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MATRIZES SOLTAS A suinocultura, pressionada pelo consumidor, vive um momento de transição para o melhor bem-estar dos animais. O desafio dos médicos veterinários e zootecnistas está em conhecer, orientar e aplicar as práticas SUINOCULTURA ENTREVISTA Juliana Freitas Gerente de serviços veterinários do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos JANEIRO A MARÇO 2016 ANO XXII BRASÍLIA DF ISSN 1517-6959 68 REVISTA LABORATÓRIOS DE DIAGNÓSTICO O desafio está na padronização de resultados MORDIDA DE CÃES E GATOS Entenda como proceder e como orientar os proprietários

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MATRIZES SOLTASA suinocultura, pressionada pelo consumidor, vive um momento de transição para o melhor bem-estar dos animais. O desafio dos médicos veterinários e zootecnistas está em conhecer, orientar e aplicar as práticas

SUINOCULTURA

ENTREVISTA

Juliana Freitas Gerente de serviços veterinários do Comitê

Organizador dos Jogos Olímpicos

JANEIRO A MARÇO 2016

ANO XXII BRASÍLIA DF

ISSN 1517-695968REVISTA

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LABORATÓRIOS DE DIAGNÓSTICO

O desafio está na padronização de resultados

MORDIDA DE CÃES E GATOS

Entenda como proceder e como orientar os proprietários

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nº 68 Janeiro a Março 2016

CAPA27 O bem-estar dos suínos e os novos desafios profissionais

31 No Brasil, o governo e grandes empresas incentivam mudanças

33 Na prática, quais os principais pontos de modificação nas granjas?

38 Modelo para o país

05 ENTREVISTAJuliana Freitas - Gerente de serviços veterinários do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos

8 Diagnóstico situacional dos serviços de controle de zoonoses

13 A importância da avaliação na educação superior

16 CFMV em ação

17 Destaques CFMV

19 CFMV na mídia

21 CFMV - Legislação em Pauta

22 Erliquiose Canina

41 Com o rebanho nas mãos

45 Mordidas: implicações, tratamentos e orientações

50 Higiene e qualidade do pescado

55 A Importância da certificação de laboratórios de diagnóstico

58 Em dia com a fiscalização

59 Suplemento científico

84 Opinião

86 Publicações

SUMÁRIO

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41 50

55

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Conselho Federal deMedicina VeterináriaSIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140Brasília-DF – CEP 71205-060Fone: (61) 2106-0400Fax: (61) [email protected] ExecutivaPresidenteBenedito Fortes de ArrudaCRMV-GO no 0272Vice-PresidenteEduardo Luiz Silva CostaCRMV-SE no 0037Secretário-GeralMarcello Rodrigues da Roza CRMV-DF no 0594TesoureiroAmilson Pereira SaidCRMV-ES no 0093ConselheirosConselheiros EfetivosAdeilton Ricardo da Silva CRMV-RO no 002/ZCláudio Regis Depes CRMV-SP no 4010Gerson Harrop Filho CRMV-PE no 0678Gilmar Nogueira Rocha CRMV-AM no 0195Laudélio Santos Fonseca CRMV-BA no 0599 Moacir Tonet CRMV-SC no 0837Conselheiros SuplentesFelipe José Feitoza BastosCRMV-AL no 0451Flávio Pinto de Oliveira CRMV-PB no 0385Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho CRMV-MA no 0454Reginaldo Santos Nogueira CRMV-TO no 0164Rísia Lopes Negreiros CRMV-MT no 1379Sérgio Carmona de São Clemente CRMV-RJ no 1537Conselho EditorialPresidenteMarcello Rodrigues da Roza CRMV-DF no 0594Líder da Área de ComunicaçãoLisiane CardosoEditorRicardo Junqueira Del CarloSubeditoraFlávia ToninRevista CFMVEditorRicardo Junqueira Del CarloCRMV-MG no 1759Jornalista ResponsávelFlávia ToninMTB no 039263/SPFoto CapaPablo Emílio de MattosDiagramaçãoBonach ComunicaçãoImpressãoEsdeva Indústria Gráfica

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O país enfrenta uma triste epidemia de dengue e surtos de novas doenças, como zika e febre chikungunya, que dependem da ação efetiva, contínua e periódica de todos. Por serem zoonoses, trazem à tona ainda mais o conceito de Saúde Única e a importância da Medicina Veterinária para a manutenção da saúde humana. Há maior participação da classe, pois, com a demanda crescente, ampliou-se a necessidade de profissionais da saúde na orientação e no combate e prevenção do vetor. Por sua formação, o médico veterinário conhece particularidades, como a dinâmica biológica do mosquito transmissor e as medidas de controle vetorial. Esse conhecimento permite a realização de ações integradas entre os diversos profissionais envolvidos. É importante que estejamos atentos e sejamos colaborativos.

