Sustentabilidade Urbana: uma aproximação computacional

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URBANISMO SUSTENTÁVEL: UMA APROXIMAÇÃO COMPUTAÇIONAL SAT-1. 15 de Março de 2015 Xosé Manuel Carreira Rodríguez www.xmcarreira.eu INTRODUÇÃO O presente artigo visa estabelecer um marco teórico para a criação de um modelo computacional de sustentabilidade urbana forte. Em primeiro lugar, as características clássicas do problema da sustentabilidade em cidades em crescimento são apresentadas, assim como algumas razões da actual crise da disciplina do urbanismo e a mudança de paradigma. Depois, a necessidade da computação é justificada para resolver sistemas complexos tais como o metabolismo urbano sob as restrições dos critérios de sustentabilidade. A evolução da computação aplicada a problemas urbanos a partir da dinâmica de sistemas de Forrester [FORRESTER65] e dos primeiros passos da inteligência artificial até à computação da sustentabilidade de sistemas complexos de hoje em dia são explicados. Finalmente, os problemas de infraestrutura, problemas ambientais, problemas sociais e as questões éticas, de onde as variáveis e indicadores serão extraídos, servem como elo entre o discurso urbano e o discurso computacional. O PROBLEMA URBANO O mundo está a se urbanizar rapidamente e o Relatório Brundtland alertou sobre os perigos inerentes a uma urbanização desordenada [BRUNDTLAND87, C. 9]. O Alvo # 11 da Declaração de Objectivos do Milénio [UNMD00, MDG # 7.d] está focado na melhora das condições de vida de 100 milhões de habitantes de bairros degradados (slums) entre 2000 e 2020. As cidades são locais de produção de mais de 60% do PIB na maioria dos países e são uma peça chave na mudança climática. Pela primeira vez na história humana, mais da metade da população do planeta vive em cidades. A previsão das Nações Unidas em 2012 era que, nos próximos 30 anos, o número de moradores em

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O presente artigo visa estabelecer um marco teórico para a criação de um modelo computacional de sustentabilidade urbana forte.

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  • URBANISMO SUSTENTVEL: UMA APROXIMAO COMPUTAIONAL

    SAT-1. 15 de Maro de 2015

    Xos Manuel Carreira Rodrguez

    www.xmcarreira.eu

    INTRODUO

    O presente artigo visa estabelecer um marco terico para a criao de um modelo

    computacional de sustentabilidade urbana forte. Em primeiro lugar, as caractersticas

    clssicas do problema da sustentabilidade em cidades em crescimento so apresentadas,

    assim como algumas razes da actual crise da disciplina do urbanismo e a mudana de

    paradigma.

    Depois, a necessidade da computao justificada para resolver sistemas complexos

    tais como o metabolismo urbano sob as restries dos critrios de sustentabilidade. A

    evoluo da computao aplicada a problemas urbanos a partir da dinmica de sistemas

    de Forrester [FORRESTER65] e dos primeiros passos da inteligncia artificial at

    computao da sustentabilidade de sistemas complexos de hoje em dia so explicados.

    Finalmente, os problemas de infraestrutura, problemas ambientais, problemas sociais e

    as questes ticas, de onde as variveis e indicadores sero extrados, servem como elo

    entre o discurso urbano e o discurso computacional.

    O PROBLEMA URBANO

    O mundo est a se urbanizar rapidamente e o Relatrio Brundtland alertou sobre os

    perigos inerentes a uma urbanizao desordenada [BRUNDTLAND87, C. 9]. O Alvo #

    11 da Declarao de Objectivos do Milnio [UNMD00, MDG # 7.d] est focado na

    melhora das condies de vida de 100 milhes de habitantes de bairros degradados

    (slums) entre 2000 e 2020. As cidades so locais de produo de mais de 60% do PIB

    na maioria dos pases e so uma pea chave na mudana climtica. Pela primeira vez na

    histria humana, mais da metade da populao do planeta vive em cidades. A previso

    das Naes Unidas em 2012 era que, nos prximos 30 anos, o nmero de moradores em

  • bairros precrios em todo o mundo iria aumentar para 2.000 milhes se no fossem

    tomadas medidas [UNHABITAT]. difcil, portanto, imaginar qualquer poltica sobre

    o crescimento econmico, a sustentabilidade ambiental, as mudanas climticas ou as

    desigualdades social sem considerar as tendncias de urbanizao e o crescimento do

    favelismo [COHEN13].

    Os pases desenvolvidos tambm no escapam ao problema habitacional pois existem

    54 milhes de habitantes de bairros degradados no Primeiro Mundo [UNHABITAT] .

    Alem disso, em muitos pases desenvolvidos, na primeira dcada do sculo XXI deram-

    se as condies para o que deu em chamar a crise da bolha imobiliria [RNE15]. Por

    estas razes, neste artculo propositadamente no fao uma distino clara entre pases

    nem entre as diferentes formas de degradao urbana existentes no planeta (favelas,

    bairros de lata, slums, banlieues, chabolismo vertical,... ).

