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  • 8/18/2019 Sujeito Suposto Suspeito

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    Do sujeito suposto suspeito às possibilidades de

    suposição de saber

    Mariana Aranha

    Andréa Máris Campos Guerra

    Emília Estivalet Broide

    Isa Gontijo

    “Explico ao senhor: o diao vi!e dentro do homem" os crespos dohomem # ou é o homem arruinado" ou o homem dos avessos$ %olto"

     por si" cidad&o" é 'ue n&o tem diao nenhum$ (enhum) # é o 'ue di!o$* senhor aprova+,

    -Guimar&es .osa" /0123

    Resumo: A partir da prática orientada pela psicanálise com jovens in4ratores" uscamos

    lan5ar um olhar so a modalidade de trans4er6ncia na 'ual o *utro está so suspeita$

    7artimos da hip8tese de 'ue" como resposta 9 mensa!em de desvaloria5&o do *utro" o

     jovem responde trans4erencialmente com uma dessuposi5&o de saer diri!ida ao técnico

    'ue o acompanha$ * sujeito suposto saer é sustituído pelo sujeito suposto suspeito"

    'ue se mani4esta 'uando n&o se está se!uro sore al!uém" 'uando há al!o de 'ue n&o se

    sae e" no entanto" se antecipa como mal e ne!ativo$ 7or n&o dispor de provas em

    rela5&o ao *utro" ori!a o olhar vi!ilante" mantendo o *utro na mira" justamente por 

    n&o se saer o 'ue esperar dele$ Incluir o real na cena analítica como causalidade

    traumática e nomear a experi6ncia do ato in4racional s&o a nossa aposta numa

    reorienta5&o 'ue" da trans4er6ncia ne!ativa" posa produir um eni!ma e arir a

     possiilidade da instala5&o da trans4er6ncia positiva$

    Palavras-chaves: trans4er6ncia" trans4er6ncia ne!ativa" sujeito suposto saer" suspeita"

    adolescente em con4lito com a lei$

    A partir da escuta das histéricas" ;reud cria um método de investi!a5&o e

     pes'uisa" 'ue implicará em uma terap6utica das neuroses$ As lemran5as e associa5

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    insi!ni4icantes e sem rela5&o entre si" v&o a partir da escuta 4reudiana" compondo uma

    narrativa 'ue promove o sur!imento de hip8teses com as 'uais se articulam os “crespos

    do homem”, como diia Guimar&es .osa  -/012" p$//3 = ou seja" trauma e 4antasia"

    constituindo uma clínica 'ue" emora sin!ular" condu ao universal$ >esa4io 9 teoria$

    ;reud nos apresenta como" no relato de cada caso clínico" a partir de uma

     particular inscri5&o" um acontecimento = al!o 4ortuito e casual = 4a trauma" marca o

    sujeito e desencadeia contin!encialmente um so4rimento" uma patolo!ia" Ele indica

    como as 4orma5

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    tamém as puls

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    constitui5&o do sentido" antes da investidura liidinal$ Em outras palavras" primeiro o

    analista está no lu!ar do *utro em sua 4un5&o de intérprete e" num se!undo tempo"

    ocupa posi5&o de ojeto causa do desejo$

    @acan" em “A dire5&o do tratamento e os princípios de seu poder, -/0N/00N" p$

    0H3" a4irma 'ue é na trans4er6ncia 'ue se deve uscar o se!redo da análise a4irmando

    'ue" no manejo da trans4er6ncia" a lierdade do analista encontra=se alienada pelo

    desdoramento 'ue so4re sua pessoa nos 4en?menos relativos 9 interpreta5&o" 9

    trans4er6ncia e 9 causa do desejo 'ue ele coloca em jo!o$

    Kuase de anos depois" ele -/012D3 isola" no conceito de sujeito suposto

    saer" a 4un5&o central do analista na trans4er6ncia$ Ele" ent&o" o de4ine como:

    eixo a partir do 'ual se articula tudo o 'ue acontece com a trans4er6ncia$ Cujos e4eitosescapam 'uando" para apreend6=los" 4a=se uma pin5a com desajeitado  pun  'ue vai danecessidade da repeti5&o a repeti5&o da necessidade$ A'ui o levitante da intersujetividademostrará sua 4inura ao inda!ar: sujeito suposto por 'uem" sen&o por outro sujeito$$$$ Jmsujeito n&o sup