Também aproveito esse espaço para reconhecer a importância de atualização e mudança das cadeias produtivas brasileiras, em especial na suinocultura, retratada nesta edição da Revista CFMV. É gratificante ver os profissionais se adequando às novas tendências, enfrentando desafios e garantindo a produtividade com sustentabilidade. Outro tema importante da edição, também relacionado à produção, está no trabalho de médicos veterinários que lideram grandes projetos pecuários. São exemplos de sucesso na profissão. Por fim, a revista também traz temas técnicos relacionados às mais diversas espécies, levando informação atualizada para educação continuada dos profissionais.

Uma boa leitura!

A Revista CFMV é trimestral e destina-se à divulgação de ações do CFMV, de

promoção da educação continuada e de valorização da Medicina Veterinária e

da Zootecnia. Distribuída a todos os profissionais atuantes e adimplentes.

Esta disponível em www.cfmv.gov.br. É indexada na base de dados Agrobase.

AGRIS L70 CDU619 (81)(05)

É permitida a reprodução de artigos da revista, desde que seja citada a fonte. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores, não representando, necessariamente, a opinião do CFMV. As fotos enviadas serão automaticamente cadastradas no banco de imagens do CFMV com o devido crédito.

Unidos no combate

Benedito Fortes de ArrudaPresidente do CFMV

EDITORIAL

Errata: Na Revista CFMV, edição 66, a imagem da página 85 é de uma Truta e não uma Tilápia como identificado na legenda.

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ENTREVISTA

Juliana Freitas

Ela é a representante para o mundo olímpico da Medicina

Veterinária brasileira. Responde pela gerência de serviços

veterinários do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e

Paralímpicos. Sob sua responsabilidade estão os eventos

que envolverão cavalos, como o hipismo olímpico – salto,

adestramento e concurso completo de equitação –, o adestramento

paralímpico e a etapa do hipismo no pentatlo moderno. É preciso

ter experiência em jogos anteriores e atender aos requerimentos

do Comitê Olímpico Internacional (COI), do Comitê Paralímpico

Internacional (IPC), da Federação Equestre Internacional (FEI),

da União Internacional de Pentatlo Moderno (UIPM) e da

Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

Existe uma equipe de médicos veterinários atuando no

Comitê organizador? Caso exista, ela já está completa?

São todos brasileiros?

Temos uma equipe enxuta trabalhando diretamente no planejamento. Mas temos diversos consultores, entre eles Jenny Hall, da Inglaterra, que foi gerente de servi-ços veterinários nos Jogos de Londres/2012, que nos ajudam a entender nossas necessidades e metas. Duran-te os Jogos, como em edições anteriores, nossa equipe de trabalho será formada por voluntários especializados em medicina veterinária, de várias nacionalidades, ex-traídos do grupo de mais de 240 mil voluntários inscri-tos para as diversas áreas de atuação dos Jogos.

Existe interação entre os médicos veterinários que

atuam na equipe olímpica brasileira e os que atuam no

Comitê olímpico/organizador?

Acho que vale antes de tudo esclarecer a diferença en-tre Comitê Olímpico do Brasil (COB), que trabalha com os atletas de alto rendimento do país, e o Comitê Or-ganizador dos Jogos Rio 2016, que somos nós. Duran-te os Jogos, os veterinários da equipe do Brasil serão nossos clientes, assim como os veterinários dos outros Comitês Olímpicos dos 205 países que vamos receber no Rio em 2016. Não existe nenhuma interação espe-cial por serem membros do país sede. Nosso papel é informar e apoiar esses médicos veterinários, além de prover instalações, materiais e equipamentos necessá-rios para que encontrem o melhor cenário possível a fim de que possam exercer suas atividades.

As equipes possuem seus próprios veterinários ou fa-

zem uso de profissionais disponibilizados pelo país sede?

A maioria das equipes traz seus próprios veterinários e muitas vezes também seu próprio ferrador e fisio-terapeuta. Mas teremos uma equipe de médicos vete-rinários de tratamento para atender àqueles que não trouxerem seus veterinários e necessitarem de apoio.

Há alguma preocupação extra com a saúde dos ani-

mais? Algum hospital e equipe de plantão?

Os cavalos são alguns dos atletas que vamos receber. Precisam estar em excelentes condições físicas para

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ENTREVISTA

disputar uma medalha olímpica. Devido a restrições sanitárias, os cavalos não poderão sair da insta-lação do hipismo, por isso teremos uma clínica veterinária no local equipada com todo material neces-sário para lidar com emergências, incluindo um centro cirúrgico. Te-mos o Centro Equestre de Deodoro, que segue as exigências da Federa-ção Equestre Internacional (FEI).

Existem particularidades/exigên-

cias provenientes de outras equi-

pes/países para com seus animais?

Nenhuma exigência específica. Mas o Brasil ainda possui algu-mas restrições sanitárias, como a ocorrência de focos de mormo. Tivemos que criar medidas pre-ventivas e condições de alto ri-gor de biossegurança para garan-tir que esses animais possam vir ao Brasil competir e retornar aos seus países com segurança. Entre essas condições está o vazio sani-tário das instalações e a regiona-lização da instalação do hipismo, que transforma a área em uma bolha sanitária. Os cavalos per-manecem dentro dessa bolha du-rante as competições e não têm contato com nenhuma outra área ou região da cidade.

Quais são as maiores preocupações

da operação médico-veterinária em

grandes eventos equestres como as

Olimpíadas e Paralimpíadas?

