Sumário - KPMG Brasil · 2009-08-27 · Bunce, apresenta os novos sócios em sua mensagem de final...

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Novembro de 2007

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Editorial

Mensagem do Presidente

Sistema de Pagamentos

A atualização do sistema de compensação do varejo brasileiro

Automotivo

Panorama da indústria automobilística no mundo e no Brasil

Governança Tributária

Novas imposições regulatórias levam empresas a rever gerenciamento tributário

Artigo

A eficiência operacional nos bancos brasileiros

Opinião

Incentivos Fiscais: em busca do equilíbrio

Energia

Setor passa por mudanças nos modelos de negociação

Biocombustíveis

Etanol: desafios e oportunidades em um ambiente altamente competitivo

Sustentabilidade

Relatórios de sustentabilidade abrem oportunidades de negócios com questões ambientais

Esporte e Lazer

Parcerias e criação de conteúdo são saídas comerciais para empreendimentos de entretenimento

Audit Committee Institute

Como garantir a integridade das práticas de gestão e a liderança pelo exemplo?

Educação

Ensino Universitário se expande com IPOs

Desenvolvimento sustentável

Responsabilidade Corporativa e oportunidade comercial, por Lord Hastings

Produto Verde

Marcas ecologicamente corretas devem ser mais baratas

KPMG Business Magazine é uma publicação trimestral da KPMG Auditores Independentes. © 2007 KPMG Auditores Independentes, sociedade brasileira, membro da KMPG International, uma cooperativa suíça. Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Novembro de 2007.Presidente da KPMG no Brasil: David Bunce. Diretora de KM&C: Irani Ugarelli. Fone: (11) 2183.3048. e-Mail: [email protected]. Produção/Edição: Ex Libris Comunicação Integrada. Editor: Jayme Brener (MTb 19.289). Textos: Lúcia Mesquita e Fernando Kadaoka.Projeto gráfico e diagramação: Idéia e Imagem Comunicação. Fotos: arquivo KPMG e Ken Chu (Expressão Studio). Tiragem: 10.000 exemplares. Impressão: Copypress.

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Sumário

Reporting the Business

Implications of Climate Change

in Sustainability Reports

A survey conducted by the Global Reporting InitiativeTM and

KPMG’s Global Sustainability ServicesTM

GRI Research & Development

Novembro de 2007

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© 2007 KPMG Auditores Independentes uma sociedade brasileira e firma-membro da rede KPMG de firmas-membro independentes e afiliadas à KPMG International, uma cooperativa suíça. Todos os direitos reservados.

Irani Ugarelli

Editorial

Energia, sustentabilidade, governança corporativa e tributária, questões ambientais e muitos outros temas que fazem parte da agenda dos executivos estão presentes na 10ª edição da KPMG Business Magazine.

Destacamos as questões ambientais e de sustentabilidade, tendo em vista o aumento contínuo no interesse da população mundial sobre os temas relacionados à luta contra a degradação do meio ambiente. O mundo dos negócios igualmente se motiva a discutir estas questões e praticar atitudes sustentáveis.

Não é mais possível pensar nos negócios sem discutir sua sustentabilidade, que hoje interessa não apenas aos acionistas e funcionários, mas também a um volume crescente de stakeholders.

Matérias sobre o desenvolvimento dos chamados “produtos verdes” e sobre o impacto das revelações a respeito das mudanças no clima, vinculadas ao efeito-estufa, integram esta edição.

Mantendo o caráter plural da publicação, o leitor encontrará também um painel no qual convidados expõem suas opiniões a respeito do atual cenário de incentivos fiscais no Brasil.

E, para encerrar o ano de 2007 com boas notícias, o presidente da KPMG no Brasil, David Bunce, apresenta os novos sócios em sua mensagem de final de ano e faz também um balanço de mais um ano de crescimento.

Desejamos aos leitores boas festas e muitas realizações.

Irani UgarelliDiretora de KM&C

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Editorial

Mensagem do Presidente

Sistema de Pagamentos

A atualização do sistema de compensação do varejo brasileiro

Automotivo

Panorama da indústria automobilística no mundo e no Brasil

Governança Tributária

Novas imposições regulatórias levam empresas a rever gerenciamento tributário

Artigo

A eficiência operacional nos bancos brasileiros

Opinião

Incentivos Fiscais: em busca do equilíbrio

Energia

Setor passa por mudanças nos modelos de negociação

Biocombustíveis

Etanol: desafios e oportunidades em um ambiente altamente competitivo

Sustentabilidade

Relatórios de sustentabilidade abrem oportunidades de negócios com questões ambientais

Esporte e Lazer

Parcerias e criação de conteúdo são saídas comerciais para empreendimentos de entretenimento

Audit Committee Institute

Como garantir a integridade das práticas de gestão e a liderança pelo exemplo?

Educação

Ensino Universitário se expande com IPOs

Desenvolvimento sustentável

Responsabilidade Corporativa e oportunidade comercial, por Lord Hastings

Produto Verde

Marcas ecologicamente corretas devem ser mais baratas

KPMG Business Magazine é uma publicação trimestral da KPMG Auditores Independentes. © 2007 KPMG Auditores Independentes, sociedade brasileira, membro da KMPG International, uma cooperativa suíça. Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Novembro de 2007.Presidente da KPMG no Brasil: David Bunce. Diretora de KM&C: Irani Ugarelli. Fone: (11) 2183.3048. e-Mail: [email protected]. Produção/Edição: Ex Libris Comunicação Integrada. Editor: Jayme Brener (MTb 19.289). Textos: Lúcia Mesquita e Fernando Kadaoka.Projeto gráfico e diagramação: Idéia e Imagem Comunicação. Fotos: arquivo KPMG e Ken Chu (Expressão Studio). Tiragem: 10.000 exemplares. Impressão: Copypress.

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Sumário

Reporting the Business

Implications of Climate Change

in Sustainability Reports

A survey conducted by the Global Reporting InitiativeTM and

KPMG’s Global Sustainability ServicesTM

GRI Research & Development

Novembro de 2007

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© 2007 KPMG Auditores Independentes uma sociedade brasileira e firma-membro da rede KPMG de firmas-membro independentes e afiliadas à KPMG International, uma cooperativa suíça. Todos os direitos reservados.

Irani Ugarelli

Editorial

Energia, sustentabilidade, governança corporativa e tributária, questões ambientais e muitos outros temas que fazem parte da agenda dos executivos estão presentes na 10ª edição da KPMG Business Magazine.

Destacamos as questões ambientais e de sustentabilidade, tendo em vista o aumento contínuo no interesse da população mundial sobre os temas relacionados à luta contra a degradação do meio ambiente. O mundo dos negócios igualmente se motiva a discutir estas questões e praticar atitudes sustentáveis.

Não é mais possível pensar nos negócios sem discutir sua sustentabilidade, que hoje interessa não apenas aos acionistas e funcionários, mas também a um volume crescente de stakeholders.

Matérias sobre o desenvolvimento dos chamados “produtos verdes” e sobre o impacto das revelações a respeito das mudanças no clima, vinculadas ao efeito-estufa, integram esta edição.

Mantendo o caráter plural da publicação, o leitor encontrará também um painel no qual convidados expõem suas opiniões a respeito do atual cenário de incentivos fiscais no Brasil.

E, para encerrar o ano de 2007 com boas notícias, o presidente da KPMG no Brasil, David Bunce, apresenta os novos sócios em sua mensagem de final de ano e faz também um balanço de mais um ano de crescimento.

Desejamos aos leitores boas festas e muitas realizações.

Irani UgarelliDiretora de KM&C

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último anuário Você S/A e Exame – As 150 Melhores Empresas para Você Trabalhar. É crescente a nossa preocupação com o desenvolvimento profissional de nossos colaboradores. Estamos confiantes de que seguimos no caminho certo e em busca da excelência na qualidade dos serviços prestados e da credibilidade perante os clientes.

Deixo meus agradecimentos a todos os leitores da Business Magazine pela interação durante o ano, e aos nossos colaboradores e clientes, que contribuem a cada ano para o crescimento da KPMG no Brasil.

Sucesso a todos em 2008!

O ano de 2007 trouxe grandes conquistas para a KPMG no Brasil. Temos muito que comemorar! Chegamos ao final deste ano com crescimento de 30% no faturamento em relação ao ano de 2006. A base de clientes também seguiu na mesma direção, com um aumento de 20%. Outra grata conquista foi a admissão de cerca de 400 novos trainees. Assim, encerramos o ano com mais de 2.000 colaboradores.

O crescimento foi evidenciado também pela nomeação de 14 novos sócios e pelo investimento em nossos profissionais. Como reconhecimento, a KPMG no Brasil foi apontada no

MENSAGEM DO PRESIDENTE

Mais um ano de conquistas

02 Mensagem do Presidente

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Luciene Fernandes

Wagner Petelin

Salvatore Milanesi

A KPMG no Brasil parabeniza seus novos sócios

Silbert Sasdelli

Guilherme Nunes

Claudio Biason(São Carlos)

Fernando Aguirre Lúcio Anacleto

RAS

Rosane Palharim

Audit

Vilma AndradePedro Anders

TAX

Alan Riddell

Edward Leek

Maurício Endo

FAS

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SPB 05

As câmaras de compensação desempenham, na atual economia, um papel essencial: elas garantem que o dinheiro (lato sensu, englobando todos os meios de pagamento) cumpra sua função essencial de intermediário de trocas. Isso é fundamental para o funcionamento da economia real e, principalmente, para a garantia de segurança e confiabilidade de um sistema de trocas que se tornou complexo, integrado e difuso. Com mecanismos de compensação mais seguros, transparentes e modernos, há a minimização de riscos sistêmicos para a economia.

SPB

A modernização do Sistema de Pagamentos do Brasil

Câmara de Varejo e adoção

sistemática de meios eletrônicos

surgem como formas de atualizar

o sistema de compensação do

varejo brasileiro

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A criação e a implementação do Sistema de Pagamentos Brasileiros (SPB), em 2002, obedeceram esse objetivo, de modernizar a infra-estrutura de liquidação financeira e, com isso, aumentar a segurança do sistema. Passados cinco anos, com grande sucesso (só a Câmara Interbancária de Pagamentos, a CIP, por exemplo, já é responsável por 88% das transações bancárias), a expectativa do mercado se volta para a segunda fase do SPB.

Nesse caso, o ponto de destaque são os estudos para colocar em funcionamento uma Câmara de Varejo, que possibilite a integração e modernização dos sistemas de pagamentos do varejo brasileiro. “Sua implantação significaria um aprimoramento. Seria como uma continuação da modernização advinda do SPB, em 2002. A expectativa de todo o mercado financeiro é continuar esse processo, com melhorias contínuas e integradas no sistema”, explica Lúcio Anacleto, sócio da KPMG no Brasil na área de Risk & Advisory Services.

Com as Câmaras de Varejo, que reduziriam o piso de R$ 5 mil das Transferências Eletrônicas Disponíveis (TED), os benefícios auferidos pelos bancos poderiam, segundo estudos da CIP, ser repassados aos correntistas.

Como conseqüência benéfica dessas melhorias, além de maior segurança e transparência, o sócio da KPMG ressalta a possibilidade de redução do valor de transferência, em relação ao valor arcado atualmente pelo varejo. Isso porque, ao contrário dos bancos, que, em sua maioria, contam com sistemas de liqüidação eletrônica, no varejo esse movimento é muito mais tímido. Grande parte das transações varejistas ainda é feita por meio de papel-moeda e de cheque, em detrimento dos modernos sistemas de compensação eletrônica. Tanto o cheque quanto o dinheiro em espécie têm altos custos. No caso do cheque, o período de compensação (de três dias úteis, em média) está longe de ser condizente com a urgência e velocidade do mundo moderno. Isso

06 SPB

Lúcio Anacleto, sócio da KPMG no Brasil na área de Risk & Advisory Services

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SPB 07

pode acarretar grandes problemas de liqüidez e de fraudes, por exemplo.

Há estudos que mostram que o pagamento eletrônico custa entre um terço e 50% a menos do que o pagamento em papel, cheque ou papel-moeda. E mais: a migração total para instrumentos eletrônicos produziria uma economia anual de até 3% do PIB, o que, no Brasil, pelo PIB de 2006, significa quase R$ 70 bilhões. O potencial para a maior adoção dos meios eletrônicos é enorme. Dados do Banco Central, de 2003, mostram que, naquele ano, o número de transações com cartões de débito, per capita, entre os brasileiros era de 2,6 ao ano. Como comparação, na França, alcançava 70,6 transações. O mesmo acontece com cartões de crédito. Em 2003, foram 6,1 transações per capita no Brasil, contra 62,9 nos Estados Unidos.

A integração do varejo em uma Câmara de Compensação própria traz sérios desafios, principalmente devido ao

descomunal número de transações que seriam incorporadas pelo SPB. “A CIP faz, em média, 200 milhões de transações por dia. A Câmara de Varejo englobaria cerca de cinco bilhões de transações/dia”, exemplifica Lúcio Anacleto. Seria necessária uma infra-estrutura muito grande para atender demanda de tal magnitude. “A saída para a viabilização é trazer mais participantes para a Câmara de Varejo. Precisamos atrair o varejo para a modernização do sistema de pagamentos”, diz Anacleto. Nesse sentido, as concessionárias de serviços públicos, por exemplo, poderiam muito bem aderir ao projeto.

Além da ampliação da infra-estrutura, outros desafios rumo à modernização dos instrumentos de pagamento de varejo no Brasil são: a baixa interoperabilidade entre as diferentes redes existentes (dos bancos, dos prestadores de serviços de compensação e de liqüidação, e do setor não-financeiro) e a pouca padronização. Esses entraves

aumentam os custos das transações e, também, o tempo despendido para efetuá-las. A área de Risk & Advisory Services da KPMG teve uma experiência significativa nos projetos de SPB em 2002, junto às principais instituições financeiras, nas perspectivas de gestão de projetos, quality assurance das implementações, certificação e segurança das informações. Nesse sentido, Anacleto avalia que os bancos novamente poderão contar com apoio consultivo externo na nova fase do SPB.

Com a maior utilização de meios eletrônicos de pagamentos e com uma integração maior entre terminais de auto-atendimento, redes bancárias, prestadores de serviços de compensação e seria possível uma sensível redução dos custos. E, com maior eficiência, ganha a economia como um todo.

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Automotivo 09

AUTOMOTIVO

Uma nova era para a indústria automobilística

Desde que o norte-americano Henry Ford revolucionou o mundo com a produção em série e a linha de montagem, no início do século XX, a indústria automobilística se notabilizou pela força econômica, organização setorial, competitividade e capacidade de inovação. Talvez por isso, ela seja uma das indústrias mais globalizadas que existem. Mas se há o benefício de ter o mundo como mercado consumidor, ocorrem também grandes desafios, já que a escala potencializa as dificuldades e a necessidade de se reinventar fica ainda mais imperativa.

Após o primeiro choque do petróleo, na década de 1970, que funcionou como resposta ao sonho da bonança eterna, simbolizada pelos carros enormes e poluentes, nunca houve um momento como o atual, com tantas e tão profundas transformações na indústria automobilística mundial. “É hora de

a indústria, como um todo, discutir tendências e enfrentar os próximos desafios que virão”, afirma Charles Krieck, sócio da KPMG no Brasil líder na área de Industrial Markets.

Não há mais dúvidas, na opinião pública mundial, sobre a correlação entre queima de combustíveis fósseis e aquecimento global. Essa nova realidade traz um impacto sem precedentes para as montadoras e a indústria de autopeças. A conscientização da sociedade, em um movimento que não obedece a fronteiras nacionais, sobre os perigos da emissão de carbono na atmosfera obriga a indústria automobilística e a de autopeças a se dedicarem a uma busca constante por fontes alternativas de energia. De acordo com a pesquisa Momentum, elaborado este ano pela KPMG International, com 150 dos principais executivos da indústria automobilística

Charles Krieck, sócio da KPMG no Brasil líder na área de Industrial Markets

A exigência de combustíveis menos poluentes e a entrada da China

na produção e no mercado consumidor de automóveis mudam

o panorama e colocam enormes desafios para todos os agentes

econômicos desse mercado

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10 Automotivo

mundial, a eficiência do combustível vem aumentando de importância na decisão de compra do consumidor. Em 2004, 77% desses executivos responderam que eficiência do combustível é um fator extremamente importante para os consumidores. Em 2006, essa porcentagem subiu para 89%.

Na composição desse novo cenário, a indústria automobilística mundial aguarda os primeiros passos de um gigante semidesperto: a China. A nação asiática deve revolucionar os dois eixos fundamentais da indústria. A produção de automóveis, com sua capacidade de fabricar a baixíssimo custo, e também o mercado consumidor, com a inclusão de 1,3 bilhão de pessoas nos clientes potenciais. Nenhuma montadora ficará imune ao avanço chinês, a despeito de todos os desafios que a indústria automobilística local ainda enfrenta, principalmente no que concerne à qualidade do produto. Isso sem contar outro importante player global, a Índia, que também começa

a aparecer no panorama. Por sua vez, o mercado brasileiro, que nunca esteve tão aquecido, também enfrenta desafios de adaptação frente à nova realidade dos consumidores, que estão mais exigentes, e à necessidade de combustíveis mais limpos. São desafios globais de uma indústria em transformação.

Grande crise, grandes expectativasUm bom critério para definir o grau de desenvolvimento tecnológico de uma economia é verificar a presença de fabricantes/montadoras de automóveis. A razão é a existência de poucos players globais em uma indústria altamente consolidada e competitiva. A indústria automobilística norte-americana se destacou na fase inicial da expansão do segmento, criando alguns dos grandes conglomerados que até hoje lideram o setor, e tornou-se o principal mercado consumidor e produtor do planeta.

