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Sociologia •• Marcos Eduardo G. de Lima Renato Garibaldi Mauri 2 Professor

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Sociologia •••Marcos Eduardo G. de LimaRenato Garibaldi Mauri 2O MITO DA CIÊNCIA

O saber especializado desperta a admiração temerosa por parte daqueles que o ignoram. Há todo um respeito admirativo em relação à linguagem científi ca, dotada de uma universalidade de direito, habilmente restringida aos iniciados. Seu esoterismo protege o segredo, sobretudo pela matematização e pela formalização. O poder de dominar a matéria e fazer coisas – da ciência – acarreta, nos não iniciados, uma atitude de submissão. É por isso que ela exerce sobre muitos um poder mágico, um “poder dogmático”. E é por isso, igualmente, que muitos veem nos cientistas os detentores do “magistério da realidade”: só eles estão habilitados a dizer o sentido, a propor a verdade para todos, como se fossem taumaturgos ou verdadeiros alquimistas. O que se pede a eles, por meio das vulgarizações, é muito menos um complemento de informações do que a forma presente das questões últimas, pois as antigas respostas teológicas foram desprestigiadas. Os cientistas são vistos como se fossem os proprietários exclusivos do saber, devendo fechar todas as “cicatrizes do não saber” e fornecer os bálsamos para as angústias individuais e sociais.

Essa imagem mítica do cientista ignora que ele faz parte e depende de uma estrutura bem real do mundo que o cerca. O mundo científi co nada tem de ideal, não é uma terra de inocência, livre de todo confl ito e submetida apenas à lei da verdade universal, isto é, de uma verdade testável e verifi cável em toda parte, através do respeito aos procedimentos de rigor e aos protocolos de experimentação. Como se o cientista pudesse ser o detentor de uma verdade que, uma vez for-mulada em sua coerência, estaria isenta da discussão; e como se ele pudesse guardar para sempre a imagem de um indivíduo sempre íntegro e rigoroso, jamais sujeito à incoerência das paixões.

JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científi ca. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1975. p. 116.

MAX WEBER 18641920

Max Weber nasceu em uma família protes-tante na Alemanha. Era fi lho de um advogado e político e mãe de ascendência francesa. Weber cresceu num ambiente de grande es-tímulo intelectual e político. Foi professor uni-versitário e também trabalhou para o governo. Sua esposa também foi socióloga.

O contexto histórico de Weber também deve ser con-siderado no estudo de sua teoria. A Alemanha até o terceiro quartel do século XIX não era um país unifi cado e indepen-dente. Era ainda uma região disputada pelo poder papal e potências europeias. Era conhecida como Confederação Germânica.

Confederação Germânica

Sob a liderança da Áustria e da Prússia, a região da Alemanha era composta por 39 Estados com relativa in-dependência. Em 1815, o Congresso de Viena havia forma-tado acordos que previam a junção desses Estados numa confederação, liderados pelos vencedores de Napoleão Bonaparte. Essa confederação era resultado de muitas lutas políticas que vinham desde o declínio do Império Romano Ocidental em 476, passando pela ascensão dos Francos, no século VIII, e tentativas papais de dominar a Europa não só religiosa, mas política e militarmente.

A unifi cação da Alemanha se deu sob a lideran-ça da Prússia, um reino militarista que impôs, sob o comando de seu Chanceler, duras derrotas às potências mais destacadas da Europa e uniu os condados e feudos que formavam a Confede-ração Germânica, dando início ao Estado-nação

que conhecemos como Alemanha. O processo de unifi cação e o papel destacado do Chanceler Otto

von Bismarck, uma fi gura de grande liderança, marcou profundamente os escritos de Weber, especifi camente os que tratam do Estado, do poder, da legitimidade e da autoridade.

Ele participou da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas logo se tornou um pacifi sta, preferindo as palavras, o pensa-mento e a ação política em vez das armas. Teve um longo perío-do de afastamento do trabalho acadêmico por causa de uma crise aguda de esgotamento nervoso e sofreu de crises até o fi m de sua vida, porém, com grande produção intelectual.