Estamos falando de uma opera-ção complexa, que envolve bios-segurança, chegada e partida de dezenas de cavalos, uma clínica veterinária toda equipada para atender esses animais, além do atendimento de primeiros so-corros nas arenas de competi-ção. Nosso objetivo é entregar jogos excelentes.

A Medicina Veterinária está en-

volvida em outras áreas do even-

to, como a saúde pública?

Não, trabalhamos exclusivamente com o Hipismo e suas modalida-des e o Pentatlo Moderno. A parte de saúde pública é feita pelos fis-cais municipais responsáveis por essa área.

Essa será a terceira olimpíada

que a senhora participa da orga-

nização e já houve um evento-

teste. Quais serão os pontos for-

tes que a organização do Brasil

terá para apresentar?

Sim, é minha terceira participa-ção em Jogos, mas a primeira vez que atuo diretamente na or-ganização. Em Pequim/2008 fui veterinária da equipe brasilei-ra de CCE e, em Londres/2012, fui voluntária na equipe de serviços veterinários. Acredi-to que nós, brasileiros, temos alta capacidade de resiliên-cia e grande otimismo diante das adversidades. Nosso com-prometimento é grande, o que me deixa cada vez mais con-

T Evento teste permitiu avaliar as instalações e identificar pontos a serem melhorados.

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ENTREVISTA

“Tivemos que criar medidas preventivas e condições de alto rigor de biossegurança para garantir que esses animais possam vir ao Brasil competir e retornar aos seus países com segurança. Entre essas condições estão o vazio sanitário das instalações e a regionalização da instalação do hipismo, que transforma a área em uma bolha sanitária”

A Resolução CFMV nº 1.037/2013 autoriza o exer-cício profissional temporário dos médicos veteriná-rios estrangeiros participantes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. A norma prevê que o Comitê Organizador formalize, ao CRMV/RJ, as informações dos profissionais estrangeiros, como nome, país de origem, responsabilidade dentro da equipe, docu-mento que comprove a regularização da atividade profissional no país de origem e documento expedi-do pelo Ministério da Agricultura que comprove que as exigências sanitárias para o ingresso dos animais no Brasil foram cumpridas."Trata-se de um dos mais importantes eventos mun-diais, onde a participação de animais no esporte necessita de suporte e atenção dos médicos veteri-nários”, avalia o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Benedito Fortes de Arruda. “Por outro lado, é preciso resguardar a saúde dos animais brasileiros, não só aqueles que participarão das com-petições, mas também do nosso rebanho equídeo", ressalta sobre a importância das exigências.

fiante de que vamos entregar jogos memoráveis.

Que influência um evento dessa

magnitude pode ter na atuação e

na imagem de médicos veteriná-

rios brasileiros?

Será uma ótima oportunidade para nossos médicos veterinários participarem do maior evento es-portivo do planeta e mostrar que também temos excelentes profis-sionais. Será também uma chance de aprendizado sobre a operação veterinária em grandes eventos equestres e uma tremenda opor-tunidade de networking, uma vez que os melhores veterinários da área de medicina esportiva equi-na do mundo estarão por aqui.

LEGISLAÇÃO ESPECIAL PARA AS OLIMPÍADAS

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DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DOS SERVIÇOS DE CONTROLE DE ZOONOSESA responsabilidade de promover a prevenção, a vigilância e o controle de zoonoses foi delegada às Unidades de Vigilância de Zoonoses, estruturas físicas e técnicas, vinculadas ao Sistema Único de Saúde. Em pesquisa, o Sistema CFMV/CRMVs apresenta dados que mostram parte dessa realidade

SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA

Saúde única é um conceito que adquiriu maior im-portância nos últimos anos devido ao crescimen-to populacional e ocupação de novas áreas, mu-

danças climáticas e ambientais, aumento das viagens internacionais e comércio; mudaram as interações en-tre os seres humanos, animais e o ambiente. Essas mu-danças contribuem para o surgimento e ressurgimento de muitas doenças (CDC, 2013), entre elas várias de caráter zoonótico.

A Organização Mundial de Saúde reconhece que a luta contra as zoonoses constitui uma das principais atividades da saúde pública veterinária, considerando

que essas enfermidades constituem um importante fa-tor de morbidade e contribuem para a pobreza, pelas infecções agudas e crônicas que causam aos seres hu-manos e pelas perdas econômicas ocasionadas na pro-dução animal. A prevenção e a eliminação desse tipo de doença nos seres humanos dependem, em grande parte, das medidas adotadas contra essas enfermida-des nos animais (PFUETZENREITER; ZYLBERSZTAJN; AVILA-PIRES et al., 2004).

O Ministério da Saúde define as ações e serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e contro-le de zoonoses e de acidentes causados por animais

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peçonhentos e venenosos de relevância para a saúde pública, que se constituem em ações imprescindíveis para garantir a promoção, prevenção e proteção da saúde humana (BRASIL, 2014).

