SUMÁRIO - rl.art.br · los presos aos rigores da Lei Mosaica, o ponto principal era a...

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................. 1 DEDICATÓRIA ............................................................ 2 HEDONGELHO ............................................................ 3 GRANDE PORCARIA!! ............................................... 9 INSTITUCIONOFOBIA ............................................ 18 A IGREJA É PARA DOENTES ................................ 30 JULGANDO OS DE DENTRO .................................. 35 NOVOS ISCARIOTES, VELHA GANÂNCIA ........ 40 IMATURIDADE ESPIRITUAL ................................ 57 UM DIA PARA A CELEBRAÇÃO ........................... 69 DEUS ESTÁ MORTO? .............................................. 78 A ARTE DA BUFOFAGIA ........................................ 83 UMA PARÁBOLA ...................................................... 89 O TREM ....................................................................... 89 BIBLIOGRAFIA ......................................................... 96

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................. 1

DEDICATÓRIA ............................................................ 2

HEDONGELHO ............................................................ 3

GRANDE PORCARIA!! ............................................... 9

INSTITUCIONOFOBIA ............................................ 18

A IGREJA É PARA DOENTES ................................ 30

JULGANDO OS DE DENTRO .................................. 35

NOVOS ISCARIOTES, VELHA GANÂNCIA ........ 40

IMATURIDADE ESPIRITUAL ................................ 57

UM DIA PARA A CELEBRAÇÃO ........................... 69

DEUS ESTÁ MORTO? .............................................. 78

A ARTE DA BUFOFAGIA ........................................ 83

UMA PARÁBOLA ...................................................... 89

O TREM ....................................................................... 89

BIBLIOGRAFIA ......................................................... 96

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INTRODUÇÃO

Vamos meditar no Evangelho que hoje é pregado

no Brasil, será que estamos prontos? Vivemos o

Evangelho ou o Hedongelho? A igreja tem resgatado aos

doentes? Por que há tantos vivendo a institucionofobia?

Precisamos fugir dos Novos Iscariotes, que com

sua ganância têm vendido falsas bênçãos e aprisionado a

muitos.

Não percamos o Trem! Pois, Deus não está morto.

REV. EJF ÁZARA

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DEDICATÓRIA

É claro que não poderia deixar de dedicar este

ao meu Senhor, pois é por Ele, por meio dEle e

para Ele todas as coisas.

Dedico-o também à minha amada esposa:

Alessandra, ao meu serelepe e alegre filho:

Calebe, o electric boy, à minha mãe, também

uma amante da leitura, que me influenciou, e

aos meus irmãos que me incentivaram, os de

sangue, e os que se tornaram pelo sangue dEle.

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HEDONGELHO Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um

evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja

amaldiçoado!

(Gálatas 1:8 - NVI)

Paulo foi um grande evangelista missionário, e

também um pastor que se preocupava muito com as

ovelhas do seu Mestre. No texto acima encontramos um

verdadeiro pastor decidido a abrir os olhos de seus

queridos e amados gálatas para verem claramente o

perigo do desvio da verdade maravilhosa do Evangelho

da graça. O perigo em questão era o legalismo

exacerbado dos crentes judeus, que ainda queriam mantê-

los presos aos rigores da Lei Mosaica, o ponto principal

era a circuncisão, rito ultrapassado que já havia,

inclusive, encontrado um substituto: o batismo. O

apóstolo estava tão irritado com tanta fraqueza espiritual,

que evocou maldição sobre os rigorosos legalistas, que,

simplesmente, pisavam na cruz e na graça.

Obviamente, mesmo tendo passado milhares de

anos, e com um vasto material sobre justificação pela fé,

não apenas em Gálatas, mas também em Romanos (um

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presente gracioso de Deus), encontramos facilmente

legalistas nos dias de hoje, e sempre encontraremos. Há

pessoas que "não largam o osso", não podem aceitar um

presente assim, sem fazer por merecer, como se fosse

possível merecer um décimo de segundo de vida sequer.

Não merecemos nada. Somos tão injustos que não seria

injustiça alguma se todos nós fôssemos mandados para o

destino aterrorizante do lar futuro e final do Cramunhão e

sua corja. Contudo, em sua infinita graça e bondade, o

Pai decidiu por seu beneplácito dar aos seus amados um

melhor destino.

Nos tempos pós-modernos de hoje o ascetismo já

não é tão popular, apesar de muitos ainda acreditarem

que é preciso "pagar o preço para conseguir as bênçãos",

ou até mesmo para conseguir o perdão. Para que se tenha

uma ideia de como muitas pessoas enxergam Deus, basta

observar algumas frases que são ditas por aí: "Será que

atirei pedra na cruz?", "Deus vai pesar a mão sobre

você!"

Se por um lado o legalismo com tendências

ascéticas sempre foi um grande perigo para o verdadeiro

Evangelho, por outro o hedonismo tem sido, atualmente

um perigo ainda maior. O hedonismo é caracterizado pela

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busca da felicidade a qualquer custo, ou a busca

desenfreada pelo prazer. Em casos extremos isso pode ser

notado nos casos de abuso sexual de crianças, por

exemplo, em que o abusador busca o prazer sem se

preocupar com a dor e o trauma causados à vítima. Outro

caso extremo é o do assassino em série que mata apenas

pelo prazer em ver suas vítimas sofrerem e agonizarem.

Mas, não há apenas casos extremos, o hedonismo

é mais comum que isso. Vivemos em uma geração em

que cada vez mais esta filosofia é adotada como um

estilo de vida padrão. Em muitos casos, senão a maioria,

inconscientemente. Muitos vivem sob tal propósito sem

mesmo saber o significado do termo.

Vivemos um tempo de grandes decepções com as

instituições, isso tem sido motivo inclusive para afastar a

muitos da igreja. Muitos têm, inclusive, aproveitado esta

crise institucional para viverem uma vida desregrada com

menos peso na consciência: "E eu vou perder meu tempo

indo à igreja? Prefiro ser crente no meu quarto, minha

comunhão é entre eu e Deus, oro, leio a Bíblia e depois

vou curtir minha vida em algum bar ou na balada, afinal:

Deus é amor, e nunca vai punir ninguém."

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O vazio permanece. Um vazio tão profundo que é

preciso que se faça todo esforço (em vão) para que seja

preenchido. Mas, como diz a antiga música do Fruto

Sagrado: "...o vazio no peito é do tamanho de Deus e a

fome da sanguessuga é fome de Deus." (A sanguessuga,

O que na verdade somos, 2005). Por mais que o

hedonista tente satisfazer seus prazeres, jamais estará

saciado e sempre desejará mais, mais, mais e mais,

infinitamente.

Infelizmente, igrejas "evangélicas" têm

aproveitado o espírito da época e tem modificado

exaustivamente o Evangelho para adaptar-se ao "gosto do

freguês", tornando a Verdade em mentira, transformando

o Evangelho em Hedongelho. Um palatável, suave,

atrativo e tentador caminho religioso. O Hedongelho não

tem cruz, não tem dor, não tem renúncia, só tem bênçãos

e vitórias. Nele não se vive de fé em fé (Rm. 1:17), mas,

de vitória em vitória. No Hedongelho Jesus também é

pregado, é até reverenciado e adorado, seu nome é

engrandecido e exaltado, pois Ele é fonte de bênçãos,

mas seu senhorio é negligenciado e até ignorado se os

anseios do crente não são satisfeitos. É necessário exigir,

cobrar, reivindicar a restituição. O Senhor deixa de ser

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Soberano, já que nesta teologia Ele está preso às suas

"promessas", o problema é que a maioria de tais

promessas são embustes de untados com títulos de

ungidos intocáveis. Já não mais suportam a sã doutrina e

agora querem ouvir o que lhes agrada somente (II Tm.

4:3). Por isso, os novos líderes religiosos são produzidos

em série, fazem um curso rápido e depois de uma "oração

poderosa" são untados com uma mãozada de azeite de

oliva comprado no supermercado por por $15 a latinha,

mas que segundo os famosos líderes religiosos é óleo

ungido com poder ministroformador.

Se Paulo escrevesse uma carta aos cristãos do

Brasil do século XXI, certamente seria de protesto tal

qual foi a carta aos gálatas, a diferença é que certamente

o alvo principal não seria o legalismo judaizante, mas

sim o Hedongelho sofista que tem iludido e manietado

em seus rincões, milhões de vidas famintas como as

filhas da sanguessuga (Pv. 30:15).

QUANDO

Quando a noite chegar, a lua brilhar, a estrela pulsar

Quando o amor sorrir, o bebê dormir, o céu se abrir

Quando a madrugada romper, o sonho antever, o sono

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ceder

Quando o cenário se compor, o sol se opor, a esperança

supor

Quando o galo cantar, o sol levantar, a flor desabrochar

Quando o dia sorrir, a manhã surgir, a lua partir

Quando o bebê chorar, a mãe amamentar, o pai levantar

Quando a água ferver, o café se beber, o pão se comer

Quando o motor ligar, a engrenagem iniciar, a cidade

acordar

Quando o dia findar, outro começar, a rotina continuar

Quando o verão surgir, o inverno partir, a chuva

extinguir

Quando o rei morrer, o reinado esmaecer, o príncipe

crescer

Quando o império desabar, o déspota se curvar, e outro

levantar

Quando o século partir, o milênio surgir, o ciclo seguir

Quando o homem se deitar, e depois acordar, e Ele

chegar

Quando Ele surgir, aos seus reunir, a história concluir.

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GRANDE PORCARIA!!

Título chocante e provocante propositadamente.

Esta minha reflexão baseia-se no capítulo 3 da

carta de Paulo aos filipenses. O apóstolo é um verdadeiro

pastor, preocupado com as ovelhas do Senhor chega a

este capítulo orientando-os a serem muito cuidadosos

com os falsos mestres, que aqui ele chama de cães, é bom

saber que cães naquela época não tem nada a ver com a

imagem de hoje. Hoje os cães são verdadeiros xodós, a

figura de um cão hoje, inspira carinho e afeição, mas

naquela época os cães viviam em matilhas em busca de

comida, sempre latindo e agredindo. Era uma imagem

muito negativa.

Paulo foi duro? Certamente, pois era necessário,

muito diferente dele, os judaizantes a quem ele chama

"carinhosamente" de cães, não pensavam como o

apóstolo. Não devemos confundir judaizantes com

judeus, estes mantêm sua esperança na Lei, aqueles

haviam se unido aos cristãos na fé em Jesus, mas, qual o

problema? O problema é que apesar disso, estes não

abriam mão da sua "valiosíssima" herança, e o orgulho de

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serem os herdeiros da promessa, da Lei, dos profetas e

até do Messias. Para eles não bastava ser apenas povo de

exclusiva propriedade de Deus, mas o próprio Deus era

visto como sua propriedade, assim como seu Cristo, o

Messias. Sendo assim só havia uma maneira dos gentios

receberem a Cristo, tornando-se judeus, obviamente. Daí

a insistente necessidade de circuncidar a todos. Tanta

arrogância irritou Paulo grandemente. Pois, não lhes

bastava serem rigorosos entre eles, queriam levar o rigor

a todos, desta forma, os afastava totalmente da graça de

Cristo.

O apóstolo aos gentios jamais aceitaria inerte tal

investida destes legalistas fanáticos. Por isso, admoesta-

os a entenderem que a verdadeira circuncisão não era a

feita na carne, mas a do coração. Ou seja, não são as

regras que os tornariam merecedores da vida eterna, não

existe nada mais carnal que confiar em si mesmo, em

seus próprios méritos para ser aceito por Deus. O cristão

que compreende o Evangelho sabe que nada o torna mais

próximo de Deus que andar no Espírito, e este andar nada

mais é do que uma total entrega e dependência de Deus.

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Onde estava a confiança dos cães? Justamente

naquilo que Paulo era expert, doutor e herdeiro. Tais

homens se achavam especiais por sua herança étnica,

religiosa e moral. E é aí que o apóstolo entra com sua

biografia da mais alta patente, cheia de "pedigrees" e

reputações. Quem mais que ele poderia orgulhar-se por

sua herança nobre, por sua educação, por seu favor e zelo

religioso? Paulo superava a todos, era muito mais zeloso

e fervoroso, além de ser um legítimo descendente da sua

nação.

Contudo, Paulo, que tinha antes grande rigor, zelo

e admiração por sua religião e herança, ao ponto de ter se

tornado um grande perseguidor dos primeiros cristãos,

encontrou-se com Cristo a caminho de Damasco, um

encontro dramático que levou o fariseu de Tarso a refletir

seriamente sobre sua fé, e depois de compreender por

obra do Espírito Santo em sua vida, não teve outra

decisão a tomar, senão a de reconhecer que tudo o que

antes era extremamente valioso para ele, agora não

passava de "skubalon" - "a porção não nutritiva dos

alimentos refugada pelo organismo", ou seja, bos..., bom

você já sabe. É claro que nenhuma das traduções bíblicas

traz esta palavra, todos os tradutores procuraram usar um

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termo mais fácil de ser assimilado por todos, assim nós

vamos encontrar os termos: "lixo", "refugo", ou

"esterco", este último o mais próximo, mas que ameniza

bastante a palavra de Paulo, afinal, esterco é algo útil.

Mas, a realidade é que o ex-fariseu não alisou nenhum

um pouco. Sua intenção era ser bem claro, até mesmo

duro, totalmente inequívoco.