Weber produziu uma vasta bibliografi a que muito contri-buiu para a formação da Sociologia como ciência indepen-dente. Seus principais trabalhos são: Economia e sociedade (publicação incompleta, em 1921), A ética protestante e o espí-rito do capitalismo (1904 e 1905), Ciência e política – duas vo-cações (1917 e 1918). Após aguda pneumonia, Weber faleceu aos 57 anos, em 1920.

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MÓDULO 9

Materialismo histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

1. Karl Marx: o revolucionário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2. O materialismo histórico e a dialética . . . . . . . . . . . . . 2

3. Modo de produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

4. Burguesia e proletários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

5. Origens do capitalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

MÓDULO 10

O poder do capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

1. A mercadoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2. Dinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3. Capital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

4. Infraestrutura e superestrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

MÓDULO 11

Formação da sociedade brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1. Elementos da constituição social brasileira . . . . . . . 20

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

MÓDULO 12

Florestan Fernandes: o intérprete do Brasil . . . . . . . . 28

1. Colonização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

2. Escravidão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

3. Revolução burguesa no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

4. República sim, mas brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

MÓDULO 13

O Brasil atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

1. Visão geral do desenvolvimento econômico

e social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

2. Rumo ao capitalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

3. O dualismo socioeconômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

4. O regime militar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

5. Nova república, velhos problemas: democracia

e liberalismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

MÓDULO 14

Representação simbólica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

1. Imagem sensorial e imagem perceptiva . . . . . . . . . 47

2. Relações existentes entre imagem mental,

símbolo e sinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

3. O imaginário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

4. O corpo como representação simbólica . . . . . . . . . 49

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

MÓDULO 15

Teorias da sociologia contemporânea . . . . . . . . . . . . . . 57

1. Teorias funcionalistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

2. Teorias do conflito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

3. Teoria utilitarista/racional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4. Teorias interacionistas – interacionismo simbólico . . 60

5. Abordagem sociológica de Norbert Elias . . . . . . . . 60

6. Abordagem sociológica de Pierre Bourdieu . . . . . . 62

7. A complexidade segundo Edgard Morin . . . . . . . . . 62

8. Teoria da estruturação de Anthony Giddens . . . . . 64

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

MÓDULO 16

Sociologia da religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

1. A espiritualidade humana e a Sociologia . . . . . . . . . 67

2. Origem e função da religião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

3. O fenômeno religioso nas ciências sociais . . . . . . . . 69

Agora é a sua vez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

De olho no vestibular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

SUMÁRIO

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9 Materialismo histórico

1. KARL MARX: O REVOLUCIONÁRIO

Apesar de Karl Marx ter nas-cido em uma família bur-guesa, ele se tornou o

maior inimigo da burguesia. Filho de um advogado ju-deu que lhe ofereceu os me-lhores estudos, Marx teve o privilégio de se graduar na Universidade de Berlim, uma das melhores da Alemanha (Prús-sia). Interessado em História, Filosofia, Direito, Artes e Literatura, Marx teve uma formação acadê-mica sólida que o capacitava para ser professor universitá-rio. Essa atividade, no entanto, ele jamais exerceu, pois foi muitas vezes prejudicado por suas ideias e, principalmente, por admirar o método de Hegel, que não era bem visto pelo monarca da Prússia.

Após formado, passou a atuar como jornalista e logo denunciou as condições desumanas a que eram submetidos os camponeses. Seus artigos levaram o governo a fechar o jornal e motivaram sua saída da Alemanha. Da França, Marx escrevia contra a opressão do governo alemão; por infuência deste, também foi expulso da França e mudou-se para a Bélgica. Nessa fase, dedicou-se a lutar pela organização dos traba-lhadores. A convite do movimento operário, foi para Londres, onde expôs seu artigo que se transformou em um dos livros mais lidos no mundo, o Manifesto do partido comunista.

Também expulso da Bélgica, radicou-se, finalmente, na Inglaterra, berço do capitalismo e o mais avançado e moderno país da época. Além de intelectual, Marx era um ativista e grande pesquisador, mas viveu uma vida de penúria financeira. Sua obra tem a marca de um ami-go de toda a vida, Friedrich Engels, com quem dividiu muitos escritos e quem organizou parte de sua obra postumamente. Marx morreu em consequência de uma infecção na garganta, muito abalado pela morte de sua esposa e da filha mais velha. Deixou um legado de lutas, que levou metade do mundo ao socialismo. Talvez te-nha sido o intelectual mais lido, amado e odiado, segui-do e repudiado do século XX.