Com objetivo de mensurar o quantitativo de serviços de controle de zoonoses, entendidos por UVZs/CCZs, canis e similares, no país, e de conhe-cer as ações realizadas por essas unidades, a Co-missão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV) preparou uma pesquisa encaminhada a to-dos os estados. As questões foram elaboradas em conjunto com as Comissões Regionais de Saúde Pú-

blica Veterinária do sistema CFMV/CRMVs durante o V Fórum Nacional de Saúde Pública Veterinária, realizado em 2013, em Recife/PE. Do total de 27 CRMVs consultados, dez responderam (37%), sen-do eles dos estados de Alagoas (AL), Amapá (AP), Ceará (CE), Goiás (GO), Maranhão (MA), Mato Grosso (MT), Piauí (PI), Rio de Janeiro (RJ), Rio Grande do Sul (RS) e Sergipe (SE). Portanto, houve represen-tação de todas as regiões brasileiras. A análise do conteúdo compreendeu: leitura seletiva do mate-rial coletado, organização das respostas, seleção dos itens, relação entre eles e definição das cate-gorias das variáveis para análise.

Distribuição e registro dos SCZs

Considerando os CRMVs que enviaram as res-postas, foram reportados 97 serviços de controle de zoonoses distribuídos dentre os respectivos estados, estando a maioria concentrada no Rio Grande do Sul (43,3%) (Tabela 1). A relação “médico veterinário/nú-mero de Serviços de Controle de Zoonoses”, em sua maioria, ultrapassa 1/1, sendo que, destes, 33% estão na direção das unidades. A inserção do médico veteri-nário nas equipes de saúde ocorre naturalmente, gra-ças aos seus conhecimentos na vigilância e no controle de enfermidades coletivas. O tipo de formação do mé-dico veterinário está em consonância com o conceito de saúde pública, que vai além das necessidades indi-

viduais, considerando todos os fatores que promovem a saúde coletiva.

Dentre as atividades da saúde pública, podem-se destacar a prevenção e o controle de zoonoses, a higiene alimentar e as atividades laboratoriais. Consi-derando que zoonoses são enfermidades transmitidas naturalmente entre seres humanos e animais, é dese-jável que a saúde animal seja assegurada, de forma a prevenir a transmissão destas aos seres humanos. Por-tanto, diante dessa realidade, a presença do médico veterinário é indispensável nos órgãos e instituições de vigilância, prevenção e controle de zoonoses. Além do que os conhecimentos relacionados à manutenção

Tabela 1. Estrutura organizacional dos Serviços de Controle de Zoonoses (SCZ) existentes em dez estados brasileiros, a partir de informações obtidas nos CRMVs, 2013.

Serviços de Controle de Zoonoses (UVZs/CCZs, canis e/ou similares)

AL AP CE GO MA MT PI RJ RS SE Total

Quantas unidades existem no estado? 2 1 11 8 5 8 7 10 42 3 97

Quantas unidades possuem registro no CRMV? 2 0 7 1 5 0 0 5 38 0 58

Quantos municípios possuem médico veterinário no quadro das unidades?

2 6 8 8 5 4 5 10 39 3 90

Quantos municípios possuem médico veterinário como responsável técnico inscrito no CRMV no quadro das unidades?

2 6 7 0 5 0 0 1 26 0 47

Quantos municípios possuem unidades com inscrição no cadastro nacional de estabelecimento de saúde (SCNES)?

2 0 2 1 NI 0 0 3 NI 2 10

Quantas unidades possuem médico veterinário na direção?

2 0 3 8 4 1 4 9 NI 1 32

Total

Fonte: Questionário aplicado pela CNSPV/CFMV, respondido pelos CRMVs.

Nota: NI = Não Informado.

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da saúde coletiva envolvem conceitos de saúde am-biental, parte também integrante da formação do mé-dico veterinário. A presença desse profissional como gestor do serviço de controle de zoonoses contribui para maior eficácia e efetividade das medidas neces-sárias para a execução de um trabalho preventivo e profilático, em beneficio da saúde humana.

Um fator preocupante e que está sob a fiscali-zação dos CRMVs é que apenas 58 dos 97 Serviços de Controle de Zoonoses são registrados no siste-ma CFMV/CRMVs, dos quais 47 possuem responsá-veis técnicos devidamente habilitados no CRMV de sua jurisdição. Destaca-se que o estudo e a aplica-ção de medidas de saúde pública na temática “zoo-noses”, é de competência do médico veterinário, conforme previsto pela alínea “b” do art. 6º da Lei nº 5.517/1968. Posto isso, os Serviços de Contro-le de Zoonoses devem possuir registro, bem como responsável técnico no CRMV de sua jurisdição, de acordo com os arts. 27 e 28 da lei. O descumprimen-to dessas obrigações pode culminar em aplicação de Auto de Infração e penalidades. Para garantia da saúde da sociedade e dos animais em prol de uma saúde única é importante que o estabelecimento es-teja devidamente registrado.

A implantação dos programas de vigilância de zoonoses varia de acordo com a região

T Baias de Equídeos - SCZ de Campo Grande (MS).

Há zoonoses que estão presentes em todos os municípios, outras restritas a regiões com ca-racterísticas específicas, no entanto a implanta-ção dos programas de vigilância e controle, em geral, é decidida em âmbito municipal, confor-me a magnitude e relevância de cada enfermi-dade para a saúde pública.

