Supressão Condicionada

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    www.revistaperspectivas.com.br5Revista Perspectivas 2011 vol. 02 n 01 pp. 5-20

    Supresso condicionada: Um modelo experimental para oestudo da ansiedade*

    Conditioned Supression: An experimental model for the studyof anxiety

    Denigs Maurel Regis Neto1, Roberto Alves Banaco2, Nicodemos Batista Borges3e

    Denis Roberto Zamignani4

    Resumo:O presente artigo apresenta uma breve perspectiva analtico-comportamentaldas emoes, a qual justificar a necessidade de estudos na rea de supresso condicionada.Posteriormente, apresentar-se- o modelo experimental da supresso condicionada, enfati-zando os arranjos experimentais e descrevendo algumas variveis envolvidas no fenmeno,relacionadas tanto ao condicionamento reflexo (S-S) quanto ao condicionamento operante(R-S) e que participam da produo de dados com sujeitos no humanos. Em seguida, se-ro apresentadas as pesquisas com participantes humanos que, utilizando os parmetros daspesquisas descritas at ento, tiveram como objetivo a produo de supresso condicionada,dadas as peculiaridades e os desafios particulares do tipo de participante. Para encerrar oartigo, apresentar-se- a discusso sobre os pontos que necessitam de aprimoramento e de-senvolvimento, visando a evocar nos leitores comportamentos de engajamento nesta linhade pesquisa.

    Palavras-chave:supresso condicionada, interao operante-respondente, emoes.

    Abstract:Tis article presents a short behavioral-analytic view about emotions, justifying theneed o studies about conditioned suppression, as an anxiety model. Afer, the conditionedsuppression model is showed ocusing the experimental analogs, and describing some o themajor variables involved with this phenomenon, as those related to the reflex behavior (S_Srelations) as those related to the operant relations (R-S relations) programmed to producedata in non-human behavior. Another ocus o the article is over research with humans that,

    using procedures ound in the literature had as their goals producing conditioned suppres-sion, observing the peculiarities and the challenges due to this kind of participants. Finishing,a discussion is presented over aspects o this kind o research that claim or enhancing anddevelopment, aiming to invite the students and proessionals to evolve this type o research.

    Keywords:conditioned suppression, operant-respondent interaction, emotions.

    [1]Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC-SP, CeAC Centro de Anlise do Comportamento e Ncleo Paradigma [2] Pontifcia Universidade Catlica de

    So Paulo PUC-SP e Ncleo Paradigma [3] Universidade So Judas Tadeu USJT, Ncleo Paradigma e Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC-SP [4]

    Ncleo Paradigma | Ttulo abreviado: Supresso Condicionada | Endereo para correspondncia:| E-mail: [email protected]

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    ISSN 2177-3548

    * Este texto oi produzido a partir da Introduo da dissertao de mestrado do primeiroautor, orientada pelo segundo autor no Programa de Estudos Ps-Graduados em PsicologiaExperimental: Anlise do Comportamento da Ponticia Universidade Catlica de So Paulo.

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    Emoes tm sido um tema bsico na psicologia.Vrios autores, partindo de pressupostos cientfi-cos, buscaram interpret-las por meio de processosrespondentes e/ou fisiolgicos (e.g., Watson, 1924).

    No entanto, conorme Skinner (1953/2000)salientou, as diversas emoes, quando compre-endidas apenas como reaes fisiolgicas, revelampoucas distines entre si e tm limitada utilidadeprtica. Frequentemente, emoes so ineridas apartir da observao de um ou de alguns compor-tamentos em situaes mais ou menos bem defi-nidas e classificadas em relao a vrias circuns-tncias (variveis) que aetam a sua probabilidade.Segundo Skinner, as variveis reeridas no devem

    ser atribudas a condies psquicas ou fisiolgi-cas, mas sim a eventos ambientais, denominadosnaquela ocasio operaes emocionais. Definimosuma emoo, na medida em que se quer az-lo,como um estado particular de alta ou baixa re-quncia de uma ou mais respostas induzidas porqualquer uma dentre uma classe de operaes(Skinner, 1953/2000, p. 182).

    O estudo das emoes a partir desta perspecti-va implica a investigao das condies que com-puseram as operaes emocionais ocorridas nahistria do indivduo e das condies atuais do am-biente que eliciam as aes respondentes ou evo-cam as mudanas no fluxo operante. Diz Skinner(1953/2000):

    No de qualquer auxlio, na soluo de umproblema prtico, dizer-se que algum aspectodo comportamento do homem se deve rus-trao ou ansiedade; precisamos tambm sa-ber como a rustrao ou a ansiedade oi indu-

    zida e como pode ser alterada. (p. 184)

    Skinner (1953/2000) destacou a importnciadas mudanas momentneas no repertrio geral deum indivduo num estado de emoo (neste caso,medo ou obia) com o seguinte exemplo:

    Um homem de comportamento normal, em ou-

    tras condies, pode revelar excessivo medo de

    pssaros mortos, por exemplo. . . . provavelmen-

    te, poderamos mostrar que a viso inesperadade um pssaro morto elicia respostas reflexas

    considerveis palidez, suor, mudanas nas

    pulsaes executadas pela musculatura da face e

    do corpo. Se essa fosse a dimenso da fobia, po-

    deramos descrev-la completamente como um

    conjunto de reflexos condicionados pela viso

    do pssaro morto, mas h outros efeitos impor-tantes. O comportamento de fuga ser bastante

    poderoso . . . . O restante do repertrio passa por

    uma mudana geral . . . se estiver empenhando

    em alguma outra ao, observamos uma altera-

    o que pode ser descrita como perda de in-

    teresse . . . . Ser menos provvel que fale com

    a frequncia natural; que ria, brinque e assim

    por diante . . . essas mudanas podem persistir

    por um considervel perodo de tempo depois

    de o estmulo ter sido removido. Uma descriocompleta da fobia precisa referir a todas elas [as

    mudanas observadas] e isto obviamente requer

    uma descrio do repertrio comportamental

    inteiro do indivduo. (pp. 183-184)

    No trecho apresentado, Skinner explica asemoes a partir de uma interao respondente--operante. justamente o estudo dos eeitos decondicionamentos respondentes sobre desempe-nhos operantes que define a linha de pesquisa a ser

    apresentada no presente artigo, conhecida comosupresso condicionada.

    Apresentaremos a seguir o modelo experimen-tal da supresso condicionada, dando nase aosarranjos experimentais e descrevendo algumas va-riveis envolvidas no fenmeno, relacionadas tantoao condicionamento reflexo (S-S) quanto ao con-dicionamento operante (R-S) e que participam daproduo de dados com sujeitos no humanos. Emseguida, apresentaremos as pesquisas com partici-

    pantes humanos que, utilizando os parmetros daspesquisas descritas at ento, tiveram como objeti-

    vo a produo de supresso condicionada, dadas aspeculiaridades e os desafios particulares do tipo departicipante.

    A supresso condicionada enquantoum modelo experimental para o estudoda ansiedadeAlguns enmenos podem ser descritos quando se

    consideram os estmulos presentes no momentoda alterao do repertrio. Entretanto, outras si-tuaes tidas como emocionais parecem descrever

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    perturbaes provocadas por eventos futuros, o queinduz a uma explicao antecipatria, teleolgica.Este o caso do estado de ansiedade. No senso co-mum, a ansiedade vista como uma expectativa

    de que algo acontecer. Ou, nas palavras de Estese Skinner (1941), a ansiedade costuma ser descritacomo uma antecipao de um estmulo perturba-dor uturo(p. 390).