Suas principais obras são: Manuscritos filosófico-eco-nômicos (1844), A ideologia alemã (1845), A miséria da fi-losofia (1847), Manifesto do partido comunista (1848), O 18 Brumário de Louis Bonaparte – contribuição à crítica da economia política (1857) e O capital (1867), obra máxima de sua vida.

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2. O MATERIALISMO HISTÓRICO E A DIALÉTICA

Desde os filósofos clássicos existe uma divisão muito forte na filosófica ocidental: idealismo e materialismo. Es-sas duas correntes filosóficas são o pano de fundo para entender o método de compreensão da realidade desen-volvido por Marx e Engels. De maneira bem resumida, o idealismo afirma que as ideias, a razão e o pensamento têm prioridade sobre os objetos, isto é, sobre a matéria sensível, palpável. A partir de um paradigma platônico, as ideias são mais reais que os objetos com os quais entra-mos em contato. Por sua vez, materialismo não é avareza e apego ao dinheiro ou a coisas, como vulgarmente é en-tendido. Materialismo é justamente a operação inversa ao idealismo. Parte-se do objeto, da matéria sensível para as ideias, o pensamento e a razão.

Marx não abraçou inteiramente o materialismo filo-sófico de sua época, mas promoveu sua reformulação, propondo um materialismo novo, especialmente desen-volvido para ser revolucionário e não apenas acadêmico e intelectual.

“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; o que importa é modificá-lo.”

Karl Marx

Na construção do seu método, Marx se deparou com a filosofia de Hegel, que, embora morto, exercia muita influência sobre as universidades alemãs. Marx foi um ad-mirador e crítico da filosofia hegeliana. Admirador, pelo fato de aceitar a dialética hegeliana; crítico, porque se opu-nha ao idealismo hegeliano.

A dialética de Hegel

Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) afirmava que todas as coisas huma-nas no Universo eram re-gidas por um Espírito Absoluto. Esse espírito era uma Razão, com letra maiús-cula, porque era A Razão. Essa Razão, chamada por ele de dia-lética, abarcava todas as explicações, unia todos os eventos naturais e históricos numa lógica universal. Na Antiguidade Clássica, a dialética era entendida

Rogério Chimello

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como filosofia, arte do debate de ideias, capacidade de opor uma ideia a outra.

Hegel propôs o seguinte processo como definição de dialética: a afirmação ou uma tese é confrontada por uma negação ou uma antítese na busca pelo que é real em am-bos; da tese e antítese, surge a síntese.

Essa síntese se tornará uma nova tese, passível, portan-to, de uma nova antítese, que levará a uma nova síntese, e assim infinitamente. Esse processo seria o Espírito Absoluto, o que faz o Universo funcionar.

Um exemplo desse Espírito Absoluto pode ser visto no próprio desenvolvimento da ciência. Um fato, dado como certo hoje, é debatido pela comunidade científica, poden-do ser confirmado, ampliado ou mesmo refutado. Esse processo dialético produz mais conhecimento e resulta em desenvolvimento científico.

ESQUEMA DA DIALÉTICA DE HEGEL

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A dialética marxista

Marx aceita a ideia de que o Universo é regido por uma dialética; contudo, essa dialética não pode ser aceita como um “espírito” ou apenas uma lógica. É aí que começa o ma-terialismo de Marx.

Em sua teoria, ele entende que a economia, o mundo do trabalho e da subsistência, é o elemento real e fun-damental para o ser humano. A produção humana, ou a forma como é produzida sua subsistência, é o que defi-ne o ser humano e tudo o que ele é. Dessa forma, Marx rejeita o idealismo que vê as ideias, as concepções e o pensamento como elementos definidores do ser huma-no, e afirma justamente o contrário: é a partir de como o ser humano produz que se definem suas ideias e suas concepções. Assim, o material é o definidor do espiritual, ideológico e, portanto, imaterial.

Depois de apresentar a economia como o objeto material que define a consciência do ser humano, Marx demonstra que essa consciência não é formada passiva-mente. Se a economia pode definir a consciência, ela não o faz de maneira determinista, mas de maneira dialética também. O material influencia as ideias e estas, por sua vez, influenciam o material.