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    Entretanto" na atualidade nos deparamos com pacientes 'ue n&o sup

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    1ª. cena: ni!a!e !e cumprimento !e me!i!a socioe!ucativa em meio

    aberto !a "ran!e S#o Paulo

    Essa experi6ncia ocorreu em um e'uipamento de medidas socioeducativas em

    meio aerto para adolescentes em con4lito com a lei em uma cidade da re!i&o

    metropolitana de %&o 7aulo$ (este e'uipamento" sur!e a prolematia5&o em rela5&o 9s

    chacinas de jovens ne!ros nas peri4erias de %&o 7aulo e a necessidade da e'uipe de

    4aer al!o 4rente ao 4en?meno" uma ve 'ue dois jovens atendidos pelo pro!rama

    haviam sido mortos$

    A partir da supervis&o clínico=institucional" a e'uipe decidiu reunir todos os

     jovens atendidos pelo pro!rama e seus 4amiliares" a 4im de criar um espa5o de 4ala sore

    o assassinato dos jovens" convidando inclusive os 4amiliares dos meninos assassinados$

    >urante o !rupo 4oi 4eito o relato das situa5

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     (a vers&o dos policiais" eles trocaram tiros com dois moto'ueiros 'ue há dias

    rondavam por uma mesma avenida 'uando" “sem 'uerer," um deles acertou e matou um

    dos adolescentes$ * outro adolescente 'ue estava com ele na moto 4oi reconduido a

    ;unda5&o CA%A" de onde era e!resso$ A m&e" o av? e o irm&o de dois anos do menino

    morto compareceram a reuni&o e" juntamente com as outras 4amílias e adolescentes

    atendidos pelos técnicos do e'uipamento da assist6ncia social" uscaram encontrar 

     palavras e contornar o silenciamento 4rente ao real da morte violenta de 'ue s&o

    testemunhas$

    A justi5a a'ui compreende a necessidade de nomear as situa5

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     por'ue" aos olhos da lei" sua vida n&o conta mais$ (esse sentido" a aproxima5&o dos

    adolescentes em con4lito com a lei" 'ue cumprem medidas socioeducativas em meio

    aerto nas peri4erias dos !randes centros uranos" com os prisioneiros de Guantánamo"

    estando entre duas mortes" ou seja" vivos" mas so constante amea5a e suspeita" 4a

     pensar a necessidade da passa!em da'uele 'ue é o portador de mem8rias -4amiliares"

    outros adolescentes" técnicos dos e'uipamentos3 9 posi5&o de testemunho" a 4im de 'ue

    os crimes possam ser reconhecidos como tal e" nessa medida" retirados da invisiilidade$

    Esse relato real" por mais 'ue pare5a uma 4ic5&o" retrata a condi5&o de

    interpreta5&o 'ue recee o jovem de peri4eria no cenário nacional$ Avancemos para

    entender como ele constitui sua respostaH$

    $ª. %ena: %entro Socioe!ucativo em &elo 'ori(onte

    W partir de convite 4eito por determinado Centro %ocioeducativo em Belo

    Lorionte" no 'ual adolescentes cumprem medida socioeducativa de priva5&o de

    lierdade" levamos a conversa5&o psicanalítica a al!uns adolescentes$

    @o!o de início" os jovens 'uestionam nossa presen5a" lan5ando um olhar de

    suspeita: XYoc6s vieram a'ui conversar com a !ente e depois 4aer onito na

    universidade" n&o é+, “(&o," nossa resposta sem vacila5&o" apontou para outro lu!ar 

    'ue n&o o de ojeto de des4rute de um *utro caprichoso" “viemos dar palavra ao

    so4rimento e a vida de voc6s$ >isseram=nos" a'ui na institui5&o" 'ue voc6s s&o muito

    reclam

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    se!uirem 9 risca o sistema para 4icarem imperceptíveis" seja se sumetendo 9 ordem"

