Subsídios para entender o Islam

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Coletânea de artigos e entrevistas para ajudar o leitor a entender melhor o Islam e seu verdadeiro objetivo.

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Habituados a raciocinar em termos de poderes estatais, militares, econômicos e burocráticos, os estrategistas do Ocidente perdem frequentemente de vista a unidade profunda do projeto islâmico ao longo do tempo, nublada, a seus olhos, por divergências momentâneas de interesses nacionais que, para eles, constituem a única realidade efetiva. E nisso refiro-me aos estrategistas das grandes potências, não a seus macaqueadores de segunda mão que hoje constituem a "zé-lite" da diplomacia luliana. Estes não têm sequer a noção de que exista, para além dos lances do momento, um projeto islâmico de longo prazo...

Olavo de Carvalho

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CAPIÍTULO 1 Por Heitor de Paula

O texto em epígrafe foi extraído do artigo “Diplomacia de Sonâmbulos” onde Olavo aponta para um nível muito mais profundo de discussão:

'Pergunto-me se alguém, no nosso governo, tem alguma compreensão do pano-de-fundo religioso, místico e esotérico das manobras do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad. A resposta é evidentemente "Não". Para nossos diplomatas - e de resto, para a diplomacia ocidental como um todo - a religião não passa de 'um adorno - ou disfarce publicitário'.

Um dos efeitos culturais mais devastadores dos escritos de Marx foi marcar indelevelmente a historiografia ocidental com a fácil, mas frágil fórmula mágica do 'interesse econômico' para tudo explicar sobre as relações entre as nações e os grupos humanos. A política, como consequência das decisões 'imperialistas', assume o segundo lugar. Raymond Aron ([1]) faz uma profunda crítica e estuda várias outras causas para as guerras. Nem mesmo os comunistas acreditam mais nas sandices do 'materialismo histórico'. Mas a burritzia ocidental continua apregoando os fatores econômicos e políticos, principalmente numa região como o Oriente Médio, um deserto descansando sobre um mar de petróleo.

Mas não é assim que pensam os habitantes da região, como diz Olavo:

'O único lugar do planeta ([2]) onde a consciência do poder da religião como força modeladora da História está viva não só entre os intelectuais como até entre a população em geral, é o Islam. Por isso é que milhões e milhões de muçulmanos têm um senso de participação consciente em planos estratégicos de longuíssima escala - em escala de séculos - para a instauração

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do Império Islâmico Mundial. ' (As maiúsculas são minhas. Ver razão para isto na secção Ummah adiante).

Ibn Khaldûn, ([3]) em sua obra Kitâb al-Ibar.Al Muqaddimah - An Introduction to History (Princeton University Press, 2005), estudou na história do Islam a autoridade real e as dinastias e depois de analisar vários autores que o antecederam, assim se expressa:

'Chegamos ao conhecimento destas coisas com a ajuda de Deus e sem instruções de Aristóteles ou os ensinamentos dos Môbedân ([4]). (...). Nós, de outro lado, fomos inspirados por Deus' ([5]). Num dos estudos sobre as dinastias e a autoridade real, diz: 'Dinastias de grande poder e autoridade real absoluta têm suas origens na religião baseada no respeito às profecias ou numa propaganda verídica. A autoridade resulta da superioridade e esta do sentimento de grupo. Somente com a ajuda de Deus em estabelecer Sua religião é que os desejos individuais se aproximam (...) e seus corações se unem. O segredo é que, quando os corações sucumbem aos falsos desejos e se inclinam para o mundo, surgem grandes diferenças e ciúme mútuo. Quando eles se voltam para a verdade e rejeitam o mundo e tudo que seja falso e se dirigem a Deus, eles se tornam num só em sua visão de mundo. Desaparece o ciúme. A mútua cooperação e apoio florescem. Como resultado, o Estado se amplia e a dinastia cresce...' ([6]). (P. 125-6, negritos meus)

E entramos assim no âmago da visão de mundo do Islam e, consequentemente, na base de sua diplomacia totalmente desconhecida por seus pares ocidentais. Os últimos podem ter estudado a fundo os grandes tratadistas do Ocidente, mas este conhecimento não lhes serve para grande coisa. Pelo contrário, ao projetarem esses conhecimentos sobre o Islam ficam impedidos de conhecer como seus líderes pensam e veem o mundo. A primeira dificuldade é derivada de um falso conceito geográfico, com graves consequências geopolíticas: como o Islam é aparentemente dividido em vários 'países' - assim como o Ocidente - não se dão conta de que por trás

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desta aparência existe aquela unidade de visão de mundo apontada por ibn Khaldun. Mesmo sabendo que as divisões territoriais do Oriente Médio foram traçadas arbitrariamente em Londres e Paris, ainda as enxergam como unidades nacionais zelosas de seu território e são incapazes de entender como são facilmente manobrados por falsas divisões através das quais os dirigentes os exploram para obter vantagens para o Islam. Iraque, Síria e Jordânia não são nações do mesmo sentido, extensão e profundidade que Estados Unidos, França e Alemanha. Entre os primeiros há duas séries de unidades: étnica - são todos árabes - e, mais forte ainda, religiosa - o Islam é a única religião. Constituem, portanto, uma única grande Nação Islâmica da qual as divisões geopolíticas podem ser chamadas com alguma licença de linguagem, de províncias. Pode-se dizer o mesmo, com algumas restrições, dos países islâmicos não-árabes, Irã, Turquia, Paquistão, Afeganistão, Indonésia, Argélia, Egito, Tunísia e demais países africanos que professam o Islam.

Outra divergência através da qual os ocidentais apostam poder dividir o Islam são as diferenças - e em alguns momentos guerra declarada - entre sunitas e xi'itas. No entanto, quem acompanhou a invasão do Iraque por tropas ocidentais pôde observar que os últimos, há anos submetidos à cruel ditadura sunita de Saddam Hussein da qual foram libertados pelos invasores, também praticam terrorismo contra as tropas aliadas ([7]). Leve-se também em consideração a recente ação da Turquia sunita a favor de Teerã, na qual o Brasil entrou a reboque. Certamente a Turquia tem seus próprios interesses: mostrar ao mundo islâmico uma alternativa sunita à liderança xi'ita iraniana. Que disputem a liderança não indica uma divisão frente aos inimigos infiéis.

É ainda ibn Khaldun quem mostra a real e efetiva função da religião entre os homens:

'(...) o propósito dos seres humanos não se limita ao bem estar no mundo. O mundo inteiro é insignificante e fútil. Termina na morte e aniquilação. O propósito (dos seres humanos) é sua religião, que os leva à felicidade no

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outro mundo. Portanto as leis religiosas têm como propósito indicar o curso a seguir em seu relacionamento com Deus e seus semelhantes. Isto também se aplica à autoridade real (...) (As leis religiosas) guiam-na pelo caminho da religião, de tal modo que tudo estará submetido às leis religiosas. (...) Tudo que é feito (pela autoridade real) motivado por razões políticas sem supervisão da lei religiosa é repreensível porque sua visão não segue a luz divina. (...) Portanto, é necessário guiar as massas de acordo com as leis religiosas em todas suas tarefas, tanto neste mundo como no outro. ' (p. 154-5, negritos meus).

Acredito que os últimos ocidentais que entenderam realmente o Islam foram os Cruzados. Isto porque também possuíam uma visão de mundo religiosa e unitária: o Cristianismo. Apesar das rivalidades intra-européias - que não eram poucas - os exércitos Cruzados eram forças cristãs, sob a benção e o comando Papal, imbuídas de uma visão unitária de mundo e, portanto, podendo compreender melhor seus adversários. Lutavam para libertar, salvar e manter em mãos Cristãs o Santo Sepulcro, restituindo o direito dos fiéis à peregrinação. Qual o interesse econômico de Jerusalém? O que existe lá para ser sagrada para as três religiões monoteístas? Será coincidência que é o lugar do Templo dos Judeus, local da pregação, morte e crucificação de Jesus Cristo e onde se considera que estava Masjid Al Aqsa (a mesquita mais longínqua) de onde Maomé subiu aos céus (isra e mi'râj)? Ou há algo que transcende nossa compreensão? Transcendência esta perdida pela visão ocidental, mas não pelo Islam!

A unidade islâmica A unidade islâmica se expressa através do Corão (al Qu'rān), da universalidade da shari'a, a Lei Islâmica baseada no próprio e nos haddithim, nos conceitos de ummah e jihad e nas táticas e estratégias denominadas hudna e taqiyya. D eve-se também levar em consideração as tariqas,

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comunidades esotéricas de crentes sufis centradas na autoridade de um sheik (velho, sábio) e que não conhecem fronteiras. Estes e outros conceitos serão estudados adiante.

A unidade perfeita entre política, religião e legislação pode ser resumida nas palavras do Mufti Al-Tayyeb, Presidente da Universidade Al Azhar:

"A civilização Ocidental é diferente da Oriental primeiramente por sua atitude em relação à religião, que é de inspiração divina. Para nós, no Oriente, a religião é sagrada e é o ápice da honra. No Ocidente - como eu vi quando passei uns tempos na França - a sociedade não está interessada na religião. Mesmo que haja pessoas religiosas, é uma sociedade que não se posiciona em relação à religião, é uma sociedade secular. (...) Se o homem ocidental deseja satisfazer seus desejos e lascívia ele não tem nenhuma restrição religiosa, seja em sexo, comida ou bebida. Já nós do Oriente estamos restritos pela religião em todas as formas de comportamento. (...) O homossexualismo é expressamente proibido (...) assim como as artes que degradam o ser humano, como o cinema e o teatro. (...) Respeitamos os costumes ocidentais nos seus territórios, mas nos nossos Países não aceitamos que os ocidentais disseminem idéias contrárias à religião, em nome de direitos humanos".

Os textos sagrados do Islam Corão (al Qu'rān )

O livro que os diplomatas ocidentais deveriam ler e estudar profundamente. O al Qu'rān (recitação ou narrativa) é constituído de 114 suras, divididas em 6.236 ayat ou versículos. É considerada a palavra de Allah revelada ao Profeta Maomé durante o período de 22 anos, diretamente em Árabe e, rigorosamente falando, não pode ser traduzido para usos religiosos em

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nenhuma outra língua, sendo toda tradução considerada, pelos mais ortodoxos, uma blasfêmia e uma degradação da palavra direta e intraduzível de Allah.

Ultimamente têm sido relutantemente aceitas as traduções para o turco e para o farsi - idioma falado no Irã. O tema exaustivamente repetido e elaborado no texto é a completa submissão à vontade de Allah, que é um só e o único Deus. Engloba não apenas mandamentos religiosos, mas é uma legislação completa - constitucional, penal, civil e militar - não deixando nenhum lugar para a administração laica de qualquer aspecto da vida dos fiéis. É a vontade final e literal da palavra de Allah preservada exatamente desta maneira no Céu, para toda a Eternidade.

É a verdade e a única verdade, não se admitindo dissidências ou divergências, todas consideradas blasfêmias contra a vontade e a palavra de Allah, tal como transmitida ao Profeta. Com exceção dos xi'itas, não há clero e pode-se considerar que cada fiel faz parte do clero. O controle é exercido pela teia de relações sociais que se entremeia na vida de todos, espionando, criticando, exigindo a fé (iman) na verdade da palavra de Allah e a prática correta dos ensinamentos. Nada, nada mesmo, escapa aos mandamentos - toda a vida está regulamentada nos mínimos aspectos. O que não consta no Corão, está nos Hadithim. Mammudah Abdalati ([8]) refere que desde os primeiros profetas, Abraão, Moisés e Jesus, a verdadeira religião é o Islam. Esta frase fica incompreensível sem a tradução da palavra islam. Para entender melhor deveríamos traduzir literalmente as palavras árabes. Se, ao invés de dizermos 'o Islam é a única religião verdadeira', fizermos a tradução, ficará: a submissão (a Deus) é a única verdadeira religião. E a afirmativa de Abdalati assume uma nova compreensão, pois a única submissão deve incluir o reconhecimento de Maomé como Único Mensageiro de Allah.

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Sunnah e Haddhithim Sunnah significa 'caminho trilhado', a coleção das tradições do Profeta, sua interpretação de algumas passagens de sua vida e testemunhos sobre os seus atos. É a segunda fonte da Lei Islâmica. Por ser mensageiro de Allah todos os seus atos e palavras devem ser seguidos literalmente, pois são considerados também a vontade de Allah. Um registro validado deste caminho constitui um Haddith. Cada Haddith encerr a um ensinamento exemplar. Geralmente são relatos feitos pelos sahāba, os que conviveram com o Profeta. Existem vários tipos de haddith (corretos, bons, fracos ou falsos), os principais sendo os Haddith Qudsi(sagrados), as palavras de Allah repetidas por Maomé e guardadas por uma isnad, cadeia de transmissores com autenticidade comprovada (quando esta cadeia é citada o conteúdo textual chama-se matn). De acordo com as-Sayyid ash-Sharif al-Jurjani, os Haddith Qudsi diferem do Corão porque foram revelados em sonhos ou revelação direta e são expressados através das palavras de Maomé, enquanto no Corão é a palavra direta de Allah. A grande maioria dos crentes considera os haddhithim fontes essenciais para esclarecimento do Corão.

As bases corânicas para que os atos e palavras do Profeta sejam seguidos são, entre outras:

3:132

'Obedeçam a Allah e a seu Mensageiro e contarão com minha misericórdia'

59:7

'... Aceitai, pois, o que vos der o mensageiro, e abstende-vos de tudo quanto ele vos proíba'

4:80

'.... Quem obedecer ao Mensageiro obedecerá a Allah'

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Notas:

[1] Paz e Guerra entre as Nações (Ed. UnB)

[2] Talvez Olavo exagere aqui, pois os hinduístas também vêem a política como conseqüência de fatores religiosos. Os livros sagrados Rig Veda, Upanishads, Mahābhārata, Ramáyana, Bhagavad Gita, norteiam a totalidade da vida, inclusive a política e a diplomacia. Dos mais antigos, os quatro Vedas, o Rig Veda (entre 1700 e 1100 a.C.) é o que estabeleceu o sistema das quatro castas (os sem castas, intocáveis, achutas ou Dalits, surgiram depois), determinando todo o sistema social e político posterior. Nas guerras intestinas entre hinduístas e muçulmanos na Índia, os dois lados sabem muito bem que se trata de guerra entre crenças. A importância do xintoísmo no nacionalismo japonês e na crença na divindade do Imperador (considerado descendente direto da deusa do Sol, Amaterasu) deve também ser mencionado, embora no período de máximo nacionalismo, a era Meiji tenha havido uma 'laicização' do Xintoísmo, transformado em xintoísmo de Estado. No entanto, estas religiões não têm um plano estratégico de domínio mundial como o Islam.

[3] As citações de Abd-ar-Rahmân Abû Zaid bin Muhammad bin Al-Hasan bin Jabir ibn Khaldûn al-Hadramî (1332-1406) serve a dois propósitos: dar o crédito a este grande historiador tunisino de antiga família iemenita e prestar homenagem a Olavo de Carvalho através de quem conheci este autor. Há alguns anos Olavo fundou o Centro de Estudos Ibn Khaldun que teve efêmera duração, porém altamente gratificante para os que dele participaram. Foi certamente a melhor experiência intelectual de que já participei.

[4] Sacerdotes zoroastrianos, singular: môbhed.

[5] Isto não significa nenhum desprezo para com Aristóteles - a quem muito respeitava - ou outros predecessores.

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[6] Deve-se notar que o conhecimento destes assuntos por parte de ibn Khaldun não era apenas derivado de estudos teóricos, mas da experiência prática: viveu em Al Andaluz e viajou muitas vezes por todo o norte da África e Oriente Médio. A pedido do Sultão Faraj, do Egito, encontrou-se com Tamerlão (Timur), o grande conquistador turco, com quem debateu em Damasco durante 35 dias. O império de Tamerlão abrangia a Ásia Central, os atuais territórios do Paquistão e Afeganistão, Pérsia, Mesopotâmia e parte do Cáucaso. É raro um historiador com a experiência prática de ibn Khaldun.

[7] Segundo o Aiatolá Murtaza Mutahhari, 'All Muslims worship the One Almighty and believe in the Prophethood of the Holy Prophet (s). The Qur'an is the Book of all Muslims and Ka'abah is their "qiblah" (direction of prayer). They go to "hajj" pilgrimage with each other and perform the "hajj" rites and rituals like one another. They say the daily prayers and fast like each other. They establish families and engage in transactions like one another. They have similar ways of bringing up their children and burying their dead. Apart from minor affairs, they share similarities in all the aforementioned cases. Muslims also share one kind of world view, one common culture, and one grand, glorious, and long-standing civilization'. Ler o comentário completo aqui.

[8] Islam in Focus, American Trust Publications, sob os auspícios da Shari'ah Courts and Islamic Affairs, State of Qatar

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CAPIÍTULO 2

A visão islâmica do mundo

Ummah

Ummah é a palavra árabe que significa comunidade ou nação, comumente usada no contexto islâmico para indicar a 'comunidade dos crentes': ummat al-mu'minin, todo o mundo muçulmano incluindo a diáspora. O Corão usa Ummah Wahida para se referir ao mundo islâmico unificado.

A Sura 3:110 diz:

'Vocês (os crentes) constituem a melhor nação criada para (o benefício do) o homem, vocês impõem o certo e proíbem o errado e acreditam em Allah; e se os seguidores do Livro ([i]) tivessem (também) acreditado teria sido melhor para eles; entre eles (alguns) são crentes, mas a maioria são transgressores'.

Ummah, no entanto é frequentemente usada para o mundo inteiro já prevendo o futuro Império Islâmico Mundial ou Grande Califado (khallifah: representante do Profeta, soberano temporal e espiritual dos muçulmanos). É de suma importância para entender a diplomacia islâmica para a qual, diferentemente do Ocidente, as divisões do mundo não são vistas pelos dirigentes, e mesmo pelos crentes comuns, como regiões geográficas, mas sim regiões a conquistar para o Islam e que se por ora não fazem parte da Ummah, ainda o farão. Estas divisões não constam do Corão nem dos haddithim, foram introduzidas por sábios muçulmanos com base nestes documentos. Note-se que as regiões são divididas em termos de religião e não são baseadas em divisões políticas ou geográficas. A primeira divisão foi

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proposta pelo Grande Iman Abū Ḥanīfa (699-767), fundador da Escola Hanafi de Jurisprudência (sunita).

Regiões do mundo segundo o Islam

Dar AL-Islam

(Casa ([ii]) do Islam.) São as que obedecem às leis corânicas e nas quais a religião pode ser praticada livremente. Dois requisitos são fundamentais: os fiéis devem gozar de paz e segurança em seus domínios e ter fronteiras comuns com outros países islâmicos. Também chamada de Dar AL-Salam, casa da paz (Corão 10:25).

Dar AL-Harb

(Terra da Guerra ou Dar AL-Garb, Terra do Ocidente) Onde a lei islâmica não é obrigatória, mas respeitada, junto com as demais religiões. Regiões a conquistar através da jihad (ver adiante).

Dar AL-Kufr

(Casa ou Domínios dos infiéis). Primeiramente usado por Maomé para se referir à comunidade Coraixita de Meca até seu retorno triunfal de Medina e reconquista. Geralmente são territórios visados para dominação, também chamados Dar AL-Harb (acima) e seus habitantes harbs.

Nas relações internacionais ainda são consideradas quatro outras divisões:

Dar AL-Hudna

(Domínio da trégua temporária) Terra de infiéis (harbs) com os quais o Islam estabeleceu um armistício mediante pagamento de um tributo. (Para melhor entendimento de Hudna ver item específico adiante).

Dar AL-'Ahd

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(Terra da trégua ou armistício) Países com os quais existe algum acordo ou armistício não dependente de tributos.

Dar AL-Dawa

(Casa dos convidados) Regiões nas quais o Islam foi introduzido recentemente, - onde o Islam não domina e os muçulmanos são minoria, mas são bem recebidos. Também define o status dos muçulmanos no Ocidente.

Dar AL-Amn

(Casa segura) Define o status dos muçulmanos em algumas regiões do Ocidente ou outros países não-islâmicos. Por exemplo, do Oriente.

Nunca é demais enfatizar que, enquanto os diplomatas ocidentais se orientam por 'poderes estatais, militares, econômicos e burocráticos', os muçulmanos regulam suas discussões pela 'unidade profunda do projeto islâmico', dominada pela idéia religiosa. Sentem-se mensageiros de Allah, e não políticos, estes últimos irrelevantes no projeto de longo prazo, e sentem-se protegidos e autorizados a utilizar todos os estratagemas em nome de Allah, como reza na Sura

40:51: 'Certamente protegeremos Nossos mensageiros e àqueles que crêem na vida deste mundo e no dia em que as testemunhas se levantarão'.

A visão islâmica de mundo é claramente expansionista. Enquanto os tratados negociados entre os países ocidentais entre si ou com o Islam são respeitados pelos primeiros como válidos em si mesmos, os negociadores islâmicos visam respeitá-los apenas como exigências temporárias. Sendo sua visão muito mais abrangente e caracterizada por uma crença missionária expansionista - isto é, a conquista do mundo todo para a submissão (islam) - não há pressa e nem sacrifício inaceitável, inclusive a própria vida. Segundo o Sheikh Yousef al-Qaradawi ([iii]), mujtahid (prestigiado estudioso de teologia islâmica) e líder espiritual da Irmandade Muçulmana, as divisões acima também

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orientam os fiéis a como se conduzir com relação aos não-muçulmanos em cada uma delas. Veremos a seguir a primeira.

O Conceito de dhimmi Dhimmi ('protegido') é o status de minorias não-islâmicas vivendo na Ummah (Dar AL-Islam), submetidas à shari'a e pagando impostos elevados. Originalmente foi usado para os Povos do Livro (Judeus e Cristãos) conquistados. Um precedente clássico foi o acordo feito entre Maomé e os Judeus de Khaybar, um oásis perto de Medina. Quando eles se renderam, depois de prolongado cerco, o Profeta permitiu que eles permanecessem desde que pagassem como tributo a metade de sua produção anual. A justificativa corânica está em:

9:29: 'Combatam aqueles que não acreditam em Allah, nem no Dia do Juízo, nem proíbem o que Allah e seu Mensageiro proibiram, nem seguem a religião da verdade, mesmo que eles sejam Povos do Livro, até que eles paguem a Jizya (imposto por cabeça) em reconhecimento da superioridade (do Islam), e se submetam'.

