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CSJ OURNAL Congregação das Irmãs de São José de Chambéry Julho - Setembro Ano 2016 - n. 4 Francês Inglês Italiano Português Norueguês C ONSELHO G ERAL SUMÁRIO Ir em uma Missão para superar a Crise “N ós teríamos superado muitas crises internas nas nossas instituições, se tivéssemos ido em missão. Nós o fizemos, mas não o suficiente.” É o que o Cardeal Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, confessa que havia escrito para o Papa, retornando de Moçambique, uma das muitas viagens que o levaram para conhecer mais sobre os homens e as mulheres consagrados ao redor do mundo. E como não concordar com ele? Como nós não podemos reconhecer que é preciso implementar “uma escolha missionária capaz de transformar tudo”: costumes, estilos, agenda, linguagem e instalações adequadas, para que “se tornem um canal para a evangelização do mundo hoje”(Evangelii Gaudium 27). A impressão, de fato, é que respiramos um ar asfixiado em que os conflitos relacionais são susceptíveis de assumir, vindo a minar a missão em contextos de grandes prioridades para o serviço aos necessitados. A gestão ordinária e administração de ativos tornam-se a única razão para viver, deixando os espaços pobres e subúrbios, por vezes, apenas no papel dos nossos documentos capitulares. Nesta perspectiva, aqueles que querem “mais”, depois de ter reivindicado por um tempo, começam a recuperar a posse de sua vida e um pouco de tempo criam espaços pessoais gratificante, desistindo da generosa doação que no início os havia movido. A Congregação assim perde, aqui e ali em todo o mundo, membros válidos, mulheres ricas de talento e aceita isso acontecer, tendo problema com as fragilidades da cultura contemporânea. Qualquer um que entra encontra um ambiente confortável, mas não é um desafio e você se acostuma Ir. Mariaelena Aceti Conselho Geral CONSELHO GERAL PROVÍNCIA/REGIÃO/MISSÃO Noruega: Um sinal de esperança, alegria e vida para as Províncias Norueguesa e Italiana 8 4 Brasil: O Valor e a Dignidade da Mulher 2 Novas Santas Ir em uma Missão para superar a Crise 6 Bolívia: Uma Obra de Misericórdia 3 EUA: A Reunião Global de JPIC – 2016 CAPA Sudão do Sul: Um Bilhete do Sudão do Sul 5 Cardeal Braz de Aviz Brasil: Uma Província que se Organiza em Seis Núcleos 9 Nagpur: Qualificadas para Qualificar 6 Brasil: E a Renda Ainda não está Pronta... 11 Tanzânia: Desafiadas a Crescer e Mudar 10

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CSJournalCongregação das Irmãs de São José de Chambéry

Julho - Setembro • Ano 2016 - n. 4

Francês

Inglês

Italiano

Português

Norueguês

ConSelho Geral Sumário

Ir em uma Missão para superar a Crise

“Nós teríamos superado muitas crises internas nas nossas instituições, se tivéssemos

ido em missão. Nós o fizemos, mas não o suficiente.” É o que o Cardeal Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, confessa que havia escrito para o Papa, retornando de Moçambique, uma das muitas viagens que o levaram para conhecer mais sobre os homens e as mulheres consagrados ao redor do mundo.E como não concordar com ele? Como nós não podemos reconhecer que é preciso implementar “uma escolha missionária capaz de transformar tudo”: costumes, estilos, agenda, linguagem e instalações adequadas, para que “se tornem um canal para a evangelização do mundo hoje”(Evangelii Gaudium 27). A impressão, de fato, é que respiramos um ar asfixiado em que os conflitos relacionais são susceptíveis de assumir, vindo a minar a missão em contextos de grandes prioridades para o serviço aos necessitados. A gestão ordinária e administração de ativos tornam-se a única razão para viver, deixando os espaços pobres e subúrbios, por vezes, apenas no

papel dos nossos documentos capitulares. Nesta perspectiva, aqueles que querem “mais”, depois de ter reivindicado por um tempo, começam a recuperar a posse de sua vida e um pouco de tempo criam espaços pessoais gratificante, desistindo da generosa doação que no início os havia movido. A Congregação assim perde, aqui e ali em todo o mundo, membros válidos, mulheres ricas de talento e aceita isso acontecer, tendo problema com as fragilidades da cultura contemporânea. Qualquer um que entra encontra um ambiente confortável, mas não é um desafio e você se acostuma

Ir. Mariaelena AcetiConselho Geral

Conselho Geral

ProvínCia/reGião/Missão

Noruega: Um sinal de esperança, alegria e vida para as Províncias Norueguesa e Italiana

8

4Brasil: O Valor e a Dignidade da Mulher

2Novas Santas

Ir em uma Missão para superar a Crise

6Bolívia: Uma Obra de Misericórdia

3EUA: A Reunião Global de JPIC – 2016

CaPa

Sudão do Sul: Um Bilhete do Sudão do Sul 5

Cardeal Braz de Aviz

Brasil: Uma Província que se Organiza em Seis Núcleos 9

Nagpur: Qualificadas para Qualificar 6

Brasil: E a Renda Ainda não está Pronta... 11

Tanzânia: Desafiadas a Crescer e Mudar 10

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logo, mas também logo paga o preço; quantos jovens juniores, mesmo entre nós, deixam-nos porque, depois de alguns anos, já não vêem sentido na vida que escolheram?Mas não é hora de agir de forma decisiva essa “conversão missionária”, de que o Papa fala tanto? É o tempo para não deixar as coisas como elas são. “Agora não precisamos de uma administração simples”, nós precisamos tornar-nos “em todas as regiões da terra” “um estado