“É hora de a indústria discutir

tendências e enfrentar os

desafios que virão”Charles Krieck

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Automotivo 11

Após dominar o mercado mundial de automóveis por décadas, a indústria dos EUA sofreu fortes abalos, a partir da década de 1980, com a revolução de gestão trazida pelos asiáticos. No próprio mercado interno norte-americano, a presença cada vez maior de montadoras estrangeiras acendeu a luz vermelha em Detroit. Em 2007, pela primeira vez na história, foram vendidos mais carros estrangeiros do que norte-americanos dentro do país. O desafio para a indústria automobilística da maior economia do mundo é o alto custo trabalhista, principalmente na questão previdenciária. “As montadoras dos EUA sofreram muito. Mas elas estão arrumando a casa, reestruturando e fechando ou realocando fábricas. Trata-se de uma indústria muito forte. Sem contar que a história demonstra que não é possível duvidar da capacidade de inovação e criatividade da principal economia do planeta”, afirma Charles Krieck.

Para os norte-americanos, o desafio é conseguir uma estrutura de custos mais enxuta com carros menores e menos poluentes. A ameaça de uma possível invasão de veículos chineses baratos também deve ser levada em conta. A indústria local sempre contou com a produção de utilitários e SUVs (Sport Utility Vehicle), grandes, lucrativos, mas poluentes. No entanto, o aumento no preço dos combustíveis (o barril do petróleo alcançou recentemente a marca histórica dos US$ 90) e a maior consciência ambiental estão mudando a mentalidade do mercado norte-americano. Prova disso é que os modelos híbridos são um sucesso de vendas nos EUA. Esse processo pode ser muito bem observado no estudo Momentum. Segundo a pesquisa, 83% dos executivos responderam que esperam que os veículos híbridos aumentem sua participação de mercado, enquanto apenas 28% visualizam esse mesmo movimento no segmento de SUVs.

Como parte do processo de reestruturação na indústria, as três principais montadoras norte-americanas, General Motors (GM), Ford e Chrysler, esta última agora de volta às mãos de investidores norte-americanos, ensaiam fortes mudanças na administração das companhias. O intuito é estancar os constantes prejuízos, com drásticos corte de custos. “O mercado dos EUA tem como característica a qualidade marcante de seus produtos. Mas é preciso que essas companhias se adaptem à nova realidade do mercado mundial. A redução da quantidade de modelos de carros, pode ser um importante marco nesse processo”, comenta o sócio da KPMG.

O estudo Momentum mostra que 71% dos executivos esperam que as marcas norte-americanas percam participação no mercado mundial. Apenas 10% esperam um aumento. Para compreender a importância do dragão chinês, em relação às marcas chinesas, 79% dos executivos acham que haverá crescimento e apenas

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12 Automotivo

2% aguardam uma diminuição na participação de montadoras da nação asiática no mercado global de automóveis. Por outro lado, o mercado europeu deverá se estabilizar, de acordo com a pesquisa.

À procura de inovaçõesO funcionamento do mercado europeu de automóveis também pode ser observado com precisão na pesquisa elaborada pela KPMG. Nela, 28% dos 150 executivos esperam um aumento na participação de mercado das marcas européias e 30% acreditam na redução. “Esse equilíbrio reforça a percepção de que o mercado europeu é mais estabilizado e menos afeito a grandes inversões de tendências”, avalia Charles Krieck. De acordo com o sócio da KPMG, as fabricantes européias têm um elevado padrão de qualidade e tecnologia embarcada, o que se apresenta como um desafio para a indústria.

“Os componentes eletrônicos e a segurança são fatores decisivos na decisão de compra dos consumidores europeus. É um fator fundamental, mas que não cresce em importância, devido ao alto nível de sofisticação que grande parte dos produtos europeus já tem”,

diz. Se a indústria automobilística da Europa aproveitou muito bem a segunda onda da segurança eletrônica, agora, ela tem o desafio de embarcar na onda da eficiência de combustível, que vem se tornando a demanda principal dos consumidores”, afirma Krieck.

Outro grande solavanco para o velho continente diz respeito à entrada da China. Em um mercado estabilizado, o desenvolvimento da indústria automobilística na nação mais populosa do mundo pode atrair investimentos que, em outra situação, poderiam ser dirigidos à Europa. “A capacidade de investimento é finita. Entre investir em um mercado com potencial gigantesco ou em outro já estabilizado, a tendência é que os recursos migrem para a China”, observa Krieck.

Em relação ao temor de uma futura invasão de carros chineses, o sócio da KPMG é mais cético. “Os consumidores europeus têm como característica a fidelidade às marcas do país de origem. É uma cultura arraigada”, defende Krieck. Prova disso é que a participação de mercado das marcas asiáticas é comparativamente bem menor na Europa do que nos Estados Unidos.

“A grande vantagem da indústriaautomobilística chinesa é que eles

têm um mercado interno gigantesco, de mais de um bilhão de pessoas. É uma vantagem competitiva de suma importância”

Charles Krieck

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Automotivo 13

No que se refere ao desafio da eficiência do combustível, a indústria automobilística européia está na vanguarda. As principais montadoras européias, pressionadas pelos japoneses, investem fortunas em pesquisas de combustíveis renováveis e mais limpos. Etanol, biodiesel, carro elétrico, células de combustível (hidrogênio), a tendência é a diversificação da matriz energética automobilística.

O despertar do giganteTodo o desafio da indústria automobilística chinesa pode ser resumido em uma palavra: qualidade. Principalmente em uma indústria em que a segurança é um dos fatores determinantes do processo de compra do consumidor. “Cada detalhe faz diferença. Mesmo no mercado brasileiro, é possível observar que um simples quebra-sol com espelho pode influenciar na decisão de compra”, diz Charles Krieck.

No Brasil, na década de 1990, os carros populares, e com motorização de mil cilindradas reinaram soberanos. Era a época em que o consumidor pouco exigia e atinha-se ao preço. Esse

período, aos poucos, vai ficando para trás. “Hoje, mesmo veículos mais simples têm airbag, ABS e outros acessórios. O carro continua sendo compacto, mas vem com atrativos. Essa sofisticação no gosto do brasileiro ocorre na esteira da melhoria de renda e do melhor acesso ao crédito”, avalia Krieck.

Esse é o desafio que a indústria chinesa tem pela frente: provar que pode aliar qualidade a um produto barato. Os japoneses venceram essa barreira com maestria e tornaram-se ícones de produtos confiáveis. Os sul-coreanos, que, nos últimos anos, começaram a despontar no setor, estão conquistando a confiança dos consumidores mundiais com ótimos desempenhos nos crash-tests e por oferecer garantias estendidas. A maioria das montadoras norte-americanas e européias não oferece mais do que dois anos de garantia. Os japoneses passaram a oferecer três anos em seus produtos. Já os coreanos elevaram a garantia para inacreditáveis cinco anos. E os chineses? Aceitarão o desafio de aprimorar a qualidade ou apostarão mesmo no baixo custo de seus automóveis?

O desafio para a indústria

automobilística norte-americana

é o alto custo trabalhista,

principalmente a questão

previdenciária

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14 Automotivo

“Não adianta ter capacidade de produção e mercado consumidor se a cadeia produtiva

completa não estiver preparada. O nível de sofisticação e co-participação

nesta indústria exige grande esforço logístico e de coordenação”

Charles Krieck

“A grande vantagem da indústria automobilística chinesa é que eles têm um mercado interno gigantesco, de mais de um bilhão de pessoas. É uma vantagem competitiva de suma importância”, diz Krieck. Por enquanto, ainda existe um gap a separar a percepção, por parte dos consumidores, entre marcas européias, japonesas e norte-americanas, das coreanas (em bem menor grau) e, principalmente, dos veículos chineses. Exatamente por esse motivo, o maior desafio para a indústria chinesa de automóveis será entrar nos mercados consolidados, principalmente o europeu.

Desafios de uma indústria em transformaçãoCom o aumento da competitividade no setor e a busca frenética por novas tecnologias de combustíveis, dois fatores, custo de manutenção e atendimento pós-venda, também ganham importância para a indústria automobilística mundial. No processo de evolução fabril, os fabricantes de automóveis passaram à função de montadoras. Houve uma especialização no processo produtivo, com a criação de

uma indústria de autopeças fortíssima, que é responsável pela produção de kits, que darão forma ao veículo. Ao mesmo tempo, essa indústria de autopeças se espalhou pelo mundo à procura de menores custos de produção.

Para as montadoras, trabalhar com esse grau de co-participação em sua produção é um enorme desafio. Até porque se trata de uma tendência praticamente irreversível. “Antigamente,

a empresa fabricava uma determinada peça para o painel. Hoje, o painel inteiro já vem pronto em um kit”, diz Krieck. Existem várias vantagens desse modelo, tanto para as montadoras como para os fornecedores. Dentre elas, estão a agilidade na produção, o compartilhamento de seus custos e a especialização. Para a indústria de autopeças, um grande ponto positivo é a possibilidade de participar com produtos de maior valor agregado. O

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grande desafio desse modelo reside no controle da qualidade e na padronização. É um desafio que toda a indústria automobilística mundial terá que enfrentar.

Outro ponto importante para esta indústria em transformação está ligado às revendedoras e concessionárias. Apesar da forte identificação entre a marca do automóvel e os consumidores, a indústria automotiva não fala necessariamente de forma direta com o público. Portanto, a escolha da rede de concessionárias acaba tendo uma importância vital no desempenho de vendas, ainda mais em um mercado que exige cada vez mais atendimento diferenciado no pós-venda.

“É preciso que a rede revendedora seja saudável, competente e que trate muito bem o cliente. Não basta apenas vender bem. É preciso ter ótimos serviços de manutenção e revisão, com profissionais bem treinados. Quem não prestar serviços de qualidade pode comprometer todo o processo”, diz Krieck. Por conta disso, as pesquisas para a montagem e a escolha da rede de

concessionárias estão mais sofisticadas, com estudos geográficos para não haver sobreposição entre lojas.

Em relação a um ponto altamente discutido pela indústria, de que as montadoras estão com uma capacidade ociosa muito grande, em termos mundiais, segundo a pesquisa da KPMG, oscila entre 11% a 20%, o sócio da KPMG afirma que essa questão é

complexa. “Não adianta ter capacidade de produção e mercado consumidor se a cadeia produtiva completa não estiver preparada. O nível de sofisticação e co-participação nesta indústria exige grande esforço logístico e de coordenação”, completa Charles Krieck. Mesmo com tantos desafios e cenários diferentes, uma coisa é certa: a capacidade de inovação da indústria automobilística está longe de se esgotar.

Automotivo 15

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16 Automotivo

Nunca foram produzidos e vendidos tantos carros no Brasil. De acordo com dados da Anfavea (Associação Nacional de Veículos Automotores), a previsão é que o setor feche 2007 com uma expansão na produção de 13,4%, em relação ao ano anterior, totalizando 2,96 milhões de unidades produzidas. A previsão da entidade para as vendas é de crescimento de 25% em comparação com 2006. Esse bom momento é fruto da maior qualidade alcançada pelos carros fabricados no país, da melhoria da renda do consumidor, com melhor acesso ao crédito, e à revolução causada pelos carros bicombustíveis. Se há uma indústria em que o Brasil é vanguarda é a de álcool combustível, que é mais eficiente que o petróleo.

“Não valorizamos suficientemente o avanço que nossa indústria automobilística apresenta. Além de termos uma das maiores frotas do mundo de veículos bicombustíveis, contamos também com toda uma frota, com uma predominância de veículos comerciais e táxis, que é tricombustível. Ou seja, roda com qualquer proporção de álcool e gasolina e também com gás natural. Isso não existe em nenhum outro lugar do mundo”, atesta o sócio da KPMG. Aos que acreditam que o etanol pode substituir o petróleo, Krieck afirma que não seria saudável, para o mercado, qualquer tipo de dependência excessiva de uma única fonte de energia, inclusive o etanol.

O mundo, hoje, sofre com a dependência excessiva do óleo produzido no Oriente Médio, na Rússia e na Venezuela. Mudar a matriz para o etanol seria repetir esse mesmo cenário. “Logo, a melhor alternativa são os veículos híbridos”, diz Krieck.

Entretanto, a tendência à diversificação dos combustíveis não é uma ameaça à oportunidade que o Brasil tem de ser um dos principais players na indústria de etanol. O país tem enormes vantagens competitivas, já que a cana-de-açúcar apresenta excelente produtividade nas terras brasileiras. Mas, para concretizar esse objetivo, é necessário que o país aproveite ao máximo o momento favorável em relação aos combustíveis renováveis. O recente acordo para fornecimento de álcool ao Japão é um exemplo de iniciativa bem sucedida. O mais importante para que o etanol se consolide como um combustível viável, é semear confiança em todo o mercado de que não ocorrerá desabastecimento.

A tecnologia de veículos bicombustíveis foi fundamental para que o etanol fizesse sua reaparição com toda a força, após o fim do Proálcool, nos anos 1980. “O abastecimento sem interrupções é o fator de confiança decisivo. A Rússia, por exemplo, mesmo com todos os problemas políticos que enfrentou, fornece gás para a Europa ininterruptamente há 40 anos”, diz Charles Krieck.

O bom momento da indústria automobilística nacional não se resume à produção de carros. A agricultura também se beneficia, e é beneficiada, pelo aumento na produção de veículos. “A cana-de-açúcar e, conseqüentemente, o álcool, geradores de energia limpa, aumentam as vendas de carros e tratores. Isso, por sua vez, aumenta a demanda por álcool combustível. Trata-se de um dos mais interessantes círculos virtuosos de todos os tempos. É a primeira vez na história que o Brasil passa por um momento como esse. Temos que aproveitar”, defende Krieck.

O Brasil, pelas suas dimensões e população, é um mercado importante para as grandes corporações automobilísticas internacionais. Quando o país optou pelo modal rodoviário em seu processo de desenvolvimento, a indústria automobilística passou a desempenhar um papel fundamental na vida econômica da nação. Ainda hoje, é a indústria que mais gera empregos diretos e indiretos. Com o câmbio desfavorável para exportações, é muito pouco provável que o Brasil consiga fazer frente aos chineses. No entanto, ainda existe a desconfiança em relação à performance e ao design dos veículos chineses. Ao Brasil, cabe o desafio da inovação no processo de manufatura e nos materiais, para se manter competitivo mundialmente.

Cana-de-açúcar, álcool e vanguarda

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TAX 19

No que diz respeito à gestão tributária, o ambiente de negócios em todo o mundo está em pleno processo de transformação. Novas imposições regulatórias, como a Lei Sarbanes-Oxley (SOX) nos Estados Unidos e suas similares em outros países, e o novo posicionamento das autoridades fiscais nacionais forçaram as grandes corporações a mudar a forma de gerenciar e planejar suas questões tributárias. Isso para não falar das alterações legislativas envolvendo aumento ou diminuição de carga tributária, um processo que continua a ocorrer, especialmente no Brasil. De maneira geral, a matéria tributária, tanto nas empresas estrangeiras quanto nas nacionais, sempre esteve ligada aos departamentos financeiros e jurídicos das companhias. No entanto, esse cenário já sofre grandes alterações. Como conseqüência do

TAX

Os desafios da governança tributária

Leis mais rígidas visando à transparência na gestão de tributos e maior

número de stakeholders impõem mudanças na estratégia das empresas

novo ambiente tributário, há cada vez mais partes interessadas no tema. Além dos tradicionais internal stakeholders (acionistas, executivos e empregados), os chamados external stakeholders (órgãos reguladores, concorrentes, fornecedores, fisco, clientes, comunidades e mídia) passam a desempenhar um papel fundamental no monitoramento da postura tributária das companhias. “De fato, a transparência hoje exigida das empresas, em seus aspectos financeiros, ambientais, trabalhistas e sociais, afeta também a responsabilidade tributária”, afirma Marienne Shiota Munhoz, sócia da KPMG no Brasil na área de International Corporate Tax.

O Brasil, enquanto economia em desenvolvimento, traz um desafio adicional para as multinacionais. O fato é que, por muito tempo, os mercados emergentes foram considerados

Marienne Shiota Munhoz, sócia da KPMG no Brasil na área de International Corporate Tax

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apenas consumidores de produtos industrializados, reserva de mão-de-obra de baixo custo ou pólos manufatureiros de baixo valor agregado. Mas, hoje, muitas companhias instaladas em países em desenvolvimento se tornaram concorrentes globais.

Talvez isso ajude a explicar a mudança de mentalidade, nos países em desenvolvimento, em relação à importância da governança tributária. “Principalmente no exterior, a cobrança é cada vez maior para que haja uma participação mais efetiva dos altos órgãos de administração e supervisão das empresas (presidentes, Conselhos de Administração, Fiscal e Comitês de Auditoria) nos processos decisórios relevantes envolvendo questões tributárias”, esclarece Roberto Haddad, sócio da KPMG no Brasil na área de International Corporate Tax.

Esse cenário suscita novas dúvidas sobre a área de atuação e as responsabilidades de cada agente envolvido em temas tributários. Por exemplo, quem, dentro das corporações (o presidente, o diretor financeiro, o jurídico, ou outro) seria o responsável

por definir a estratégia tributária da empresa e assumir as conseqüências da definição? E qual o nível ou o perfil de risco aceitável pela organização ou pelos acionistas? Essas indagações vêm acompanhadas de necessidades de adequação da estrutura das empresas às boas práticas de gestão tributária.

Caminhos a seguir Nesse novo ambiente de negócios, as grandes corporações podem seguir três diferentes estratégias: assumir uma postura de líderes, agressivas ou conservadoras, de seguidoras, ou, ainda, não adotar qualquer posicionamento.

De acordo com Marienne Munhoz, as líderes são aquelas que consideram o planejamento tributário uma vantagem competitiva e, portanto, formulam sua estratégia tributária de forma antecipada e criteriosa. “Elas antecipam tendências, desenvolvem canais e métodos eficientes de comunicação interna e externa, adotam posições claras e aprovadas pelo Conselho acerca do nível de risco tributário e procuram influenciar o debate entre o fisco e os contribuintes”, completa a sócia da KPMG.

Roberto Haddad, sócio da KPMG no Brasil na área de International Corporate Tax

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Na posição oposta, estão as empresas cuja postura é a de não fazer qualquer movimento. Elas não contam com políticas de gestão de impostos definidas e crêem ser menos oneroso resolver os problemas quando eles aparecem, do que aplicar recursos com medidas preventivas. “Poucas empresas de grande porte ainda se encontram nesta categoria”, constata Marienne.

Há, ainda, um meio termo entre essas duas posturas. São aquelas companhias, chamadas seguidoras, que, para evitar risco de exposição ou gastos adicionais, preferem acompanhar o movimento de outras empresas líderes. Esses grupos se mantêm informados sobre as alterações no ambiente tributário, mas optam por adotar uma atitude de observação.