Há ainda uma questão a ser esclarecida, nós

geralmente não conseguimos compreender objetivamente

por que Paulo teve de considerar como perda sua

herança, afinal de contas, nós tivemos experiências

completamente diferentes da dele. E mais, ele afirma que

sua herança era para ele lucro. Nós, geralmente não

consideramos lucro nosso passado obscuro e sujo,

contudo, o irrepreensível e zeloso fariseu tinha uma vida

exemplar. Eu não posso orgulhar-me de meu passado, Já,

em termos de justiça religiosa, Paulo era um exemplo,

entretanto, foi exatamente este zelo que o impedia de

conhecer a Verdade, até que Cristo revelou-se

gloriosamente a ele. Aí sim, não lhe restava mais

dúvidas, "a sublimidade do conhecimento de Cristo

Jesus" era para ele agora uma nova e muito mais valiosa

herança, muita acima de sua irrepreensível religião, que

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agora passou a ser vista por ele como uma "grande

porcaria", sem valor algum, pois ele compreendeu que

não passava de um mero e inútil esforço humano,

completamente infrutífero.

Nos versos seguintes o apóstolo aos gentios deixa

ainda mais claro o motivo de desprezar totalmente seu

passado de grande "reputação" e "pedigree", para, por

meio da fé, conhecer a Cristo e o poder de sua

ressurreição, para também dela participar. E no verso 12

encontramos uma magistral e esclarecedora palavra de

Paulo: "Não que já a tenha alcançado, ou que seja

perfeito; mas vou prosseguindo, para ver se poderei

alcançar aquilo para o que fui também alcançado por

Cristo Jesus." - Bíblia JFA Offline. Durante séculos se

discute a maneira correta de relacionar harmoniosamente

a soberania de Deus e a responsabilidade humana, mas

Paulo não foge do tema, para que ninguém esqueça, ou

despreze um dos lados e enfatize outro, ele deixa claro

que jamais alcançou a perfeição, mas segue em busca de

alcançar, o quê? Aquilo para o que foi alcançado por

Cristo, em outras palavras, o cristão só pode alcançar

aquilo que busca, se Cristo já o buscou. A santidade não

é inerte, tampouco é uma busca humana, ela é fruto de

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uma ação divina em nossas vidas. O cristão deve

frutificar, mas só frutifica se estiver na videira. Soberania

e responsabilidade sempre andam juntas. O apóstolo

compreendeu enfim, que buscava sozinho a justiça, que

já lhe estava completamente disponível gratuitamente,

bastava-lhe a fé, e Jesus lhe concedeu a caminho de

Damasco.

No capítulo 2 Paulo havia escrito a respeito da

renúncia do próprio Senhor Jesus, mesmo sendo Deus, o

criador de todo este imenso e complexo universo decidiu

vir até nós, humilhando-se totalmente, a ponto de

depender de humanos para se alimentar, de ser protegido,

para poder ser o único e suficiente sacrifício para a

remissão dos nossos pecados. O apóstolo seguiu seu

exemplo, mas, abriu mão de suas riquezas por outro

motivo, por compreender de forma muito clara que, seu

tesouro era lixo, refugo, uma porcaria sem valor.

E como isso se aplica a nós?

Muitos acreditam que isso só se aplica somente a

religiosos que não largam o osso da religião metódica e

legalista. Tais quais os judaizantes, muitos religiosos de

hoje creem ser extremamente necessário que sigamos sua

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ideologia religiosa. Mas, não é só isso. O texto aplica-se

também a todos nós. Quantas pessoas você conhece, e

você pode ser uma delas, que dizem: "olha, não sou

santo, reconheço, mas nunca roubei, nem matei, pago

meus impostos, sou um ótimo cidadão, até faço muita

caridade, sou muito solidário, acho até que mereço o

céu". São muitos que, não dizem exatamente isso, mas

pensam algo bem semelhante. É uma fé toda depositada

em si mesmo, em suas obras, mas que deveriam, como

Paulo, considerar todas suas elas como grande porcaria,

como algo completamente descartável de tão impuro.

Sim, nossas obras de justiça, que muitas vezes nos

gloriamos delas, são, como Isaías nos revela: "trapo da

imundícia" (64:6). E você sabe que trapo é esse? Bom,

naquela época as mulheres não tinham supermercados

para comprarem absorventes íntimos, então só lhes

restava usar pedaços de tecidos, trapos, que se tornavam

imundamente asquerosos, claro. Percebem a relação das

palavras de Paulo e Isaías? Toda religião humana que se

baseia em atos de justiça própria é repugnante, por isso

figuras tão pesadas são apresentadas, não é para chocar e

causar uma simples comoção, e sim para nos alertar o

quanto é inútil e perigoso, e até mesmo vergonhoso,

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confiar em si mesmo. "Porque todos pecaram e

destituídos estão da glória de Deus" Rm. 3:23 - Bíblia

JFA Offline

Assim como Paulo, devemos nos lançar na graça,

nos colocar sob a cruz de Cristo, só nela podemos nos

gloriar, pois nos gloriamos nos seus méritos e não nos

nossos, aliás, que méritos temos? Muitos ainda parecem

acreditar que no juízo final haverá uma balança em que

se colocarão nossos pecados de um lado, e nossas "Boas

obras de justiça" do outro. A boa notícia é que está

redondamente enganado quem pensa assim (eu estaria

perdido). Graças a Deus que "nenhuma condenação há

para os que estão em Cristo Jesus". Rm. 8:1.

Sola gratia!

FIZESTE-ME FILHO

Eis que do barro me fizeste, me formaste com seu

Espírito e seu amor

Eis que no mundo nada sou senão mera criatura, cheio

de lutas e dor

Eis que longe sempre andei de teus caminhos, peregrino

e abandonado

Eis que o mundo não me conhece, nem ama, nem por ele

fui adotado

Eis que sem destino certo, o que me esperava era o fim

triste e vão

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Mas, eis que veio teu Filho, que me amou, levou-me a

Ti, e fez-me seu irmão

Eis que hoje sou mais que feliz, sou teu, somente teu e

de mais ninguém

Eis que o mundo abandonou-me, mas seus anjos, no céu

cantam amém!

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INSTITUCIONOFOBIA

Muitos supostos cristãos têm trazido extremo

constrangimento aos cristãos evangélicos. Temos que ser

sinceros, Jesus não nos chamou para ODIAR os

homossexuais, nem para APEDREJAR garotinhas do

candomblé, muito menos para UNGIR "vassouras da

libertação" (artimanha ridícula). O padrão de Deus

sempre foi o amor, a Ele e ao próximo, nunca houve uma

mensagem sequer de ódio nas palavras do Grande

Mestre. Sua única intolerância foi à hipocrisia dos

arrogantes, e também ao pecado que escraviza o

HOMEM. Sim, você leu certo, PECADO, alguns

acreditam ser uma palavra antiquada e ultrapassada, que

deve ser completamente abandonada. Mas, com certeza

não é este o propósito de Deus. Nós que necessitamos de

mudança e não a Palavra, pois ela é eterna!

Voltando ao assunto, nos últimos tempos

assistimos nas mídias uma avalanche de maus exemplos

nossos, daqueles que deveriam ser paradigmas à

sociedade. Mas, finalmente algo exemplar aconteceu,

fruto de uma grande tragédia. Não foi no Brasil, mas

envolveu cristãos, discriminação e intolerância, foi nos

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EUA. Um jovem extremamente perturbado entrou em

uma igreja, sentou-se ao lado do pastor, ouviu o estudo

bíblico por uma hora e depois anunciou, FRIAMENTE,

que estava ali para matar negros, sua primeira vítima foi

o reverendo e depois outras oito pessoas inocentes. Com

aquele infame e extremamente CRUEL atentado, afirmou

ele, pretendia iniciar uma guerra RACIAL (que palavra

estúpida, pois só existe uma raça, a HUMANA). Mas,

seu objetivo não teve sucesso, por quê? Simplesmente

porque BRANCOS E NEGROS se uniram em ORAÇÃO

e PERDÃO. Que acontecimento mais lindo!

Agora é que vem meu questionamento: Por que

tal atitude não “bombou” nas redes sociais? Por que não

se comentou tanto isso? A resposta é simples: Não é nada

negativo para a igreja, ao contrário é extremamente

positivo. É claro que não podemos negar nossos pecados,

nossos erros, nossa própria intolerância, mas, a verdade é

que para muitos, é muito mais satisfatório, gratificante e,

principalmente, conveniente, CRITICAR os erros dos

crentes. É muito mais fácil "descer a lenha" em fanáticos

que vociferam maldições aos homossexuais, ou em

loucos que atiram pedras em crianças inocentes de outro

credo, ou em LOBOS VORAZES que arrancam o

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dinheiro suado de fiéis com seu PODRE "Evangelho" da

prosperidade. Mais fácil ainda, e que geralmente

acontece, é a GENERALIZAÇÃO, a multiplicação de

estereótipos. Para muita gente a maior alegria e felicidade

é colocar todos nós cristãos dentro do mesmo saco e

dizer com o peito estufado: "Igreja é tudo comércio e

opressão, por isso prefiro ficar de fora!"

Por que tais atitudes são comuns, tão populares?

Vejo isso como um dos grandes prazeres dos

comentaristas de plantão, e funciona muito bem como

uma "válvula de escape", como um grande desabafo dos

feridos de alma, dos enfermos, frutos da própria igreja

que distorce continuamente o Evangelho e prega tudo,

menos a GRAÇA DE CRISTO. Grande parte dos

detratores da igreja hoje são DESIGREJADOS, que não

suportaram a escravidão da religiosidade vazia de amor e

graça e se afastaram. E hoje, "atiram pedras nos telhados

da igreja" como um MECANISMO DE DEFESA, isso

lhes faz sentir muito bem. "Estou fora porque Deus não

está ali!" É um discurso comum, uma grande desculpa

para ficar de fora. A verdade é que, enquanto eles não

conhecerem o verdadeiro Evangelho, seguirão distantes,

famintos, desejando as "alfarrobas dos porcos", enquanto

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os irmãos mais velhos continuarem a pregar a "Duralex",

eles estarão distantes da casa do Pai e em guerra com os

mais velhos, que lhes colocam barreiras intransponíveis

nas entradas da igreja.

É por causa de atos como esses que nos últimos

anos tem se intensificado o número de pessoas que, por

um ou vários motivos, acabaram se afastando

completamente de sua igreja. Decepcionados, não

querem se aproximar de nenhuma. Alguns, de forma

radical, quase cheguevariana, abominam qualquer tipo

de liderança eclesiástica.

Infelizmente, alguns estão feridos de tal forma

que sempre apresentam discursos negativos como

justificativa, para se manterem longe. Muitas vezes, até

acusando de empresas todas as igrejas, além de chamar a

praticamente todos os pastores não de missionários, mas

de mercenários, ladrões.

É óbvio que não podemos negar o momento atual

do Brasil em termos religiosos, e reconhecer que a

acusação que já fizeram, parodiando o lema do Sebrae,

tem seu fundamento: "Pequenas igrejas, grandes

negócios." Contudo, deve-se "jogar fora o bebê junto

com a água da banheira?" Certamente que não.

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O motivo de escrever esta reflexão se dá por um

acontecimento que ocorreu no Facebook, há algum

tempo. Houve uma discussão acalorada, um debate, entre

cristãos enganjados e um jovem desigrejado, que

insistentemente, afirmava que a igreja institucionalizada

deve ser completamente desprezada, pois, no discurso

dele e de outros, não devem existir hierarquia, liderança,

dízimos, ofertas, etc. O que importa é a fé particular de

cada um e por aí vai.

Tal discurso não é novo, mas, infelizmente tem

feito mais mal que bem. Grande parte dos desigrejados

têm se enfraquecido na fé, por se isolarem

completamente daqueles que poderiam ajudá-los.

Será que Deus realmente não deixou líderes? Será

que é possível viver o cristianismo virtual, alimentado

apenas com vídeos no YouTube e textos de sites, sem a

comunhão da igreja, mesmo com todas as suas falhas e

mazelas? A institucionalização é o verdadeiro mal da fé?

Ou o problema é mais profundo?

Gostaria de trazer os argumentos bíblicos que

revelam o propósito de Deus em ter uma liderança na

igreja.

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"E o fizeram, enviando suas ofertas aos

presbíteros pelas mãos de Barnabé e Saulo." (Atos 11:30-

NVI).

Gostaria de iniciar com este texto que é bem

conhecido de todos, pois enfatiza a ajuda aos pobres. De

fato este é o contexto, em um momento de fome, ofertas

foram enviadas para ajudar os carentes, o que chamo sua

atenção é que os discípulos enviaram as ofertas, pelas

mãos de Barnabé e Paulo, aos presbíteros, por quê? Não,

não vou dizer que eles foram os beneficiados, não é isso,

o que fica claro ali é que os presbíteros eram os líderes da

igreja, por isso eles receberam para distribuir aos

carentes. A igreja sempre teve líderes. Liderança é algo

natural.

"Paulo e Barnabé designaram-lhes presbíteros em

cada igreja; tendo orado e jejuado, eles os encomendaram

ao Senhor, em quem haviam confiado." (Atos 14:23 -

NVI).

E quanto a esse texto? Paulo e Barnabé fundaram

igrejas em Listra, Derbe e Antioquia e em todas deixou

líderes (Presbíteros, anciãos), homens experientes e

tementes a Deus, com condições de orientar, alimentar e

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proteger o rebanho das variadas heresias que surgiram no

jovem cristianismo (At. 20:28-30). E como surgiram!