IDEIAS REALIDADE

A concepção dialética da História

É na História que Marx vai demonstrar sua teoria. Se-gundo ele, “a luta de classes é o motor da História”. Ou seja, desde que apareceram o opressor e o oprimido, foram as lutas entres eles que promoveram o progresso da Histó-ria e da humanidade. Acompanhando toda a história das sociedades desiguais, uma dialética é estabelecida entre opressores e oprimidos. De cada uma dessas lutas nascia um novo tipo de sociedade. Um exemplo dessa dialética histórica pode ser visto no desenvolvimento do feudalis-mo na Europa (III ao IX século), síntese do encontro entre as culturas romanas e germânicas. Assim, a dialética é uma realidade materialista e histórica. É materialista porque é na economia, na produção e no trabalho que o ser humano constrói sua história. É histórica, pois é fruto da ação huma-na no decorrer dos séculos.

A dialética materialista se tornou um método de inves-tigação e uma proposta de luta. Ao mesmo tempo em que Marx e Engels estudavam como a dialética operava, isto é, como ocorreram as lutas sociais através dos tempos, eles propunham que os oprimidos de então lutassem, exerces-sem a dialética na sociedade, para construírem uma socie-dade mais justa e humana. Nessa teoria não houve espaço para Deus, pois se supunha que o homem seria capaz de resolver os seus problemas.

3. MODO DE PRODUÇÃO©

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Outro importante conceito da teoria marxista é o de modo de produção. Segundo Marx, o modo de produ-ção é a forma hegemônica de se produzir dentro de uma sociedade em determinado período. Hegemônico quer dizer que embora possam existir resquícios de um modo de produção ultrapassado ou mesmo vestígios de mais de um modo de produção, um é determinante em toda a ex-tensão da sociedade.

Um modo de produção é definido por alguns fatores que caracterizam a produção humana:

• Força de trabalho: força física e mental do trabalha-dor. É essa força que faz a produção acontecer.

• Instrumentos de trabalho: ferramentas e máquinas que o ser humano cria para possibilitar ou facilitar a realiza-ção de uma tarefa.

• Objeto de trabalho: matéria-prima na qual o ser hu-mano trabalha.

Sem esse conjunto, a produção humana é uma im-possibilidade quase total. É justamente a combinação de posse entre eles que dá à sociedade sua característica. Ob-servando com atenção, percebe-se que todo o trabalho humano para produzir sua subsistência advém de uma luta, de uma dialética com a natureza. A matéria-prima por excelência é retirada da natureza. Essa dialética gera uma transformação e, a partir de certo momento, a devastação e a destruição total.

O conjunto formado pela força, instrumentos e objeto de trabalho forma as forças produtivas de uma sociedade. Essas forças produtivas são de extrema importância para reconhecer um modo de produção. Elas são cumulativas e legadas de geração a geração. Para saber em que estágio de desenvolvimento se encontra uma sociedade é só ob-servar suas forças produtivas.

As forças produtivas e o desenvolvimento

Pode-se dizer que uma sociedade é desenvol-vida, ou não, a partir da observação das suas for-ças produtivas. Conhecendo-se os instrumentos de trabalho de um país, também se pode saber o seu grau de evolução tecnológica. Um país que conta com informatização e automação, biotec-nologia, engenharia genética e domínio na área nuclear, certamente detém um avançado parque industrial. Somado a isso, o avanço das técnicas de produção pode lhe dar uma vantagem na explo-ração de matéria-prima, o que corresponde a ter acesso suficiente a objetos de trabalho. Por último, e talvez o mais importante, está a qualificação da força de trabalho, já que uma mão de obra espe-cializada garante um desenvolvimento estável e progressivo ao longo do tempo, e é fator que pro-duz o instrumento e o objeto de trabalho na roda do desenvolvimento capitalista.

Avançando na teoria marxista, podemos notar que os instrumentos e os objetos de trabalho devem fazer parte de uma categoria distinta da força de trabalho; afinal, esta é viva, aqueles não. Assim, instrumentos e objetos de traba-lho são chamados de meios de produção.

Os meios de produção também operam dialeticamen-te a força de trabalho, que é empregada sobre esses meios.