permanente de missão. “ (Evangelii Gaudium 25)E o que é este estado, senão a recuperação da nossa identidade original? Também nós, um pouco como tanto da parte da Igreja, estamos correndo o risco de transformar-nos em contextos mais seguros, conhecidos, na atividade intra-eclesial. Eu me pergunto, que força de identidade têm hoje para as Irmãs de São José, as orientações do Pe. Médaille: Vá para onde não há ninguém... deixe

onde outros assumem.. contribuir para restabelecer a unidade como fracos instrumentos... um corpo sem corpo, uma congregação sem congregação... Quanto elas incidem na nossa disponibilidade e nossas opções apostólicas? Como fazem a diferença quando está na hora de escolher se quer ir ou ficar, se abrir ou fechar, se você resiste ou deixar de ir?Durante anos, pelo menos nos meus vinte e cinco anos na Congregação, nós, Irmãs de São José, ao exprimir um desejo genuíno de renovação, esperamos, no entanto, que o vento virasse e voltasse a soprar a nosso favor. Um pouco como está acontecendo hoje no mundo com a crise econômica, nós desejamos que a crise seja passageira e que tomássemos tempo para que nos sentíssemos fortes e em seguida, retornar para lançar-se em missão.Mas não é só o lançar-se em uma missão que pode curar nossas fraquezas? Não é uma paixão por nosso “querido próximo” com quem nós ainda podemos vibrar, mesmo em nossa fraqueza, que pode abrir novos caminhos e salvar nossa ação e às vezes até as nossas instalações? Eu gostaria que pudéssemos combinar mais, como as nossas primeiras Irmãs, o realismo e capacidade de sonhar, o pragmatismo e ousadia, o envolvimento local e a plena disponibilidade, a certeza de que o Senhor não abandona aqueles que deixam tudo, mas realmente tudo por Ele.

ProvínCia/reGião/Missão

novas

santas

Ir. Nora Doyle (89) Irlanda 16/07/2016Ir. Dominika Wiening (79) Dinamarca 19/07/2016Ir. Jean Marie McAuliffe (85) EUA 27/07/2016Ir. Dorothée Covarel (89) França 10/08/2016Ir. Iva Boschetti (102) Brasil 11/08/2016Ir. Sofia Togni (94) Itália 17/08/2016Ir. Marie Antoinette Chalansonnet (90) França 26/08/2016Ir. Marie Agnès Vignoud (91) França 29/08/2016Ir. Lourdes Teresinha Pastore (81) Brasil 06/09/2016Ir. Therezinha Alessi (80) Brasil 16/09/2016

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A Reunião Global de JPIC – 2016

O Grupo Global de Justiça e Paz (JPIC) se reuniu em St. Johns, Flórida, Estados Unidos, de 13

a 18 de julho, imediatamente após o evento da Federação dos Estados Unidos. Os membros deste grupo, que representa as Irmãs de São José de todo o mundo, incluem as três congregações internacionais – Lyon, Annecy e Chambéry; quatro federações – Estados Unidos, Canadá, Itália, e França - e as congregações independentes na Argentina, Haiti e Austrália. Na reunião de julho, nossa Congregação foi representada por Ir. Nilva Rosin (Brasil) e Ir. Linda Pepe (Estados Unidos), membros da Comissão anterior do JPIC. Também estiveram presentes Ir. Lorraine Marie Delaney (Índia) como facilitadora e Ir. Barbara Bozak (Estados Unidos), como parte da presença da ONG da ONU. O propósito do Grupo Global JPIC, que se reuniu pela primeira vez há quase dez anos, foi desenvolver e promover a comunicação mundial com todas as Irmãs

Ir. Linda PepeEUA

de São José, para que nós tenhamos uma voz universal nas Nações Unidas por meio de nossa ONG da ONU. A reunião de 2016 foi realizada em cinco idiomas – Inglês, Francês, Português, Espanhol e Italiano. Houve discussão em pequenos grupos e partilha em grande grupo com tempos para contemplação. Oito participantes foram convidadas a fazer parte de dois painéis de discussão. O primeiro, centrado na Encíclica dos Papa Francisco, Laudauto Sí, foi apresentado pelas Irmãs da Argentina, Argélia, Itália e Canadá. O segundo, sobre os Objetivos de Desenvolvimentos Sustentável, aprovados pelas Nações Unidas em setembro de 2015, incluíam as Irmãs do Brasil, Índia, Haiti e Estados Unidos. Cada apresentadora foi convidada a se concentrar em como nosso carisma se encaixa com estes dois documentos. Cada uma, refletindo sobre o tema na perspectiva da sua cultura e viva realidade, fez uma apresentação minuciosa e provocante, que gerou muita discussão e nos ajudou a atingir a meta de concordar com um foco único, ainda que amplo, para os próximos dois anos.Tínhamos lido e estudado tudo sobre Laudato Sí, graças a muitos artigos, workshops, apresentações pela web e

vídeos on-line oferecidos por teólogos, moralistas, ecologistas, etc, mas os ODSs não foram tão bem conhecidos ou amplamente divulgados. Enquanto estamos todos familiarizados com a Encíclica e como o nosso carisma de relacionamento correto se encaixa nas admoestações do Papa para cuidar de nossa sociedade, bem como a nossa terra, o mesmo não é verdadeiro para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) que espelham as preocupações expressadas pelo Papa Francisco. Os 17 ODSs, cada um com vários alvos, foram aprovados pelas Nações Unidas com uma data-alvo de 2030. Eles continuam e expandem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que terminou em 2015, sem que todas as metas tenham sido realizadas.Na nossa reunião nós nos tornamos mais conscientes da nossa responsabilidade de manter os burocratas responsáveis por aquilo que foi prometido por seus governos, para que os ODSs possam atingir os seus objetivos específicos. Isso é feito de duas maneiras. Primeiro, nós devemos nos educar, nossos membros e colaboradores sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável com que os nossos líderes nacionais se