    Considerando que um estmulo que ainda nosurgiu no poderia aetar uma resposta, Estes eSkinner (1941) salientaram a importncia de iden-tificar estmulos presentes que pudessem atuarcomo varivel produtora dos efeitos descritos comoansiedade. Para tanto, consideraram que o paradig-

    ma do condicionamento reflexo forneceria elemen-tos importantes para a discusso desse eeito.No condicionamento reflexo, um estmulo eli-

    ciador incondicional de uma resposta sistematica-mente precedido pela apresentao de um estmuloinicialmente neutro para essa resposta. Em virtudedessa operao, o estmulo originalmente neutroadquire propriedades eliciadoras de respostas quepreparam o organismo para o surgimento do es-tmulo eliciador incondicional1. O estmulo, antesneutro, passa a ser chamado de estmulo condicio-nal(que precisou de uma condio a operaode pareamentos para adquirir a nova uno eli-ciadora). As respostas eliciadas por esse estmulocondicional so chamadas de respostas condicionais.A extenso do controle exercido pelo estmulo in-condicional (que ainda no ocorreu) sobre a res-posta para o estmulo neutro (que se tornar, porpareamento, um estmulo condicional), presente nomomento em que a resposta observada, respon-deria ao problema da explicao teleolgica.

    1 A resposta condicionada, eliciada pelo estmulo condicio-nal, pode ser similar resposta incondicionada eliciada peloestmulo incondicional, como no clssico exemplo do con-dicionamento da salivao canina de Pavlov. No entanto, emalguns casos, a reposta condicionada pode ser antagnica resposta incondicionada. O eeito do condicionamento podeser compreendido, ento, como o de preparar o organismo

    para o estmulo que vem a seguir, condicionando respostaspreparatrias, isto , respostas adaptativas que mantenham oorganismo homeosttico, em equilbrio.

    O papel do condicionamento reflexo naadaptao dos organismosO condicionamento reflexo colabora para a adap-tao do organismo, azendo-o agir previamente

    ao estmulo incondicional que ser apresentado,ou seja, prepara o organismo para a apresentaodo estmulo eliciador incondicional. Por exemplo,imagine a vantagem adaptativa de um organis-mo que passe a salivar diante da mera apresenta-o de um limo (estmulo neutro que se tornarcondicional). O sumo do limo em contato com alngua produz uma intensa resposta de salivao,atenuando os efeitos cidos dessa substncia. Dessamaneira, sumo de limo pode ser considerado um

    estmulo incondicional para a resposta reflexa in-condicional de salivar abundantemente.O estmulo considerado incondicional por-

    que no precisa (in) de nenhuma condio especial(condicional) para apresentar seus eeitos sobre oorganismo. No entanto, sumo de limo na lnguasempre precedido pela apresentao do limo.Dados os pareamentos seguidos entre a apresenta-o do limo e o sumo do limo em contato com alngua produzindo salivao, a mera viso do limo(e algumas vezes a mera expresso verbal sumode limo na lngua) passa a controlar a salivao,antes mesmo de o sumo cido entrar em contatocom a lngua. O organismo se prepara para o con-tato com o sumo do limo, diminuindo os danos.Esta relao de antecipao ocorre porque na his-tria desse organismo o estmulo presente (visodo limo) antecipou sistematicamente o estmuloincondicional (sumo do limo), tornando-se umeliciador condicional.

    O estudo de interaes respondentese operantes: A inaugurao deuma linha de pesquisa experimental defenmenos emocionaisBaseados nas consideraes eitas at agora, Estese Skinner (1941) elaboraram um estudo que inves-tigava a interao do respondente agindo sobre odesempenho operante, inaugurando a linha de pes-quisa sobre supresso condicionada. Nesse primei-ro estudo, os autores sobrepuseram um pareamen-

    to respondente (estmulo-estmulo ou S-S), entreum tom e um choque, a um responder operante(presso barra que produzia alimento ou R-S) e

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    mediram as variaes posteriores deste responderoperante na presena do tom.

    No experimento, os autores submeteram 24 ra-tos, distribudos em dois grupos de acordo com os

    nveis de privao (definidos por eles como alto ebaixo drive), a sesses de seis horas de durao, nasquais respostas de presso barra eram mantidaspor reoramento peridico (FI 4 min) com libera-o de alimento. O condicionamento do estado deansiedade oi produzido pela apresentao de umtom, duas vezes por hora, com durao trs minu-tos, cujo fim coincidia com a apresentao de umchoque eltrico pelas grades do cho da caixa expe-rimental (a intensidade do choque no oi mencio-

    nada no artigo).Estes e Skinner (1941) observaram que nose evidenciou qualquer alterao significativa noresponder operante na presena do tom ou poste-riormente a ele em suas primeiras apresentaes- o que caracterizaria esse tom como um estmu-lo neutro para as respostas emocionais. Segundoeles, a fim de esclarecer qualquer mudana no res-ponder em estudo, o perodo de tom oi ampliadopara cinco minutos, passando a ocorrer apenasuma vez por hora.

    Nessa nova configurao temporal, o primeiroeeito observado, a partir da segunda apresentaodo pareamento, oi uma reduo a 30% das respos-tas operantes emitidas durante o tom, se compara-da mesma frao da sesso experimental controle(sem a sobreposio do tom-choque). Ou seja, aapresentao do tom passou a suprimir o respon-der operante depois do primeiro pareamento. Esteeeito oi denominado pelos autores de supressocondicionada. Neste caso, importante ressaltar

    que durante o tom os reoradores para as respos-tas operantes ainda poderiam ser produzidos, casoo animal pressionasse a barra.

    Os autores tambm identificaram um respon-der mais acelerado aps o choque do que o res-ponder observado antes do tom. Essa aceleraooi chamada por eles de aumento compensatrio: acurva de respostas operantes alcanava um patamarprximo ao que estaria caso no tivesse ocorridoa diminuio observada na taxa do operante du-

    rante o tom. No entanto, essa taxa aumentada derespostas ps-choque no produzia mais reforo. Oesquema de intervalos prev que com um mnimo

    de respostas o animal pode produzir o total de re-oros programados. Assim, pausas no responder,quando muito pronunciadas, produzem tambmuma diminuio no total de reoradores obtidos

    na sesso experimental.Em seguida, os pesquisadores submeteram o

    responder apresentao tom-choque durante ex-tino operantee tambm submeteram o operante auma contnua apresentao do tom sem a presenado choque (extino respondente), demonstrandoque o eeito de supresso condicionada pode serdeseito sob algumas condies. Os animais volta-ram a emitir maior nmero de respostas durante otom e, consequentemente, voltaram a produzir re-

    oradores durante a extino respondente.Sobre os resultados advindos das manipulaesdescritas at aqui, Estes e Skinner (1941) conclu-ram que uma reduo na ora de uma respostaoperante pode ser produzida por repetidas apre-sentaes de um estmulo originalmente neutro (otom) terminado em um estmulo aversivo (nestecaso, o choque eltrico). A reduo na ora evi-denciada pela diminuio da requncia daquelaresposta operante durante as sucessivas apresen-taes do estmulo que historicamente precedeu

    o choque, o qual adquire as suas propriedades eli-ciadoras (torna-se condicional), sendo esse eeitomais marcante do que o produzido por um choqueinescapvel e no sinalizado.

    Delineada dessa maneira, a supresso condi-cionada envolve, ento, um arranjo entre contin-gncias operante e respondente, representando ooperante a varivel dependente para o estudo doseeitos do pareamento entre os estmulos condicio-nal e incondicional. Estes e Skinner (1941) ainda

    destacaram que a magnitude da reao a S1 [tom]a qualquer momento durante sua presena pode de-pender das relaes temporais prvias de S1 [tom] eS2 [choque] (p. 390). Isto , o arranjo entre os es-tmulos da contingncia respondente uma vari-

    vel importante na produo do eeito experimentaldenominado supresso condicionada do responderoperante. Os prprios autores descreveram eeitosmais marcantes sobre o responder operante coma mudana da durao e da requncia do tom na

    ase experimental.

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    O levantamento de variveis relevantespara a produo do efeito de supressocondicionada

    As relaes temporais entre estmulos.O trabalho de Stein, Sidman e Brady (1958) mostrao eeito da manipulao das duraes do estmulocondicional (CS - sigla da expresso inglesa condi-tioned stimulus) e do intervalo entre suas apresen-taes sobre um responder operante, com o prop-sito de testar diretamente essas variveis.

