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Sumrio
Prefcio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 O dia em que os seres humanos entenderam a fora da gravidade . . . . . . . 13
Enviamos um rob a Marte, mas ainda no aprendemos
a andar corretamente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
possvel modificar e aprimorar o modo de se mover sobre a terra . . . . . 18
A sociedade de consumo e o sedentarismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
A anlise do movimento por imagem e a tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1 Os principais conceitos do mtodo de fora dinmica . . . . . . . . . . 25 Fora dinmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Biomecnica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Fora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Fora da gravidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Fora do peso corporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Fora de atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Fora de reao ao solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Fora de propulso e propulso do centro de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Fora de motivao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Percepo cinestsica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Adaptaes fisiolgicas aos exerccios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Comportamento motor: controle, desenvolvimento e aprendizagem . . . . . 43
Controle postural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
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As informaes sensoriais e a tomada de deciso no controle postural . . . . 54
O conceito de coordenao motora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
O conceito de rotao ssea durante o movimento articular . . . . . . . . . . . 56
O conceito de lateralidade motora e a assimetria na aplicao de fora . . . 57
Como determinar a lateralidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Fora dinmica e a modificao dos padres motores e da fora corporal . 60
A organizao dos exerccios de fora dinmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2 A propagao de fora pelo corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 As foras que atuam no corpo parado em p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
As articulaes na posio parado em p segundo a fora dinmica . . . . . 70
3 A marcha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 A evoluo da marcha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
A funo da marcha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
As fases da marcha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
Relaes entre as foras e as fases da marcha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Observao do corpo nas fases da marcha e exerccios especficos . . . . . . 112
4 Concluso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
5 Exerccios de fora dinmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Posies corporais solicitadas e instrues para o parado em p . . . . . . . 143
Exerccios de fora dinmica para o parado em p . . . . . . . . . . . . . . . . . 144
Exerccios de fora dinmica para a marcha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
Referncias bibliogrficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
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Prefcio
EXISTE UMA GRANDE LACUNA ENTRE o conhecimento emprico e as bases cientficas
em uma variedade de fenmenos e relaes. A cincia evolui para atender s ne
cessidades de informao mais prementes de determinada sociedade e poca e,
muitas vezes, apenas tange problemas relevantes relacionados ao cotidiano. Na
cincia acadmica h claramente movimentos que pressionam pela abordagem de
um ou outro tpico, problema ou viso que, no raro, segue moda ou demandas
especficas dos gestores da sociedade e associam se a uma maior visibilidade do
cientista e ao maior fomento na rea. Pode se assim afirmar, sem leviandade, que
muitos aspectos da biologia que mereceriam devoo e estudo nos mtodos for
mais acabam no sendo abordados. So exemplos dessa dissociao a aplicao
popular de produtos naturais e uma mirade de outros, incluindo um corpo de
conhecimento emprico sobre a atividade fsica que continuamente estabelecido
por praticantes de diversos esportes e profissionais na rea de treinamento fsico e
de sade do esporte. A literatura cientfica formal relacionada ao estudo do movi
mento humano vem crescendo, mas no na velocidade, profundidade e abrangncia
necessrias ao entendimento dos processos fsicos e biolgicos a ele relacionados.
mister que um esforo seja empreendido no sentido de estabelecermos
uma relao entre o que observado na rotina de esportistas e profissionais do
esporte e da sade e os fenmenos mecnicos e biolgicos associados estritamente
dentro do mtodo cientfico. essa a enorme virtude da presente publicao, na
qual os autores, profissionais de vasta experincia no atendimento de indivduos
sedentrios, com dificuldades motoras de variadas etiologias, e de atletas recrea
cionais e profissionais, intentam estabelecer o vnculo entre o que acontece na
prtica e as bases cientficas associadas.
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Conheci esses profissionais em uma palestra ministrada a triatletas, quando
me encantei com a viso singular e original que apresentavam sobre fenmenos
biomecnicos e metablicos na prtica da atividade fsica. Embora detenham co
nhecimento extenso sobre a pliade de informaes e correntes de pensamento e
atuao em suas reas (quer treinamento, quer terapia), no se atm a elas. Ao
contrrio, propem continuamente novas abordagens e olhares inditos sobre os
problemas que lhes chegam no dia a dia. Assim, lograram construir uma nova
proposta de compreenso e atuao, que agrega um olhar minucioso e uma rup
tura dos conceitos que regeram por muito tempo a conduta dos profissionais
atuantes na atividade fsica.