Todas as presentes na reunião da JPIC Global em julho

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O Valor e a Dignidade da Mulher

A população de Miguel Calmon, nordeste brasileiro, se caracteriza por ser pobre devido a diversos

fatores entre eles a seca, o desinteresse das autoridades em atender nas diversas áreas, especialmente na educação, assistência e saúde. Há um alto índice de desemprego, analfabetismo, falta de qualificação profissional, prostituição e envolvimento com todo tipos de drogas. Analisando a atual situação das periferias de nossa cidade, nós, as Irmãs da Comunidade Bom Pastor, inseridas nesta realidade, sentimos a necessidade de intervenção e de qualificarmos a população, de modo especial à feminina, em cursos práticos oferecidos pela Caritas Paroquial, grupo que também se mobilizou na estruturação do Projeto para ser encaminhado ao Fundo da Missão Global da Congregação das Irmãs de São José. Observamos mulheres ainda jovens, que se dedicam a vida doméstica, cuidando apenas da casa e de seus filhos. Estas mesmas mulheres necessitam de uma renda financeira, até mesmo para ajudar seu companheiro nas suas atribuições peculiares, como por exemplo educação, saúde, vestuário e alimentação, mas pela falta de capacitação acabam sendo excluídas do mercado de trabalho.

Ir. Zelia Camatti Brasil

Vale a pena ressaltar que a cidade é pobre em cursos técnicos de iniciativa governamental, deixando milhares de jovens carentes à deriva por não poderem ingressar em uma escola técnica particular. Essas famílias são contempladas com vários programas do governo, como o “bolsa família”. Acredita-se que ajude em situação emergencial, porém não traz a dignidade humana que a mulher necessita, sem querer generalizar, deixando essas famílias até acomodadas, como diz o ditado popular, que “não devemos dar o peixe e sim dar a vara para pescar”. Outra razão é o número muito alto de usuários de drogas nas nossas periferias, que, em busca do dinheiro fácil, acabam se envolvendo com o mercado ilícito, trazendo consequências para si, sua família e a sociedade.O Projeto teve início em março de 2016. Semanalmente, durante duas horas no turno vespertino, em torno de 40 participantes frequentam os Cursos, cada uma dentro do qual se inscreveu com

as mulheres voluntárias (costureiras e bordadeiras) do grupo Caritas Paroquial. O grupo, tanto as participantes, quanto as voluntárias, está feliz em participar. A cada dia criam formas novas de dar continuidade, no sentido de buscar recursos próprios para aquisição de material para os Cursos. A Caritas Diocesana de Ruy Barbosa, município vizinho, também tem se envolvido e dado sua contribuição com material e apoio para o Projeto. A exposição dos trabalhos confeccionados será no Bazar Solidário, que acontece duas vezes no ano em nossa Paróquia. É o lugar onde, por enquanto, estarão sendo vendidas e expostas as criações. As voluntárias que ministram os Cursos se dispõem a dar continuidade em 2017 para outras participantes que desejarem. Ao mesmo tempo, as participantes que estão frequentando desejam realizar outros cursos como Artesanato em Velas e Diversos e Pintura em Tecido com pessoas habilitadas e também voluntárias do grupo da Caritas Paroquial.

comprometeram. Em segundo lugar, nós, cidadãos, devemos manter pressão sobre nossos representantes eleitos para cumprir sua promessa.Depois de muita discussão e contemplação, o grupo chegou a um foco comum para os próximos dois anos: “Mulheres”. Isto é suficientemente amplo para incorporar todas as realidades e os ministérios das Irmãs de São José e pode ser abordado igualmente da Encíclica

e dos ODSs. Nos próximos dois anos, tudo será solicitado a se concentrar em algum aspecto deste tópico. No entanto, outro objetivo do encontro foi criar uma estrutura através do qual podemos comunicar e compartilhar as informações umas com as outras e com nossas representantes da ONG da ONU duas das quais (Justine Senapati e Marianne Sennick) salientaram a importância das informações recolhidas de todas as Irmãs

de São José para serem incorporadas em seus relatórios e apresentações. Seis irmãs se ofereceram para serem membros de um Comitê de núcleo que funcionaria como disseminador e coletor de informações para nossas representantes nas Nações Unidas. Indo em frente, vai haver mais comunicação com os membros da nossa Congregação à medida que a tarefa ganha clareza e direção.