    Para isso, Stein et al. utilizaram cinco ratos albi-nos com cerca de 90 dias de vida, treinados a pres-sionar uma barra tendo como reforo trs segundos

    de acesso gua. Inicialmente, todos os animaisreceberam sete horas de treino em esquema de VI60s. Em seguida, trs deles foram submetidos a ses-ses dirias de duas horas, tendo 30 horas de treinoem VI 120s e acesso livre gua por 15 minutosaps cada sesso. Os outros dois sujeitos oramsubmetidos a sesses de trs horas de durao emnoites alternadas, tendo 12 horas de treino em es-quema de VI 120s e 40 horas de treino em VI 180s,com acesso livre gua por uma hora na manhseguinte sesso experimental.

    Para produzir o eeito de supresso sobre o res-ponder operante, os autores utilizaram como est-mulo incondicional (US sigla da expresso ingle-sa unconditioned stimulus) um choque eltrico de0,5 s de durao e 1.0 mA de intensidade, apresen-tado ao fim de um perodo de estimulao sonora,um clicker(CS). Para cada sujeito, os pesquisadoresdelinearam uma sequncia de variaes temporaispara a durao do CS e dos intervalos entre os CSs,reeridos tambm como perodos ON (quando o

    estmulo condicional esteve presente) e OFF (quan-do o estmulo condicional no esteve presente).

    De maneira geral, podemos compreender o ar-ranjo como um delineamento ABA, sendo que paracada sujeito oi produzida uma condio temporalde estmulos que se manteve por no mnimo 40 ho-ras de treino at a estabilizao do responder duran-te CS (Condio A). Em seguida, alterou-se apenasum dos valores temporais estabelecidos: o tempo depresena de CS (ON) ou o tempo de ausncia do es-

    tmulo (OFF), tambm por no mnimo 40 horas detreino (Condio B). A terceira condio foi uma re-verso primeira configurao temporal da presen-

    a/ausncia do estmulo (Condio A Reverso).Manipulaes adicionais oram realizadas para

    cada sujeito aps esse delineamento bsico, algu-mas delas permitindo comparaes entre outros

    pares temporais de CS e intervalos entre CSs.Assim, para alguns sujeitos o tempo de ausncia

    (OFF) de estmulo era mantido constante duranteas trs condies (ABA), enquanto o tempo de pre-sena de estmulo (ON) era ampliado ou diminudona Condio B. Para outros sujeitos, o perodo deestmulo presente era mantido constante duranteas trs condies, sendo manipulado para mais oupara menos o tempo do perodo de estmulo au-sente. As duraes de CS e dos intervalos entre CSs

    variaram de 30 s a 3000 s, com diversos valores in-termedirios para cada um dos sujeitos.Essas manipulaes permitiram no s a com-

    parao do desempenho do mesmo sujeito em di-ferentes condies temporais de CS ON e OFF, mastambm do eeito das duraes temporais relativassobre a supresso das respostas. A durao relativado perodo ON e OFF era calculada pela diviso dotempo de durao do estmulo ON pelo tempo dedurao do estmulo OFF. Um arranjo cuja duraodo clickerpresente (ON) osse de dois minutos e a

    durao do estmulo ausente (OFF) osse de seteminutos tinha durao relativa de 0,29. Em algunscasos, arranjos de mesmo valor relativo tinham va-lores temporais bastante dierentes: por exemplo,intervalos de 30 s ON / 120 s OFF tm a duraorelativa igual do perodo 240 s ON / 960 s OFF,ambos com valor de 0,25.

    A taxa de supresso era calculada pela taxa derespostas durante o perodo de CS ON divididapela taxa de respostas no perodo de CS OFF, de

    mesma durao e imediatamente anterior apre-sentao do CS. Nos casos de perodos de CS OFFmais curtos que de CS ON, a taxa utilizada seria amdia das taxas da totalidade dos perodos OFF2.

    2 Calculada dessa maneira, valores prximos a 1,00 indi-cam pouca supresso devido reduzida dierena nas taxasde respostas no perodo de CS (ON) e no perodo sem CS(OFF); valores prximos de 0,00 indicam grande supresso,pois resultam de uma dierena maior entre as taxas, sendo ado perodo de CS (ON) menor do que a anterior CS (OFF).

    Assim, relatar uma grande supresso reerir a valores pr-ximos a 0,00 e relatar pouca supresso reerir a valores pr-ximos a 1,00.

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    Os resultados apontaram que a supresso de-pendia da durao do perodo de CS ON em re-lao durao dos perodos de CS OFF, e no dadurao absoluta do perodo de CS: uma maior

    supresso ocorreu quando as duraes dos CSseram curtas relativamente aos perodos OFF. Ataxa de supresso, portanto, seria inversamen-te proporcional durao relativa do CS. Umacorrelao de 90% oi encontrada entre a taxa desupresso e o logaritmo dos tempos relativos deCS ON e OFF.

    Stein et al. (1958) notaram tambm que, inde-pendentemente da grande dierena nas taxas desupresso, os sujeitos obtiveram, em mdia, 90% do

    mximo de reoros possveis na sesso. Isso signi-fica que mesmo os arranjos temporais que mostra-ram grande supresso no implicaram a perda ele-

    vada de reforadores (a perda mxima foi de apenas10%, bastante semelhante s perdas observadas nosarranjos produtores de supresses menores). Dessaorma, os autores sugeriram que as dierenas pro-duzidas nas taxas de supresso poderiam estar re-lacionadas aos totais de reforos perdidos com a di-minuio das respostas na supresso, e no apenas configurao temporal dos estmulos envolvidosnas operaes respondentes.

    Os dados indicavam que supresses maioresocorriam em arranjos nos quais a supresso no res-ponder no implicaria grande perda de reorado-res (quando os perodos de CS eram relativamentecurtos), enquanto supresses menores eram pro-duzidas nos arranjos temporais cuja supresso im-plicaria perda acentuada de reoros (em perodosde CS relativamente longos). Novamente, uma altacorrelao (92%) oi encontrada, agora entre a taxa

    de supresso e a porcentagem estimada de reorosperdidos, caso houvesse total supresso do operan-te no perodo de CS.

    Stein et al. destacaram, ainda, a correlao de94% entre os valores dos tempos relativos do CS(tempo de CS dividido pelo tempo sem CS) e a por-centagem da perda de reoro, caso houvesse totalsupresso. Observaram-se, ento, trs variveiscorrelacionadas: a taxa de supresso (varivel de-pendente), a durao relativa de CS e a quantidade

    de reoros perdidos em caso de supresso total (asduas ltimas variveis independentes). odas essasvariveis correlacionaram-se em 90% ou mais entre

    si, o que dificulta a identificao de qual varivelindependente poderia ter um papel crtico na su-presso condicionada.

    A frequncia de reforamento.Calton e Didamo (1960) apresentaram uma hipte-se explicativa para os dados encontrados por Steinet al. (1958), a qual oi denominada minimizaoda perda de reforamento. De acordo com Caltone Didamo, os sujeitos tenderiam a maximizar oacesso aos reoradores ao longo da sesso experi-mental. Dessa maneira, em sesses de durao fixa,caso o sujeito apresentasse supresso pronunciadadas respostas quando submetido a perodos relati-

    vamente grandes de CS, o baixo desempenho im-plicaria uma grande perda de reoros. Em unodisso, os sujeitos tenderiam a manter a requnciado responder nessa condio, a despeito da apre-sentao do CS. Essa hiptese, de acordo com osautores, pressupe uma sensibilidade (discrimina-o, segundo eles) dos sujeitos em relao quan-tidade de reoros obtidos durante as sesses expe-rimentais. A questo perseguida pelos autores oi:seria essa sensibilidade referente ao total de reforosobtidos numa sesso ou a uma frao momentnea

    da sesso (i.e., a uma taxa de reforamento local)?Para investigar essa questo, Calton e Didamo

    propuseram um arranjo experimental no qual ototal de reoros obtidos osse mantido constanteem todas as sesses, independentemente do graude supresso nos perodos de CS. Para isso, eles es-tenderam o tempo das sesses at que o total de re-oros estipulado osse atingido. Assim, os sujeitospoderiam obter todos os reoradores possveis emuma sesso, o que possibilitaria a supresso das res-

    postas mesmo em CSs relativamente mais longos.Dessa orma, seria possvel verificar se a taxa desupresso produzida era eeito do total de reorosobtidos/perdidos na sesso ou da durao relativade CS. Segundo a hiptese dos autores, o responderdeveria apresentar supresso mesmo nos perodoslongos de CS, uma vez que isso no implicaria adiminuio do total de reoros obtidos na sesso.Por outro lado, caso os dados encontrados ossemsemelhantes aos de Stein et al. (1958), isso indicaria

    que os sujeitos eram sensveis apenas a uma requ-ncia de reoramento disponvel momentanea-mente (taxa local de reoramento).