A Constituição de Medina, um acordo formalizado entre Maomé e as tribos e famílias de Medina declarava que os dhimmi vivendo na Ummah tinham os seguintes direitos e deveres:

1- Direito à proteção de Allah;

2 - Direitos políticos e culturais iguais, autonomia e liberdade religiosa;

3 - Dever de tomar em armas para combater os inimigos da Ummah e dividir os custos da guerra;

4 - Dever de entrar nas guerras religiosas dos muçulmanos;

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Com a evolução das noções jurídicas estes direitos foram se restringindo e os deveres aumentando. Diversas matanças de dhimmi foram perpetradas, principalmente no Al Andaluz. Quanto à religião, no entanto, apenas o Islam é a verdadeira aos olhos de Deus e Ele não aceitará nenhuma outra, pois:

3:85: 'Se alguém deseja uma religião que não seja a submissão (Islam) a Allah, Ele nunca a aceitará e para o futuro (esta pessoa) perderá todas as benesses espirituais'

Portanto, o Islam não permite a construção de igrejas ou templos que não sejam dedicados à submissão a Allah, pois como poderiam aceitar se estas religiões estão, por princípio, erradas? A condição de dhimmi não impede que as autoridades religiosas façam o possível para convertê-los à submissão, pois:

8:38: "Digam àqueles descrentes que, se eles desistirem, o que foi de seu passado será perdoado"

8:39: "Lutem contra eles até que não haja mais perseguição e a submissão a Allah for a única religião se eles desistirem, certamente Allah estará vendo".

A situação dos dhimmi e sua obrigatória submissão à shari'a no que toca aos aspectos principais da vida, inclusive as dificuldades de culto de suas próprias religiões, embora teoricamente livres, exige um exame anterior da shari'a. A situação dos infiéis vivendo nas outras regiões será estudada da seção posterior dedicada à jihad.

Shari'a Shari'a pode ser traduzida por caminho ou senda. É a lei, derivada do Corão e da Sunnah, acrescentada de precedentes das práticas de reconhecidos Ulemás, doutores em lei canônica e teologia, que comanda todos os aspectos

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da vida dos muçulmanos: a rotina diária, as obrigações religiosas e familiares (incluindo conjugais), acordos financeiros e diplomáticos etc. Por esta razão, os diplomatas ocidentais designados para discutir com países islâmicos, deveriam esquecer todas as regras, costumes e noções políticas que estudaram e se aprofundar no estudo da shari'a.

Deve-se salientar que as 'práticas de reconhecidos Ulemás' parece, mas não tem nenhuma relação com o que chamamos no Ocidente de jurisprudência, pois não são julgamentos ou sentenças apenas, mas incluem exemplos de vida e conduta. Muitas vezes o consenso da comunidade a respeito de alguma conduta é incorporado à lei. A jurisprudência islâmica é a Fiqh, constituída pelas decisões dos acadêmicos. Há quatro escolas sunitas ou maddhab da fiqh, todas nomeadas a partir de um jurista clássico que não sabia que as suas decisões iriam ser imitadas (o conceito de taqlid, "imitação cega", surgiu mais tarde). As escolas Sunitas são a Shafi'i (Malásia), Hanafi (subcontinente indiano, África ocidental, Egito), Maliki (África ocidental e do norte), e Hanbali, a mais ortodoxa (Arábia Saudita - sunitas wahabittas e, no Afeganistão, pelos Talibãs). No entanto, cada fiel em sua vida particular pode, teoricamente ao menos, aderir a qualquer uma delas, mesmo que não a predominante na sua região.

Existem categorias de ofensas e gradação das punições. As cinco ofensas prescritas no Corão, hadd, têm punições fixas e não podem ser mudadas por autoridades ou juízes. São elas: 1- adultério, 2- falsa acusação de adultério, 3- uso de bebidas alcoólicas, 4- roubo e 5- assalto às caravanas. Aquelas, ta'zir, cujas punições são deliberadas por um juiz as decididas pela Lei de Talião (olho por olho, dente por dente), jinayat, por exemplo: crimes de sangue devem ser pagos com sangue. Existem ainda as que envolvem penalidades administrativas (siyasa), geralmente por ofensas contra a política oficial e aquelas que podem ser corrigidas por atos de penitência pessoal (kaffara). ([iv])

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A maioria dos países islâmicos com governo secular possui atualmente um sistema dual, no qual o povo pode levar suas disputas familiares e financeiras às cortes shari'a, enquanto no demais respeitam as leis seculares do país nas chamadas cortes adlia. O Qatar é um exemplo da dualidade oficial. Alguns países ocidentais estão explorando a ideia de adotar esta dualidade em relação a cidadãos que professam o Islam, com graves ameaças à sua estabilidade e à paz interna. O Arcebispo de Canterbury, Roman Williams, baseado na não separação entre Igreja e Estado que vigora no Reino Unido, propôs há dois anos a adoção de cortes eclesiásticas especiais para Muçulmanos e Judeus Ortodoxos.

No entanto, retornando à situação dos dhimmi, a dualidade da lei nem sempre representou uma vantagem para os mesmos. Durante o Império Otomano, criado por séculos de jihad contra as populações Cristãs, pintado frequentemente como um modelo de império multiétnico e multi-religioso, os dhimmi nas regiões balcânicas estavam submetidos às mesmas regras prevalentes nos antigos reinos islâmicos, inclusive com obrigatoriedade de se vestirem de forma diferenciada da dos muçulmanos para ficar evidente seu status inferior, como manda a sura 9:29 acima citada.

Bat Ye'or, escreveu uma série de estudos sobre a situação dos dhimmi, inclusive o livro The Decline of Eastern Christianity Under Islam: From Jihad to Dhimmitude : Seventh-Twentieth Century, e cunhou o termo dhimmitude para expressar esta condição.

Jihad Hadith do Profeta Maomé:

"Eu recebi a ordem de lutar contra os povos até que eles testemunhem o fato de que não há outro Deus senão Allah e acreditem que eu sou o Mensageiro

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(do Senhor), e em tudo o que eu disser. Quando eles afinal se submeterem [islam], seu sangue e sua riqueza serão protegidos".

Esta é a essência da Jihad (guerra santa), o esforço compulsório dos fiéis em expandir o território islâmico às expensas de territórios não-islâmicos. Tem sido um aspecto central da vida dos muçulmanos desde 624. A primeira fase, que abrange o século VII incluindo as atividades bélicas do próprio Maomé depois da hijra (fuga para Medina) foi seguida pela segunda, chamada de teológica, teórica e legal, iniciada após a morte do Profeta e inclui a expansão do Islam pela Península Arábica, Ásia e Mediterrâneo. Foi então que os jurisconsultos elaboraram o conceito teológico de jihad baseados nos atos e palavras de Maomé (os já estudados haddithim).

Ibn Khaldun nos diz que existem quatro tipos de guerra (op.cit., p. 224): 1- causada por ciúme ou inveja entre tribos vizinhas ou famílias concorrentes 2- causada por hostilidade, usualmente ocorre entre nações selvagens com o intuito de privar o inimigo de seus bens e/ou do usufruto dos mesmos 3- aquelas que a lei religiosa chama de 'guerra santa' e 4- guerras dinásticas contra dissidentes ou que recusam obediência. As duas primeiras são guerras injustas, as duas últimas são guerras justas.

Para alguns a jihad seria o sexto Pilar do Islam. Os cinco reconhecidos pelos sunitas são: a profissão de fé no único Deus e seu Profeta (Shahadah), as orações cinco vezes ao dia (Salat) (para uma descrição das preces ver Abdalati, op.cit, cap III), o jejum (Sawm) nos dias prescritos principalmente no mês de Ramadan, a caridade, doação de bens (Zakat) e a peregrinação a Meca (Hajj) ao menos uma vez na vida. Para os xi'itas são mais abstratos e voltados para o interior do indivíduo: a crença no Deus único, no Dia do Juízo Final, a crença nos Profetas Islâmicos, Judeus e em Jesus, na liderança dos Doze Imans ([v]) e na Justiça. As expressões externas da religiosidade, embora cruciais, não são consideradas como Pilares pelos últimos. A Shahadah inclui a crença em todos os Profetas citado no Corão (são 25), pois sua mensagem 'é basicamente a mesma e é chamada submissão (islam),

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porque veio da Única e Mesma Fonte, Deus, e serve para o mesmo propósito: guiar a humanidade no Caminho Correto de Deus' (Abdalati, op.cit.). Mesmo não sendo um dos pilares, a jihad é uma obrigação corânica para todos os fiéis.

De acordo com a teoria da jihad os habitantes da terra da guerra (dar al-harb) são infiéis a serem combatidos porque se opõem ao estabelecimento da lei islâmica em seus países. Como inimigos de Allah eles não têm direitos: eles podem ser tomados como escravos, sequestrados, roubados ou mortos e a tomada de suas propriedades pelos muçulmanos é lícita (mubah). Se eles resistirem à jihad podem ser deportados.

Os infiéis residentes na terra do armistício (dar al-hudna) são respeitados entre as guerras. Em princípio o armistício não deve ultrapassar dez anos, quando então a jihad será reiniciada (ver mais detalhes na seção sobre a hudna).

O Sheik Mohamed Sayed Tantawi, ex-Grande Imã da mesquita egípcia de Al Azhar, a instituição religiosa mais prestigiada do Islam sunita, procurou esclarecer que "há uma grande diferença entre o terrorismo e a "Jihad". 'A Jihad na religião islâmica significa que o muçulmano defenda sua fé, seu país com seus bens e integridade territorial. Se o inimigo invadir um país muçulmano, a guerra santa contra ele é um dever', afirmou o clérigo ao jornal árabe "Asharq Al Awsat". Porém, isto não significa que o terrorismo não seja um de seus métodos, cada vez mais empregado na atualidade.

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Notas:

[i] Referência à Bíblia e seus seguidores anteriores ao Islam: Judeus e Cristãos.

[ii] Encontrei diversas traduções da palavra árabe dar para o inglês: casa, região, terra, domínio, território, etc. Cada autor faz a sua tradução. Usei de acordo com o que me pareceu mais adequado.

[iii]Citado em Jews and Christians under Islam, de Bat Ye'or. Informações sobre o Sheik podem ser encontradas em Islam Online e declarações mais recentes em The Global Muslim Brotherhood Daily Report.

[iv] Para os interessados em conhecer mais a fundo: Islam: Governing under Sharia, Comparative Criminal Law and Enforcement: Islam - Hadd Offenses, False Accusation Of Unlawful Intercourse (kadhf), Drinking Of Wine (shurb), Theft (sariqa) Comparative Criminal Law and Enforcement: Islam. Para uma comparação com a lei anglicana, ver Why Shariah?

[v] Para os xi'itas, os sucessores de Ali, genro de Maomé, marido de sua filha Fátima (por isto uma das dinastias xi'ita foi a dos Fatímidas). O 12º Iman, ou o Iman Oculto, ou o Iman a chegar, Muhammad al-Mahdi, encontra-se escondido e regressará no fim do mundo. O Imã oculto é capaz de enviar mensagens aos fiéis. Alguns acreditam que o falecido Aiatolá Khomeini teria recebido inspiração do 12º Imã. Para os sunitas os Imãs são apenas sábios. Os Sunitas Wahhabitas, majoritários na Arábia Saudita, consideram os xi'itas como apóstatas (desertores) do Islam

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CAPIÍTULO 3 A última novidade é nova revista da Al Qaeda, Inspire, que vai circular pela web e entrar em todos os sites que nasceram para contatos sociais e logo viraram poderes políticos: Facebook, Twitter e outros. Já no primeiro número ensina como fazer uma bomba em casa.

Outros fundamentos do Islam

Muito se fala da existência de fundamentalistas e não fundamentalistas entre os muçulmanos. Já vimos na parte II que o Islam é uma unidade. Não existem fundamentalistas e não fundamentalistas, uma vez que o Corão não é passível de interpretações para os muçulmanos, como a Torah para os Judeus ou os Evangelhos para os Cristãos. Ser muçulmano é, sem nenhuma restrição ou salvaguardas, submeter-se (islam) à vontade, à palavra e à Lei (shari'a) de Allah, tal como transmitida por seu nābi (Profeta) e rasūl (Mensageiro) ([i]).

A enorme importância de Maomé levou alguns círculos Ocidentais a denominar a religião de maometana. Nada mais errado. É necessário distinguir entre a relação dos muçulmanos com Maomé e a dos cristãos com Jesus: Maomé não é considerado divino, apenas um ser mortal destinado por Deus para ensinar Sua palavra e levar uma vida exemplar, ser o principal modelo para os homens em sua piedade e perfeição, uma prova viva de como o homem pode ser e realizar como excelência e virtude ([ii]). Os muçulmanos não acreditam que Maomé fundou o Islam, o último estágio da evolução religiosa. O fundador do Islam é o Deus de Adão, existiu desde o início dos tempos e continuará a existir até o fim dos tempos (Abdalati, op.cit.).

'É aceito por todos os muçulmanos que, no fim dos tempos, um homem da família do Profeta (para os xi'itas necessariamente um descendente pela linha de Fátima e Ali) aparecerá para reforçar o Islam e fazer com que a

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justiça triunfe. Ele será chamado Mahdî e, junto com seu aparecimento surgirá o Anticristo. Após o Mahdî, Jesus Cristo descerá do Céu para matar o Anticristo. Outros acreditam que o Mahdî e Jesus virão juntos (ibn Khaldun, op.cit., PP. 257-8). (Para os xi'itas dos 12 Imans, o Mahdî já está entre nós como o Iman Oculto [ver Parte II]).

Parece-me uma mistura estranha da crença Judaica na vinda do Messiach com a crença Cristã da próxima vinda de Cristo para julgar os homens.

Outro ponto a destacar é em relação à existência de santos. O Islam é uma religião rigorosamente monoteísta, proibindo estritamente qualquer intermediário entre o fiel e Deus. O conceito de santidade é expressamente rejeitado. Não obstante, por pressão popular existe uma variedade de crenças em homens 'santos', karāmāt, com poderes carismáticos e mágicos, como o de prever o futuro. Mas isto não implica em poder de intervir junto a Deus para nenhum propósito. Um Profeta é alguém 'capaz de trocar totalmente sua natureza humana, tanto corporal quanto espiritual, pela angelical, tornando-se realmente um anjo por um átimo, durante o qual vislumbra e escuta o discurso divino e o comunica aos homens. Este é o estado da revelação cuja capacidade é implantada por Deus (ibn Khaldun, op.cit., pp. 77-8). As maravilhas realizadas pelos Profetas são de caráter muito elevado: ascender ao céu, atravessar corpos sólidos, ressuscitar os mortos, voar e conversar com anjos (ibn Khaldun, op.cit., p. 73). 'Um Profeta pode produzir as maravilhas dos santos, mas um santo não é capaz de produzir nada comparado às maravilhas dos Profetas' (id., ibid.). Admitem-se ainda adivinhos, videntes, mágicos, interpretadores de sonhos e de vísceras animais, etc.

É preciso levar em consideração que na época de Maomé a Península Arábica era habitada principalmente por beduínos, crentes há séculos numa religião politeísta com numerosos deuses - dos quais Allah era apenas um dos menores - e djins (gênios) com poderes extraordinários. Meca já era considerada cidade sagrada por ter a Caaba, que, segundo a tradição, teria

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sido construída por Ibrahim (Abraão) onde se encontra a pedra negra sagrada, provavelmente de origem meteórica, já adorada pelos Árabes pagãos, fossem beduínos ou citadinos ([iii]). ibn Khaldun (op. cit.) faz uma comparação extensa entre beduínos e povos sedentários, mostrando que os primeiros estão mais próximos da bondade do que os últimos (as citações em itálico a seguir são todas deste autor, mas não obedecem a nenhuma ordem, são extratos colhidos por mim aleatoriamente):

'A razão para isto é que os povos sedentários acostumaram-se ao ócio e à vida fácil, vivem para todas as formas de prazer. Vivem no bem estar e no luxo. Deixam a defesa de suas propriedades e de suas vidas aos governantes e à milícia que tem a tarefa de assegurar sua segurança. Tornam-se como crianças e mulheres que dependem do dono da casa. Os beduínos vivem longe das leis de governantes, da instrução e da educação (formais) andam sempre armados e cuidam de sua própria segurança.'

'Enquanto nos povos sedentários as restrições são produto da lei, entre os Beduínos ela vem dos sheiks e líderes espirituais. Sua subsistência depende da criação de camelos e estes se alimentam dos arbustos do deserto que, pelas características naturais, se esgotam periodicamente, obrigando a constantes movimentações (nomadismo). Como a vida no deserto é muito dura os vínculos de grupo são necessariamente muito mais fortes. A vida no deserto é, sem dúvida, a fonte da bravura, os povos selvagens são mais bravos que os demais. São, portanto, mais capazes de conseguir superioridade e de se apossar do que está nas mãos de outras nações' (op.cit.).

Ressaltei o último trecho porque é de fundamental importância para a tendência ao expansionismo do Islam.

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O expansionismo islâmico Antes de discutir as principais estratégias e táticas da jihad é preciso esclarecer um ponto crucial que divide os historiadores e analistas políticos: existem dois Islams, um 'radical', terrorista, fanático, fundamentalista e intransigente, e outro pacífico, benigno, tolerante, 'a religião do amor'? Creio que a questão está mal colocada. O Islam aceita que o Mal e o Bem existem simultaneamente na natureza humana e a guerra como um fato consumado na história da humanidade, não considerando a paz como eticamente superior à guerra, como fazem os cristãos. A morte é encarada também com maior fatalismo, sendo até desejável se servir para glorificar Allah e para a conversão dos dhimmi. Estes são elementos geralmente desconhecidos pelos negociadores Ocidentais: o que para eles representa um valor ético a alcançar, muitas vezes utilizado de forma hipócrita, não corresponde a nada que os negociadores muçulmanos pretendem. Quando os Ocidentais admitem, por exemplo, a atitude islâmica fatalista frente à morte, o fazem apenas superficialmente, como cultura de almanaque de lendas árabes, tão apreciados no Ocidente. Mas não acreditam que realmente é assim mesmo!

Não se pode dizer que o Islam seja uma religião da paz ou guerreira: é ambas, simultaneamente. Quando debatem tratados o fazem levando ambas em consideração igualmente. O projeto expansionista da ummah pode ser realizado das duas maneiras ao mesmo tempo. O projeto de dominação é fundamental, os meios não importam. Os dois projetos essencialmente bélicos - logo após a morte de Maomé com a rápida expansão para o Oriente Médio, África e Europa e o levado a efeito pelo Império Otomano - resultaram em morte e sacrifícios inúteis, aos olhos Ocidentais, de fiéis. O estabelecimento do califado e dos sultanatos levou os dirigentes a abandonar a vida simples de beduínos e paralisou as conquistas. O Islã entrou em decadência desde o início deste abandono. A crítica de ibn Khaldun ao sedentarismo e ao gosto pelo luxo se referia em grande parte ao Al Andaluz no qual morou e às dinastias Abássida e Omíada, em comparação com os guerreiros beduínos de vida simples e em constante movimento.

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Hoje a expansão islâmica se dá em quatro frentes:

1- a guerra declarada e convencional, mais recentemente com ameaças atômicas: pontual no Oriente Médio, principalmente ameaçando Israel, e no Afeganistão.

2- o terrorismo, através de várias organizações (Al Qaeda, Hamas, Hezbollah, Jihad Islâmica, etc.). A última novidade é nova revista da Al Qaeda, Inspire, que vai circular pela web e entrar em todos os sites que nasceram para contatos sociais e logo viraram poderes políticos: Facebook, Twitter e outros. Visa a atrair e a ensinar terrorismo e inspirar indivíduos e grupos a se dedicar à jihad ([iv]). Já no primeiro número ensina como fazer uma bomba em casa e publica entrevistas com fanáticos religiosos sumamente inteligentes.Quanto a estas duas primeiras frentes comentarei adiante as táticas utilizadas: hudna e taqiyya.

3- o avanço populacional: a estratégia é ocupar sistemática, contínua e progressivamente o Dar al-Harb (ver Parte II). Ao invés dos exércitos mouros ou Otomanos, as sucessivas e crescentes vagas de invasão aparentemente pacífica. A estratégia é simples: enquanto são muito poucos nada exigem e parecem se submeter pacificamente às leis do país. Quando atingem uma minoria significativa começam as exigências, sendo a mais comum a de não se submeterem às leis do país, apelando para uma das grandes fraquezas do mundo Ocidental: o relativismo cultural que o Islam não respeita em seu próprio território, o Dar al-Islam. Paulatinamente vão ganhando nos tribunais o direito de serem regidos pela shari'a e com o aumento do número de nascidos e registrados no país hospedeiro, cresce sua densidade eleitoral.

Políticos de todos os espectros, principalmente os de esquerda, passam a bajulá-los criando leis de 'respeito e proteção cultural' estendendo seus direitos sem perceber que estão cometendo suicídio por não entenderem que o objetivo final é a conquista e a obrigação de todos os dhimmi viverem também sob a shari'a. Devo deixar claro também que nem todos os

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muçulmanos estão conscientes disto, muitos até tentam se adaptar aos costumes do país e sinceramente admiram e aspiram à liberdade de que gozam no Ocidente.

As débeis medidas tomadas por alguns países europeus para impedir o uso dos diversos véus islâmicos são imediatamente atacadas por políticos de esquerda e ONGs dos 'direitos humanos' acusando os governos de racismo e da mais nova concepção politicamente correta: a islamofobia ([v]). Como já vimos antes, o próprio Arcebispo de Canterbury já propôs publicamente a adoção da shari'a para as populações islâmicas na Inglaterra e não estamos muito longe do dia em que a Rainha terá que usar o chādor.