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Um Bilhete do Sudão do Sul

Aqui o ministério e a vida estão muito difícil e muito arriscados; a qualquer hora em qualquer lugar, nós

podemos ser atacados. Em julho, tivemos a Assembleia de todos os membros da Solidariedade em Juba, capital do Sudão do Sul. Após três dias de reunião, nós partimos pelo voo de manhã para Yambio, onde estou trabalhando agora. E a guerra, em Juba, começou na noite do dia em que partimos. Milhares de pessoas foram mortas.É imprevisível o que vai acontecer. Confiamos em Deus e continuamos fazendo a nossa parte. A Faculdade está indo bem. Em julho, com a ajuda dos alunos, eu completei um livro sobre Provérbios Africano. Agora estou trabalhando em Rimas Africanas. Agradeço por receber bons pensamentos, histórias ou orações porque realizamos as reuniões da manhã para os alunos. Aqui não há vida social. Me mantenho ocupada costurando as roupas rasgadas dos estudantes (porque todos eles têm roupas de segunda mão), com aconselhamento, cura de traumas, ouvindo suas histórias de vida. Os eventos de vida deles são bastante desafiadores e assustadores; coisas de que nunca ouvimos falar.Em uma carta de julho ao pessoal da Igreja, o Arcebispo de Juba escreveu: “Se qualquer missionário quer sair do lugar,

Ir. Gracy Paul Sudão do Sul

pode fazê-lo.” Mas decidimos ficar. Em tempos difíceis, temos mais a oferecer, talvez, do que em tempos estáveis. As pessoas sabem que podemos sair dali mas são encorajadas quando escolhemos ficar com eles. O ‘Poderia você não vigiar uma hora comigo?’ assume um novo significado. Somos chamados a viver a nossa fé cristã. Como o arcebispo Paolino escreveu: «Seja forte e tenha boa coragem porque o Senhor nosso Deus está conosco nesse momento difícil. “ Um importante fator para a instabilidade é a violência imposta ao povo pela polícia, soldados e seguranças. Eles parecem pensar que seus uniformes e armas lhes dão o direito de fazer o que quiserem e quando quiserem, sem medo das consequências. Quando os soldados não são pagos, porque o governo não tem dinheiro para pagá-los, eles se voltam para saquear, estuprar e agarrar tudo o que podem a partir dos vulneráveis. É a consequência de uma economia quebrada. Aqueles que deveriam proteger a sociedade tornam-se os autores da violência. É a lei da selva: sobrevivência do mais forte! Aqui, quando a violência eclode, as pessoas fogem para ‘ o mato” e muitos morrem lá. Muitos de nossos alunos perderam membros da família. Eles só choram e suportam esta situação porque eles não podem ir para seus funerais. Ajudamo-las a perdoar e estar em paz.

Agora a situação é pacífica. Temos aulas regulares na nossa faculdade. Sinto-me feliz e privilegiada de estar aqui para apoiá-los e reconhecer como as orações de muitos nos sustentam.

Em nossa última edição publicamos um artigo de Ir. Paul Gracy que está no Sudão do Sul. Recentemente, ela mandou essa atualização para a Provincial e o Conselho Geral. Aqui podemos compartilhar sua experiência com você.

Irmã Gracy Paul, uma Irmã da Índia, nascida em Nagpur, foi professora por alguns anos e trabalhou com crianças de rua em Bombaim e também com

crianças analfabetas. Em 4 de janeiro de 2016, sem medo

e pondo de lado os confortos materiais, ela foi para o

Sudão do Sul, onde continua a servir os mais necessitados.

CSJournal • Ano 2016 - n. 4CSJournal • Julho - Setembro6

Uma Obra de Misericórdia

Quando chegamos em Santa Cruz, em 2013, não sabíamos por onde começar nossa missão. Tínhamos

um espaço da casa, o primeiro piso, próprio para um trabalho social. A associação de vizinhos do bairro fez-nos a proposta de abrirmos uma creche por ser uma das necesidades do bairro. À primeira vista, dissemos que não, porque nos parecia melhor continuar o projeto de Apoio Escolar que as proprietárias anteriores da casa, as Irmãs Missionárias Carmelitas, tinham. Contudo, o grupo de vizinhos seguiu insistindo na proposta, nos anos seguintes. Em conversa com Irmã Ieda Tomazini, Conselheira Geral, em visita a nossa Região, em 2015, consideramos a ideia e decidimos aceitar o desafio. Vivemos em um bairro da periferia da cidade de Santa Cruz. A maioria da população é formada de migrantes de outros estados que vêm em busca de trabalho e melhores condições de vida. A maioria vive de aluguel de um quarto para toda a família. Os trabalhos mais comuns são o comércio de roupas usadas, frutas, verduras e comidas. A creche veio responder uma necessidade das famílias e mães solteiras que devem trabalhar para sobreviver; muitas delas levam seus filhos consigo deixando-os expostos a muitos perigos da rua ou os deixam fechados em seu quarto. Assim, desde 2015, estamos acolhendo cerca de 40 crianças, com a

Ir. Antonia Constantina Mandro Bolívia

idade de seis meses a cinco anos, tendo três educadoras e uma cozinheira para atendê-las. Com o passar do tempo, queremos aumentar esses cuidados para 60 crianças. Meu trabalho é de coordenação da creche, compra de alimentos, reuniões com os pais, matrículas e de responder pela creche mediante o convênio com o Governo de Santa Cruz. Os pais pagam uma mensalidade de acordo com as possibilidades familiares, o que contribuiu para alguns gastos de alimentação e manutenção. O governo assume os salários das educadoras e dão os alimentos secos. A experiência destes dois anos está respondendo à necessidade das famílias, cujos recursos são escassos, oferecendo às crianças um

acompanhamento para que possam ter um desenvolvimento integral nesta idade na qual devem receber boa alimentação, educação e valores. Os pais também recebem orientação através de várias atividades que são realizadas durante o ano. Assim, enquanto Região da Bolívia, estamos utilizando o espaço da casa e isto é, também, uma maneira de ajudar-nos no sustento da comunidade. Somos três Irmãs na Comunidade, porém só uma trabalha diretamente na creche; as outras assumem um serviço pastoral diferente, de acordo com suas possibilidades e condições. Pelo apoio mútuo e partilha de nossos dons, somos uma presença significativa e evangelizadora no bairro e na paróquia.