    A MUDANA DE PARADIGMA NO URBANISMO

    As bases do urbanismo em que a maioria dos profissionais da construo fomos

    educados foram principalmente os princpios antropocntricos da Carta de Atenas

    [CORBUSIER43] e os Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna,

    nomeadamente o congresso de 1947 pensado para a reconstruo rpida das cidades

    europeias aps a Segunda Guerra Mundial.

    Se bem inicialmente o ecologismo esqueceu as cidades como parte do meio ambiente, a

    presso ecolgica faz agora com que conceitos como pegada ecolgica, capacidade de

    carga ou biodiversidade surjam no urbanismo mais inovador. Enquanto o urbanismo

    tradicional dominante estava centrado na rpida produo de imveis, o novo paradigma

    de urbanismo deve ter em conta holisticamente o metabolismo da cidade, procurando

    uma reduo ao mnimo da pegada ecolgica e reduzindo a ocupao do solo

    [EUSK03].

    No entanto, o urbanismo encerra em si um grande paradoxo. Se a aplicao da

    sustentabilidade tem uma grande dificuldade em geral, nas grandes aglomeraes

    urbanas a dificuldade mxima [BRUNDTLAND87]. O ambiente urbano

    dificilmente sustentvel pela dependencia externa e porque a urbanizao responsvel

  • pela alterao e empobrecimento de processos naturais. Portanto, pode-se argumentar

    que a green city um impossvel porque a imensa maioria das atividades urbanas so

    ecologicamente destrutivas. Como diz Valenzuela [VALENZUELA09], transformar a

    cidade herdada para fazer ecocidades e smart cities realmente um objetivo

    estimulante, mas complexo e pode que mesmo inatingvel. As melhores frmulas de

    interveno podem ser louvveis mas sempre insuficientes ou cheias de contradies e

    a maior parte das vezes focadas em tornar a cidade em um lugar melhor para se viver

    como reconhece a Carta de Leipzig [LEIPZIG07].

    O MODELO DA CIDADE

    Em 1961, Jane Jacobs perguntava-se que tipo de problema seria uma cidade?

    [JACOBS61]. Entender o modelo da cidade como um metabolismo tem razes

    profundas na sociologia. Karl Marx e Friedrich Engels podem ter sido os primeiros a

    usar a metfora ao se referir s interaes metablicas que acontecem atravs do esforo

    do trabalho fsico dos seres humanos a cultivar a terra para o seu sustento. A Carta de

    Atenas [CORBUSIER43] tambm considerou a cidade como um organismo, se bem de

    um ponto de vista antropocntrico.

    Conhecer a dinmica do sistema urbano engloba o conhecimento de fluxos de gua e

    outros materiais, energia, resduos, a fim de providenciar os aprovisionamentos

    adequados e a tempo bem como a evacuao e o tratamento de todos os resduos

    (slidos, lquidos e gases), e muitos outros conceitos como os rcios de uso de

    infraestruturas e meios de transporte, a durabilidade e eficincia energtica dos

    edifcios, etc... [EUSK03].

    Inicialmente um dos principais usos dos modelos de metabolismo urbano era registar e

    explicar os indicadores de sustentabilidade ambiental nas cidades tornando mais fcil

    encontrar padres saudveis e desenvolver planos de ao. No entanto, como aponta

    Valenzuela tambm pode ser interessante conhecer a relao entre os fluxos de recursos

    do metabolismo urbano e os efeitos sociais [VALENZUELA09].

    Um modelo sustentvel do metabolismo urbano seria circular em lugar de linear,

    dizer, um modelo em que tudo o que vem de fora pode ser reutilizado no sistema de

  • produo, afetando a um mbito menor porque as necessidades da cidade so obtidas

    em boa parte dos recursos da mesma cidade e dos seus arredores imediatos. Um modelo

    sustentvel de cidade foraria-nos a fechar os fluxos de matria e energia dentro do

    prprio espao metropolitano para reduzir a pegada ecolgica que a cidade produz tanto

    no seu arredor como no mbito planetrio [EUSK03].

    A NECESSIDADE DA COMPUTAO

    A crescente populao mundial justo ao crescimento do tamanho das cidades est

    trazendo tona problemas que antes no se apresentavam com tanta frequncia e grau

    de intensidade e complexidade. A modelagem computacional um instrumento capaz

    de permear esses problemas na busca concreta de solues com um rigor cientfico

    adequado.

    Os relatrios das Naes Unidas ([BRUNDTLAND87], [UNHABITAT]) salientaram a

    urgncia de polticas efetivas. As questes-chave relativas conceo de polticas de

    sustentabilide traduzem-se em toma de decises, otimizao e aprendizagem problemas

    relativos gesto dos recursos. Muitas vezes, esses problemas envolvem desafios que

    precisariam do apoio das cincias da computao como, por exemplo, a anlise e

    interpretao dos dados, modelos de construo e aprendizagem e visualizao dos

    resultados.

    No sentido mais tcnico, a computao trata os problemas de vrias formas, dependendo

    da sua natureza, como lineares ou no-lineares, determinsticos ou estocsticos,

    contnuos ou discretos, estticos ou dinmicos, etc... Alguns dos problemas atuais que

    apresentam grandes desafios a computao da sustentabilide so [ROQUE13]:

    - Mudanas climticas: degelo, desertificao, florestas (sequestro de carbono)

    - Catstrofes naturais ou induzidas pelo homem

    - Crescimento populacional e biossegurana

    - Doenas e epidemias: sade humana e animal

    - Poluies: guas (rios e oceanos), atmosfrica, sonora

    - Migrao e produo de alimentos em larga escala

    - Demanda de energia: fsseis versus alternativas

  • - Urbanizao: habitao e mobilidade

    Neste ltimo problema que o autor do presente artculo se foca embora esteja

    fortemente relacionado com todos os anteriores.