As observaes e os comentrios dos autores levaram me a buscar uma
maior proximidade com a aplicao de suas teorias. Fui, dessa forma, cobaia e
interlocutora de seus mtodos empricos, tendo aprimorado (nos dois anos de in
tenso convvio) meus movimentos no caminhar, no correr e na arte marcial que
pratico h mais de 28 anos, o carat shotokan tradicional. Os resultados foram
para mim surpreendentes, assim como aqueles que observava ocorrer em toda
sorte de indivduos com os quais os autores trabalhavam. Minha atuao, como
professora associada ao Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So
Paulo, h 20 anos, na rea de medicina translacional (que pretende justamente
levar o conhecimento cientfico de bancada para a aplicao em sade e esporte),
levou nos em conjunto proposta de amealhar um estofo de formalidade cientfica
viso dos autores. Assim, estudamos na atualidade as bases metablicas associa
das aos processos que eles abordam na clnica.
O livro fornece ao leitor a oportunidade de mergulhar nesse olhar inovador
subsidiado pela prtica, alm de explicaes e discusses, da perspectiva do mto
do cientfico. A invulgar cultura geral que os autores detm deu origem, conse
quentemente, a uma publicao que fornece ideias inovadoras, substanciadas por
aspectos de observao histrica, clnicos e cientficos.
Marilia Seelaender
Ph.D., livre docente do Instituto de Cincias Biomdicas da
Universidade de So Paulo
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Apresentao
INSUFICIENTEMENTE EXPLORADO PELOS diferentes profissionais da rea corporal, o po
tencial de treinamento de fora durante uma caminhada o tema central do m
todo fora dinmica.
Compreender como se d a aplicao de fora num ato to simples como a
marcha humana requer ateno, interesse e conhecimento de como acontecem
suas diferentes fases. E o que dizer da posio parado em p? Muitos se perguntam
de que modo reagimos ao gravitacional que nos achata constantemente. En
tendemos que se deve aplicar uma fora que possa empurrar o solo e, consequen
temente, nossos ossos? Como fazer isso? Acordar nos para essas questes e propor
respostas para elas so os desafios desta obra.
Os autores estruturaram este livro para auxiliar o estudo e a prtica de fisio
terapeutas, professores de educao fsica e profissionais do esporte e da dana,
trazendo a mecnica do ato da marcha como elemento integrador do movimento
humano. Alm disso, procuram demonstrar por meio de ilustraes e fotos que
somente a boa postura no garante a adequada reao gravidade no parado em
p. Ela deve estar acompanhada da inteno de manter a fora e os ajustes mus
culoesquelticos necessrios para sustentar a ao por determinado tempo. Ou
seja, para uma boa postura em p, deve se somar a coordenao entre os ossos
com a inteno de aplicar a fora de empurrar o cho com o antep.
O objetivo principal dos profissionais desta obra propor o entendimento
da postura como resultante das foras s quais o corpo submetido de forma sis
temtica. Dito de outro modo, devemos compreender que as foras do parado em
p eda marcha interferem na postura. Para isso, lanam mo de princpios das
cincias do movimento, comoa biomecnica, a aprendizagem motora e a fisiolo
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gia do exerccio, dando assim subsdios tericos consistentes a uma forma inovado
rade interferncia nos padres motores relacionados ao gesto motor da marcha,
do cotidiano e do treinamento esportivo.
Sou uma das profissionais que se beneficiam diretamente de tais conheci
mentos. Desde 2009 acompanho de perto as pesquisas de Marcelo e Alexandre,
tendo incorporado prtica da ginstica holstica o conceito de aplicao de for
a. Em 2012, apresentei no II Congresso Internacional de Ginstica Holstica o
resultado desse acrscimo.
Dou meu testemunho de que este livro deve ser lido, estudado e consultado
e se tornar um clssico de pesquisa, pois um guia seguro para se elaborar uma
proposta de interveno adequada de trabalho corporal, seja na clnica fisioterpi
ca ou no ambiente de academia. Saber analisar o gesto do aluno, e no apenas a
execuo repetitiva de movimentos de fortalecimento muscular, tornar o profis
sional diferenciado e bem sucedido.