No início do cristianismo surgiram terríveis

heresias, que negavam ora a divindade de Jesus, ora a sua

humanidade, outras negavam a personalidade do Espírito

Santo, entre outras, como o gnosticismo, docetismo,

apolinarismo, arianismo, entre outros ismos. Com tantos

perigos à fé, era natural e fundamental que líderes fossem

instruídos mais profundamente na Palavra para proteger o

rebanho com o ensino claro das Escrituras, por isso Paulo

defende que esses devem receber apoio financeiro

(ITm.5:17-18).

Que tal Atos 15?

"Chegando a Jerusalém, foram bem recebidos

pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros, a quem

relataram tudo o que Deus tinha feito por meio deles.

Então se levantaram alguns do partido religioso dos

fariseus que haviam crido e disseram: "É necessário

circuncidá-los e exigir deles que obedeçam à lei de

Moisés". Os apóstolos e os presbíteros se reuniram para

considerar essa questão." (Atos 15:4-6 - NVI).

Veja o papel extremamente importante dos líderes

da novíssima igreja, um concílio para debaterem a

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ingerência dos judeus que queriam forçar os cristãos

gentios a se tornarem judeus, porque a circuncisão era

exatamente isso. Pedro falou, Paulo e Barnabé falaram e

também Tiago, líderes, colunas da igreja. Que tomaram

uma decisão extremamente importante naquele momento

crucial da jovem igreja.

Existem vários outros textos que falam

claramente de liderança. Mas, eu acredito que alguns só

aceitam a palavra de Jesus, como se os apóstolos não

tivessem autoridade para falar inspirados pelo Espírito

Santo. Sendo assim, aí vai.

Quero que vocês leiam com sabedoria e cuidado:

"Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão

Pedro: "Simão, filho de João, você me ama realmente

mais do que estes?" Disse ele: "Sim, Senhor, tu sabes que

te amo". Disse Jesus: "Cuide dos meus cordeiros".

Novamente Jesus disse: "Simão, filho de João, você

realmente me ama?" Ele respondeu: "Sim, Senhor tu

sabes que te amo". Disse Jesus: "Pastoreie as minhas

ovelhas". Pela terceira vez, ele lhe disse: "Simão, filho de

João, você me ama? " Pedro ficou magoado por Jesus lhe

ter perguntado pela terceira vez "Você me ama?" e lhe

disse: "Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te

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amo". Disse-lhe Jesus: "Cuide das minhas ovelhas.

(João21:15-17 - NVI).

Será que Jesus não estava dando uma missão a

Pedro? Por que Ele disse: "Tu és Pedro, e sobre esta

pedra edificarei minha igreja" (Mt.16:18), Pedro era a

pedra viva sobre a qual a igreja estava sendo edificada,

mas, não era a única, todos os apóstolos eram e os

primeiros cristãos (IPe.2:5-8). Pedro foi o líder dos

discípulos desde o início, Pedro aparece como o primeiro

nome na lista de Lucas em Atos 1, reunidos depois da

ascensão de Cristo (v13), Pedro foi o que pregou no dia

de pentecostes, leia os primeiros capítulos de Atos e verá

que Pedro sempre era visto como o líder. Obviamente,

Pedro não foi o primeiro papa (uma invenção católica)

(Mt.23:9) Pedro cometeu erros, foi até repreendido por

Paulo (Gl.2:11), ainda assim Pedro admirava e respeitava

Paulo (IIPe.3:15-16).

Não existe razão alguma para negar que Deus

colocou líderes sobre a igreja. O problema está no fato de

que alguns exercem a liderança sem o devido amor, de

fato, alguns se apoderaram do rebanho, como se fosse

seu, e não do Senhor (IPe.5:2).

27

Existem algumas pessoas que não conseguem ver

o agir de Deus por meio das instituições. Como se o

poder de Deus pudesse ser limitado pelos homens. Além

disso, a maioria não leva em consideração a história,

quantas benfeitorias as instituições das igrejas já

concederam à humanidade! Pensemos nos hospitais e nas

grandes universidades, só para citar duas. Como vemos,

não foram apenas mazelas que as igrejas

institucionalizadas produziram.

O surgimento das instituições foi natural, e isso

jamais vai invalidar ou impedir a ação do Espírito Santo.

A realidade é que alguns sofrem do que decidi

chamar de institucionofobia, pavor, medo, rejeição à

instituições, como se todas as mazelas do mundo e da

igreja, fossem culpa da institucionalização. Mas, não é

verdade, instituições são formadas por humanos, e aí está

o grande problema, nós seres humanos somos pecadores

por natureza, corruptíveis e corruptores por natureza. Por

isso, qualquer instituição é problemática, basta olharmos

o momento político que vivemos no Brasil. Quantas

instituições corrompidas! Elas foram corrompidas pelos

seus representantes e não o contrário. É triste reconhecer,

mas, onde nós seres humanos estamos, aí haverá

28

corrupção. Instituições não corrompem os seres

humanos, os seres humanos que corrompem as

instituições.

Mas, a Igreja do Senhor, a Igreja invisível, dentro

das igrejas visíveis é a Noiva que está sendo adornada,

santificada, mesmo com pessoas falhas e frágeis, para o

casamento final. Temos de fazer parte dessa Igreja. Fazer

parte da VISÍVEL não nos impede de fazer parte da

INVISÍVEL, nem o contrário. De fato, nos ajuda. Pois,

somos um grupo de miseráveis carentes da graça de

Deus, ajudando a carregar as cruzes uns dos outros.

Enquanto isso o PAI continuará com os olhos por

cima da porteira aguardando o retorno dos seus amados

filhos que se foram, pronto a correr e lhes abraçar, beijar,

vestir, festejar e restaurar. Ao mesmo tempo insistirá com

os que ficaram: "Tudo que é meu é de vocês", "Parem de

buscar futilidades consumíveis, vocês têm a mim e a

minha graça, isso lhes basta!" Lc.15.

A DECISÃO

Quem dizem as pessoas que sou eu?

Elias, João, ou um profeta que já morreu.

Mas, e vocês, o que dizem de mim, discípulos da

29

intimidade?

Tu és o Messias, o filho de Deus, o caminho, a vida, a

verdade.

Questionamentos de um momento tão crucial e de

comoção.

Chegava tão rapidamente a última ida a

Jerusalém,aproximava a crucificação.

Ao deserto precisava o líder, seus amigos levar

Ao deixar os seus era preciso sua comunidade preparar

Lunático, farsante, médico, mestre ou profeta

Negativa ou positiva nenhuma destas resposta é certa

Firmados na rocha, em uma pedra de canto

Somente os iluminados pelo Espírito Santo

Pedra que pode construir ou destruir, juntar ou afastar

Pedra que se pode crer ou duvidar, confessar ou negar.

Posta diante da humanidade, impossível se ignorar

Mais cedo ou mais tarde, uma decisão todos terão de

tomar.

Qual será a sua? O que você vai escolher?

O certo é que sobre o muro não poderá permanecer.

30

A IGREJA É PARA DOENTES

O título é um pouco chocante, e a intenção era

essa.

"Mas os filhos de Israel tornaram a fazer o que era

mau aos olhos do Senhor, depois da morte de Eúde" (Jz.

4:1Bíblia JFA Offline).

Quando era ainda jovem na fé e avidamente lia a

bíblia desde Gênesis, textos como esse me deixavam

chateado com os judeus, pensava comigo mesmo, "oh

povo difícil, teimoso". E tenho certeza que não era o

único. Sei que muitos ainda pensam assim. Apesar de

ainda pensar assim, acredito que não devo ser tão duro.

Hoje, amadurecido entendo que não devo julgá-

los tão duramente, afinal, olhemos para nós, somos

melhores? Somos mais fiéis? A igreja é completamente

diferente? Mas, o que a Palavra nos mostra?

Quando saímos do AT e vamos para o NT,

precisamente à Primeira carta aos Coríntios, encontramos

Paulo às lutas para explicar a estes cristãos o que vem a

ser a igreja. Lá ele usa várias figuras: edifício, lavoura,

corpo. Havia tantos problemas. Mas, qual igreja você

31

conhece sem problemas, somente com cristãos fiéis e

fervorosos?

Quando olhamos para Israel vemos a nós

mesmos, a igreja é muito parecida. Olhemos para dentro.

Quando Jesus foi preso todos os discípulos que antes

pareciam dispostos a morrer por ele (Jo.11:16), fugiram,

um o traiu, outro o negou e por 40 dias ficaram

escondidos, até que o Espírito Santo os deu forças para

seguirem.

Mas, a história nos mostra que seguimos

titubeando pelos séculos. Nunca chegamos nem perto da

perfeição. E, claro, nunca seremos perfeitos.

Philip Yancey faz uma comparação muito

interessante da igreja com o AA. Bill Wilson, seu

fundador, certa vez, depois de lutar por seis meses em

abstinência contra o alcoolismo, viajou e depois de um

negócio frustrado encontrava-se em um bar, pensando

consigo: "preciso de um trago", lutando com tal

pensamento, veio-lhe outro: "Não, não preciso de um

trago, preciso de outro alcoólatra". Entrou em contato

com um médico amigo e ali nascia os AA. Yancey

argumenta: “A igreja é o lugar onde posso dizer, sem

vergonha alguma: 'Não preciso pecar, preciso de outro

32

pecador’” (Igreja: porque me importar? Sepal. São Paulo,

2000).

Algo que aprendi com o Pr. Gelson, em Londrina,

é que não se pode ser cristão sozinho, isso é impossível,

nós precisamos uns dos outros. Não acredito na "igreja

virtual" nos "pastores virtuais", a Internet não substitui a

igreja física, local. Podemos até (e somos, este texto

objetiva isso) ser edificados em sites cristãos, mas nada

substitui o relacionamento. Os cristãos devem ajudar-se,

admoestar-se, exortar-se. Há momentos, que vamos

chorar e pedir: "irmão ore comigo, está difícil".

Precisamos da graça de Deus e do poder do

Espírito Santo para vencer o pecado, mas também

precisamos de outros, precisamos de ombros para abraçar

e buscar ajuda. É aí que a nossa semelhança com os AA é

ainda mais forte. Somos um monte de pessoas enfermas

que não têm forças em si mesmas para continuar e

vencer. Os alcoólatras e os viciados em drogas lutam

contra o vício que é mais forte que eles, nós contra o

pecado, mais forte que nós (Rm. 7:19).

Assim como os AA, nós temos passos a seguir,

temos metas, alvos, baseados em um livro, que é nossa

regra de fé e prática. Igrejas não são perfeitas, todas são

33

cheias de falhas, mas tem algo que distingue claramente

todas elas: o foco, o alvo. "Olhando para Jesus, autor e

consumador da nossa fé" (Hb. 12:2). Nem todas as

igrejas mantêm tal foco, muitas perderam o sentido de

corpo, a melhor figura da igreja apresentada por Paulo.

Muitas se transformaram em circo de histerias

insanas, outras, em clube social, e o pior de tudo, várias

não passam de pequenas empresas que mercadejam

"bênçãos" com seus templos suntuosos e abomináveis.

Contudo, assim como em Israel sempre havia o

remanescente fiel, os Elias, os Josués e Calebes, os

Danieis, Otonieis, ainda há igrejas centradas na Palavra,

nunca serão perfeitas, mas têm um alvo a seguir que as

mantêm de pé.

Claro, para concluir não poderia deixar de citar as

palavras do próprio Mestre: "Os sãos não necessitam de

médicos, mas sim, os doentes" (Mt. 9:12).

Se tudo lhe vai bem, sua vida é perfeita, e você

não se reconhece como pecador a igreja não é o seu

lugar. Mas, se você é cheio de falhas como eu? Seu lugar

é na igreja. Venha caminhar junto!

34

NÃO ESTAMOS PRONTOS

Não se assuste com as grandes ondas, mas passe a

admirar o mar

Não lhe traga temor o vento, mas contemple a paisagem

como uma mensagem

Não lhe incomode os pesadelos sinistros, mas fortaleça-

se com sonhos risonhos

Não se irrite com os injustos, mas enfrente a lida com

sua vida

Não lhe atormente erros passados, mas descanse no

perdão da salvação

Não seja cínico diante do mal, mas vença a maldade com

santidade

Não se creia pronto nem terminado, mas creia no agir

certeiro do Oleiro

Não acredite ser todo justo, mas descanse na justificação

de nosso IRMÃO

Não lhe traga pânico o mal atroz, mas descanse no

Senhor de todo amor!

35

JULGANDO OS DE DENTRO

Na atualidade há muita discussão a respeito dos

valores morais que atingem a família, e os perigos que

ela passa. Há até mesmo uma espécie de guerra moral na

nossa sociedade.

Paulo ao escrever a sua primeira carta aos

coríntios no capítulo 5 chama a atenção dos seus filhos

na fé para algo extremamente importante na igreja, o

combate à imoralidade. A preocupação do apóstolo é que

no meio dos santos havia um homem que se dizia

discípulo de Cristo, mas, vivia uma vida completamente

antagônica à imagem do Mestre. Por isso, o zeloso pastor

ordena que tal pessoa seja expurgada do meio deles como

se expurga o fermento velho (v.5-7). Paulo enfatiza que

já havia orientado seus discípulos a não ter nem

comunhão com esse e com outros que, ESTAVAM NA

IGREJA, mas não eram dignos do Senhor (v.9). No

versículo seguinte (10) ele deixa claro algo

completamente esquecido pelos “Grandes defensores da

família brasileira”. O que devemos combater? A

imoralidade do mundo? Ou nossa própria imoralidade?