    No livro The Limits to Growth [MEADOWS72] apresenta-se um razoamento sobre a

    necessidade ter um modelo computacional da sustentabilidade mesmo que seja

    imperfeito: cada pessoa analisa os seus problemas, onde quer que ocorram no grfico

    espao-tempo, com a ajuda de modelos. Um modelo simplesmente um conjunto

    ordenado de suposies sobre um sistema complexo. uma tentativa de compreender

    alguns aspetos de um mundo infinitamente variado, selecionando a partir de percees e

    experincias do passado um conjunto de observaes gerais, aplicveis ao problema na

    mo. Os que fazem as polticas em todos os nveis usam inconscientemente modelos

    mentais para escolher entre alternativas que iro moldar o nosso mundo. Esses modelos

    mentais so, necessariamente, muito simples, quando comparados com a realidade de

    que so abstrados. O crebro humano s pode manter um registo de um nmero

    limitado de interaes simultneas complicadas que determinam a natureza do mundo

    real. Por motivos semelhantes, o Intergovernmental Panel on Climate Change usa e

    explicita um modelo computacional para validar as suas hipteses e predies a respeito

    do aquecimento global antropognico [IPCC14] e o autor do presente artculo defende a

    necessidade de ter um modelo computacional da sustentabilidade urbana para tomarmos

    melhores decises urbansticas.

    Se o desenho urbano no for uma cincia, ento o desenho urbano assumiria uma falta

    de base cientfica [BETTENCOURT13]. Uma forma de avaliar o rigor cientfico do

    planeamento urbano , de fato, avaliar se o modelo computacional urbano simulado

    possvel e sustentvel com a ajuda das outras cincias envolvidas e com base nos

    progressos alcanados desde que Jane Jacobs lanou a sua crtica bem sucedida de que o

    urbanismo uma pseudocincia [JACOBS61]. Em 2012, Stephen Marshall mostrou

    evidncias de que o planeamento urbano, mesmo ao nvel terico acadmico, sofre de

    abordagens pseudocientficas e props avaliar criticamente as hipteses no

    comprovadas [MARSHALL12].

  • O CASO DOS PASES EM DESENVOLVIMENTO

    Poderia pensar-se que os mtodos computacionais so irrelevantes no urbanismo dos

    pases com poucos recursos tecnolgicos. Como apenas um exemplo das possibilidades,

    pode assinalar-se o trfego rodovirio nas cidades. O congestionamento rodovirio

    catico e espetacular que caracterstica das cidades do mundo em desenvolvimento

    um microcosmo de oportunidades para a aplicao de mtodos computacionais. Os

    problemas so causados, principalmente, pela infraestrutura inadequada como traados

    rodovirios que no mudaram significativamente, apesar de dcadas de crescimento

    econmico, e uma falta de recursos para monitorar ou trfego de controlo, a polcia de

    trnsito escassa, apages que afetam semforos, etc... . As solues computacionais

    podem vir na forma de maneiras econmicas de reunir dados em tempo real, para

    aconselhar a pessoas ou veculos sobre as melhores rotas, para dinamicamente

    reimplantar um nmero limitado de polcia de trnsito, ou para analisar possveis

    reconfiguraes da rede rodoviria para remover os pontos crticos. Qualquer soluo

    deve levar em conta a natureza nica do trfego nesses locais, onde as suposies feitas

    em sistemas de transporte inteligentes do mundo desenvolvido - por exemplo, que os

    motoristas viajam na direo correta, e s na estrada - pode no ser vlida [QUINN13].

    Por outro lado, o mundo em desenvolvimento agora contm a maioria dos proprietrios

    e usurios de smartphones do mundo. Tal como aconteceu no mundo desenvolvido, a

    penetrao de dispositivos em rede tem levado a grandes quantidades de dados, o que

    pode revelar uma ampla gama de informaes que seriam muito difceis de medir de

    outra maneira. A partir de padres de mobilidade para informaes de trnsito

    possvel recolher informaes relevantes para o planejamento urbano. Ademais, com

    poucos interesses tecnolgicos estabelecidos e uma falta de burocracia para impedir o

    desenvolvimento de novas tecnologias, possvel o lanamento rpido de servios tais

    como solues de mobilidade informais e economia colaborativa difceis em pases

    desenvolvidos na mesma medida.

    A maioria dos especialistas concorda com que a integrao da informao de

    importncia fundamental na reduo das incertezas resultante na implementao de

    polticas urbanas. O seu papel fundamental foi sublinhada na Conferncia das Naes

    Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: os pases en desenvolvimento e as

  • organizaes internacionais competentes devem cooperar para expandir a sua

    capacidade de receber, armazenar e recuperar, contribuir, divulgar, utilizar e

    proporcionar o acesso pblico adequado informao sobre ambiente e

    desenvolvimento [UNCED92].