4- Finalmente, a disseminação de grupos esotéricos Ṣūfis, as tarīqahs.

Tarīqahs A 'estrada' ou 'caminho' para o conhecimento direto, ma'rifah, de Deus ou da realidade. Nos séculos IX e X tarīqah significava o caminho espiritual místico individual de determinados Ṣūfis. A partir do século XII passou a designar comunidades que se reuniam em torno de sheiks, as ordens Ṣūfis. O termo também veio a designar a própria ordem. Cada ordem mística invoca uma descendência espiritual (silsilah) do Profeta ([vi]) e estabelece seus próprios métodos de iniciação e as regras disciplinares dos seus membros: os murid (comprometidos), os ikhwan (beduínos que constituíram a milícia religiosa que ajudou a colocar ibn Saud no poder. Em 1929 a dinastia Saudita acabou com a milícia e de seu núcleo fiel formou a Guarda Nacional Saudita), os dervixes, os faquires, etc.

Lemos em ibn Khaldun (op.cit., pp. 358 ss.) que o Sufismo pertence às ciências da lei religiosa originada no Islam. Baseia-se na crença de que as práticas ascéticas de seus seguidores foram iniciadas por importantes

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muçulmanos que cercavam Maomé pelos da segunda geração. Os Ṣūfis desenvolveram uma forma particular de percepção através da experiência ascética. A progressão dos membros se dá por 'estações', formando uma ordem ascendente. O noviço deve progredir de estação em estação até atingir o reconhecimento da unidade com Deus e a gnose, ma'rifah, o máximo objetivo para atingir a felicidade. Os requisitos básicos para a progressão são a sinceridade, honestidade e a obediência.

Os Ṣūfis têm uma forma peculiar de comportamento e usam uma terminologia lingüística especial durante as instruções.

O treinamento especial visa a levantar o véu da percepção sensorial: quando o espírito se volta das percepções sensoriais externas para a percepção interior, os sentidos comuns enfraquecem e o espírito se fortalece: o que era conhecimento se torna visão.

ibn Khaldun nos diz que vários juristas e muftis refutaram as afirmações dos Ṣūfis, reprovando tudo que veio do caminho sūfi e muitos do Islam tradicional reprovam as práticas sūfi como heréticas.

Hoje em dia as ordens são contadas às centenas com milhões de membros em todo o mundo, seja no Dar al-Islam, seja no Dar al-Harb. Como o segredo é fator fundamental não se conhecem seus membros, mas pode-se ter como certa a participação de personagens de grande importância e relevância na condução dos países Ocidentais.

O Príncipe Charles, herdeiro do trono britânico, tem sido constantemente citado como secretamente convertido ao Islam, particularmente a uma ordem sūfi da Turquia. Em fevereiro deste ano o Príncipe foi convidado de honra numa comemoração sūfi - Spirituality in Action - na sede do clube Manchester United, em Old Trafford, quando houve inclusive um recital musical do Corão acompanhado de uma dança de dervixes 'rodopiantes' ([vii]) in vestes tradicionais. O Sheik Mohammed Hisham Kabbani foi o anfitrião. Nesta ocasião foi fundado o Centre for Spirituality and Cultural

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Advancement para exaltar as contribuições das tradições sūfis na recuperação de criminosos através de estudo do Corão, meditações e danças. Em junho deste mesmo ano Charles sugeriu aos ambientalistas 'seguirem o caminho do Islam', num discurso no Oxford Centre for Islamic Studies. 'A atual "divisão" entre o homem e a natureza foi causada não somente pela industrialização, mas também por nossa atitude em relação ao meio ambiente, que contraria as "tradições sagradas", particularmente as do Islam'. Em 1993 ele já havia declarado ([viii]): 'A civilização ocidental tornou-se cada vez mais aquisitiva e exploradora em desafio a nossas responsabilidades com o meio ambiente' para, a seguir, glorificar a 'renascença islâmica' como a salvação da Grã-Bretanha:

'O Islam pode nos ensinar uma forma de entender e viver no mundo que a própria Cristandade empobreceu-se por perder. No coração do Islam está a preservação de uma visão integral do Universo. Tanto quanto o Budismo e o Induísmo o Islam recusa-se a separar homem e natureza, religião e ciência, mente e matéria e preservou uma visão metafísica unificada de nós mesmos e do mundo que nos cerca. (...) O Ocidente gradualmente perdeu esta visão integrada com Copérnico e Descartes e com a revolução científica. Uma filosofia abrangente da natureza não mais faz parte de nossas crenças mundanas'.

Em novembro de 2007, na comemoração dos 800 anos do inspirador dos dervixes 'rodopiantes', Mevlana Rumi, Charles visitou seu santuário em Kona, Turquia e revelou que já em 1992 fizera uma visita privada ao santuário. Fez então, uma de suas mais controversas declarações: 'Seja o que for, parece-me que o Ocidente encontra-se desconstruído e parcial. O Leste, por outro lado, tem-nos presenteado com "parábolas da alma"'.

Freqüentemente Charles defende o aprofundamento dos estudos islâmicos em escolas inglesas de todos os níveis. Sua dedicação ao Islam já encontrou até resistência à possibilidade de tornar-se Rei, pois como tal seu dever se confunde com o de Guardião da Fé (Anglicana) e seus discursos favoráveis

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aos Islam sugerem que preferiria ser Guardião de todas as religiões. Em 1997 Ronni L. Gordon and David M. Stillman publicaram um artigo - Prince Charles of Arabia - no The Middle East Quarterly no qual citam o Grande Mufti de Chipre declarando: 'Vocês sabiam que o Príncipe Charles se converteu ao Islam? Sim, ele é muçulmano. Não posso revelar mais nada. Mas ele se converteu na Turquia. (...) Verifiquem quantas vezes ele foi à Turquia. Verão que seu futuro Rei é muçulmano'. Estes rumores podem ser falsos, mas a negativa enfática por parte de Lord St. John of Fawsley ('o Príncipe de Gales é um membro leal da Igreja Anglicana') seguida do 'vazamento' da notícia de que Charles desejava ter um papel maior na Igreja da Inglaterra, só serviram para acirrar as desconfianças.

Será o Príncipe realmente um muçulmano pertencente a alguma tariqah sūfi? Ou apenas estará compreendendo melhor as desgraças que, sem a menor dúvida, assolam o pensamento Ocidental?

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Notas:

[i] Rasūl, como Maomé preferia ser conhecido, significa o último dos Mensageiros numa cadeia que começou com Noé e foi até Jesus, sendo Maomé o último e definitivo, com a principal missão de advertir o povo Árabe, e através dele a todos os povos, da iminência do Dia do Juízo Final.

[ii] O Islam rejeita a Santíssima Trindade e a morte sacrifical de Jesus. A gravidez virginal de Maria é aceita e reverenciada. O único ser aceito como de criação exclusivamente divina é Adão. Ver em Abdalati, op.cit., Jesus, Son of Mary.

[iii] Hoje a Caaba fica no centro de uma mesquita, Masjid al-Haram, onde os fiéis, durante a Hajj (peregrinação obrigatória) fazem a Tawaf, a circumambulação (ato de circundar um objeto sagrado) da Caaba.

[iv] As primeiras informações chegaram aqui por intermédio de Nahum Sirotsky, correspondente de Zero Hora no Oriente Médio e colunista do portal 'Último Segundo'.

[v] Uma característica essencial do 'politicamente correto' é considerar tudo o que opõe como distúrbio mental: islamofobia, homofobia, etc.

[vi] Para ter uma idéia de uma silsilah visite o site do Sheik Al Alawi.

[vii] Nestas danças o corpo gira o mais rapidamente sobre si mesmo num movimento de pião que atordoa destinado, segundo a crença, a atingir um estado de êxtase propício à meditação e prece que condizem à ma'rifah.

[viii] Num discurso no Sheldonian Theatre em Oxford

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CAPIÍTULO 4

Palestina Traída Por Daniel Pipes

Nakba, o vocábulo árabe para "catástrofe", entrou para o idioma inglês referindo-se ao conflito árabe-israelense. Em concordância com o Web site anti-israelense The Electronic Intifada, Nakba significa "a expulsão e o despojamento de centenas de milhares de palestinos de suas casas e terras em 1948". Aqueles que desejam o desaparecimento de Israel fomentam ativamente a narrativa da Nakba. Por exemplo, o Dia da Nakba tem como função ser a contrapartida palestina às festividades do Dia da Independência de Israel, anualmente anunciam publicamente os supostos crimes cometidos por Israel. Esse dia se consolidou de tal maneira que Ban Ki-moon, secretário geral das Nações Unidas - a própria instituição que criou o Estado de Israel - transmitiu seu apoio ao "povo palestino no Dia da Nakba". Até mesmo Neve Shalom, uma comunidade de judeus palestinos em Israel que alega estar "comprometida com o trabalho educacional pela paz, igualdade e entendimento entre os dois povos," obedientemente comemora o Dia da Nakba.

A ideologia da Nakba apresenta os palestinos como vítimas sem alternativas, por conseguinte sem qualquer responsabilidade pelas desgraças que caíram sobre eles. Ela culpa somente Israel pelo problema dos refugiados palestinos. Esse enfoque tem um apelo intuitivo, visto que os palestinos muçulmanos e cristãos, há muito tempo constituíram a maioria na terra que se tornou Israel, enquanto a maioria dos judeus eram relativamente recém-chegados.

Contudo, sensação intuitiva, não é o mesmo que exatidão histórica. Em sua nova obra magistral, Palestina Traída, Efraim Karsh da Universidade de Londres demonstra a citada por último. Com a sua minuciosa e habitual

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pesquisa de arquivos - nesse caso, baseando-se em uma abundância de documentos que deixaram de ser secretos, do período do governo britânico e da primeira guerra árabe-israelense, 1917-1949 - clara apresentação e meticulosa perspicácia histórica, Karsh sustenta o argumento contrário: de que os palestinos decidiram o seu próprio destino e arcam com praticamente a total responsabilidade de terem se tornado refugiados.

Nas palavras de Karsh: "Longe de serem as desafortunadas vítimas de uma agressão predatória sionista, foram os árabes palestinos que, a partir do começo da década de 1920 em diante e muito contrários aos desejos de seu próprio grupo de apoio, lançaram uma campanha implacável com a finalidade de apagar o renascimento nacional judaico que culminou no violento ataque a fim de anular a resolução da partilha da ONU". De maneira geral, observa ele, "não havia nada de inevitável no que diz respeito ao confronto palestino-judaico, muito menos em relação ao conflito árabe-israelense".

No entanto, mais contrário ainda à obviedade, Karsh demonstra que sua maneira de entendimento era a interpretação convencional, na realidade, a incontestável, no final da década de 1940. Somente com o passar do tempo "os palestinos e seus apoiadores do Ocidente gradualmente reescreveram sua narrativa nacional" com isso tornando Israel o único culpado, o condenado nas Nações Unidas, nas salas das universidades e nos editoriais.

Karsh usa o seu argumento com êxito estabelecendo dois pontos principais: que (1) o lado judaico sionista israelense perpetuamente procurou encontrar um acordo ao passo que o lado árabe palestino muçulmano rejeitou praticamente todos os acordos; e (2) a intransigência e a violência árabe causaram a "catástrofe" infligida neles próprios.

A primeira razão é mais conhecida, especialmente desde os acordos de Oslo de 1993, por continuarem o padrão no momento atual. Karsh demonstra uma consistência entre a boa vontade dos judeus e o rejeicionismo árabe que

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regressa à Declaração de Balfour persistindo por todo o período do governo britânico. (Para lembrar, a Declaração de Balfour de 1917 expressava a intenção de Londres de criar na Palestina um "lar nacional para o povo judeu" e a conquista da Palestina apenas 37 dias depois, dava-lhe o controle sobre a Palestina até 1948.)

Nos primeiros anos após 1917, a reação árabe foi atenuada, à medida que os líderes e o povo igualmente reconheciam os benefícios do espírito empreendedor e dinâmico sionista que ajudou a reviver uma Palestina atrasada, pobre e esparsamente povoada. Então surgiu, com a ajuda britânica, a perniciosa figura que iria dominar a política dos palestinos no decorrer das próximas três décadas, Amin al-Husseini. A partir de aproximadamente 1921 em diante, Karsh evidencia, os sionistas e os palestinos tiveram muitas opções; enquanto os primeiros optavam pelo acordo, os últimos implacavelmente decidiram pelo extermínio.

Em várias funções - mufti, dirigente de organizações islâmicas e políticas, aliado de Hitler, herói das massas árabes - Husseini conduziu seu grupo de apoio para o que Karsh chama de "inexorável curso de colisão com o movimento sionista". Odiando os judeus de forma tão maníaca, ele chegou a se unir à máquina genocida nazista, Husseini negou-se a aceitar sua presença na Palestina, qualquer que fosse seu número, muito menos qualquer forma de soberania sionista.

Do início da década de 1920, portanto, se testemunhou um padrão ainda em vigor e conhecido nos dias de hoje: Acomodação sionista, "concessões dolorosas" e esforços construtivos para diminuir as diferenças, recebidas com o antisemitismo palestino, rejeicionismo e violência.

Complementando esse dramatis personae binário e complicando seu nítido contraste, encontravam-se as massas palestinas geralmente mais acomodadas, a indecente, antissemita autoridade mandatária britânica, um

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rei jordaniano ávido a governar os judeus como súditos, irresponsáveis líderes de estados árabes e um errático governo americano.

Apesar da radicalização da opinião palestina apregoada pelo mufti e apesar da ascensão do nazismo ao poder, os sionistas continuaram a procurar uma acomodação. Levou alguns anos, mas a política de ganho zero do mufti e de eliminação acabaram convencendo os relutantes líderes Trabalhistas, inclusive David Ben-Gurion, de que boas ações não iriam facilitar seus sonhos de aceitação. Não obstante, apesar dos repetidos fracassos, eles continuaram procurando um parceiro árabe moderado para fechar um acordo.

Em contrapartida, Ze'ev Jabotinsky, o precursor do partido Likud de hoje, já em 1923 sabia que "não havia a mínima esperança sequer de se obter algum dia a concordância dos árabes da Terra de Israel para que a "Palestina" se tornasse um país com maioria judaica". No entanto, até ele rejeitava a ideia de expulsar os árabes e insistia no total direito deles à cidadania em um futuro estado judeu.

Essa dialética atingiu o ponto culminante em novembro de 1947, quando as Nações Unidas aprovou o plano de partilha que nos dias de hoje chamaríamos de solução de dois estados. Em outras palavras, ela deu de bandeja um estado aos palestinos. Os sionistas regozijaram, mas os líderes palestinos, principalmente o pernicioso Husseini, amargamente rejeitou qualquer solução que endossava a autonomia aos judeus. Eles fizeram questão de ter tudo, então não obtiveram nada. Tivessem eles aceito o plano da ONU, a Palestina estaria celebrando o seu 62º aniversário nesse mês de maio. E não teria havido nenhuma Nakba.

A parte mais original do Palestina Traída é a que contém uma revisão detalhada da fuga dos muçulmanos e dos cristãos da Palestina nos anos 1947-1949. Nela Karsh foi muito feliz na pesquisa de arquivos, permitindo a ele apresentar um quadro rico e inigualável sobre as circunstâncias específicas da fuga dos árabes. Ele passa um por um através dos vários

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centros populacionais árabes - Qastel, Deir Yassin, Tibérias, Haifa, Jaffa, Jerusalém e Safad - e em seguida analisa minuciosamente aquelas aldeias.

A guerra de independência de Israel se divide em duas partes. Os violentos combates começaram horas após a votação nas Nações Unidas aprovando a partilha da Palestina em 29 de novembro de 1947 e durou até a véspera da evacuação britânica em 14 de maio de 1948. O conflito internacional começou no dia 15 de maio (um dia após a criação de Israel), quando cinco exércitos de estados árabes invadiram, as hostilidades continuaram até janeiro de 1949. A primeira fase se consistiu principalmente em guerra de guerrilha, a segunda basicamente em guerra convencional. Mais da metade (entre 300.000 e 340.000) dos 600.000 refugiados árabes fugiram antes da evacuação britânica, a maioria no último mês.

Os palestinos fugiram devido a uma grande variedade de circunstâncias e por diversas razões. Os comandantes árabes ordenaram aos não combatentes que saíssem do caminho das manobras militares; ou ameaçavam retardatários com tratamento dispensado a traidores caso ficassem; ou exigiam que as aldeias fossem evacuadas a fim de melhorarem seu posicionamento no campo de batalha; ou prometiam que eles voltariam sãos e salvos em questão de dias. Algumas comunidades preferiam fugir a assinar um armistício com os sionistas; nas palavras do prefeito de Jaffa, "eu não me importo com a destruição de Jaffa desde que consigamos a destruição de Tel-Aviv". Os agentes do mufti atacaram os judeus com o propósito de provocar hostilidades. Famílias com recursos fugiram do perigo. Quando os inquilinos agrícolas ouviram que os proprietários seriam punidos, ficaram com medo de serem expulsos e se anteciparam abandonando as terras. Hostilidades mortíferas impediram o planejamento. Escassez de alimentos e outros bens de primeira necessidade se espalhou. Serviços como estações de bombeamento de água foram abandonados. O medo de pistoleiros árabes se alastrou, assim como rumores de atrocidades dos sionistas.

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Em apenas um caso (Lydda), os árabes foram forçados a sair pelas tropas israelenses. A singularidade desse evento merece ênfase. Karsh explica acerca de toda a primeira fase da batalha: "Nenhum dos 170.000-180.000 árabes que fugiram dos centros urbanos e somente um punhado dos 130.000-160.000 aldeões que deixaram seus lares, foram forçados a sair pelos judeus".

A liderança palestina desaprovava o retorno da população, vendo nisso o reconhecimento implícito do nascimento do Estado de Israel. A princípio os israelenses estavam dispostos a aceitar o retorno dos deslocados de guerra, mas depois endureceram sua posição a medida que a guerra progredia. O Primeiro Ministro Ben-Gurion explicava seu modo de pensar em 16 de junho de 1948: "Esta será uma guerra de vida ou morte e [os deslocados de guerra] não devem retornar aos lugares abandonados. . . . Nós não começamos a guerra. Eles começaram a guerra. Jaffa começou a guerra contra nós, Haifa começou a guerra contra nós, Beisan começou a guerra contra nós. E eu não quero que eles comecem uma guerra novamente".

Resumindo, explica Karsh, "foram as ações dos líderes árabes que condenaram centenas de milhares de palestinos ao exílio".

Palestina Traída recompõe o debate árabe-israelense de hoje colocando-o no seu contexto histórico adequado. Provando que por 90 anos a elite política palestina optou por rejeitar "o renascimento nacional judaico e [insistir na] necessidade da sua violenta destruição," Karsh corretamente conclui que o conflito irá terminar somente quando os palestinos desistirem de suas"esperanças genocidas".

Publicado originalmente em National Review.

Original em inglês: Palestine Betrayed

Tradução: Joseph Skilnik

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CAPIÍTULO 5

Como não criar um estado palestino Por André Cardon

No último domingo, houve uma gigantesca manifestação em Jerusalém, em prol de se fazer um plebiscito no país, a favor ou contra a saída dos judeus dos vilarejos de Gaza, Judéia e Samária. Havia aproximadamente 150 mil pessoas na manifestação. Vou fazer alguns comentários do que se diz na mídia e comparar a criação do Estado Judaico com a eventual criação do Estado Palestino.

Sobre a Mídia a) Ocupação: se os territórios de Gaza, Judéia e Samária pertencem aos árabes palestinos de fato, por que NUNCA, durante 20 anos, se falou em "ocupação" quando o Egito e Jordânia controlavam estes territórios ? Outra pergunta, por que o Estado Palestino não foi criado nesta época ? Afinal, com certeza entre eles (árabes) poderiam se entender melhor.

b) "O muro é como o apartheid da Africa do Sul": mais uma ignorância que lemos e escutamos na mídia. O apartheid na África do Sul tratou de separar, preste bem atenção, cidadãos sul-africanos negros dos cidadãos sul-africanos brancos. O muro (5%) e a cerca (95%) vão fazer nada mais nada menos do que dividir Israel e um futuro Estado Palestino. Para um governo (Likud) que jamais cogitou sobre um Estado Palestino, aceitar a viabilidade dele determinando as fronteiras com uma barreira física, é uma excelente oportunidade para que os árabes palestinos criem o seu Estado.

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Se os países árabes tivessem feito isso, determinado as fronteiras do Estado Judeu, colocando limites físicos e reconhecido o Estado, em 48, os judeus iriam dar pulos de alegria, fora que teria nos poupado muitas vidas nas guerras de 48, 67 e 73. Guerras estas iniciadas pelos países árabes por não reconhecer o Estado Judeu.

Criação de um Estado Palestino ? a) Israel aceitou a partilha da ONU da maneira como foi definida , pois tudo que os judeus queriam na época era ter uma nação. Apesar de a partilha estar muito longe dos desejos deles, e da ONU decretar que a cidade mais importante para o povo judeu seria uma cidade internacional - apesar de obviamente não fazer isso com o Vaticano, nem com Meca - os judeus aceitaram mesmo assim que Israel fosse criado conforme estabelecido. O resultado todos sabem, graças à vitória de Israel na guerra de 48, o Estado se expandiu. Não fosse os árabes terem começado a guerra de 67 também, ainda estaríamos hoje vivendo no país Israel sem o que de mais importante para o povo judeu e para o judaísmo existe aqui: o Muro das Lamentações(Kotel). Aliás, os árabes palestinos são livres para rezarem na mesquita de Omar, ao passo que aos judeus nem lhes era permitido entrar na cidade velha de Jerusalém, quanto mais no Kotel.

b) Vamos examinar a exigência dos árabes palestinos: querem Jerusalém como capital e disso não abrem mão. Ora, por que não construir um estado com colégios, hospitais, universidades, áreas industriais, e deixar para decidir a capital depois como fez Israel ? Acaso isso é primordial para a construção do país? É obvio que não. Se Jerusalém é tão importante assim para os muçulmanos, por que o Estado Muçulmano da Jordânia não fez de Jerusalém sua capital em 48?