36

O sábio apóstolo nos ensina de forma muito clara,

tão clara, que é para mim incompreensível, como esses

pregadores de hoje não percebem o mal que estão

fazendo ao Evangelho. Há um ditado pesado que diz:

“Tem coisas que são como b...(ou m...), quanto mais se

mexe mais fede”. Sei que muitos não gostaram deste

ditado citado por mim. Peguei pesado? Pode ser, mas

quero chamar a atenção de todos para o que está

acontecendo. Estão dando tiros para todos os lados, e

simplesmente estão errando feio o alvo. Sejamos

sinceros, a igreja brasileira é um exemplo de moral e

santidade? Somos um exemplo de amor ao próximo e aos

famintos e pobres? Nem precisamos responder.

O fato é que, se a igreja brasileira fosse mais

bíblica, fosse mais parecida com a igreja primitiva, seria

muito diferente. Nós temos é que espalhar Evangelho e o

amor, sim. Mas, temos que viver o Evangelho e o amor.

O problema, é que o Evangelho no Brasil está todo

distorcido.

Muitos convocam a igreja para a “guerra” aos

ataques imorais dos de fora, mas eles mesmos distorcem

o Verdadeiro Evangelho, e querem postar de moralistas.

37

Não vejo razão alguma para ficarmos irritados

com as atitudes de ímpios que zombam do Evangelho,

Deus não nos chamou para isso. Não! Ele nos chamou

para irmos e dar frutos que permaneçam (Jo.15:16). Se

fosse para nos preocupar com a vida dos de fora, não

poderíamos permanecer neste mundo (v.10).

O problema dos evangélicos no Brasil é que

estamos nos preocupando demais com os pecados

alheios. Não devemos dar lição de moral para quem não

segue a Jesus, temos que ensinar o caminho do

discipulado para quem segue, porque se conseguíssemos

fazer com que os evangélicos seguissem a Cristo de fato,

isso faria uma enorme diferença neste mundo.

Como Paulo conclui o capítulo 5: “Pois, como

haveria eu de julgar os de fora da igreja? Não devem

vocês julgar os que estão dentro? DEUS JULGARÁ OS

DE FORA.” (v.12, 13a).

Quanta simplicidade na Palavra de Deus! Quanta

clareza! Mas, tem gente que só fica preocupado com a

vida dos outros e esquece sua própria realidade.

Aprendamos com o apóstolo Paulo, vamos cuidar

de nós mesmos, pregar e VIVER o Evangelho. Vamos

parar com esse papo de guerra. As pessoas fazem o que

38

fazem porque são os seus valores (deturpados, claro),

Deus vai julgá-las, não nós. Elas não querem nossa

moral, querem viver suas vidas. Deixemos essas pessoas

dentro de seus padrões e elas ficarão mais no canto delas.

Este tipo de guerra só fomenta o ódio. O que adiantaria

lavar o exterior do copo, se o interior permanecer sujo

(Mt.23:25; Lc.11:39), será que se as pessoas mudassem

seu comportamento isso faria delas dignas do céu? Será

que o comportamento exemplar é o caminho? Quanta

obviedade nessas perguntas.

Vejamos que um dos motivos principais que

levam famosos pregadores a se ocuparem com isso está

na sua teologia manca, que enfatiza a responsabilidade

humana, e se esquece de que nosso Deus é Soberano, e

que é por graça e não por força ou Lei. Sei que muitos

não concordarão comigo e vão até dizer: “Você se mostra

às vezes duro, outras vezes conivente.” Contudo, penso

que tenho minha opinião baseada nas Escrituras. Você

pode não concordar, mas use a Palavra de Deus para

refutá-la.

39

EM UM MUNDO

Em um mundo injusto, os justos não precisam se

justificar

Em um mundo de mentiras, os francos não devem mentir

Em um mundo corrupto, os honestos não podem se

corromper

Em um mundo violento, os pacíficos não devem agredir

Em um mundo de trevas, iluminados devem reluzir

Em um mundo cego, os visionários precisam enxergar

Em um mundo em decadência, os firmes precisam

fortalecer

Em um mundo mau, os que amam o bem devem

abençoar

Em um mundo impuro, o sal precisa salgar

40

NOVOS ISCARIOTES, VELHA GANÂNCIA

Há alguns anos impactou-me uma rápida notícia,

como costumam ser rápidas as noticias nos telejornais,

durou menos de trinta segundos, mas sua força era

suficiente para impactar. O famoso Jornal Nacional

noticiava o assassinato de vinte cristãos no Quênia por

extremistas muçulmanos que queriam vingar-se do

governo que havia destruído uma célula terrorista. Os

assassinos abordaram o ônibus e permitiram que todos os

que se declaravam muçulmanos e recitavam algum trecho

do Corão fossem embora, os cristãos, 20, foram

fuzilados. Agora, em novembro de 2014. Às vezes

notícias assim passam despercebidas por nós, o jornal é

muito rápido e cada notícia é fragmentada ao máximo.

Mas não é só isso, existem outras razões, como,

por exemplo: estamos mais preocupados com a

informação política ou esportiva que virá a seguir, ou, em

muitos casos, as pessoas só estão aguardando a novela

começar. Em todo caso, o fato é que, a nós, cristãos,

notícias assim não deveriam passar em branco, a mim

não passou.

41

Pense um pouco comigo, será que isto que

aconteceu a nossos distantes irmãos é uma raridade?

Infelizmente, a nós sempre parece que sim, mas, a

verdade é que não, isso não é raro. O problema é que

aqui, vivendo em uma forte democracia no Brasil, temos

toda a liberdade para vivermos nossa fé sem barreiras, ou

perseguição. É verdade que muitas vezes somos

criticados, rotulados, zombados, mas o que é uma crítica

boba, perto das lutas enfrentadas por nossos irmãos em

Cristo que sofrem em várias partes do mundo? Além

disso, muitas das críticas são merecidas, não por todos,

obviamente, mas por aqueles que envergonham o nome

de Cristo, pelos novos Iscariotes.

Talvez boa parte, senão a maioria, dos crentes

ignora que no mundo inteiro, em vários países,

particularmente, nos países muçulmanos, os cristãos

experimentam algo parecido à grande tribulação, muitos

são presos, torturados, abandonados pela família e

amigos, simplesmente por decidirem seguir a Jesus. Se

você é um destes que desconhecem essas informações,

sugiro que aproveite todas as vantagens da internet e

conheça sites como o de Portas Abertas, que retrata a

Igreja Perseguida no mundo. Contudo, infelizmente, o

42

desconhecimento dessa realidade por muitos é proposital,

fazem-se de cegos e surdos, pois isso lhes tiraria a

tranquilidade. É fato, não custa nada ser evangélico aqui,

às vezes é febre, é moda, e para alguns é até lucrativo.

É triste ver como o Evangelho no Brasil foi, em

boa parte das igrejas, deturpado, descrucificado, perdeu-

se na exagerada bonança, tal qual nos tempos

constantinos. Enquanto muitos irmãos sofrem lá fora,

aqui se brinca com a Palavra de Deus, os novos Iscariotes

usam-na, não como a Verdade, mas como um simples

manual para manipular, enganar e enriquecer, tal qual o

Carnegie, personagem de Gary Oldman, que perseguia

Eli para tomar-lhe o livro, no filme: "O Livro de Eli".

Seus telecultos são um circo dramático, ufanista e

místico. Talvez, repetindo em seus subconscientes a

máxima do velho e famoso apresentador: "Quem quer

dinheiro?" O fato é que milhões querem, e por isso seus

templos estão lotados, não de fiéis, mas de consumidores

ávidos por uma bênçãozinha.

De nada valem os avisos de Paulo: "O amor ao

dinheiro é a raiz de todos os males" (ITm. 6:10), nem de

Pedro: "Também, movidos pela ganância, e com palavras

fingidas, eles farão de vós negócio..." (IIPe.2:3), e nem

43

mesmo, as do próprio Jesus: "Não podeis servir a Deus e

às riquezas." (Mt. 6:24). A ignorância total de mensagens

tão claras como essas se deve ao fato de que os novos

Iscariotes são muito inteligentes, muito sagazes (para não

dizer outro termo com sa...), você nunca vai ouvi-los

pregando mensagens expositivas que, de fato, ensinam

claramente as verdades das Escrituras. Suas mensagens,

além de água com açúcar, não passam de um bate papo

furado, como se estivessem explicando o Evangelho,

quando na verdade são lorotas baseadas em versículos

descontextualizados, completamente retirados de algum

texto muito rico, mas, com muita habilidade sofista,

conseguem levar as pessoas a crerem que realmente foi

aquilo que Jesus e os apóstolos quiseram ensinar.

Vamos ver alguns exemplos: No Evangelho de

Lucas capítulo 11 Jesus está ensinando sobre oração aos

seus discípulos, no versículo 9 Ele diz que se pedirmos

receberemos, se batermos as portas se abrirão e se

buscarmos acharemos, é claro, que este versículo é um

prato cheio para os novos Iscariotes, é um dos versículos

preferidos para fazerem suas mensagens. Isolado, este

versículo realmente parece ensinar que Deus está pronto

a atender aos nossos gananciosos pedidos de

44

prosperidade, é simples, peça e Deus dará. Mas, o que

nos diz o contexto? Será que de fato Deus quer nos dar

tudo que pedimos? Não há necessidade de se fazer uma

exegese exaustiva, ler o texto no grego original, nem ser

um teólogo experiente, qualquer um de nós conseguirá

entender o contexto, basta-nos ser honestos, sinceros e ler

o capítulo do início.

Agindo assim veremos que um discípulo é quem

pediu a Jesus que se lhes ensinasse a orar, então Ele lhes

ensina (e a nós) a famosa oração do Pai Nosso, depois,

continuando, lhes ensina sobre importância de serem

perseverantes na oração, daí o motivo porque Jesus fala

de pedir, buscar e bater. Depois do famoso versículo e do

versículo 10 que lhe complementa, Ele nos fala algo

maravilhoso, se nós, sendo maus (pois todos somos Rm.

3:10-18) sabemos dar coisas boas aos nossos filhos,

certamente o bom Deus nos dará...Carros importados?

Mansões luxuosas? Prêmios acumulados da Loteria?

Milagres estrondosos? O versículo final do assunto (13)

nos revela o quanto são enganadores os novos Iscariotes.

O que o Mestre ensinava aos discípulos (e a nós) era que

sua promessa falava do mais importante, do mais sublime

e fundamental ao cristão, e não tem nada a ver com

45

bênçãos materiais e passageiras, riquezas consumíveis

que podem ser destruídas pelas traças ou roubadas por

ladrões (Mt. 6:19). O que cada um de nós deveria

aprender a pedir seria Aquele que pode transformar e

fazer de cada um de nós um novo homem ou mulher,

Aquele que nos ilumina e capacita a crer e entender a voz

de Deus.

Obviamente, se famintos clamarmos, Deus nos

alimentará, se nus pedirmos Ele nos vestirá. Porém, o que

Jesus quer deixar claro é que o material não é nada

comparado ao espiritual. Tristemente, alguns preferem o

material, leviano, consumível e passageiro.

Há um outro também famoso versículo, sempre

descontextualizado, que também é usado por aqueles que

querem manipular a Palavra de Deus. Provavelmente,

você já deve tê-lo visto no vidro traseiro de algum carro,

ou na camiseta de alguém. Trata-se de Filipenses 4:13:

"Posso todas as coisas naquele que me fortalece."

Isolado assim sempre é usado para dar ao cristão a

falsa ideia de que ele pode fazer o que bem entender,

basta ter fé em Jesus.

Há poucos anos vi, num destes programas

televisivos, um famoso pregador com seu convidado

46

gringo convidar seus fiéis contribuintes do programa a

dar uma "pequena" oferta de fé (R$500), e Deus iria, em

seis meses, retribuir com uma grande bênção.

Bênçãozinha cara essa, heim? Mas, a questão não

é nem tanto em relação ao valor, e sim ao fato da

promessa. Será que podemos até marcar data e

comprometer a Deus? Podemos todas coisas mesmo?

Parece até aquelas piadinhas bobas: "Deus lhe pague,

porque eu não tenho dinheiro". A ideia é parecida, "você

nos dá a oferta e Deus que se vire para abençoá-lo".

Provavelmente, quem doou e não se sentiu abençoado

nem adianta reclamar, a resposta cínica estarã na ponta

da língua: "você é que não teve fé meu irmão!"

Mas, era isso o que Paulo tinha em mente? Neste

caso um exame simples dos versículos anteriores vai nos

mostrar que Paulo agradecia a esta igreja por todo o

apoio recebido, principalmente apoio financeiro. E apesar

de toda sua gratidão, o apóstolo quis deixar-lhes claro,

nos versículos 11 e 12 que sua força sempre foi o Senhor.

Ele estava preparado para encarar qualquer circunstância,

sejam os momentos de escassez ou de abundância. Se

havia abundância ele sabia que ela vinha de Deus e não

podia fiar-se nela, se havia escassez, a graça de Deus o

47

ajudaria, ou seja, em qualquer situação ele podia viver no

poder de Cristo. A interpretação é simples assim.

É compreensível que os novos Iscariotes não

interpretem corretamente essa lição de Paulo, afinal ela é

completamente antagônica à sua teologia da

prosperidade, na qual só a abundância é encarada como

uma situação aceitável ao cristão.