    UMA BREVE HISTRIA DA COMPUTAO DA

    SUSTENTABILIDADE URBANA

    Alan Turing formulou em 1936 o problema da computabilidade ou no computabilidade

    de um problema qualquer ([TURING36], [TURING50]). Pode plantejar-se tambm a

    questo de se os problemas da sustentabilidade urbana podero ser modelados

    computacionalmente. Carla Gomes aponta que se bem muitos problemas

    computacionais relacionados com a sustentabilidade podem ser tratados

    computacionalmente em teoria a maioria so problemas duros (NP hard), mesmo com

    grossas simplicaes, pois os problemas de sustentabilidade so nicos em escala e

    complexidade [GOMES09].

    Hoje em dia fala-se em computao para a sustentabilidade como um campo

    interdisciplinar que tem como objetivo aplicar tcnicas de cincia da computao e da

    informao, investigao de operaes e estatstica para equilibrar as necessidades

    ambientais, econmicas e sociais para atingir eticamente um desenvolvimento

    sustentvel. O foco principal o desenvolvimento de modelos para a tomada de

    decises relativas gesto e alocao de recursos.

    Durante muitos anos a focagem preferida para os problemas de sustentabilidade urbana

    foi a dinmica de sistemas. A dinmica de sistemas foi desenvolvida nos anos 50 pelo

    professor Jay Forrester do Massachusetts Institute of Technology. O modelo Urban

    Dynamics apresentado no livro homnimo foi o primeiro das grandes aplicaes no-

    corporativas da dinmica de sistemas [FORRESTER65] mas o grande sucesso da

    metodologia chegaria com a apresentao da World Dynamics que serviu de base para o

    popular livro The Limits to Growth [MEADOWS72].

    A dinmica de sistemas lida com ciclos de retroalimentao interna e atrasos que

    afectam o comportamento do sistema como um todo. A utilizao de ciclos de

  • retroalimentao (feedback), estoques e fluxos (stocks and flows) ajuda a descrever

    sistemas aparentemente simples que mostram uma no-linearidade contra-intuitiva. Por

    outra banda, a Conferncia de Dartmouth de 1958 inaugurava a pesquisa noutro ramo da

    computao: a inteligncia artificial. As implicaes e expectativas da inteligncia

    artificial no foram muito claras e teve de lidar com a oposio dos ramos tradicionais e

    at no muito tempo atrs ainda era considerado um ramo de menor pureza intelectual.

    De fato, acho que relevante que o primeiro encontro internacional de computao para

    a sustentabilidade, com maioria de especialistas da inteligncia artificial, no fosse

    celebrado at 2009 em Lisboa e em boa parte graas aos esforos de Carla P. Gomes

    [CROCS09].

    Sem nimo de ser exaustivo gostaria de destacar algumas figuras actuais. Michael

    Mehaffy et al. [MEHAFFY10] esto a modelar a cidade como um sistema complexo

    com muitas camadas de interao. Lus Bettencourt et al. ([BETTENCOURT07],

    [BETTENCOURT13]) esto descrevendo o funcionamento dos sistemas urbanos com

    nova preciso matemtica. Outros trabalhos em destaque incluem o gegrafo Michael

    Batty, o matemtico Nikos Salingaros, o economista urbano Jos Lobo e o bilogo

    social David S. Wilson citados, por exemplo, em [BAYNES09].

    A NECESSIDADE DE INDICADORES

    Em um momento de crescente apatia e relutncia dos cidados em relao s

    instituies europeias, foi quando do Conselho [CEU00] e a Comisso Europeia

    [COM01] deram os maiores impulsos incluso, pelo menos, dos indicadores

    ambientais. Farins [FARINOS08] assinala a ausncia de variveis mensurveis

    (mtricas) estabelecidas para o controlo e benchmarking como um problema para a

    geovernana. Alguns concelhos e regies optaram por desenvolver os seus prprios

    indicadores de sustentabilidade urbana como parte de sua Agenda 21 Local com o

    problema de partida da escassa e pouco confivel informao numrica para actualizar

    os indicadores e torn-los comparveis.

    Tradicionalmente, as avaliaes de polticas e projetos urbansticos foram feitas

    fundamentalmente a partir do ponto de vista econmico. Para a realizao de qualquer

    avaliao econmica habitual usar indicadores clssicos como o Valor Presente

  • Lquido, a Taxa Interna de Retorno, o Valor Actualizado Neto, etc... Tal como usamos

    indicadores econmicos podemos usar indicadores de sustentabilidade (indicadores

    ambientais e sociais). Os julgamentos de valor, especialmente com variveis

    lingusticas, seriam um exemplo claro de informao inconsistente. Por exemplo, "a

    qualidade da gua boa" pode ter diferentes interpretaes.

    De acordo com Meadows [MEADOWS98] e Bossel [BOSSEL99], uns requisitos

    devem ser seguidos para encontrar indicadores de sustentabilidade adequados:

    Os indicadores de desenvolvimento sustentvel devem ser comuns para orientar

    polticas e decises baseadas na geogovernana em todos os nveis.

