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60 REVISTA NOTÍCIAS DA CONSTRUÇÃO / MAIO 2013 A Norma de Desempenho ABNT NBR 15575-5:2013 especifica diversos requisitos e seus respectivos critérios, para avaliar siste- mas de cobertura de edifícios sob diferentes condições. Dentre tais requisitos, ressalta-se o atendimento à estanqueidade à agua do sistema de cobertura durante sua vida útil. Os sistemas de cobertura têm as fun- ções de proteger as edificações contra a ação das intempéries – chuva, vento, raios solares, e impedir a penetração de poeira e ruídos, além de ter influência importante no desempenho termoacústico da edificação. As coberturas incluem a parte resistente (laje, estrutura de madeira, estrutura metálica, etc.) e, no caso de telhados, um conjunto de telhas com função de vedação, podendo apresentar ainda forro, camadas de isolação térmica e outras. Os componentes dos sistemas de cober- tura com telhas são: • estrutura: elemento de apoio do te- lhado (pode ser de madeira, aço, concreto ou outro material adequado para funções estruturais); • telhado: provê a estanqueidade à água de chuva, com peças fixadas ou apoiadas na estrutura (pode ser de telhas cerâmicas, de fibrocimento, chapas galvanizadas, shingles asfálticos etc.); • forro: instalado sob a estrutura do telhado, pode ser de placas de gesso, PVC, madeira, lã de rocha ou lã de vidro etc.); • subcoberturas: mantas sob as telhas para proteção adicional no que tange à es- tanqueidade e à isolação; • sistemas de captação de águas pluviais e sua condução para fora dos limites da edi- ficação (rufos, calhas, condutores verticais, rincões); • outros eventuais: camadas isolantes térmicas, barreiras de vapor etc. A seguir mostramos os critérios de desempenho relativos à estanqueidade na cobertura, e os métodos para avaliar em laboratório o atendimento a esse requisito. A estanqueidade deve ser verificada pela análise de projetos e, eventualmente, por ensaios, especialmente para os casos em que se desconhece o comportamento de um dos produtos do sistema de cobertura, como nos sistemas construtivos inovadores. Quando se realiza ensaio, segundo a norma, não deverá ocorrer penetração ou infiltração de água pelo telhado que acarrete escorrimento, gotejamento ou manchamento na face interna, considerando as condições de exposição indica- das no texto norma- tivo. Também não pode ocorrer deste- lhamento ou arranca- mento dos componentes devido à pressão de ar exercida no corpo de prova da cobertura durante o ensaio. O ensaio consiste em submeter um trecho do sistema de cobertura (corpo de prova) a determinada vazão de água, sob a condição de uma diferença estática de pressão. Deve-se usar uma câmara estanque ao ar, que possibilite montar o trecho da cobertura em seu interior. Dentro dela são instalados bicos aspersores de água e de ar, para simular as chuvas sem a interferência do meio externo. O equipamento também possibilita reproduzir as inclinações a que o sistema de cobertura obedecerá, de acordo Estanqueidade SOLUÇÕES INOVADORAS HENRIQUE BANDEIRA FACCIO é técnico do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do IPT, tecnólogo em construção civil pela Fatec e cursando Engenharia Civil na Universidade Mogi das Cruzes Envie seus comentários, críticas, perguntas e sugestões de temas para esta coluna: [email protected] Ensaios evitam vazamentos e avaliam durabilidade do sistema da cobertura

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60 revista notícias da construção / Maio 2013

A Norma de Desempenho ABNT NBR 15575-5:2013 especifica diversos requisitos e seus respectivos critérios, para avaliar siste-mas de cobertura de edifícios sob diferentes condições. Dentre tais requisitos, ressalta-se o atendimento à estanqueidade à agua do sistema de cobertura durante sua vida útil.

Os sistemas de cobertura têm as fun-ções de proteger as edificações contra a ação das intempéries – chuva, vento, raios solares, e impedir a penetração de poeira e ruídos, além de ter influência importante no desempenho termoacústico da edificação. As coberturas incluem a parte resistente (laje, estrutura de madeira, estrutura metálica, etc.) e, no caso de telhados, um conjunto de telhas com função de vedação, podendo apresentar ainda forro, camadas de isolação térmica e outras.

Os componentes dos sistemas de cober-tura com telhas são:

• estrutura: elemento de apoio do te-lhado (pode ser de madeira, aço, concreto ou outro material adequado para funções estruturais);

• telhado: provê a estanqueidade à água de chuva, com peças fixadas ou apoiadas na estrutura (pode ser de telhas cerâmicas, de fibrocimento, chapas galvanizadas, shingles asfálticos etc.);

• forro: instalado sob a estrutura do telhado, pode ser de placas de gesso, PVC, madeira, lã de rocha ou lã de vidro etc.);

• subcoberturas: mantas sob as telhas para proteção adicional no que tange à es-tanqueidade e à isolação;

• sistemas de captação de águas pluviais e sua condução para fora dos limites da edi-ficação (rufos, calhas, condutores verticais, rincões);

• outros eventuais: camadas isolantes térmicas, barreiras de vapor etc.