Alguém já disse, sabiamente: "A Bíblia é a mãe

das heresias", é provável que alguém se assuste com a

frase, mas é a pura verdade, vejam os exemplos acima,

ninguém formulou aquelas meias-verdades a partir do

Corão, Sânscrito, Livro de Mórmon, ou algum outro livro

religioso ou filosófico. A Palavra de Deus quando não

ensinada integralmente pode ser grande fonte de

mentiras.

Aquilo que deveria ser fonte de vida, torna-

sefonte de morte. A Palavra de Deus pode ser bem

manejada (II Tm. 2:15), ou manipulada.

Um paralelo poderia ser relacionado aos

alimentos, fonte de vida e saúde, mas a manipulação

errada deste alimento pode contaminar, adoecer e até

matar. Um cozinheiro, por imperícia, pode contaminar

centenas de pessoas no refeitório de uma empresa, ou

48

escola. E isso, deveras, já aconteceu várias vezes, é,

geralmente, por imperícia mesmo. Contudo, infelizmente,

a manipulação da Palavra de Deus não se dá por

imperícia, mas, por malícia. Os novos Iscariotes sabem

muito bem o que estão fazendo.

É verdade, que muitos dos seus discípulos, não

recebem uma preparação adequada. Mas, isso não os

justifica, é um grande erro querer ensinar a Palavra sem

ao menos conhecê-la profundamente (Mt. 22:29;

Mc.12:24). É notório que tais obreiros nem sequer

frequentam faculdades teológicas, por um ano que seja,

no máximo, recebem um treinamento básico de poucos

meses, não para manejar bem a Palavra, mas, para

reproduzirem fielmente os ensinamentos de seus líderes.

Um exemplo desse treinamento é conhecido de

todos, pois foi filmado e divulgado. Informalmente, em

uma pelada de futebol, o líder ensina seus discípulos:

"tem que pedir mesmo, sem ter vergonha", e conclui de

maneira bem leviana, e imoral, com a velha piadinha: "é

dá ou desce!" E muitos dão, alguns inocentemente,

muitos outros, como investindo na "Bolsa de valores do

céu". Infelizmente, nem todos poderão resgatar seu

"investimento", pois, não terão acesso ao "banco".

49

Manipular a Palavra de Deus, além de ser trágico,

é imoral. Os evangelistas, Paulo, Pedro, Davi, e outros.

Servos de Deus, muito sofreram para dar-nos a revelação

maravilhosa, fonte de vida. E muitos deixam suas casas

para irem aos seus suntuosos templos, ou os assistem

pela televisão, pessoas que, muitas vezes, acreditam

piamente estarem ouvindo a Palavra de Deus. Quando, na

verdade, ouvem guias cegos, e infelizmente, todos cairão

no barranco (Mt. 15:14).

Mas, por que prosperam e fazem sucesso os novos

Iscariotes? É simples, usando uma linguagem, um pouco

pesada, do mundo policial: "Só há traficantes porque há

consumidores de drogas", da mesma forma, os suntuosos

templos que hoje são construídos e as redes de televisão

são compradas porque há muitos "crentes" ávidos por

bênçãos e riquezas. Como escreveu Paulo em sua

segunda carta a Timóteo 4:3, chegou o tempo em que as

pessoas não estão mais interessadas na sã doutrina, eles

querem é ouvir coisas agradáveis, palatáveis, nada de

cruz, morte, novo nascimento ou renúncia, mas só

bênçãos, bênçãos, bênçãos, assim como as filhas da

sanguessuga (Pv. 30:15).

50

É possível que a esta altura do texto alguém já

deve ter perguntado: "Por que você chama os pregadores

da teologia da prosperidade de novos Iscariotes?”

Minha resposta tem origem no excelentíssimo

livro: "A Cruz de Cristo" de John Stott, certamente, um

dos mais belos e edificantes livros que cada cristão

deveria ler. Compreender a morte de Cristo é essencial à

fé, e este livro ajuda muito.

Ao analisar os responsáveis diretos pela morte de

Jesus, no âmbito terreno, Stott percebe que para Pilatos,

de forma covarde, entregar Jesus para a crucificação ele

sofreu enorme pressão dos religiosos judeus que lhe

entregaram o Mestre por inveja, e Iscariotes por sua vez o

entregou a estes, por qual motivo?

Fantasiosas interpretações de alguns acreditavam

ser ele um zelote, que se decepcionou com seu

messianismo pacífico, ao invés de lutar e derrotar os

romanos cruéis. Outros tiveram uma ideia ainda mais

tresloucada: Ele esperava que ao ser preso, Jesus reagiria,

convocaria seu exército de anjos e derrotaria as forças de

César. Apesar de todas as especulações, o evangelista

João traz a verdade, Iscariotes traiu ao Senhor por pura

ganância. Próximo à crucificação, João narra a

51

interessante história de Maria, que perfumou os pés do

Mestre com um caríssimo bálsamo, Iscariotes, fingindo

preocupação com os pobres a critica muito, dizendo que

antes de derramar sobre os pés santos, deveriam mesmo

era vender para dar aos necessitados. João, um dos

apóstolos, e que, certamente conheceu bem este

desonesto tesoureiro da equipe do Messias, afirma que

ele costumava roubar a bolsa onde era guardado o

dinheiro. O traidor deve ter ficado revoltadíssimo pelo

grande prejuízo, mas logo encontrou uma solução de

como recuperar pelo menos parte da grana. O bálsamo

valia, segundo avaliação do próprio avaro: 300 denários,

ou seja um ano de salário de um trabalhador, os

sacerdotes só lhe deram 30 moedas de prata (Mt. 26:15),

"melhor do que nada" deve ter pensado ele.

A ganância é um dos mais terríveis motores dos

piores pecados e crimes da humanidade. Os dias atuais

no Brasil têm revelado claramente isso a nós.

A cada semana uma operação da PF é deflagrada,

mostrando-nos o quão frágil é nossa democracia, de fato,

ela existe, mas muito facilmente é manipulada pelo

$$$$$$$$$. Nossa maior empresa, uma das grandes

52

produtoras de petróleo do mundo, vilipendiada, roubada e

desvalorizada.

Sempre pagamos muitos impostos, mas por que

aquela nossa tia fica quatro horas em um posto de saúde

para o (único) médico lhe atender em dois minutos e sem

lhe olhar o rosto tem o diagnóstico na ponta da

língua:"virose", e a receita na ponta da caneta:

"buscopam"?

Por que temos tantos analfabetos funcionais e

muitos professores que migram para outras carreiras em

busca de melhores salários?

Por que pobres camponeses são expulsos de suas

terras para que grandes latifúndios ressurjam como uma

praga persistente?

Por que crianças ficam sem merenda, o aparelho

de raio X do hospital está quebrado, mas as casas do

prefeito e dos vereadores estão cada vez maiores, e as

garagens sem espaço para os carros importados?

Por que ainda é possível encontrar escravos em

pleno século XXI? GANÂNCIA: "amor aodinheiro, raiz

de todos os males"(ITm. 6:10).

É verdade que depois de tudo, o remorso (não o

arrependimento) alcançou Iscariotes, mas, já era tarde.

53

De fato, como argumenta Stott, não apenas ele, os

sacerdotes e Pilatos foram os que levaram Cristo à cruz,

mas sim os pecados de todos nós. Contudo, mais que os

sacerdotes e Pilatos, ele foi o maior traidor, que comia no

prato com o Senhor, traição extremamente vil. Por causa

da sua traição, a Verdade, foi humilhada, zombada, lhe

cuspiram, e mataram. Esta é a grande semelhança com os

novos Iscariotes, por causa de sua atitude de traição, a

Verdade é humilhada, zombada e desprezada nos dias de

hoje. Por causa do dinheiro eles traem a Verdade de

Deus, por meias-verdades, ou mentiras descaradas que

não passam de fábulas que enganam os incautos e

àqueles que desejam "ouvir coisas agradáveis" (II Tm.

4:3).

Pesadas palavras? Você pensa que não

deveríamos discutir temas como esse, afinal eles

arrebanham milhões e têm feito coisas "boas"? Não

penso assim, afinal, não fui eu, nem qualquer outro

missionário, pastor, padre, monge, filósofo ou outra

pessoa quem disse as palavras a seguir: "Muitos me dirão

naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em

teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E

em teu nome não fizemos muitos milagres?" A resposta

54

do Senhor, sim, será muito pesada: "Então, lhes direi

claramente: Nunca vos conheci, apartai-vos de mim, vós

que praticais a iniquidade" (Mt.7:22-23).

Para quem acredita que o sucesso de público e

movimento respaldam qualquer ministério, esses

versículos são esclarecedores, o contexto desses

versículos é uma orientação do Mestre a respeito dos

falsos profetas, que se parecem ovelhas, mas são lobos

devoradores (V. 15). Alguns podem estar questionando:

"Por que Jesus diz: Nunca vos conheci? Ele não conhece

todas as coisas?" Esse tipo de conhecimento não se refere

apenas ao saber quem é quem, mas refere-se àquele

conhecimento relacional, íntimo de amizade que o

Senhor tem com suas ovelhas. Paulo deixa isso bem claro

na segunda carta a Timóteo 2: 19, o Senhor de fato

conhece cada um dos seus. E isso está de pleno acordo

com o contexto de Mt. 7, são os frutos e não as palavras

que revelarão os falsos e os verdadeiros profetas. E Jesus

deixa claro no V. 21 que os bons frutos referem-se a

fazer a vontade do Pai.

A expressão: "Jesus é o Senhor!" só faz sentido e

tem valor, se de fato, tomarmos nossa cruz, renunciarmos

a nós mesmos e aceitarmos seu domínio sobre nossas

55

vidas, ou então, ela não passará de palavras bonitas, mas,

vazias.

É verdade, todo texto tem um objetivo, talvez

muitos pensem que este é a crítica somente. Contudo,

afirmo que meu desejo é que reflitamos sobre nossa fé

evangélica. Não devemos discutir os rumos da Igreja

Brasileira? Será que está tudo bem? Estamos no caminho

certo? Não nos afastamos da cruz? Precisamos de uma

nova Reforma? Reflitamos!

LOBOS CRUÉIS

Traiu-se a Luz, um beijo antes da cruz

Uma noite angustiante, um clamor perseverante

Lágrimas, sangue e dor revelaram seu amor

Angústia por sua breve separação, fruto da maldição,

Feita por nossas mãos

A vida ninguém lhe tomou, pois, Ele a doou

Sangue que Ele mesmo verteu, cálice que bebeu

Na manhã o Sol da justiça levantou-se determinado

Sua hora havia chegado

Levantado do chão, perdoou seus irmãos

Tirado da Terra, venceu a guerra

A morte o levou, e morta ela ficou

56

Ao terceiro dia a vida se erguia

Rompendo o véu, subiu ao céu

Séculos à frente, seguiu sua semente

Levando a cruz, servos da Luz

Mas, sempre há traidores, falsos pastores

A Verdade negociada, a Palavra humilhada

Almas vendidas, ovelhas perdidas

Lobos cruéis, rebanhos infiéis.

57

IMATURIDADE ESPIRITUAL

“Se ouvires atentamente a voz do Senhor teu

Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus

mandamentos que eu hoje te ordeno, o Senhor teu Deus

te exaltará sobre todas as nações da terra; e todas estas

bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, se ouvires a voz do

Senhor teu Deus: Bendito serás na cidade, e bendito

serás no campo...”

Dt.28:1-3...

Um dos textos do AT mais conhecidos,

apreciados e citados pelos pregadores pós-modernos e

ufanistas da teologia da prosperidade é a famosa

passagem repleta de promessas apresentadas por Moisés,

já no final de sua vida e ministério entre os hebreus. Era a

sua despedida, logo após sua morte o povo deveria

continuar sua caminhada em direção à terra prometida

sob a liderança de Josué. Mas, antes apresentou ao povo

maravilhosas promessas de bênçãos como fruto de sua

obediência (VV.1-14) e, por outro lado, duras ameaças de

maldições caso insistissem em manter-se desobediente

58

seguindo outros deuses e abandonando o Senhor e suas

justas leis, que serviam para protegê-los (vv. 15-68).

Existem alguns pregadores que gostam de

apropriar-se destas promessas indiscriminadamente,

como se elas pudessem ser lidas e aplicadas de qualquer

forma aos cristãos de hoje. Algo que, logo de início,

chama a atenção é o fato de que, geralmente, a leitura é

interrompida no versículo 14, já que do 15 ao final (um

trecho ainda maior) não interessa e nem é atraente.

Contudo, o grande erro está na hermenêutica imprópria e

caduca. Não se leva em consideração o objeto das

promessas e o motivo. Para quem foram tais promessas?

A quem foi prometido riquezas no campo e na cidade,

chuvas torrenciais, famílias prósperas de filhos e bens,

vitórias nas guerras e uma nação poderosa por cabeça e

não cauda? Com certeza não foi a nenhuma nação atual,

ou à igrejas e rebanhos especiais, filhos prediletos.

E por que a nação de Israel recebeu tais

promessas? Segundo W. W. Wiersbe o contexto mostra

uma nação ainda em formação e em sua infância

espiritual, que necessitava de tutores, incentivos e

punições assim como nossos filhos recebem, e isso em

59

pleno acordo com os argumentos de Paulo em Gálatas

4:1-7. Portanto, não é exagero afirmar que desejar o

mesmo tratamento demonstra infantilidade espiritual.