Força de trabalho

Instrumentos de trabalho

Objeto de trabalho

Forças produtivas

Meios de produção

A força de trabalho age dialeticamente sobre os meios de produção

Um modo de produção pode ser caracterizado de di-versas maneiras, mas aqui serão classificadas duas catego-rias básicas: ele pode ser igualitário ou desigual. Se o modo de produção for igualitário, logicamente haverá uma socie-dade igualitária. O contrário também é verdadeiro. Se os meios de produção pertencerem a todos os membros de uma sociedade, pode-se caracterizá-la como igualitária. Se os meios de produção pertencerem a particulares, ou forem privados, isto é, estiverem nas mãos de uns poucos e os de-mais não tiverem nada além da força de trabalho, então essa é uma sociedade desigual. Marx se concentra na crítica e na possibilidade de transformação do capitalismo, pois é um sistema socioeconômico desigual.

Para Marx, a sociedade “é o produto da ação recíproca dos seres humanos”, ou seja, a interação proposital e eco-nômica entre os homens é que forma a sociedade. Essa interação social ocorre quando os seres humanos produ-zem e repartem os meios de produção e o produto do trabalho. Essas interações, que podem ser de coopera-ção ou de exploração, são reconhecidas conceitualmen-te como relações sociais de produção que, aliadas às forças produtivas, vão definir o modo de produção de uma sociedade.

Segundo o marxismo, a história da humanidade apre-sentou vários modos de produção. Assim, seguindo esses modos de produção, é possível estudar a história da hu-manidade. Partindo-se dos modos de produção, é possível estudar as sociedades correspondentes.

Os modos de produção e as sociedades que deles se destacam são:

• Modo de produção comunista primitivo: carac-terizado por uma forma de organização econômica e social muito simples. O pouco desenvolvimento técnico não permitiu grande expansão e aproveitamento dos instrumentos e objetos de trabalho; por isso a produ-ção era muito pequena. O trabalho agrícola e artesanal tinha por objetivo suprir a necessidade de subsistência do grupo. Não havia propriedade particular dos meios de produção.

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• Modo de produção asiático: comum no Oriente e nas sociedades pré-colombianas, era caracterizado por uma sociedade composta de servos submetidos à explora-ção de um governante divinizado. Essa exploração se dava na forma de impostos e serviços compulsórios prestados ao governante.

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Muitos afi rmam que o povo egípcio construiu suas magnífi cas obras arquitetônicas com braços de escravos. Os escravos fi zeram parte da história egípcia, mas não foram os grandes protagonistas. A população livre de camponeses foi a principal mão de obra no Egito antigo. Trabalhando para o faraó, essa população participava das obras como se estivesse trabalhando para um deus. Entre celebrações religiosas, trabalho no campo e as construções, o povo egípcio vivia a sua religião.

• Modo de produção escravista: os escravos são seres humanos que passam a fazer parte dos meios de produ-ção, como se fossem ferramentas, pois o escravo é um ob-jeto do senhor. Uma organização política mais complexa no modo de produção anterior é que garante os direitos dos senhores. Um dos objetivos da política escravista é a obtenção de escravos, o que não ocorria hegemonicamen-te no modo de produção anterior.

• Modo de produção feudal: tipicamente europeu, esse modo de produção gerou uma sociedade esta-mental, agrícola e de subsistência. Os servos explorados eram dominados pela tradição e pela ideologia religiosa. Foi a sociedade feudal que lançou as bases da socieda-de capitalista, com o renascimento comercial na Baixa Idade Média.

• Modo de produção capitalista: caracterizado pelo confronto entre assalariados e os donos dos meios de pro-dução, entre o lucro e a propriedade privada, suas principais características são um Estado que mantém e dá legitimida-de às desigualdades.

• Modo de produção socialista: socialização dos meios de produção. Deixam de existir desigualdades sociais, uma vez que os meios de produção são perten-centes a todos. Paulatinamente, o Estado se torna des-necessário. É um modo de produção utópico, que ainda não se realizou concretamente.

4. BURGUESIA E PROLETÁRIOS

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Como vimos, a quem não possui os meios de produ-ção restará apenas a força de trabalho. Esse alguém não é mais livre, a não ser para vender sua força de trabalho aos proprietários dos meios de produção. Esse é um dos pontos-chave do marxismo. A pessoa que vende sua força de trabalho receberá em troca um salário. O comprador da força de trabalho, por sua vez, receberá o lucro.