Em relação à implantação e execução de programas de vigilância e controle de zoono-ses do Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro é o estado cujos Serviços de Controle de Zoono-ses apresentam maior número de programas em execução. Dos respondentes, apenas o CRMV-RS não informou sobre tais programas (Tabela 2).

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Programas relativos à vigilância e ao controle de zoonoses do Ministério da Saúde

AL AP CE GO MA MT PI RJ RS SE Total

Acidentes por animais peçonhentos 2 0 3 1 5 2 1 8 NI 2 24

Controle de Aedes aegypti 2 0 2 1 5 3 5 9 NI 2 29

Controle de Anopheles sp. NI 0 NI 0 5 2 1 4 NI 0 12

Controle de carrapatos NI 0 2 0 0 2 NI 9 NI 1 14

Controle de culicídeos 2 0 2 1 5 2 NI 7 NI 2 21

Controle de flebotomíneos 2 0 2 1 5 2 2 2 NI 1 17

Controle de moluscos NI 0 NI 2 0 2 NI 8 NI 2 14

Controle de morcegos 2 0 1 1 5 2 1 7 NI 1 20

Controle de outros sinantrópicos NI 0 1 1 5 3 1 3 NI 1 15

Controle de outros vetores 2 0 NI 0 5 1 NI 3 NI 0 11

Controle de pombos NI 0 NI 8 0 2 NI 9 NI 0 19

Controle de roedores 2 0 3 2 5 3 1 9 NI 2 27

Controle de triatomíneos 2 0 2 1 5 3 1 1 NI 2 17

Doença de Chagas 1 0 2 0 NI 3 4 2 NI 1 13

Esporotricose NI 0 NI 0 0 0 NI 8 NI 0 8

Febre Amarela NI 0 1 1 5 1 NI 2 NI 1 11

Hantavirose NI 0 NI 3 2 1 NI 2 NI 0 8

Leishmaniose Visceral 2 0 3 2 5 3 7 6 NI 3 31

Leptospirose NI NI 1 1 5 1 1 9 NI 1 19

Peste NI 0 0 0 1 1 NI 0 2

Raiva 1 6 3 8 5 3 7 10 NI 3 46

Riquetsioses NI 0 NI 2 5 0 NI 3 NI 0 10

Total

Fonte: Questionário aplicado pela CNSPV/CFMV, respondido pelos CRMVs.Nota: NI = não informado.

Tabela 2. Programas relativos à vigilância e ao controle de zoonoses, do Ministério da Saúde, nos Serviços de Controle de Zoonoses existentes em dez estados brasileiros, a partir de informações

obtidas nos CRMVs, 2013.

T Descarte de resíduos sólidos - SCZ Campo Grande (MS).

Estrutura física dos SCZs

Quanto à estrutura física dos Serviços de Controle de Zoonoses (Tabela 3), do total de estabelecimentos informados 77% possuem alojamento para animais, destes o maior nú-mero está no estado do Rio Grande do Sul, onde a relação dos alojamentos por unidade é de 1/1. Apenas não houve informação do esta-do do Amapá.

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Tabela 3. Infraestrutura e atividades/programas relatados, dos Serviços de Controle de Zoonoses (UVZs/CCZs, canis e/ou similares) existentes em dez estados brasileiros, a partir de informações obtidas nos CRMVs, 2013.

Fonte: Questionário aplicado pela CNSPV/CFMV, respondido pelos CRMVs.Nota: NI = não informado.

A existência de instalações apropriadas, que res-peitem as normas de bem-estar animal, é necessária e imprescindível para as ações de controle de zoonoses; tais como manutenção de animais em observação, com suspeita de doenças transmissíveis aos humanos ou mesmo quanto ao recolhimento de animais portado-res confirmados de tais enfermidades. Contudo muitas ações, como as educativas, são também importantíssi-mas e podem ser desenvolvidas, independentemente de instalações adequadas.

Constata-se, ainda, pelas respostas, que apenas 14 municípios possuem parcerias, convênios e/ou tercei-rização em relação ao manejo animal, principalmente com instituições de ensino. Em referência à execução de ações integradas com setores da agricultura, apenas 15% possuem em algum tipo de atividade frente à no-tificação de zoonoses, e 8% possuem Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público.

Uma situação preocupante, segundo as respostas obtidas no questionário, é que apenas 9% dos Servi-ços de Controle de Zoonoses possuem Plano de Geren-ciamento de Resíduos de Serviços Saúde.