    “4aendo 4axina," tendo 'ue ceder$ *ra numa posi5&o de humilhados" ora numa posi5&o

    de 'uem humilha$

    A interven5&o é simples e direta" como eles operam: “mais nada+ 'uais as outras

    estraté!ias 'ue possuem+, 'uando irrompe o inesperado so o manto da ironia:

    “Yoc6s est&o indo nos protestos1+ 7odiam levar a andeira do socioeducativo e de4ender 

    n8is),$ “*ra) Boa ideia) E onde está a andeira de voc6s a'ui+,$ “Mas a'ui dentro é

    di4erente lá de 4ora" lá a !ente se vira soinho" 4a o corre" resolve no tiro,$ “E a'ui+Z,

    A constru5&o" de cada um" vai sendo tecida no coletivo: levar o prolema na assemleia

    semanal" 4alar com a dire5&o" denunciar ao técnico" ir ao advo!ado" es4riar a cae5a"

    rear" tomar remédio$$$ E o ponto comum: há outras estraté!ias para lidar com os

    emara5os" dentro ou 4ora da institui5&o" 'ue n&o sejam as vias de 4ato" a humilha5&o" o

    cinismo" a intolerFncia$

     (um se!undo encontro" somos surpreendidas com um mal entendido em rela5&o

    ao horário$ “Mentiram pra !ente 4alando 'ue nosso encontro seria 9s cinco horas" e ele é

    9s 'uatro), “(a Pltima 'uarta" eu tinha curso" todo mundo sae" mas nin!uém veio me

     pe!ar no alojamento na hora) %acana!em da se!uran5a),$ (ossa interven5&o é imediata:

    [7eraí" 'uem 4alou 'ue est&o sacaneando voc6s+ Jma in4orma5&o errada sore horário é

    arma5&o+ Jm atraso dentro da institui5&o é sacana!em+ (&o será 'ue s&o voc6s 'ue

    est&o se acreditando sempre os injusti5ados+,$ A resposta" meta48rica" é de uma

    complexidade ímpar: “ima!ina 'ue um cara tá andando com uma lusa vermelha" no

    4ormato de um alvo" com a'uelas rodelas" no peito$ Oudo o 'ue acontecer com ele" ele

    vai achar 'ue é por'ue ele é o alvo" mesmo 'ue caia um tro5o de um prédio nele" ele vai

    achar 'ue é por'ue ele é alvo,$ A 'uest&o" por outro lado" é por'ue ele veste a camisa e

    'uem a pinta$$$

     (o terceiro e Pltimo dia da conversa5&o" os jovens" todos eles" disseram aoa!ente socioeducativo 'ue n&o iriam participar da conversa5&o$ Jma das psicanalistas

    orientou o a!ente a per!untar aos adolescentes se n&o poderiam" eles mesmos" nos dier 

    'ue n&o participariam$ *s adolescentes vieram e permaneceram durante toda a

    conversa5&o na sala$ *s corpos se a!itavam" 4alavam todos ao mesmo tempo sore a

    vida no crime e sore o dinheiro 4ácil 'ue !anhavam$ Entretanto" retorna a posi5&o de

     /rotestos re$erentes 0 ocupa&ão das ruas das principais capitais rasileiras

    em Jun,o de 21 em de$esa do passe livre e contra a 343A na Copa do

    5undo.

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    suspeita" o vetor de suposi5&o de saer invertido na trans4er6ncia$ Jm dos jovens" entre

    o desa4io e a ironia" nos per!unta se já lemos" tal 'ual ele já o 4iera" “* mal estar na

    civilia5&o," de ;reud e “Micro4ísica do poder," de ;oucault$ .eedita" so nova

    roupa!em" a suspeita 'uanto ao saer das psicanalistas$ Inverte os vetores e usca

    reduir ao n&o saer seu interlocutor$

    A nossa interven5&o 4oi de apontar 'ue o 'ue eles nos disseram" nem ;reud nem

    ;oucault explicam$ A4inal" como podem ter entrado no crime por necessidade e estarem

    todos duros e presos+ 7or 'ue n&o usam o 'ue saem a 4avor de voc6s" e n&o contra)+

    Oentamos" ao mesmo tempo" autenticar seu saer" mas colocá=lo a traalho em nova via$