Qualificadas para Qualificar

Chamadas para lançar-se ao largo, para ampliar a tenda e viver o dinamismo da reconciliação e da

Ir. Olinda Fernandes Província de Nagpur, Índia

unidade nas periferias do nosso mundo fraturado, continuei minha jornada de estender a mão para o último, o perdido e o mínimo. Por anos eu fui visitar e ajudar as viúvas e os que ficavam em casa, mas sempre quis fazer algo mais... e assim, com uma

companheiro ou outra, comecei a visitar as áreas de favela em torno de Chembur. Em cinco anos de interação com eles, eu conheço a sua situação, seus problemas, sua miséria. As mulheres do povo daqui são as que mais sofrem, com marido bêbado ou infiel, filho pródigo, brigas

CSJournal • Ano 2016 - n. 4CSJournal • Julho - Setembro 7

Ir. Olinda ensinando uma mulher a usar a máquina de costura

com os sogros, vizinhos briguentos etc ... cada uma lutando pela sua própria sobrevivência.As mulheres têm de fazer face às despesas, cuidar de seus filhos, trabalham muito para conseguir uma refeição por dia, e se é uma questão de educar os filhos isto quer dizer trabalho duro extra e poupança. Vivendo em uma sociedade dominada pelos homens, as mulheres não têm voz, mesmo que sejam elas que ajudam a família a sobreviver. A segurança de meninas é de alto risco e assim meninas estão comprometidas e se casam em tenra idade. Não sendo encorajadas a estudar, muitas abandonam a escola em uma idade muito jovem. As mulheres e meninas são altamente talentosas e, se dada oportunidade, seriam brilhantes academicamente. Elas são trabalhadoras e se sacrificam. Prover a água e cozinhar são duas principais funções destas mulheres, após o qual elas se mantém ocupadas com trabalhos baratos, anti-higiênico e muito mal pagos, como limpeza e corte de couro para sapatos. Então, elas são levadas para trabalhos mal remunerados em fábricas ou como empregadas domésticas. Em ambos os casos, são mal pagas. Acreditando que a ferramenta mais eficaz para o desenvolvimento é o empoderamento, percebi que eu poderia pessoalmente dar-lhes algumas habilidades de geração de renda que não exigem qualquer tempo específico e espaço, equipando-as assim para um futuro melhor e mais brilhante.Costura sempre foi minha paixão e eu tenho um Diploma de Costura e Alfaiataria. Ao longo dos anos partilhei este talento, treinando muitos grupos e indivíduos. Este ano o tema do Capítulo Geral me encorajou a alcançar aqueles na periferia do nosso mundo fraturado. Com o apoio e incentivo da Irmã Lorraine Marie, em janeiro deste ano eu intensifiquei minhas visitas às favelas. Convidei algumas mulheres das quatro favelas vizinhas interessadas em assistir as sessões de treino. Apesar de seu nível de perseverança ter sido muito baixo, eu estava determinada a tentar, uma vez que eu não tinha nada a perder.Comecei o planejamento e encontrei pessoas que pensavam como eu para

patrocinar o projeto. Eu usaria uma sala no nosso antigo centro social; as mulheres sentariam no chão onde elas estariam mais confortávei; coletei velhos lençóis e cortinas, costurei amostra de vestuários, sacolas, bolsas etc... Coloquei nas paredes cartazes sobre a emancipação das mulheres e com citações bíblicas.As mulheres gradualmente se revezaram para conduzir e fechar as sessões de treinamento com uma oração, que ajudou sua própria vida de fé e deu-lhes a necessária confiança para falar em público. Para surpresa de todos, as mulheres foram capazes de costurar 8 vestuários e 8 variedades de sacolas, tudo em apenas 15 dias de trabalho!!!! Tenho contato com algumas indústrias de pequena escala que forneceram pedaços de material, pronto para ser costurado... Quanto mais elas costuravam, mais elas ganhavam. Discutimos também problemas relacionados à família e saúde, e procuramos soluções juntas. No processo de capacitar as mulheres, elas foram guiadas a capacitar outros. Sua “gurudakshani” (taxas) seria treinar outras mulheres em sua localidade e retornar no mês de julho com a sua

aprendiz para um curso avançado, planejado para elas.Tivemos uma exposição de tudo o que todas as mulheres tinham produzido neste curto tempo. As mulheres, elas mesmas, organizaram o programa de celebração do dia. Uma celebração de oração, partilha de opiniões e até mesmo palavras de agradecimento foram feitos maravilhosamente por elas. Na sua partilha, as mulheres mencionaram como elas foram habilitadas para aprender e por sua vez demonstraram diante da classe o seu próprio entendimento. Minha alegria será completa quando eu as vir independentes para ganhar seu próprio sustento e viver com dignidade.