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Interessante, a mídia insiste em mencionar Jerusalém como a terceira cidade mais importante do islamismo, mas por que também não menciona Hebron como a segunda mais importante do judaísmo?

c) Israel, ao declarar sua independência, automaticamente deu cidadania aos árabes que aqui moravam. Estes hoje concorrem no mercado de trabalho com israelenses, competem por vagas nas universidades israelenses e participam da vida cotidiana como qualquer judeu israelense. Agora, vamos ver o que os judeus que moram em Gaza, Judéia e Samária fazem para alterar a vida dos árabes palestinos que moram lá:

- Eles estudam lá ? Não.

- Eles trabalham lá ? Não.

- Eles impedem que os árabes palestinos possam viajar de um lugar a outro ? Não.

Ou seja, os judeus que moram lá não afetam a vida dos árabes palestinos de modo algum, seja do ponto de vista social, econômico, religioso, etc.

Em outras palavras, Israel, o único país judaico do mundo, pode sem problema nenhum ter 1/6 da sua população de árabes com os mesmos direitos dos judeus, mas porque os judeus não podem ser 1/15 da população de Gaza, Judéia e Samária onde não havia ninguém e nem sequer teriam cidadania palestina no surgimento de um Estado ???

d) Todo terrorismo usa como justificativa a suposta "ocupação". Ora, houve dezenas de atentados contra Israel entre 48 e 67, quando Israel não tinha controle sobre Gaza, Judéia, Samária e a cidade velha de Jerusalém. Logo, não serve de argumento.

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e) O mundo é pródigo em condenar o Estado de Israel, cujo tamanho é menor que Sergipe. Porém, imaginem só se fosse ao contrário, 22 países judaicos ao redor de um único pais árabe! Como diria um grande amigo meu, "sem comentários".

Resumindo, pela liderança palestina, o secundário é mais importante que o principal ou o bolo não pode ser feito sem a cereja, e qualquer coisa serve de justificativa para que a criação do Estado Palestino seja postergado e para que o terror continue. Quando Barak ofereceu tudo e mais um pouco a Arafat (I"S), mais do que deixar os israelenses em estado de choque, deixou Arafat(I"S) perplexo, que não tinha mais o que reinvindicar, tendo o mesmo que sacar da manga a ridícula exigência do retorno dos refugiados, árabes palestinos que fugiram de Israel em 48 na esperança de que após a vitória árabe pudessem voltar às suas casas.

Prova? Os milhares de árabes que obtiveram cidadania israelense após a criação do Estado. Se Israel não os quisesse, teria os expulsado antes ou depois da guerra, o que nunca fez.

Israel aceitou começar a construção do seu Estado:

- Sem países para delimitar suas fronteiras, ao contrário, com sete querendo a sua destruição;

- Sem ajuda de bilhões de dólares do exterior (ou milhões para a época);

- Sem ter acesso ao lugar mais sagrado do povo judeu, o Muro das Lamentações - com uma área estipulada pela ONU muito aquém da almejada pelos judeus;

- Com a capital eterna do povo judeu recebendo status de internacional;

- Com divisões no território tendo árabes de todos os lados;

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Todavia, os árabes palestinos parecem que estão mais preocupados em continuar com seu status de refugiados, do que propriamente "pôr a mão na massa" e criar um Estado por eles mesmos, como fizeram os judeus em Israel.

O aliado excepcional da América Por Caroline Glick

Recentemente tem havido muita conversa sobre a perspectiva da Síria parar de apoiar o eixo iraniano e transformar-se magicamente em uma aliada do Ocidente. Embora as demonstrações diárias de lealdade do presidente vitalício da Síria, Bashar Assad, a seus amigos assassinos tenha exposto essa conversa como sendo nada mais que fantasia, ela continua a dominar o discurso internacional a respeito da Síria.

Nesse meio tempo, a verdadeira transformação em andamento na Síria, de um Estado que estava funcionando, apesar de precariamente, a uma terra improdutiva e empobrecida, tem sido ignorada.

Hoje, o país enfrenta a maior catástrofe econômica de sua história. A crise está causando uma deficiência grave de nutrição e o deslocamento de centenas de milhares de sírios. Essas pessoas, em torno de 250 mil, em sua maioria de agricultores curdos, vêm sendo expulsas de suas fazendas nesses últimos dois anos porque o deserto avançou sobre essas terras.

Hoje, cidades feitas de barracos vêm se espalhando em volta das grandes cidades, como Damasco. Elas estão repletas de refugiados internos que foram desalojados de onde viviam. Através de uma combinação cataclísmica de políticas agrícolas irracionais, promovida pela dinastia ba'athista de Assad durante os últimos 45 anos, que vêm erodindo o solo, e da perfuração não-autorizada de cerca de 420 mil poços que fizeram secar os aquíferos

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subterrâneos, o regime político da Síria tem feito tudo que está ao seu alcance para desertificar o país. Os efeitos dessas políticas dementes têm sido exacerbados nos anos recentes pelo desvio que a Turquia fez da principal fonte de água da Síria, o rio Eufrates, por meio da construção de represas rio acima, além dos dois anos da seca que vêm castigando a região. Hoje, grande parte das terras anteriormente férteis da Síria tornou-se improdutiva. Antigos agricultores agora são trabalhadores diaristas desamparados, com poucas perspectivas de recuperação econômica.

Imagine se, em momentos de perigo para seu país, em vez de se apegar à sua aliança com o Irã, o Hezb'allah (Partido de Alá), a Al-Qaeda e o Hamas, Assad se voltasse para Israel para ajudá-lo a sair dessa crise?

Israel é um líder mundial em dessalinização e reciclagem de água. A maior usina de dessalinização e reciclagem de água do mundo está localizada em Ashkelon. A tecnologia israelense e seus engenheiros poderiam ajudar a Síria a reconstruir seu suprimento de água.

Israel também poderia ajudar a Síria a usar mais prudentemente todo tipo de água que ela ainda possua ou que seja capaz de produzir através da dessalinização e da reciclagem por meio da irrigação por gotejamento, que foi inventada em Israel. Hoje Israel supre 50% do mercado internacional de irrigação por gotejamento. Em lugares como a Síria e o Sul do Iraque, que estão agora secando por causa das represas turcas, a irrigação é rudimentar, geralmente envolvendo nada mais que encher caminhões-pipas por meio do bombeamento de água do Eufrates, levando essa água aos campos que, na maioria dos casos, ficam a menos de um quilômetro de distância.

Além disso, há ainda as reservas de petróleo da Síria que estão definhando. Sem dúvida, os engenheiros e os especialistas em sismologia israelenses seriam capazes de aumentar a eficiência e a produtividade dos poços de petróleo existentes, aumentando, assim, o rendimento dos mesmos. Certamente não está além do âmbito das possibilidades que os cientistas e

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engenheiros israelenses poderiam até mesmo descobrir reservas de petróleo novas e ainda intocadas.

Mas, logicamente, a Síria não está interessada na ajuda de Israel. A Síria quer ter seu inimigo e também destruí-lo. Como Assad tem deixado claro repetidas vezes, o que ele quer é receber as Colinas de Golan -- e, por meio delas, o suprimento de água potável de Israel -- em troca de nada. Ele quer que Israel entregue as Colinas de Golan, mais um tanto de terra que a Síria ocupou ilegalmente de 1948 a 1967, em troca de um pedaço de papel sem significado.

Nessa demanda, Assad é apoiado por ninguém menos que o primeiro-ministro da Turquia, Recip Erdogan, cujo país está secando as águas da Síria. Afinal, Erdogan foi o mediador das conversações que objetivavam convencer o então primeiro-ministro Ehud Olmert a desistir das Colinas de Golan. Hoje, é Erdogan que está encorajando o governo Obama a pressionar Israel a entregar sua água à Síria.

Além de exigir que Israel lhe dê as Colinas de Golan, Assad está feliz em se associar com Mahmoud Ahmadinejad (Irã), Hassan Nasrallah (Hezb'allah), Khaled Mashaal (Hamas) e vários líderes da Al-Qaeda, que se movimentam livremente em seu território. Estar ao lado desses assassinos dá a ele a oportunidade de sentir-se como um homem de verdade -- um mestre do universo que pode matar israelenses, iraquianos e americanos, além de aterrorizar os libaneses, mantendo-os em situação de sujeição.

Quanto a seus problemas em casa, Assad aprisiona qualquer engenheiro sírio que tenha a temeridade de afirmar que, ao exportar algodão, a Síria está exportando água. Assad não tem medo que seu regime entre em colapso debaixo do peso de cinco décadas da imbecilidade econômica do partido Ba'ath. Ele está confiando nos Estados Unidos e na Europa para livrá-lo das conseqüências de sua própria incompetência por meio do assistencialismo econômico, por fechar os olhos diante da sua continuada exploração

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econômica do Líbano e, talvez, por coagir Israel a entregar as Colinas de Golan.

O mesmo, sem dúvida, pode ser dito dos palestinos. Na verdade, o caso dos palestinos é ainda mais extraordinário. De 1967 até 1987 -- quando, através de seu levante violento ("intifada''), eles decidiram romper relações econômicas com Israel -- o crescimento econômico palestino em Gaza, na Judéia e em Samaria aumentou com números de dois dígitos a cada ano. De fato, enquanto ligada à de Israel, a economia palestina era a quarta de crescimento mais rápido no mundo. Mas, desde 1994, quando a Organização Para a Libertação da Palestina (OLP) assumiu o poder, embora os palestinos tenham se tornado os maiores receptores per capita de ajuda estrangeira na história, a economia palestina tem se contraído em uma base per capita.

O único caminho seguro para o crescimento e a prosperidade é o de os palestinos reintegrarem sua economia à de Israel. Mas, para fazerem isso, eles devem primeiro pôr um fim ao seu envolvimento com o terrorismo e abrir sua economia às forças do mercado livre e à transparência, bem como ao estado de direito e à proteção aos direitos de propriedade, que formam os fundamentos dessas forças. Entretanto, a própria noção de fazerem isso é considerada tão radical que até mesmo o primeiro-ministro palestino, Salaam Fayad, que é supostamente moderado, a favor da paz e receptivo ao mercado livre, rejeitou peremptoriamente o plano econômico de paz apresentado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Afinal, como podem os palestinos aceitar as forças do mercado livre quando isso significa que -- horror dos horrores -- os judeus poderão comprar e vender terras e outros bens?

Os palestinos e os sírios não estão sós. Do Egito à Arábia Saudita, ao Paquistão e à Indonésia, o mundo árabe e muçulmano tem preferido a pobreza e o retrocesso econômico à prosperidade que viria a partir de seu engajamento com Israel. Eles preferem sua constante rejeição a Israel, o ódio aos judeus e a estagnação econômica envolvida em tudo isso, do que a

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prosperidade, a liberdade política e a estabilidade que viriam a partir da aceitação de Israel.

Como afirma George Gilder, o guru americano da economia e da tecnologia, em seu novo livro The Israel Test [O Teste de Israel]: "O teste de uma cultura é o que ela realiza em favor do avanço da causa humana -- o que ela gera e não o que ela reivindica''.

O livro de Gilder é uma contribuição única e necessária ao atual debate internacional sobre o Oriente Médio. Em vez de se concentrar somente nas reivindicações que os árabes fazem a Israel, como é comum à maioria dos autores, Gilder volta sua atenção ao que as nações da região geram. Especificamente, ele mostra que apenas Israel gera riquezas através da criatividade e da inovação, e que hoje Israel está contribuindo mais para a causa humana por meio de seus avanços científicos, tecnológicos e financeiros do que qualquer outro país do mundo, com exceção dos Estados Unidos

The Israel Test descreve com detalhes extremamente interessantes tanto as pesadas contribuições dos judeus da Diáspora às vitórias dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria, quanto nas revoluções científicas do século XX que lançaram as bases para a era do computador, como também as pesadas contribuições dos judeus israelenses à revolução digital que define e dá forma a nossas realidades econômicas atuais.

Mas, antes que Gilder comece a descrever essas excelentes contribuições dos judeus à economia global e ao bem-estar geral dos povos ao redor do mundo, ele afirma que o futuro do mundo será determinado pelo tratamento que for dado a Israel. Ele declara o seguinte: "A questão central na política internacional, que divide o mundo em dois exércitos rixosos, é o minúsculo Estado de Israel''.

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De acordo com seu ponto de vista, "Israel define uma linha de demarcação'' entre aqueles que passam e aqueles que são reprovados naquilo que ele denomina de "o teste de Israel''.

Gilder apresenta o teste a seus leitores fazendo-lhes algumas perguntas: "Qual é a sua atitude com relação ao povo que excede você na criação de riquezas ou em outras realizações? Você deseja possuir a excelência desse outro povo, ou fica enraivecido contra ele? Você admira e celebra realizações excepcionais ou as contesta e busca derrubá-las?''

Segundo o que ele afirma, o futuro da civilização será determinado pela maneira que as nações do mundo -- e especialmente pela maneira que o povo americano -- responderem a essas perguntas.

O livro de Gilder é valioso por si só. Eu pessoalmente aprendi uma enorme quantidade de coisas sobre o papel pioneiro de Israel na economia da informação. E, mais que isso, ele fornece uma refutação impressionante aos argumentos centrais de outro livro de grande impacto que foi escrito sobre Israel e os árabes nos Estados Unidos em anos recentes.

O livro The Israel Lobby [O Lobby de Israel], de Steve Walt e John Mearsheimer, apresenta duas argumentações centrais. Primeiro, os autores argumentam que Israel tem pouco valor como aliado para os Estados Unidos. Segundo, eles afirmam que, dada a falta de importância de Israel para os Estados Unidos, a única explicação razoável sobre os motivos pelos quais os americanos apóiam extraordinariamente Israel é que eles têm sido manipulados através de uma conspiração de organizações judaicas e dos meios de comunicação controlados pelos judeus, além das instituições financeiras de propriedade dos judeus. De acordo com o ponto de vista deles, as forças abomináveis controladas pelos judeus têm enganado o povo americano, levando-o a crer que Israel é importante para ele e é até mesmo uma nação vinculada aos Estados Unidos.

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Gilder derruba surpreendentemente esses dois argumentos sem sequer se referir diretamente a eles, ou mencionar as singulares contribuições de Israel aos feitos militares e de inteligência americanos Em vez disso, ele demonstra que Israel é uma força motriz indispensável à economia dos Estados Unidos, que, por sua vez, é a principal promotora do poder americano em termos globais. Grande parte dos feitos econômicos do Vale do Silício está baseada em tecnologias produzidas em Israel. Tudo, desde o microchip até o telefone celular, ou foi produzido em Israel ou por israelenses no Vale do Silício.

É a própria admiração de Gilder às realizações excepcionais de Israel que acaba com a segunda argumentação de Walt e Mearsheimer. Há algo distintamente americano em seu entusiasmo pela capacidade inovadora de Israel. Desde os tempos mais remotos da América, o caráter americano tem sido imbuído de admiração pelas realizações. Como nação, os americanos sempre passaram no teste de Israel proposto por Gilder.

Considerados em conjunto com os outros motivos para os americanos apoiarem Israel -- particularmente a afinidade com o povo da Bíblia -- o livro de Gilder mostra que o povo americano e o povo israelense são, de fato, amigos e aliados naturais, unidos por seu excepcionalismo, que os motiva a se empenharem pela excelência e pelo progresso em benefício de toda a humanidade.

Recentemente os americanos recordaram o oitavo aniversário dos ataques de 11 de setembro. Até a presente data, aqueles ataques foram a maior confrontação entre o excepcionalismo americano e o nihilismo islâmico. Neste momento, o livro de Gilder serve como um lembrete a respeito do que faz com que valha a pena defender a todo custo os Estados Unidos e seu aliado excepcional, Israel. O Teste de Israel também nos ensina que, contanto que mantenhamos a fé em nós mesmos, não estaremos sozinhos em nossa luta contra o barbarismo e o ódio, e, inevitavelmente sairemos como vencedores dessa amarga luta.

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A "guerra cultural" do Hamas e seus laços históricos com o nazismo Por Alan M. Dershowitz

O Hamas, a organização terrorista especializada em alvejar civis, agora decidiu, de acordo com uma manchete do jornal americano The New York Times, mudar "de mísseis para guerra cultural'', num esforço para angariar apoio do público para sua causa. Parte de sua campanha de relações públicas em andamento é descrever os israelenses como os "novos nazistas'' e os palestinos como os "novos judeus''. Para realizar essa transformação, será preciso se engajar em uma forma de negação do Holocausto, para apagar o registro histórico da ampla cumplicidade palestina com os "antigos nazistas'' em perpetrarem o verdadeiro Holocausto. Tornou-se uma parte importante do mantra dos apoiadores do Hamas que nem o povo palestino nem sua liderança tiveram qualquer participação no Holocausto. Ouça Mahmoud Ahmadinejad falando aos alunos da Universidade Columbia, nos Estados Unidos:

Mesmo que [o Holocausto] fosse uma realidade, ainda precisaríamos questionar se o povo palestino deveria estar pagando por isso ou não. Afinal, ele aconteceu na Europa. O povo palestino não teve nenhuma participação nele. Portanto, por que o povo palestino está pagando o preço por um evento com o qual ele não teve nada a ver? O povo palestino não cometeu nenhum crime. Ele não teve nenhuma participação na Segunda Guerra Mundial. Ele estava vivendo em paz com as comunidades judaicas e com as comunidades cristãs naquela época.

A conclusão que se deve tirar desse "fato'' é que o estabelecimento de Israel como consequência do genocídio do povo judeu pelos nazistas foi injusto com os palestinos. O cerne dessa afirmação é que nem o povo palestino nem sua liderança tiveram qualquer responsabilidade pelo Holocausto e, se alguma reparação é devida ao povo judeu, ela deve ser feita pela Alemanha e

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não pelos palestinos. Os propositores desse argumento histórico sugerem que o Ocidente criou o Estado Judeu por causa de sua culpa no Holocausto. Conforme esse raciocínio, seria compreensível se uma parte da Alemanha (ou da Polônia, da Lituânia, da Letônia, da França, da Áustria, ou de outras nações colaboradoras) tivesse sido alocada como terra dos judeus -- mas, por que a Palestina? A Palestina, de acordo com essa afirmação, foi tão "vítima'' quanto os judeus.

Ouço esse questionamento nos campi universitários nos Estados Unidos, e mais ainda nos da Europa.

A verdade, porém, é que a liderança palestina, apoiada pelas massas palestinas, teve um papel significativo no Holocausto de Hitler.

O líder oficial dos palestinos, Haj Amin Al-Husseini, passou os anos da guerra em Berlim, com Hitler, trabalhando como consultor sobre questões judaicas. Ele foi levado a um tour por Auschwitz e expressou apoio ao assassinato em massa dos judeus europeus. Ele também buscou "resolver os problemas do elemento judeu na Palestina e em outros países árabes'', empregando "o mesmo método'' que estava sendo usado "nos países da coligação entre Hitler, Mussolini e, posteriormente, o Japão''. Ele não ficaria satisfeito com os judeus residentes na Palestina -- muitos dos quais eram descendentes de judeus sefaraditas, que haviam vivido ali por centenas, ou até milhares de anos -- permanecendo como uma minoria em um Estado muçulmano. Como Hitler, ele queria ver-se livre de "todo judeu que restasse''. Como Husseini escreveu em suas memórias: "Nossa condição fundamental para cooperar com a Alemanha foi uma ajuda para erradicar até o último judeu da Palestina e do mundo árabe. Pedi a Hitler por uma garantia explícita para nos permitir resolver o problema judeu de maneira que conviesse às nossas aspirações nacionais e raciais e de acordo com os novos métodos científicos empregados pela Alemanha no manejo dos seus judeus. A resposta que obtive foi: "Os judeus são seus'''.

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Aparentemente, em caso da vitória da Alemanha, o mufti estava planejando retornar à Palestina para construir um campo de extermínio, nos moldes de Auschwitz, perto de Nablus. Husseini incitou seus seguidores pró-nazistas com as seguintes palavras: "Levantem-se, ó filhos da Arábia. Lutem por seus direitos sagrados. Chacinem os judeus onde quer que os encontrarem. O sangue derramado deles agrada a Alá, nossa história e religião. Isso salvará nossa honra''.

Husseini não apenas exortou seus seguidores a matarem os judeus; ele também teve uma participação concreta na tentativa de fazer com que esse resultado acontecesse. Por exemplo, em 1944, uma unidade do comando árabe-alemão, sob as ordens de Husseini, saltou de pára-quedas na Palestina com a intenção de envenenar os poços e as fontes de água de Tel Aviv.

Husseini também ajudou a inspirar o golpe pró-nazista no Iraque e auxiliou a organizar milhares de muçulmanos nos Bálcãs em unidades militares conhecidas como divisões Handshar, que cometeram atrocidades contra os judeus iugoslavos, sérvios, e ciganos. Após um encontro com Hitler, ele registrou em seu diário:

O mufti: "Os árabes eram os amigos naturais dos alemães. (...) Portanto, eles foram preparados para cooperar com a Alemanha de todo o seu coração e ficaram prontos para participar da guerra, não apenas negativamente, cometendo atos de sabotagem e de instigação de revoluções, mas também positivamente, pela formação de uma Legião Árabe. Nesse conflito, os árabes estavam batalhando pela independência e unidade da Palestina, da Síria e do Iraque...''.

Hitler: "A Alemanha estava resolvida, passo a passo, a pedir a uma nação europeia após a outra para resolver seu problema judaico, e, no devido tempo, a direcionar um apelo semelhante também a nações não-européias. O objetivo da Alemanha seria, então, somente a destruição do elemento judaico que estivesse residindo na esfera árabe, sob a proteção do poder

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britânico. No momento em que as divisões de tanques e os esquadrões aéreos alemães chegarem ao sul do Cáucaso, o apelo público requisitado pelo grão-mufti poderia ser feito ao mundo árabe''.

Hitler assegurou a Husseini de que maneira ele seria considerado a partir de uma vitória nazista e "da destruição do elemento judeu residindo na esfera árabe''. Nessa hora, o mufti seria o porta-voz mais dominante para o mundo árabe. Seria, então, tarefa dele dar início às operações que havia preparado secretamente.

