Surgimento da LIBRAS

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Surgimento da Libras: De Flausino ao Grupo de Pesquisas da FENEIS - RJ Tanya Amara Felipe 1 O precursor nas pesquisas sobre línguas de sinais foi BULWER J. B. que editou um livro sobre a língua de sinais inglesa: Cherologic: or the natural language of the hand London R. Whitaker. Posteriormente, também na Inglaterra, em 1895, foi publicado outro livro: The sign of Language of the deaf and dumb de NEVINS, R. W. Nos Estados Unidos a primeira publicação foi de iniciativa dos surdos, em 1848, os Annals of the Deaf que reuniu durante séculos um inventário da cultura surda americana. Ainda em 1878, foi publicado também o artigo Thinking in words and gesture, por BOOTH, E. nos Annals of the Deaf 23. Em 1918 e 1923, foram editados respectivamente os livros The sign language: a manual of singns, de LONG, J. L., e Handbook of the sign language of the deaf, de MICHAEL, S. que reuniram sinais da língua de sinais americana (ASL). Após um longo período sem pesquisa nessa área, talvez devido à tradição oralista, em 1960, também nos Estados Unidos, foram iniciadas as pesquisas propriamente lingüísticas sobre a ASL, com o artigo de STOKOE, W. C. Sign Language Structure: nu outline of the visual communication system of the American deaf, publicado na revista Studies in Linguistics, Occasional Papers 8. Em 1965, STOKOE CASTERLINE e CRONEBERG publicaram A Dictionary of American Sign Language, fruto de um trabalho de equipe, formada por ouvintes e surdos, no Gallaudet College. A partir desse trabalho, na década de 70 para cá, milhares de publicações foram editadas em todo o mundo sobre as diversas línguas de sinais, mas ainda a língua mais pesquisada está sendo a ASL. Aqui no Brasil, a primeira publicação sobre a língua de sinais brasileira data de 1875, trata-se de um livro: Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos, de Flausino da Gama, um ex-aluno do Instituto de Surdos, que se tornou repetidor dessa escola, quando terminou seu período de estudo. Quase um século depois, em 1969, com a publicação do artigo de KAKUMUSU, J. Urubu Sign Language, foi constatado que haveria pelo menos outra língua de sinais no Brasil, utilizada pelos índios Urubus-Kaapor. Somente em 1969, por iniciativa estrangeira, foi publicado outro livro sobre a língua de sinais brasileira: Linguagem das Mãos, de DATES, E. mas, devido à influência da ASL, muitos sinais nessa obra, como também na de HOEMAN, H. et al., Linguagem de Sinais do Brasil, são sinais dessa língua. Esses dois livros foram, durante décadas, o material didático utilizado pelos instrutores surdos para ensinarem sua língua e, talvez 1 Felipe, T. A. De Flausino ao Grupo de Pesquisa da FENEIS – RJ. Anais do V Seminário Nacional do INES. . Rio de janeiro: INES. 2000: 87- 89

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texto bastante interessante sobre o surgimento das Libras

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Surgimento da Libras: De Flausino ao Grupo de Pesquisas da FENEIS -

RJTanya Amara Felipe1

O precursor nas pesquisas sobre línguas de sinais foi BULWER J. B. que editou um livro sobre a língua de sinais inglesa: Cherologic: or the natural language of the hand London R. Whitaker. Posteriormente, também na Inglaterra, em 1895, foi publicado outro livro: The sign of Language of the deaf and dumb de NEVINS, R. W.Nos Estados Unidos a primeira publicação foi de iniciativa dos surdos, em 1848, os Annals of the Deaf que reuniu durante séculos um inventário da cultura surda americana. Ainda em 1878, foi publicado também o artigo Thinking in words and gesture, por BOOTH, E. nos Annals of the Deaf 23.

Em 1918 e 1923, foram editados respectivamente os livros The sign language: a manual of singns, de LONG, J. L., e Handbook of the sign language of the deaf, de MICHAEL, S. que reuniram sinais da língua de sinais americana (ASL).Após um longo período sem pesquisa nessa área, talvez devido à tradição oralista, em 1960, também nos Estados Unidos, foram iniciadas as pesquisas propriamente lingüísticas sobre a ASL, com o artigo de STOKOE, W. C. Sign Language Structure: nu outline of the visual communication system of the American deaf, publicado na revista Studies in Linguistics, Occasional Papers 8.

Em 1965, STOKOE CASTERLINE e CRONEBERG publicaram A Dictionary of American Sign Language, fruto de um trabalho de equipe, formada por ouvintes e surdos, no Gallaudet College. A partir desse trabalho, na década de 70 para cá, milhares de publicações foram editadas em todo o mundo sobre as diversas línguas de sinais, mas ainda a língua mais pesquisada está sendo a ASL.

Aqui no Brasil, a primeira publicação sobre a língua de sinais brasileira data de 1875, trata-se de um livro: Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos, de Flausino da Gama, um ex-aluno do Instituto de Surdos, que se tornou repetidor dessa escola, quando terminou seu período de estudo.

Quase um século depois, em 1969, com a publicação do artigo de KAKUMUSU, J. Urubu Sign Language, foi constatado que haveria pelo menos outra língua de sinais no Brasil, utilizada pelos índios Urubus-Kaapor.

