SP faz primeiro casamento gay em cartório

1
%HermesFileInfo:7-A:20120819: JORNAL DA TARDE JTCIDADE 7A DOMINGO, 19 . 8 . 12 JT CIDADE 7A JOSÉGABRIELNAVARRO [email protected] “MárioDomingosGrego,aceitaco- mo seu cônjuge Gledson Perrone Cordeiro?”. Após Mário dizer o “sim” a essa pergunta, e receber a mesma resposta do parceiro, eles se tornaram ontem o primeiro ca- salgay a oficializarmatrimônio em um cartório na cidade de São Pau- lo sem ter de entrar com um pedi- do na Justiça. Agora, os dois têm os sobrenomes Perrone Grego. O técnico de enfermagem Gled- son, de 32 anos, e o vendedor Má- rio, de 46, já haviam tentado se ca- sar no ano passado, por meio de um processo que “emanciparia” o acordo de união estável que ha- viam assinado em 2010. Mas o ad- vogado Horácio Raineri Neto, amigo do casal, os orientou a aguardara publicação de um acór- dão que autorizaria o casamento civil de pessoas do mesmo sexo na capital. O texto saiu no Diário da Justiça em 6 de julho. A cerimônia, realizada no Cartó- rio de Itaquera, na zona leste, foi marcada pelos cumprimentos e aplausos dos quase 20 amigos pre- sentes e pelas lágrimas de alegria dos noivos. “Além de ser uma vitó- ria para a gente, quero que sirva de exemplo para outros casais. Ou- sem. Vocês têm esse direito”, disse Mário, chorando, uma hora antes do casamento. “Nós poderíamos noscasarnocentrodacidade,onde dizem existir menos preconceito. Mas moramos em Itaquera, quere- moscasaremItaqueraesermosres- peitados em Itaquera”, completou. “Agora, eu me sinto mais igual”, declarou Gledson, logo depois de beijar e trocar alianças com o noi- vo, “porque ninguém perdeu um direito aqui após este ato, mas eu ganhei um”. O casamento facilita a entrega de herança ao parceiro e torna obrigatório o reconheci- mento de Mário como dependen- te em planos de seguro de saúde, ponto importantepara o casal por- que Gledson é servidor público. Eles não receberam licença remu- nerada de seus empregos porque já haviam feito isso quando cele- braram a união estável, em 2010. Ocomeço Juntos desde 2002, Mário e Gled- son chegaram a morar três vezes em terrenos invadidos, incluindo um do pai de Gledson – que tentou matar Mário com uma enxada, em 2004. Foi processado e condenado a pagar indenização, mas não ti- nha renda suficiente. :: SP faz casamento gay em cartório CONQUISTA Pela 1ª vez na cidade, casal homossexual não teve de recorrer à Justiça para conseguir se casar “Agora eu me sinto mais igual, porque ninguém perdeu um direito aqui após este ato, mas eu ganhei um” GLEDSONPERRONEGREGO, TÉCNICO DE ENFERMAGEM E NOIVO GUSTAVO MAGNUSSON/AE Sociedade Gledson (esq.) e Mário fizeram questão de se casar no bairro onde vivem

Transcript of SP faz primeiro casamento gay em cartório

Page 1: SP faz primeiro casamento gay em cartório

%HermesFileInfo:7-A:20120819: JORNAL DA TARDE JTCIDADE 7ADOMINGO, 19 .8 . 12 JTCIDADE 7A

JOSÉ[email protected]

“MárioDomingosGrego,aceitaco-mo seu cônjuge Gledson PerroneCordeiro?”. Após Mário dizer o“sim” a essa pergunta, e receber amesma resposta do parceiro, elesse tornaram ontem o primeiro ca-salgayaoficializarmatrimônioemum cartório na cidade de São Pau-lo sem ter de entrar com um pedi-donaJustiça.Agora,osdoistêmossobrenomes Perrone Grego.

OtécnicodeenfermagemGled-son, de 32 anos, e o vendedor Má-rio,de46, jáhaviamtentadoseca-sar no ano passado, por meio deum processo que “emanciparia”o acordo de união estável que ha-viamassinadoem 2010. Mas oad-vogado Horácio Raineri Neto,amigo do casal, os orientou aaguardarapublicaçãodeumacór-dão que autorizaria o casamentocivildepessoasdomesmosexonacapital. O texto saiu no Diário daJustiça em 6 de julho.

A cerimônia, realizada no Cartó-rio de Itaquera, na zona leste, foimarcada pelos cumprimentos eaplausos dos quase 20 amigos pre-sentes e pelas lágrimas de alegriados noivos. “Além de ser uma vitó-ria para a gente, quero que sirva deexemplo para outros casais. Ou-sem. Vocês têm esse direito”, disseMário, chorando, uma hora antesdo casamento. “Nós poderíamosnoscasarnocentrodacidade,ondedizem existir menos preconceito.MasmoramosemItaquera,quere-moscasaremItaqueraesermosres-peitadosemItaquera”,completou.

“Agora, eume sinto mais igual”,declarou Gledson, logo depois debeijar e trocar alianças com o noi-vo, “porque ninguém perdeu umdireito aqui após este ato, mas euganhei um”. O casamento facilita

aentrega deherançaaoparceiroetorna obrigatório o reconheci-mentodeMáriocomodependen-te em planos de seguro de saúde,pontoimportanteparaocasalpor-que Gledson é servidor público.Elesnãoreceberamlicençaremu-nerada de seus empregos porquejá haviam feito isso quando cele-braram a união estável, em 2010.

OcomeçoJuntos desde 2002, Mário e Gled-son chegaram a morar três vezesem terrenos invadidos, incluindoumdo pai de Gledson –que tentoumatarMário com uma enxada, em2004. Foi processado e condenadoa pagar indenização, mas não ti-nha renda suficiente. ::

SPfazcasamentogayemcartório

CONQUISTA

Pela1ªveznacidade,casalhomossexualnãotevederecorreràJustiçaparaconseguirsecasar

“Agoraeumesintomaisigual,porqueninguémperdeuumdireitoaquiapósesteato,maseuganheium”

GLEDSONPERRONEGREGO,TÉCNICODEENFERMAGEMENOIVO

GUSTAVO MAGNUSSON/AE

Sociedade

Gledson (esq.) e Mário fizeram questão de se casar no bairro onde vivem