    Estes indicadores devem representar todas as preocupaes importantes: uma coleo

    ad hoc de indicadores que apenas parecem relevantes no adequada. Uma abordagem

    mais sistemtica deve olhar para a interao de sistemas e seu ambiente.

    O nmero de indicadores deve ser to pequena quanto possvel, mas no menor do que

    o necessrio. Ou seja, o conjunto de indicadores deve ser abrangente e compacto,

    cobrindo todos os aspectos relevantes.

    O processo de encontrar um conjunto de indicadores deve ser participativo para

    garantir que o conjunto engloba as vises e valores da comunidade ou regio para a qual

    foi desenvolvido.

    Os indicadores devem ser bem definidos, reprodutveis, inequvocos, compreensveis e

    prticos. Eles devem refletir os interesses e vistas de diferentes partes interessadas.

    A partir de um olhar para estes indicadores, deve ser possvel deduzir a viabilidade e

    sustentabilidade dos desenvolvimentos e comparar com os caminhos de

    desenvolvimento alternativos.

    Numa linha mais prtica, para o consultor Joo Salvador Furtado [SALVA09], o

    indicador de sustentabilidade deve ser uma unidade de medida, um elemento

    informativo de natureza fsica, qumica, biolgica, econmica, social e institucional

  • representado por um termo ou expresso que possa ser medido, ao longo de

    determinado tempo, a fim de caracterizar ou expressar os efeitos e tendncias e avaliar

    as inter-relaes entre os recursos naturais, sade humana e a qualidade ambiental (dos

    ecossistemas), estreitamente alinhado e harmonizado com o entendimento de aspetos

    econmicos, ambientais e sociais. Grande parte da dificuldade na criao de indicadores

    para retratar a sustentabilidade tambm se aplica aos desafios para a criao de

    organismo institucional para cuidar da geogovernana, segundo a viso da Agenda 21.

    Muitas metodologias podem ser utilizadas hibridando as metodologias de avaliao de

    impactos clssicas e as tcnicas computacionais de gesto da informao como a

    apresentada por Caro et al. [CARO10].

    RESTRIES DE SUSTENTABILIDADE DO MODELO

    Existem trs principais grupos de restries ao desenvolvimento a considerar em todo

    modelo de sistema urbano segundo Hartmut Bossel [BOSSEL00]:

    Restries de condies fsicas e as leis da natureza: nem tudo possvel.

    - As leis da natureza, as regras da lgica: exemplos de tais restries so os requisitos

    mnimos de nutrientes para o crescimento das plantas, as eficincias de energia mxima

    de processos trmicos, etc ...

    - O ambiente fsico e as suas restries: o espao disponvel, a capacidade de absoro

    de resduos do solo, rios, oceanos, atmosfera, a disponibilidade de recursos no-

    renovveis, as mudanas climtica, etc ...

    - O fluxo de energia solar e os estoques de recursos materiais.

    - Capacidade de carga: os organismos e os ecossistemas exigem determinadas

    quantidades de fluxo de energia solar, nutrientes e gua por unidade de organismo

    suportado.

    Restries da natureza humana e os objectivos humanos: nem tudo desejvel

  • - O papel da tica e valores.

    - Os atores humanos, dos que falarei com mais pormenor no apartado dos problemas

    ticos.

    - Organizaes humanas, culturas e tecnologia.

    Restries de tempo: dinmica e evoluo determinar o ritmo e direo

    - O papel do tempo: Todos os processos dinmicos levam tempo. Por exemplo, a

    construo de infraestruturas, a introduo de uma nova tecnologia, tudo leva tempo,

    - O papel da evoluo: o desenvolvimento sustentvel implica uma evoluo constante,

    auto-organizao e mudanas adaptativas.

    A continuao, os principais problemas urbanos detectados dos que se tirariam as

    variveis e indicadores de sustentabilidade do sistema so descritos.

    PROBLEMAS DE INFRAESTRUTURAS

    O principal problema de falta de infraestruturas relacionado com o crescimento das

    cidades em pases em desenvolvimento o acesso gua e saneamento. Os Alvos #10 e

    #11 da Declarao de Objectivos do Milnio esto relacionados com o problema da

    habitao [UNMD00, MDG # 7.c & MDG # 7.d] e visavam reduzir para metade, at

    2015, a proporo da populao sem acesso sustentvel gua potvel e ao saneamento

    bsico. O indicador mais visvel do crescimento urbano improvisado tem sido o grande

    aumento do favelismo nas reas periurbanas de frica e Sul de sia com mais de 80%

    das suas novas populaes sem qualquer abastecimento de gua potvel nem

    saneamento [UNDP12].

    Outro problema infraestrutural a dificil mobilidade urbana. No possuir um carro pode

    marcar mesmo uma excluso social quando o transporte pblico no est garantido

    [JEEKEL14]. As deficincias nos transportes adicionam problemas de tempo

  • predominantemente suportados pelas mulheres para acompanhar os seus filhos a

    escolas, centros de sade etc... [CHANT07]. Vrios estudos concluram que as

    condies de vida esto intimamente correlacionadas com os cdigos postais

    [JONES14].