Para Roberto Haddad, o mais importante é que as empresas se mantenham informadas e conscientes sobre as boas práticas de gestão tributária e sobre mudanças no ambiente tributário nacional e internacional. Isso independe da postura que a empresa vai adotar. Até porque se trata de uma decisão estratégica, que leva em consideração

variáveis das mais distintas, tais como tamanho da empresa, cultura interna, estilo de gestão etc. A partir disso, é possível traçar qual é a estratégia de gestão tributária que melhor se adapta às necessidades da companhia.

ConseqüênciasEssas novas posturas, fruto de um novo ambiente tributário, mais complexo e que exige maior transparência, acarreta diversas conseqüências para a administração da companhia. A mais significativa são os aumentos de custos, seja em compliance ou em contratações na área tributária. Isso acontece porque as novas exigências legais e regulatórias aumentam de maneira significativa o volume de tarefas administrativo-tributárias das empresas. Esse processo é potencializado ainda mais nas multinacionais e nas empresas de capital aberto – que devem cumprir com regras rígidas para ter suas ações negociadas em bolsa de valores.

“Houve um aumento significativo nas obrigações acessórias, no investimento em controles internos, na elaboração de relatórios mais transparentes etc. E isso traz novos custos”, explica Marienne

Munhoz. Também fazem com que sobre menos tempo e recursos para a gestão estratégica do departamento tributário, ao mesmo tempo em que a percepção do mercado em relação à maneira como a empresa lida com suas questões tributárias torna-se mais relevante para o valor da empresa.

A direção inexorável rumo à governança tributária já está bem definida para a maioria das empresas. Mas, da teoria à prática há um longo caminho a ser percorrido. Não se pode afirmar que vem ocorrendo um progresso significativo, no que tange às práticas tributárias. Ainda é cedo para afirmar que a gestão tributária já está incorporada às funções dos conselhos das companhias. “Na maior parte das companhias, ainda é um tema mais ligado ao cotidiano dos diretores financeiros”, esclarece Haddad.

Para entender melhor como esse processo acontece internamente às empresas, a KPMG International realizou diversas pesquisas sobre o assunto. O estudo The Tax Function, Facing up to the Changing World, por exemplo, mostrou que a esmagadora

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maioria (84%) dos que responderam afirmaram que a governança tributária era um tema que estava ganhando espaço na agenda dos Conselhos de Administração e Fiscal. Por outro lado, de acordo com a pesquisa KPMG International’s Global Surveys of Tax Departments, apenas 40% dos participantes haviam recebido instruções dos conselhos quanto a riscos tributários. E 25% dos diretores de Auditoria Interna acreditavam que o status das questões tributárias da empresa havia se alterado como resultado da SOX, conforme a pesquisa Perception Versus Reality? The Relationship Between Internal Audit and Tax.

“A complexidade das regras tributárias reduz o tempo para análises aprofundadas e para a tomada de decisões estratégicas. Além disso, existe a percepção de que tributos é assunto puramente financeiro. O resultado disso é a assunção não-consciente de riscos financeiros e reputacionais, e a perda de oportunidades de economia tributária”, avalia Marienne Munhoz.

CenárioO processo que culminou na inserção das boas práticas tributárias em um conceito mais amplo de governança corporativa começou há cerca de três anos. Àquela época, principalmente nas economias mais avançadas do mundo, a governança corporativa já era um fator de extrema importância na análise dos investidores. Foi então que o gestor de fundos de investimentos Henderson Global Investors elaborou a chamada Henderson Letter, enviada a 350 CEOs de grandes corporações listadas na FTSE, do Reino Unido, questionando-os sobre como suas empresas administravam os temas tributários.

Alguns anos antes, em 2002, na esteira dos escândalos corporativos ocorridos nos EUA, o Congresso norte-americano havia aprovado a SOX. Outros países do mundo seguiram o exemplo e promulgaram legislações com teor semelhante. Marienne Munhoz cita, como exemplo da mudança de mentalidade empresarial sobre a questão tributária, um discurso de uma autoridade do fisco australiano

no sentido de que o incentivo à boa governança e, conseqüentemente, o comportamento tributário responsável, deveria ser o pilar da estratégia de cumprimento às regras tributárias pelas grandes corporações.

Em setembro de 2004, autoridades tributárias de vários países formaram o Jitsic (The Joint International Tax Shelter Centre), organismo internacional para a troca de experiências e de informações. Em 2006, Estados Unidos, França, China, Japão, Coréia do Sul, Alemanha, Canadá, Índia, Austrália e Grã-Bretanha estabeleceram, com o mesmo objetivo, o The Leeds Castle Group. “Há uma tendência mundial de imprimir um cunho moral às relações fisco-contribuinte, de questionar o que é um comportamento tributário aceitável e de indagar sobre a justiça dos planejamentos fiscais. Neste momento, mais do que nunca, é importante distinguir o planejamento tributário lícito da evasão fiscal ilícita”, conclui a sócia da KPMG.

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TAX 23

Exemplos de Boas Práticas de Gestão Tributária

Estratégia - Estratégia fiscal derivada e alinhada à estratégia comercial. - Estratégia fiscal compreendida, acordada e apoiada pelo Conselho. - Políticas sobre as principais estratégias e riscos documentadas, comunicadas e compreendidas. - Estratégias implementadas para atender às expectativas dos stakeholders, contando com os correspondentes controles adequados.

Relacionamento e - Departamento fiscal considerado parceiro comercial, com relacionamentos e claros pontos de contato Comunicação para os negócios.(internos e externos) - Departamento fiscal reporta-se ao Conselho e está próximo ao Diretor-Financeiro, o qual é o primeiro ponto de contato para assuntos fiscais. - Os objetivos do departamento e os impulsionadores estratégicos são compreendidos pelo negócio como um todo. - Os stakeholders do Departamento Fiscal são identificados (por exemplo, autoridades fiscais) e os relacionamentos são gerenciados.

Pessoal (staff) - A equipe fiscal deve entender seu papel para alcançar a estratégia de negócios e estruturar a entrega de seus serviços com isso em mente. - Claras funções e responsabilidades no gerenciamento de impostos, incluindo o suporte adequado aos clientes internos. - Uso de pessoal adequadamente qualificado, com áreas de responsabilidade definidas. - Programas de treinamento para provedores de informações fiscais e para a equipe fiscal.

Processo e Tecnologia - Processos fiscais coordenados com o gerenciamento de tributação para melhorar a eficiência e a acuricidade. - Sistemas tecnológicos fiscais coordenados com os sistemas contábeis. - Informações fiscais relevantes incorporadas aos processos de codificação e aos sistemas contábeis.

Controle e - Política de risco fiscal alinhada à política de risco do negócio.Gerenciamento - Ambiente de controle estabelecido pelo Conselho.de Risco - Identificação de risco e processos de controle implementados e sujeitos a verificações.

Contabilidade - Atividades de reporting e forecast coordenadas com a função financeira. - Controles para confirmar a acuricidade das provisões contabilizadas (por exemplo, trilhas de auditoria adequadas). - Conseqüências contábeis de qualquer planejamento fiscal integralmente considerado.

Cobertura - Tributação na pauta do Conselho. - Cobertura adequada de todos os impostos. - Processo formal para incrementar o conhecimento de impostos no negócio.

Planejamento - Departamento Fiscal envolvido proativamente em nível estratégico. - Departamento Fiscal com fácil acesso às informações gerenciais e aos tomadores de decisões. - Procedimentos do departamento fiscal alinhados às políticas de risco.

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Eficiência Operacionalnos bancos brasileiros

Nos últimos anos, após um processo de consolidação no qual pequenos bancos pouco eficientes quebraram e grandes players internacionais invadiram o mercado nacional, o sistema bancário do Brasil entrou em um novo cenário. Nele, a competição para atrair clientes está muito mais acirrada, principalmente entre os maiores impérios financeiros internacionais e os grandes bancos brasileiros. O sistema financeiro nacional tornou-se muito mais líqüido, o que trouxe um aumento considerável na concessão de crédito ao público.

Como solução para esse novo panorama, agravado pelo fim do lucro razoavelmente fácil trazido pela hiperinflação, os bancos vêm cada vez mais aprimorando a gestão interna e de despesas, e buscando eficiência na administração para otimizar o resultado. A performance das instituições financeiras está diretamente relacionada ao grau de eficiência com que os vários

Artigo 25

ARTIGO

Uma análise exploratória a partir das principais instituições financeiras do país

Francilanes Soares Ribeiro, auditor da KPMG no Brasil na área de Audit do escritório de Brasília

processos ocorrem internamente. Entre as principais ferramentas de mensuração, está o Índice de Eficiência Operacional (IEO). A partir de uma análise dos números dos 32 maiores bancos brasileiros, classificados pelo ranking do Banco Central, o qual disponibilizou todos os dados necessários, foi possível identificar as variáveis que mais impactaram este indicador. Para tanto, o trabalho utiliza ferramentas estatísticas, objetivando a análise de desempenho e a estrutura do indicador IEO, a partir de um conjunto de variáveis.

A fórmula utilizada para se chegar ao IEO foi a seguinte: Despesas de Pessoal + Outras Despesas Administrativas + Despesas Tributárias) / (Margem Financeira Bruta + Receitas de Prestação de Serviços + Outras Receitas ou Despesas Operacionais). Quanto menor for o índice, mais eficiente é a instituição.

Francilanes Soares Ribeiro, auditor da KPMG no Brasil na área de Audit do escritório de Brasília

O estudo foi apresentado no 10º Congresso Internacional de Custos “Gestão de Custos, Controladoria e Mundialização” em Lyon, França, pelo autor Francilanes Soares Ribeiro e pelo orientador do trabalho Idalberto J. Neves Junior. Foi também aprovado pelo 8º Congresso USP de Controladoria e Contabilidade

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transações por meio da internet, do caixa eletrônico e do celular. Muitas vezes, em tempo real.

Portanto, os investimentos em TI estão associados à necessidade de melhorar a eficiência operacional, uma vez que um bom desempenho depende de processos ágeis e eficientes para gerar melhores retornos financeiros e alavancar os ganhos da companhia.

O trabalho de análise sobre a eficiência operacional dos bancos também constatou que, no período de 2001 a 2005, os bancos melhoraram o desempenho, o que tornou a indústria bancária mais sólida e eficiente na prestação de serviços financeiros. Nesse contexto, é possível inferir que a Eficiência Operacional no setor bancário é um dos fatores mais importantes para alcançar bons resultados.

26 Artigo

Tipo de controle Média Mediana

Privado com participação estrangeira 53% 56%

Privado nacional 59% 59%

Privado de controle estrangeiro 60% 60%

Público estadual 62% 62%

Público federal 68% 61%

Média e Mediana da Eficiência OperacionalO resultado evidenciou que, das 46 variáveis independentes que impactam o IEO da instituição, nove delas explicam 48% do índice. São elas: receitas de prestação de serviço, despesas operacionais, índice de imobilização, despesas tributárias, lucro líqüido, captação no mercado, despesa de intermediação financeira, operações com título de valores mobiliários e outras receitas operacionais. Essas são as questões que têm mais impacto sobre a eficiência dos bancos, respondendo por quase metade do índice. No entanto, os 52% restantes do IEO são explicados por outras variáveis não mensuradas nesta análise.

Para a análise, os bancos foram divididos de acordo com o controle de seu capital: privado com participação estrangeira; privado nacional; privado de controle estrangeiro; público estadual e público federal. Em relação à média e mediana da Eficiência Operacional, houve algumas diferenças.

Os bancos mais bem posicionados no mercado financeiro, de acordo com a média de eficiência foram: privado com participação estrangeira; privado nacional; privado com controle

estrangeiro; público estadual; e público federal. Pelas medianas obtidas, verificamos que ocorre uma mudança nesta classificação, onde os bancos públicos federais aparecem antes dos bancos públicos estaduais.

TI e Eficiência OperacionalNeste processo, a Tecnologia da Informação (TI), sem dúvida alguma, tem papel decisivo na construção do dinamismo do setor financeiro, uma vez que a esfera bancária é um dos setores que mais investem em TI. Assim, os produtos e serviços bancários são cada vez mais automatizados e tecnológicos, o que propicia enormes ganhos de eficiência e, conseqüentemente, economia de custo e de tempo. O computador tem exercido um forte impacto sobre as operações bancárias. Hoje, a indústria bancária é a mais informatizada de todas. É possível fazer

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Opinião 27

OPINIÃO

Os incentivos fiscais fazem parte da história econômica do Brasil. A vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, por exemplo, trouxe consigo várias vantagens para os empreendedores dispostos a correr riscos. A indústria automobilística e de autopeças contou com sólidos incentivos para se instalar ao redor do ABCD, na Grande São Paulo, nas décadas de 1950/70. E os subsídios, inclusive tributários, foram um dos principais combustíveis para a construção de Brasília, assim como para a implantação da Zona Franca de Manaus.

O debate ganhou novos contornos com o fim da hiperinflação, na década de 1990, que forçou o poder público e as empresas a se adequarem à economia “normal”, isto é, considerar cada elemento na hora de fechar as contas.

Em paralelo, a globalização e a maior abertura da economia brasileira ao contato e à concorrência internacional, vêm levando as empresas a multiplicarem estratégias para competir em melhores condições. Isso implica a aceleração das fusões e aquisições, que conferem escala às corporações, mas também a transferência de plantas produtivas e demais estruturas, de uma cidade para outra, ou entre estados e países. O motor dessas transferências é a busca por melhores condições de desempenho. E os incentivos fiscais são um componente importante dessa equação.

No Brasil, esse movimento levou ao quase desaparecimento de bairros e regiões industriais de tradição centenária nas principais metrópoles, e também como ao surgimento de novas áreas como players de alta competitividade.

Além do estímulo para que municípios e regiões busquem novas vocações, o que revigora a vida econômica.

A conclusão é que o debate sobre os incentivos fiscais sempre será multifacetado e está muito longe de chegar a um fim. Reunidos para discutir o assunto, apresentaram suas opiniões, José Alves, presidente da Refrescos Bandeirantes, de Goiás, e da ADIAL - Brasil, entidade representativa de empresas que operam com incentivos fiscais; o economista Luís Paulo Rosemberg, sócio-diretor da Rosemberg & Associados, e Sergio Barroso, presidente da Água Santa Associados, membro do conselho da FIESP e da Câmara Americana e foi presidente da Cargill e da Fundação Cargill no Brasil.

As opiniões a seguir expressas são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a visão da KPMG no Brasil sobre o assunto.

Em busca do equilíbrio

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28 Opinião

O Governo Federal fala em eliminar a guerra fiscal como parte de um processo de reforma; em extinguir os benefícios oferecidos por determinados estados, mas não fala em reduzir a carga tributária federal. Quer dizer: estamos discutindo a tributação estadual sem debater o problema federal.

O fato é que tanto o incentivo fiscal como o imposto representam um certo grau de distorção sobre a economia. Isso porque o imposto arrecada recursos de alguns setores e empresas, e os redistribui para o coletivo. O incentivo vai no caminho oposto: tira do conjunto, beneficiando certos setores.

Mudar e não mudarLuís Paulo RosenbergSócio-diretor da Rosenberg & Associados

O incentivo fiscal deveria, na verdade, ser estimulado dentro de limites que coíbam a corrupção. E desde que o incentivo seja concedido sempre na margem do tributo e não tirando recursos que financiam atividades essenciais ao bem-estar da população, como saúde ou educação.

De qualquer forma, não creio que haja clima institucional para uma verdadeira reforma fiscal. Que setor de negócios foi convidado a participar de alguma discussão? Então, qualquer mudança que houver tende a ser algo aleatória, sem fazer parte de um processo de melhoria contínua. Eu preferiria um estudo sério, feito de forma isenta e profissional, que trouxesse ao Legislativo propostas capazes de fazer bem ao Brasil, de maneira que o processo não fosse de curta duração. Sim, porque não é possível fazer uma reforma tributária a cada dois ou três anos.

Lógico, torcemos para que mesmo as menores mudanças no âmbito tributário e dos benefícios fiscais tenham um efeito benéfico sobre toda a sociedade.

As opiniões aqui expressas são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a visão da KPMG no Brasil sobre o assunto.

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Opinião 29

O país deve ter claro que os incentivos são os responsáveis por levar a indústria a outros pontos do território nacional, diminuindo desigualdades históricas. O que é preciso é regulamentar o uso dos incentivos, de forma a evitar contradições e dar plenas garantias aos investidores, com destaque para os empresários do exterior.

O problema é que a Constituição de 1988 não deixou aos governadores outra alternativa senão aumentar o ICMS para suprir suas demandas de caixa.

Mas, o impacto de uma medida como a eliminação dos incentivos seria maior, levando-se em conta o cenário internacional. Isso porque as empresas multinacionais e os fundos de investimentos prestam muita atenção

Regulamentar, não eliminar benefícios

no perfil e no volume dos benefícios fiscais, na hora de definir para onde irá seu dinheiro. E se o Brasil não contar com essa vantagem competitiva, outros países da região, como o Chile ou o México, oferecerão benefícios sem qualquer problema.

A conclusão é que eliminar os incentivos vai contra todas as tendências da economia moderna. O Brasil precisa dar o passo fundamental: regulamentar esses benefícios. Para começar, é importante estabelecer alíquotas mínimas de tributos que não sejam inferiores às taxas praticadas em operações estaduais. O segundo passo seria fazer com que os benefícios sejam fixados de acordo com o PIB de cada estado.

Outro ponto fundamental é definir que os benefícios serão de longa duração. Sem isso, o investidor de porte, seja ele nacional ou internacional, não poderá colocar o Brasil e o estado entre suas prioridades, na hora de definir onde alocará seu capital. Imagine, então, se os benefícios forem eliminados de uma hora para outra, representando a ruptura de contratos. Pode-se imaginar o impacto que isso teria sobre a credibilidade internacional, que é essencial à manutenção do desenvolvimento auto-sustentado.

José Alves FilhoPresidente da Refrescos Bandeirantes e da Associação Pró-Desenvolvimento Industrial (AdialBrasil), que reúne as empresas que operam com incentivos fiscais

As opiniões aqui expressas são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a visão da KPMG no Brasil sobre o assunto.