As significativas contribuições de Husseini ao Holocausto foram multiformes: primeiro, ele pleiteou com Hitler o extermínio dos judeus europeus e aconselhou os nazistas como procederem para tanto; segundo, ele visitou Auschwitz e instou Eichmann e Himmler a acelerarem o ritmo do assassinato em massa; terceiro, ele, pessoalmente, impediu 4.000 crianças, acompanhadas por 500 adultos, de deixarem a Europa e fez com que fossem enviadas a Auschwitz e mortas nas câmaras de gás; quarto, ele impediu outros dois mil judeus de deixarem a Romênia e irem para a Palestina, e outros mil de deixarem a Hungria e irem para a Palestina, judeus esses que foram subseqüentemente enviados para os campos de extermínio; quinto, ele organizou a matança de 12.600 judeus bósnios por muçulmanos, a quem ele recrutou para a divisão nazista-bósnia da Waffen-SS. Ele foi também um dos poucos não-germânicos que tomou conhecimento do extermínio praticado pelos nazistas enquanto ele estava acontecendo. Foi na qualidade oficial de líder do povo palestino e seu representante oficial que ele fez seu pacto com Hitler, passou os anos da guerra em Berlim, e trabalhou ativamente com Eichmann, Himmler, von Ribbentrop, e com o próprio Hitler para "acelerar'' a solução final através do extermínio dos judeus da Europa e do planejamento para exterminar os judeus da Palestina.

O grão-mufti não apenas teve um papel significativo no assassinato dos judeus europeus, mas também buscou replicar o genocídio dos judeus em Israel durante a guerra que resultou na chamada Nakba. A guerra iniciada

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pelos palestinos contra os judeus em 1947 e a guerra iniciada pelos árabes em 1948 contra o novo Estado de Israel, foram guerras genocidas. O alvo não era meramente fazer uma purificação étnica contra os judeus da área, mas a total aniquilação deles. Os líderes assim o disseram e as ações de seus subordinados refletiram o objetivo genocida. Eles receberam auxílio de ex-militares nazistas -- membros da SS e da Gestapo -- aos quais havia sido dado refúgio no Egito, por causa da instauração dos processos por crimes de guerra, e que tinham sido recrutados pelo grão-mufti para completar o trabalho de Hitler.

Também é oportuno dizer que a solidariedade e o apoio pró-nazista de Husseini eram extensamente difundidos entre seus seguidores palestinos, que o consideravam como herói mesmo após a guerra e com a revelação da participação que ele teve nas atrocidades nazistas. A famigerada fotografia de Husseini com Hitler, juntos em Berlim, era ostentada orgulhosamente em muitos lares palestinos, mesmo depois que as atividades de Husseini no Holocausto se tornaram amplamente conhecidas e elogiadas entre os palestinos.

Husseini ainda é considerado por muitos como o "George Washington'' do povo palestino, e se os palestinos conseguissem um Estado para si, ele seria homenageado como fundador. O mufti foi o herói deles, a despeito de -- e muito provavelmente por causa de -- seu papel no genocídio contra o povo judeu, ao qual ele apoiou e prestou assistência abertamente. De acordo com o autor da biografia de Husseini: "Grandes partes do mundo árabe compartilharam da solidariedade [de Husseini] aos alemães nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. (...) A popularidade de Haj Amin entre os árabes palestinos e dentro dos países árabes realmente aumentou mais do que nunca durante o período em que esteve com os nazistas''.

Em 1948, o Conselho Nacional Palestino elegeu Husseini como seu presidente, embora ele fosse um criminoso de guerra procurado, que vivia exilado no Egito. De fato, Husseini ainda hoje é reverenciado entre muitos

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palestinos como herói nacional. Yasser Arafat, numa entrevista realizada em 2002 e reeditada no jornal palestino Al-Quds em 2 de agosto de 2002, chamou Husseini de "nosso herói'', referindo-se ao povo palestino. Arafat também se orgulhava de ser "um dos soldados das tropas'', embora ele soubesse que Husseini era "considerado um aliado dos nazistas''. Atualmente, muitos palestinos em Jerusalém Oriental querem fazer da casa dele um santuário. (Ironicamente, essa mesma casa foi comprada por um judeu para construir o controvertido conjunto residencial judaico em Jerusalém Oriental.)

Portanto, é um mito -- outro mito perpetrado pelo comandante fabricador de mitos do Irã, bem como pelo Hamas e por muitos da extrema esquerda que buscam demonizar Israel -- que os palestinos "não tiveram nenhuma participação'' no Holocausto. Considerando o apoio concreto dado pela liderança e pelas massas palestinas ao lado perdedor de uma guerra genocida, foi mais do que justo que as Nações Unidas oferecessem a eles um Estado próprio em mais da metade das terras aráveis do Mandato Britânico.

Os palestinos rejeitaram aquela oferta e várias outras desde então porque queriam que não houvesse um Estado judaico mais do que desejavam seu próprio Estado. Essa era a posição de Husseini. O Hamas ainda tem a mesma posição. Talvez a nova "guerra cultural'' deles finalmente faça com que reconsiderem -- e aceitem a solução de dois Estados.

A miséria causada pelos árabes Por Nonie Darwish

Doadores internacionais garantiram quase 4,5 bilhões de dólares como ajuda para Gaza no início deste mês. Nestes últimos anos, tem sido muito penoso

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para mim testemunhar a situação de deterioração humana na estreita faixa onde morei quando era criança, nos anos 1950.

A mídia tem a tendência de atribuir o declínio de Gaza somente às ações militares e econômicas israelenses contra o Hamas. Mas tal análise míope ignora a causa fundamental do problema: 60 anos de política árabe objetivando a perpetuação do status dos palestinos como refugiados sem pátria, a fim de usar o sofrimento deles como uma arma contra Israel.

Quando eu era criança, em Gaza, nos anos 1950, experimentei os primeiros resultados dessa política. O Egito, que então controlava o território, realizava operações do tipo guerrilha contra Israel a partir do território de Gaza. Meu pai comandava essas operações, executadas pelos “fedayeen”, palavra árabe que significa “auto-sacrifício”. Naquela época, Gaza já era a linha de frente da jihad [guerra santa] árabe contra Israel. Meu pai foi assassinado pelas forças israelenses em 1956.

Foi naqueles anos que a Liga Árabe iniciou sua política de refugiados palestinos. Países árabes criaram leis especiais projetadas para tornar impossível a integração de refugiados palestinos da guerra dos árabes contra Israel em 1948. Mesmo os descendentes dos refugiados palestinos que nascem em outro país árabe e moram nele por toda a sua vida não podem, jamais, obter passaporte daquele país. Mesmo que se casem com cidadãos de um país árabe, não podem se tornar cidadãos do país de seu cônjuge.

Devem permanecer “palestinos” mesmo que jamais tenham colocado os pés na Margem Ocidental ou em Gaza.

Essa política de forçar uma identidade palestina sobre essas pessoas eternamente e de condená-las a uma vida miserável em um campo de refugiados foi projetada para perpetuar e exacerbar a crise dos refugados palestinos.

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O mesmo se deu com a política árabe de superpopular Gaza. A UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência Para os Refugiados Palestinos), cujo principal apoio político vem de países árabes, estimula altas taxas de natalidade, premiando as famílias que têm muitos filhos. Yasser Arafat disse que o útero de uma mulher palestina era a melhor arma que ele possuía.

Países árabes sempre se esforçam por classificar tantos palestinos quanto possível como “refugiados”. Como resultado, cerca de um terço dos palestinos em Gaza ainda vive em campos de refugiados. Durante 60 anos os palestinos têm sido usados e abusados por governos árabes e terroristas palestinos na guerra contra Israel.

Agora é o Hamas, uma organização terrorista islâmica apoiada pelo Irã, que está usando e abusando dos palestinos para seus próprios propósitos. Enquanto os líderes do Hamas se escondiam em seus bunkers e túneis cheios de provisões, os quais eles prepararam antes de provocarem Israel a atacá-los, civis palestinos eram expostos e pegos no fogo cruzado mortal entre o Hamas e os soldados israelenses.

Como resultado de 60 anos dessa política árabe, Gaza se tornou um campo de prisioneiros para 1,5 milhões de palestinos. Tanto Israel quanto o Egito temem a infiltração terrorista de Gaza – mais ainda desde que o Hamas assumiu o governo – e mantêm controle acirrado sobre suas fronteiras com Gaza. Os palestinos continuam a sofrer dificuldades porque Gaza continua a servir como plataforma de lançamento para ataques terroristas contra cidadãos israelenses. Esses ataques vêm na forma de mísseis do Hamas que, indiscriminadamente, têm como alvo jardins de infância, casas e estabelecimentos comerciais.

O Hamas continuou com esses ataques por mais de dois anos depois que Israel se retirou de Gaza na esperança de que esse passo daria início ao processo de construção de um Estado palestino, levando finalmente à solução pacífica de dois Estados para o conflito entre Israel e a Palestina. Não

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havia “ciclo de violência” na época, nenhuma justificativa para nada que não fosse paz e prosperidade. Mas, em vez disso, o Hamas escolheu a jihad islâmica. As esperanças dos moradores de Gaza e de Israel foram “satisfeitas” com miséria para os palestinos e mísseis para os israelenses.

O Hamas, um representante do Irã, tornou-se um perigo não apenas para Israel, mas para os palestinos, e também para os Estados árabes vizinhos, que temem que o avanço do islã radical possa desestabilizar seus países.

Os árabes alegam amar o povo palestino, mas parecem mais interessados em sacrificá-lo. Se realmente amassem seus irmãos palestinos, eles pressionariam o Hamas para parar de atirar mísseis contra Israel. Em longo prazo, o mundo árabe deve terminar com o status de refugiados dos palestinos e seu consequente desejo de prejudicar Israel. Está na hora de os 22 países árabes abrirem suas fronteiras e absorverem os palestinos de Gaza que desejam começar vida nova. Está na hora do mundo árabe realmente ajudar os palestinos, e não apenas usá-los.

Nonie Darwish cresceu na cidade de Gaza e no Cairo (Egito). Hoje é cidadã americana e vive nos EUA. Escritora independente e palestrante. Administra o site www.arabsforisrael.com.

A marcha das Brigadas Vermelhas-Verdes Por Caroline Glick

A Aliança Vermelha-Verde* está em marcha. O Parlamento Europeu, controlado pelos esquerdistas, aprovou em Strasburgo a resolução endossando o Relatório Goldstone. Esse relatório, deve-se lembrar, nega o direito de autodefesa a Israel, alegando que as ações de Israel para se defender das agressões palestinas durante o curso da Operação Chumbo Moldado foram crimes de guerra.

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A resolução fez mais do que acatar as reivindicações infundadas do relatório Goldstone. Ela buscou silenciar aqueles que estão tentando fazer a porção vermelha da Aliança Vermelha-Verde pagar um preço por instigar a jihad (guerra santa).

A resolução "expressa sua preocupação com relação à pressão imposta às ONGs envolvidas na preparação do Relatório Goldstone e em investigações posteriores, e convoca as autoridades de todos os lados para se absterem de quaisquer medidas que restrinjam as atividades dessas organizações".

Essa declaração foi inserida para defender as organizações israelenses apoiadas pela União Europeia - espantosamente associadas com o New Israel Fund (NIF, Fundo Novo Israel), uma organização de extrema-esquerda - que tiveram um papel importantíssimo em fornecerem a Richard Goldstone e seus associados as falsas alegações de ações ilegais [que teriam sido cometidas] pelos soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI). Essas organizações - e o NIF - têm sido sujeitas, e de forma correta, a um escrutínio minucioso em Israel depois que seu papel na compilação do Relatório Goldstone foi revelado em janeiro pela organização estudantil israelense Im Tirzu.

Israel não é o único alvo da Aliança Vermelha-Verde. Suas operações se estendem pelo globo. Às vezes, como no caso do relatório Goldstone, a esquerda faz as acusações. Outras vezes, como no caso da ofensiva dos mísseis lançados pelo Hamas contra Israel, que precedeu a Operação Chumbo Moldado, os jihadistas atacam primeiro.

Em geral, os jihadistas são motivados a atacar os não-muçulmanos por causa de sua crença religiosa de que o islamismo deve dominar o mundo. E, em geral, a justificativa da esquerda pela agressão jihadista parte da sua crença neo-marxista de que o Estado-Nação liberal é a raiz de todos os males. Se a esquerda reconhece ou não que, se bem sucedido, seu conluio com os jihadistas levará à destruição da liberdade humana é algo que está sujeito a

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debate. Mas, se a esquerda entende ou não as consequências de suas ações, o fato é que ela tem tido um papel-chave em insuflar esse objetivo.

Massacrando os cristãos

Na Nigéria, no início de março, os jihadistas tomaram a iniciativa. Com a aparente colaboração do exército nigeriano dominado pelos muçulmanos, as gangues muçulmanas entraram em três vilarejos predominantemente cristãos ao redor da cidade de Jos e mataram mais de 500 civis inocentes, inclusive crianças, com facões, machados e punhais.

De acordo com relatos de testemunhas oculares, algumas vítimas foram escalpeladas e muitas foram estupradas. A maioria delas teve seus pés e suas mãos cortados. Bebês e crianças estavam entre os que foram chacinados.

O massacre foi premeditado. De acordo com porta-vozes do governo, os residentes muçulmanos foram avisados dois dias antes do ataque. Para assegurar que suas vítimas eram cristãs, os jihadistas dirigiam-se a elas em fulani, a língua falada pela maioria dos muçulmanos. Se as vítimas respondessem em fulani, estavam salvas. Caso contrário, eram golpeadas até a morte.

Poder-se-ia esperar que o massacre seria alvo de noticiários em nível mundial. Mas não foi o que aconteceu. Na verdade essa notícia mal foi notada.

Além disso, a cobertura insuficiente que esse acontecimento bárbaro recebeu da mídia foi contaminada pela obscuridade e falta de precisão. Os comentaristas e repórteres esconderam a identidade dos agressores e das vítimas, caracterizando a chacina jihadista como "violência sectária".

Eles também buscaram ofuscar o significado da chacina, afirmando que as gangues de muçulmanos decapitaram bebês em resposta a disputas por propriedades tribais.

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Jessica Olien, do jornal The Atlantic, não apenas fez essas afirmações, como também não reagiu às dimensões da atrocidade, escrevendo o seguinte: "Vale a pena observar que a polícia confirmou apenas a morte de 109 pessoas".

Depois de minimizar o número de mortes, Olien voltou seus punhais literários contra as vítimas, afirmando que foram elas que fizeram com que isso acontecesse. Como disse ela, "é difícil não comparar o ataque do fim de semana com um que aconteceu em janeiro, no qual 150 pessoas da mesma comunidade muçulmana responsável pelo ataque de domingo foram brutalmente assassinadas. O ataque de 7 de março recebeu consideravelmente mais atenção internacional do que o incidente anterior".

Ah!, quanta injustiça. Segundo Olien, a atrocidade excessivamente noticiada retrata injustamente os cristãos assassinados como sendo vítimas. Ela sabe melhor: os muçulmanos estavam simplesmente retaliando os ataques que haviam sofrido.

Infelizmente para Olien e sua erudita justificativa para o barbarismo, está longe de ter sido esclarecido que as vítimas da violência de janeiro fossem muçulmanas. Escrevendo para o jornal Times de Londres, a baronesa britânica Caroline Cox afirmou que as vítimas principais da chacina de janeiro eram cristãs, e não muçulmanas.

De acordo com Cox, testemunhas oculares dos eventos de janeiro "indicaram que a matança começou quando jovens muçulmanos atacaram cristãos num domingo de manhã enquanto estes iam para a igreja. Os muçulmanos também foram mortos, quando aqueles que estavam sendo atacados começaram a revidar".

Cox continuou informando que o ataque de março seguiu um padrão agora familiar. Os ataques "são iniciados por muçulmanos extremistas bem armados, cantando slogans militantes, atacando e matando cristãos e outros cidadãos não-muçulmanos e destruindo casas e locais de culto. 'Nos

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primeiros estágios do ataque, os militantes muçulmanos levam os cadáveres para mesquitas onde os fotografam e enviam as fotografias para a mídia, criando a impressão de que esses mortos são vítimas muçulmanas".

A mídia internacional fica ansiosa para aceitar, sem comprovações, essas falsas acusações sobre uma suposta vitimização de muçulmanos nas mãos daquelas que são as vítimas reais. E igualmente ansiosos ficam seus camaradas esquerdistas em círculos governamentais internacionais.

Na esteira do massacre de março, a secretária de Estado americana Hillary Clinton e o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon emitiram declarações em que não fizeram quaisquer distinções entre as vítimas e os agressores. Ambos solicitaram aos "dois lados" que agissem com "moderação".

Na aparente disposição da esquerda de esconder a natureza dos ataques de janeiro e depois menosprezar o massacre de março, temos um exemplo da facilitação esquerdista quanto à violência dos jihadistas. Na Nigéria, logicamente, os jihadistas são os atores principais e os esquerdistas são meramente seus ajudantes.

Em Israel, os esquerdistas apoiam os jihadistas

Em Israel, os papéis são geralmente invertidos. Aqui é a esquerda que conduz os jihadistas pela mão. Veja, por exemplo, a campanha da esquerda contra os direitos de propriedade dos judeus em Jerusalém. Nos bairros Sheik Jarrah/Shimon Hatzadik, as edificações que pertenciam aos judeus foram confiscadas pela Jordânia em 1948, depois que ela conquistou a cidade. Por toda a década passada, os proprietários judeus lutaram nos tribunais para resgatarem seus direito às edificações e para removerem os árabes intrusos que se apossaram delas.

Tribunal após tribunal manteve os direitos dos judeus às propriedades. E, de fato, há mais de uma década, os invasores aceitaram um acordo no qual reconheceram os direitos dos reais proprietários e estes concordaram em

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permitir que os invasores ficassem ali contanto que pagassem o aluguel. Mas, quando os invasores pararam de pagar o aluguel, a esquerda os animou a se recusarem a desocupar os imóveis e a tentarem anular em juízo aquele antigo acordo. Finalmente, o caso chegou à Suprema Corte, que também reconheceu os direitos dos proprietários judeus e ordenou que a polícia executasse a ordem judicial e removesse os invasores ilegais.

A polícia removeu os invasores e dentro de poucas horas mudaram-se para lá inquilinos judeus, em consonância com um acordo com os proprietários legais dos prédios. Desde que se mudaram, os judeus têm sofrido constantes ataques de seus vizinhos árabes. Eles têm sido espancados e ameaçados de morte.

Nesse meio tempo, a esquerda transformou o caso dos invasores ilegais em uma causa célebre. Recentemente, milhares de esquerdistas fizeram uma manifestação anti-semita do lado de fora do complexo, exigindo que os judeus fossem retirados de suas casas. O argumento, logicamente, é que a permissão de que os judeus exerçam seus direitos legais de propriedade por residirem pacificamente em uma área predominantemente árabe é uma "provocação" inaceitável. Os invasores árabes que estão tentando roubar as propriedades, por outro lado, são as "vítimas".

Em vez de caracterizarem os manifestantes como anti-semitas, que estão atiçando o fogo da violência contra judeus inocentes por seu crime de morarem legalmente onde escolherem, a mídia local e internacional descreveu os manifestantes como "ativistas pacíficos" e "ativistas dos direitos humanos".

Por mudarem a realidade e por patrocinarem a causa dos jihadistas contra os direitos humanos de suas vítimas, esses manifestantes esquerdistas são tratados como celebridades por seus camaradas da mídia e em chancelarias do mundo ocidental. O Departamento de Estado americano disse que era "inaceitável" que os judeus se mudassem para suas casas.

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Do mesmo modo, as Nações Unidas se apressaram em aceitar a afirmação da esquerda de que os direitos humanos exigem a negação dos direitos de propriedade aos judeus devido à sua etnicidade. Seu chefe do processo de paz, Richard Miron, disse: "Acho extremamente deploráveis as ações totalmente inaceitáveis de Israel nas quais as forças de segurança israelenses expulsaram judicialmente as famílias de refugiados palestinos (...) para permitir que os colonizadores tomassem posse de suas propriedades".

Esse é um comentário deprimente, que revela onde chegamos em nosso tempo, em que porta-vozes de democracias e supostos defensores dos direitos humanos estão dispostos a declarar publicamente que dar aos judeus igual proteção sob a lei é uma imposição inaceitável sobre seus vizinhos intolerantes. Mas a noção de que os judeus têm direitos iguais de comprar e possuir suas propriedades em áreas de Jerusalém, onde sofreram limpeza étnica ilegal por parte dos jordanianos em 1948, é agora uma grande causa combatida pela esquerda. E pode-se apenas pressupor que os jihadistas logo darão seu passo - para a gratificação de seus camaradas esquerdistas - contra os inocentes judeus de Jerusalém.

Isso nos traz aos acontecimentos que cercaram a visita de Joseph Biden, o vice-presidente dos Estados Unidos, a Israel. No primeiro dia de sua visita, num ato de rotina governamental, o Comitê de Planejamento e Edificações de Jerusalém aprovou os planos para construir 1.600 unidades habitacionais no bairro Ramat Shlomo. Esse bairro é um local com mais de 20.000 residentes, localizado entre os ainda mais populosos bairros de Ramot e Sanhedriya. De uma perspectiva israelense, ele é tão controvertido quanto Yad Eliahu em Tel Aviv ou Hadar em Haifa (ou seja, nada).

Mas não de uma perspectiva vermelha. Alguns minutos depois da decisão ter sido anunciada, a esquerda a usou como prova da venalidade de Israel. Por aprovar a construção de novas residências em sua capital, o governo foi condenado repetidamente. Os palestinos e a Liga Árabe embarcaram na onda. E agora, graças ao ataque violento dos esquerdistas contra Israel,

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qualquer vítima de assassinato em Jerusalém - ou em qualquer outro lugar de Israel - será considerada merecedora da justificada ira muçulmana.