    @emramo=nos de SieT -/3 'uando di 'ue as pessoas t6m a resposta" elas s8 n&o

    conhecem a per!unta para a resposta 'ue possuem$ Assim" no traalho com os jovens é

     preciso deslocar=se da posi5&o de resposta para o4erecer a 4ormula5&o da per!unta a 'ue

    os atos dos jovens visam responder" mesmo 'ue eles n&o o saiam$

    ) Sujeito Suposto Suspeito

    “Kuem sae direito o 'ue uma pessoa é+ Antes sendo: jul!amento ésempre de4eituoso" por'ue o 'ue a !ente jul!a é o passado$ Eh" 6$Mas" para o escriturado da vida" o jul!ar n&o se dispensa\ carece+ %8'ue uns peixes t6m 'ue nadam rio arria" da arra 9s caeceiras$ @ei é

    lei+ @oas) Kuem jul!a já morreu$ Yiver é muito peri!oso" mesmo,$  -Guimar&es .osa" /0123

    6ossa principal d*vida e7tra+da dessas e7peri8ncias e %ue trazemos

    para discussão radica9se na %uestão acerca de %ue tipo de la&o é esse no %ual

    é a suspeita e não a suposi&ão de saer %ue o alimenta: "rata9se de uma

    mudan&a estrutural ao contempor;neo ou uma contin8ncia da situa&ão de

    constranimento da lierdade na %ual esses #ovens acautelados pela #usti&a se

    encontram no seundo caso: Como não articular as palavras da mãe do

     #ovem assassinado do primeiro relato com a $ala do adolescente sore ser ele

    sempre o alvo no seundo:

    Buscando recursos para ler o %ue a+ se escreve voltamos a 3reud

    recuperado por 5iller no Seminário sobre Politica de La transferência  (1 (5iller 1

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    te7to $reudiano a indica&ão do conceito suposto saer de Lacan %uando 3reud

    destaca as condi&'es para o in+cio de uma an@lise. Em Sobre o início do

    tratamento (1 (5iller 1

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    inten5

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    ;IGJ.A / = Es'uema 8ptico -@ACA(" /01/=1/00" p$ DDH3$

     

    Através do recurso a uma experi6ncia usada em 8tica 4ísica" conhecida como a

    experi6ncia de Bouasse" 'ue é a demonstra5&o onde se 4a uso de um vaso -onde as4lores est&o colocadas 4ora dele no sentido inverso3 colocado 4rente a um espelho

    c?ncavo" produ=se a ilus&o de se ver o vaso com as 4lores dentro$ * olho" no modelo

    usado por @acan" é o símolo do %ujeito" e 'uer dier 'ue" na rela5&o do ima!inário com

    o real" tudo depende da situa5&o do %ujeito" posto 'ue esta situa5&o está essencialmente

    caracteriada por seu lu!ar no mundo sim8lico" 'ue é o mundo da palavra$

    %ituar a partir deste es'uema a 'uest&o a'ui traalhada é essencial para

    entendermos a trans4er6ncia ne!ativa$ * *utro a'ui" parece ser" desde sempre" um *utro

    hostil" 'ue aandona" 'ue vem de um n&o=cuidado$ %e tomamos esta mensa!em hostil

    'ue vem do *utro" no circuito de 4ala instaurado na conversa5&o" é esperada a suspeita e

    a hostilidade na rela5&o trans4erencial$ “(este traalho 'ue 4a de reconstruí=la a ora

    do seu ser  para um outro  o analista" ele o sujeito reencontra a aliena5&o

    4undamental 'ue o 4e construí=la como um outro" e 'ue sempre a destinou a lhe ser 

    4urtada por um outro, -@acan" /0D/00N" p$ /3$

     (o ponto em 'ue a mancha ou a 4alha do es'uema 8ptico mostra a

    impossiilidade da ima!em recorir toda a realidade" vemos a produ5&o da 4antasia 'ue

    modula a resposta do jovem$ %ore ela" cada jovem desenha uma ima!em de si"