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30 Opinião

Guerra Fiscal ou incentivo fiscal?Sergio BarrosoÉ Presidente da Água Santa Associados, membro do conselho da FIESP e da Câmara Americana e foi presidente da Cargill e da Fundação Cargill no Brasil

Utiliza-se com freqüência o termo Guerra Fiscal de forma errônea, quando o correto seria empregar incentivo fiscal, um mecanismo essencial para levar o desenvolvimento ao interior do país. Não podemos analisar os incentivos apenas do ponto de vista de uma região, já que eles são capazes de permitir um desenvolvimento econômico mais homogêneo, o que é bom para todo o país.

Acredito que os incentivos devem ser concedidos por tempo determinado como cinco ou dez anos, dependendo da situação e da indústria envolvida já que incetivos fiscais não podem ser concedidos eternamente. Qualquer atividade após um determinado período tem que ser autosuficiente.

O empresário enfrenta, ainda, um obstáculo muito grave, no que se refere aos incentivos: a mudança de regras de uma hora para outra, que causa uma profunda incerteza e inibe investimentos.

Por outro lado, não há em curto prazo a possibilidade de uma reforma tributária ampla. Acredito que uma simples alteração no ICMS, que é o que mais vem sendo discutido, gerará apenas mais um grande imbróglio, a exemplo do que ocorreu com o Super Simples, que não representou uma verdadeira desoneração tributária para a imensa maioria das empresas. Governo Federal deveria se ater à redução do risco-país, assegurando condições de mercado justas, que convençam o empresário, nacional ou internacional, a investir mais.

As opiniões aqui expressas são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, a visão da KPMG no Brasil sobre o assunto.

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Na última década, o Brasil passou por uma total reformulação do setor elétrico. Tudo começou com a falta de capacidade governamental de investir no setor, que é essencial para o desenvolvimento econômico. Como conseqüência, o governo Fernando Henrique Cardoso deu início ao processo de privatização, em 1997. Logo após, em 2001, veio a crise que desencadeou o apagão elétrico e, por fim, a reformulação do setor, com a entrada em vigor do novo modelo de comercialização de energia.

Nesse modelo, as concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica só podem estabelecer contratos de compra de energia por meio de licitação, na modalidade de leilão, ou por leilões públicos. Apesar de muito criticado, esse sistema já é alvo de estudos para implementação em outros países. Vários deles, como China, Coréia do Sul e França já enviaram representantes para visitar a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), órgão governamental brasileiro instituído em 2004 com o objetivo de promover os leilões de energia elétrica.

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Para fazer um panorama da situação da comercialização da energia no Brasil, Antônio Carlos Machado, presidente do Conselho de Administração da CCEE, falou com exclusividade à KPMG Business Magazine.

KPMG BUSINESS MAGAZINE – Antes da adoção dos leilões de energia, em 2004, como era a comercialização de energia no país? Antônio Carlos Machado – Os leilões são uma conseqüência do novo modelo, que foi idealizado em 2003 e implementado em 2004. Antes disso, a comercialização era praticamente livre, com apenas algumas regulamentações. Era necessário que a energia adquirida fosse composta, no mínimo, por 85% de contratos de longo prazo. Os 15% restantes poderiam ser de curto prazo ou adquiridos no mercado spot, que é o mercado de energia livre e funciona como uma bolsa de mercadorias. Depois, o mínimo passou para 95%.

Com o modelo anterior, era possível, também, o self dealing (auto-contratação), em que a empresa responsável pela geração podia vender

ENERGIA

Mudanças dos modelos de negociação de energia

Carlos Machado, presidente do Conselho de Administração da CCEE

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a energia para empresas do mesmo grupo. Esses contratos de self dealing eram limitados por um teto, chamado valor normativo, calculado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) segundo critérios técnicos. E não pelas leis de mercado.

O modelo também tinha problemas para fomentar a expansão. Houve até um racionamento, em 2001. A idéia de que o preço final pago pelo consumidor ou o valor oferecido no mercado spot aguçaria o apetite do investidor não funcionou. Isso mudou com o novo modelo, que facilitou a expansão do setor ao promover a competição na própria geração da energia elétrica. É importante ressaltar que os contratos já assinados foram todos respeitados pelo novo modelo. E o preço passou a ser regulado pelo mercado, através de leilões. Atualmente, são duas as diferenças essenciais entre os dois modelos:

1 – Competição na expansão da geração de energia 2 – Formação de preço através de leilões

Quais foram os motivos da implantação desse modelo? Que vantagens e desvantagens ele acarreta? O antigo modelo não oferecia o retorno de expansão que o país precisava. Houve uma necessidade de modernização do setor. A idéia de colocar a iniciativa privada como uma mola propulsora de investimentos em energia começou com a privatização do sistema de distribuição, que é o último canal, a ponta da cadeia de produção. A idéia era privatizar toda a distribuição, na realidade, esse índice chegou a 80%. Depois de concluído esse passo, viria a privatização da geração, para, só depois, iniciarem-se os investimentos na expansão da geração de energia elétrica. A transmissão continuaria estatal e neutra. Só a expansão das linhas de transmissão seria privatizada. Todo esse processo era muito lento e, no meio disso, aconteceu o racionamento. Ainda no final do governo FHC, vários relatórios ajudaram a identificar a série de distorções desse modelo. Na época, o chamado Relatório Kelman documento que serviu como base para os trabalhos da Câmara Setorial da Crise de Energia,

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apelidada de “Ministério do Apagão”, deu início a esse diagnóstico. No começo do governo Lula, a ministra Dilma Rousseff, então à frente do Ministério de Minas e Energia, montou uma equipe para finalizar a análise do setor iniciada pela equipe de FHC e estruturar um novo modelo para o sistema elétrico nacional, que deveria garantir:

1 – A expansão do setor2 – A estabilidade regulatória e a preservação de contratos3 – Modicidade tarifária, que é formação de preço através de leilões

O sistema de leilão revolucionou a comercialização de energia no país. Antes, quem ganhava a licitação pagava um preço ao governo, o UVP (uso do bem público), e só tinha a outorga da concessão. Com isso, tinha que conseguir vender a energia em contratos sólidos, uma vez que esses contratos serviriam também como garantia para o vencedor da licitação obter o financiamento da construção do empreendimento. Atualmente, quem vence o leilão já sai com o contrato e com condições de construir a usina. Isso também diminui o risco do processo.

Como o sr. analisa as críticas de que os leilões de energia velha tiveram uma defasagem muito grande nos preços e que isso desvalorizou os ativos já consolidados? Quem faz a crítica não é quem vende as energias nesses leilões. Um princípio fundamental do modelo é a separação entre energia velha e energia nova. A energia velha já foi amortizada. As usinas que ofertam essa energia já existem há 30, 40 ou 50 anos e já tiveram esse tempo para ressarcir os investimentos feitos em sua construção. Exatamente por isso, presume-se que essas usinas possam oferecer energia mais barata. Então, em primeiro lugar, a energia velha é relativamente mais barata do que a energia nova e a renovável.

A segunda questão é que, nesses leilões de energia velha, o preço foi mais barato porque havia muita oferta. Além disso, no primeiro leilão, as empresas estavam descontratadas, não tinham receita e, caso não vendessem a produção, poderiam quebrar. Então, além de haver uma oferta de energia muito grande, as empresas precisavam

muito de receita e cada uma delas tinha sua estratégia. Houve uma reorganização não somente institucional, mas, também, comercial. Com esse novo modelo, os balanços das empresas melhoraram muito e o das distribuidoras, também. Há uns quatro ou cinco anos, o vilão, na inflação, eram os preços administrados. Hoje, com o preço estabelecido pelas leis de mercado e a maior clareza nas regras, é possível haver um planejamento.

O que causou o recente adiamento dos leilões de energia nova e como está o leilão de fontes alternativas? Foram basicamente questões de oferta e questões regulatórias, que pretendem transformar os leilões mais atraentes aos investidores. Faltam alguns ajustes na transição de um modelo para outro. Os licenciamentos ambientais também são fatores para o adiamento. Resolveu-se, então, adiar para capturar mais ofertas. Procurou-se, primeiro, comercializar toda a energia advinda de fontes alternativas, já que o preço ainda não é competitivo, para, só depois, iniciar as ofertas de energia nova.

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Devido à total incapacidade do Estado em atender ao aumento na demanda, em alguns lugares, houve a adoção de um modelo em que o governo não tem ingerência. No entanto, essa idéia gerou distorções e surgiram mercados totalmente livres, que não estavam conseguindo se expandir. A primeira grande crise desse sistema aconteceu na Califórnia. Alguns países da América Central, por sua vez, conseguiram a receita, mas não a expansão. Afinal, a escassez acarreta preços maiores, o que reduz o incentivo para novos investimentos.

O sr. poderia fazer um panorama da matriz energética alternativa brasileira?No país, existem matrizes alternativas que já são competitivas, como a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas. Elas já estão começando a disputar mercado. Mas, a energia eólica e a fotovoltaica ainda estão longe desse processo. Só mesmo com incentivos.

Alguns especialistas dizem que, se o Brasil mantiver uma taxa de crescimento entre 4% e 5% ao ano, haverá falta de energia elétrica até 2010. O sr. concorda? Discordo. É muito improvável. Justamente por conta do modelo de comercialização. Aqui, a contratação é

Como funciona a comercialização de energia em outros países? Existem sistemas conhecidos, como o single-buyer (comprador único). Nele, o governo compra toda a energia. No Brasil, quem compra a energia são as distribuidoras e não o governo. A crítica ao sistema de single-buyer é de que ele torna o governo muito “pesado”, oferece risco concentrado em um só ponto e abre espaço para a ingerência de decisões políticas. Já a comercialização através de leilão é revolucionária e de pouco risco. Chegou-se à conclusão de que o Brasil tem condições de colocar a responsabilidade na distribuidora, já que ela é o caixa. Até porque os 80% da distribuição que já foram privatizados e os outros 20% que permanecem estatais são empresas muito sólidas. A distribuidora tem condições de manter o repasse integral e a neutralidade. O nosso modelo é uma variação aprimorada do single-buyer. Aqui, o governo só define as estratégias e as formas de contratação, mas quem contrata são as distribuidoras. Vários países estão interessados em conhecer o nosso modelo: Costa Rica, Coréia do Sul, China e Colômbia (que já está realizando seu primeiro leilão), por exemplo.

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feita com antecedência de cinco anos e pode haver ajuste em três anos. O governo também pode contratar energia de reserva e existe um comitê que monitora e acompanha tudo isso. Ou seja, caso haja qualquer problema, dá para tomar providências com antecedência. Os debates e os estudos também ocorrem antecipadamente. Hoje, há indicadores que ajudam a identificar e compensar uma eventual queda de oferta. Já estamos com energia contratada até 2012.

Como o sr. vê a atualização da matriz energética e seu impacto nos leilões, junto ao consumidor e para o mercado? O governo está tomando todas as providências para incentivar a comercialização de outras fontes de energia. Por exemplo, recentemente foram feitos leilões específicos de fonte alternativa. Entretanto, por muito tempo a energia hidráulica será predominante no Brasil. Até pela abundância de rios. Estamos passando por um momento de transição, pois, fora as bacias Amazônica e do Tocantins, onde se concentram 70% do potencial hidráulico do país, todas as outras estão com capacidade quase esgotada. O cuidado no uso desse potencial hidráulico é muito mais ambiental. E a questão é saber como usar sem prejudicar o meio-ambiente do

entorno. Mas, essa realidade não afasta a possibilidade nem a necessidade de incentivar as energias alternativas. Além disso, o melhor uso da energia é outro assunto que deve ser considerado. A cultura e a educação para o melhor uso são essenciais. O governo está analisando todas essas particularidades do sistema.

O crescimento da indústria sucroalcooleira faz com que os usineiros vejam a geração de energia como um produto?O setor de açúcar e álcool vai ser o grande segmento energético nos próximos 20 ou 30 anos. Mesmo com o aparecimento de novas tecnologias de extração, a Petrobras, por exemplo, domina a tecnologia de extração em águas profundas, o petróleo vai acabar. O etanol, em substituição ao metanol, é a grande vantagem que o setor sucroalcooleiro tem para oferecer. Eu vejo a cana-de-açúcar como o grande negócio energético do futuro. Ela é inteiramente aproveitável: desde o açúcar até o bagaço, que também pode ser vendido e aproveitado. Em alguns leilões, o bagaço já é comercializado. Por enquanto, os usineiros ainda vêem o bagaço como um produto menos nobre. Mas, com o avanço da utilização do bagaço na produção de energia, eles vão entender melhor suas qualidades.

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“Estamos passando por um momento de transição, pois, fora as bacias Amazônica e do Tocantins,

onde se concentram 70% do potencial hidráulico do país, todas as outras estão com capacidade quase esgotada”

Antônio Carlos Machado

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O Brasil tem uma indústria altamente competitiva no setor sucroalcooleiro. No entanto, o avanço desse setor é acompanhado por diversos questionamentos, principalmente no que se refere à questão ambiental. O fato de o etanol ser tão amplamente debatido na sociedade demonstra a importância desse novo segmento para o desenvolvimento econômico, social e científico do país.

Não é de hoje que os ambientalistas vêem com contrariedade o aumento do espaço demandado pelas plantações para a produção de biocombustíveis. Ao mesmo tempo, os ativistas ambientais também alertam para o perigo do aquecimento global e reconhecem nos combustíveis renováveis uma alternativa viável à queima de combustíveis fósseis, esses, sim, muito mais poluentes.

Na corrida para desenvolver uma indústria economicamente viável de combustíveis renováveis, o Brasil saiu

Etanol: desafios e oportunidades

na frente. Ao lado dos Estados Unidos, é o maior produtor de álcool do mundo. Os norte-americanos produzem etanol a partir do milho. Os brasileiros, da cana-de-açúcar. Isso é uma vantagem competitiva considerável, já que a cana tem uma produtividade muito maior, se comparada ao milho, na produção de etanol.

Está também evidente para o mundo que essa nova cultura de biocombustíveis deve vir acompanhada de um forte compromisso com a sustentabilidade. Além disso, trata-se de um tipo de energia sujeita aos reveses do clima, da força de trabalho e de políticas governamentais e de regulação. O governo e demais agentes direta ou indiretamente envolvidos precisam se dispor a debater amplamente o assunto, abordando, por exemplo, o uso responsável da terra.

Meio AmbienteSegundo Alberto Bressan, sócio da

BIOCOMBUSTÍVEIS

Alberto Bressan, sócio da KPMG no Brasil na área de Audit

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KPMG no Brasil na área de Audit, são divulgados muitos dados sobre o manejo responsável da terra, tanto em âmbito nacional, quanto internacional. Contudo, dadas as dimensões do Brasil, as bases utilizadas nem sempre são precisas. “Ouvimos, ou lemos, que o Brasil está trocando a produção de alimentos por etanol. Será verdade? Tomemos, por exemplo, a produção de grãos. Segundo dados preliminares, a safra do próximo ano será 25% superior à de 2005. Esse índice é bem mais alto do que o de crescimento populacional no mesmo período”, explica Bressan.

O sócio da KPMG lembra que a discussão sobre o desmatamento supostamente necessário para a produção de biocombustíveis é outro tema que não se sustenta. “Precisamos considerar dois aspectos. Primeiro, o governo deve divulgar, no segundo semestre de 2008, quais áreas podem ser utilizadas para a atividade agrícola. Ou seja, não somente para a cana-de-açúcar. Segundo, o Brasil tem ainda aproximadamente 60 milhões de hectares disponíveis para o plantio, sem a necessidade de desmatamento”, avalia.

A monocultura da cana-de-açúcar e o esgotamento do solo causado pela produção contínua são assuntos vistos como desafios para o futuro

do setor. Aqui, também, reside outra oportunidade. O avanço tecnológico nessa área beneficia tanto os produtores quanto a natureza. “Nos últimos anos, o setor sucroalcooleiro desenvolveu técnicas para evitar a degradação do solo, seja por meio dos componentes químicos utilizados, seja pela reciclagem das áreas de plantio”, afirma o sócio da KPMG.

Recentemente, foi instalada na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para reduzir o prazo para o fim da queima da palha da cana-de-açúcar. Essa prática é considerada uma das principais causas da poluição no Estado. O problema para a adoção imediata do fim da queima é o que fazer com a mão-de-obra que ficará ociosa com a colheita mecanizada. Essa questão, de acordo com Bressan, é complexa, já que a recolocação do grande volume de mão-de-obra hoje empregada no corte da cana é um problema que exige mais estudos.

TecnologiaA utilização dos resíduos de cana-de-açúcar para a produção de biomassa, segundo o sócio da KPMG, é um processo possível. Mas o assunto é apontado como um dos maiores desafios para a ciência sucroalcooleira,

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nos próximos anos. “No que diz respeito ao etanol, no entanto, o que deverá determinar sua evolução serão o custo de produção, o rendimento agrícola e industrial e a logística de distribuição”, explica.

A produção de energia a partir de matrizes diferentes é determinada pelo custo de cada uma delas. “Não restam dúvidas de que o combustível fóssil tem data limite. Globalmente, ainda não há uma matriz energética alternativa definitiva. A energia renovável é uma opção importante, mas existem outras que dependem da otimização do custo de geração. A produtividade por hectare do etanol da cana é superior à do milho. Além disso, consome menos energia no processo de extração”, enfatiza Bressan.

Alberto Bressan comenta que o país tem grande potencial para exportar, devido às condições climáticas, à abundância de áreas férteis e, sobretudo, à tecnologia desenvolvida para a produção. Mas, para o Brasil se tornar um importante player nas exportações, é preciso superar alguns obstáculos. Na Europa, são utilizados dois tipos de etanol: o álcool anidro, que é adicionado à gasolina, e o álcool hidratado, usado exclusivamente como combustível. “Pela legislação dos países do velho continente, há percentuais

definidos para a adição de álcool anidro na gasolina. Isso faz com que o volume exportado para a Europa não seja tão grande. Se o mercado europeu optasse pelo álcool hidratado, o potencial de exportação do etanol brasileiro seria muito maior”, acrescenta Bressan.