Infraestrutura organizacional e estrutural dos Serviços de Controle de Zoonoses (UVZ/CCZs, canis e/ou similares)

AL AP CE GO MA MT PI RJ RS SE Total

TOTAL 2 1 11 8 5 8 7 10 42 3 97

Possuem estrutura para alojamento de animais 2 0 3 8 5 3 5 4 42 3 75

Realizam procedimentos cirúrgicos 2 0 0 1 3 0 0 5 12 0 23

Possuem centros cirúrgicos 2 0 1 1 3 0 0 5 13 0 25

Prestam atendimento clínico veterinário extensivo à população 2 0 2 NI 1 0 1 2 NI 2 10

Possuem “programa ou projeto de castração” 2 0 1 3 1 1 1 5 19 0 33

Possuem laboratório para diagnósticos de zoonoses em animais 3 NI 4 0 4 3 1 2 NI 4 21

Possuem parcerias, convênios e/ou terceirização em relação ao manejo animal com as seguintes instituições

1 NI 2 3 5 1 NI 1 NI 1 14

Desenvolvem ações integradas com setores da agricultura, frente à notificação de zoonoses? (ex: cisticercose, brucelose, raiva, tuberculose, entre outras)

0 0 2 0 1 1 5 6 NI 0 15

Possuem Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público 2 0 0 1 1 0 1 2 NI 1 8

Possuem Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços Saúde 0 0 0 1 0 2 1 3 0 2 9

Total

REFERÊNCIASBRASIL. MINISTÉRIO DA SÁUDE. Portaria GM/MS n.o 1.138/2014. Define as

ações e os serviços de saúde voltados para vigilância, prevenção e controle de

zoonoses e de acidentes causados por animais peçonhentos e venenosos, de

relevância para a saúde pública. Diário Oficial da União, v. Seção 1, n. 98,

p. 83–84, 2014a.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. About One Health.

2013b. Disponível em: <http://www.cdc.gov/onehealth/about.html>.

PFUETZENREITER, M. R.; ZYLBERSZTAJN, A.; AVILA-PIRES, F. D. DE. Evolução

histórica da medicina veterinária preventiva e saúde pública. Ciência Rural,

v. 34, n. 5, p. 1661–1668, 2004.

AUTORES

CELSO BITTENCOURT DOS ANJOS (PRESIDENTE), AURÉLIO BELÉM DE FIGUEIREDO NETO, LÚCIA REGINA MONTEBELLO PEREIRA, MARCELO JOSTMEIER VALLANDRO, ROBERTO FRANCISCO LUCENA E STHENIA SANTOS ALBANO AMORA

STHENIA SANTOS ALBANO AMORA (PRESIDENTE), ADRIANA MARIA LOPES VIEIRA, FERNANDO PAIVA, FRED JÚLIO COSTA MONTEIRO E GERALDO EDSON ROSA

Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária. (CNSPV/CFMV). [email protected]

Gestão 2011-2014 Gestão 2014-2017

Focar nos programas de prevenção de zoonoses, com verba específica para essas ações.

Ampliar as parcerias com instituições de ensino, pesquisa, iniciativa privada e ONGs; os coordenadores de programas de vigilância e controle de zoonoses devem ser, obrigatoriamente, médicos veterinários.

Não permitir atendimento clínico ou cirúrgico nas dependências das UVZ/CCZ. Elaborar programas de castração de animais.

Equipar laboratórios e capacitar médicos veterinários para atuar frente a zoonoses.

OBSERVAÇÕES FEITAS PELAS COMISSÕES REGIONAIS DE SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA

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de avaliação mais burocrática, a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes) e o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), apresenta-ram projetos substitutivos com foco mais no processo e não no produto, gerando amplos debates, o que culmi-nou com a interrupção do programa proposto pelo Geres.

O MEC, em 1993, baseado na proposta gerada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Institui-ções Federais (Andifes), instituiu o Programa de Avalia-ção Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub). Esse Programa, construído a partir de parcerias entre o MEC e as universidades, teve a adesão e participação voluntária de mais de 90% das universidades brasi-leiras. Contudo o Paiub não obteve apoio do governo eleito em 1994, que optou pela proposta anteriormen-te elaborada pela Geres, a qual tinha como carro-chefe o Exame Nacional de Cursos, também conhecido como Provão (1996-2002), que detinha maior visibilidade, e, secundariamente, na Análise de Condições de Oferta dos Cursos (ACE) e pelo Censo da Educação Superior.

Nesse ínterim, foram promulgadas a Lei nº 9.131⁄1995, que instituiu a avaliação periódica das instituições e cursos de nível superior, e a nova LDB (Lei nº 9.394⁄1996), que, dentre outros aspectos, define como atribuições da União “autorizar, reconhecer, cre-denciar, supervisionar e avaliar cursos e instituições”.

A avaliação de Instituições de Educação Superior (IES) e de cursos de graduação no Brasil é um pro-

cesso recente. Em 1983, no âmbito do Ministério da Educação, foi criado o Programa de Avaliação da Refor-ma Universitária (Paru), visando apontar as principais deficiências das IES e propor estratégias para superá--las. Tal programa foi extinto no ano seguinte e não lo-grou avançar na medida em que não formulou normas técnicas e legais para amparar o processo de avaliação.