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    Calton e Didamo (1960) utilizaram dois ratosalbinos mantidos a 65% do peso ad lib, respon-dendo com presses barra pela obteno de 0,1cm de uma soluo de leite condensado diludo

    em gua, em um esquema de VI 120s. O estmulocondicional era um tom apresentado por 180 s, oestmulo incondicional era um choque de 0,5 s dedurao e 1,5 a 2 mA de intensidade. Na primeiraase, o tempo da sesso era fixo, de trs horas, nasquais a apresentao do tom ocorria uma vez porhora. Na segunda e terceira fases, o tempo da sessoera estendido at que o nmero total de reorosprogramado osse obtido. Este nmero de reorosoi estabelecido a partir da mdia de reoros das

    ltimas trs sesses da primeira ase. A durao doperodo sem tom (intervalo entre tons) foi diminu-da de 57 minutos para trs e um minutos na segun-da e na terceira ase, respectivamente, enquanto operodo de tom oi mantido constante em trs mi-nutos em todas as ases.

    Os dados oram apresentados na orma de taxade supresso, ou seja, diviso da taxa de respostasno perodo de tom pela taxa no perodo sem o tom,reerente s ltimas cinco sesses das 25 de cadaase. Assim como descrito em Stein et al. (1958), os

    valores menores na razo obtida nesse estudo indi-cariam maior supresso, enquanto valores maioresindicariam pouca supresso.

    Calton e Didamo (1960) verificaram que a su-presso oi menor em cada ase sucessiva do expe-rimento. al resultado compatvel com o obtidopor Stein et al. (1958), ocorrendo menor supressoem perodos relativos de CS mais longos, indepen-dentemente da quantidade de reoros obtidos nasesso. No tendo encontrado dierenas na taxa

    de supresso nas vrias duraes do CS utiliza-das ao manter o total de reoros obtidos, Calton eDidamo assumiram que a varivel relevante na pro-duo de supresso condicionada seria o total dereoros obtidos em um perodo mais curto (taxalocal de reoramento) - o que, por sua vez, depen-deria da requncia de reoramento no esquemaoperante vigente.

    Procurando aproundar o conhecimento sobreas relaes entre as variveis j estudadas, Lyon

    (1963) produziu dados que permitiram verificar oseeitos das dierentes condies temporais de CS,quando sobrepostas a dierentes requncias de

    reoramento durante a apresentao do CS. Parainvestigar o eeito do pareamento sobre o desem-penho em esquemas de dierentes requncias dereoramento, Lyon utilizou dois pombos manti-

    dos a 70% do peso ad libe submetidos a sesses de110 minutos de durao, em esquema mltiplo deVI 60s e VI 240s, associados respectivamente luz

    vermelha e luz verde. Os esquemas componentesdo mltiplo eram apresentados de forma alternada,cinco vezes por sesso, com durao de 10 minutoscada. A mudana de um componente para outroera intercalada por um perodo de escurecimentoda caixa experimental durante um minuto, no qualas respostas de bicar o disco no produziam reor-

    amento. O US utilizado oi um choque de 90 voltsde 0,02 s de durao pareado a um CS, representan-do por uma sequncia deflashesproduzidos pelailuminao da caixa (com requncia de 100 bri-lhos por minuto). A apresentao deste CS ocorriadois minutos aps o incio de cada componente doesquema mltiplo, totalizando 10 ocorrncias porsesso, sendo cinco em cada componente.

    O perodo de CS oi ampliado gradualmente,tendo inicialmente 100 s de durao e, aps a es-tabilizao da taxa de supresso, oi aumentado

    para 200 s. Uma vez obtida nova estabilidade, adurao oi ampliada para 300 s. O experimentoutilizou como medida de supresso a diviso en-tre a requncia mdia de respostas por minuto napresena de CS e a requncia mdia de respostasna ausncia de CS.

    Os resultados encontrados por Lyon (1963)quanto ao eeito da variao temporal de CS sobrea taxa de supresso corroboram os dados de Steinet al. (1958) e de Calton e Didamo (1960), nos quais

    a supresso inversamente proporcional duraorelativa do CS. Seus dados confirmaram tambm aexpectativa de Calton e Didamo a respeito da die-rena da taxa de supresso em uno das dieren-tes requncias de reoramento, pois a supressooi maior no componente de menor requncia dereforamento em todas as duraes de CS, indican-do uma menor perda de reoradores, caso osseobservada a supresso.

    Lyon (1963) tambm observou dierenas

    quanto ao aparecimento e eliminao dos eeitossupressivos de CS perante as dierentes requnciasde reoramento. O eeito supressivo para o com-

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    ponente de maior reoramento oi observado demaneira mais atrasada do que para o componen-te de menor reoramento. Posteriormente, com aapresentao doflashsem a apresentao do cho-

    que, observou-se uma recuperao mais rpida doresponder durante CS no componente de maiorrequncia de reoramento. Assim, para ambos ossujeitos e em todas as duraes de CS, os esquemascom menor requncia de reoramento apresen-taram taxa de supresso mais expressiva e rpida,com maior durabilidade aps a quebra do parea-mentoflash-choque.

    Lyon (1963) alertou para que no se assumisseprecipitadamente a frequncia de reforamento por

    si como uma varivel determinante na supresso. Oautor sugeriu que os dierentes graus de supressopoderiam estar relacionados, no apenas aos esque-mas de reoro vigentes, mas tambm requnciade respostas na ocasio em que o CS era apresenta-do, ato que o levou a propor novos experimentos.

    Os diferentes esquemas de reforamento.

    Nessa linha de pesquisa, Lyon (1964) e Lyon eFelton (1966) produziram dados sobre a supressocondicionada em esquemas de razo fixa e vari-

    vel com pombos. Em Lyon (1964), dois sujeitossubmetidos a um esquema de razo fixa (FR 150)recebiam choques de 30 volts por 0,2 s ao final deum estmulo sonoro de um minuto apresentado emintervalos de trs a sete minutos.

    Os dados indicaram que, ao longo de uma ca-deia de respostas em um esquema de razo, o mo-mento de apresentao do estmulo sonoro (CS)era crucial para o grau de supresso do responder.Quando ele apresentado no incio da cadeia (at

    a vigsima resposta), observava-se total supres-so das respostas, a qual permanecia at o final daapresentao do estmulo. Quando o CS era apre-sentado entre a vigsima e a sexagsima respostas,uma supresso parcial era observada. J a partir dasexagsima resposta, os sujeitos respondiam a des-peito da apresentao do CS, at atingir a centsimaquinquagsima resposta e obter o reorador.

    Por outro lado, quando submetidos a esquemasde razo varivel (VR 50, 100 e 200), os trs sujeitos

    de Lyon e Felton (1966) apresentaram muita varia-bilidade nos resultados. Apesar de demonstraremalguma supresso durante a apresentao do CS,

    ela ocorria em valores bastante dierentes entre si(a taxa de supresso variou entre 0,4 e 0,8). Emalgumas ocasies, os sujeitos ainda responderamrequentemente durante o CS, enquanto em outras

    situaes apresentaram total supresso do operante. digno de nota o ato de o eeito supressivo

    ter se manifestado de maneira bem distinta, mesmosob condies de reoramento e apresentao deCS e de US semelhantes. Os dados de Lyon (1964)e Lyon e Felton (1966) apontam para a importn-cia no apenas da frequncia do reforamento, mastambm do prprio esquema operante envolvidona produo dos reoradores, como elementosdeterminantes da interao operante-respondente

    que resulta em supresso condicionada.A partir desses estudos, destacam-se mais duasvariveis que podem agir sobre a produo da su-presso perante um estmulo condicionado esti-mulao aversiva: (a) as condies de produo dereoro, ou seja, os esquemas e as requncias de re-oramento e (b) o momento de apresentao do CSem relao contingncia de produo do reoro.