Um dos grandes desafios para que o etanol se torne uma matriz energética mais global e entre com força no mercado europeu são as baixas temperaturas daquele continente (o álcool não funciona em baixas temperaturas) e a política européia de subsídios. “Esse tipo de combustível tem algumas restrições de uso no frio. Isso deve ser resolvido até 2009, com o aperfeiçoamento de uma nova tecnologia já desenvolvida. Outro ponto importante é o subsídio que a Comissão Européia concede aos produtores locais de biocombustíveis, para compensar a maior produtividade brasileira. Sem contar que as tarifas aplicadas na importação dos nossos produtos são muito altas”, conclui o sócio da KPMG.

A produção de energia a partir

de matrizes diferentes é determinadapelo custo de

cada uma delas

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Preocupação ambiental é o motor da inovação

Os últimos anos têm registrado grandes avanços na tecnologia automobilística. Em particular, no que se refere ao uso de combustíveis menos poluentes, reflexo da crescente preocupação mundial com o efeito-estufa. E o Brasil está na vanguarda desse processo, principalmente devido ao pioneirismo no desenvolvimento de motores bicombustíveis, hoje exportados para todo o mundo.

A Magneti Marelli, empresa de capital italiano, presente no Brasil desde 1978, é a pioneira no desenvolvimento da tecnologia conhecida como SFS (Software Flexfuel Sensor), que reconhece o combustível utilizado pelo motorista a cada momento, adaptando automaticamente o motor às suas características. Só no Brasil, mais de quatro milhões de veículos flex fuel chegaram às ruas, desde o lançamento do primeiro modelo, há menos de cinco anos.

Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), em julho, os veículos com motores tipo flex fuel representaram 88,3% das vendas de automóveis e comerciais leves no

mercado interno. Foram 182,1 mil veículos bicombustíveis, de um total de 206,2 mil unidades comercializadas no mês.

Foi a maior participação desde que as empresas passaram a adotar a tecnologia. No primeiro semestre do ano, o índice variou entre 82% e 86%. No ano, a participação dos motores tipo flex está em 84,4%. Dos demais automóveis vendidos, 8,1% são movidos à gasolina (16.646) e 3,6% a diesel (7.423). Nos dois casos, é a menor participação do ano.

No ano passado, a participação dos bicombustíveis começou o ano em 72,8% e encerrou em 82,2%. De acordo com a Anfavea, mais de três milhões de veículos já foram produzidos no Brasil com essa tecnologia.

A frota brasileira de veículos bicombustíveis deve chegar a 15 milhões de unidades até 2013, segundo estimativa da Anfavea, e devem representar 52% do total da frota, que deve alcançar 29 milhões de automóveis.

Silverio Bonfiglioli, presidente e CEO da Operação Norte e Sul Americana da Magneti Marelli

Crescimento da demanda por energia renovável faz setor automobilístico

aumentar investimentos em pesquisas

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Líder nacional no segmento de autopeças, a Magnetti Marelli detém 48% do mercado brasileiro de flex e vê crescerem dia a dia as oportunidades de exportações, principalmente rumo à Europa e à China. Isso porque o mundo está em transformação e o preço do petróleo chegou, em outubro, ao valor recorde de US$ 90,07 o barril. A consciência ambiental aumentam a necessidade de substituição do petróleo como matriz energética.

Silverio Bonfiglioli, presidente & CEO da Operação Norte e Sul Americana e Representante da Magneti Marelli Holding no Mercosul, observa a recente tendência mundial de estender a todos os veículos as tecnologias de ponta em energia limpa. “Existe a necessidade de atender a três pontos importantes para a sustentabilidade: custo acessível, alternativa ao petróleo e redução de emissões de CO²”, diz. Ele lembra, porém, que, apesar de todos os esforços, as alternativas energéticas ao petróleo ainda são muito caras. “A única tecnologia que se mostrou acessível foi a do biocombustível”.

Há dez anos, a Magneti Marelli vem trabalhando com a perspectiva de disseminação do uso dos biocombustíveis. “Queríamos produzir um carro que pudesse rodar todo o Mercosul utilizando qualquer combustível que encontrasse”, explica Bonfiglioli. Ele lembra que, nos anos 70, diante da crise mundial do petróleo, o Brasil sofreu muito menos que outros países, por conta da tecnologia do álcool. “Houve uma verdadeira febre de produção de veículos a álcool. Em certo momento, 95% dos carros novos produzidos no Brasil utilizavam álcool combustível”, conta o executivo.

Na década seguinte, o preço internacional do açúcar aumentou muito, o que fez os produtores deixarem um pouco de lado o álcool. Veio, então, o medo do desabastecimento e a produção de carros a álcool caiu a 1% do total.

A busca por combustíveis não-fósseis, menos poluentes, modificou outra vez a situação. Hoje, são produzidos a cada ano no mundo cerca de 65 milhões

de veículos. Desses, 72% utilizam gasolina; 23%, diesel; 3%, álcool; 0,5% têm motor elétrico; 1% usam GNV e 0,2% são híbridos. “O mundo ainda é bastante dependente do petróleo; cerca de 95% de todos os combustíveis vêm daí. Mas, no Brasil, os números são outros: 78% dos veículos utilizam álcool (sistemas flex); 1%, GNV; 3%, diesel e 18%, gasolina. A matriz energética veicular brasileira é muito mais limpa”, diz o executivo.

Segundo o presidente da Magneti Marelli, “no Brasil, é fundamental consolidar uma parceria de longo prazo entre governo, indústria e universidade, a fim de otimizar a produção, uma vez que o biocombustível veio para ficar”, enfatiza. “Se o país produzir 180 bilhões de litros de álcool ao ano, já conseguiremos substituir o chumbo tetraetila (n.r. aditivo altamente poluente, utilizado para aumentar o poder antidetonante da gasolina) dos carros que usam álcool na gasolina. Isso diminuiria drasticamente as emissões de poluentes na atmosfera”, conclui.

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Biocombustíveis 45

Tecnologia extremadaO Grupo Magneti Marelli é um dos maiores fabricantes de autopeças do mundo. Com mais de 5.700 colaboradores, é líder de mercado em sistemas de injeção eletrônica, sistemas de escapamento, painéis de instrumentos e amortecedores. Atua, ainda, no segmento de iluminação automotiva (faróis e lanternas) e na área eletrônica, fabricando body computer e telemática.

No Brasil, o grupo espera faturar mais de R$ 1,8 bilhão em 2007. Até o próximo ano, a Magnetti Marelli projeta duplicar sua área de pesquisas na unidade de Hortolândia (interior de São Paulo), para abrigar três novos laboratórios, destinados aos ensaios em motores e motos e para atender aos padrões de emissão de poluentes Euro 4 e Euro 5.

Em 2008, será inaugurada mais uma unidade industrial destinada exclusivamente à fabricação da nova geração de bicos injetores “ecologicamente corretos”. O investimento será de oito milhões de euros.

“A base da inovação da Magnetti Marelli é a Formula 1. Esse é o nosso grande campo de testes”, afirma Silverio Bonfiglioli. Ele lembra, por exemplo, que a tecnologia SFS foi classificada como uma das “101 inovações revolucionárias”, em livro lançado em julho pela Innovation Management, do Monitor Group. Seis tecnologias desenvolvidas no Brasil foram incluídas no livro.

O sistema multicombustível da empresa também ganhou um dos principais prêmios entregues nos Estados Unidos, o ACE Award, com o Sistema SFS FLEX, de responsabilidade do Institute of Electrical and Eletronics Engineers, na categoria “Tecnologia a Serviço da Sociedade”, com o Sistema TETRAFUEL.

Nos próximos dois anos, a empresa deverá introduzir no Brasil a tecnologia FreeChoice, que já é utilizada na Europa e na China. O FreeChoice foi criado para equipar veículos com motorização a partir de 1.0, e permitirá que o motorista escolha entre o câmbio manual ou automático. O passo seguinte será a conclusão do

desenvolvimento do ECS (Ethanol Cold System), que deverá

ser lançado em 2009. Essa tecnologia deverá eliminar a necessidade de reservatório adicional

de gasolina para partida a frio, presente hoje nos

veículos flex e ajudará na redução das emissões

necessárias para atingir os novos limites brasileiros do PL5 a partir do ano de 2009.

Sobre a Magneti Marelli

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Em um movimento que se intensificou nos últimos anos, e em linha com novos estudos que vêm demonstrando o perigo do aquecimento global, grandes corporações no mundo estão atentas à sustentabilidade, que se tornou parte de um conceito mais abrangente e que envolve a própria governança corporativa. As maiores companhias do mundo perceberam a importância de contar com processos internos transparentes e uma gestão voltada às boas práticas ambientais. Como conseqüencia dessa nova dinâmica, muitas companhias passaram a emitir relatórios de sustentabilidade. Ao comprovar que atuam de maneira sustentável, as empresas demonstram ao mercado que possuem visão de longo prazo em relação aos seus negócios. “O mercado percebe o diferencial das empresas que têm bons processos internos e boas

SUSTENTABILIDADE

Responsabilidade e consciência ambiental

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Sustentabilidade 47

práticas de gestão ambiental. Isso traz muito valor agregado para a companhia, principalmente porque demonstra uma estratégia de negócios de longo prazo. Em outras palavras, no decorrer do tempo, os negócios da empresa se sustentarão”, analisa Alexandre Heinermann, sócio da KPMG no Brasil na área de Sustentabilidade. Estudos indicam que as ações das companhias que possuem as melhores práticas de gestão ambiental se valorizam acima da média do mercado. Esse processo ocorre porque os grandes investidores preferem comprar ações de companhias sustentáveis. Como conseqüência, temos o aumento no valor de mercado dessas companhias.

No Brasil, esse movimento também dá sinais de força. “Estamos avançando bastante. Há um alinhamento,

A sociedade está cada vez mais preocupada com as alterações climáticas e com o impacto das ações do homem na natureza. As empresas que se adaptarem rapidamente a esse novo cenário poderão tirar proveitos econômicos

Alexandre Heinermann, sócio da KPMG no Brasil na área de Sustentabilidade

liderado principalmente pelas grandes companhias nacionais e internacionais que operam aqui, entre as incipientes práticas de sustentabilidade no país e a tendência mundial de valorização das ações de companhias que são referência no assunto”, atesta o sócio da KPMG. Quando um grupo de empresas, reconhecidas como best practices do mercado, traz inovações de gestão, de processos e de boas práticas de sustentabilidade, a tendência é que outras empresas sigam o mesmo caminho.

“Forma-se, uma consciência interna na empresa. A emissão de relatórios de sustentabilidade, que é a conclusão de todo o processo, revela o que a organização tem feito, o que sustentabilidade significa para a empresa e como é aplicado na prática. Afinal, para concluir o relatório, são necessários processos e estratégias alinhadas”, narra Heinermann.

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48 Sustentabilidade

Riscos financeiros x oportunidades de negóciosPara analisar os efeitos que o avanço da sustentabilidade acarreta nas empresas, a KPMG International elaborou o estudo Reporting the Business Implications of Climate Change in Sustainability Reports. A pesquisa contou com a parceria da Global Reporting Initiative (GRI), organização multilaterial para o desenvolvimento de relatórios de sustentabilidade. A análise examinou relatórios de sustentabilidade elaborados em cinco regiões geográficas: Estados Unidos e Canadá; Europa; Japão; Ásia-Pacífico (exceto o Japão); América do Sul e África.

Uma das conclusões do estudo é que as empresas pesquisadas, quando abordam o tema mudanças climáticas em seus relatórios de sustentabilidade, analisam mais as oportunidades de negócios do que os riscos financeiros. “É imperativo que as empresas equilibrem as oportunidades de lucros advindos dessa nova realidade e os riscos ambientais de sua atividade”, afirma Marco Fujihara, responsável pela Divisão de Sustentabilidade do Instituto Totum, consultoria especializada em sustentabilidade empresarial. “Até as

empresas de rating já mensuram os riscos ambientais para avaliar os prêmios de seguros das corporações”, completa.

Fujihara observa que “o próprio mercado assumiu o papel de regulador, no lugar do Estado. Essa mudança foi viabilizada pelo Protocolo de Kyoto, que abriu a possibilidade de negociações internacionais com créditos de carbono. Com certeza, há mais oportunidades para os países que cumprirem suas metas de redução de emissões e, com isso, poderão negociar o excedente dos créditos de carbono. Ou mesmo para aqueles, como o Brasil, que não são obrigados a cumprir metas específicas. Isso é sustentabilidade”, explica Fujihara.

Homem e naturezaEm âmbito global, é cada vez mais evidente a preocupação das empresas e da sociedade quanto às alterações causadas pelo homem na natureza. Para Fujihara, quanto mais as sociedades tomam para si o poder regulatório, mais notáveis são as mudanças de posicionamento. Assim é possível conciliar o melhor gerenciamento de riscos financeiros conseqüentes das alterações no clima. Afinal, diversos estudos apontam que os problemas

causados pela intervenção do homem na natureza, em um futuro próximo, poderão afetar seriamente a atividade econômica mundial. Segundo ele, é possível conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental. “Só é preciso descobrir qual é o ponto de equilíbrio nessa equação”, diz.

O executivo do Instituto Totum observa que os consumidores vêm assumindo um papel de destaque na identificação dos perigos e dos temas ambientais que exigem atenção constante. “É o

Marco Fujihara, responsável pela Divisão de Sustentabilidade do Instituto Totum

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consumidor que, de fato, impulsiona o mercado, os investidores e as empresas. Um exemplo disso são os alimentos orgânicos. Há 15 anos, mal se falava deles, mas a demanda fez aumentar expressivamente a oferta destes produtos”.

O estudo da KPMG mostra que, apesar do crescimento da importância do tema, a discussão sobre os relatórios de sustentabilidade ainda é incipiente. No Brasil, uma legislação federal que regulamenta os Balanços Sociais ainda está em tramitação no Congresso. Segundo Marco Fujihara, a auto-regulamentação dos produtores dos relatórios é, de fato, a melhor garantia de que esse material seja eficiente. “Se as empresas gerarem valor ao produzir os relatórios de sustentabilidade, não haverá necessidade de lei”, afirma.

O Brasil e a sustentabilidadeO fato de a desigualdade social nos países em desenvolvimento, em particular o Brasil, ser uma questão de extrema urgência, faz com que a sustentabilidade tenha um caráter diferenciado, em relação ao mundo desenvolvido. Segundo o executivo do Totum, a sustentabilidade reforça a importância das discussões acerca do desenvolvimento social e econômico. “É preciso maior legitimidade e compromisso de todos os envolvidos com a solução dos problemas”, acrescenta.

No Brasil, permanece, em muitas empresas, a visão de que o compromisso para com a sustentabilidade é, na verdade, muito mais uma estratégia de marketing. Mas o executivo do Instituto Totum alerta: “há uma clara diferença entre os relatórios gerados apenas com foco em marketing e aqueles que são produto da

verdadeira responsabilidade social. O que é preciso fazer é gerar valor a partir das ações adotadas além de apenas fazer marketing”, diz.

O estudo da KPMG ainda alerta para uma questão: a maior parte das ações sociais das empresas brasileiras se destinam às principais necessidades do país, com destaque para a educação, sobre as quais as empresas têm pouca influência e know-how. Ao mesmo tempo, diz o estudo, os stakeholders sentem falta de investimentos em práticas as quais a companhia de fato fará a diferença. Mas, segundo Fujihara, essa é uma contradição que tende a ser amenizada. “A tendência é que se chegue a um equilíbrio entre as demandas da sociedade e o que as empresas podem fazer, assim como os valores que podem ser gerados a partir dessas ações”, conclui Marco Fujihara.

O estudo Reporting the Business Implications of Climate Change in Sustainability Reports, elaborado pela KPMG International, em parceria com a Global Reporting Initiative, procura oferecer uma análise aprofundada sobre as razões que levam as principais companhias do mundo a emitir relatórios de sustentabilidade. A pesquisa constatou que as empresas, nesses documentos, se atêm mais nas oportunidades de negócios conseqüentes das mudanças climáticas e menos nos possíveis riscos financeiros. Trata-se, de acordo com o levantamento da KPMG e da GRI, de uma realidade que contrasta com as últimas evidências de que as alterações no clima representam sérios riscos econômicos em escala global.

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Os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, realizados em julho, foram o maior evento esportivo que o Brasil já organizou. Tanto a Copa do Mundo de 1950 como o Pan de São Paulo, em 1963, aconteceram em outros tempos, quando a comunicação internacional incipiente fazia do esporte um acontecimento de proporções mais reduzidas.

Agora, o grande desafio enfrentado por toda a organização do Pan do Rio foi mostrar ao mundo que o Brasil tem condições de sediar os dois maiores eventos esportivos mundiais: a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos. Recentemente escolhida pela Fifa como sede da Copa de 2014, o Brasil precisa provar que é capaz de, entre outras coisas, modernizar os estádios já existentes e, em muitos casos, de construir novas arenas.

Esse processo de modernização das instalações esportivas e de entretenimento só será economicamente viável se contar com a participação da iniciativa privada na construção e/ou gestão das arenas e

Esporte e Lazer 51

estádios. O grande problema é que a infra-estrutura no Brasil é precária e está longe de atender a todas as exigências da FIFA e de outras entidades esportivas internacionais. Para realizar os Jogos Pan-Americanos do Rio, por exemplo, foi preciso construir o estádio João Havelange, também conhecido como Engenhão. Moderno e muito bem estruturado, o palco do atletismo do Pan foi alvo de controvérsias pelo fato de sua construção ter sido integralmente financiada pelo poder público.

Para que o Brasil obtenha sucesso como sede da Copa de 2014, serão necessários grandes investimentos nos próximos anos. O Engenhão, por exemplo, foi erguido ao custo presumido de R$ 400 milhões. Depois do Pan, a Companhia Botafogo, consórcio formado pelo Botafogo, que vai mandar seus jogos no estádio, mais um investidor e um operador internacional de arenas, ganhou a concessão para sua exploração pelos próximos 20 anos. Em uma Copa do Mundo, serão cerca de dez cidades-sede. Logo, pelo menos dez estádios deverão ser reformados ou construídos.