A avaliao postural e cinemtica que os autores exaustivamente procuram
ensinar por meio de excelentes fotos e ilustraes do corpo na posio parado em
p e durante os gestos motores permite a identificao das foras que atuam no
corpo do indivduo. Como a fora no pode ser vista, o que se observa so os
efeitos de sua aplicao, como as assimetrias entre o lado direito e esquerdo rela
cionadas com a prtica esportiva ou os padres motores usados em situaes coti
dianas, como permanecer em p ou sentado posio esta em que as pessoas
permanecem cada vez mais. Ensinar e treinar o modo de ver esse fenmeno so
tarefas minuciosas a que se lanaram os autores deste livro.
Tendo passado pela experincia de ser aluna do mtodo fora dinmica,
posso garantir que tanto o educador fsico como o fisioterapeuta utilizaro com
proveito os avanos apresentados aqui. Afinal, compreender que a postura pode
ser alterada por meio de um bom trabalho de aprendizagem motora que envol
va a percepo da fora, da localizao do corpo no espao e do volume corporal
deve ser o mnimo que um profissional do corpo do sculo XXI pode oferecer a
seu aluno/cliente.
Maria eMlia Mendona
Professora de ginstica holstica, mestre e doutora pela PUC SP
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Introduo
O DIA EM QUE OS SERES HUMANOS ENTENDERAM A FORA DA GRAVIDADE
NAQUELE PRINCPIO DE OUTONO DO ANO DE 1666, o vento matinal trazia umidade sufi
ciente para no deixar os habitantes de Woolsthorpe by Colsterworth se esquece
rem de sua proximidade com o Mar do Norte. Por isso, ainda debaixo das cobertas,
o jovem Issac avaliou a friagem com a qual as pedras do cho agrediriam seus ps
acostumados a permanecer descalos durante o vero. J de p, ele procurou pelos
chinelos de couro que deveriam estar havia vrios meses largados debaixo da
cama. Antes de cal los, olhou para eles como se os estivesse vendo pela primeira
vez e s ento notou que um deles estava mais gasto que o outro. Como se cada
um pertencesse a uma pessoa diferente o que, evidentemente, era um absurdo.
Naquela poca, em que a peste bubnica havia matado mais sditos ingleses em
Lincoln Shire do que a guerra civil, ningum mais visitava ningum e, muito me
nos, usava uma pea de vesturio que no lhe pertencesse.
Porm, aqueles pensamentos triviais foram logo abandonados pela necessi
dade de decidir quanto deveria cobrar pelas sacas de beterraba que os seus pees
tinham colhido para vender ao fabricante de acar. Nada, entretanto, que ocu
passe a mente daquele recm graduado em Cambridge por mais do que fraes
de segundo. No que isso representasse alguma garantia de capacidade intelec
tual. O fato de a universidade ter sido temporariamente fechada por causa da
epidemia obrigouo a permanecer isolado na fazenda. E assim, aos 24 anos, com
o crebro em polvorosa por causa da abstinncia da atividade acadmica inter
rompida, o rapaz no teve alternativa seno refugiar se em clculos solitrios. Es
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tes permitiramlhe desenvolver o teorema matemtico que, desde ento, obriga
todo e qualquer estudante do planeta a tomar conhecimento do seu nome de fa
mlia, ao aprender o binmio de Newton.
Newton era o sobrenome que o jovem prodgio herdara do pai, alm da pro
priedade rural que ele administrava a pedido da me. No fim do dia, depois de pe
rambular pelo pomar para espairecer, sua ateno foi tomada por um fruto vermelho
e brilhante pendurado no galho mais alto da macieira sob cuja sombra ele repousava:
uma das primeiras mas do ano, j ameaando cair
de to madura e suculenta. Enquanto se perguntava
por que teria sido aquele o fruto proibido da Bblia
pelo qual Ado perdera o paraso, a fruta desprendeu
se do galho e veio ao cho, diante de seus olhos.
Diz uma lenda hoje muito divulgada que Isaac
Newton concebeu naquele instante a lei da gravita
o universal. o que afirma seu bigrafo William
Stukeley em Memrias da vida de Sir Isaac Newton,
obra publicada em 1752, relatando uma conversa
que tivera com Newton, em Kensington, no dia 15 de abril de 1726: A noo de
gravidade lhe ocorreu quando ele estava descansando num estado contemplativo
e viu a queda de uma ma. Atualmente, considerase que o prprio Newton
tenha criado essa historinha para ilustrar sua inspirao nos acontecimentos ba
nais do cotidiano para levar adiante as suas pesquisas.