Ir. Olinda com algumas mulheres

CSJournal • Ano 2016 - n. 4CSJournal • Julho - Setembro8

Um sinal de esperança, alegria e vida para as Províncias Norueguesa e Italiana

Foi um convite espontâneo para as Professas Temporárias da Itália para virem para a Noruega que deu às

jovens a oportunidade de se encontrarem. Ir. Marianne Tran Thi Quyen, do Vietnã, fez sua Primeira Profissão em 13 de agosto de 2016; um grande dia na província norueguesa que se fez ainda mais alegre com a presença de alguns novos membros da província italiana.A Mãe e a irmã de Sr. Marianne vieram do Vietnam e estavam lá para comemorar junto com as Irmãs norueguesas. A província italiana foi representada por três Irmãs: Ir. Cristina Gavazzi, Provincial da Itália, juntamente com duas irmãs em seus primeiros votos, Ir. Veronica Poopana e Ir. Vanessa Perna. Ir. Marialena Aceti, membro do Conselho geral, também veio para a celebração.A Província de Noruega recebeu, em 2008, as duas primeiras jovens vietnamitas que queriam descobrir se elas tinham a vocação para ser Irmãs de São José. Hoje, existem dez jovens vietnamitas com a gente, entre eles seis professos temporárias, duas postulantes que começaram seu Noviciado em 4 de setembro e duas candidatas que só começaram sua jornada na vida religiosa. O programa que estas jovens seguem na província norueguesa começa com convite à nova candidata para ficar um ano na Noruega para fazer a experiência da província com Irmãs idosas, a língua norueguesa, o clima, cultura, linguagem e alimentos. Então ela pode viajar para casa por um mês e discernir se ela se sente que tem vocação para a Noruega ou não. Este ano dá a província norueguesa uma

Ir. Marie-Kristin Riosianu eIr. Anette Moltubakk Noruega

oportunidade para conhecer a candidata e discernir sua vocação também.Durante seus primeiros anos na Noruega, estes jovens irmãs vietnamitas estudam

a língua norueguesa em casa ou em uma escola de idiomas. Mesmo que muitos delas tenham estudos universitários, elas têm que ter um bom conhecimento da

Ir. Marianne com as visitants italianas (da esq. para a dir.) Irmãs Vanessa, Mariaelena, Cristina e Veronica

Jovens vietnamitas na Província da Noruega (6 junioristas, 2 noviças, 2 candidatas) e a irmã de Ir. Marianne)

CSJournal • Ano 2016 - n. 4CSJournal • Julho - Setembro 9

língua norueguesa para fazer ainda mais estudos. Uma recebeu o grau de bacharel em teologia e agora está estudando para se tornar assistente social, um curso que leva três anos. Duas são treinados para trabalhar com crianças e jovens; atualmente, ambas ensinam em um jardim de infância. Uma está sendo treinada para trabalhar na saúde, uma educação que envolve tanto a teoria como a prática. Uma é enfermeira qualificada no Vietnã e, tendo sido aprovado como trabalhadora na saúde na Noruega, está trabalhando agora em um asilo. Ir. Marianne, que está

estudando música, completou o primeiro ano de um programa de cinco anos. Todas elas recebem uma sólida formação em espiritualidade e teologia, bem como em nosso carisma e história. Uma vez que este é um país luterano, na área de teologia, trabalhamos em conjunto com a Universidade Luterana.Mesmo que a província tenha apenas 28 Irmãs e a maioria das irmãs seja idosa, com três mais 90 anos, a Província de Noruega ainda está ativa. Nós nos esforçamos para ser e construir pontes entre a Igreja Católica e as outras

denominações e a sociedade. Esta celebração dos primeiros votos foi ainda outra ocasião para criar novas pontes entre as Províncias.Havia um ambiente alegre e familiar entre as jovens Irmãs das duas províncias à medida que elas se conheciam um pouco mais. Apesar de nacionalidades, culturas e línguas diferentes, elas experimentaram um relacionamento de forma entusiástica e cheia de vida. Isto incentivou a todas nós para continuar a colaboração na formação inicial, colocando em ação uma dos apelos do Capítulo Geral.

Logo da Província Única: “Eis que estou fazendo uma coisa nova” (Isaías 43,19) – Na unidade, abraçar a MISSÃO ousando fazer Novas todas as coisas.

Uma Província que se Organiza em Seis Núcleos

A partir do Capítulo Provincial, celebrado de 25 a 30 de janeiro de 2016, as Irmãs de São José

de Chambéry formam uma Província Única no Brasil. A fim de garantir maior participação de todas neste processo de integração decidimos nos organizar em seis Núcleos, por proximidade geográfica. Em cada Núcleo realizou-se uma assembleia com objetivo de um maior conhecimento e integração das Irmãs e organização do mesmo. Nesta assembleia foi escolhido um nome significativo para o Núcleo, ficando assim denominados: São José, Sagrada Família, Caminho Novo, Bom Pastor, Ir. Cecília Inês Muraro e Santíssima Trindade. Em cada Núcleo, escolhemos uma Irmã como Animadora, que tem como missão acompanhar e dinamizar a vida das comunidades, em estreita comunhão com o Conselho Provincial. Esta Irmã faz parte do Conselho Ampliado (Conselho Provincial, Animadoras dos Núcleos e/ou Coordenadoras das Equipes de Serviços) que é uma instância de participação,

Ir. Luiza Rodrigues, Ir. Elisa Fátima Zuanazzi, Ir. Geni Estegues Pereira, Ir. Katia Rejane Sassi e Ir. Neuza Maria Delazari Conselho Provincial, Brasil

de busca, de reflexão e de tomada de decisões no que diz respeito à vida em missão da Província.Os núcleos são uma forma de organização para garantir a participação de todas as Irmãs na Província. Eles não são miniprovíncias. Cada núcleo tem suas

particularidades e seus desafios. O que dá a unidade entre eles é o Conselho Ampliado e o Plano de Ação da Província.O termo “NÚCLEO” tem diversos significados. Do latim “nucleus”, pode-se dizer que se trata do elemento primordial ao qual se juntam outros para formar um