ESPORTE E LAZER

Modelo de gestão Parceria com investidores privados e criação de conteúdo são

essenciais para a viabilidade comercial dos grandes recintos esportivos

e de entretenimento

Márcio Lutterbach, sócio da KPMG no Brasil na área de Financial Advisory Services

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Os recursosA grande dificuldade para a construção de estádios e arenas modernas está na viabilidade financeira. É preciso que a instalação seja rentável, não só para oferecer o retorno do capital investido, como para arcar com os enormes custos de manutenção. O Engenhão exige mensalmente R$ 400 mil em manutenção. “O principal desafio para a viabilidade financeira de um estádio de grandes proporções está na criação do conteúdo. A partir dos eventos que acontecerão no local será possível viabilizar uma série de negócios subseqüentes, responsáveis por gerar a receita que garantirá a rentabilidade da operação”, explica Márcio Lutterbach, sócio da KPMG no Brasil na área de Financial Advisory Services.

No caso dos estádios de futebol, a vantagem é que o conteúdo é bem definido. E há campeonatos minimamente estruturados que possibilitam um planejamento de médio prazo. Já as arenas multiuso sofrem com o desafio de viabilizar não só eventos esportivos, como de

entretenimento (shows, peças teatrais) e comerciais (feiras e convenções).

Há diversos modelos possíveis para a iniciativa privada participar da construção e/ou administração desses locais. No entanto, para que o empreendimento tenha viabilidade econômica, a sustentação financeira deve ser muito bem planejada. Nas mãos do Estado, a exploração profissional dos negócios acessórios acontece em ritmo menos acelerado do que o necessário. Por outro lado, a iniciativa privada tem muito mais agilidade para estruturar esses negócios acessórios. A contratação de empresas prestadoras de serviços, como montadoras de estandes, serviços de buffets e energia, pode ser mais rapidamente viabilizada. “A iniciativa privada tem melhores condições, inclusive de agilidade, para criar novos negócios e viabilizá-los, para que a receita extra se junte à bilheteria do evento esportivo tradicional. O segredo é maximizar as fontes de receita”, explica Lutterbach. Não por acaso, o modelo de estádio público sem um clube de futebol para gerir o conteúdo

não se sustenta em quase nenhum lugar. Exatamente por isso, é importante que os negócios subseqüentes ao evento principal consigam trazer pessoas ao complexo mesmo em dias sem jogos.

No caso dos estádios de futebol pertencentes ao Estado, o futuro também aponta para a exigência de uma parceria com algum clube de futebol, principalmente por meio da concessão de uso. Isso asseguraria um número mínimo de jogos no local e, conseqüentemente, a confirmação de uma atração regular para sustentar os negócios que poderão ser gerados. Mesmo assim, a realização de jogos não é suficiente. É preciso ampliar as fontes de receita.

Em um modelo sustentável de gerenciamento de arenas e estádios, há várias possibilidades de negócios. Entre eles:

• Venda de naming rights (direito de uma empresa dar nome à instalação)• Publicidade extra campo (a empresa

52 Esporte e Lazer

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pode dar nome a certos setores)• Marketing de reciprocidade (ceder espaço para publicidade em troca de serviços)• Marketing de relacionamento (empresa compra setor do estádio ou arena para distribuir ingressos entre clientes e fornecedores)• Camarote/Acesso VIP• Restaurantes e bares• Estacionamento• Lojas de apoio• Shows/ Arenas abertas para shows• Centro de Convenções

Quando as estruturas físicas para a criação de conteúdo e o gerenciamento dos negócios acessórios estão previstas desde o primeiro planejamento do local e fazem parte da construção do empreendimento, as possibilidades de exploração comercial aumentam consideravelmente. É possível criar uma estrutura em torno da arena/estádio para tornar o local um centro de trânsito de pessoas, mesmo nos dias em que não haja o evento principal. Academias de ginástica 24 horas, locadoras e restaurantes, por exemplo, poderiam

se beneficiar do maior fluxo de pessoas e, ao mesmo tempo, servir como pólo de serviços. Hotel, lojas e centros de convenções também são boas possibilidades.

O sócio da KPMG lembra que quanto mais conteúdo a instalação receber, mais fácil será vender os espaços publicitários e aproveitar as novas oportunidades de negócios.

A revitalização do entorno também é uma conseqüência importante. “É possível haver uma contrapartida social por parte da iniciativa privada que vai gerar o negócio. Quer dizer, a área ao redor do local vai ser recuperada e a região ganhará uma infra-estrutura muito mais adequada”, diz Lutterbach.

Flexibilidade do modeloEm termos jurídicos, a participação da iniciativa privada na gestão ou na viabilização de uma arena ou estádio pode acontecer tanto por meio de parcerias com outros entes privados (parceria entre um investidor e um clube de futebol), quanto por meio de

parcerias com o Estado. Nesse último caso, podem ser utilizados o modelo de concessões ou o de Parcerias Público-Privadas (PPPs). O importante é que haja a estruturação do negócio e a modelagem econômico-financeira para o empreendimento. E que os estudos dessa etapa sejam abrangentes.

Em relação a arenas e estádios já construídos, o grande desafio é a modernização das estruturas e a descoberta de novas oportunidades comerciais, principalmente no caso de estádios de futebol. Para as arenas, além de promover uma reforma que as torne verdadeiramente multiuso, é fundamental solucionar a equação manutenção x arrecadação. A KPMG, por exemplo, que ganhou a licitação do Governo do Estado de São Paulo para os estudos de modernização do complexo do Ginásio do Ibirapuera, vai modelar uma série de possibilidades de negócios que viabilizem financeiramente um dos principais complexos esportivos de São Paulo.

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54 Esporte e Lazer

“Algumas dificuldades são naturais. Trata-se de um modelo novo, que deve ser analisado com carinho. Mas, temos informações de que grandes players (investidores, operadores, construtores, clubes-parceiros e administrações públicas) analisam criteriosamente esse mercado, que oferece muitas possibilidades de expansão”, afirma Lutterbach.

Caso o estádio seja erguido do zero, sem a participação do poder público, as principais parcerias devem acontecer entre clubes de futebol e empresas responsáveis pela administração do empreendimento. Nesse caso, os clubes garantiriam o mando de seus jogos no estádio (o conteúdo) e ficariam com a receita de bilheteria e a renda da exploração publicitária dentro de campo. Já a empresa investidora, responsável pela construção do estádio, teria a concessão, por um determinado período, via uma operadora, que poderia ser uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), para explorar comercialmente os negócios acessórios

aos jogos de futebol e, com isso, maximizar as receitas (e recuperar o investimento).

O contrato teria duração determinada e, quando o prazo expirasse, a propriedade do estádio passaria às mãos do clube. Seria um projeto BOT (Built-Operate-Transfer).

Em ambos os casos, as vantagens da construção de um novo estádio é o fato de a infra-estrutura poder ser moldada de acordo com as novas possibilidades de exploração comercial. É possível planejar e construir áreas de negócios, acessos VIPs, camarotes, áreas de apoio e outras melhorias. Em alguns casos, como no Estádio de Wembley, na Inglaterra, os investidores optaram por implodir a instalação antiga para erguer outra, inteiramente nova e moderna, no mesmo lugar. Como no Brasil a realidade é diferente, são três os fatores preponderantes para um investimento em uma nova arena: localização, infra-estrutura de transporte e de estacionamento.

Quantomais conteúdo a instalação receber,mais fácil será vender os espaçospublicitários e aproveitar as novasoportunidades de negócios

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Esporte e Lazer 55

Em muitos casos, a saída mais factível é a completa modernização das instalações, para tornar os empreendimentos antigos, de fato, multiuso. Esse modelo também é flexível. Poderia ser desenvolvido a partir de um estádio/arena privado ou público. A composição entre operador, clube-parceiro e administração pública também poderia variar. De maneira geral, nesse modelo de gestão, a composição dos agentes dos negócios muda, sem, no entanto, alterar a estrutura que sustenta financeiramente o empreendimento.

Modelo do futuro“Trata-se de um modelo que aponta para o futuro. Nele, é possível tornar a arena/estádio rentável para todos. A isso se soma a melhoria considerável nas estruturas e nas instalações para o público, que terá muito mais conforto e segurança”, diz o sócio da KPMG. “O potencial é enorme. Há investidores interessados, operadores para gerir o conteúdo, clubes necessitando de estádio novo ou de uma grande reforma,

sem esquecer os estádios em péssimo estado de conservação”, completa Lutterbach.

Estudos indicam que a construção de um estádio no Brasil com capacidade entre 40 mil e 50 mil pessoas custa de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões. O potencial de receita com os negócios acessórios aos jogos de futebol alcançaria até R$ 40 milhões anuais, fora o que fica com o clube, como renda de bilheteria e exploração de espaço publicitário ao redor do campo.

Uma possibilidade interessante para alavancar a capacidade de negócios é o modelo de estádio de futebol compartilhado, como o que acontece com o estádio Giuseppe Meazza/San Siro, em Milão, que a Internazionale e o Milan utilizam. Como a grande alavanca de negócios é a produção de conteúdo, caso dois clubes façam uma parceria para compartilhar um estádio, isso acarretaria em uma maior geração de receita, o que ajuda a viabilizar o equipamento esportivo. É um modelo possível em

Estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, entre outros, que têm ao menos dois grandes clubes que necessitam de arenas próprias para o mando de jogo.

Um dos melhores exemplos de exploração comercial de uma arena multiuso é o Madison Square Garden, em Nova York. É emblemático porque funciona há bastante tempo e com ótimos resultados. A infra-estrutura é tão versátil que é possível assistir um jogo do time de basquete local, o New York Knicks, levar a família para conhecer o time de hóquei no gelo, o New York Rangers, e ainda assistir ao show de uma banda de rock famosa – tudo com poucos dias de intervalo. Dessa maneira, o próprio Madison Square Garden virou atração turística. No Brasil, o estádio do Morumbi, em São Paulo, é o que mais se aproxima do modelo. Com faturamento anual de R$ 20 milhões, o estádio do São Paulo F.C. tem museu, camarotes e recebe shows internacionais. Mas ainda está muito longe dos mais modernos estádios do mundo.

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Pergunte a dez conselheiros de administração ou diretores executivos sobre o que julgam ser o mais adequado em termos de integridade das práticas de gestão dos administradores e o que estes administradores deveriam fazer para liderar por meio de bons e contínuos exemplos, e você provavelmente ouvirá dez respostas diferentes.

Sem dúvidas, entretanto, todos eles dirão que uma postura adequada dos administradores e gestores é vital para a integridade do processo de elaboração dos relatórios financeiros e a manutenção/obtenção do sucesso da empresa em longo prazo.

Se todos acreditam ser um item de fundamental importância, então qual seria a melhor forma de determinar se os administradores têm dado o tom certo e como os Comitês de Auditoria podem ajudar a garantir este processo?

Um ponto de apoio de executivos e conselheiros tem sido o código de conduta e ética. Embora importante, a existência de um código não é o bastante. Em primeiro lugar porque, ainda, em muitas empresas, o conteúdo do código não encontra reflexo no dia-a-dia. Em debates recentes no ACI pudemos constatar que o processo ainda não está maduro e precisa de maior patrocínio. Como forma de amadurecimento deste processo, executivos sêniores deviam falar mais a respeito, publicamente, e reforçar

ACI

Comitês de Auditoria desempenham uma função vital avaliando o “tone at the top”

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ACI 57

estes padrões, repetidamente. Em paralelo, ética e comprometimento devem fazer parte da educação contínua de conselheiros e executivos e dos programas de treinamento e avaliação de desempenho da companhia.

Da perspectiva do Comitê de Auditoria, é essencial que se tenha uma cultura de honestidade e precisão, assim como abertura e transparência. Essa cultura tem avançado muito nos aspectos relacionados à supervisão da elaboração dos relatórios financeiros e em muitas empresas já atingiu um nível de maturidade neste processo, mas, necessariamente, deve se estender para os demais processos e atingir todos os gestores da empresa. Para os Comitês de Auditoria, existem passos específicos que eles podem realizar para ajudar a promover e monitorar o tom certo na cultura da companhia. Um primeiro passo importante para o Comitê de Auditoria é ajudar a garantir que a gerência não tenha o seu foco apenas nos números, e que o Comitê possa, a qualquer momento, ter uma fotografia precisa da posição financeira da companhia. Se por si só esta missão parece não ser das mais fáceis, torna-se ainda pior ao se agregar neste cenário a pressão intensa pelo alcance de metas. E sucumbir a esta pressão não é uma opção.

Na condição de contraponto da administração, o Comitê de Auditoria

André Coutinho, sócio da KPMG no Brasil na área de Risk Advisory Services

é o guardião da integridade dos relatórios financeiros da empresa. Para estabelecer o tom adequado, a empresa deve ser insistente e inflexível:- Quanto a precisão dos relatórios financeiros;- Para que os dados não sejam, de forma alguma, manipulados ou falseados;- Em ter na veracidade das informações um dos pilares da organização.

A qualquer hora e a todo momento, os gestores se deparam com decisões que exigem discrição e julgamento (tais como julgamentos para estimativas contábeis). Por ser algo diversificado, não é possível estabelecer regras para cada uma destas operações e, pelo fato de geralmente serem assuntos relevantes e rotineiros, não devem ser tratados como eventos esporádicos. Diante disto, a forma adequada é deixar claro o comportamento que a companhia defende, particularmente no que se refere aos seus padrões em profissionalismo e integridade e disseminar ao máximo estes conceitos.

Portanto, cabe ao Comitê de Auditoria ter a sensibilidade necessária para avaliar a postura dos administradores e identificar necessidades de aperfeiçoamento no processo. E, principalmente, levar ao Conselho de Administração suas preocupações quanto à adoção de uma postura que considere inadequada e não coerente com os valores da empresa. Para isto, precisa estar preparado e atuar

fortemente na supervisão, que, mais do que nunca, para este assunto, pode ser traduzida em analisar e perguntar, até se sentir confortável e capaz de concluir.

Nos últimos anos, temos assistido uma série de palestras de importantes executivos brasileiros preocupados com o tema e expondo o seu ponto-de-vista, no qual testemunham de forma veemente como a integridade nas ações dos administradores e conselheiros tem se refletido na melhoria nos processos internos e no fortalecimento da governança corporativa. E parece ser uma tendência que estes discursos se propaguem e ganhem ainda mais força. Para o bem de todos.

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Até meados da década de 90, o ensino universitário de excelência, no Brasil, estava concentrado principalmente nas instituições públicas. No entanto, essas universidades e institutos ofereciam à população poucas vagas e tinham recursos limitados para a manutenção e investimentos, devido aos cortes constantes nos gastos públicos. Por outro lado, havia um excesso de restrições à atuação das instituições particulares, que, em grande parte eram fundações sem fins lucrativos (como as universidades católicas). E, nelas, a gestão administrativa era, com freqüência, pouco profissionalizada.

Essa realidade começou a mudar durante os dois governos do presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). A reforma liderada pelo então ministro da Educação, Paulo Renato Souza, flexibilizou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e permitiu uma entrada maciça da iniciativa privada no Ensino Superior.

A partir de então, as universidades particulares ganharam nova força. Surgiram diversos conglomerados

Mercado Financeiro 59

educacionais, muito deles englobando não só o Ensino Superior, como o Ensino Médio e cursos pré-vestibulares.

A nova política educacional permitiu o aumento considerável do número de vagas no ensino universitário. E essas vagas, contando com novas facilidades de financiamento, passaram a ser preenchidas por aqueles que, até então, não tinham acesso ao concorrido ensino universitário público. Em paralelo, a nova regulamentação ajudou as universidades particulares a aplicar uma qualidade de gestão que inexistia nas instituições públicas.

Cenário de acomodaçãoPassada a fase de abertura de novas universidades, nos anos 90 e no início desta década, os grandes conglomerados tiveram de se adequar à realidade brasileira, onde se destacam a inadimplência e o limite que a desigualdade histórica de renda impõe à expansão no número de vagas. Muitas universidades que haviam ampliado consideravelmente suas instalações ficaram com vagas ociosas. E, assim, a boa gestão tornou-se ainda mais

EDUCAÇÃO

O mercado financia a educação

Marcos Boscolo, diretor da KPMG no Brasil na área de Audit

IPOs de instituições de ensino proporcionam recursos para sustentar

a expansão do ensino universitário no país

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fundamental para a sobrevivência dessas instituições. Em especial diante de um cenário de aumento da concorrência entre as universidades particulares.

“Por muito tempo, alguns segmentos, como educação e saúde, ficaram muito mais preocupados com as regulamentações elaboradas pelos órgãos governamentais e reguladores, do que com sua própria estruturação profissional. Ou seja, na maioria das escolas, a gestão dos negócios era acumulada por profissionais ligados ao corpo docente. Não havia a profissionalização da área administrativa”, recorda Marcos Boscolo, diretor da área de Audit da KPMG no Brasil.

O cenário se modificou no governo Lula, com a criação do ProUni (Programa Universidade para Todos), que, reconhecendo os limites do poder público, aprofundou ainda mais o processo de estímulo ao desenvolvimento da iniciativa privada na educação.

Com essa perspectiva, a atenção dos administradores das instituições particulares de ensino se voltou para a Bolsa de Valores, como instrumento para financiar a expansão de forma sustentada. A Bovespa bateu recordes

no número de operações de abertura de capital no primeiro semestre de 2007. Somente até 30 de junho, 30 novas empresas ingressaram no mercado de capitais. As negociações iniciais garantiram a esses grupos mais de R$ 18 bilhões em recursos.

As bolsas de valores se mantiveram em alta ao longo dos últimos quatro anos (superando até a crise imobiliária nos Estados Unidos, em julho), principalmente devido ao cenário internacional positivo, à estabilidade econômica e à necessidade de diversificação da cesta de aplicação dos investidores no Brasil.

Assim como diversos segmentos estreantes na Bovespa, a área de educação também ingressou nesse mercado. Em março deste ano, o Pátria Investimentos, administrador da Anhangüera Educacional, com sede em Valinhos (SP), foi o responsável pelo primeiro IPO no segmento. A Anhangüera ingressou no nível II da Bovespa, lançando ações a R$ 18. Em junho, as ações já estavam em R$ 30, uma valorização de 66,6%. Mesmo durante um dos momentos mais sérios da crise nas bolsas, em agosto, o papel se manteve acima dos R$ 28. A oferta de ações da companhia permitiu a captação de mais de R$ 500 milhões.