    A Carta de Atenas [CORBUSIER43] e depois o CIAM da reconstruo europeia

    [CIAM48] apostaram pelo zoneamento da cidade de acordo com os usos e necessidades

    da sociedade e isto teve consequncias negativas no excessivo uso do automvel. Na

    actualidade amplamente aceite que melhor combinar diferentes usos no mesmo

    territrio, embora, por vezes, existam usos conflitantes, por exemplo, usos residenciais e

    industriais, por tanto tero de ser analisadas as melhores localizaes para eles. Em

    geral uma mistura de usos do solo poupa tempo e energia por causa da maior

    proximidade. Os servios pblicos tm de estar localizados em lugares estratgicos para

    que os utentes tenham um acesso fcil a eles. Os bairros devem ser autossuficientes, no

    s em termos de servios pblicos, mas tambm comerciais e de lazer, de jeito que a

    mobilidade por parte dos cidados seja desnecessria.

    A grande maioria dos planos urbansticos atuais evitam abodar alguns dos temas

    contemporneos mais polmicos da mobilidade urbana mas tambm mais prometedores

    entre os quais esto os aplicativos online para dar boleias (carpooling) e a promoo do

    teletrabalho e o e-government para evitar deslocamentos.

    Se bem, como o arquiteto Ricardo Aroca aponta [RNE15], por trs do conceito

    emergente de smart city (cidade inteligente) existem alguns lobbies interessados em

    vender TICs, claramente o conceito de smart city est cheio de possibilidades para uma

    mobilidade urbana sustentvel. De acordo com a teoria do urbanismo para esta era da

    informao de Manuel Castells [CASTELLS02], os tempos so chegados para que a

    cidade em rede online e a cidade em rede offline sejam juntadas em uma nova poltica

    urbana para uma cidade comum.

    PROBLEMAS AMBIENTAIS

    O crescente impacto das cidades sobre o ambiente e a alta vulnerabilidade das cidades

    em relao s mudanas climticas e desastres naturais exigem uma reflexo sobre as

  • estratgias de adaptao e mitigao em um mundo cada vez mais metropolizado. Ao

    abordar um problema de crescimento urbano, as polticas deveriam analisar com

    modelos computacionais apropriados a capacidade de carga do territrio, a pegada que

    se deixa sobre o territrio e as densidades de concentrao urbanas. A perda de floresta

    e o risco de inundaes na preiferia metropolitana so os efeitos mais evidentes

    [KRUTILLA94]. Tambm a falta de biodiversidade tem, sua vez, efeitos negativos

    sobre moradores nos bairros degradados [MOSQUERA11] [CARRUS14]. Embora com

    muitos detratores, a Curva de Kuznets Ambiental (EKC) continua a ser a ferramenta

    mais utilizada para relacionar desigualdade social e degradao ambiental [BOYCE94].

    Contrariamente crena comum, apesar de que o verde rural posa parecer muito mais

    em harmonia com a natureza do que uma cidade cheia de arranha-cus, o fato

    geralmente aceitado em todo o urbanismo, do tradicional ao mais moderno, que a vida

    na cidade compacta tem uma menor pegada ecolgica por habitante do que na vila-

    jardim [MOLINI12]. Os sistemas urbanos podem ser ambientalmente mais sustentveis

    do que a vida rural. As reas urbanas densas produzem menos emisses de gases de

    CO2 por pessoa sempre que os sistemas de mobilidade sejam eficientes. A disperso

    perifrica (urban sprawl) exige mais energia, infraestruturas, quantidade de terra e um

    maior uso do automvel ([UNDP12], [JONES14] , [MOLINI12]). Mais campos

    agrcolas e habitats de animais selvagens so deslocados per capita, mais cobertura

    florestal suprimida e substituda por pavimentos impermeveis, a precipitao

    menos eficientemente absorvida, a qualidade e quantidade da gua so piores e os riscos

    de inundao muito maiores.

    PROBLEMAS SOCIAIS

    Como foi salientado pelo Programa das Naes Unidas para os Assentamentos

    [UNHABITAT], as cidades oferecem a promessa de melhores oportunidades das que

    existem nas zonas rurais mas, ao mesmo tempo, as cidades podem tornar-se locais de

    extrema pobreza e acesso profundamente desigual a servios e oportunidades de

    emprego.

    Apesar das fortes correlaes entre o crescimento econmico e urbanizao,

    importante ressaltar, ainda, o impacto das ineficincias urbanas na gerao de emprego

  • e renda. O processo de crescimento urbano tem sido fortemente influenciado pela

    suburbanizao do emprego industrial e comercial e as comunidades periurbanas tm

    respondido s novas condies de crescimento criando um novo padro de

    diferenciao, aquele em que h a estratificao por classe social e riqueza em

    detrimento dos moradores mais pobres [LOGAN76].

    Existe um fator social de gnero a levar em conta: as mulheres urbanas pobres so mais

    propensas do que as rurais a ser dependentes da economia salarial pela ausncia de uma

    produo para auto-consumo e isso pode vir a aumentar a vulnerabilidade das mulheres

    urbanas especialmente quando esto envolvidas em trabalhos informais da economia

    no oficial [CHANT07]. A reflexo do antroplogo cultural Manuel Castells

    [CASTELLS78] continua a ser vlida hoje em dia: as cidades funcionam porque as

    mulheres garantem transporte no remunerado, porque reparam as casas, porque

    fazem as refeies quando no existem cantinas, porque passam tempo a fazer

    compras, porque cuidam dos filhos quando no h creches e porque oferecem

    entretenimento gratuito quando h ausncia de opes culturais.