Em 1986, foi instituída, também pelo então ºMinisté-rio da Educação e Cultura (MEC), uma comissão de notá-veis, denominada Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (Geres), que considerou a avalia-ção como um ponto “nevrálgico na política da educação superior e deu todo o apoio às medidas destinadas a estabelecer um sistema de avaliação interpares dos cur-sos e instituições”, incluindo o sistema de avaliação de desempenho dos alunos. Opondo-se a essa concepção

ENSINO

A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

O sistema de avaliação vem avançando no sentido de promover uma cultura avaliativa nas instituições, o que permite um processo permanente de reflexão e questionamento

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SITUAÇÃO ATUAL DA AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

A maior transformação do sistema ocorreu a partir de 2004, com a promulgação da lei do Sistema Nacio-nal de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), com o objetivo de assegurar processo nacional de avalia-ção das Instituições de Educação Superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes. Tal sistema resgatava alguns princípios e concepções do Paiub, na medida em que tinha como epicentro o processo de Autoavaliação Institucional.

Já em seu art. 1º, § 1º, definia que o Sinaes te-ria por finalidade a melhoria da qualidade da edu-cação superior, ou seja, partia-se do princípio que o processo avaliativo deveria ser indutor de qualidade. Além disso, assinalava que o sistema deveria orien-tar a expansão da oferta da educação superior, com aumento permanente da eficácia institucional e efe-tividade acadêmica e social, respeitando a diferença, a diversidade, a autonomia e a identidade institucio-nal. Indicava também que os resultados da avaliação se constituiriam em referencial para os processos de

credenciamento e recredenciamento de IES, e para autorização, reconhecimento e renovação de reco-nhecimento de cursos de graduação.

Tanto a avaliação das IES quanto a avaliação de cursos e do desempenho dos estudantes (Enade) re-sultariam na aplicação de conceitos, ordenados em uma escala com 5 (cinco) níveis Para levar a cabo os procedimentos de avaliação in loco de instituições e de cursos, foi implantado o Banco Nacional de Avalia-dores (Basis), que, após processo natural de depuração, conta atualmente com 400 avaliadores institucionais e cerca de 4 mil avaliadores de cursos. Destes últimos, aproximadamente 60 (sessenta) constituem o banco de avaliadores de cursos de Medicina Veterinária.

Desde sua origem, o Sinaes tem se revelado um sistema de abrangência continental, altamen-te complexo, dada a dimensão do Sistema Educa-cional Brasileiro constituído de aproximadamente 2.500 instituições, 32 mil cursos de gradua-ção e mais de 7 milhões de estudantes (Censo 2013).

AUTOAVALIAÇÃO INSTITUCIONALPor força de lei, todas as Instituições de Educação

Superior, pública ou privada, deverão constituir uma Comissão Própria de Avaliação (CPA). A CPA realiza o processo de autoavaliação com base nas dimensões e nos princípios do Sinaes, tendo como objetivo iden-tificar as potencialidades e fragilidades do ensino, da pesquisa, da extensão, da infraestrutura e da gestão acadêmica. Os resultados do processo são consolida-dos em um relatório que é, anualmente, postado em um sistema eletrônico do MEC.

AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL EXTERNA

Trata-se de um processo de avaliação periódico reali-zado in loco por uma comissão constituída por três docen-tes oriundos de instituições públicas ou privadas, devida-mente capacitados para realizar a avaliação da instituição de ensino como um todo. Esses processos avaliativos são compulsórios para autorizar o funcionamento de uma instituição, processo denominado Credenciamento, ou

para renovações regulares e periódicas, conhecidas como Recredenciamento. Tem como base cinco eixos em que se destacam: a avaliação e o planejamen-to institucional; as políticas para o ensino, a pesquisa e a extensão; as políticas de gestão e a infraestrutura físi-ca, além dos requisitos legais e normativos.

AVALIAÇÃO DE CURSOS

Processo periódico que obedece ao ciclo avaliativo do curso, realizado por meio de visita in loco, por comissão de dois docentes, com vistas à avaliação de cursos de bacharelado, licenciaturas ou cursos superio-res de Tecnologia. Baseia-se na análise de três dimensões prin-cipais: a organização didático-

Modalidades de processos avaliativos

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-pedagógica, o corpo docente e a infraestrutura física. Atualmente tais avaliações são compulsórias para fins de autorização de cursos em instituições de ensino desprovidas de autonomia, nos processos regulares de reconhecimento de cursos e ainda naqueles cur-sos submetidos a processos de supervisão, ou seja, naqueles cursos que tiveram desempenho considera-do insuficiente quando da realização do Enade.

EXAME NACIONAL DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DO ESTUDANTE (ENADE)

Exame periódico e regular em que todos os cursos são avaliados a cada três anos por meio de avaliação de seus alunos concluintes, obedecendo a uma sequência previamente definida pela Comis-são Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes), a saber: Ano 1 – cursos da área da Saúde e Ciências Agrárias; Ano 2 – Licenciaturas e Enge-nharias; e Ano 3 – Ciências Humanas e Sociais Apli-cadas. O Enade tem como objetivo aferir o desem-penho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação e as habilidades e competências em sua formação.

A partir dos processos avaliativos nominados no quadro abaixo, o MEC estabeleceu como indicadores de qualidade da educação superior:

Conceito Preliminar de Curso (CPC), que con-

substancia diferentes variáveis que traduzem resultados da avaliação de desempenho de estudantes, infraestrutura e instalações, re-cursos didático-pedagógicos e corpo docente.