    Em busca de mais variveis envolvidas no e-nmeno da supresso condicionada, Blackman(1968a) tambm identificou em esquema mltiploDRL FI, ambos com reteno limitada da disponi-bilidade do reforo (limited hold), maior resistncia supresso durante CSs apresentados mais prxi-mos ao momento do reoramento no esquema deFI. Blackman (1977) reuniu esses e outros dadospara destacar os eeitos da iminncia do reora-mento sobre o grau de supresso: quanto mais imi-nente se encontrava o reoro, menor a supressodurante o CS.

    Com base nesses estudos, cabe argumentar que

    as dierenas na relao entre as respostas e a pro-duo do reoramento nos distintos esquemas (derazo ou de intervalo, fixos ou variveis) podem au-xiliar na compreenso das diferenas e das peculia-ridades da supresso encontrada quando cada umdeles oi utilizado como base para o procedimentorespondente ser superposto.

    Nos esquemas de intervalo, uma resposta pro-duzir reoro desde que seja emitida aps umdeterminado tempo mnimo a partir do ltimo

    reforamento liberado, independentemente do n-mero de respostas emitidas durante esse intervalo.Os esquemas de razo implicam a emisso de um

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    nmero determinado de respostas desde o ltimoreoramento para que um novo ocorra, indepen-dentemente do tempo requerido para isso. Por es-tas caractersticas da programao dos reoros,

    uma pausa no responder em cada um desses doisesquemas resultaria em eeitos muito dierentes:em ambos, uma pausa do responder implicar umatraso do reoramento; porm, nos esquemas derazo, a probabilidade de reoramento ser igualantes e aps a pausa do responder. Qualquer dimi-nuio na requncia das respostas implicar umatraso do reoramento equivalente a essa dimi-nuio. J nos esquemas de intervalo, a passagemdo tempo, por si, torna mais provvel o reora-

    mento da prxima resposta. Uma pausa do res-ponder ou uma diminuio em sua requncia anveis muito baixos (desde que no seja extremao suficiente para alterarem os valores do esquemaproposto) no redundar em uma diminuio nataxa de reoramento equivalente diminuioda taxa do responder, conorme j demonstraramStein et al. (1958).

    Pode-se supor, portanto, que a supresso dasrespostas operantes diante de um estmulo condi-cionado a um estmulo aversivo seja mais provvel

    em esquemas de intervalo, pois, neste caso, tal su-presso traria menor prejuzo na taxa de reorosproduzidos do que quando ela acontece nos esque-mas de razo. Pode-se ainda estender o raciocniopara as dierenas encontradas por Lyon (1963)na comparao das requncias de reoramento(VI 60s e VI 240s). A iminncia do reoramentono caso do VI 60s sempre era consideravelmentemaior do que no caso do VI 240s, o que poderia

    justificar a diferena nas taxas de supresso perante

    o CS. Assim, a iminncia do reoramento, talvezsubstituvel porprobabilidade local de reforo, podeser uma varivel crtica na compreenso da supres-so condicionada.

    Essas consideraes podem ajudar a entendera irregularidade nos dados de supresso em es-quemas de razo varivel de Lyon e Felton (1966).Nesses, a iminncia do reoro aumenta a cada res-posta, mas tal aumento ocorre de maneira varivela cada nova sequncia, o que poderia produzir as

    oscilaes entre alta e baixa supresso. Isto , as os-cilaes na supresso acompanhariam as oscilaesentre alta e baixa probabilidade de reoramento.

    al hiptese contestada, entretanto, pelos da-dos obtidos por Blackman (1977). O autor relatoubrevemente que, em 1966, ao colocar sujeitos emVR 100 acoplados (yoked) a outros que trabalha-

    vam em um esquema de VI, recebendo reforo ape-nas quando os primeiros tambm os produzissem,encontrou clara supresso no responder em VR euma taxa de supresso menos pronunciada no res-ponder em VI durante a apresentao do CS.

    Portanto, em esquemas que envolvem uma co-dependncia entre a passagem do tempo e a ocor-rncia de uma resposta (esquemas de intervalo),a literatura mostra que a sobreposio do pare-amento entre um CS e um estmulo aversivo tem

    um eeito mais pronunciado de supresso do quequando sobreposto a esquemas que dependem ex-clusivamente da ocorrncia de uma determinadaquantidade de respostas (esquemas de razo), lem-brando que dados assistemticos aparecem quandoos esquemas de razo so variveis.

    Algumas outras questes podem ser levanta-das quanto requncia de respostas envolvidasem cada um dos valores de VI. Pode-se pensar quea relao entre quantidade de respostas por reor-amento seja uma varivel relevante na produo

    de supresso condicionada. Segundo Blackman(1977), altas requncias de respostas so maispassveis de supresso do que baixas requncias.O autor apresenta uma divergncia em relao aotrabalho de Lyon (1964), o qual sugere que as altastaxas de respostas encontradas no esquema de re-oramento mais requente (e.g., VI 60s) soreriammenor supresso. Para Blackman (1977), o arranjode Lyon (1964) problemtico por no controlaras taxas de reoramento por respostas entre os VIs

    60s e 240s. O delineamento de Blackman (1968b)propiciou a manuteno das taxas de reoramentopor respostas em dierentes valores de esquemas,acrescentando condies de DRL e DRH aos VIs,as quais levavam a baixas e a altas taxas de respostaspara a produo de reoradores.

    Pode-se ainda analisar as divergncias nos da-dos pelas dierenas nos arranjos experimentais eem sua consequente relao com a quantidade derespostas por reoramento. No arranjo de Lyon

    (1964), os diferentes valores de VI produziram dife-rentes requncias de respostas, mas no revelaramqual a relao entre a quantidade de respostas por

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    reoro, dado que em ambas as condies pode-riam ter sido semelhantes. O arranjo de Blackman(1968b) produziu, inevitavelmente, quantidades derespostas bastante dierentes para cada condio

    (VI com DRL e VI com DRH). Nelas, a dieren-a na supresso poderia ser atribuda s dierenasquanto quantidade de respostas por reoro, eno s taxas de respostas por si. Os resultados deBlackman (1968b) podem ter contrariado os deLyon (1963) devido dierena entre o nmero derespostas por reoramento, e no diretamente pe-las taxas de respostas.

    Os efeitos de diferentes eventos

    aversivos como US

    Destacou-se at aqui as implicaes dos esquemasde reforamento e das duraes relativas de CS paraa produo de supresso condicionada.

    Algumas outras questes relativas ao parea-mento entre CS e US tambm so tratadas na lite-ratura. Alm dos estudos dos tempos relativos, in-

    vestigaes quanto ao tipo de evento aversivo queocupa o lugar de US so importantes e revelam a-tos relevantes para a continuidade das investigaese para consideraes acerca de outros assuntos nocontrole aversivo.

    Leitenberg (1966) manipulou o tipo de eventosubsequente ao CS: choque eltrico, som alto e timeout(suspenso da contingncia de reoramento)em dois experimentos.

    No primeiro experimento, Leitenberg compa-rou os eeitos do choque eltrico e da utilizaode time out (O) com quatro pombos mantidos a75% do peso ad lib, submetidos a esquema de VI120s e VI 180s com o disco iluminado por uma

    luz branca. Luzes vermelha ou verde no disco an-tecediam por 30 segundos o evento aversivo. A luz

    vermelha antecedia um choque eltrico de dura-o 40 mls no pbis das aves, com dierentes in-tensidades para cada sujeito, no relatadas pelospesquisadores. A luz verde antecedia um pero-do de O de 10 minutos, durante o qual a luz dodisco era desligada. Essas duas cores de luz eramapresentadas 10 vezes por sesso, alternadamente,em intervalos de nove minutos.