    So vrias as pesquisas que provam tambm as relaes entre conflitos e desigualdades

    em reas de rpida urbanizao [FANJNZYLBER98] [SEVILLA13]. A criminalidade

    serve de excusa para uma paisagem de segregao urbana. De acordo com o Programa

    de Desenvolvimento das Naes Unidas [UNDP09] havia 90 cidades fechadas para

    ricos no incio da dcada de 1990 e 541 em 2008. Este tipo de cidadelas privadas e

    muradas faz com que o sentimento de excluso social e a violncia aumentem

    [ELPAIS14].

    Novamente, insisto em que os problemas enunciados no so exclusivos de pases em

    desenvolvimento. Por exemplo, em 2005, uma srie de inesperados e violentos motins

    protagonizados por filhos de imigrantes ocorreu nos subrbios de Paris no que se deu

    em chamar la malaise des banlieues [MALAISE05]. As portas fechadas participao

    popular propiciam a apario de conflitos como o acontecido em Burgos na Espanha

    [GAMONAL14]. O dfice democrtico tambm refletido em inundaes de quintas,

    dotaes oramentais que favorecem mais aos bairros de classe mdia e na locao de

    indstrias poluentes em bairros perifricos na procura de mo de obra abundante e a

    baixo preo [UNDP14].

  • Resulta imprescindvel contar com a cidadania e a inteligncia coletiva nos processos

    de deciso urbanos. Entre as vrias propostas de mudana apresentadas no Livro Branco

    para a Governana na UE [COM01] destaca o reforo da participao ativa dos

    cidados no debate pblico. Agora bem, a consulta pblica est ocorrendo apenas no

    final do processo, quando o planejamento j est quase pronto, reduzindo a margem

    para alteraes importantes.

    Neste sentido, gostaria de assinalar inovador projeto e-Politics de Michela Milano et al.

    [MILANO14]. Trata-se de um sistema de apoio deciso para formuladores de polticas

    que integraa perspectivas globais e individuais sobre os impactos econmicos, sociais e

    ambientais de diferentes decises. Constitui um exemplo recente de elaborao de

    polticas como um domnio multifacetado com uma variedade de problemas complexos

    relacionados mediante inteligencia artificial, de integrao e equilbrio entre vrios

    objectivos concorrentes utilizando a modelagem baseada em agentes e a teoria de jogos

    para a criao de uma poltica sustentvel.

    De acordo com Castells, internet viria a ser a ferramenta perfeita para incentivar a

    participao dos cidados no debate do ordenamento do territrio desde a sua criao: o

    espao e o tempo foram transformados baixo o efeito combinado das tecnologias da

    informao e por processos sociais induzidos pelo actual tempo de mudanas histricas

    [CASTELLS02]. Embora muitas autarquias j oferecem linhas diretas via Twitter, a

    participao atravs de canais mais reflexivos e atenciosos, como fruns, blogs e as

    plataformas de voto como Reddit ainda hoje no tm a relevncia poltica necessria.

    A modelagem computacional da sustentabilidade urbana deveria ser entendida, segundo

    Benedito Silva et al. [SILVA10], como um processo aberto, participativo e evolutivo.

    Neste sentido, a promoo do desenvolvimento urbano no pode estar baseada na noo

    de que a cidade deva atingir um determinado estado especfico, ou seguir uma

    determinada trajetria, cuja definio possa ser baseada em algum exemplo existente

    considerado de sucesso. Ao contrrio, o importante no o estado final mas os fatores

    que condicionam a evoluo da rea urbana de forma que esta possa manter, ou criar,

    caractersticas consideradas desejveis. Assim, segundo a abordagem proposta, no

    existem cidades desenvolvidas mas cidades capazes de se desenvolver

  • sustentavelmente. O importante na anlise do desenvolvimento urbano e da sua

    sustentabilidade so as propriedades sistmicas ou emergentes que permitem que as

    reas urbanas consigam se adaptar e evoluir adequadamente.

    O cientista da computao Tadeusz Szuba [SZUBA01] tem estudado fenmenos

    relacionados com a inteligncia coletiva para explicar porque certos problemas so mais

    eficientemente resolvidos coletivamente do que a partir de decises individuais

    agregadas. Assim, em uma sociedade que se auto-organiza, diferenciando suas

    estruturas internas, os indivduos que a compe passam a ocupar posies cada vez mais

    especficas, o que dificulta uma plena compreenso, por parte de qualquer um desses

    indivduos, do estado ou do comportamento global da sociedade. Alm disso, a

    existncia de interesses conflitantes que afetam a todos os indivduos, embora em

    diferentes graus, aumenta ainda mais essa dificuldade.

    A participao e a inteligncia coletiva so propriedades sistmicas essenciais a ser

    promovidas em qualquer ao de desenvolvimento o que significa subordinar as

    propostas de soluo de problemas especficos do desenvolvimento sustentvel ao

    carter evolutivo das sociedades humanas. entender que a soluo dos problemas

    ambientais, sociais e de desenvolvimento econmico passam por um amplo processo de

    aprendizado da rea metropolitana como um todo.