Observando a acusação esquerdista, conduzida neste caso pela mídia israelense que estava espumando pela boca, Biden movimentou-se rapidamente. O homem, que veio a Israel em uma ofensiva cativante, já não conseguia esconder as verdadeiras simpatias do governo Obama. Depois de declarar seu inegável amor e fidelidade a Israel algumas horas antes, Biden mudou de rumo e condenou Israel por "enfraquecer" as perspectivas de paz.

Quando se referiu à sua condenação da decisão israelense de construir casas em sua capital, Biden disse: "Às vezes, apenas um amigo pode falar as verdades mais duras". E, ao menos quanto à dureza, ele está correto.

E assim, no espírito desse sentimento, deve ser dito: quando aqueles que pretendem apoiar a paz e os direitos humanos unem suas forças com a Aliança Vermelha-Verde, na verdade o que estão apoiando é a intolerância, a violência, o assassinato e, finalmente, a destruição da liberdade humana. Se os esquerdistas reconhecem ou não o significado de suas ações, já está na hora de serem responsabilizados pela sua defesa da jihad, da mesma forma como os jihadistas por executarem essa destruição.

* Vermelha = esquerdista. Verde = islâmica (verde é a cor do islã).

Como vencer o choque de civilizações Por Ayaan Hirsi Ali

O que as polêmicas em torno da mesquita planejada para perto do Marco Zero, a expulsão de missionários americanos do Marrocos, no começo deste ano, a proibição de minaretes na Suíça, ano passado, e a recente proibição das burcas na França têm em comum ? Todas as quatro foram apresentadas

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na mídia ocidental como questões de tolerância religiosa. Mas esta não é a essência delas. Fundamentalmente, todas elas são sintomas do que o falecido cientista político Samuel Huntington chamou de "Choque de Civilizações", e particularmente o choque entre o Islã e o Ocidente.

Vale a pena resumir brevemente o argumento de Huntington para os que agora só se recordam vagamente de seu impressionante título. O constituinte essencial do mundo do pós-guerra, escreveu ele, são sete ou oito civilizações históricas, dentre as quais a ocidental, a muçulmana e a confuciana são as mais importantes.

O equilíbrio de poder entre estas civilizações, sustentou ele, está mudando. O Ocidente está declinando em termos de poder relativo, o Islã está explodindo demograficamente e as civilizações asiáticas - especialmente a China - estão em ascensão econômica. Huntington também disse que uma ordem mundial de base civilizacional está emergindo, na qual estados que compartilham afinidades culturais cooperarão uns com os outros e se agruparão entre si em torno dos estados mais avançados de sua civilização.

As pretensões universalistas do Ocidente o estão cada vez mais levando a conflitos com outras civilizações, e de forma mais grave com o Islã e a China. Assim, a sobrevivência do Ocidente depende dos americanos, europeus e outros ocidentais reafirmarem sua civilização compartilhada como única - e se unirem para defendê-la dos desafios de civilizações não-ocidentais.

O modelo de Huntington, especialmente depois da queda do comunismo, não foi popular. A ideia da moda foi apresentada por Francis Fukuyama em um ensaio de 1989, "O Fim da História," no qual ele escreveu que todos os estados convergiriam para um só padrão institucional de democracia capitalista liberal e nunca iriam à guerra umas com as outras. O cenário róseo e equivalente dos neoconservadores seria um mundo "unipolar" de hegemonia americana sem rivais. De qualquer modo, nos dirigíamos para um Mundo Único.

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O presidente Obama, a seu modo, é um unimundialista. Em seu discurso de 2009 no Cairo, ele apelou por uma nova era de compreensão entre a América e o mundo muçulmano. Seria um mundo baseado no "respeito mútuo e ... na verdade de que a América e o Islam não são excludentes e não precisam estar em competição. Ao invés disto, deveriam convergir e compartilhar valores. "

A esperança do presidente era a de que os muçulmanos moderados aceitariam com avidez este convite para serem amigos. A minoria extremista - atores não-estatais, como a al Qaeda - seria expurgada com aviões bombardeiros não-tripulados.

As coisas não aconteceram conforme o plano, é claro. E uma ilustração perfeita da futilidade desta abordagem e da superioridade do modelo de Huntington é o comportamento recente da Turquia.

De acordo com a concepção do Mundo Único, a Turquia é uma ilha de moderação muçulmana em um mar de extremismo. Sucessivos presidentes americanos exortaram a EU a aceitar a Turquia como membro com base nesta suposição. Mas a ilusão da Turquia como amiga moderada do Ocidente se estilhaçou.

Há um ano, o presidente da Turquia, Recep Erdogan, parabenizou o iraniano Mahmoud Ahmadinejad por sua reeleição, depois de ele ter roubado escandalosamente no pleito. Então, a Turquia juntou forças com o Brasil para tentar diluir o esforço liderado pelos Estados Unidos para endurecer as sanções da ONU visando parar o programa de armas nucleares do Irã. Por último, a Turquia patrocinou a "flotilha humanitária", planejada para romper o bloqueio de Israel a Gaza e dar ao Hamas uma vitória nas relações públicas.

É verdade que ainda restam secularistas em Istambul, os quais reverenciam o legado de Mustafá Kemal Ataturk, o fundador da República da Turquia. Mas eles não têm nenhum controle sobre os principais ministérios e seu poder sobre o exército está evanescendo. A conversa de hoje em Istambul é

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abertamente sobre uma "alternativa otomana," que remonta ao tempo em que o sultão mandava em um império que se estendia do Norte da África ao Cáucaso.

Se não se pode confiar mais em que a Turquia se inclinará para o Ocidente, em quem se pode confiar no mundo muçulmano? Todos os países árabes, exceto o Iraque - uma democracia precária criada pelos Estados Unidos - são governados por déspotas de vários matizes. E todos os grupos de oposição que têm algum apoio significativo entre as populações locais são controlados por agremiações islâmicas, como a Irmandade Muçulmana Egípcia.

Na Indonésia e na Malásia*, movimentos islamistas exigem a expansão da Xaria. No Egito, o tempo de Hosni Mubark está se acabando. Deveriam os Estados Unidos apoiar o empossamento de seu filho? Em caso positivo, o resto do mundo muçulmano logo estará acusando a administração Obama de fazer um jogo duplo - se há eleições no Iraque, por que não no Egito? Analistas têm observado que em eleições livres e limpas, uma vitória da Irmandade Muçulmana não pode ser descartada.

Argélia. Somália. Sudão. É difícil pensar em um só país predominantemente muçulmano que esteja se comportando de acordo com o roteiro do Mundo Único.

A maior vantagem do modelo civilizacional de relações internacionais de Huntington é que ele reflete o mundo como ele é - não como gostaríamos que ele fosse. Ele nos permite distinguir amigos de inimigos. E nos ajuda a identificar os conflitos internos dentro de civilizações, e particularmente as rivalidades históricas entre árabes, turcos e persas pela liderança do mundo islâmico.

Mas nossa política não pode ser só a de dividir e conquistar. Nós precisamos reconhecer em que medida o Islã radical é o resultado de uma ativa campanha de propaganda. De acordo com um relatório da CIA de 2003, os sauditas investiram pelo menos dois bilhões de dólares ao ano, durante um

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período de 30 anos, para disseminarem sua marca de fundamentalismo islâmico. A resposta ocidental, em promover de nossa civilização, foi insignificante.

Nossa civilização não é indestrutível: ela precisa ser ativamente defendida. Esta talvez tenha sido a principal sacada de Huntington. O primeiro passo rumo à vitória neste choque de civilizações é entender como o outro lado está empenhado nele - e nos livrarmos da ilusão do Mundo Único.

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Nota:

A Sra. Ali*, ex-membro do parlamento holandês, é autora de "Nomad: From Islam to America - A Personal Journey through the Clash of Civilizations," [Nômade: do Islã para a América - Uma Jornada Pessoal através do Choque de Civilizações], que acaba de ser publicado pela Free Press.

Tradução: Larry Martins, do blog Dextra - http://veradextra.blogspot.com/

Fonte:

The Wall Street Journal, 18 de Agosto de 2010

Islã: 270 milhões de cadáveres em 1400 anos

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CAPIÍTULO 6

Entrevista com Bill Warner pela Frontpage Magazine

Não importa o quanto se seja simpático com um golpista, ele vai se aproveitar da pessoa. Não há acordo com a ética dualista. Em resumo, a política, ética e lógica islâmicas não podem fazer parte de nossa civilização. O Islã não se deixa assimilar, ele domina. Não existe nunca esta história de "conviver" com o Islã.

Entrevista realizada pela Frontpage Magazine a Bill Warner, diretor do Centro para o Estudo do Islã Político (CSPI). O objetivo do CSPI é ensinar a doutrina do Islã através de seus livros e ele já produziu uma série com este enfoque. O sr. Warner não escreveu a série do CSPI, mas atua como agente para o grupo de estudiosos que são os autores.

FP: Bill Warner, bem-vindo à Frontpage Magazine.

Warner: Obrigado, Jamie, por esta oportunidade.

FP: Fale-nos sobre o Centro para o Estudo do Islã Político.

Warner: O Centro para o Estudo do Islã Político é um grupo de estudiosos dedicados ao estudo científico dos textos fundamentais do Islã - Corão, Sira (vida de Maomé) e Hadith (tradições sobre Maomé). Há duas áreas para se estudar no Islã, sua doutrina e sua história, ou, na visão do CSPI - a teoria e seus resultados. Nós estudamos a história para ver os resultados práticos ou experimentais da doutrina.

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O CSPI parece ser o primeiro grupo a usar a estatística para estudar a doutrina. Os estudos científicos anteriores do Corão se dedicavam primariamente aos estudos da língua árabe.

Nosso primeiro princípio é que o Corão, a Sira e o Hadith devem ser vistos como um todo. Nós os chamamos de "a Trilogia Islâmica" para enfatizar a unidade dos textos.

Nossa maior inovação intelectual foi ver que o dualismo é a fundação e a chave para a compreensão do Islã. Tudo no Islã vem em pares, a começar por sua declaração fundamental: (1) não há outro deus além de Alá e (2) Maomé é Seu profeta. Portanto, o Islã é Alá (Corão) e a Suna (palavras e feitos de Maomé, encontrados na Sira e no Hadith).

Um mar de tinta foi desperdiçado tentando responder a pergunta: o que é o Islã? O Islã é a religião da paz? Ou o verdadeiro Islã é uma ideologia radical? Um muçulmano moderado é que é verdadeiro muçulmano?

Isto lembraria a um cientista a as velhas discussões sobre a luz. A luz é uma partícula ou uma onda? As discussões pendiam para um lado e para outro. A mecânica quântica nos deu a resposta. A luz é dual. Ela é tanto uma partícula quanto uma onda. A qualidade que se manifesta depende das circunstâncias. O Islã funciona da mesma maneira.

Nossa primeira pista sobre o dualismo está no Corão, que, na verdade, são dois livros, o Corão de Meca (inicial) e o Corão de Medina (final). A descoberta da lógica do Corão vem do grande número de contradições nele. Num nível superficial, o Islã resolve estas contradições recorrendo à "abrogação". Isto significa que o verso escrito posteriormente se sobrepõe ao verso anterior. Mas, na verdade, como o Corão é considerado pelos muçulmanos como a palavra perfeita de Deus, ambos os versos são sagrados e verdadeiros. Esta é a fundação do dualismo. Ambos os versos estão "certos." Ambos os lados da contradição são verdadeiros na lógica dualista. As circunstâncias decidem qual verso é usado.

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Por exemplo:

(Corão de Meca) 73:10: Ouve o que eles [os infiéis] dizem com paciência e afasta-te deles com dignidade.

Da tolerância nós vamos para a máxima intolerância, nem mesmo o Senhor do Universo consegue suportar os infiéis:

(Corão de Medina) 8:12: Então teu Senhor falou a Seus anjos e disse, "Eu estarei contigo. Dá força aos fiéis. Eu infundirei terror nos corações dos infiéis, cortarei suas cabeças e até as pontas de seus dedos!"

Toda a lógica ocidental está baseada na lei da contradição - se duas coisas se contradizem, então pelo menos uma delas é falsa. Mas a lógica islâmica é dualista; duas coisas podem contradizer uma à outra e ambas serem verdadeiras.

Nenhum sistema dualista pode ser medido por uma só resposta. Esta é a razão pela qual as discussões sobre o que constitui o "verdadeiro" Islã prosseguem indefinidamente e nunca são resolvidas. Uma única resposta correta não existe.

Sistemas dualistas só podem ser mensurados pela estatística. É inútil argumentar que um só lado do dualismo é verdadeiro. Para usar uma analogia, a mecânica quântica sempre dá uma resposta estatística a todas as perguntas.

Como exemplo do uso da estatística, olhe a pergunta: qual é a verdadeira jihad, a jihad da luta interior, espiritual, ou a jihad da guerra? Procuremos a resposta em Bukhari (o Hadith), já que ele fala repetidas vezes da jihad. Em Bukhari, 97% das referências à jihad são sobre guerra e 3% sobre luta interior. A jihad é guerra? Sim - 97%. A Jihad é luta interior? Sim - 3%. Então, quando se escreve um artigo, pode-se argumentar a favor de uma ou outra.

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Mas na verdade, quase toda discussão sobre o Islã pode ser respondida com: todas as alternativas acima. Ambos os lados da dualidade estão corretos.

FP: Porque, em sua opinião, há tanta ignorância sobre a história e a doutrina do Islã político no Ocidente?

Warner: Primeiramente, vejamos o quanto somos ignorantes sobre a história do Islã político. Quantos cristãos conseguem dizer como a Turquia ou o Egito se tornaram islâmicos? O que aconteceu com as Sete Igrejas da Ásia, mencionadas nas cartas de Paulo? Encontre um judeu que consiga falar sobre a história da "dhimmitude" (cidadãos de segunda classe que servem ao Islã). Que europeu sabe que as mulheres brancas eram o tipo de escravo mais valorizado em Meca? Todo mundo sabe quantos judeus Hitler matou, mas encontre um infiel que saiba te dizer quantos morreram na jihad nos últimos 1400 anos.

Nossa ignorância é a mesma em relação à doutrina do Islã. Um agente do FBI recebe duas horinhas de treinamento sobre o Islã e a maior parte disto é sobre como não ofender o imã. Estamos lutando no Iraque. Quem utiliza a doutrina política e militar do Islã para planejar a estratégia? Quem consegue achar um só rabino ou pastor que tenha lido o Corão, Sira e Hadith? Qual governador, senador, parlamentar ou líder militar demonstra um conhecimento da doutrina política do Islã? Tente encontrar um curso disponível em uma faculdade sobre a doutrina política e a ética islâmica. Os universitários estudam arte, arquitetura e poesia islâmica, Sufismo e uma história gloriosa que ignora o sofrimento dos infiéis inocentes. Os universitários lêem comentários sobre o Corão e o Hadith, mas não lêem a doutrina de fato.

FP: Então, por que esta ignorância?

Warner: Comecemos pelo princípio. Quando o Islã explodiu da Arábia para dentro de um mundo bizantino em decadência, os infiéis registraram isto como uma invasão árabe. Igualmente, a invasão da Europa Oriental foi por

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turcos; a invasão da Espanha, por mouros. Nossos estudiosos foram incapazes de sequer dar nome aos invasores.

Maomé matou cada um dos intelectuais ou artistas que se opuseram a ele. Foi o medo que levou a imensa maioria da mídia a não publicar as charges de Maomé, não alguma sensibilidade imaginária. O medo é uma base fabulosa para a ignorância, mas não basta para explicar tudo. O que explica a aversão quase que psicótica ao conhecimento sobre o Islã? Além do medo, é a percepção de que o Islã político é profundamente alheio a nós.

Examinemos a base ética de nossa civilização. Toda a nossa política e ética estão baseadas em uma ética unitária que está melhor formulada na Regra de Ouro:

Trate os outros como gostaria de ser tratado.

A base desta regra é o reconhecimento de que, em certo nível, somos todos a mesma coisa. Não somos todos iguais. Qualquer partida esportiva mostrará que não temos habilidades iguais. Mas todo mundo quer ser tratado como um ser humano. Na base da Regra de Ouro - a igualdade dos seres humanos - nós criamos a democracia, acabamos com a escravidão e tratamos as mulheres em pé de igualdade política. Então a Regra de Ouro é uma ética unitária. Todas as pessoas devem ser tratadas da mesma forma. Todas as religiões têm alguma versão da Regra de Ouro, exceto o Islã.

FP: Então, como o Islã é diferente, neste contexto?

Warner: O termo "ser humano" não tem nenhum significado dentro do Islã. Não existe essa coisa de humanidade, apenas a dualidade entre o fiel e o infiel. Olhe as afirmações éticas que se encontram no Hadith. Um muçulmano não deve mentir, matar ou roubar de outros muçulmanos. Mas um muçulmano pode mentir, enganar ou matar um infiel, se isto beneficiar o Islã.

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Não existe essa coisa de afirmação universal de ética no Islã. Os muçulmanos devem ser tratados de uma forma e os infiéis de outra. O mais próximo que o Islã chega de uma afirmação universal de ética é que o mundo inteiro deve se submeter ao Islã. Depois que Maomé se tornou profeta, ele nunca tratou um infiel do mesmo modo que um muçulmano. O Islã nega a verdade da Regra de Ouro.

Aliás, está ética dualista é a base para a jihad. O sistema ético coloca o infiel como menos que humano e, portanto, é fácil matar, prejudicar ou enganar o infiel.

Veja bem, os infiéis frequentemente falham em aplicar a Regra de Ouro, mas nós podemos ser julgados e condenados a partir dela. Deixamos a desejar, mas é o nosso ideal.

Já houve outras culturas dualistas. Podemos lembrar a KKK. Mas a KKK é um dualismo simplista. O membro da KKK odeia todos os negros em todas as ocasiões; só há uma escolha. Isto é muito direto e fácil de ver.

O dualismo do Islã é mais enganador e oferece duas escolhas em relação a como tratar o infiel. O infiel pode ser tratado com simpatia, do mesmo modo que um fazendeiro trata bem seu gado. Então, o Islã pode ser "simpático", mas sob nenhuma hipótese o infiel é um "irmão" ou um amigo. Na verdade, há cerca de 14 versos no Corão que são enfáticos - um muçulmano nunca é amigo de um infiel. Um muçulmano pode ser "amistoso", mas nunca é um amigo de fato. E o grau em que um muçulmano é de fato um verdadeiro amigo é o grau em que ele não é um muçulmano, mas um hipócrita.

FP: O sr. mencionou anteriormente como a lógica é um outro ponto de profunda divergência. O sr. pode abordar o assunto?

Warner: Para reiterar, toda ciência é baseada na lei da contradição. Se duas coisas se contradizem, então pelo menos uma delas tem de ser falsa. Mas dentro da lógica islâmica, duas afirmações contraditórias podem ser

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verdadeiras. O Islã usa a lógica dualista e nós usamos a lógica unitária científica.

Como o Islã tem uma lógica dualista e uma ética dualista, ele nos é completamente alheio. Os muçulmanos pensam de forma diferente de nós e sentem de forma diferente de nós. Esta aversão faz com que evitemos aprender sobre o Islã, então somos ignorantes e permanecemos ignorantes.

Uma outra parte da aversão é a percepção de que não há acordo com a ética dualista. Não há um lugar a meio caminho entre a ética unitária e a dualista. Se uma pessoa está numa transação comercial com alguém que é um mentiroso e um trapaceiro, não há meio de evitar de ser trapaceado. Não importa o quanto se seja simpático com um golpista, ele vai se aproveitar da pessoa. Não há acordo com a ética dualista. Em resumo, a política, ética e lógica islâmicas não podem fazer parte de nossa civilização. O Islã não se deixa assimilar, ele domina. Não existe nunca esta história de "conviver" com o Islã. Suas exigências nunca cessam e as exigências devem ser cumpridas nos termos do Islã: submissão.

A última razão para nossa aversão à história do Islã político é nossa vergonha. O Islã pôs na escravidão mais de um milhão de europeus. Como muçulmanos não podem ser escravizados, era uma cristã branca que era a escrava sexual do sultão turco. Estas são coisas que não queremos encarar.

Os judeus não querem reconhecer a história do Islã político, porque eles eram dhimmis, cidadãos de segunda classe ou semiescravos, igual aos cristãos. Os judeus gostam de se lembrar de que eram conselheiros e médicos para muçulmanos poderosos, mas não importa o que o judeu fizesse ou que posição ele ocupasse, ele ainda era um dhimmi. Não há meio-termo entre ser igual e ser um dhimmi.

Por que um hindu quereria relembrar a vergonha da escravidão e a destruição de seus templos e cidades? Depois que artesãos hindus construíram o Taj Mahal, o governante muçulmano mandou cortar suas mãos

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direitas, par que eles não pudessem construir nada de tão belo para ninguém mais. A prática do suttee, a viúva se jogando na pira funeral do marido, surgiu como uma resposta ao estupro e à brutalidade da jihad islâmica enquanto ela varria o antigo Hindustão.

Os negros não querem encarar o fato de que foi um muçulmano que caçou seus ancestrais na África para vendê-los no atacado para o comerciante de escravos branco. O árabe é o verdadeiro mestre do africano. Os negros não conseguem aceitar o elo comum que eles possuem com os brancos: que tanto os europeus quanto os africanos foram escravos sob o Islã. Os negros gostam de imaginar que o Islã é seu contrapeso ao poder branco, e não que o Islã os dominou por 1400 anos.

Lógica dualista. Ética dualista. Medo. Vergonha. Não há meio-termo. Estas são as razões por que nós não queremos saber sobre a história política do Islã, sua doutrina ou ética.

FP: Então, será que existe mesmo algo como um Islã não-político?

Warner: O Islã não-político é o Islã religioso. O Islã religioso é o que um muçulmano faz para evitar o Inferno e ir para o Paraíso. Estes são os Cinco Pilares - oração, caridade aos muçulmanos, peregrinação a Meca, jejum e declarar que Maomé é o último profeta.