A tendência é que essa seja a primeira de muitas outras operações similares, fenômeno que ocorreu em outras áreas, como a construção civil. Para Ricardo Scavazza, diretor Operacional e de Relações com Investidores do Pátria Investimentos, o que motivou o IPO da Anhangüera foi a necessidade de acelerar a expansão do grupo. “As instituições educacionais optam pelo mercado de ações, em primeiro lugar, para captar recursos. O benefício é claro: além do forte aporte de capital, elas recebem uma injeção de otimismo e confiança na marca”, afirma Scavazza.

A preparação para o IPOA preparação para o IPO não é fácil. No caso da Anhangüera, foram necessários quatro anos de ajustes, orientados pelos profissionais da KPMG no Brasil. “As diretrizes dos auditores foram essenciais para acertarmos os números, balanços e a formação de equipes, que são requisitos essenciais para o IPO. O profundo conhecimento do mercado educacional também foi um fator que agregou muito”, explica Scavazza.

Segundo Marcos Boscolo, diretor da KPMG, algumas empresas, no entanto, por apresentarem uma administração ainda pouco profissional, podem não conseguir chegar ao final da operação de IPO. “Os gargalos de gestão,

60 Mercado Financeiro

Gráfico 1 – Perfomance em Bolsa AEDU11 vs Ibovespa vs IGC (12/03/2007) – 10/08/2007)(12 de março de 2007 = 100)

190

170

150

130

110

9012/3/2007 11/4/2007 11/5/2007 10/6/2007 10/7/2007 9/8/2007

AEDU11 IBOV

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Mercado Financeiro 61

principalmente na área contábil, ainda estão presentes na maioria das instituições educacionais. Aquelas que não conseguirem se adaptar às exigências de transparência vão perder a janela aberta pela Anhangüera na Bovespa, para IPOs no segmento educacional”, afirma.

InvestimentosA abertura de capital de empresas ligadas à educação apresentou diversos desafios. Um exemplo: como equilibrar a qualidade de ensino com a busca dos investidores por lucros cada vez maiores?

Segundo Scavazza, do Pátria Investimentos, essa contradição, na verdade, não existe. Isso porque o investidor que procura esse tipo de negócio não está esperando retornos imediatos. “Quem investe nessa área tem uma visão de longo prazo, de cerca de 20 anos. Quando percebe que o sucesso da empresa depende de avaliações positivas dos alunos, do MEC (Ministério da Educação) e do mercado de trabalho, ele não se opõe a investimentos de longo prazo em qualificação de professores, melhores instalações e contratação de docentes qualificados. Muito pelo contrário,” afirma.

“Por fim, o próprio investidor acaba por cobrar o bom desempenho da instituição junto ao público, à comunidade estudantil e aos órgãos governamentais. Outro fator importante é a preocupação que os investidores têm com a sustentabilidade do negócio. Isso é muito bom para a educação como um todo. A tendência é que, cada vez mais, se busque o equilíbrio entre as expectativas de ambas as partes”, explica Scavazza.

Um ponto que ainda causa inquietação no setor é a variação dos preços das ações. Segundo Scavazza, a gestão profissional da empresa e o planejamento ajudam a prever as mudanças e a alcançar resultados. “O planejamento adequado diminui a volatilidade dos papéis”, diz.

O diretor do Pátria Investimentos afirma que o principal ganho da instituição com o IPO está na imagem da marca e da empresa perante a comunidade. “A sociedade passa a nos enxergar como uma empresa sustentável e isso pode ser percebido não só na valorização das ações, como, também, na imagem que temos diante da comunidade educacional”, conclui.

Para saber se é hora de realizar o IPO, a instituição necessita:

• Realizar um diagnóstico da situação atual da instituição,

considerando, entre outros, volume de receita, lucratividade etc

• Analisar, de forma crítica, se os dados contábeis refletem,

realmente, a posição patrimonial e financeira da instituição

• Buscar se associar com empresas que têm tradição e

experiência nesse segmento de mercado

Preparando-se para o IPO

Momento favorávelO diretor da KPMG afirma que o momento é favorável para o IPO de instituições educacionais. “Em outros segmentos, o que se viu foi um movimento em que muitas empresas foram para a Bovespa ao mesmo tempo. Quem não seguir a tendência neste momento, provavelmente não terá o mesmo retorno”, diz Marcos Boscolo.

Ele apresenta três possibilidades para o desenvolvimento das instituições de ensino, hoje:

1 – Continuar apostando nas mesmas fórmulas para gerir os negócios e captar recursos, com grande possibilidade de perda de mercado no longo prazo em função da concorrência2 – Fazer o IPO3 – Ser comprada por outras empresas do ramo ou ter que se associar à outra entidade de ensino

“O movimento de aquisição no segmento educacional está aquecido. Isso pode ser explicado pela própria natureza do negócio. Para se maturar uma turma, são necessários de quatro a cinco anos. Com a aquisição, o crescimento no principal ativo (aluno) é imediato”, explica Boscolo.

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62 Mercado Financeiro

Gráfico 2 – Crescimento do número de vagas na Educação Superior: Brasil – 1991 a 2005

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

516.663

534.847

548.678

574.135

610.355

634.236

699.198

803.919

969.159

1.216.287

1.408.492

1.773.087

2.002.733

2.320.421

2.429.737

2.500.0002.000.0001.500.0001.000.000500.0000

Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação

É possível notar, nos dados acima, que, nos últimos anos, tem ocorrido um excesso de oferta no Ensino Superior. Porém, com aumento em um ritmo bem menor no número de matrículas, o que demonstra que ainda há espaço para crescer (considerando que uma grande parcela da população brasileira, em idade teórica para cursar o Ensino

Superior, ainda está fora dos bancos universitários).

Isso ocorre porque grande parte da população com renda até três salários mínimos (que representa 50,1% da população brasileira), segundo dados do IBGE 2004, ainda não conseguiu acesso ao ensino superior. Somente 26,5% dessa

parcela de brasileiros estão matriculados em IES públicas e 12,9% em IES privadas, conforme demonstrado no gráfico 4.

Inversamente proporcional a esse crescimento, a evolução no número de alunos matriculados, nos últimos anos, foi de apenas 47%. Inclusive com queda de 3% em 2005, em comparação a 2004.

Gráfico 3 – Evolução na quantidade de alunos matriculados – Brasil

4.453.156

5000000

4000000

3000000

2000000

1000000

0 2001 2002 2003 2004 2005

3.030.7543.479.913

3.887.0224.613.733

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Demanda reprimida – classes C e DSegundo dados da UNESCO, enquanto, no Brasil, apenas 20% dos jovens em idade teórica de cursar Ensino Superior freqüentam universidades, este índice chega a 43% no Chile e 61% na Argentina. Já pelo critério do MEC, estima-se que 11,3% da população com idade entre 18 e 24 anos estavam matriculados em instituições de Ensino Superior em 2005. Esse índice ainda está abaixo da meta do Governo Federal para 2010 que é de 30%, de acordo com o Plano Nacional de Educação.

Mercado Financeiro 63

Esse panorama é ratificado quando analisamos outros indicadores e, principalmente, o perfil dos alunos matriculados no Ensino Superior.

Dessa forma, existe um enorme potencial de crescimento para as instituições de Ensino Superior que pretendem trabalhar com estudantes das classes C e D. Marcos Boscolo chama a atenção de que “essas instituições de ensino possuem uma missão especial, que é transformar alunos oriundos do ensino público, teoricamente não tão bem preparados em bons profissionais, para um mercado de trabalho cada vez mais competitivo”.

Gráfico 4 – Renda familiar no campus e na sociedade – até três salários mínimos

Gráfico 5 – Renda familiar no campus e na sociedade – mais de dez salários mínimos

60

50

40

30

20

10

0

Sociedade

IES

(Instituições

de Ensino Superior) públicas

IES (Instituições de Ensino Superior) privadas

50,1

12,9

26,5

45

40

35

30

25

20

15

10

5

0

Sociedade

IES

(Instituições

de Ensino Superior) públicas

IES (Instituições de Ensino Superior) privadas

41,6

29

11,8

Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação

Segundo dados da UNESCO, enquanto no Brasil apenas 20% dos jovens em idade teórica de cursar Ensino Superior freqüentam instituições, este índice chega a 43% no Chile e a 61% na Argentina

Fonte: Bovespa

Ensino Superior e a Bovespa

Nome Abertura Captação

Anhangüera Educacional Março/07 R$ 512 milhões

Kroton Educacional Julho/07 R$ 478,8 milhões

Estácio Participações S.A Julho/07 R$ 447 milhões

SEB - Sistema Educacional Brasileiro S.A. Outubro/07 R$ 412,5 milhões

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A Responsabilidade Corporativa (RC) baseia-se na melhor compreensão, por parte das empresas, do papel que desempenham na sociedade. Em uma economia saudável, as companhias produzem bens e serviços essenciais à sociedade e, por meio da contratação de mão-de-obra, fornecem os recursos para que as pessoas possam adquiri-los.

Por sua vez, as empresas necessitam de insumos da sociedade. Entre eles, força de trabalho, infra-estrutura física e normas jurídicas, além de licença para operar. Da mesma forma que, ao procurar expandir suas operações em novos mercados e regiões, essa licença da sociedade é importante, diante da possibilidade de oposição de grupos sociais às atividades comerciais. A RC busca entender o relacionamento entre a empresa e o restante da sociedade, assim como as formas de se alcançar benefícios mútuos.

Responsabilidade Corporativa 65

A favor dos negóciosO fato é que a RC vem se tornando parte essencial da estratégia de muitas empresas. Com freqüência, as corporações estão submetidas a fortes pressões externas, as quais denunciam práticas comerciais que prejudicam a sociedade, como a poluição e o trabalho infantil. O objetivo dessas pressões é gerar um comportamento de Responsabilidade Corporativa. Isso prejudica o resultado final da empresa, por exemplo, se houver danos à reputação, perda de clientes ou greves, além de afetar negativamente a sociedade. No entanto, cada vez mais se impõe a visão daqueles dirigentes empresariais capazes de enxergar os caminhos que permitirão benefícios mútuos às suas corporações e à sociedade.

De acordo com o Pacto Global das Nações Unidas (UN Global Compact), que já obteve a adesão de mais de

RESPONSABILIDADE CORPORATIVA

Responsabilidade Corporativa e oportunidade comercial

Lord Michael Hastings, Líder Global de Cidadania e Diversidade

“As empresas não podem ter êxito em sociedades que fracassam”

– Björn Stigson, presidente do Conselho Mundial de Negócios para o

Desenvolvimento Sustentável

Lord Michael Hastings, Líder Global de Cidadania e Diversidade

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2.900 companhias, 135 das quais com sede no Brasil. A interdependência entre mercados, comunidades e povos vem se aprofundando a cada dia. Como resultado desse processo, as empresas enfrentam desafios cada vez mais diversificados em relação a questões ambientais, sociais e de governança. O Pacto afirma que, por meio da adoção e implementação pró-ativa das práticas de RC, as corporações estarão melhor posicionadas para assegurar a sustentabilidade de suas operações, dos mercados e das comunidades nas quais atuam.

A Pesquisa Internacional sobre Responsabilidade Corporativa de 2005, da KPMG, analisando um universo de 64% das principais empresas que publicam informações sobre RC, constatou que três quartos delas afirmaram que sua principal motivação era econômica. Visavam, principalmente, proteger sua reputação, se posicionar como um empregador de primeira escolha, manter a posição de mercado, obter a confiança dos mercados financeiros e agregar mais valor para os acionistas. Além de inovar no desenvolvimento de produtos e na criação de mercados.

Para muitas dessas empresas, a estratégia foi compensadora. Um estudo realizado recentemente pelo banco Goldman Sachs com 120 companhias das áreas de energia, metais e mineração, alimentos e bebidas, produtos farmacêuticos e comunicações, demonstrou que aquelas que gerenciavam com maior atenção as questões sociais, ambientais e de governança (além de contarem com um sólido histórico financeiro), superaram a média de crescimento de mercado em 25%, entre agosto de 2005 e junho de 2007. E 72% dessas corporações também superaram seus concorrentes durante o mesmo período.

As organizações devem ajustar o foco de suas atividades de RC para maximizar os benefícios, com base no entendimento das relações entre a empresa e a sociedade. Claro, algumas atividades de RC darão ênfase maior às questões que afetam a empresa e a sociedade como um todo, como as alterações climáticas ou a educação. Outras, enfocarão questões específicas da companhia ou do setor em que ela atua, como a licença para continuar atuando em certas comunidades, como

forma de assegurar uma cadeia de suprimentos sustentável.

A KPMG, por exemplo, além de auxiliar clientes a desenvolver e absorver suas estratégias de RC, com serviços de assessoria, contribui com as comunidades nas quais atua. Também usamos a RC para ajudar a atrair e manter os melhores funcionários. No Brasil, por exemplo, nosso patrocínio ao Projeto Pequeno Cidadão, nos últimos dez anos, proporciona que jovens de classes sócio-econômicas menos favorecidas desenvolvam as habilidades necessárias à participação integral na sociedade.

Ao ajudar esses jovens a formar sua consciência sócio-cultural, desenvolver a auto-estima e, também, prepará-los para o mercado de trabalho, o projeto abre oportunidades que eles, de outra maneira, não teriam. Ao mesmo tempo, contribui para formar uma força de trabalho do futuro, com a qualidade exigida pela firma. Nossos programas de trabalho voluntário permitem, ainda, que os profissionais da KPMG utilizem suas habilidades para beneficiar a sociedade, ao mesmo tempo em que

66 Responsabilidade Corporativa

Por meio da adoção e implementação pró-ativa das práticas de RC, as corporações estarão melhor posicionadas para assegurar a sustentabilidade de suas operações, dos mercados e das comunidades nas quais atuam

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Responsabilidade Corporativa 67

lhes proporcionam novas experiências e tornam a firma um local de trabalho mais atraente.

É por meio da compreensão do papel da empresa na sociedade que podemos sentir o maior impacto positivo da sustentabilidade sobre a sociedade e a empresa. Para que a organização obtenha sucesso, conforme nos lembra Björn Stigson, é imprescindível que a sociedade também alcance o êxito. RC significa entender o papel que nós, como empresas, podemos desempenhar ao lidar com os desafios enfrentados pela companhia e pela sociedade, de forma a trazer benefícios para ambas.

Como afirma o WBCSD (Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável), organização que já reúne 190 empresas, é fundamental apoiar a exigência de licenças para operar, inovar e crescer em um mundo cada vez mais moldado pelas questões referentes ao desenvolvimento sustentável.

Desafios e oportunidades Existem oportunidades comerciais importantes por trás dos desafios impostos à sociedade e à empresa pelas questões relacionadas à RC. Tomemos como exemplo as alterações climáticas. Embora a RC ainda seja considerada por dirigentes de algumas empresas como filantropia ou como um exercício de Relações Públicas, muitas corporações já perceberam as oportunidades que se abrem para suas atividades. Nicholas Stern, diretor do Serviço Econômico do Governo Britânico, calculou que, se não conseguirmos reduzir de forma significativa e permanente a emissão de gases que geram o efeito estufa, os custos financeiros das alterações climáticas serão iguais ou maiores que perdas de 5% a 20% do PIB mundial. Inicialmente, isso pode parecer ruim para as empresas, mas apenas se a companhia não for entendida como parte da solução.

Consideremos os biocombustíveis, por exemplo. Desde 1970, o Brasil lidera o mundo no desenvolvimento de álcool combustível. Quase todos os novos veículos brasileiros já podem

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funcionar com qualquer combinação de gasolina e álcool. Com a incerteza política e os conflitos constantes nas regiões produtoras de petróleo, as preocupações com as mudanças climáticas e o avanço dos projetos para limitar as emissões e negociar créditos de carbono, a demanda por biocombustíveis deve aumentar.

Muitos governos já estão recorrendo aos biocombustíveis para reduzir suas emissões de carbono. No Canadá, até 2010, toda a gasolina vendida deverá ter, no mínimo, um teor de 5% de combustível renovável. A União Européia (UE) espera extrair da biomassa, em breve, 10% de todos os combustíveis utilizados para transporte. Entretanto, há uma consciência crescente de que os biocombustíveis locais subsidiados serão insuficientes para cumprir essas metas. Nos Estados Unidos, 20% de toda a safra de milho foram utilizadas,

68 Responsabilidade Corporativa

no último ano, para a produção de etanol, suprindo somente 2% do combustível usado pelos automóveis.

Após as recentes discussões travadas com o presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva, o comissário Comercial da União Européia afirmou que “a Europa deve estar aberta a aceitar que importaremos uma grande parte de nossos recursos biocombustíveis”. Ele acrescentou que a UE “certamente não deveria contemplar o favorecimento da produção no continente de combustíveis com baixo desempenho de carbono, se pode importar biocombustíveis mais baratos e mais limpos”.

Para o Brasil, com seus 3,2 milhões de quilômetros quadrados de terras aráveis, sendo que só um quinto dessa superfície já é cultivada, as palavras do comissário Comercial europeu representam uma boa notícia. E como

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Responsabilidade Corporativa 69

a demanda de biocombustíveis deve crescer 170% nos próximos três anos, o Brasil está bem posicionado para se beneficiar. De acordo com a União da Agroindústria Canavieira (Unica), 77 usinas serão construídas no país nos próximos seis anos, com investimentos da ordem de US$ 14,6 bilhões. Isso vai se somar aos seis milhões de empregos já criados graças ao desenvolvimento de um mercado forte de biocombustíveis. Parece que os agricultores brasileiros, que sofreram com duas secas nos últimos quatro anos, também poderão, pelo menos, se beneficiar dos impactos das alterações climáticas.

Não há dúvidas de que haverá desafios ao longo do caminho: o aumento do uso da terra para a produção de biocombustíveis já inflacionou o custo dos alimentos em muitos países e os ambientalistas temem um impacto negativo na biodiversidade. Cientistas e grupos ambientalistas alertam que a crescente demanda por biocombustíveis pode incentivar a destruição de florestas e alterar ecossistemas delicados.