FIGURA 1
Sede da fazenda em que vivia Isaac
Newton, em Woolsthorpe by
Colsterworth (Lincolnshire,
Inglaterra), quando formulou
a lei da gravitao universal e elaborou o
tratado Princpios matemticos da filosofia natural.
FIGURA 2
Capa da histrica publicao de
Newton.
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ENVIAMOS UM ROB A MARTE, MAS AINDA NO APRENDEMOS A ANDAR CORRETAMENTE
O leitor deve ter notado que, no relato anterior, entremeamos acontecimentos
documentados com fatos fictcios, como a cena em que Newton observa seus chi
nelos ao acordar. Assim como fez o prprio personagem, tomamos a liberdade de
inventar essa passagem para ilustrar o ponto central do que queremos dizer aqui.
Aps a enunciao da lei da gravidade, a civilizao ocidental comeou a utilizar
esse conhecimento para enfrent la e desenvolveu uma infinidade de mquinas e
tecnologias para que as pessoas pudessem se locomover melhor e mais depressa
pelo espao tanto na terra quanto nas guas, no ar e para alm da estratosfera,
nos confins do Sistema Solar. Desde a locomotiva a vapor, inventada em 1804, os
seres humanos tm percorrido maiores extenses por terra com cada vez menos
esforos orgnicos. Assim, de fato, passamos a viver em outra realidade temporal.
Menos de 350 anos depois da queda daquela ma, j enviamos sondas es
paciais a outros planetas, rompendo, portanto, a barreira da gravidade que nos
prendia estratosfera. No entanto, ainda no sabemos como corrigir plenamente
os males que esse avano tem ocasionado ao nosso organismo, agravados por h
bitos cada vez mais sedentrios. De modo crescente, transferimos para as mqui
nas grande parte do trabalho mecnico que realizvamos com nosso esforo fsico.
Num exerccio de imaginao, supomos que o jovem Isaac sofria de algum
tipo de desequilbrio em sua estrutura ssea e muscular, motivo pelo qual pisava
mais fortemente com um p do que com o outro por esse motivo, o chinelo es
querdo desgastavase mais depressa do que o direito. E, como resultado mais gra
ve, ele claudicava ligeiramente ao caminhar e
correr, ainda que no percebesse isso. Nesse
caso, em vez do fruto biblicamente proibido a
cair do cu, Newton receberia dos prprios sen
tidos a inspirao para conceber a mencionada
lei da fsica: ele sentiria dentro de si mesmo os
efeitos da gravidade dificultando inexoravel
mente o seu andar e deformando progressiva
mente calados, msculos, ossos e articulaes.
Essa ideia, de fato, foi inspirada por uma per
cepo do caminhar do poeta portugus Fer
nando Pessoa, a qual relatamos a seguir.
FIGURA 3
Newton num retrato de Godfrey Kneller, pintado em 1702.
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Com esses exemplos, visamos mostrar que a cincia no progrediu suficien
temente no estudo dos efeitos da gravidade sobre os organismos nem na aplicao
dos conhecimentos da fsica sade da movimentao humana, como ocorreu
com as demais reas da tecnologia. De maneira geral, a medicina tem se desenvol
vido muito graas aos investimentos de disciplinas como a qumica e a biologia nos
tratamentos clnicos e cirrgicos das doenas. Porm, ainda existe um longo cami
nho a percorrer no terreno da preveno e da correo dos males provenientes de
hbitos eventualmente patognicos que todos ns desenvolvemos ao realizar atos
simples e corriqueiros, como andar ou correr. Prova disso a carncia de biblio
grafia (impressa ou eletrnica) sobre essa questo.
tempo de tentar dar um passo alm, com uma prtica que permita a reor
ganizao consciente do fluxo de foras corporais, aplicadas especialmente com
relao biomecnica e aprendizagem motora. Esse passo j comeou a ser exe
cutado, inclusive no Brasil. Nas ltimas quatro dcadas, as pesquisas acadmicas
nas reas de esporte, educao fsica e fisioterapia tm revelado um valioso acmu
lo de conhecimento acerca do movimento humano. O leitor poder se perguntar
por que s agora isso comea a acontecer. Talvez porque a capacidade de andar
seja algo to essencial para os bpedes humanos que a ten
dncia, em quase todas as culturas, tenha sido julg la na
tural, assim como respirar ou piscar os olhos. E ser que
algo considerado to inato e espontneo poder sofrer inter
ferncia da vontade, por meio de uma ao consciente?