Mas a Trilogia é clara em relação à doutrina. Pelo menos 75% da Sira (vida de Maomé) é sobre a jihad. Cerca de 67% do Corão escrito em Meca é sobre os infiéis ou política. Do Corão de Medina, 51% é dedicado aos infiéis. Cerca de 20% do Hadith de Bukhari é sobre a jihad e política. Religião é a parte menor dos textos islâmicos fundamentais.

A dualidade mais famosa do Islã político é a divisão do mundo entre fiéis, 'dar al Islam', e infiéis, 'dar al harb'. A maior parte da Trilogia relata o tratamento dos infiéis, kafirs. Até o Inferno é político. Há 146 referências ao Inferno no Corão. Só 6% daqueles que estão no Inferno estão lá por faltas morais -

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assassinato, roubo, etc. Os outro 94% das razões para estar no Inferno são pelo pecado intelectual de discordar de Maomé, um crime político. Logo, o Inferno Islâmico é uma prisão política para aqueles que falam contra o Islã.

Maomé pregou sua religião por 13 anos e amealhou apenas 150 seguidores. Mas quando ele se voltou para a política e a guerra, em um período de 10 anos ele se tornou o primeiro governante de toda a Arábia, com uma média de um evento de violência a cada sete semanas, durante 9 anos. Seu sucesso não veio como líder religioso, mas como líder político.

Enfim, o Islã político define como se deve tratar os infiéis e lidar com eles.

FP: O sr. pode abordar rapidamente a história do Islã político?

Warner: A história do Islã político começa com a migração de Maomé para Medina. A partir daquele ponto, o apelo do Islã para o mundo sempre foi a opção dualista de se aderir a uma gloriosa religião ou ser objeto de de pressão e violência políticas. Após a migração para Medina, o Islã se torna violento quando a persuasão falha. A jihad veio ao mundo.

Após a morte de Maomé, Abu Bakr, o primeiro califa, resolveu as discussões teológicas dos que desejavam deixar o Islã com a ação política da morte pela espada. A jihad de Omar (o segundo califa, um rei-papa) explodiu para dentro do mundo dos infiéis. A jihad destruiu um Oriente Médio cristão e um Norte da África cristão. Logo, o destino dos zoroastristas persas e dos hindus foi serem vítimas da jihad. A história do Islã político é a destruição da Cristandade no Oriente Médio, Egito, Turquia e Norte da África. Metade da Cristandade se perdeu. Antes do Islã, o norte da África era a parte sul da Europa (parte do Império Romano). Cerca de 60 milhões de cristãos foram massacrados durante a conquista jihadista.

Metade da gloriosa civilização hindu foi aniquilada e 80 milhões de hindus foram mortos.

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Os primeiros budistas ocidentais foram os gregos descendentes do exército de Alexandre o Grande, no que hoje é o Afeganistão. A jihad destruiu todo traço de budismo ao longo da rota da seda. Cerca de 10 milhões de budistas morreram. A conquista do budismo é o resultado prático do pacifismo.

Os zoroastristas foram eliminados da Pérsia.

Os judeus se tornaram dhimmis permanentes por todo o Islã.

Na África, mais de 120 milhões de cristãos e animistas morreram nos últimos 1400 anos de jihad.

Aproximadamente 270 milhões de infiéis morreram nos últimos 1400 anos pela glória do Islã político. Estas são as Lágrimas da jihad sobre as quais ninguém é ensinado na escola.

FP: Como nossos intelectuais têm respondido ao Islã?

Warner: A base de todo o pensamento do infiel desmoronou em face do pensamento político, da ética e da lógica do Islã. Já mencionamos como nossos primeiros intelectuais nem sequer nomearam os invasores como muçulmanos. Não temos nenhum método de análise do Islã. Não conseguimos concordar sobre o que seja o Islã e não temos conhecimento de nosso sofrimento como vítimas de uma jihad de 1400 anos.

Olhe como os cristãos, judeus, negros, intelectuais e artistas lidaram com a doutrina e a história islâmica. Em todos os casos, suas idéias iniciais são um fracasso.

Os cristãos acreditam que "o amor vence tudo." Bem, o amor não vence o Islã. Os cristãos tem dificuldade em ver o Islã como uma doutrina política, não uma religião. A natureza sectária do pensamento cristão significa que o

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cristão não-ortodoxo médio não tem nenhum conhecimento ou simpatia pelo sofrimento dos cristãos ortodoxos.

Os judeus têm uma teologia que postula uma relação única entre os judeus e o Deus criador do universo. Mas o Islã vê os judeus como macacos que corromperam o Velho Testamento. Os judeus não veem nenhuma conexão entre a doutrina política do Islã e Israel.

Os intelectuais negros basearam suas ideias na condição de escravo/vítima e como foi errado os cristãos brancos os terem feito de escravos. O Islã nunca reconheceu nenhuma parcela da dor ou sofrimento que causou na África com seu comércio de escravos de 1400 anos. Mas os negros não fazem qualquer tentativa de obter um pedido de desculpas dos muçulmanos e ficam em silêncio na presença do Islã. Por que? Será que é porque os árabes são seus senhores?

O multiculturalismo é paralítico em relação à exigência do Islã de que toda civilização se submeta. A cultura da tolerância desaba em face da intolerância sagrada da ética dualista. Os intelectuais respondem ignorando este fracasso.

Nossos intelectuais e artistas têm sido abusados há 1400 anos. De fato, a psicologia de nossos intelectuais é exatamente como a psicologia da esposa abusada, da criança sexualmente abusada ou da vítima de estupro. Veja as semelhanças entre a resposta das vítimas de abusos e nossos intelectuais. Veja como a violência causou a negação.

A vítima nega que o abuso aconteceu: nossa mídia nunca relata a maior parte da jihad em todo o mundo. Nossos intelectuais não falam sobre como toda esta violência está ligada a uma doutrina política.

O abusador usa o medo para controlar a vítima: qual foi a razão pela qual os jornais não quiseram publicar as charges de Maomé? Salman Rushdie ainda tem uma sentença de morte por seu romance. Qual artista "de vanguarda"

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cria uma afirmação artística sobre o Islã? O medo domina nossos intelectuais e artistas.

As vítimas encontram meios de culpar a si mesmas: nós somos culpados pelo 11 de setembro de 2001. Se continuarmos tentando, os muçulmanos vão se comportar melhor. Nós temos que acomodar suas necessidades.

A vítima é humilhada: os brancos não querem falar sobre como seus ancestrais foram escravizados pelo Islã. Ninguém quer clamar pelas as vítimas da jihad. Por que não queremos clamar pelo sofrimento de nossos ancestrais? Por que não choramos pela perda de culturas e povos? Temos vergonha demais para nos importarmos.

A vítima se sente indefesa: "O que vamos fazer?" "Não podemos matar 1.3 bilhões de muçulmanos." Ninguém tem nenhum discernimento ou otimismo. Ninguém tem uma idéia do que tentar. O único plano é "ser mais simpático."

A vítima volta a raiva para dentro: Qual é o assunto mais divisor na política de hoje? O Iraque. E qual é o verdadeiro problema do Iraque? O Islã político. Há um vídeo na internet sobre como a CIA e Bush planejaram e executaram o 11 de setembro. Repugnância cultural a si mesmos é o lema de nossos intelectuais e artistas.

Odiamos a nós mesmo porque somos mentalmente molestados e abusados. Nossos intelectuais e artistas responderam ao abuso da jihad da mesma maneira que uma criança sexualmente abusada ou uma vítima de estupro responderiam. Estamos muito doentes intelectualmente e estamos falhando em pensar com clareza. Não conseguimos olhar nossa negação.

FP: Então, resuma para a gente por que é crucial aprendermos sobre a doutrina política do Islã.

Warner: O Islã político aniquilou todas as culturas que invadiu ou para a qual migrou. O tempo total para a aniquilação leva séculos, mas depois que se

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torna predominante, ele nunca falha. A cultura hospedeira desaparece e se torna extinta.

Nós devemos aprender sobre a doutrina do Islã político para sobrevivermos. A doutrina é muito clara sobre todas as formas de força e persuasão poderem e deverem ser usadas para nos conquistar. O Islã é um inimigo auto-declarado de todos os infiéis. O brilhante filósofo da guerra chinês Sun Tzu tinha o moto "conheça seu inimigo". Nós devemos conhecer a doutrina de nosso inimigo ou seremos aniquilados.

Ou pondo as coisas de outro modo: se não aprendermos sobre a doutrina do Islã político, nossa civilização será aniquilada, da mesma forma que a civilização copta do Egito foi aniquilada.

Como os infiéis devem conhecer a doutrina política do Islã para sobreviver, o CSPI escreveu todos os seus livros em um inglês simples. Nossos livros são de base erudita, mas simples de ler. Por exemplo, qualquer um capaz de ler um jornal pode pegar um Corão Simples, ler e entender. Ele não ficou "tosco" e contém cada palavra do original.

Não só a linguagem é simples, mas foi usada lógica para separar e categorizar. O contexto e a cronologia foram restaurados. O resultado é um Corão que é uma história épica terminando com o triunfo sobre todos os inimigos de Alá. Todos os nossos livros e nossa filosofia se encontram no site de nosso centro.

O Islã declara que nós somos os inimigos de Alá. Se não aprendermos sobre a doutrina política do Islã, vamos terminar como as primeiras vítimas do Islã - os árabes politeístas e tolerantes da Arábia Saudita, que se tornaram os Wahabbis (um ramo muito severo do Islã) de hoje, a cultura mais intolerante da face da Terra.

FP: Bill Warner, obrigado por estar com a gente hoje.

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Warner: Jamie, obrigado por sua gentileza e seus esforços.

Notas:

Entrevista de Bill Warner, diretor do Centro para o Estudo do Islã Político (CSPI), para a FrontpageMag, em 5 de fevereiro de 2007; reproduzida no site News42day.com, no mesmo dia. http://frontpagemag.com

Sennels: integrar muçulmanos no Ocidente é impossível

Entrevista com Nicolai Sennels pela EuropeNews

Nicolai Sennels, de 33 anos, é um psicólogo dinamarquês. Trabalhou durante vários anos para as autoridades de Copenhague. Em fevereiro de 2009 publicou um livro intitulado "Entre os criminosos muçulmanos. A experiência de um psicólogo em Copenhague". Em seu livro, Nicolai Sennels adota um enfoque psicológico sobre a relação entre cultura muçulmana, a cólera, a administração das emoções e a própria religião muçulmana. Sua investigação centrou-se em centenas de horas de observação no transcurso dos tratamentos terapêuticos de 150 jovens muçulmanos internados na prisão para jovens de Copenhague.

EuropeNews (EN): "Nicolai Sennels, como surgiu a ideia de escrever um livro sobre os criminosos muçulmanos na Dinamarca?"

Nicolai Sennels (NS): Tive a ideia em fevereiro de 2008, no transcurso de uma conferência sobre a integração em Copenhague. Em minha intervenção, sublinhei que as pessoas de cultura muçulmana são confrontadas a uma dificuldade, e inclusive a uma impossibilidade de se integrar de maneira

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harmônica e de se realizar em Copenhague. Esta declaração foi acolhida com fortes resistências pelos homens políticos dinamarqueses, e pelo meu superior hierárquico da prisão para jovens. Surpreendeu-me muito, já que eu pensava que dizer que certas culturas se integram melhor do que outras nas sociedades ocidentais era uma evidência. A Europa inteira tem dificuldades para integrar os muçulmanos, e este empreendimento parece pertencer ao terreno do impossível.

Segundo a Polícia dinamarquesa e o Departamento Dinamarquês de Estatística, mais de 70% de todos os crimes cometidos na capital dinamarquesa são obra de muçulmanos. O Banco Nacional publicou recentemente um informe segundo o qual os custos que o muçulmano estrangeiro origina ao país, elevam-se a mais de 300 mil euros a título de ajudas sociais federais. Ao que há que se acrescentar outras ajudas sociais de outros tipos, por desemprego, por gastos com intérpretes, por aulas especiais nas escolas (64% das crianças escolarizadas cujos pais são muçulmanos, não sabem ler nem escrever corretamente em dinamarquês depois de 10 anos de escolarização em uma escola dinamarquesa), por assistência social, pelos policiais suplementares, etc.

Minha intervenção desembocou em uma advertência legal, uma espécie de sanção profissional, com a ameaça de que, se reitero minhas palavras, serei demitido. Segundo as autoridades de Copenhague, parece que é permitido declarar que os problemas que os muçulmanos enfrentam são causados pela pobreza, pelos meios de comunicação, pela polícia, pelos próprios dinamarqueses, pelos políticos, etc. Porém, duas coisas não são admitidas: 1. falar da importância da cultura e 2., evocar a responsabilidade pessoal dos estrangeiros quanto às suas dificuldades para se integrar em nossas sociedades.

EN: "Examinemos seu livro de perto. O senhor fala de quatro mitos sobre a integração. O primeiro trata da diferença entre a cultura dos imigrantes".

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NS: Descobri que os jovens de cultura muçulmana têm outras necessidades em matéria de trabalho social, do que os dinamarqueses ou outras pessoas de cultura não-muçulmana. Entre os muçulmanos sempre há uma desproporção extrema no comportamento antissocial e antidemocrático. O Departamento Dinamarquês de Estatística publicou um informe segundo o qual os oito primeiros lugares na lista de criminalidade por país de origem dos criminosos correspondem a países muçulmanos. A Dinamarca está no nono posto. (Na Dinamarca delinquem mais os marroquinos, os argelinos, os turcos, etc., do que os próprios dinamarqueses. De maneira que, se não houvessem muçulmanos na Dinamarca, teria que se re-converter os 90% dos agente de polícia em outra coisa, em jardineiros, por exemplo).

EN: "Isto significa que devemos tratar os muçulmanos de maneira diferente dos não-muçulmanos?

NS: Segundo minha experiência própria, os muçulmanos não compreendem nossa maneira ocidental de administrar os conflitos pelo diálogo. Eles são educados em uma cultura que comporta figuras de autoridade e consequências externas ao indivíduo muito bem definidas. A tradição ocidental, que utiliza o compromisso e a introspecção como principais ferramentas para tratar os conflitos, tanto interiores como exteriores, é considerada como uma debilidade na cultura muçulmana. Em grande medida, eles simplesmente não compreendem esta maneira mais suave e mais humanista de tratar os assuntos sociais. No contexto do trabalho social e da política, isto significa que o indivíduo necessita de mais limitações e consequências mais severas para estar em situação de adaptar seu comportamento.

EN: "Isto nos leva diretamente ao segundo mito, já que se diz amiúde que a criminalidade dos imigrantes é causada por problemas sociais e não por sua origem cultural. Em seu livro, o Sr. se mostra em desacordo com essa tese e assinala a religião como fonte de criminalidade entre os muçulmanos".

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NS: Eu reformularia suas palavras falando da cultura muçulmana e não da religião, já que há muitos muçulmanos que ignoram o que está escrito no Corão e que não frequentam as mesquitas. Porém, estão fortemente influenciados no nível cultural. Constatamos que a cólera - em particular - é muito bem aceita na cultura muçulmana.

Na cultura ocidental e em outras culturas não-muçulmanas, como na Ásia, a agressividade ou uma súbita explosão de cólera são vistas como comportamentos que lamentamos posteriormente e que nos causará vergonha. Na cultura muçulmana ocorre totalmente o contrário. Se alguém escarnece de sua honra, espera-se que você demonstre sua agressividade e que se vingue, tanto verbal quanto fisicamente. Dessa maneira, a agressividade dá um status inferior em nossa cultura, porém um status mais elevado na cultura muçulmana. Mas há outra razão mais profunda para explicar o comportamento antissocial tão amplamente difundido nas comunidades muçulmanas e a grande resistência à integração, e esta é a identificação muito forte que os muçulmanos têm de pertencer à cultura muçulmana.

Meu encontro com a cultura muçulmana foi um encontro com uma cultura excessivamente forte e muito orgulhosa. É certamente uma qualidade que pode garantir a sobrevivência de uma cultura antiga através do tempo. Todas as investigações das quais dispomos sobre a integração dos muçulmanos nas sociedades ocidentais, indicam que continuamos nos encaminhando na direção equivocada. Infelizmente, uma cultura forte e orgulhosa torna seus membros praticamente incapazes de se adaptar a outros valores.

Quando se trata de identidade para os muçulmanos, a nacionalidade não conta para nada em comparação com a cultura e a religião. Daí, em consequência, uma poderosa e crescente oposição à cultura e aos valores ocidentais nos guetos muçulmanos de Copenhague e de outras cidades europeias.

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EN: "Como o Sr. sublinhou, muitos muçulmanos têm um laço muito forte com sua identidade religiosa. O terceiro mito que o Sr. refuta em seu livro concerne à porcentagem de extremistas e de fundamentalistas muçulmanos. Presumivelmente esta porcentagem seria relativamente baixa. Qual é sua experiência?

NS: As pessoas esperam que a maioria dos muçulmanos seja moderna e aceite os valores ocidentais. Minha experiência é diferente e isto foi demonstrado pelas estatísticas que acabo de citar. Em fevereiro de 2008 nos vimos confrontados na Dinamarca com gravíssimos distúrbios protagonizados por jovens muçulmanos. Estes distúrbios eram em parte uma reação à pressão da polícia dinamarquesa devida ao forte aumento da criminalidade, e também resposta à reimpressão das caricaturas de Maomé em todos os jornais dinamarqueses. Esta reedição era um ato de solidariedade com o caricaturista Kurt Westergaard, cuja vida ainda está seriamente ameaçada.

Nestes distúrbios se viu muçulmanos não-praticantes em sua vida cotidiana tomar a defesa de sua cultura e de sua religião de uma maneira muito agressiva. Copenhague ficou coberta de fumaça durante uma semana por causa de uma centena de incêndios, e a polícia e os bombeiros que cuidavam de controlar e apaziguar a situação foram atacados.

Muitos dos protagonistas dos distúrbios foram parar na prisão onde eu trabalhava e tive oportunidade de falar com eles. Quase a totalidade deles eram muçulmanos e todos eles afirmaram que seus atos (provocar incêndios, atacar a polícia, etc.) estavam justificados porque a sociedade dinamarquesa, ao aumentar a pressão sobre a integração e reimprimindo as caricaturas de Maomé, dava prova de racismo contra o islã e a cultura muçulmana. Os escassos dinamarqueses que participaram dos distúrbios o haviam feito por motivos completamente distintos. Suas ações eram principalmente motivadas pela busca de aventura ou de emoções fortes.

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EN: O quarto mito é que a pobreza dos imigrantes leva a uma má situação social. Em seu livro o Sr. afirma que é o contrário que é verdade".

NS: Minha experiência é que a muito débil prioridade concedida à escolaridade de seus próprios filhos, a negligência em sua educação e a falta de motivação para planejar uma carreira profissional, são fatores importantes que conduzem à pobreza. Esses fatores são comuns em muitos muçulmanos, tanto em nossas sociedades quanto nos países muçulmanos. Além disso, uma quarta parte dos jovens muçulmanos na Dinamarca têm antecedentes penais. Uma capacidade para a leitura deficiente, uma forte aversão à autoridade e uma ficha criminal carregada, tornam difícil a obtenção de um emprego bem remunerado. É o comportamento a-social que o torna pobre, e não o contrário.

Lamentavelmente, muitos políticos veem a pobreza como a principal causa dos problemas de integração. Penso que é um ponto de vista horrível e unidimensional acerca das pessoas pobres e dos indivíduos em geral. A ideia de que o comportamento das pessoas é determinado pela quantidade de dinheiro que têm no banco é um ponto de vista extremamente limitado. Como psicólogo diplomado pela Universidade de Copenhague, eu diria que fatores muito mais importantes na vida do que o dinheiro influenciam o comportamento e a maneira de pensar dos indivíduos.

EN: "Quais as conclusões de sua investigação? A integração de pessoas de cultura muçulmana nas sociedades ocidentais é possível?"

NS: Eu diria que os otimistas, as pessoas que dizem que a integração é possível, carregam uma grande responsabilidade ante o futuro. É muito provável que estejam entretendo uma esperança, um sonho sem fundamento na realidade. Existem exceções, porém em sua maior parte a integração dos muçulmanos não é possível. Pessoas qualificadas e cheias de compaixão trabalham em toda a Europa sobre estes problemas para tratar de

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encontrar soluções, milhares de milhões de euros já foram gastos nestes projetos, porém os problemas continuam se agravando.

A explicação psicológica é, na realidade, muito simples: as culturas muçulmana e ocidental são fundamentalmente muito diferentes. Isto significa que os muçulmanos devem fazer grandes mudanças em sua identidade e em seus valores para chegar ao ponto de aceitar os valores das sociedades ocidentais. Mudar as estruturas básicas de sua própria personalidade é um processo psicológico e emocional extremamente exigente. Aparentemente, muito poucos muçulmanos sentem-se motivados a este empreendimento.

EN: "O que vamos fazer com os muçulmanos que já estão conosco?"

NS: Em primeiro lugar, devemos parar imediatamente toda a imigração de pessoas provenientes de países muçulmanos para a Europa, até que tenhamos comprovado que a integração dos muçulmanos é possível. Em segundo lugar, devemos ajudar os muçulmanos que não querem ou não estão em situação de se integrar em nossas sociedades ocidentais, a construir um novo sentido para suas vidas em uma sociedade que eles compreendam e sejam compreendidos. Isto significa ajudá-los a começar uma nova vida em um país muçulmano.

Temos atualmente os meios econômicos para fazê-lo. Como já disse anteriormente, cada imigrante proveniente de países muçulmanos custa-nos uns 300.000 euros em média. Com este dinheiro poderíamos ajudar esta gente a viver uma vida feliz em um país muçulmano sem ter que se integrar em uma sociedade que não compreendem e que, portanto, não podem aceitar. Não somente os muçulmanos se beneficiariam destas medias, mas também as sociedades europeias.

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Nota:

Recuperamos esta interessante entrevista publicada por EuropaNews em dezembro de 2009. A entrevista, apesar de contar com mais de um ano, é absolutamente atual e recomendamos sua leitura.

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CAPIÍTULO 7

Análise estratégica das revoltas nos países árabes Por Heitor De Paola

Esperar que movimentos islâmicos instaurassem a democracia e a liberdade equivale a esperar que uma passeata de prostitutas restaure a moralidade.