    Esse arranjo oi adaptado para estudar tambma comparao entre os eeitos do choque e do Oproduzidos pela resposta e no produzidos pela

    resposta. Quando em condio de dependncia daresposta, as luzes verde e vermelha eram apresen-tadas at que o sujeito respondesse, produzindo as-sim o choque ou o O.

    Na condio de independncia da resposta paraa ocorrncia do evento aversivo, foi observada umaelevao do nmero de respostas durante a luz ver-de, terminada em O em trs sujeitos.

    No Experimento 2, Leitenberg (1966) propso mesmo arranjo das apresentaes das luzes e dereoramento, substituindo choque por um somalto, para trs pombos sob as mesmas condiesdos sujeitos do Experimento 1. Dessa vez, o O eraantecedido pela luz vermelha e o som alto pela luz

    verde, para comparar possveis eeitos da cor sobreos eventos aversivos. Nenhuma ase de dependn-cia ou independncia da resposta oi descrita nesseexperimento.

    Os resultados mostraram novamente uma ace-lerao das respostas durante o estmulo que ante-cedeu o O. A discusso feita pelo autor acrescentaque um estudo realizado por Pliskoff, em 1961, te-ria encontrado resultados que descrevem aumentosna requncia das respostas durante um estmuloque antecedia uma diminuio na requncia dereoramento do esquema em vigor.

    Deve-se destacar que, dierentemente da ideiaclssica da supresso condicionada, o estudo deLeitenberg (1966) produziu uma alterao nacontingncia de reoro em vigor, suspendendoa contingncia de reoramento como parte dopareamento. Os arranjos que produzem supres-so tm sido construdos com eventos paralelos contingncia de reoramento - os quais, quandopresentes, intererem na requncia das respostas

    operantes. Construindo uma condio na qual acontingncia suspensa, Leitenberg intereriu noelemento que torna o enmeno da supresso con-dicionada interessante: o de uma condio paralelaaetar uma contingncia operante em vigor.

    Como pode ser notado at aqui, a explicao dosenmenos da supresso ainda uma questo a serconsiderada. Blackman (1977) apresenta trs hipte-ses, as quais envolvem: (a) punio acidental e oca-sional do comportamento operante, (b) mudana de

    aspectos motivacionais do organismo e (c) intere-rncia de outras respostas operantes e respondentesque aetariam a contingncia operante medida.

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    Outras questes ainda podem ser eitas quanto influncia da magnitude do reoramento na su-presso (Geller, 1960; Leslie, 1977) e dos estados deprivao. H ainda estudos que no sero o oco

    do presente artigo sobre as relaes de genera-lizao do eeito do CS (Hoffman & Fleshler, 1961,1964; Hoffman, Selekman, & Fleshler, 1966; Ray &Stein, 1959).

    O estudo de supresso condicionadaem humanosUm ato evidente a partir das pesquisas apresen-tadas o de que poucas tentativas de estudo desseenmeno oram realizadas com humanos.

    Um estudo de supresso condicionada comhumanos ocorreu como parte de um projeto quevisa a desenvolver tecnologias capazes de medir eintervir sobre o enmeno da ansiedade. Banacoet al. (2004) realizaram uma pesquisa que tinhacomo objetivo construir um modelo anlogo aode Estes e Skinner (1941) para o estudo com sereshumanos em situao experimental. Uma questoundamental, levada em considerao na progra-mao do anlogo, era a escolha do estmulo aver-sivo a ser utilizado no estudo. Por questes ticas,

    os pesquisadores utilizaram estmulos de intensi-dade amenizada.

    Para o estudo, os pesquisadores contaram com22 participantes de ambos os gneros e com ida-des entre 18 e 30 anos. Na primeira ase, o objetivooi identificar uma palavra que pudesse ter algumefeito aversivo para cada um dos participantes. Paraisso, palavras eram apresentadas em pares sele-cionados aleatoriamente pelo programa de uma lis-ta que continha 20 palavras consideradas positivas

    (e.g.,felicidadee amor), 20 neutras (e.g., cadeiraecomputador) e 20 negativas (e.g., rouboe cncer) e o participante era orientado a clicar naquela queele considerasse mais negativa. Ao clicar, aquelaspalavras sumiam da tela e um novo par era apresen-tado. Esse procedimento se repetia at que todas aspalavras ossem apresentadas com todas as outras,sendo a palavra mais clicada aquela escolhida paraexercer funo aversiva (para aquele participante)e substituir o choque utilizado na pesquisa de Estes

    e Skinner (1941). A escolha por palavras para exer-cerem uno aversiva se baseou em estudos (e.g.,Leslie, ierney, Robinson, Keenan & Watt, 1993;

    Watt, Keenan, Barnes & Cairns, 1991) que sugeremque palavras podem pertencer a classes de estmu-los com unes aversivas. Outro ator que contri-buiu para essa escolha oram as implicaes ticas

    no uso de estmulos dierentes, tais como choque.A segunda ase do estudo de Banaco et al.

    (2004) consistiu na construo da linha de base.Nela, os participantes eram orientados a clicar emletras de um teclado virtual, disposto na tela docomputador sobre um undo cinza, com o objetivode ormar palavras de cinco letras, simulando umJogo de Forca. Clicar sobre o teclado virtual, por-tanto, era a resposta operante que estava em oconesse estudo.

    A construo da linha de base consistiu emconsequenciar com pontos as respostas de clicaro mouse. Num primeiro momento, programou-seum esquema de reoramento contnuo em quese ganhava um ponto mostrado em um conta-dor localizado direita na tela do computador acada clique sobre uma letra correta e 10 pontos eum som dizendo Parabns! a cada clique sobre altima letra que completava a palavra (as palavraseram escolhidas aleatoriamente pelo programa). Oparticipante tinha 13 chances para acertar as cinco

    letras da palavra. Caso o participante no comple-tasse a palavra nas 13 chances, era apresentado umsom dizendo Perdeu! e se iniciava uma nova ten-tativa com outra palavra. Num segundo momento,o esquema de liberao de pontos passou a ser derazo varivel (VR), mantidas todas as demais con-dies de programao.

    A terceira ase tinha por objetivo verificar ospossveis eeitos da associao entre o pareamentoda cor de undo da tela com a apresentao da pa-

    lavra escolhida como mais aversiva sobre o res-ponder dos participantes (i.e., clicar o mouse). Paraisso, as nicas alteraes em relao segunda aseoram: (a) de tempos em tempos, a intervalos va-riados e de modo no contingente ao responder doparticipante, o undo da tela deixava de ser cinza ese tornava vermelho, permanecendo assim durante60 segundos; (b) ao trmino dos 60 segundos doJogo de Forca sobre undo de tela vermelho, surgiana tela do computador a palavra mais aversiva elei-

    ta pelo participante na primeira ase. Aps o seuaparecimento, a tela voltava a ter o undo cinza. OJogo de Forca uncionava durante todo o tempo do

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    procedimento. Nessa fase, as contingncias de libe-rao de pontos pelo clicar a letra certa ou terminara palavra permaneceram as mesmas do final da se-gunda ase (i.e., razo varivel).

    Os resultados permitiram a identificao de trspadres de responder durante a apresentao dacor vermelha no undo de tela na terceira ase: (a)cinco participantes no apresentaram alteraes nopadro de responder; (b) quatro participantes apre-sentaram um padro em que houve uma reduodo responder logo aps a mudana da cor do fundoda tela, com um aumento na requncia do clicardurante o minuto e uma elevao acentuada de res-postas segundos antes da apresentao da palavra

    mais aversiva e (c) sete participantes apresentaramestabilidade no responder, havendo diminuio darequncia de respostas apenas por alguns segun-dos antes da apresentao da palavra mais aversiva.