Passa despercebido maioria de ns o fato de que
andamos porque um dia nos ensinaram a faz lo, antes
mesmo de falar. Em seu livro sobre ginstica holstica, Ma
ria Emlia Mendona explica que a aprendizagem da fala e
da marcha precisa de relao social e de modelos a ser imi
tados. Como exemplo, ela cita o filme iraniano A ma, da
FIGURA 4
Em seu Livro do desassossego, publicado depois de sua morte, Fernando Pessoa (Lisboa, 1888 1935) registrava uma inquietao ligada ao ato de caminhar: Passeava de um lado ao outro do quarto e sonhava alto coisas sem nexo nem possibilidade... Os meus chinelos velhos estavam rotos, especialmente o do p esquerdo... eu fazia a avenida do meu quarto curto em passos largos e decididos, cumprindo com o devaneio intil um sonho igual aos de toda a gente. Ao falar dos chinelos desiguais, com os quais atravessava a cidade sem sair do quarto, o poeta lusitano mostra tima capacidade de observao.WI
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diretora Samira Makhmalbaf, em que duas irms gmeas de 12 anos de idade que
passaram a vida trancadas em casa, sem contato com ningum alm da me cega
e do pai que passava o dia fora, adquiriram problemas de linguagem e de locomo
o. Claro que o andar, diferentemente da fala, desenvolve se de maneira espon
tnea, mas precisa ser aprendido e depende de ambiente adequado. Portanto, se
aprendemos algo de determinado modo, sempre ser possvel reaprend lo ou
ajust lo a formas diferentes como as pessoas que, pela prtica de determinados
hbitos profissionais, acabam modificando seu modo de caminhar. Esse o caso
das bailarinas clssicas, das modelos que se movimentam nas passarelas de for
ma bem peculiar e, inclusive, de certos povos que, para caar na selva, pisam
primeiro a ponta dos ps e, s depois, o calcanhar.
Apesar disso, o caminhar, exigncia bsica do dia a dia, representa uma das
atividades humanas mais universais e complexas habilidade motora que depende
de vrios comandos interligados do crebro para os motoneurnios. No sculo
XVI, depois de passar a adolescncia estudando numa biblioteca, o jovem funda
dor de So Paulo, padre Jos de Anchieta, chegou ao Brasil sofrendo de grave es
coliose. As dores foram minimizadas caminhando a p pelas praias e pelas trilhas
dos ndios. E, segundo o pesquisador Luciano Ramos, Anchieta tornou se mestre
em fabricar alpargatas de fibra de caraguat. Em pinturas de mestres como Bene
dito Calixto e Candido Portinari, o jesuta aparece sempre descalo.
Estudos atuais sobre a movimentao humana, alis, vm rompendo anti
gos paradigmas, como a ideia h muito arraigada entre estudiosos de uma suposta
simetria inerente estrutura do corpo humano para simplificar a coleta e a anli
se de dados referentes ao tema do caminhar dos seres humanos. Ou seja, trata se
de uma crena em algo que, de fato, no existe. As diferenas de tamanho e fora
entre os membros so muito mais comuns do que se imagina.
De modo geral, durante a marcha, as pessoas tendem a priorizar a tarefa de
apoio em um dos lados do corpo e a de propulso no outro. O crebro, porm,
no percebe essa diferena porque sente nosso corpo como uma unidade. Dificil
mente temos conscincia disso, mas, desde que o indivduo sinta e perceba essa
desproporo, existe a possibilidade de interferir e agir sobre ela. impossvel
eliminar as diversas formas de assimetria, ainda que seja vivel trabalhar com elas,
a fim de melhorar o controle sobre os movimentos para aprimorar a performance
no caminhar e nas atividades correlatas, como correr ou danar. Nesse aspecto, a
dificuldade maior est no fato de que muito mais fcil mudar de ideia do que
modificar hbitos sedimentados h tantos anos.
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Muito mais complicado ainda corrigir ou atenuar possveis assimetrias cor
porais da decorrentes, como a que imaginamos para explicar a fictcia diferena
entre os chinelos de Isaac Newton e das quais o poeta Fernando Pessoa se deu conta.