A seguir mostramos os critérios de desempenho relativos à estanqueidade na cobertura, e os métodos para avaliar em laboratório o atendimento a esse requisito.

A estanqueidade deve ser verificada pela análise de projetos e, eventualmente, por ensaios, especialmente para os casos em que se desconhece o comportamento de um dos produtos do sistema de cobertura, como nos sistemas construtivos inovadores.

Quando se realiza ensaio, segundo a norma, não deverá ocorrer penetração ou infiltração de água pelo telhado que acarrete escorrimento, gotejamento ou manchamento na face interna, considerando as condições

de exposição indica-das no texto norma-tivo.

Também não pode ocorrer deste-lhamento ou arranca-

mento dos componentes devido à pressão de ar exercida no corpo de prova da cobertura durante o ensaio.

O ensaio consiste em submeter um trecho do sistema de cobertura (corpo de prova) a determinada vazão de água, sob a condição de uma diferença estática de pressão. Deve-se usar uma câmara estanque ao ar, que possibilite montar o trecho da cobertura em seu interior. Dentro dela são instalados bicos aspersores de água e de ar, para simular as chuvas sem a interferência do meio externo. O equipamento também possibilita reproduzir as inclinações a que o sistema de cobertura obedecerá, de acordo

EstanqueidadeS o l u Ç Õ E S i n o v A d o r A S

HenriQUe banDeira FaCCio é técnico do Laboratório de Componentes e Sistemas Construtivos do iPt, tecnólogo em construção civil pela Fatec e cursando engenharia Civil na Universidade Mogi das Cruzes

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Ensaios evitam vazamentos e avaliamdurabilidade do sistema da cobertura

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com o projeto. A norma estabelece a incor-poração no ensaio de todos os componentes ou dispositivos do sistema de cobertura.

A diferença de pressão de ensaio varia de acordo com as condições de exposição às quais será submetida a cobertura. Tal di-ferença é calculada em função das diversas regiões do Brasil, considerando as isopletas de vento da norma ABNT NBR 6123:1888 .

O Laboratório de Componentes e Siste-mas Construtivos do IPT possui uma câmara para avaliar a estanqueidade à agua de cober-turas, tendo capacidade para ensaiar corpos de prova com áreas de até 10m². Pode-se montar uma cobertura amostral, em tamanho reduzido de 2,5m x 4m por exemplo, dentro da própria câmara. Acima do corpo de prova é posicionado o sistema de bicos aspersores, sendo possível regular sua vazão de água.

O sistema de cobertura instalado na câmara fica sobre uma área vedada para receber a pressurização de ar, submeten do-se o corpo de prova a uma pressão negativa (sucção) na face interna, enquanto a água é lançada na face externa.

A face superior da zona de pressuri-zação é o próprio corpo de prova. Sua face inferior é constituída por caixilhos que possi-bilitam a visualização das ocorrências duran-te o ensaio como, por exemplo, vazamentos, gotejamento e outras falhas eventuais.

A câmara de estanqueidade de cober-turas possibilita também a regularização da inclinação do corpo de prova, tornando o en-saio mais real, podendo simular as diversas configurações de telhados das obras reais.

A câmara é ainda dotada de aspersores na extremidade superior, que podem ser utilizados para avaliar a estanqueidade no caso de volumes de água superiores aos que incidem diretamente sobre a cobertura (ca-sos de panos mais extensos que a capacidade do equipamento).

A simulação em laboratório ajuda a compreender o potencial comportamento dos sistemas de coberturas em telhados, podendo-se considerar a ação simultânea dos ventos e das chuvas e a pluviometria típica

de cada região. O ensaio possibilita avaliar a eficiência dos encaixes entre telhas, destas com peças complementares, risco de escor-rimentos ou gotejamentos sob tempestades, risco de instabilizações ou deformações dos panos etc.

Além do ensaio descrito anteriormente, podem ser realizados outros específicos de envelhecimento acelerado nos componentes dos sistemas, visando avaliar a durabilidade dos materiais ao longo da vida útil da cober-tura. Por exemplo, no caso de sistemas que empreguem telhas com material betuminoso, são necessários ensaios para se verificar a estabilidade do material quando exposto a temperaturas elevadas, com possibilidade de ocorrerem amolecimentos, eliminação de voláteis e outros. Em sistemas que usam material polimérico, devem ser feitos estu-dos da reação do material quando exposto à radiação solar (simulação em câmara de CUV-B / Wheather-O-Meter). Para os que utilizam madeira, há necessidade da verifi-cação da resistência ao ataque de organismos xilófagos e à ação da umidade.

A maior vantagem de se verificar a estanqueidade é a possibilidade de anali sar-se e aperfeiçoar-se a relação entre os com-ponentes (parafusos, calhas, vigas-calha, encontros com paredes, arremates, espigões, águas furtadas, oitões, regiões de cumeeiras, subcoberturas etc.), e avaliar o desempenho para suas condições reais de uso, inclusive sob o aspecto da vida útil de projeto.

Inclinação da câmara de ensaio simulando a inclinação do telhado torna o ensaio mais real