fiscalização e integridade dos trabalhadores. Entretanto, possuía ainda resultados abaixo do esperado para uma obra segura.

Movimentação e Armazenamento de Materiais

Em relação à Movimentação e Armazenamento de Materiais (IMAM), no geral, as notas referentes a este grupo também estavam relativamente baixas (Tabela 3), principalmente considerando-se a discussão histórica sobre a importância deste item. Na década de 90, muito se falou do desperdício gerado durante o armazenamento, produção e transporte de material (SOUZA et al., 2004). Percebeu-se que os requisitos referentes à produção de argamassa e concreto possuíam, em média, nota próxima a 6,0. Este item era de extrema relevância para a obra, pois englobava questões essenciais à qualidade e segurança estrutural do produto final, incluindo a estrutura de concreto armado e os revestimentos de argamassa.

Tabela 3 – Pontuação dos itens em relação à Movimentação e Armazenamento de Materiais

MOVIMENTAÇÃO E ARMAZENAMENTO

Saurin e Formoso

(2000)

Souza

(2005)

Dias e Serra

(2011)

Armazenamento de material 6,4 6 6,4

Produção de concreto / argamassa 6,1 5,6 7,0

Vias de circulação 5,7 6,1 5,9

Pode-se observar no Gráfico 3 que as notas referentes ao IMAM apresentavam uma grande variação nos resultados encontrados nas três diferentes pesquisas na análise do item “Produção de Concreto / Argamassa”. Já os itens de “Armazenamento de material” e “Vias de circulação” não apresentavam grandes diferenças. Em relação aos grupos anteriores, este era o índice de menor variabilidade na análise.

5,0

5,5

6,0

6,5

7,0

7,5

Armazenamento de material Produção de concreto /

argamassa

Vias de circulação

Saurin; Formoso Souza Dias; Serra

Gráfico 3 – Pontuação dos itens em relação à Movimentação e Armazenamento de Materiais

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Questões como estas que abordavam a qualidade do serviço quando da produção de argamassa e concreto já eram discutidas há muito tempo no setor. Entretanto, os resultados da análise demonstravam que, em muitos casos, estes processos básicos e essenciais da obra vinham sendo negligenciados e pouco considerados no planejamento do canteiro.

Na lista de verificação, o item deste grupo denominado Armazenamento de Materiais possuía cinco elementos (armazenamento de cimento, de agregados e argamassa, tijolos/blocos, aço e tubos de PVC) que poderiam também ser avaliados em separado, se desejado.

Índice de Boas Práticas no Canteiro (IBPC)

Analisando-se o desempenho de cada uma das obras pesquisadas em Souza (2005) e Dias e Serra (2011) e ordenando as notas obtidas por cada obra numa escala crescente, observou-se que cerca de 40% da amostra pesquisada a partir de 2003, possui IBPC menor que 6,0, conforme Gráfico 4. No caso de Souza (2005), 18 obras tinham nota menor que 6,0; no caso de Dias e Serra (2011), eram 22 obras.

Pode-se afirmar que este resultado é ruim para o setor, pois significava que as soluções simplificadas de planejamento do canteiro, sintetizadas por Saurin (1997), não vinham sendo implantadas nos canteiros. Com isso, além da falta de segurança para os trabalhadores, ocorriam perdas de diversas naturezas, em particular, através de desperdícios de materiais e perda de tempo.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

8,0

9,0

10,0

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45

Dias; Serra Souza

Gráfico 4 – Curva de desempenho do IBPC em Souza (2005) e Dias e Serra (2011)

A Tabela 4 mostrava o resultado sintetizado da análise dos indicadores de desempenho observados em cada um dos estudos realizados. Pode-se observar também no Gráfico 4, o IBPC dos trabalhos de Souza (2005) e de Dias e Serra (2011). Conforme análises anteriores, Souza (2005) teve IBPC maior que os demais.

Tabela 4 – Pontuação dos itens verificados em relação aos indicadores de desempenho

ÍNDICES

Saurin e Formoso

(2000)

Souza

(2005)

Dias e Serra

(2011)

IIP 5,1 7,0 6,3

IS 4,4 6,4 4,8

IMAM 6,1 5,9 6,4

IBPC 5,2 6,4 5,8

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Da mesma forma, o Gráfico 5 mostra a comparação visual entre os resultados encontrados. Observou-se que a evolução na observação dos itens da lista foram muito sutis, não apresentando um alto grau de variação positivo. No caso do IMAM, observou-se um pequeno retrocesso ainda no índice obtido.

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

IIP IS IMAM IBPC

Saurin; Formoso Souza Dias; Serra

Gráfico 5 – Pontuação dos itens em relação aos indicadores de desempenho

CONCLUSÃO

As análises realizadas neste estudo indicam tendências de avanços no atendimento na métrica desempenho “índice de boas práticas de canteiros de obra” (IBPC), tendo em vista dados coletados ao longo dos últimos quatorze anos. A partir do estudo de referência publicado em 2000 e dois estudos recentes, identificou-se um avanço na melhoria do planejamento do canteiro, representado pela consideração dos três indicadores estudados. Na análise, verificou que somente em um deles obteve-se um ligeiro retrocesso, ficando muito próximo do resultado anterior.

Os resultados quantitativos devem ser interpretados considerando-se as limitações de coleta e análise dos dados. As empresas construtoras participantes das pesquisas foram selecionadas de acordo com a disponibilidade de acesso às mesmas, constituindo-se, em geral, de empresas com certa estabilidade em seus mercados locais. Além disto, em particular no estudo de Souza (2005), foram investigadas empresas de cidade capital de Estado da federação, onde, em geral, a ação dos órgãos fiscalizadores era mais intensa. Em Dias e Serra (2011), a grande concentração dos estudos foi nas cidades do interior do Estado.

Outra limitação dos estudos revisados diz respeito à constatação através do registro de presença ou não de certo item, não se preocupando em proceder a ensaios ou avaliações técnicas específicas relacionadas, por exemplo, para verificar a qualidade dos materiais empregados. Assim sendo, tratou-se de uma análise visual sujeita a interpretação por parte dos responsáveis pelas coletas dos dados, representando, portanto, uma fotografia do momento.

Preocupam sobremaneira as baixas notas obtidas em grande parte das obras pesquisadas. Disso pode-se concluir que o planejamento do canteiro na construção civil do país está abaixo do desejado. Existe necessidade de que o tema se desenvolva, a fim de reverter o quadro e, consequentemente, melhorar o desempenho da produção e diminuir o número de acidentes de trabalho na construção civil no Brasil.

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