    4orjando seu ser no campo da cultura$ daí 'ue provém" para tantos" a suspeita de 'ue

    n&o valem !rande coisa$ (ela apoiam seu ser e a!em" na reposta rápida e truculenta" de

    seus atos in4ratores$

    A suspeita" 'uase na 4orma da certea advinda de uma interpreta5&o antecipada"

    emer!e como resposta 9 mensa!em de desvaloria5&o do *utro$ >e maneira 'ue a

    interpreta5&o pode ter valor de dessuposi5&o # e n&o de suposi5&o # de saer no *utro$

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    Al!o como “voc6 n&o sae o 'ue di, -Miller" " p$ /3$ (ossa hip8tese"

    especialmente em rela5&o aos jovens com 'uem traalhamos" alocados socialmente

    como “em con4lito com a lei," é a de 'ue eles s&o como um atestado de veri4ica5&o da

    viol6ncia da cidade 'ue aparece como trauma" realidade n&o palpável" sem sentido" sem

    conten5&o" sem nome$

    Assim como" ao tempo de ;reud -/0/0/0213" os neur8ticos de !uerra

    atualiavam no corpo" so a 4orma de an!Pstia" o real da cena da !uerra" parece=nos 'ue

    os jovens" em situa5&o de !uerra urana" consentem em o4erecer seu corpo para

    sustentar uma verdade hist8rica" re4erida 9 realidade do discurso capitalista: a de 'ue s&o

    elimináveis$ Esses jovens parecem atualiar no corpo" so 4orma de ato" sua condi5&o de

    homo  sacer $ nesse ponto 'ue" 4ora do circuito sim8lico 'ue en!endra a transmissão

    de um lu!ar no mundo" experimentam  'uem s&o na virul6ncia da in4ra5&o$ (&o

    investidos narcisicamente da ima!em de “sua majestade" o e6, -;reud" /0/0/0213"

    tornam=se ojetos de !oo de uma sociedade" elimináveis$

    Refle*+es ,inconclusivas: o Sujeito Suposto Suspeito e a Psicanlise nos

    !ispositivos p/blicos

    A suspeita da 'ual os adolescentes s&o alvo" revereram" de 4orma especí4ica" no

    atendimento de orienta5&o psicanalítica proposto e" de 4orma ampla" na rela5&o 'ue eles

    estaelecem com o *utro %ocial$ (esse sentido" pensar a incid6ncia da trans4er6ncia

    nessa clínica e" especialmente" aordar a trans4er6ncia ne!ativa nos possiilita revisitar 

    a teoria 9 lu da práxis analítica" a 4im de 'ue" do sujeito suposto suspeito" possa advir 

    uma suposi5&o de saer 'ue o tire" o sa'ue" das in4indáveis repeti5

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    eles pr8prios sore seus atos" lhes é imputado “um olhar vi!ilante,$ %ua resposta" no

    eixo ima!inário" reprodu a vi!ilFncia e a viol6ncia$

     (essa medida" é 4undamental colocar em 'uest&o a 4orma pela 'ual os

     psicanalistas" inseridos nas políticas pPlicas e nas universidades" traalham na aten5&o

    9s demandas existentes nesses contextos$ Colocar em 'uest&o si!ni4ica estar atento 9

     particular rela5&o trans4erencial 'ue se estaelece com a'uele 'ue é o destinatário do

    atendimento e como tal rela5&o incide na o4erta de escuta$ (esse sentido é 'ue

     pensamos um desliamento possível: do sujeito suposto suspeito às possibilidades de

     suposição de saber em um outro que reconhece que o sujeito não passa incólume à

    incidência do laço discursivo sobre o/no sujeito.

    Jma anedota" em conhecida e re4erida por SieT" nos auxilia a pensar o

    impacto da incid6ncia do discurso social comum no corpo e na vida destes adolescentes

    e o lu!ar a partir do 'ual uma interven5&o psicanalítica pode produir e4eitos

    interessantes$

    “um o4icial alem&o visitou 7icasso em seu estudio em 7aris durante a %e!unda GuerraMundial$ Chocado com o “caos, van!uardista da Guernica" per!untou a 7icasso: “;oi voc6'ue 4e isso,+,$ Ao 'ue 7icasso replicou" calmamente: “(&o" isso 4oi 4eito por voc6s),$-SieT" /H" p$ H3