Além disso, essa hermenêutica apressada e superficial

não leva em consideração os destinatários originais da

Lei. Mas, não é só isso, havia algo a mais nessas

promessas direcionadas exclusivamente aos hebreus. Tais

promessas estão intimamente relacionadas à missão de

Israel. Para uma percepção mais clara desta missão é

preciso a observação do versículo 10 “E todos os povos

da terra verão que és chamado pelo nome do Senhor e

terão medo de ti”. Superficialmente, alguém poderia

pensar que a ênfase neste caso recai sobre o povo que

seria temido, mas, nada mais enganoso. É óbvio que o ser

“chamado pelo nome do Senhor” mostra o verdadeiro

propósito de tornar a pequena e nascente nação uma

potência sobre outras. O salmista escritor do salmo 67

compreendeu muito bem o motivo das bênçãos serem

espalhadas e alcançarem graciosamente a nação: “Seja

Deus gracioso para conosco, e nos abençoe, e faça

resplandecer sobre nós o rosto, para que se conheça na

terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação.

Louvem-te os povos, ó Deus, louvem-te os povos todos”

60

V.1-3. O último versículo é ainda mais esclarecedor:

“Abençoe-nos Deus, e todos os confins da terra o

temerão.” V.7. O salmista veio a compreender

claramente o que todo o povo deveria ter compreendido

desde o princípio, o conjunto de bênçãos não era um fim

em si mesmo, as bênçãos condicionadas à obediência à

Lei não visavam formar um povo mimado, e

privilegiado, como se fosse o filho único de Deus.

Engana-se quem acredita que somente os judeus eram

amados pelo Senhor. Obviamente, os judeus eram

amados e Deus tinha um projeto especial, uma missão

especial para a nação, mas, a verdade é que Deus ama e

sempre amou a todos os povos do mundo, Ele não faz e

nunca fez acepção de pessoas ou povos.

Então por que a nação foi escolhida dentre

muitas? Primeiramente, porque Deus a amou e decidiu

por sua livre e soberana vontade, e porque a nação tinha

uma missão: Atrair todos os povos a Deus. Em termos

missiológicos esta missão é chamada de missão

centrípeta, o objetivo claro era ser um centro de atração,

Israel foi chamada para ser luz para as nações, como

mostra o v. 10 de Dt. 28 e o salmo 67, Além destes

textos, encontramos o profeta Isaías afirmando de forma

61

ainda mais inequívoca esta verdade incontestável (42:6 e

49:6). Israel foi uma nação formada com o único e claro

propósito de ser Luz para os povos “...a minha salvação

até à extremidade da terra” (Is.49:6).

Nos tempos do rei Salomão encontramos uma

nação forte e próspera ao ponto da rainha de Sabá sair de

sua nação rica e civilizada no sudoeste da Arábia para

provar Salomão com perguntas e conhecer o esplendor de

seu reino, em I Rs. 10:9 o texto diz que ela exaltou ao

Deus de Salomão, afirmando que só podia ver ali o amor

de Deus sobre a nação, o v. 23 afirma claramente que ele

veio a ser o mais rico entre os reis e muitos iam até ele

para ouvir sua sabedoria e lhe enchiam de presentes.

Infelizmente, logo no capítulo a seguir (11) o texto nos

mostra como este rei afastou-se de Deus por influência de

suas muitas mulheres que não temiam a Deus. Salomão

veio a desobedecer totalmente a Deus e a seus

mandamentos, após a sua morte, seu filho acabou por

dividir o reino e nunca mais a nação foi unida, a

decadência levou os reinos divididos a sofrerem as

consequências de sua desobediência. Especificamente a

parte das maldiçoes de Dt. 28:49 ao final do capítulo

alcançaram os judeus e transtornaram o povo

62

desobediente. Percebe-se que toda a segunda parte de Dt.

28, do versículo 15 em diante, foi profética e realizou-se

cabalmente.

Contudo, as profecias de Isaías 42 e 49 também

eram proféticas. Entretanto, sua realização não se

relacionava à nação como um todo, mas ao seu

Descendente: Jesus. O Messias veio para cumprir o

chamado que seria de Israel, pois, este falhou

completamente em sua missão, era necessário que Jesus

viesse para, como o servo de Is.49:6 restaurar as tribos,

alcançar os remanescentes e, finalmente, ser a verdadeira

luz para às nações. A nação de Israel não foi capaz de

cumprir a Lei que Jesus cumpriu cabalmente. As bênçãos

prometidas em Deuteronômio não necessitavam vir sobre

aquele que alcançou o nome que está sobre todo nome

(Fl.2:9), sendo Ele aquele que possui toda a plenitude de

Deus e em quem tudo subsiste (Cl.1:17-19).

Alguns podem ainda crer que existe razão para a

igreja ser herdeira das promessas de Deuteronômio 28,

como muitos têm pregado ufanisticamente, acreditando

que ser próspero é um meio de mostrar sua verdadeira fé

e “atrair” outros. Uma aplicação um tanto duvidosa e mal

63

interpretada. Não apenas as leis do AT eram sombras do

que haveria de vir, pois a realidade é Cristo (Cl. 2:17),

mas aquelas promessas também não foram e nem podem

ser direcionadas a nós e não passam de sombras. Tais

promessas de bênçãos, inclusive, são extremamente

inferiores às verdadeiras e reais bênçãos que a nós já

foram ordenadas. Precisamente, ordenadas, decretadas,

não prometidas, não condicionadas.

Quais são as bênçãos direcionadas à igreja, agora

formada por judeus e povos de todas as nações que creem

em Cristo (Ef. 2:11-22)? Nesta mesma carta no capítulo

1:3-14, o apóstolo Paulo nos mostra em uma única e

extensa frase, um dos trechos mais famosos, belos,

teológicos e complexos do NT, como afirma William

Hendriksen: vai se formando uma bola de neve e se

avolumando palavra após palavra, cheias de tanta

profundidade e graça sem igual, à medida que lemos

sobre “toda sorte de bênção espiritual”. Já de início pode-

se perceber claramente a superioridade dessas bênçãos,

elas não são as migalhas das bênçãos materiais, hoje tão

fervorosamente e ansiosamente buscadas por milhões de

pessoas. Não, essas bênçãos são espirituais, são aquelas

que a traça e a ferrugem não podem corroer, nem os

64

ladrões roubarem (Mt.6:19). Infelizmente, muitos

preferem as migalhas e correm aos pés de lobos vorazes

com suas promessas vãs e enganosas. Contudo, os que de

fato são filhos de Deus já foram alcançados com bênçãos

superiores. Além dessa superioridade essencial há ainda

outras razões que tornam estas bênçãos de Efésios

extremamente superiores às de Deuteronômio, elas não

são promessas futuras, mas, são bênçãos já realizadas, já

confirmadas. O tempo verbal no original ainda deixa isso

mais claro, os verbos: escolher, predestinar, conceder,

derramar, estão todos no aoristo, um tempo verbal do

grego que é mais perfeito que o nosso tempo perfeito do

português, significa algo que já foi realizado e não tem

volta, não tem possibilidade de ser revogado. Outro

detalhe? Essas bênçãos não são condicionadas à nossa

obediência, até porque se fossem jamais as

alcançaríamos, pois não somos diferentes dos judeus,

somos falhos e jamais conseguiríamos cumprir a Lei, mas

estas bênçãos foram conquistadas por Cristo, e isso antes

da fundação do mundo (v.4). Portanto, inteiramente

imerecidas, mas garantidas por sua maravilhosa graça. E,

por fim, encontramos a razão de sermos abençoados com

tais bênçãos: “...para sermos santos e irrepreensíveis

65

perante ele” (v.4). Tais bênçãos não foram nos dadas para

que delas gozássemos despreocupadamente e

descomprometidamente.

A igreja também tem uma missão, mas, a sua

missão é completamente diferente da missão de Israel,

enquanto a missão deles era centrípeta, um movimento de

atração para o centro, para atrair para si mesmos a

atenção dos povos para que vissem a glória e o poder de

Deus ali manifestado, e assim o temessem e o adorassem.

A igreja não foi chamada para atrair, ainda que,

obviamente, não deve nunca repelir os de fora, mas

repelir os de dentro, lançá-los para longe, para que

possam alcançar outros. Em termos missiológicos chama-

se: missão centrífuga. O próprio nome deixa claro, uma

fuga do centro, é um movimento de espalhar-se a partir

do centro, de sair, de repelir e não de atrair. Somos um só

corpo com uma missão específica, fomos reunidos por

obra do Espírito Santo para ser sal, o sal só pode salgar se

for espalhado, somos chamados para ser luz, a luz só

pode iluminar se estiver em meio às trevas. Ou seja, sal

não faz diferença no saleiro, nem luz faz diferença onde

tudo está iluminado.

66

CONCLUINDO:

A relação com as bênçãos revelam muito a

respeito da nossa fé. Alguém que vive buscando

desenfreadamente e ansiosamente bênçãos materiais e

passageiras demonstra: infantilidade espiritual,

incapacidade de compreender o Evangelho, desprezo

pelas bênçãos espirituais já decretadas e concedidas. Por

outro lado, cristãos sinceros e convertidos reconhecem a

maravilhosa graça divina, são gratos pelas bênçãos

espirituais e não se consomem em busca do inferior,

buscam em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça,

sabendo que as demais e (necessárias) coisas serão

acrescentadas (Mt.6:33), por sua gratidão, reconhecem

também que as bênçãos da salvação, como dom de Deus

devem levá-los a servir e realizar as obras a que foram

chamados (Ef.2:10).

Que deixemos de ser como as filhas da

sanguessuga a exigir: dá, dá! (Pv.30:15) Já fomos

extremamente abençoados, não vá à igreja para buscar

uma bênção, SEJA UMA BÊNÇÃO NA VIDA DE

OUTROS!

67

POEMA DE DEUS

(Ef.2:8-10)

Cego para a Realidade, surdo para a Verdade

Morto para a Vida, a anos-luz da Luz

Sem fé e sem casa, sem família e sem nada

Inerte e sem vida, sem lar, nem guarida

Herdeiro da escravidão, em um mundo de ilusão

Impossível ver, incapaz de crer, sem nem mesmo ser

Mas, alvo de um amor sem igual, eterno e sobrenatural

Uma graça gratuita, franca e abundante, até redundante

Um amor irresistível, gracioso e infalível

Eternamente destinado para a graça, selado para a

glória, escrita na história

Me gloriarei? Ser filho do Rei? Que fiz? Eu não sei!

Se até "minha" fé, minha não é, é mesmo um presente,

surpreendente!

68

Impossível pagar, só posso louvar, e render-me aos pés,

sem vacilar, de quem amou me salvar.

Da morte à Vida, das trevas à Luz

Da escravidão à liberdade, pela Verdade

Para a inatividade? Para o comodismo ou a ociosidade?

Para um fim glorioso, não para ser orgulhoso

Graça da Majestade, que produz serviço, missão,

santidade

Amor surpreendente, que produz servos, não clientes

Eternamente destinado para servir ao Rei, ser sal e luz,

exemplo à grei, me gloriarei?

Nesta nova vida de amor e perdão, me resta servir, com

gratidão

Sou poema do Eterno, obra-prima da criação, para o

erigir de seu Reino, de graça, amor e perdão.

69

UM DIA PARA A CELEBRAÇÃO

"Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que

vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma

festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou

dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que

haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em

Cristo." (Col. 2:16-17 - NVI)

Desde que a suposta profetisa, ainda no século

XIX, fez a falsa acusação de que os cristãos guardam o

domingo por ordem do imperador Constantino, há uma

árdua batalha em defesa do dia certo a ser guardado.

Ainda que existam provas bíblicas de que o domingo foi

adotado já no início da igreja (At. 20:7; ICo.16:1-2) e

também foi defendido por vários pais da igreja,

antecessores ao imperador, como: Justino, Inácio,

Tertuliano e Eusébio de Cesárea, o dia não é, de fato, a

questão central, tudo está centrado nas alianças de Deus

com seu povo.

Obviamente, não desprezo o AT, quero começar

assim minha reflexão para evitar um mal entendido. O

AT é de um valor inestimável, é Palavra de Deus, eu

gosto de ler e pregar no AT, sempre podemos encontrar

70

histórias maravilhosas que exaltam a grandeza, e a graça

de Deus. Isso mesmo, Graça, está muito enganado quem

pensa que a graça de Deus encontra-se apenas no NT, o

AT é repleto de demonstrações da graça de Deus nas

histórias de seus servos fiéis, como Moisés, Davi, Daniel,

entre outros.

É maravilhoso o AT sim, mas, é antigo, é

ultrapassado, é ineficaz. Não consigo entender porque

muitos "cristãos" insistem em viver no passado, parece

que ainda não acordaram, não compreenderam a

mensagem do Evangelho, poder de Deus para salvação

de todo aquele que crê (Rm. 1:16), seja judeu, grego,

americano, brasileiro, coreano, iraquiano...

Paulo não despreza o AT, de forma alguma, antes

diz que foi glorioso, contudo o Antigo Pacto, feito

graciosamente e unilateralmente pelo Pai com Moisés e o

povo judeu, veio a tornar-se o ministério da morte

(IICo.3:6,7) por quê? Por que a Lei é injusta? Jamais, o

próprio apóstolo vai dizer que a Lei é santa, justa e boa

(Rm. 7:12). O que torna o Pacto Antigo ministério de

Morte? Obviamente, nosso pecado, quantos justos você

conhece? Não há um sequer, Paulo diz (Rm. 3:10) e,

certamente quando olhamos para nós mesmos,

71

percebemos que é a mais pura verdade. A Lei mostra a

justiça de Deus, é pela Lei que fica mais claro o quanto

estamos distante da justiça.