Isso quer dizer que, no decorrer da existncia, os ajustes feitos pelo crebro para
compensar as desigualdades entre os lados corporais tornam se automticos e, como
tais, imperceptveis. No entanto, um treinador ou terapeuta experiente pode detectar
de que maneira essas foras assimtricas deixam suas marcas no corpo e, em funo
disso, desenvolver um programa com vistas transfor
mao. disso que trata a fora dinmica, mtodo
concebido para aperfeioar a transmisso de fora en
tre as articulaes e os ossos de tal modo que se preser
vem os tecidos orgnicos, trazendo melhoras para a
postura e a autoestima, bem como para o desempenho
e a sade do indivduo como um todo.
POSSVEL MODIFICAR E APRIMORAR O MODO DE SE MOVER SOBRE A TERRA
Para o leitor ainda perplexo pelo fato de comearmos este livro com uma dispara
tada fbula acerca de Isaac Newton, cabe imaginar algumas de suas possveis
questes: o que teriam que ver os chinelos gastos do pensador ingls com o Brasil?
No tempo em que a decantada ma lhe deu a inspirao para decifrar a lei da
gravidade, nosso pas tinha sado do domnio espanhol (de 1580 a 1640), com a
separao das coroas da Pennsula Ibrica. Naquela poca, as bandeiras paulistas
consolidavam a abertura dos caminhos que conduziam colnia espanhola cha
mada Paraguai e ao centro do continente. Aleixo Garcia tinha chegado aos Andes
FIGURA 5
Por volta de 1490, Leonardo da Vinci (1452 1519) incluiu num de seus dirios um desenho no qual expunha as propores matemticas do ser humano. Ele geralmente considerado um smbolo da simetria bsica do corpo humano e, por extenso, do universo como um todo. Observou se que a rea total do crculo idntica rea total do quadrado. Assim, esse desenho pode ser considerado um algoritmo matemtico para calcular o valor do nmero irracional phi, que de aproximadamente 1,618. No mundo real, entretanto, todos ns apresentamos algum tipo, maior ou menor, de desequilbrio nessa dupla tarefa cotidiana de impulsionar o corpo para a frente ao mesmo tempo que o sustentamos contra a fora da gravidade.WI
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em 1526, usando uma trilha depois percorrida por Martim Afonso de Souza e
pelos jesutas que fundaram as misses no centro oeste da Amrica do Sul.
Os bandeirantes e os tropeiros chegavam descalos cidade de Assuno, con
forme uma carta de 1676 comentada por Srgio Buarque de Holanda em sua obra
Caminhos e fronteiras: A p e descalos, os paulistas marchavam por terras, montes e
vales 300 e 400 lguas, como se passeassem pelas ruas de Madri. No sculo XVI,
Tom de Souza registrava que Joo Ramalho, com mais de 80 anos, andava nove
lguas a p, antes do jantar. Para se ter uma ideia, at o comeo do sculo XIX o
caminho de So Paulo a Santos ainda no era inteiramente carrovel. A maioria dos
habitantes da Vila de Piratininga, mesmo os mais ilustres, nem sequer possua sapatos.
Conforme explica Holanda (1994),
enquanto os brancos, por disposio natural ou por educao, costumam caminhar
voltando para fora a extremidade de cada p, o ndio caminha [...] com os ps para
frente [...] A planta e os dedos do p aplicam se inteiramente sobre o solo, porque todo
o peso do indivduo recai sobre o conjunto de maneira uniforme, ao passo que entre os
brancos o polegar suporta uma parcela de peso desproporcionalmente maior... Nenhu
ma junta desenvolve mais trabalho do que as outras, nenhuma parte sofre mais cansao
que as demais e assim viribus unitis tornam se possveis percursos mais intensos.
Outro exemplo de interferncia da maneira de andar: em uma de suas in
terminveis e extenuantes andanas pelo vale do Missouri, o pintor americano
George Catlin (1796 1872) decidiu seguir o costume indgena e voltar para den
FIGURA 6
Puris na sua floresta, pintura do sculo XIX do italiano Giulio Ferrario, mostra as trilhas percorridas a p e sem calados por ndios e jesutas.
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tro os dedos dos ps (turn the toes in). Mesmo que essa atitude o tenha inicial
mente incomodado, em consequncia desse exerccio, com o tempo ele no apenas
se refez do cansao como tomou a dianteira sobre os demais viajantes. provvel
que Catlin calasse botas as quais talvez fossem desgastadas por igual, diferente
mente das sandlias de Newton.