Dessa diferença, nasceu a defi nição de classe burguesa e proletária no marxismo. Em sociologia, o termo classe é bem específi co.

Classe: categorização a partir da localização do indivíduo dentro do sistema produtivo. Ela é defi nida pela posse ou não dos meios de produção.

O marxismo é totalmente contrário à defi nição de classe a partir da renda e das possibilidades de consumo, pois isso geraria uma infi nidade de defi nições. De um modo geral, a sociologia chama de estratos a classifi cação de grupos sociais baseados na renda, idade ou outros elementos. Por-tanto, classe é um conceito referente à posse ou não dos meios de produção ou, olhando por outro ângulo, a classe é defi nida pela necessidade de se vender a própria força de trabalho ou pela capacidade de comprar a força de trabalho de outros. Não é na distribuição que se forma a classe, mas sim na produção. A produção é especialmente relacionada à distribuição da renda ou do produto. Assim, pode-se de-preender a defi nição clássica do marxismo quanto às duas principais classes existentes no capitalismo.

Burguesia: proprietários dos meios de produção. Se-gundo o Manifesto do partido comunista, a burguesia nas-ceu dos servos feudais que conseguiram sair dos feudos e formar uma população de mercadores nos burgos, ou ci-dades. Dominaram a venda e posteriormente a produção de mercadorias. Fizeram a Revolução Industrial e, hoje, correspondem aos empresários e industriais capitalistas.

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Proletários: expropriados dos meios de produção. Em sua grande maioria, foram vítimas do êxodo rural que se viram expropriadas de suas terras, perderam suas ferramentas por obsolescência e tiveram que ven-der sua mão de obra nas cidades. O termo proletário vem de prole (do latim prole, que signifi ca “fi lho”).

A luta de classes

Segundo a percepção marxista, a História sempre evo-luiu por causa da luta de classes, desde o surgimento de um modo de produção e uma sociedade desigual. Segundo a teoria, essa dialética entre as classes pode ser observada desde muito cedo, entre sacerdotes, guerreiros e campo-neses livres, posteriormente entre patrícios e plebeus no período clássico, entre os estamentos feudais, servos e nobres, e, por último, já no modo de produção capitalista, entre burgueses e proletários.

A burguesia foi uma classe revolucionária, capaz de modifi car toda a realidade europeia e, posteriormente, do mundo, com sua ideologia e maneira de produzir. Foi revo-lucionária porque nasceu da dialética feudal – entre servos e nobres medievais. Teve que revolucionar a sociedade para poder sobreviver. Contudo, enquanto transformava o mundo, foi criando os elementos para a sua própria supe-ração. Os antagonismos do Antigo Regime foram substi-tuídos por novos antagonismos do capitalismo. Portanto, a burguesia foi autora de uma nova realidade, desigual e, por isso, passível de lutas e de nova revolução.

Das contradições do feudalismo nasceu o capitalismo e, segundo o raciocínio de Marx, dos antagonismos do capita-lismo nasceu uma nova classe revolucionária: o proletariado – capaz de destruir a burguesia, seu modo de vida e inaugu-rar um novo modo de produção e uma nova sociedade. O proletariado não poderia ter pátria, pois está sujeito à mes-ma situação de opressão em qualquer parte; por isso, a re-volução poderia começar em algum lugar, e Marx previu que seria nos países mais avançados, mas logo se espalha-ria por todo o mundo. Em 1864, no fi nal de seu Manifesto, Marx encerra, conclamando os proletários a se unirem.

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O epitáfi o gravado no túmulo de Marx, em Londres, é a frase fi nal de seu Manifesto: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”.

5. ORIGENS DO CAPITALISMO

Os três clássicos “fundadores” da sociologia – Durkheim, Max Weber e Marx – discutem o capitalismo, embora apenas Karl Marx tenha proposto uma revolução com o propósito de subverter esse sistema. Para a compreen-são da teoria marxista é importante entender as origens do capitalismo, sua afirmação e expansão pelo mundo contemporâneo. Também é preciso ressaltar que a So-ciologia sem a História é quase uma impossibilidade e poderia redundar em uma discussão desumanizada, fora do tempo e do espaço.