    As razes do uso da computao para entender e resolver problemas sociais remontam-

    se ao final dos anos setenta e incio dos anos oitenta, quando alguns cientistas da

    computao como Bendifallh et al. [BENDIFALLAH88] na procura de novos mtodos

    e tcnicas para distribuir e coordenar a resoluo de problemas comearam a se

    interessar por metforas computacionais da sociedade. Thomas Malsch esclareceu que

    no curso das pesquisas houve contacto e bastante conflito com as cincias sociais

    oficiais ao entrar em um territrio desconhecido e fora dos limites do que Thomas Kuhn

    costumava chamar de cincia normal [MALSCH01]. A fim de abordar as questes

    urbanas sociais de uma forma benfica para todos a comunidade cientfica da

    computao e das ciencias sociais tm de dialogar sem preconceitos.

    Como advertira Jay Forrester, pai de dinmica de sistemas, as pessoas so relutantes em

    acreditar que os sistemas fsicos e humanos tm a mesma natureza subjacente. Embora

  • os sistemas sociais so mais complexos do que os fsicos, pertencem mesma classe de

    sistemas complexos, altamente organizados e no lineares [FORRESTER65]. Em outras

    palavras, um sistema social, como os cidados da cidade, significa que, em parte agem

    como engrenagens na mquina social e econmica, e em parte, cada cidado joga o seu

    papel con os seus valores enquanto os cidados tambm so movidos pela presso

    imposta pelo sistema. No apartado a seguir explico com mais pormenor esta ideia.

    PROBLEMAS TICOS

    Na minha opinio, uma tica para a sustentabilidade forte deve ser uma tica

    biocntrica, actualizada e baseada em ticas existentes como prope Becker

    [BECKER11]. No caso do urbanismo sustentvel, o desenvolvimento urbano implica

    contradies entre a intensificao da atividade econmica, a degradao ambiental e as

    iniquidades sociais especialmente nos bairros perifricos. O papel de uma tica do bem

    comum e uma comunidade de cidados a participar como uma equipa solidria seria

    vital para superar as contradies urbansticas.

    Para Hartmut Bossel [BOSSEL00], compreender, avaliar e simular o comportamento

    social requer o conhecimento dos preceitos que so explcita ou implicitamente os que

    orientam o comportamento individual. Os atores humanos podem ser vistos como

    sistemas auto-organizados que tentam permanecer viveis em um ambiente

    diversificado com outros sistemas auto-organizados (outros atores humanos,

    organismos, eco-sistemas, etc.), todos movidos pelos seus prprios interesses e valores

    que Bossel chama orientadores bsicos.

    Os orientadores bsicos surgiram em resposta a propriedades ambientais gerais e,

    portanto, so idnticos em todo sistema urbano: a existncia, a eficcia, a liberdade de

    ao, a segurana, a adaptabilidade e a convivncia. Ora bem, diferentes atores podem

    evoluir em diferentes tipos culturais com nfase em um diferente orientador. A ateno

    equilibrada para todos os orientadores bsicos fundamental para a sustentabilidade do

    conjunto. O documento de Bossel [BOSSEL99] descreve uma abordagem da teoria

    orientao e a sua simulao e contribui para vrias tarefas importantes:

    1. Entender e prever tendncias comportamentais.

  • 2. Orientar a busca de uma vasta srie de indicadores de desenvolvimento sustentvel.

    3. Avaliao e comparao de caminhos alternativos de desenvolvimento.

    4. As polticas de orientao para a sustentabilidade, avaliando os impactos futuros das

    polticas propostas.

    Um grupo de pessoas moralmente ticas com princpios morais muito elevados mas sem

    a necessria viso comunitria poderiam dar como resultado uma ao coletiva imoral e

    uma tragdia dos comuns como tem amostrado a teoria de jogos desde Hardin

    [HARDIN68] e dai a importncia da simulao tambm do ponto de vista de uma tica

    do bem comum.

    CONCLUSES

    Anjali Bean [IHC12] observa que se bem alguns dos objectivos do Alvo #11

    [UNMD00, MDG # 7.d] foram cumpridos, o nmero de pessoas vivendo em bairros

    degradados e habitaes precrias continua a aumentar. Em 2012, o Programa das

    Naes Unidas para os Assentamentos [UNHABITAT] publicou uma lista de onze

    metas mais concretas do que o Alvo # 11 e ilustram a necessidade de dizer e de fazer

    algo mais.

    A minha inteno foi destacar o nvel de impreciso que ainda existe no discurso da

    sustentabilidade urbana e uma possvel abordagem computacional. As convocaes

    para a necessidade de uma cincia computacional da sustentabilidade urbana sugerem a

    importncia de perceber as cidades como um sistema metablico de grandes redes,

    como uma mistura de laos sociais, espaciais e de infraestrutura, ambientais e ticos

    [BETTENCOURT13]. A partir de uma base cientfica mais slida e coerente do

    urbanismo sustentvel seria possvel que a concepo e implementao de iniciativas e

    polticas efectivas contribuam para reforar a funo primria da cidade que permitir

    interaces sociais em um ambiente sustentvel.

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