    Diante desses resultados, Banaco et al. (2004)concluram que nenhum dos participantes apresen-tou um padro tipicamente encontrado nos estudosde supresso condicionada com sujeitos no huma-nos. Contudo, eles ressaltaram que a mudana decor do fundo da tela e/ou a manipulao da palavraeleita como mais aversiva exerceram influncia so-

    bre o responder de metade dos participantes.Em sua discusso, Banaco et al. (2004) tecem

    algumas consideraes acerca das trs ases doexperimento. Sobre a primeira ase, os autores in-dicam que a seleo do estmulo que exerceria afuno de aversivo na primeira fase pode ter produ-zido resultados contraditrios, na medida em queo participante deveria escolher a palavra que maisrejeitava. No entanto, possvel que a instruo notivesse ficado clara para o participante e ele pode

    ter clicado vrias vezes sobre sua palavra preerida,e no sobre a palavra mais rejeitada. O mtodo deseleo da palavra poderia ter implicado que a pa-lavra mais escolhidaosse utilizada como estmulopareado troca de cor do undo de tela.

    Sobre o desempenho em linha de base, sobrea qual se realizou o estudo, Banaco et al. (2004)discutem que esta envolveu diversas respostas deobservao, de identificao de letras e de escolha,as quais no puderam ser medidas e que talvez te-

    nham sido relevantes para os resultados. Os pr-prios esquemas de CRF e VR utilizados, se de atoos considerarmos anlogos, produzem desempe-

    nhos problemticos para a produo de supressocondicionada, considerando o que foi dito anterior-mente no presente artigo. Outro problema queuma palavra completa corretamente produziria 10

    pontos. Assim, teramos simultaneamente um es-quema de VR para cada letra escolhida e uma VR

    variando de 5 a 13 que produziria 10 pontos. Aindadeve ser lembrado que os pontos no eram troca-dos por nenhum objeto tangvel, o que tambmpode ser discutido. No entanto, o estudo oi base-ado em Costa (2004) e omanari, Carvalho, Ges,Lira e Viana (2007), autores que demonstraram quehumanos adultos ficam sob controle de ganho ouperda de pontos no trocveis.

    Quanto ao estmulo aversivo selecionado, po-de-se reconhec-lo tambm como um estmulocondicionado. necessria uma longa histria depareamentos para que uma palavra escrita se tor-ne um estmulo controlador de comportamento. Atentativa de pareamento realizada entre cor (CS) epalavra (tambm um CS, e no um US) seria, por-tanto, de segunda ordem, dierente dos estudoscom no humanos que utilizaram estmulos aver-sivos incondicionados.

    A durao relativa da tela vermelha parece tersido tambm um problema, j que estabeleceu umadurao relativa alta (60 segundos), para a qual osestudos de Stein et al. (1958), Calton e Didamo(1960) e Lyon (1964) demonstraram produzir me-nor supresso.

    Considerando essas observaes, necessriocriar condies experimentais que permitam cla-reza e controle quanto ao esquema, requncia e magnitude do reoramento, alm de monitora-mento cuidadoso sobre a durao de CS em relao

    sesso. Ao mesmo tempo, importante a escolhade um evento aversivo mensurvel e manipulvelquanto magnitude.

    Uma alternativa ao uso de estimulao aversivapor apresentao de reoradores negativos podeser a retirada de reoradores positivos ornecidospela prpria condio experimental. A perda de re-oradores produzidos pelo participante seria umaalternativa. No entanto, Leitenberg (1966) demons-trou que a suspenso da condio de reoramen-

    to (time out) produziu um aumento nas respostasdurante a apresentao do CS. Pode-se esperar queum estmulo que anteceda a perda de reorado-

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    res, uma vez produzidos pelo responder, interfirano desempenho a ser manipulado, tornando esseresponder mais requente. Isso corresponderia auma interferncia na contingncia de reforamento.

    Uma alternativa seria a perda de algum reoradorno produzido pela resposta medida, que assim noaria parte da contingncia em vigor. Levando-seem conta tais dados, a obteno de reoradorespor esquemas de tempo (F ou V), contingente permanncia na sesso, seria uma opo melhor,pois exigiria apenas a resposta de permanncia noexperimento para a sua produo e a sua perda nointereriria diretamente na produo de reorado-res advindos do desempenho operante destacado

    no estudo.Algumas das questes levantadas sobre o estu-do de Banaco et al. (2004) oram consideradas naconstruo do delineamento da pesquisa de RegisNeto (2009). Nesse trabalho, muitos aspectos deprogramao oram cuidados. Primeiramente, uti-lizou-se para a base do experimento um respondersobre o qual se tivesse um controle maior: clicarsubmetido a esquema de reoramento em inter-

    valo varivel. Para isso, um programa oi especial-mente elaborado3de orma que sete participantes,funcionrios administrativos de uma universidade,pudessem clicar sobre um espao na tela sobre oqual um crculo se movimentava em uma trajetriaaleatria. Assim, o participante deveria seguir ocrculo e clicar sobre ele para obter pontos de de-sempenho, como se osse um jogo. Esses pontoseram contabilizados em um contador localizadoacima da rea de jogo. Acima e direita da tela,outro contador registrava pontos recebidos em F1s (isto , independente que qualquer resposta es-

    pecfica do participante).Os pontos atribudos ao desempenho eram pa-

    gos em dinheiro e os pontos obtidos pela partici-pao eram trocados por nmeros para o concur-so em uma loteria na qual concorriam somente osparticipantes do experimento, cujo prmio tambmera dinheiro. Depois de estabilizada a taxa de res-postas em VI ou 4 sesses de 15 minutos de sub-misso ao esquema, os participantes oram subme-tidos a 3 sesses de pareamento entre um tom (de

    400 ciclos/s) e um conjunto de estmulos aversivos:

    3 O sofware oi elaborado por Tomas Woelz.

    o rosto de uma pessoa rindo e apontando para oparticipante com o dedo, um som de risada de es-crnio e a perda de metade dos pontos pela parti-cipao (recebidos em F 1s), com a consequente

    perda de escolha de nmeros para a participaoda loteria. Assim, buscou-se garantir que os pon-tos obtidos pelo desempenho no seriam aetadospela retirada de reoradores utilizada como esti-mulao aversiva, semelhana dos estudos comno humanos nos quais a estimulao aversiva nointerfere na quantidade de reforadores produzidospelo desempenho dos sujeitos.

    Os participantes do estudo de Regis Neto(2009) oram submetidos a duas sesses nas quais

    o intervalo de apresentao do CS durou 15 segun-dos. Em seguida, por mais uma sesso, para trsparticipantes esse valor passou a ser de 30 segun-dos, enquanto para outros quatro participantes o

    valor oi modificado para 7,5 segundos. Na ase fi-nal do experimento, todos os participantes oramsubmetidos extino respondente.

    Os resultados demonstraram que trs partici-pantes no apresentaram supresso no valor de 15segundos de CS (a taxa de supresso variou entre1,2 e 0,8), ao passo que os outros quatro partici-pantes chegaram a apresentar taxa de supresso deat 0,05 - sendo que um deles apresentou uma altataxa de supresso nas primeiras apresentaes deCS-estimulao aversiva, deixando de apresent-ladurante os pareamentos subsequentes, e outros trsapresentaram taxas de supresso gradativas me-dida que os pareamentos CS-estimulao aversivaoram acontecendo.

    Com os valores menores de durao do CS,todos os participantes que j haviam apresentado

    altas taxas de supresso na ase anterior continua-ram a apresent-la nesta nova ase. O participantedesse grupo que no havia apresentado supressocom CS de 15 segundos de durao tambm no aapresentou nesta ase.