Paulo deixa claro em Romanos que a Lei apenas

serviu para encerrar a todos debaixo do pecado (Rm.

11:32) para ser misericordioso com todos, judeus,

possuidores e conhecedores da Lei, e gentios,

desconhecedores. O argumento de Paulo de que a Nova

Aliança é completamente superior à Antiga não pode ser

contestado por ninguém, nem pelos judeus, pois a ideia

de ter a Lei gravada não em pedras, mas na carne do

coração não é dele, Deus não revelou a ele primeiramente

essa promessa, mas a um respeitado profeta da Antiga

Aliança, Jeremias (31:31-34), assim como também Paulo

não é o autor da frase: "o justo viverá pela fé" (Rm.

1:17), ele cita Habacuque (2:4).

Paulo sempre deixou claro, que seu Evangelho

não era uma invenção moderna, mas uma promessa de

Deus, promessa pela qual obtiveram vida: Abraão,

Isaque, Jacó, Moisés e todos que vieram depois, todos os

judeus piedosos, sabiam que a Lei era incumprível, todos

dependiam da graça, todos viveram pela fé, é incrível que

ainda haja alguns que queiram viver pela Lei, que mata.

72

Deus enviou seu Filho, o Verbo se fez carne para

ser o único a cumprir toda justiça, para que por meio do

seu sangue este Novo Pacto, extremamente superior ao

Antigo e eficaz fosse concretizado (Hb. 9:11-15).

E ao cumprir todo seu ministério, Cristo afirmou

que iria para o Pai, para que o Consolador, o Espírito

Santo viesse para, exatamente, escrever em nossos

corações sua Palavra (Jo. 14:26). Por isso, Paulo não

titubeia em dizer: "a letra (LEI) mata, mas o Espírito

vivifica". Fixar-se na Lei é buscar a morte, depender do

Espírito é viver.

Atentemo-nos às palavras de Calvino em relação

ao quarto mandamento: "Mas, não há dúvida de que pela

vinda do Senhor Jesus Cristo o que era aqui cerimonial

foi abolido. Pois ele é a verdade, por cuja presença se

desvanecem todas as figuras; o corpo, a cuja visão são

deixadas para trás as sombras. Ele é, digo-o, o verdadeiro

cumprimento do sábado. Com ele, sepultados por meio

do batismo, fomos enxertados na participação de sua

morte, para que, participantes de sua ressurreição,

andemos em novidade de vida [Rm 6.4]. Por isso,

escreve o Apóstolo em outro lugar que o sábado tem sido

uma sombra da realidade futura, e que o corpo, isto é, a

73

sólida substância da verdade, que bem explicou naquela

passagem, está em Cristo [Cl 2.17]. Esta não consiste em

apenas um dia, mas em todo o curso de nossa vida, até

que, inteiramente mortos para nós mesmos, nos

enchamos da vida de Deus. Portanto, que esteja longe dos

cristãos a observância supersticiosa de dias". (Institutas

da Religião Cristã, Livro II, Capítulo 8, seções 28-

33.Disponível no site:

https://resistireconstruir.wordpress.com/2012/07/12/oqua

rto-mandamento-joao-calvino/)

O que mais chama atenção nas palavras do grande

reformador, refere-se a seu lúcido entendimento do

ensino de Paulo. Assim como o apóstolo, Calvino

angustiava-se com o legalismo presente na igreja entre

aqueles que insistiam (e ainda insistem) em prender-se, e

prender a outros, a jugos alheios ao Evangelho da graça.

O teólogo francês (assim como Paulo) defendia

que o dia do Senhor, domingo (o termo tem origem no

latim, Dominus: Senhor), primeiro dia da semana, fosse

adotado para as reuniões, celebrações, reflexões nas

obras de Deus e descanso dos trabalhos da semana,

afinal, ninguém é de ferro. Este descanso vai além do

físico, pois é também um descanso nAquele que cumpriu

74

toda a Lei, e cumpriu fielmente o sábado cerimonial,

dando-nos o descanso esperado. Calvino continua:

"Contudo, não foi sem alguma razão que os

antigos escolheram o dia do domingo para pô-lo no lugar

do sábado. Ora, como na ressurreição do Senhor está o

fim e cumprimento daquele verdadeiro descanso que o

antigo sábado prefigurava, os cristãos são advertidos pelo

próprio dia que pôs termo às sombras a não se apegarem

ao cerimonial envolto em sombras. A tal ponto, contudo,

não me prendo ao número sete que obrigue a Igreja à sua

servidão, pois não haverei de condenar as igrejas que

tenham outros dias solenes para suas reuniões, desde que

se guardem da superstição. Isto ocorrerá, se se mantiver a

observância da disciplina e da ordem bem regulada."

(op.cit.).

Sim, Calvino nunca foi radical em sua posição, se

Cristo cumpriu toda a Lei e o descanso, não devemos nos

aferrar na austeridade de cerimoniais, ainda que

mudemos o dia da semana. A preocupação do reformador

era com o fato que muitos continuavam com a mesma

teologia judaica do rigor da Lei, tendo mudado apenas o

dia. Reforçando suas palavras: "...que esteja longe dos

cristãos a observância supersticiosa de dias".

75

O domingo, dia do Senhor, deve ser visto por nós

cristãos como um dia especial sim, pois foi o dia mais

glorioso da história, deve ser para nós um dia de reflexão,

contrição e louvor, mas o radicalismo da Lei não deve ser

sua padronização. O dia do Senhor é para louvá-lo,

engrandecê-lo, mas também é dia para médicos e

enfermeiros cristãos em plantão salvarem vidas,

bombeiros cristãos em plantão resgatarem feridos,

motoristas de ônibus e condutores de trens e metrôs

cristãos transportarem outros, inclusive os cristãos para

suas igrejas, também é dia para almoçarmos em família e

ter comunhão com os nossos.

Obviamente, muitos não concordarão e poderão

até dizer: "Seis dias apenas podemos trabalhar, mas

nunca no domingo." Não tenho outra resposta senão

perguntar-lhe: "Se o seu filho adoecer gravemente no

domingo, você vai esperar a segunda para levá-lo ao

hospital, só para evitar ser o responsável por fazer o

médico e os atendentes "pecarem" no dia santo?" (Lc.

13:14-15). Também posso lhe dizer: "Nosso Pai e Jesus

trabalham sempre, e em qualquer dia que se faz

necessário, então nossos irmãos médicos, enfermeiros,

motoristas, bombeiros podem também trabalhar, se

76

necessário". (Jo. 5:17) O trabalho compulsório aos

domingos não faz de ninguém menos santo que os

demais. E ainda que fizesse, qual seria a diferença entre

os que trabalham e os que não trabalham? Acaso é a

"santidade perfeita" que justifica? Obviamente que não.

Sola Scriptura, Solo Christus, Sola Gratia, Sola

Fide, Soli Deo Gloria!

O Velho já morreu, celebremos o Novo!

UM HOMEM

Um homem está só

Para dar vida ao que veio do pó.

Um homem sente o abandono

Para levantar outros de seu sono.

Um homem aceita a morte

Para mudar de muitos a sorte.

Um homem sente em si todo o peso

Para livrar aquele que está preso.

Um homem olha para o amanhã

Quando novo mundo chega em uma manhã.

Um homem é, e morre pela verdade

Escrita desde a imensa eternidade.

Um homem que desapareceu entre nuvens do céu

77

É aguardado por muitos, em seu retorno rompendo o

véu.

Um homem morreu na linha do tempo

E deu início ao seu rebento.

Um homem que decidiu ser humilhado

Conheceu a glória ao ser Rei entronizado.

Um homem rejeitado pelos seus

Era mais que um homem, era homem/Deus

78

DEUS ESTÁ MORTO?

Esta expressão Nietzcheniana do gênio e

perturbado filósofo pode assustar. A verdade é que muito

diferente do que este dizia, DEUS NÃO ESTÁ MORTO,

mas com certeza, foi por causa do FILHO que a MORTE

MORREU. De fato, Ele morreu na eternidade, antes da

fundação do mundo (Ap. 13:8; IPe. 1:19-20). A morte é

um dos grandes inimigos da humanidade, ela é divisora

de águas em muitas vidas, ela traz tristeza, traz dor, traz,

em muitas ocasiões, desespero. A morte é dura e cruel.

Muitos questionam por que Deus permite a morte de

inocentes e justos? Ainda que não haja efetivamente

justos e inocentes, pois todos nascemos em pecados, quer

aceitemos ou não, pois é o que diz a Palavra (Rm. 3:10).

E sim, Deus conheceu intimamente a morte, seu Filho

morreu, mas, antes que ela pudesse sorrir vitoriosa, Ele

ressuscitou gloriosamente.

O poder da morte, ainda que grande, não era

suficiente para derrotar a Deus. Até ela foi vencida, sim,

foi completamente derrotada.

Acreditamos, muitas vezes, ser Deus injusto em

certas mortes, mas não atentamos que o único inocente a

79

morrer em toda história foi Seu Filho, um com Ele. Era

necessária sua morte, pois somente Ele poderia receber

em si toda a condenação de nosso pecado. Meu e seu. Só

Ele poderia receber a maldição destinada a nós. E só

pudemos receber o perdão porque Ele recebeu a maldição

(Gl.3:13-14). Sim, havia uma maldição, não destas

quebradas em estúpidas correntes e rituais místicos de

certas igrejas, mas a maldição da morte eterna, a

maldição que escravizou a humanidade e selou o destino

de todos. Ricos e pobres, homens e mulheres, famosos e

anônimos enfrentaremos a morte. Mas, o destino final

não é o túmulo.

John Stott, no livro A cruz de Cristo, já citado,

afirma que Deus não pode morrer, por isso fez-se carne,

fez-se homem para poder encarar a morte e vencê-la.

A pura verdade é que toda a injustiça humana

cobra o sangue, mas nenhum sangue seria puro suficiente

para pagar o preço se o próprio Deus não provesse o

Cordeiro para si, seu Filho. Só Ele é Justo e justificador

(Rm.3:26). Nada que eu faça, nenhum esforço humano de

santidade poderia dar-me vida, nem toda “bondade” e

caridade humana nos aproximam mais de Deus. Por isso,

80

era necessário o Homem/Deus receber em si o castigo

que nos traz a paz (Is.53:5).

Não tenham dúvida, O Filho morreu e foi por

você! Sim o Filho é Deus, e Ele morreu.

Por que precisamos saber disso? Porque

precisamos voltar ao Evangelho, à Bíblia, à Palavra de

Deus. Porque precisamos deixar de ser CRIANÇAS

evangélicas, porque precisamos levar a sério a CRUZ.

Porque precisamos ser cristãos, verdadeiros discípulos,

dispostos a morrer por aquele que morreu por nós. Para

que saibamos que já fomos extremamente abençoados

com toda sorte de bênçãos espirituais (Ef.1:3), para que

deixemos de correr atrás de bênçãos materiais, como se

fôssemos “meninos do buchão”. O Filho de Deus

morreu, não para formarmos guetos, não para criarmos

clubes sociais, não para subirmos em pedestais para

sermos tietados e louvados. Cristo morreu e é diante dEle

que devemos nos ajoelhar e adorar.

A Ele somente! Soli Deo gloria!

81

Numa sexta

Hoje está muito escuro, ontem, sorrateiramente a luz foi

Aprisionada, fagulhas espalharam-se por todos os lados,

Por um medo natural as ovelhas fugiram ao verem o

Pastor ferido. Brutalmente torturada a luz seguiu

Brilhando, mas, aquelas mãos que se levantaram em

Adoração e estenderam ramos, agora tapavam seus

olhos

Para não se ofuscarem com seu brilho, as vozes que

Bendiziam, agora, insufladas pelos invejosos pediam sua

Morte.

Um amigo próximo o seguia afastado

O poderoso governador fraquejava

O piedoso sinédrio odiava

O brilhante sol se apagava

A barulhenta turba se calava

Seu sagrado corpo sangrava

Seu coração amava

Seu pai se calava

O chão tremia

Túmulos se abriam

O véu se rasgava

A luz esmaecia

82

O dia findava

...

E o silêncio reinava...

...um grito rompeu o silêncio

A história está consumada!

83

A ARTE DA BUFOFAGIA*

"A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra

ríspida desperta a ira." (Provérbios 15:1 - NVI).

Geralmente, não respondemos bem aos insultos, diante

dos conflitos nossa reação natural, típica da natureza

adâmica, é uma reação de mesmo nível, altura e até

volume de voz. Um exemplo? Basta uma simples

pesquisa na internet para nos certificarmos disso, digite

apenas: "conflitos no trânsito". Outro dia o fiz, e a

quantidade de notícias no tema era exorbitante, brigas,

desentendimentos, prisões e, tristemente, até mortes

foram as consequências mais comuns a esses eventos

cotidianos. Parece-me que nós estamos cada vez mais

intolerantes. O mundo em que vivemos mais agitado,

mais elétrico, mais informatizado, não tem se tornado

melhor com todos os avanços tecnológicos, ao contrário,

tem aumentado a pressão, acirrado os ânimos, já não

contamos mais até dez, é perda de tempo, temos de

chegar logo! Onde? Quando? Não interessa, temos de

chegar! É o pensamento comum.