Somente em 1969, por iniciativa estrangeira, foi publicado outro livro sobre a língua de sinais brasileira: Linguagem das Mãos, de DATES, E. mas, devido à influência da ASL, muitos sinais nessa obra, como também na de HOEMAN, H. et al., Linguagem de Sinais do Brasil, são sinais dessa língua. Esses dois livros foram, durante décadas, o material didático utilizado pelos instrutores surdos para ensinarem sua língua e, talvez por essas obras trazerem uma seleção de fotografias ou desenhos de sinais da LIBRAS com explicações, a metodologia que vem sendo utilizada para ensinar esta língua tem sido somente a apresentação de sinais e tradução dos mesmos.

A partir da segunda metade da década de 80, começaram as pesquisas propriamente lingüísticas sobre a Libras, desenvolvidas pelo Grupo de Estudo sobre Linguagem, Educação e Surdez- GELES, com seu primeiro boletim, editado em novembro de 1985 no Recife.

De lá para cá, várias dissertações, tese, artigos e livros vêm mostrando aspectos da LIBRAS, como as seguintes publicações:

1982 - NAMURA, R. A ordem sintática e a repetição. Dissertação de Mestrado. Mogi das Cruzes.

1984 - FERREIRA BRITO, L. Similarities and differences intwo brasilian sign language. Sign Language Studies 42: 45-56.

1 Felipe, T. A. De Flausino ao Grupo de Pesquisa da FENEIS – RJ. Anais do V Seminário Nacional do INES. . Rio de janeiro: INES. 2000: 87- 89

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1988 - FELIPE, T A. O signo Gestual - visual e sua estrutura frasal na Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros. Dissertação de Mestrado em Lingüística, UFPE.

1989 - Trabalhos de Lingüística Aplicada 14, Campinas. 1989 - 1991, 1993, 1995, 1997, 1999-Anais do IV Encontro Nacional da NPOLL,

Recife. 1990 - Revistas Espaço, INES e Integração. MECISEESP. 1991 - Anais do Congresso da ASSEL, Rio de Janeiro. 1992 - CALDAS, B. Narrativas em LSCB: um estudo sobre referência. Dissertação

de Mestrado. - Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, Linguagem de Sinais. São Paulo: Cesário Lage.

1993 - Anais do Congresso Latino Americano de Bilingüismo para Surdos. Rio de Janeiro.

- FERREIRA, BRITO, L. Integração Social & Educação de Surdos, Rio de Janeiro: Ed. Babel. - Felipe, Tanya e Grupo de Pesquisa da FENEIS-RJ, Versão Preliminar do livro LIBRAS em Contexto. - MOURA, M. C.; LODL, A. C. B.; PEREIRA, M. C. (eds) Língua de sinais e educação do surdo. São Paulo: Sociedade Brasileira de Neuropsícologia (Série de Neuropsicologia V. 3).

1994 - KARNOP, L. P Aquisição do parâmetro configuração de mão dos sinais da LIBRAS: Estudo sobre quatro crianças surdas filhas de pais surdos. Dissertação de Mestrado, Porto Alegre. PUC.

1995- STROBEL, K. L.; DIAS, S. M. S. (org.) Surdez: abordagem Geral. Curitiba: FENEIS. Apta Gráfica Editora.

- QUADROS, R. As categorias vazias pronominais: uma alternativa com base na LIBRAS e reflexos no processo de aquisição. Dissertação de Mestrado, Porto Alegre. PUC.

- FARIAS, C. Atos de Fala. O Pedido em Língua Brasileira de Sinais. Rio de Janeiro: UFRJ;

- FERREIRA BRITO, L. Por uma Gramática da Língua de Sinais. Rio de Janeiro, Tempo Brasil.

1997 – Felipe, Tanya. A. LIBRAS em Contexto - Curso Básico, Livro do Estudante. FENEIS, MEC/FNDE.

- Felipe, Tanya. A. LIBRAS em Contexto - Curso Básico, Livro do Professor. FENEIS, MEC/FNDE.

- QUADROS, R. Educação de Surdos: A Aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas.

1998- CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D.; MACEDO, E. C. (orgs.) Manual Ilustrado de Sinais de Comunicação em Rede para Surdos, São Paulo: Instituto de Psicologia da USP.

- FELIPE, T A. A Relação Sintático-semântica dos Verbos e Seus Argumentos. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ. 1998.

- OLIVEIRA, A. A.; MACEDO, M. F. Aigo: Arte de Comunicar l: Língua de sinais, Uberlândia: AMEDUCA.

- DUARTE, A. M. Comunicando com as mãos. Teófilo Otoni, Associação dos Surdos.

Alguns outros trabalhos, geralmente desenhos de sinais e manuais com desenhos e explicações de uso têm sido feitos e utilizados por Instrutores Surdos que estão ensinando sua língua, sem orientação metodológica, mas que percebem a importância de se ter um material didático para essa atividade.

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Foram feitas também fitas de vídeo sobre temas diversos: aids, drogas e poesia em Libras que podem servir também como fonte de pesquisa sobre a Libras. Contudo, podemos dizer que as pesquisas sobre a Libras ainda estão em estágio inicial, comparando-as com os estudos já realizados sobre outras línguas de sinais.

O desafio está lançado e, seguindo os passos de nosso primeiro pesquisador surdo, precisamos cada vez mais criar condições para que vários instrutores surdos possam vir a ser pesquisadores também de sua própria língua.

De Flausino ao Grupo de Pesquisa da FENEIS, os surdos estão buscando esse espaço de pesquisa e trabalho.