    O mesmo ocorreu no grupo que teve o valor doCS aumentado para 30 segundos. Dois dos partici-pantes desse grupo no haviam apresentado supres-so na ase anterior e no apresentaram tambmnesta ase (dois deles, pelo contrrio, apresentaram

    o que poderia ser chamado de induo: 1,5 e 1,97vezes mais respostas durante o CS do que em per-odos fora do CS). O terceiro participante, que j ha-

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    Supresso condicionada: Um modelo experimental para o estudo da ansiedade 5-20

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    via mostrado supresso na fase anterior, apresentousupresso tambm com esse novo valor de CS, masnuma nica das apresentaes do CS chegou a do-brar o nmero de respostas em relao ao perodo

    sem CS imediatamente anterior.Os dados indicariam uma tendncia maior

    de intererncia (supresso ou induo) do pa-reamento sobre as respostas nas condies de CSmais curto e altas indues e menores supressesem condies de CS mais longo. Devido a algu-mas caractersticas de programao, a quantidadede reoros produzidos pelos participantes soreusignificativa variao. Essa variao criou um outroelemento de anlise, ainda sob investigao. Uma

    correlao entre a requncia de reoro e a taxa desupresso pareceu corresponder aos dados da lite-ratura, sem que as supresses observadas tenhamocorrido com os participantes com menor requ-ncia de reoramento na ase de ortalecimento(quatro sesses iniciais).

    Em estudo subsequente de Regis Neto et al.(2009), seis participantes oram submetidos a umdelineamento semelhante ao de Regis Neto (2009),com quatro sesses de 15 minutos de submissoa um esquema de VI 60s, o qual oi apereioado

    nessa ocasio, permitindo maior estabilidade norecebimento de reoros por sesso para todos osparticipantes. A fase experimental contava tambmcom trs sesses, a exemplo do trabalho anterior,mas agora com a durao do CS de 15 segundosem todas elas. Neste trabalho oram manipuladosos eventos perturbadores (aversivos) subsequentesao tom (CS).

    Foram criadas trs condies nas quais os par-ticipantes oram igualmente distribudos: (a) con-

    dio na qual estavam presentes todos os eventosperturbadores (i.e., perda de pontos, som de risadae a imagem da pessoa rindo), (b) condio em queapenas a risada e a imagem eram apresentadas aofim do CS e (c) uma terceira condio na qual ape-nas a perda de pontos ocorria ao fim do CS.

    Os resultados indicaram que na Condio Cocorreram pequenas supresses e algumas indu-es de respostas bastante evidentes (nmeros derespostas 2,0 e 1,76 maiores durante CS em um dos

    participantes). Na Condio B, nenhum dos parti-cipantes apresentou diminuio ou aumento signi-ficativo das respostas durante o CS. J na Condio

    A, no se observaram indues e para um dos par-ticipantes notou-se supresso de respostas em 1/3das apresentaes do CS.

    Obviamente, ambas as pesquisas exigem repli-

    caes, modificaes e adaptaes, mesmo assimsurpreendem os dados que indicam que a somados eventos ao fim do CS possa produzir um eei-to dierente do resultante das apresentaes destesindividualmente. Isto , a perda de pontos isoladatende a produzir induo de respostas; apenas aimagem com o som da risada no produz eeitossignificativos e a apresentao conjunta destes pro-duz alguma supresso nas respostas.

    Interaes operantes na supressocondicionadaodos os resultados apresentados at aqui indicamque o estudo da supresso condicionada enquantoum modelo de ansiedade ainda requer mais pesqui-sas que visem a uma melhor descrio, com o de-senvolvimento de mtodos, a escolha de variveis,de medidas e de parmetros, tanto quando realiza-do com sujeitos humanos ou no humanos.

    H ainda outros relatos intrigantes na literaturaque no oram explorados. Por exemplo, Sidman

    (1958) demonstrou que outras interaes podemaetar o enmeno da supresso condicionada. Jhavia sido mostrado que, quando o operante emobservao era uma resposta que pospunha a apre-sentao de um choque eltrico, sobreposies dopareamento som-choque eltrico inescapvel pro-duziam induo da resposta mantida pela esquiva.Portanto, era esperado que em uma situao com-plexa, na qual macacos foram expostos a um esque-ma concorrente esquiva FI 20s - reoramento por

    alimento em VI 4m, a sobreposio de um pare-amento som-choque eltrico inescapvel produ-zisse supresso no operante mantido por alimentoe induo no operante que adiava a liberao doaversivo. Os resultados mostraram que tais respos-tas seguiram a mesma tendncia: ambas tiveraminduo durante o CS.

    Sidman procurou nesse estudo muitas intera-es entre as variveis estudadas, como a topografiadas respostas que eram idnticas no primeiro ex-

    perimento e passaram a ser bem distintas em ex-perimentos posteriores, sendo inclusive aastadasno espao da caixa experimental. Nenhuma des-

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    Denigs Maurel Regis Neto, Roberto Alves Banaco, Nicodemos Batista Borges e Denis Roberto Zamignani 5-20

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    sas manipulaes produziu supresso no operan-te mantido por alimento durante o CS. Em outramanipulao, Sidman demonstrou que uma cadeiaestabelecida entre as respostas de esquiva e apetiti-

    va era o resultado produzido pelo controle aversivodo procedimento de supresso condicionada, tendocomo subproduto a inesperada induo sobre o res-ponder para a produo de estmulo apetitivo. alcadeia s pde ser quebrada quando a produo doalimento oi modificada para razo fixa.

    Interaes desse tipo tambm devem ser maisbem estudadas, dada a relevncia deste tipo de e-nmeno para o dia a dia de humanos. Mas pou-cos so os trabalhos que exploraram as possveis

    transposies desses achados para a vida cotidia-na. Uma dessas tentativas pode ser encontrada emBisaccioni (2008), que buscou apresentar interpre-taes de eventos cotidianos e algumas das impli-caes clnicas a partir dos estudos sobre supressocondicionada.

    al linha de pesquisa pode esclarecer en-menos importantes que ocorrem no contexto deaplicao da anlise do comportamento, seja emmbito clnico, hospitalar, escolar, organizacional,etc. Podemos tomar como exerccio uma situaolimite entre os dois primeiros contextos. Por exem-plo, um cliente que acaba de receber o diagnsticode um tumor maligno e que, ao invs de apresentarsupresso condicionada, passa a trabalhar incessan-temente - o que seria inesperado.

    Consideraes finaisA despeito de o primeiro estudo nesta linha de pes-quisa datar do incio da dcada de 1940 (Estes &Skinner, 1941) e de se encontrarem duas pesqui-

    sas da rea no primeiro volume do JEAB4(Sidman,1958; Stein, Sidman, & Brady, 1958), e embora pos-sam ser identificadas pesquisas publicadas sobre su-presso condicionada, muitas das questes ainda seencontram sem respostas, principalmente se oremconsideradas as pesquisas com participantes hu-manos. Estas, em especial, necessitam de diversosaprimoramentos e desenvolvimento de tecnologiasde pesquisa que constituam condies experimen-tais mais adequadas para o controle de variveis e

    o registro de respostas. As pesquisas com humanos

    4 Journal of the Experimental Analysis of Behavior.

    poderiam se beneficiar da criao de novas condi-es de coleta e de inraestrutura que envolvesseoutros tipos de respostas.

    Os dados de participantes humanos apresenta-

    dos anteriormente apontam para a necessidade dealgumas replicaes e manipulaes j realizadascom sujeitos no humanos, tais como: variaesmais amplas na durao do estmulo condicional(e.g., Stein et al., 1958); dierentes requncias e es-quemas de reoramento (e.g., Lyon, 1963; Lyon,1964; Lyon & Felton, 1966); a utilizao de novosestmulos no pareamento e a manipulao quan-to extenso dos eeitos do CS para outros est-mulos com dimenso semelhante (e.g., Hoffman

    & Fleshler, 1961, 1964; Hoffman, Selekman, &Fleshler, 1966; Ray & Stein, 1959).Diante do apresentado, espera-se que esse arti-

    go tenha, entre outras unes, a de evocar nos lei-tores comportamentos de engajamento nesta linhade pesquisa.

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    Supresso condicionada: Um modelo experimental para o estudo da ansiedade 5-20

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    Informaes do artigo

    Histria do artigo

    Data de submisso em: 17/07/2010

    Primeira deciso editorial em: 09/03/2011Aceito para publicao em: 10/03/2011