Existe um consenso de que o capitalismo nasceu da derrocada do sistema feudal, por isso é necessário reto-mar esse momento histórico. O fascículo de História po-derá ajudar a compreender melhor o desenvolvimento histórico do feudalismo, do qual aqui se dá apenas uma visão panorâmica.

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Os seguintes elementos são fundamentais na caracteri-zação do sistema feudal:

Vida rural. Devido às guerras no período de declínio do Império Romano e, posteriormente, do Império Franco, as cidades se encolheram. Não deixaram de existir, mas deixaram de ser o centro econômico, político e cultural da Europa Ocidental.

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Economia de subsistência. Ainda devido às guerras, o comércio decaiu e a produção econômica se retraiu, ser-vindo apenas para atender à demanda local. Outra questão que não permitia uma evolução do comércio era a frag-mentação política e a falta de infraestrutura de transporte.

Sociedade estamental. A partir do Império Romano, a sociedade foi se dividindo em estamentos muito rígidos e fi xos, entre os nobres, ou guerreiros; o clero, ou padres; e servos, ou trabalhadores.

Fragmentação política. Após o fi m do governo de Carlos Magno e posterior Tratado de Verdun (843 d.C.), nenhum rei conseguiu impor seu poder em um território muito extenso. Os nobres eram senhores feudais, grandes proprietários de terra que passaram a exercer de fato o po-der político em sua localidade.

Monopólio cultural católico. Na ausência de um gran-de poder secular, a Igreja dominou culturalmente a Europa. As escolas e igrejas passaram a ser os difusores do pensa-mento dominante.

Como todo conceito histórico-sociológico, essas carac-terísticas não eram encontradas exatamente dessa forma e em todos os lugares. Portanto, o feudalismo deve ser analisado como um tipo ideal. A Idade Média europeia foi muito heterogênea, com determinadas características mais acentuadas em alguns lugares.

As Cruzadas

As Cruzadas podem ser interpretadas como um mar-co inicial no processo que, posteriormente, culminou no desenvolvimento capitalista da Europa. Com as guerras santas entre cristãos e muçulmanos, os mercadores en-contraram oportunidades de crescer. Podiam acompanhar os soldados, fornecendo alimentos e suprindo outras ne-cessidades, além de trazer do Oriente as novidades encon-tradas para revendê-las aos europeus.

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ipéd

iaCom exceção das cidades italianas que já eram experien-

tes no comércio mediterrâneo, a maioria dos mercadores surgiu de maneiras variadas. Embora houvesse uma mo-tivação religiosa, a Igreja viu nas Cruzadas a oportunidade de lucrar com a conquista da Terra Santa. Nobres sem terra, fi lhos bastardos, ou segundos e terceiros fi lhos que não rece-biam herança passaram a se aventurar em busca de terras e riquezas. A população respondeu aos apelos da Igreja para lutar em nome do cristianismo. O resultado do encontro do mundo cristão europeu com o oriental foi a abertura dos “horizontes culturais” ao europeu. Na Europa, até essa época, comia-se em pratos de madeira ou metal, com as mãos e pouca higiene. Os europeus cobriam-se com tecidos rústi-cos e peles de animais; dormiam no chão ou em camas sim-ples, moravam em castelos que na maioria não passavam de uma casa grande de pedra, troncos e barro. O oriental tinha higiene, seda, porcelana, especiarias, medicina e uma fi loso-fi a milenar. A fi losofi a não lhes interessava, mas o que podia ser levado para a Europa valia muito dinheiro.

Com o passar do tempo, foram surgindo lugares de compra e venda, as chamadas feiras, que não funcionavam como o pequeno comércio desenvolvido nos feudos nos fi ns de semana, os quais não tinham por objetivo o lucro. Os produtos levados às feiras eram para ser vendidos. Ha-via produtos de todas as partes do mundo conhecido na Europa. Com o passar do tempo, a necessidade de uma mercadoria universal que facilitasse as trocas fez renascer o dinheiro, como um fato consumado na Europa.

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Burghausen, Alemanha. Modernidade em contraste com a Era Medieval.

A fi m de desenvolver o comércio, os comerciantes da época passaram a procurar lugares adequados para instalar as feiras. O terreno tinha que ser plano, próximo das estradas importantes, com abastecimento de água e

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