Um jornalista (sic) que se autodenomina 'especialista' em Oriente Médio contestou a afirmação que fiz no último artigo de que os planos da Al Qaeda seriam facilmente endossados, com mínimas discordâncias, pela Fraternidade Islâmica e outros movimentos políticos, religiosos ou terroristas, pois segundo ele a Fraternidade não apóia grupos terroristas, nem tem vínculos com a Al Qaeda. Ora, um 'especialista' em Oriente Médio deve no mínimo entender alguma coisa de estratégia e saber que divergências táticas jamais impediram alianças estratégicas. Dei a ele a resposta que aqui coloquei em epígrafe.

Como já adverti em artigos anteriores, as discussões diplomáticas e a avaliação estratégica dos países islâmicos não podem ser desenvolvidas com base em preconcepções ocidentais exclusivamente judaico-cristãs, tais como democracia, liberdade, livre iniciativa, direitos trabalhistas e das minorias, etc. Estes conceitos e estas crenças não pertencem ao universo mental, consequentemente, nem à religião nem à ideologia islâmicas, totalmente baseadas na submissão a Allah e seu Profeta Mohamed tal como prescrita no Corão, nos Haddithim e na Sunna. Aqueles conceitos só podem ser aplicados aos povos ocidentais, nunca a quaisquer outros povos. Sejam hinduístas, xintoístas, budistas, animistas e outros todos os que falam em democracia o fazem dentro de parâmetros mentais totalmente diversos dos nossos, tornando as negociações numa conversa de surdos. Um conceito totalmente desconhecido fora do Ocidente é o de liberdade individual. Quando se

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negocia com estes outros povos deve-se levar em consideração que quando falam em liberdade estão se referindo a outra coisa qualquer, jamais à liberdade individual, para nós o bem maior. Para os muçulmanos, então, esta é completamente desconhecida e mais ainda: desejá-la é uma heresia, um atentado contra a submissão corânica.

Falta aos ocidentais o conhecimento de um princípio fundamental do Islam: al Taqiyya: 'o sagrado direito à fraude, de mentir em nome da maior glória de Allah. A falsidade para impedir as ofensas ao Islam, para se proteger, ou para promover a causa do Islam é aceita e estimulada pelo Corão e pela Sunna, incluindo a mentira sob juramento perante uma corte. Um muçulmano está autorizado a negar ou denunciar sua própria fé se, ao fazer isto, ele estiver protegendo os interesses do Islam, desde que, em seu coração, ele permaneça fiel'. A Taqiyya vem sendo usada desde o século VII para confundir e dividir o inimigo. É derivada dos antigos hábitos tribais beduínos[2]. Embora muitos estudiosos advoguem que seja um hábito puramente xi'ita, na verdade é inerente ao Islam como um todo.

Ibn Abbas comentava que "al-Taqiyya é uma expressão exclusivamente da língua, enquanto o coração permanece confortado com a fé". Significa que à língua é permitido expressar qualquer coisa, desde que o coração não seja afetado. Abd Ibn Hameed, sob a autoridade de al-Hassan, disse: "al-Taqiyya é permitida até o Dia do Juízo, somente então não poderá ser usado"[3]. É exatamente este estratagema que permite dizer que o Islam é uma 'religião de paz' enquanto matam mais dos que os comunistas e nazistas o fizeram[4].

Origens dos distúrbios que afetam os países árabes [5]

A análise de Barry Rubin, Who Really Made Egypts Revolution?: The Story The Media Missed mostra a especificidade do discurso que animou a chamada "primavera da Praça Tahir'. Rubin não nega que alguns membros do movimento pediam eleições livres, o fim da ditadura de Mubarak e seus

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líderes visíveis genuinamente desejavam alguma forma de democracia e direitos humanos - mas não os direitos individuais.

"Porém os elementos bem organizados por trás das manifestações têm uma interpretação de democracia bastante diferente da definição Ocidental deste conceito (...) A idéia de que os inimigos daquela ditadura são radicalmente hostis ao Ocidente e favoráveis ao Islam nem passa pela cabeça dos observadores ocidentais".

Do ponto de vista da maioria dos militares egípcios e dos envolvidos na revolução o Islam é a única resposta contra a detestável ocidentalização dos costumes, com incremento da criminalidade e da injustiça. "Os militares vêem no Islam a resposta para os problemas de identidade, justiça social e estabilidade interna". Portanto, um Egito muçulmano é muito mais atraente do que o do ocidentalizado Mubarak, assim como o Xá era detestado no Irã e por sua tentativa de modernização é que foi derrubado. Mesmo que não queiram um Estado dominado pela Fraternidade, eles estão abertos para uma maior influência da mesma nas regras religiosas, ao mesmo tempo em que existe um profundo sentimento de ódio a Israel, à América e ao Ocidente.

Conclusões:

Conforme as informações aqui esboçadas e a opinião de especialistas no assunto, podemos concluir que:

1- O Islam é incompatível com qualquer noção de liberdade individual e, portanto é improvável, senão impossível, o estabelecimento de um regime semelhante às democracias ocidentais.

2- Os que exultam com o surgimento de tal regime como resultado das revoltas em andamento se baseiam muito mais em wishful thinking do que numa avaliação acurada das condições reais.

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3- Pode-se esperar em alguns países, como a Tunísia, um regime baseado em eleições gerais que simulem uma democracia.

4- Mesmo nestes países a possibilidade de que eleições levem a um regime autoritário, como ocorreu no Egito com a queda da monarquia em 1956, ou o estabelecimento de partidos únicos controlados pelo clero, ou teocracias como o Irã.

5- Embora possa haver o estabelecimento de uma constituição que preveja eleições periódicas e multipartidarismo, é extremamente dubitável que isto ocorra na prática. De maneira geral os observadores ocidentais da mainstream media se conformam com documentos pomposos que jamais serão seguidos.

O chocante amor árabe por Hitler Por Walid Shoebat

Pesquisar por “Hitler” em árabe foi uma jornada a um túnel de escuridão deprimente.

A extensão do amor ou ódio do público a personagens históricos talvez possa ser determinado digitando o nome desse personagem na ferramenta de busca do Google. Hoje em dia, digitar o nome de ditadores árabes em caracteres árabes mostra uma insatisfação geral que os iguala a tiranos como Hitler. Mas e se você digitasse o nome do próprio “Hitler” em caracteres árabes no Google? O que vai encontrar? “Hitler” em árabe tem tantos resultados quanto o número de judeus que ele assassinou: mais de 6 milhões. Embora seja impossível ler 6 milhões de blogs e sites para apurar o que o mundo árabe pensa sobre ele, ler atentamente algumas centenas deles pode deixar os ocidentais chocados ao perceberem que a maioria dos comentários, de uma maneira ou de outra, elogiam ou glorificam Hitler.

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O primeiro site árabe possui um blog que o apresenta da seguinte forma: “Hitler não era um homem comum para ser esmagado pela roda do tempo e deixado para trás como poeira, para ser esquecido neste vasto universo. Tampouco era o rei apenas da Alemanha. Ele é um dos grandes entre poucos. É o rei da história”. Os ocidentais poderiam pensar que o primeiro comentário em um artigo como esse seria de repúdio. Nada disso. Muhammad Jasem postou: “Se os maiores líderes se juntassem, não se igualariam em magnificência a Hitler”. O restante dos comentários não focou longe disso. O segundo resultado foi um vídeo do Youtube intitulado “Os Judeus São Covardes”, mostrando um imitador de Hitler andando pelas ruas, com transeuntes judeus, supostamente apavorados, desviando-se dele. Isso “prova que judeus são covardes”, interpretavam os comentários.

A citação mais popular de Hitler em sites árabes é uma em que ele supostamente diz: “Eu poderia ter destruído todos os judeus, mas deixei alguns para que o mundo saiba um dia por que eu os matei”. O resultado seguinte é um vídeo do Youtube intitulado “A Declaração de Hitler sobre a Aniquilação dos Judeus”; o primeiro comentário dizia como Hitler “respeitava o Islã” e como ele chegou a convocar uma unidade muçulmana da SS e lhes conceder as pausas para orações.

Lendo com atenção, centenas de sites árabes mostram conteúdos similares.

Alegrei-me ao ver o que pensei ser o primeiro comentário positivo, à maneira ocidental, entre milhares, que dizia: “Hitler era um psicopata. Ele também teria matado todos os muçulmanos” mas logo me decepcionei com “mas, para ser sincero, eu adoro o Hitler por sua capacidade de liderança”. É claro, isso foi rapidamente repreendido por outros: “Se Hitler odiasse os árabes, por que ele iria convocar soldados muçulmanos para os seus postos? Isso deve ser propaganda sionista”.

Acusações de “propaganda sionista” e teorias da conspiração empesteiam a internet em língua árabe; a história factual é descreditada como “conspiração

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sionista”. Concluí das minhas próprias experiências antissemitas da minha infância que uma cultura empesteada de teorias da conspiração geralmente é a mesma que as produz.

Um comentário bastante típico afirmava: “Hitler deixou a outra metade [dos judeus] viva para que a profecia de Maomé seja cumprida e abra o caminho para o Islã destruir o restante”. No site Alsaha.com, principal fonte de notícias do Golfo Árabe, uma notícia sobre um filme recém-lançado em Paris retrata pela primeira vez como a Mesquita de Paris salvou guerrilheiros da resistência judaica e muçulmana durante a Segunda Guerra Mundial. Os comentários mais comuns vão de negadores do holocausto, longos posts de como o Grande Mufti Haj Amin Al-Husseini, líder palestino que fez aliança com Hitler, era um grande herói e como Hitler havia supostamente citado o Corão: “a Hora está próxima, e a lua foi feita em pedaços”. A citação do Corão supostamente dita por Hitler era tão comum que Ayed Al-Qarni, um dos mais respeitados teólogos sauditas, observou que Hitler havia gravado essa frase nos canhões e tanques das tropas da SS.

De acadêmicos muçulmanos a referências históricas, Hitler é um herói.

Objeções ao amor de Hitler existem, mas raramente são isentas de contradições nos mesmos termos. Um comentário criticava tal amor: “Hitler era um nazista que acreditava na raça ariana… É óbvio que Hitler elogiava o Islã porque estava aliado aos otomanos. Mas por que nós árabes temos que insistir nesse amor por Hitler? Só porque ele fez uma limpeza dos judeus? Maomé, e Omar depois dele, limparam Jerusalém deles muito antes de Hitler”. Se os ocidentais equiparassem Maomé a Hitler, a reação seria imensa. Mas não é incomum encontrar sites árabes afirmando que Hitler era um modelo que seguiu os passos de Maomé. “O único personagem na história que foi capaz de ganhar os judeus para mutilá-los foi Maomé”, Hitler foi citado dizendo. E é claro, consideraram um elogio.

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Os comentários árabes não deixam de usar Hitler como exemplo para comparar tiranos árabes e para combater o extremismo. O site de notícias do Oriente Médio Walfajr.net publicou um artigo escrito por Al-Baqer Ali Al-Shamasi intitulado “Os Tambores Sionistas Tocam para a Guerra”. Ele escreve: “Hitler, esse nacionalista extremista, e seu amigo Mussolini, vieram e desencadearam uma guerra mundial que vitimou 60 milhões de pessoas”. Até aí tudo bem. Até que algumas linhas depois: “Quando Hitler fez o que fez com eles [os judeus], os sionistas usaram táticas para inventar o Holocausto”. Aceitar o Holocausto como uma realidade e negá-lo na mesma argumentação não é incomum nos sites árabes. Isso é sinal de um mentiroso patológico.

Pesquisar por “Hitler” em árabe foi uma jornada a um túnel de escuridão deprimente. “Hitler, o artista”, dizia um artigo. Hitler até mesmo “descobriu os desenhos de Walt Disney”, afirmava um comentário. Foi “Hitler quem desenhou pela primeira vez a ‘Branca de Neve e os Sete Anões’”. Do primeiro ao último comentário, o artigo foi um deleite.

O último comentário dizia que “Hitler odiava os judeus porque o médico de sua mãe, que era judeu, não cuidou dela e a deixou morrer. Foi um judeu que comprou as primeiras peças de arte de Hitler e lhe pagou pouco por elas, para depois revendê-las muito mais caro. Hitler mais tarde descobriu o roubo da sua arte pelos judeus. Essa foi a história que despertou a família de Hitler para quão trapaceiros são os judeus”.

Tudo isso me faz lembrar dos meus primeiros dias de escola na cidade de Belém, quando estudávamos os escritos do mais respeitado e eminente escritor egípcio, Anis Mansour, que uma vez escreveu: “Pessoas de todo o mundo vieram a se dar conta de que Hitler estava certo, pois os judeus são sanguessugas… interessados em destruir o mundo inteiro, que os enxotou e desprezou por séculos… e os queimou nos crematórios de Hitler… 1 milhão… 6 milhões. Se apenas ele tivesse terminado o serviço!”

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Anis Mansour não passava de um marginal. Eu sei que isso pode irritar centenas de milhões de pessoas no mundo árabe que o respeitam. Talvez digam que eu fui infectado por uma conspiração americana. De fato, eu fui: chama-se “pensamento crítico”.

Por que a esquerda não consegue entender o islamismo Por Daniel Greenfield

Conhecer a verdade sobre o islamismo destruiria a esquerda.

Pois segundo a esquerda, os terroristas muçulmanos não matam as pessoas por causa de Alá, do Corão ou do Califado. Isso não se encaixa no modelo. Eles matam porque, como todos os povos do Terceiro Mundo vitimizados pelo colonialismo, são oprimidos.

O maior erro intelectual da esquerda é sua convicção de que o mundo pode ser dividido em uma luta binária pelo poder, na qual ambos os lados concordam a respeito de sua natureza, mas discordam a respeito de seus resultados.

Para os esquerdistas de uma determinada geração, era um problema de classes. Marx começou o Manifesto Comunista esquematizando uma luta fundamental de classes por toda a história humana. Para os marxistas, todas as coisas do mundo poderiam ser desmembradas em uma luta de classes, com os opressores ricos de um lado e os oprimidos de outro.

Não importava que esse modelo não se encaixasse na realidade de que os líderes comunistas haviam vindo de ambientes ricos e seus oponentes provavelmente eram pobres camponeses. Para a esquerda, todas as coisas

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são definidas pelo modelo. A realidade é uma inconveniência que é suprimida através dos gulags* ou dos esquadrões de fuzilamento.

Atualmente, a variável é a política de identidade. Tudo deve ser interseccional. Há aqueles que ficam do lado direito da história, a favor do aborto, do casamento gay e da imigração ilegal. Todos os que não estiverem a bordo são racistas, mesmo que forem negros ou latinos; sexistas, mesmo que sejam do sexo feminino; ou homofóbicos, mesmo que sejam gays. Novamente, a realidade não interessa. A luta binária é o modelo para tudo.

A esquerda acredita que haja uma luta binária a respeito do futuro da humanidade com somente dois lados. Ela não entende como a direita de fato pensa, e ela não tem espaço para entender sistemas de crenças igualmente convincentes que funcionam fora desse modelo.

É aí que entra o islamismo. Ou não entra.

A esquerda jamais foi capaz de entender a religião. Ela não é tão secular ou ateísta quanto é consumida por um convincente sistema de crenças próprio que não deixa nenhum espaço para a convicção religiosa.

A esquerda não consegue entender nada em termos do que uma determinada coisa seja. Ela só consegue entender as coisas em seus próprios termos. A esquerda não consegue entender a religião nos termos da religião, mas somente nos termos de como a religião se encaixa na esquerda.

Incapaz de entender religião, a esquerda atribui à religião um lugar baseado em seu alinhamento na luta. Seria a religião uma força reacionária que sustenta a ordem existente ou uma força progressista que se opõe a ela? A religião está trabalhando com as classes dominantes ou com os oprimidos? A religião está ao lado da esquerda ou ao lado da direita?

O islamismo é racista, sexista, xenofóbico e "homofóbico".

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A Fraternidade Muçulmana, que se tornou a aliada islâmica mais próxima da esquerda, foi politicamente influenciada pela Alemanha nazista. Seus líderes ficaram indignados com o fim do feudalismo do califado e mantêm extensas redes de negócios em todo o mundo. Eles incitam revoltas contra as minorias e buscam estabelecer uma teocracia.

Se existe uma organização muçulmana que deveria ser um modelo de grupo reacionário, fascista e fundamentalista, essa organização é a Fraternidade Muçulmana. Mas, em vez disso, a esquerda vive de aconchego com esse grupo violento e odioso. Por quê?

Porque no Ocidente a Fraternidade Muçulmana está alinhada com suas causas progressistas. Portanto, ela não pode ser reacionária. Se a Fraternidade Muçulmana fosse alinhada com os conservadores, então ela seria o inimigo.

Assim, os progressistas não se importam com o que diz o Corão. Ele não significa nada para eles, assim como a Bíblia não significa nada para eles. A religião está do lado da "justiça social" ou não está. Como os muçulmanos são parte de sua gloriosa coalizão interseccional multiforme, então o islamismo deve ser uma religião boa.

É assim estupidamente simples. E não há quantidade de citações do Corão que fará com que isso mude.

Há nisso um forte elemento de cinismo. O inimigo do meu inimigo é meu amigo. Mas há também uma inabilidade mais profunda da esquerda em entender o islamismo e qualquer outra ideologia que esteja fora de sua visão de mundo.

A esquerda reagiu ao surgimento do ISIS com uma incoerência frenética. Os esquerdistas literalmente não conseguiam entender o que fez com que o Estado Islâmico progredisse, porque ele não se encaixava em nenhum dos modelos políticos esquerdistas. O ISIS não podia existir, entretanto, não havia

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como negar sua existência. E assim, os intelectuais e os políticos esquerdistas gaguejaram que os membros do ISIS eram niilistas, que não acreditavam em nada, embora ninguém se exploda por não acreditar em nada.

Segundo a esquerda, os terroristas muçulmanos não matam as pessoas por causa de Alá, do Corão ou do Califado. Isso não se encaixa no modelo. Eles matam porque, como todos os povos do Terceiro Mundo vitimizados pelo colonialismo, são oprimidos. Um terrorista muçulmano não mata judeus ou americanos porque o Corão ordena que os fiéis subjuguem todos os não muçulmanos. Um migrante muçulmano não ataca sexualmente mulheres alemãs porque o Corão permite que o faça.

Essas são todas reações à opressão ocidental. Os opressores muçulmanos são, na verdade, os oprimidos.

Mas o Estado Islâmico matou outros muçulmanos para estabelecer um califado governado pela lei islâmica. Os muçulmanos oprimidos estavam subitamente agindo como os perversos opressores ocidentais. E, se os muçulmanos podem ser opressores, então todo o modelo binário que a esquerda estava usando para explicar o mundo começa a desabar.

Quando a esquerda se levanta contra as inconsistências de seu modelo binário, ela não revisa o modelo. Ao contrário, tenta entender o motivo pelo qual as pessoas estão agindo tão irracionalmente que não se enquadram no modelo. Por que os brancos pobres da área rural não votam na esquerda? Deve ser por que ouviram programas de rádio conservadores e por racismo. Como pode haver minorias conservadoras? Falsa consciência. Também pudera, Thomas Sowell e Stacey Dash não são "de fato" minorias.

O islamismo e os muçulmanos estão fundamentalmente fora do modelo da esquerda. Eles são parte de sua própria luta binária entre o islamismo e tudo o mais que existe. Eles têm seu próprio "lado certo da história".

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O islamismo e a esquerda, ambos, reivindicam ter sistemas "perfeitos" que podem criar uma utopia... após muita matança. Eles estão alinhados um com o outro, todavia são incapazes de entender um ao outro porque suas visões de mundo não deixam espaço para nada além de seus modelos perfeitos.

A esquerda não consegue processar a ideia de que a religião transcende a política. Na melhor das hipóteses, os esquerdistas veem a religião como um subconjunto da política. E como o islamismo toma a forma de seu eixo político, ele deve ser progressista. Mas, para os muçulmanos, a política é um subconjunto da religião. A política não pode transcender a religião porque ela é uma expressão da religião.

Os esquerdistas não entendem a religião e, por isso, não conseguem entender os muçulmanos. Eles veem o islamismo como outra religião a ser trazida para dentro de sua esfera de influência para promover a "justiça social" aos seus seguidores. Eles não conseguem entender que os clérigos muçulmanos não se tornarão pregadores da "justiça social", ou que os muçulmanos matam porque acreditam genuinamente em Alá e em um paraíso para os mártires. Essas ideias são estranhas aos esquerdistas.

A aliança entre o islamismo e a esquerda coloca juntas duas visões de mundo de mentalidade bem limitada. A esquerda não consegue reconhecer que o islamismo quer algo diferente de "casamento" gay, direito ao aborto, salário mínimo de 15 dólares por hora, empregos verdes, e todo o restante da infindável agenda de "justiça social", pois o colocaria do mesmo lado dos republicanos e do restante da direita. E isso também não é assim, mesmo.

A esquerda não precisa desistir de suas crenças para entender o islamismo. Mas ela teria que abandonar seu pensamento binário e reconhecer que houve e há outras lutas no mundo, diferentes daquelas que os esquerdistas definem. E isto a esquerda não está disposta a fazer porque uma luta binária é o que torna sua visão de mundo tão abrangente. Se sua visão de mundo não abranger o mundo, então ela não pode exigir o poder absoluto.

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A esquerda não consegue aceitar que sua grande luta é realmente um desastroso show secundário em um conflito civilizacional maior, ou que sua agenda não é universal, mas é produto de uma tendência intelectual particular que tem pouca aplicação fora de sua própria bolha. Assim, a esquerda continuará rejeitando a verdade sobre o islamismo porque aprender a verdade sobre ele não somente destruiria sua aliança com o islamismo, mas também destruiria a própria esquerda.

Notas:

* Prisões ou campos de trabalhos forçados para dissidentes políticos.

Publicado originalmente no site da The Frontpage Magazine

Daniel Greenfield, jornalista do David Horowitz Freedom Center, é um escritor de Nova Iorque que enfoca o islamismo radical.

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