    A anedota" vetor interpretativo de enuncia5&o em sua dupla 4ace de piada e

    denPncia" nos convoca a pensar a tor5&o aí operada$ A resposta de 7icasso 4rente 9

    inda!a5&o do o4icial diante do horror 'ue a Guernica lhe suscitou" 4e retornar o horror 

    ao executor dos atos retratados e n&o 9 ora$ Oal é a 4un5&o do psicanalista nos contextos

    'ue s&o ojeto de nosso estudo e re4lex&o neste arti!o$

    Jm delito ou um crime n&o podem servir como justi4icativa para outro$ Essa

    l8!ica poderia induir a uma peri!osa coer6ncia" como mostra t&o em a concep5&o de

     analidade do mal" presente na ora de Lannah Arendt -/0003" a respeito do jul!amento

    de Eichmann em Qerusalém$ (esse livro" a autora lan5a m&o da tese de 'ue os carrascosnaistas n&o eram particularmente maus" tinham plena consci6ncia do 'ue estavam

    4aendo" impunham so4rimento e dor 9s suas vítimas" mas eram capaes de

    desresponsailia5&o" n&o mani4estando so4rimento diante das atrocidades cometidas$

    Ao se colocarem como ons servidores hierár'uicos" tendo a tare4a de eliminar 

    vidas alheias" tocou=lhes o traalho sujo 'ue deveria ser 4eito e o 4aiam com esmero e

    dedica5&o$ A mesma l8!ica parece operar hoje" tanto nas mortes de jovens pores e

    ne!ros moradores das peri4erias dos !randes centros uranos" 'uanto nos4undamentalismos reli!iosos$

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    ;rente a essas situa5e um lado" n&o saerá

    nada" identi4icado 9 dessuposi5&o de saer do jovem" de outro" acreditar=se=á detentor 

    do saer sore o melhor modelo a ser se!uido" 4aendo=se ele pr8prio de ideal a ser 

    se!uido$

     (ossa aposta psicanalítica é sempre no deslocamento dos sentidos" 'ue

    evidencia a aus6ncia de um sentido Pltimo" uma palavra Pltima a ser dada$ Ao contrário"

    acreditamos 'ue" ao darmos lu!ar ao real traumático em jo!o no processo civiliat8rio"

    a cada situa5&o em 'ue vivenciamos a viol6ncia" a in4ra5&o ou a ruptura do pacto

    civiliat8rio" arimos a condi5&o para 'ue um novo nome seja 4orjado sore a

    experi6ncia e uma via seja aerta pelo desejo$ Assim" consentir com a experi6ncia

    traumática implica em introduir" no saer=4aer do jovem" o “], 'ue" na lín!ua

    4rancesa" indica o real do !oo -Guerra" /3$ Savoir!"aire" podendo a'ui ser 

    apreendido como saer 4aer com o isso 'ue resta sem si!ni4ica5&o nas experi6ncias

     analiadas de exist6ncias t&o caras$

    Introduir o real na cena analítica" n&o implica !oar do jovem com seu ato" mas

    realocar a causalidade da verdade" deslocando=a de sua apar6ncia sujetivada no ato$

    .eduida a 4loresc6ncia ima!inária e constituído um nome para cernir o real" o 'ue

    4aer com o “isso, 'ue resta é a aposta analítica na passa!em de uma rela5&o de

    suspeita ou de dessuposi5&o de saer para a 4ormula5&o de uma nova per!unta 'ue"

     possa" em sua ori!inalidade" indicar um caminho$

    Referências &iblio"rficas

    Alonso" A -/3$ @a positiva trans4er6ncia ne!ativa$ Oexto apresentado na #ornada de

    Salud $ental or!aniadas pelo Servicio de %sicopatolo&'a (el )ospital *lvare+$

    Buenos Aires$ Mimeo$

    Anastácio" E$ -/3$ Bauman e .anci^re: notas para um deate preciso$  n Guerra" A$

    M$ C$" Cunha" C$ ;$\ %ilva" .$ %$ -or!$3 -iolência, território, "am'lia e adolescência

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    contribuiçes para a %ol'tica de 0ssistência Social $ Belo Lorionte: %criptum" /" p$

    N2=01$

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  • 8/18/2019 Sujeito Suposto Suspeito

    18/18

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    Sahar$

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