CSJournal • Ano 2016 - n. 4CSJournal • Julho - Setembro10

Desafiadas a Crescer e Mudar

Nós, Irmãs missionárias na Tanzânia, no ano de 2016, vivemos tempos de acolhidas, despedidas, perdas

e recomeços. Este é um ano que nos

Ir. Josiane Mota Coelho Tanzânia, África

desafia a buscar saídas, a construir o novo com nossas próprias forças, acolher quem chega, com o desafio da língua, da inserção numa realidade que nos desafia a abertura constante ao novo, ao diferente. É também um ano de dizer adeus a quem, após ter prestado seu serviço, tem que voltar ao país de origem. Aqui temos que descobrir a melhor

forma de ser presença numa Igreja e numa realidade diferentes de tudo que já vivemos, no que se refere ao método, à forma de organização, de expressão da fé. Por exemplo, somos desafiadas a nos despir constantemente da forma como estávamos acostumadas a rezar, a organizar a catequese, o trabalho com a juventude, nosso jeito de celebrar a fé, a

Da esquerda: Ir. Josiane, Ir. Malathi, Ir. Nilza, Ir. Feliceta, Ir. Lilly

todo. Também se conhece como “núcleo” o “cerne” ou o ponto central de algo, o âmago, a essência, o ponto principal, seja material ou imaterial. Por outro lado, “núcleo” é o “miolo”. Noutro contexto, dá-se o nome de “núcleo” ao grupo de pessoas com interesses comuns. Quando escolhemos nos organizar assim, não tínhamos bem presente a profundidade desta palavra. Porém, ficam para nós as provocações de tornar estes seis Núcleos “centros” de convivência fraterna, “cernes” da vida em missão que se nutre da “essência” da Palavra expressa na proposta evangélica de Jesus Cristo. Eles são partes de um todo que se juntam para formar a Província Única das Irmãs de São José de Chambéry no Brasil.É nos “Núcleos” que acontece a vida! É nos “Núcleos” que se experimenta a beleza do sentir-se enviada por Deus

no serviço do anúncio da Boa Notícia ao pobre, ao pequeno, ao excluído, ao marginalizado, ao migrante, ao sem voz e sem vez. É nos “Núcleos” que se alimenta a paixão por Jesus Cristo sedento de paz, de justiça, de respeito aos direitos fundamentais da criança, do idoso, da mulher, do jovem e da família. É nos “Núcleos” que se nutrem sonhos, esperanças, partilha de vida, de sentimentos, de buscas comuns, de desejos de ir às periferias existenciais, de cultivo da dinâmica da missionariedade e da itinerância. Tudo isto fomos tocando ao visitar os Núcleos, juntamente com a tomada de consciência dos desafios do respeito às nossas diferenças, idades, limites de saúde, distâncias enormes entre as Comunidades e outras situações. Mas, isto tudo não arrefeceu nosso entusiasmo e nosso acreditar que “uma

coisa nova está brotando” e nós já vemos surgindo entre nós. A Província Única do Brasil está em construção. Ela depende do tijolinho de cada uma de nós, colocado com amor, com confiança e na corresponsabilidade. A integração vai acontecendo na medida em que vamos dando passos nos níveis pessoal, comunitário, intercomunitário, no Núcleo, entre os Núcleos, na Província e na Congregação.Somos herdeiras de um carisma que nos convoca e provoca ao “mais”. Somos parte de um corpo chamado Congregação que vem nos desafiando há muitos anos a dar passos na reestruturação de nossas Comunidades, Províncias e formas de governo. O Senhor nos conduziu até aqui! Iluminadas por sua Palavra acreditamos que Ele continuará nos acompanhando nesta jornada.

CSJournal • Ano 2016 - n. 4CSJournal • Julho - Setembro 11

forma como celebramos os mortos etc., para acolher a forma da realidade que nos acolhe e que nos convida, cada dia, a uma aprendizagem nova e dinâmica. Um desafio concreto é a comunicação através da língua, no que concerne às suas expressões, numa comunicação que vai além dos gráficos gramaticais. O desafio é sempre uma abertura a nossos “saberes”, nossas certezas, para dar espaço à aprendizagem que acrescentamos à nossa bagagem quando chegamos numa nova cultura. Outra experiência que nos desafia e enriquece é o fato de sermos Irmãs brasileiras e indianas na Tanzânia, o que significa dizer que somos de culturas diferentes, inseridas em uma cultura diferente. Significa que falamos línguas diferentes no meio de um povo com línguas diferentes. E, aqui está uma grande riqueza, porque a cada dia, nos descobrimos mais como Irmãs, nos entendemos melhor, o que exige prática constante de paciência, criatividade e abertura. A cada passo, a cada desafio enfrentado, a cada conquista alcançada, a cada projeto elaborado, nos reafirmamos na certeza de que Ele é fiel, faz caminho conosco, embora em certos momentos não consigamos entender seus desígnios, como foi a partida repentina e inesperada de Irmã Elenice Buoro. Porém, acolhemos na fé e no compromisso de servir da melhor forma possível, de qualificar nossa

presença de Irmãs de São José nesta terra.Quando falamos de organização de grupos, por exemplo, a cultura Tanzaniana dá um espetáculo. Tem uma prática organizativa de distribuição de tarefas e serviços, que embora bastante hierárquica, funciona. Há um grande respeito pelas diferentes funções num grupo, assim como um respeito à participação de cada um. Outro aspecto a ser acentuado, é a forma de organização da Vida Religiosa nesta Igreja. Aqui se tem uma herança Beneditina de muitos anos. Há um estilo, uma forma de organizar a vida religiosa, uma forma de rezar. São comuns os monastérios, as grandes estruturas, as vestes, ou seja, os hábitos, que caracterizam a Vida Religiosa. Dentro