Por outro lado, seria quase uma tentativa de suicdio caminhar descalo nas
cidades em que hoje vivemos. Todos esses dados servem para enfatizar que no
existe uma poca ou um lugar em que as pessoas encontrem a adequao perfeita
entre seu corpo e o ambiente. Desde que o pitecantropo pr humano comeou a
assumir uma posio ereta, a movimentao dos homens pelo solo significa um
constante enfrentamento da gravidade.
A SOCIEDADE DE CONSUMO E O SEDENTARISMO
Nas grandes cidades, o processo educacional valoriza o ganho intelectual em detri
mento dos hbitos corporais adquiridos. Essa mudana fazse tanto mais necessria
medida que nos aproximamos mais de um modelo de civilizao em que as m
quinas so cultuadas como expresses do mundo atual. Boa parte da humanidade
hoje habita em cidades, transformadas em templos de venerao s mquinas. Mui
ta gente prefere andar de automvel no porque tem pressa, mas simplesmente por
que gosta ou est acostumada a essa prtica. So comuns os exemplos nos quais, por
meio do transporte coletivo, chega se mais depressa ao destino pretendido.
FIGURAS 7A 7B ndios sioux americanos usam mocassins.
Ao lado, calados tpicos da tribo dos ojbuas, tambm da Amrica do Norte.
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Isso significa que os veculos motorizados individuais por vezes deixam de
ser meios para se tornar fins em si mesmos. Alm disso, os avanos da tecnologia
permitem nos vencer o espao em perodos cada vez mais curtos. Desde o fim do
perodo medieval e o incio do sistema capitalista, as pessoas deixaram de ver o
futuro como uma repetio do passado e experimentaram a certeza da sua impre
visibilidade. Passou se ento a viver mais no presente, que o momento em que o
futuro adquire alguma concretude, por meio justamente das tentativas que faze
mos para control lo. Da a reduo das coisas ao estado de mercadoria, ou seja,
algo que pode ser comprado e acumulado.
Nesta sociedade mecanizada e dominada pelo fetichismo do consumo indi
vidual das mercadorias, andar a p, ou de bicicleta, considerado perda de
tempo. nesse contexto, porm, que se desenvolve certo culto ao corpo, que
pode ser comprovado por indicadores simples, como a proliferao de clnicas de
esttica e academias de ginstica. Associado idolatria da mecanizao, o que se
observa nesses locais o uso de mquinas projetadas para a prtica de exerccios
fsicos, desconsiderando as peculiaridades corporais de cada praticante.
Segundo pesquisa realizada entre compradores de tnis, coordenada por
Rodrigo Lacerda, diretor de marketing do Grupo Dass, responsvel por marcas de
tnis como Fila, Nike e Adidas, verificou se que apenas 14% os utilizam para ca
minhada ou para a prtica de esportes propriamente dita. Os outros 86% usam os
tnis esportivos para o dia a dia ou para sair. Com base nesses dados, pode
mos pensar que a caminhada e o esporte estejam em muitos casos associados
muito mais a uma imagem do que de fato a um envolvimento com essas prticas.
Compram se mquinas, tnis, tratamentos estticos como um fim em si. A in
dstria, por sua vez, lidera esse movimento. Lacerda informa que houve uma fase em
que os fabricantes investiam em dispositivos para amortecer o choque das pisadas, mas
as solues oferecidas aos usurios tinham pouca base cientfica, sendo verdadeira
mente de carter esttico. Hoje, porm, nota se uma mudana significativa: o conceito
barefoot (p descalo) entra em moda. Lacerda acrescenta que, na origem, essa ideia
vem do conceito de leveza, ou seja, da crena de que, quanto mais perto do descalo,
mais saudvel o calado. Porm, essa mudana fazia parte de uma estratgia da in
dstria de calados para conter os preos por meio da reduo das matrias envolvidas
na fabricao. Dessa forma, at mesmo os tnis tcnicos, feitos especialmente para o
montanhismo, por exemplo, entraram nessa rea para gastar menos recursos.
oportuno notar que a capacidade de manipular computadores ou de se
comunicar virtualmente pelas redes sociais no existia antes de 1995, mas mesmo
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assim a humanidade vinha se desenvolvendo sem cessar. Lembremos o que diz
Andrew Solomon em Longe da rvore Pais, filhos e a busca de identidade (2013):
A capacidade uma tirania da maioria. Se a maioria das pessoas pudesse bater os
braos e voar, a incapacidade de faz lo seria uma deficincia... No h nenhuma
verdade ontolgica consagrada naquilo que pensamos ser boa sade; trata se de
uma mera conveno, que foi surpreendentemente inflada no sculo passado. Em
1912, um americano que vivesse at 55 anos teria tido uma vida boa e longa; ago
ra, morrer aos 55 considerado uma tragdia.