A conclusão é que, se não forem bem administradas, as oportunidades que os biocombustíveis geram para a sociedade e paras as empresas podem prejudicar tanto uma quanto as outras.

Contudo, com a RC sendo incorporada às suas principais estratégias comerciais, as empresas estarão mais bem preparadas para gerenciar esses riscos e transformá-los em novas oportunidades. As corporações devem desempenhar um papel-chave na busca por safras mais produtivas ou

resistentes à seca e no desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de biocombustíveis e de veículos mais eficientes. Se uma maior produção também vier acompanhada por um aumento na renda e no emprego, os benefícios sociais crescerão junto com a economia, mesmo levando-se em conta o possível aumento nos preços dos alimentos. Ao tornar a RC uma parte essencial do gerenciamento dessa mudança, as corporações poderão gerar maior confiança da sociedade, atrair os melhores funcionários e abrir oportunidades de emprego, ao mesmo tempo em que lucram com o crescimento contínuo da economia. Enfrentar o desafioOs desafios impostos por questões ligadas à RC são muito grandes. Porém, como parte da solução, as empresas cuja estratégia de RC tenha o foco na interação com o conjunto da sociedade podem ser muito beneficiadas. Ao compreender a relação entre nossas empresas e a sociedade, incluindo os benefícios que podemos gerar para as comunidades e as regiões em que atuamos, podemos assegurar que nossas atividades contribuirão para a construção de uma sociedade sustentável.

Assim, também para nós, na KPMG, o desafio é muito estimulante. Devemos ser líderes comunitários convictos, dirigindo nossas habilidades comerciais a promover soluções para problemas sociais e assegurar que a própria KPMG enfrente o desafio da redução de carbono e do uso responsável de energia. Assim como devemos influenciar de

modo positivo na vida nas comunidades locais e na sociedade global.

Nosso compromisso com a promoção das Metas de Desenvolvimento do Milênio é um exemplo perfeito dessa filosofia. Os profissionais da KPMG trabalham para estimular comunidades sustentáveis, que retiram camadas sociais da marginalidade, levando-os à independência. Nossas habilidades constituirão o elemento extra, capaz de garantir que a ajuda financeira seja adequada aos próprios objetivos desse auxílio.

Se outras empresas pretendem liderar esse movimento, devemos assumir a liderança primeiro. Isso, por seus próprios méritos, nos distinguirá da multidão. Trata-se de uma estratégia vencedora!

Para mais informações:Serviços de Sustentabilidade Global da KPMG: http://www.kpmg.com/Services/Advisory/IAS/GSS.htmConselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável: www.wbcsd.orgPacto Global das Nações Unidas: www.unglobalcompact.org

Michael Hastings, nomeado Lord Hastings de Scarisbrick CBE (Comandante do Império Britânico), é parlamentar britânico da Câmara dos Lordes e Líder Global de Cidadania e Diversidade. Antes de representar a KPMG, foi o primeiro Chefe de Responsabilidade Social Corporativa da rede de televisão pública britânica BBC. Michael representa também a KPMG International no comitê internacional de Cidadania Corporativa Global, do Fórum Econômico Mundial.

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HSM 71

Amory Lovins é físico experimental e um dos idealizadores do Rocky Mountain Institute (RMI), fundação de ensino e pesquisa que ajuda indivíduos e instituições na adoção de novas práticas de gestão ambiental e empresarial, sediada em Boulder, Colorado, nos Estados Unidos. Ele é o autor de um dos livros de maior repercussão nos últimos tempos, Capitalismo Natural, que escreveu com Hunter Lovins e Paul Hawken (ed. Cultrix). A obra dedica um capítulo inteiro ao Brasil.

Lovins questiona e derruba vários pressupostos relativos à sustentabilidade, ao aquecimento global, à neutralização do carbono. Em primeiro lugar, explica por que a palavra “sustentável” é inadequada para as empresas.

Depois, garante que a maior parte das soluções práticas para questões ambientais vem de pessoas “comuns”

ENTREVISTA

O produto verde deve ser mais barato

e não do meio acadêmico ou tecnológico. Fala ainda de mineração ambientalmente benigna e dos canaviais de onde se faz o etanol para os veículos, questiona o preço dos produtos “verdes” e certo tipo de neutralização, critica arquitetos e engenheiros. Também elogia os brasileiros que, segundo ele, são “antenados” de um modo diferente e, principalmente, endossa Curitiba como modelo de gestão ambiental a ser seguido pelo mundo.

Muitos executivos dizem que os consumidores não estão preparados para pagar mais por produtos ecologicamente corretos, ainda que estejam preocupados com assuntos relativos ao meio ambiente... Nós temos de gastar mais dinheiro para ser ecológicos e “salvar” o planeta?De modo geral, não. Os produtos e serviços adequadamente chamados “verdes” deveriam, em situação normal, custar menos do que seus

Em entrevista exclusiva a Lílian Féres, gerente de contéudo da HSM do

Brasil, o físico Amory Lovins, autor do livro Capitalismo Natural, questiona

vários mitos, como o de que a marca ecologicamente correta PRECISE

ser mais cara, e defende os projetos “simples”, como os de Curitiba

Amory Lovins, é físico experimental e um dos idealizadores do RockyMountain Institute (RMI)

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concorrentes ambientalmente danosos; mas isso requer um bom projeto, o que nem sempre acontece. Por exemplo, se estivermos construindo um prédio de escritórios classe A, usualmente esperaríamos economizar entre 80% e 90% de energia, mas o custo de construção normalmente cai em cerca de 3% a 5%. E a eficiência do espaço aumenta em cerca de cinco a seis pontos percentuais.

É possível haver extrativismo sustentável? Há sustentabilidade na mineração? No petróleo?Bem, em sentido amplo, se você extrai um recurso da natureza e o espalha de tal modo que ele não possa ser recuperado nem reutilizado, essa atividade não é sustentável. Assim, essa é, em parte, a razão por que eu não gosto de usar a palavra “sustentável”; ela tem significados diferentes para diversas atividades e pessoas.

Entretanto, ao trabalhar com duas das maiores companhias mundiais de mineração, descobrimos que o processo de mineração, ainda que não necessite que testes rígidos sejam mantidos para sempre, pode, sim, ser realizado de modo ambientalmente benigno.

E, no negócio de petróleo, nós ajudamos a projetar uma refinaria – pode ser de combustíveis derivados de petróleo, biocombustíveis ou ambos, mas que não gera poluição, não consome água de outros locais e faz tudo com a própria energia.

Alguns estão trabalhando em um design de mineração que, além do impacto de tirar o mineral de onde ele estava, tende a ter efeito líquido quase zero – ou seja, não provocará danos ambientais. Mas o que eu gostaria de fazer mesmo é reduzir ou eliminar, com design, o uso geral de metais em nossa sociedade.

Ou então preferiria reciclá-los, recuperando os já extraídos dos locais onde foram usados. E uma das formas de fazer isso, no capitalismo natural, é mudar de um modelo de negócio industrial convencional – o modelo de fazer e vender produtos – para o modelo de negócio de “economia de soluções” – um fluxo contínuo de valor e serviço, em que tudo se reaproveita.

Assim, por exemplo, o maior depósito de cobre hidratado do mundo não está no solo do Chile ou no de Papua, na Nova Guiné, mas sob Manhattan, em Nova York, na forma de velhos cabos de cobre que, infelizmente, foram

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irremediavelmente instalados, de tal modo que, uma vez que sua função está sendo, cada vez mais, substituída por fibras ópticas e sem fio, é difícil recuperá-lo para locá-lo a alguém. Mas se, em vez de a empresa de cobre vender toneladas do produto para uma empresa de cabos que, então, os vende para a companhia telefônica, tivéssemos uma empresa de cobre arrendando o serviço de condução de cobre, os cabos não teriam sido irremediavelmente instalados. A empresa de cobre incentivaria a área de pesquisa e desenvolvimento a utilizar menos ou nenhum cobre para prestar serviços ao cliente uma única vez e poderia, então, recuperar os cabos e alugar seu serviço para outro usuário, e o cobre continuaria simplesmente circulando para sempre.

Existe mesmo a poluição magnética, a poluição invisível que viria do telefone celular?Telefones celulares e qualquer outro aparelho eletromagnético de fato emitem campos magnéticos. Eles surgem dos aparelhos eletrodomésticos, das linhas de energia elétrica, dos cabos de força e assim por diante. Seus efeitos biológicos são pouco conhecidos e controversos...

Posso lhe dizer que prefiro não segurar meu próprio telefone celular perto de minha cabeça. Uso, em vez disso, um fone de ouvido, porque acho melhor ser conservador ao avaliar riscos que são pouco conhecidos; trata-se de minha própria saúde...

Como um gestor público poderia usar todas essas teorias, conceitos e idéias sobre sustentabilidade ambiental em benefício da sociedade?De modo geral, eu diria que os gestores públicos preocupados com meio ambiente devem tentar estabelecer os preços corretos para cobrar pela poluição e pela exaustão de um recurso natural. Essa cobrança é economicamente correta e ajuda a sociedade como um todo.

Porém também é importante, talvez até mais, capacitar as pessoas para reagir aos preços dos produtos das empresas poluidoras corretamente. Chamamos a isso de “quebrar barreiras”.

Se uma empresa cobra menos porque polui o ambiente sem pagar por isso, deve ser “punida” pelos consumidores – ela está impondo custos a todo mundo, está “roubando” de todo mundo. E se a empresa usa a desculpa

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da correção ambiental para cobrar muito mais por seus produtos, em vez de buscar a maior eficiência energética, também deve ser “punida” pelo mercado.

Como o sr. avalia a posição norte-americana em relação ao debate ambiental? Bush, pelo menos até o momento, nem admite a idéia de uma discussão sobre problemas ambientais na Organização das Nações Unidas (ONU)...Acho que essa política do governo dos EUA está errada; e muitos, provavelmente a maioria, dos governadores dos estados norte-americanos e milhares de governos municipais tampouco concordam com ela, e adotam uma política diferente. É uma polêmica acalorada. Até mais acalorada depois que o partido do presidente perdeu o controle de ambas as casas do Congresso, nas eleições de novembro de 2006. Assim, a política está mudando e, na verdade, empresas inteligentes nunca seguiram a política do governo. Elas já entenderam que a proteção climática é rentável.

Em Uma Verdade Inconveniente, Al Gore diz que questões ambientais não são questões políticas, mas uma questão moral...

Acho que é quase isso. Ele provavelmente disse isso no contexto da política norte-americana, que não é uma questão de partido. Não há um clima republicano ou um clima democrático; todos vivemos no mesmo clima. Todos respiramos o mesmo ar. Todos bebemos a mesma água. Assim, isso não deveria ser matéria de disputa entre diferentes partidos políticos. Mas é uma questão política, sim, no sentido de que as políticas governamentais são muito importantes para o meio ambiente. Elas podem prejudicar ou causar dano ao meio ambiente e a maioria dos eleitores já concorda, na América, assim como em qualquer outro lugar, que a mudança climática é um problema sério. Perto de 90% dos americanos, em alguns locais acima disso, já têm essa visão. O presidente é um, de uma extrema minoria, que não concorda. E eu acho que ele está simplesmente sendo ultrapassado

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tanto pelo processo mercadológico como pelo processo político em relação a esse assunto.

Como podemos definir e colocar em prática a “neutralização”?Se eu pago alguém para plantar árvores que serão plantadas de qualquer jeito ou que serão logo derrubadas, não estou fazendo muita diferença. Se pago alguém para reflorestar uma área devastada e ajudo a construir a diversidade da economia local nessa área, que manterá as árvores e não permitirá que sejam novamente cortadas, então isso, sim, pode ser eficaz. A Amazônia não necessita que sejam plantadas árvores. Lá elas crescem por si mesmas. Lá as pessoas têm de deixar as árvores em paz.

Mas existem alguns casos em que isso é importante. Por exemplo, se você plantar grandes extensões de cana-de-açúcar no cerrado e converter essa biodiversidade tão frágil em canavial para vender mais etanol, isso será muito ruim para o clima e, até mesmo, para sua sociedade. Há outros locais

em que a cana-de-açúcar está sendo cultivada; locais ambientalmente corretos, em que os problemas não são ambientais, mas sociais.

Os trabalhadores são pagos de forma correta e vivem em condições adequadas? Mas uma indústria de etanol derivada da cana-de-açúcar bem gerida e ambientalmente sensível pode ser muito boa para o Brasil e o mundo.

Como fazer uma convergência entre mundo acadêmico, corporativo e sociedade, para que trabalhem em conjunto nas soluções?Vejo que a maior parte das soluções impraticáveis vem de teóricos acadêmicos e a maior parte das soluções práticas vem de pessoas de negócios e de cidadãos comuns. Em meu livro Capitalismo Natural, especialmente no capítulo 14, que é todo sobre o Brasil, apresento a história das soluções práticas de Curitiba, baseadas na integração de um projeto de inovação, e até mesmo os líderes que fizeram essas coisas em Curitiba, como Jaime Lerner, ficaram bastante

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surpresos ao lê-lo, porque eles não perceberam de modo completo todas as relações de diferentes partes de sua solução.

Assim, acho que você verá uma história encorajadora, e penso que os brasileiros devem ficar orgulhosos: de todas as boas histórias no mundo, essa foi a que eu achei melhor para explicar quanto um bom projeto pode resolver muitos problemas, de uma vez e com lucro.

Essas soluções foram amplamente desenvolvidas no âmbito comunitário, em um processo brilhante, liderado principalmente por mulheres e arquitetos.

Há uma coisa que eu quero acrescentar e que não está no livro porque eu não tomei conhecimento dela em tempo. É o fato de que muitas das pessoas que lideraram esse processo foram educadas em Paris, França, onde absorveram a maior parte das idéias mais modernas para, depois, voltar para casa e aplicá-las. Essas viagens foram presentes da esposa de um ministro da Fazenda, que resolveu financiar o estudo e a estada no exterior, por um ou dois anos, de muitos dos jovens talentos brasileiros considerados promissores, especialmente os de Curitiba.

Eu descobri ainda que muitos projetistas, designers e líderes

no Brasil, em todos os níveis da sociedade, são imensamente criativos. Eles são “antenados” de modo diferente. Têm uma forma muito original de pensar sobre os problemas e suas soluções.

O sr. estudou Física, Música, Literatura, Matemática, Lingüística, Direito, Medicina, aotografia de ambiente montanhoso... Ao que parece, seu trabalho demanda, pelo menos, o aprendizado de dois novos assuntos por ano, não? Quão importante é ter formação eclética?Eu não poderia ter encontrado tantas soluções novas para velhos problemas se fosse um especialista. Muitos desses problemas surgiram devido a projetos que não estavam integrados.

E, como nos lembra Einstein, não podemos resolver um problema usando o mesmo raciocínio que o criou. Por exemplo, em 1999, nós descobrimos no RMI como dar cada passo do que temos hoje até uma economia lucrativa de hidrogênio. Isso requereu conhecimentos de projeto automobilístico, de construção, do setor imobiliário, de eletricidade, de gás e de combustível e diversos outros campos. Foi preciso reunir muitos conhecimentos distintos antes de encaixar as peças desse quebra-cabeça.

“A Amazônia não necessita que sejam plantadas árvores. Lá elas crescem por si mesmas. Lá as pessoas têm de deixar as árvores em paz”Amory Lovins

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Assessoria em Gestão de Recursos Humanos RJ Human Resources Advisory ServicesEdifício Manhatan TowerAv. Rio Branco, 89 – 11º andar, Sala 110120040-004 Rio de Janeiro, RJTel 55 (21) 2131-5800 Fax 55 (21) 2131-5810

Porto AlegreRua dos Andradas, 100117º andar – Sala 170290020- 007 Porto Alegre, RSTel 55 (51) 3303-6000Fax 55 (51) 3303-6001

São CarlosRua Sete de Setembro, 195013560-180 São Carlos, SPTel 55 (16) 2106-6700Fax 55 (16) 2106-6767

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Page 81: Sumário - KPMG Brasil · 2009-08-27 · Bunce, apresenta os novos sócios em sua mensagem de final de ano e faz também um balanço de mais um ano de crescimento. Desejamos aos leitores

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Editorial

Mensagem do Presidente

Sistema de Pagamentos

A atualização do sistema de compensação do varejo brasileiro

Automotivo

Panorama da indústria automobilística no mundo e no Brasil

Governança Tributária

Novas imposições regulatórias levam empresas a rever gerenciamento tributário

Artigo

A eficiência operacional nos bancos brasileiros

Opinião

Incentivos Fiscais: em busca do equilíbrio

Energia

Setor passa por mudanças nos modelos de negociação

Biocombustíveis

Etanol: desafios e oportunidades em um ambiente altamente competitivo

Sustentabilidade

Relatórios de sustentabilidade abrem oportunidades de negócios com questões ambientais

Esporte e Lazer

Parcerias e criação de conteúdo são saídas comerciais para empreendimentos de entretenimento

Audit Committee Institute

Como garantir a integridade das práticas de gestão e a liderança pelo exemplo?

Educação

Ensino Universitário se expande com IPOs

Desenvolvimento sustentável

Responsabilidade Corporativa e oportunidade comercial, por Lord Hastings

Produto Verde

Marcas ecologicamente corretas devem ser mais baratas

KPMG Business Magazine é uma publicação trimestral da KPMG Auditores Independentes. © 2007 KPMG Auditores Independentes, sociedade brasileira, membro da KMPG International, uma cooperativa suíça. Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Novembro de 2007.Presidente da KPMG no Brasil: David Bunce. Diretora de KM&C: Irani Ugarelli. Fone: (11) 2183.3048. e-Mail: [email protected]. Produção/Edição: Ex Libris Comunicação Integrada. Editor: Jayme Brener (MTb 19.289). Textos: Lúcia Mesquita e Fernando Kadaoka.Projeto gráfico e diagramação: Idéia e Imagem Comunicação. Fotos: arquivo KPMG e Ken Chu (Expressão Studio). Tiragem: 10.000 exemplares. Impressão: Copypress.

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Sumário

Reporting the Business

Implications of Climate Change

in Sustainability Reports

A survey conducted by the Global Reporting InitiativeTM and

KPMG’s Global Sustainability ServicesTM

GRI Research & Development

Novembro de 2007