disso, temos que encontrar o espaço e a forma, por exemplo, para a formação e a animação vocacional. Além de sermos estrangeiras, temos que contar com o impacto de nossas diferenças, de sermos as únicas Irmãs nesta Diocese e uma das poucas no país que não usam o hábito. Isso faz diferença, porque traz uma nova realidade numa cultura onde os uniformes são comuns e importantes. Não obstante, há jovens que se encantam com nosso carisma. Há jovens em processo e as acompanhamos através de visitas às famílias no projeto “Vinde e Vede”, que além de as jovens conviverem conosco, recebem formação humana e cristã. Com todos os desafios que enfrentamos, estamos cheias de alegria e de esperança, enquanto nos movemos para o futuro de nossa missão na Tanzânia.

E a Renda Ainda não está Pronta...

No mês de maio, tive a grande alegria de vivenciar uma experiência que marcou muito minha vida. Junto com

algumas Irmãs e a leiga Lúcia Ivani, estive em Le Puy, França, onde meus olhos contemplaram a paisagem e o contexto onde nasceu o Carisma de Comunhão.

Pricila Keumana Leiga do Pequeno Projeto, Brasil

Meus pés pisaram o chão sagrado da missão do Fundador Pe. Jean Pierre Médaille e meu coração vibrou ao entrar em sintonia com um Projeto, que de Pequeno só tem o nome. Éramos 16 participantes e três tradutoras, oriundas de diferentes países: África, México, Brasil, Índia, EUA, França e Egito. Podíamos nos comunicar, graças ao serviço das tradutoras: Irmãs Maria Elisabete Reis, Simone Saugues e Maria del Pilar Sordo Linares, para os idiomas Português, Inglês, Francês e Espanhol.

Foram dias intensos de silêncio, oração e contemplação. A assessora, Ir. Jane DeLisle, da Congregação das Irmãs de São José de Orange, Califórnia, Estados Unidos, cada manhã nos preparava uma surpresa. Dava-nos um roteiro de como vivenciar o dia. Tudo era baseado na vida e nas origens do nascimento da Congregação de São José.Tenho a alegria de partilhar o que vivenciei no encontro e envolvimento com nossas mulheres líderes: Françoise Eyraud, Clauda Chastel, Marguerite

Edição

Barbara BozakAndréia Pires

ProjEto Gráfico

Andréia Pires

traduçõEs

Agnès MoussièreCristina Gavazzi

Ivani Maria GandiniJoyce Baker

Margherita CorsinoMaria Elisabete Reis

Marie-Kristin RiosianuMarie-Pierre Ruche

distribuição

Rossella Galli www.csjchambery.org

E-mail

[email protected]

CSJournal • Julho - Setembro12

Grupo que participou do Programa

Bourdier, Anna Brun, Anna Charlayer, Anna Vey e Marguerite de St. Laurent. A assessora nos situava na história dessas mulheres, depois nos dava um momento para interiorizar a história de cada uma. Após esse tempo de oração/contemplação, propôs que escrevêssemos uma carta àquela que mais nos tocou o coração. Minha escolhida foi Marguerite de Saint Laurent. Foi leiga espiritual e letrada. Serviu no hospital para ajudar a educar as meninas. Não se tornou Irmã de São José, mas viveu em profundidade a espiritualidade na vida eremítica. Cada participante leu sua carta no pequeno grupo de vivência, onde houve a escolha de uma para ser lida no grupão. O grupo deu-me a honra de escolher a minha e eu me senti profundamente em comunhão com a vida dessa líder.Diariamente a assessora nos dava um texto preparado por ela e alguns textos

bíblicos e as Máximas. Fazíamos uma leitura no grupão e após cada uma se retirava para um tempo de oração pessoal. Terminado esse tempo, partíamos em caminhada pelas ruas de Le Puy, dando continuidade à contemplação. Todas juntas, no final de cada dia realizávamos a partilha do estado do coração. Outro momento apreciado por mim foi a visita à Primeira Cozinha das Irmãs. Na cozinha foi proclamado o nome das fundadoras e o grupo dava como resposta: “Estejam conosco!”. Alguns lugares que também me falaram muito ao coração foram: a praça onde as Irmãs foram martirizadas, a catedral, o Morro São Miguel e o morro de Nossa Senhora. Fizemos uma peregrinação a Lion onde teve um momento de oração no túmulo da Madre São João Fontbonne e visitamos o museu da Congregação

que muito me falou da austeridade das primeiras Leigas e Irmãs. Nesse encontro me senti continuadora do Projeto que iniciara em 1650. Passo a passo, no passar dos anos, o Projeto foi se construindo, foi se tecendo como se tece uma renda. Nós continuamos a tecelagem, vivenciando a espiritualidade. Esta construção ainda não está pronta, porque nós estamos dando continuidade. Em nossas mãos estão todas as ferramentas para inventar as novidades, que, segundo o Espírito, se fazem necessárias, para que a comunhão continue crescendo. Posso dizer que esta vivência me trouxe-me um encantamento pela atuação do Espírito no coração das primeiras Leigas e Irmãs que acolheram o grande tesouro do Carisma de comunhão. Sinto-me mais comprometida em dar continuidade, no contexto do meu dia a dia, à renda iniciada em Le Puy.