Provavelmente, o versículo acima é um dos mais

conhecidos do livro de Provérbios, entretanto, muito

pouco praticado. Acreditamos, geralmente, que temos

84

sempre de "lutar pelos nossos direitos", uma frase muito

usada, outra é: "Não sou de levar desaforo para casa".

Dificilmente estamos dispostos a baixar a guarda. Isso

pode muitas vezes trazer-nos transtornos, mas,

acreditamos que, se pisam em nosso calo devemos

revidar. Outra frase muito usada é: "Não gosto de briga,

mas, se tiver que entrar numa é para ganhar". Nos,

esquecemos que em uma guerra ambas as partes saem

perdendo.

Os conflitos sempre existirão, mas, é possível

evitar que o conflito transforme-se em uma batalha, há

um ditado muito antigo que diz: "Quando um não quer,

dois não brigam", mas, geralmente, não fazemos todos os

esforços suficientes para evitar as querelas. Não foi

apenas o sábio Salomão que deu tal conselho, o apóstolo

Paulo também nos orienta na mesma linha em Filipenses

4:5: "Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos.

Perto está o Senhor"(NVI). A expressão traduzida pela

NVI por amabilidade é na verdade um termo que

significa, agir com misericórdia mesmo quando se tem

todos os direitos a exigir. Em outras palavras, Paulo nos

ensina a abrir mão dos nossos direitos em muitas

ocasiões, tal qual o fez o maior de todos os exemplos

85

para nós, como ele descreve nesta mesma carta no

capítulo 2:5-8. Aquele que era sobre todos, Maior que

todos, fez-se servo. Tudo que Jesus fez foi para nos dar

sua graça e a vida eterna, mas, também deu-nos o maior

exemplo de humildade. Aquele que ensinou que os

humildes serão exaltados.

Talvez possa parecer que a minha defesa seja a de

que sejamos sempre conformistas ou reacionários, de

forma alguma, a Palavra de Deus nos ensina que o

verdadeiro amor deve lutar contra as injustiças (I Co.

13:6), por outro lado, também diz que o amor está

disposto a sofrer (I Co. 13:7). O que devemos aprender é

que em muitas ocasiões não necessitamos e nem

devemos lutar com unhas e dentes para termos sempre a

razão, pois, em muitas ocasiões podemos sair

"vencedores" em disputas ao preço de perdermos coisas

muito mais valiosas. Podemos chegar em casa e pensar,

hoje estou de alma lavada, quando na verdade podemos

ter ferido alguém, ganhar uma disputa e perder uma

amizade jamais compensará, mesmo que não seja uma

amizade íntima.

Exemplo de guerras inúteis são as redes sociais,

que têm se tornado palco de debates ferrenhos e

86

discussões acirradas, onde nem todos têm maturidade

para divergirem opiniões sem levar para o lado pessoal:

"Magoei, não quero mais você no rol de amigos!".

A arte da bufofagia é muito importante para

evitar-se quebras-de-braços inúteis, guerras infindas,

amizades desfeitas, feridas e rancores, como dizia a

música "Superman" (Fruto Sagrado): "Às vezes eu

machuco, às vezes me machuco, explodindo por fora,

explodindo por dentro, mas, eu tô aprendendo..."

Precisamos aprender sempre.

Obviamente, engolir sapos não é muito agradável,

mas, é uma prática, até uma arte compensadora e muito

benéfica, ao contrário do que muitos pensam, não é um

sinal de fraqueza, antes, é de muita força e sabedoria. A

princípio o bufófago pode parecer ter sido derrotado,

quando na verdade é um vitorioso, tal prática evita dores,

rancores, desamores, e, em casos extremos, como nas

brigas de trânsito pode ser a diferença entre a vida e a

morte.

*bufos= nome científico do sapo cururu, fagia=

alimentar-se de, engolir.

87

NUM SÁBADO

Hoje o dia não nasceu, a escuridão ainda é maior que

ontem, a Luz sob pedras aprisionada, por medo e

desânimo, incrédulas as ovelhas seguem escondidas,

"nosso Pastor se foi".

A Luz que esmaeceu, voltará a brilhar?

Aquelas mãos que curaram voltarão a se levantar?

As turbas voltaram para o seu cotidiano, os ramos

estendidos havia dias já se secaram, assim como o

sangue que escorreu pela via.

Os amigos choravam sua partida

O governador seguia lavando as mãos

O sinédrio reunido em seu dia sagrado celebrava a

vingança

O sol nasceu como antes

Seu sagrado corpo no sepulcro jazia

Seu coração seguia amando

Seu Pai esperava

O chão inerte

O túmulo fechado

O véu rasgado

A Luz escondida

O dia de celebração veio a tornar-se o dia de dor

88

Virá novo dia?

...

E o silêncio reinava...

...

...

89

UMA PARÁBOLA

O TREM

Havia uma multidão enorme, quase todos

aguardavam alguma resposta. Para onde iriam? O que

deveriam esperar? Que futuro lhes aguardava? Alguns

momentos são cruciais em nossas vidas, muitos são

decisivos. Alguns estavam angustiados, outros

esperançosos, e, ainda outros, completamente

indiferentes. De repente todos os olhos se dirigiram à

mesma direção ao ouvir o apito do trem.

Muito tempo antes uma locomotiva havia passado

por aquela estação e todos ali haviam ouvido as palavras

do Maquinista: "No tempo certo, o trem virá com vagões

para levá-los, mas é preciso estar preparado e em

condições de entrar nele. Nenhum de vocês tem a mínima

condição de comprar um bilhete, mas não se preocupem,

as passagens já foram pagas, meu filho pagou por elas.

Para aguardar o trem vocês deverão usar estas vestes

vermelhas que ele lhes oferece gratuitamente".

Uma parte daquela multidão nem deu ouvidos ao

maquinista, estes o ignoraram completamente, afirmavam

90

que suas palavras para nada serviam, eram tolas e

desnecessárias, era o grupo dos indiferentes, e

continuaram despidos, tentando proteger-se do frio com

farrapos rotos e sujos, feitos por eles mesmos. Os demais

receberam as roupas, logo após ouvirem do maquinista:

"Quando o trem chegar, todos deverão estar com estas

vestes, ninguém poderá usar outras vestes ou modificar

estas, pois isto é o mesmo que desprezá-las."

Dentre aqueles que deram ouvidos às palavras do

Maquinista, alguns vestiram logo as vestes que mudaram

do vermelho para uma outra cor luminosa, que

resplandecia amor e bons sentimentos, estes ficaram

muito felizes, pois estavam com elas bem protegidos do

frio, do calor, da chuva, dos ventos, da poeira e de tudo

que lhes pudesse enfermar, diziam alegremente aos

demais que as roupas eram lindas, muito confortáveis e

justas.

As demais vestes ficaram aguardando que os

outros as vestissem, e aos poucos todos foram vestindo as

suas. Contudo, alguns diziam que as roupas estavam

muito folgadas, eles não gostavam assim, queriam algo

mais apertado e eles mesmos tinham condições de

modificá-las, haviam esquecido, ou ignoraram

91

completamente as palavras do Maquinista. Ao modificar

as vestes, estes passaram a usar uma roupa estranha, de

uma cor árida, feia, que exalava ódio, rancor e outros

maus sentimentos. O primeiro grupo tentou dissuadi-los

de tal loucura. Em vão. O grupo que modificou as vestes

acreditava que não bastava receber gratuitamente as

roupas, era necessário fazer modificações importantes

nelas, até para torná-los merecedores da viagem.

Ainda um último grupo quis usar as vestes, mas

ao olhar para elas nos corpos do último grupo, julgaram

ser extremamente apertadas e de uma cor feia e triste. O

primeiro grupo que vestiu e sentiu-se feliz e confortável

dizia a eles: "Vocês estão enganados, as roupas são

confortáveis e perfeitas, o problema é que vocês só

olham para aqueles que as modificaram, as tornaram

áridas, apertadas e odiosas. Por que não experimentam

vestir as originais?"

Mas, não havia nada que lhes convencesse,

estavam determinados a rejeitar as vestes e ainda diziam

que tais roupas não lhes permitia viver a liberdade que

tanto sonharam, conquistaram e da qual jamais abririam

mão, afinal o Maquinista, era extremamente amoroso e

paciente, por isso iria entender sua decisão. Assim, este

92

outro grupo rejeitou as vestes e fez para si roupas

extremamente largas e coloridas. "Nada daquela

monocromática veste apertada que os tolos usam!"

O período entre a promessa do Maquinista e a

chegada do trem foi longo para muitos, para alguns,

como o primeiro grupo dos indiferentes, não, pois não

esperavam nada mesmo. Durante este período, o grupo

que aceitou e vestiu as vestes/passagens originais sempre

tentou comunicar aos demais a alegria de vesti-las, mas

os demais grupos não lhe davam crédito, alguns os

zombavam. Enquanto isso, os demais grupos, o das

vestes áridas e apertadas, o das vestes largas e coloridas e

os despidos se digladiavam em acusações: "Imorais!",

"Intolerantes!", "Lunáticos!".

Algumas batalhas produziram mortes, inimizades

e feridas eternas. Em meio ao caos, todos sofreram,

inclusive o grupo que vestiu as roupas originais, ainda

que buscasse a paz.

De repente todos os olhos se dirigiram à mesma

direção ao ouvir o apito do trem. Alguns sorriam, outros

arregalaram os olhos de preocupação, outros continuaram

indiferentes, pois a estação era seu mundo, era seu lar,

outros fizeram dele seu lar, pois apesar do pandemônio

93

que aquele local se transformara, para eles era a terra da

liberdade.

Quando o trem parou todos notaram que não

havia muitos vagões, não eram suficientes para todos,

mesmo excluindo-se os indiferentes que não

embarcariam ainda que lhes chamassem. Ao se abrirem

as portas os funcionários do trem convidaram para o

embarque: "Todos os que, atentaram para as palavras do

Maquinista e vestiram as suas vestes originais de amor e,

com amor e humildade receberam as vestes/passagens,

embarquem imediatamente!"

Ao final do embarque o trem ficou

completamente lotado. Os demais, que ainda sonhavam

embarcar, já desesperando, gritavam: "E nós?" O

condutor do trem então, colocou-se na porta principal e

disse: "Aqueles que modificaram as vestes por achá-las

muito largas, não poderão embarcar, não aceitaram o

presente maravilhoso que lhes foi concedido e tentaram

comprar as passagens com seu esforço, faltou-lhes amor

e humildade. Aqueles que rejeitaram as vestes por

pensarem ser elas apertadas e tristes, e amaram mais a

liberdade libertina que o maravilhoso presente que lhes

94

foi concedido com amor, também não poderão

embarcar!"

O trem apitou novamente e começou a andar,

alguém da multidão dos que ficaram gritou: "E nós?"

Ainda houve tempo de ouvirem a resposta: "Esta estação

será desativada muito em breve, por isso outro trem vem

logo atrás para levar a todos." "Então nos veremos em

breve?" Gritou alguém da estação dos rejeitados, ao que

uma voz respondeu do trem:

"NÃO, OS DOIS TRENS TÊM DESTINOS

DIFERENTES."

NUM DOMINGO

Hoje bilhões de estrelas, supernovas ou explosões de

trilhões de ogivas nucleares não seriam suficientes para

ofuscar o dia que nasceu, a escuridão se foi, mais rápido

que um relâmpago e sua Luz brilhou

extraordinariamente, a pedra rolou para que Maria

visse,

para que Pedro sorrisse, para Tomés acreditarem, as

ovelhas ainda escondidas, receberam-no Glorioso, as

leis

95

da física não mais o detinham, sonhavam? "nosso Pastor

voltou?"

A Luz que esmaeceu, voltou a brilhar!

Aquelas mãos que curaram voltaram a abençoar!

As turbas, em seu rígido cotidiano, ignorara, os ramos

não mais se estenderam.

Os amigos que choraram sua partida agora sorriam.

O governador seguia lavando as mãos.

E o sinédrio, em desespero, seguiu o governador, mas,

"molhando" as mãos dos soldados. Sua vingança não

poderia ter falhado. "seu corpo foi roubado".

Mentira atroz que ainda repercute. Mas, a Verdade não

se discute.

A morte morreu, quando seu sagrado corpo levantou-se.

Seu coração seguia amando

Seu Pai decretara

O túmulo aberto e vazio ficara

O véu rasgado

O acesso liberado

A Luz poderosamente brilhou

E novo dia Chegou!

... o silêncio foi quebrado, por miríades de vozes seu

nome foi exaltado!

96

BIBLIOGRAFIA

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática/ Louis Berkhof;

trad. por Odayr Olivetti. Campinas: Luz Para o Caminho,

1990.

Institutas da Religião Cristã, Livro II, Capítulo 8, seções

28-33.Disponível no site:

https://resistireconstruir.wordpress.com/oquartomandame

nto-joao-calvino.

HEDRIKSEN, William. Comentario al nuevo

testamento: Efesios. Grand Rapids-MI (EUA): Libros

Desafío, 1984

___________________ Comentario al nuevo

testamento: Filipenses. Grand Rapids-MI (EUA):

Libros Desafío, 2006.

STOTT, John. A cruz de Cristo. São Paulo: Editora Vida,

2006.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo :

Antigo Testamento : volume I, Pentateuco / Warren W.

Wiersbe ; traduzido