A ANLISE DO MOVIMENTO POR IMAGEM E A TECNOLOGIA
Uma das motivaes para a inveno do cinema foi a necessidade de analisar, ou
seja, de separar em partes, ou momentos, o continuum dos movimentos animais e
humanos. Buscava se criar uma mquina que no apenas registrasse como tam
bm analisasse, mecnica e objetivamente, os principais momentos do movimento
animal. Assim, o fotgrafo ingls Eadweard J. Muybridge (1830 1904) criou o
zoopraxiscpio e o fenacistoscpio dispositivos formado por 24 cmaras para
captar o movimento de animais e de seres humanos. A ideia era fixar essas ima
gens num disco e, ao gir lo em torno de um eixo, produzir a iluso de movimen
to. Mais tarde, a pelcula cinematogrfica passaria a mostrar 24 quadros por
segundo. Hoje, a anlise de imagens pode ajudar
no diagnstico de inmeros tipos de problema,
inclusive os posturais. O mtodo da fora din
mica tambm se vale da anlise de imagens para
fazer diagnsticos e prescrever tratamentos.
Ao profetizar que a televiso transformaria
o mundo numa aldeia global, Herbert Marshall
McLuhan (1911 1980) s po
dia pensar nesse instrumen
to como uma via de mo
nica, tal como era antes da
revoluo digital. Segundo o
pensador canadense, todas
as tecnologias so extenses
do homem. Tome se aqui
FIGURAS 8A E 8B Acima,
fenacistoscpio mostra um casal
danando. Abaixo, na srie de
imagens feita em 1872 por
Muybridge, foi possvel observar pela primeira vez
a fase area do movimento,
momento no qual as quatro patas do cavalo esto
fora do solo. WIKI
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homem como o indivduo humano enquanto corpo fsico. O martelo uma exten
so do brao, assim como a roupa uma extenso da pele. Dessa forma, os meios de
comunicao eletrnicos e toda a parafernlia desenvolvida posteriormente para a
informtica representam uma continuidade do sistema nervoso central.
Diziam os romanos: verba volant scripta manent (as palavras voam, a es
crita permanece). Hoje as palavras voam mesmo, literalmente, talvez mais de
pressa do que a prpria luz. Quem as escreve, porm, precisa ficar ali sentado por
horas e horas. Se de um lado a tecnologia tornou se um fim em si mesma e acabou
virando uma extenso do homem, de outro, como defendia Buckminster Fuller
(1895 1983), os problemas criados por ela precisam ser resolvidos por ela mesma.
Afinal, ainda existem e se aprimoram continuaes saudveis das pernas, como a
bicicleta, e dos ps, como os tnis. Pelo menos para uma elite, aumenta o tempo
livre de que se dispe, tornando possvel compensar os males do sedentarismo por
meio de empresas especializadas que tais como as padarias e as farmcias de
antigamente comeam a aparecer em cada esquina.
Sobre a proliferao de academias, citamos uma curiosa observao feita
por Eugnio Bucci (O Estado de S. Paulo, 29 dez. 2011):
As academias de ginstica vendem a imagem dos corpos dos clientes atuais aos
potenciais clientes futuros, prometendo transplantar os primeiros nos segundos. L
dentro a gente pode comprar um novo corpo, a prestaes. Correndo sem sair do
lugar, como os modelos vivos na vitrine, a gente chegar ao idlio do vigor fsico e
da beleza... Dentro da vitrine, a relao entre esforo e movimento contraditria.
Os clientes ali correm, transpiram, ofegam e no avanam um nico centmetro.
Na rua, a gente vive o mesmo paradoxo, mas com sinal invertido: sentados no
carro (ou no circular), ns no movemos um msculo, mas andamos.
Por outro lado, j que voltamos a viver globalmente numa aldeia virtual,
talvez seja possvel, em certos aspectos, regressar s tribos que dominavam a Am
rica antes de Colombo e Cabral pelo menos no que se refere nossa movimen
tao pela face da terra , retomando o exemplo do andarilho Jos de Anchieta e
de George Catlin, que reaprendeu a caminhar com os ndios que pintava.
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