Índice Geral de Cursos Avaliados da Institui-

ção (IGC), que é o resultado da média pon-derada dos Conceitos Preliminares de Curso (CPC) de graduação no triênio de referência e dos Conceitos da Capes dos programas de pós-graduação stricto sensu da Instituição de Educação Superior.

Os processos instaurados vêm avançando no senti-do de promover uma cultura avaliativa nos cursos e IES, em processo permanente de reflexão e questionamen-

to, por meio da integração de instrumentos e da partici-pação dos diversos atores institucionais. Considera-se que “A cultura da avaliação só poderá ser entendida como consolidada e instituída quando não mais houver espaço para a discussão de sua relevância e pertinência, mas sim alternativas para a sua realização”.

Para que tudo se efetive em melhor formação, é importante a atuação do coordenador de curso, o qual deve desenvolver um projeto de curso ino-vador, convergente com o mercado de trabalho. Deve ter pleno conhecimento do campo de atuação profissional e da dinâmica do mercado e identificar áreas emergentes ao mesmo tempo em que pre-serva as áreas profissionais já estabelecidas. Ain-da que tenha autonomia para criação de um pro-jeto pedagógico próprio, deve considerar, além da identidade institucional e das demandas regionais, a formação generalista preconizada pelas Diretri-zes Curriculares Nacionais. Deve elaborar um pro-jeto pedagógico equilibrado, que contemple todas as áreas de atuação profissional. Em seu trabalho está o incentivo de formas educativas que motivem e despertem o interesse dos alunos, de modo a le-vá-los a entender a abrangência da profissão, ainda que existam tendências de exercício profissional emanadas do mercado. Com esses profissionais disponíveis no mercado, os cursos comprovarão a importância de sua formação para serviços vitais da sociedade, que interferem na saúde única de pes-soas, de animais e do ecossistema.

AUTORES

ANTONIO FELIPE PAULINO DE FIGUEIREDO WOUK (Presidente)Médico VeterinárioCRMV-PR nº 3.850

JOÃO CARLOS PEREIRA DA SILVAMédico VeterinárioCRMV-MG nº 1.239

MARCELO DINIZ DOS SANTOSMédico VeterinárioCRMV-MT nº 0818

MARCELO HAUAJI DE SÁ PACHECOMédico VeterinárioCRMV-RJ nº 4.034

ROGÉRIO MAGNO DO VALE BARROSOMédico VeterinárioCRMV-ES nº 1.022

ROGÉRIO MARTINS AMORIMMédico VeterinárioCRMV-SP nº 6.757

Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária (CNEMV/CFMV) | [email protected]

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CFMV EM AÇÃO

EXPANSÃO DAS COMPETÊNCIAS HUMANÍSTICAS

Por Carolina Menkes

O Projeto Estratégias de Ensino-Aprendiza-gem do Conselho Federal de Medicina Ve-terinária (CFMV) contribui para melhorar a

qualidade da formação dos futuros médicos veteri-nários. O sucesso do projeto também se reflete no número de Instituições de Ensino Superior (IES) que procuram o CFMV para firmar parceria. Iniciado em 2013 com dois cursos-piloto, até o momento o pro-jeto soma mais de 20 adesões de IES.

Recentemente, quatro novas instituições pú-blicas aderiram ao projeto até o mês de março: a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG), a Uni-versidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Jaboticabal-SP.

Para a coordenadora do curso de Medicina Ve-terinária da UFG, Rosângela de Oliveira, muitas vezes o ensino se concentra na formação técnica, e

Novas parcerias firmadas em 2016 levam o Projeto Estratégias de Ensino-

Aprendizagem do CFMV a alunos dos cursos de Medicina Veterinária do

Brasil, totalizando mais de 20 adesões

se esquece da formação do estudante como cidadão. “As competências humanísticas, sendo identificadas e traba-lhadas, farão com que esse profissional saia mais prepa-rado para enfrentar desafios e atender a demandas da população do que apenas com o ensino formal”, diz.

VISITAS TÉCNICAS

As visitas introdutórias do CFMV buscam contex-tualizar o projeto e apresentá-lo à direção, aos pro-fessores e alunos da Instituição, com a realização de dinâmicas e oficinas. Em uma segunda etapa, por sua vez, são tratadas as dificuldades dos professores e os pontos de melhoria observados pelas IES após o início da implantação.

Segundo a coordenadora do curso de Medicina Ve-terinária da União de Ensino Superior de Viçosa, em Mi-nas Gerais, Alessandra Arreguy, a busca por informações e trocas de conhecimento aumentou significativamente entre os estudantes. “Como médicos veterinários sempre atuamos em equipe, e isso deve começar a ser praticado em sala de aula”, afirmou

O projeto foi idealizado pelo CFMV, com apoio dos coordenadores de curso durante os Seminários Nacionais de Educação promovidos pelo Conselho. Tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento das competências hu-manísticas, conforme determinação das Diretrizes Curricu-lares Nacionais (DCN) do curso de Medicina Veterinária.

A ideia pretende não só manter a excelência no conhecimento técnico, mas também inserir outras competências, como liderança, atenção à saúde, comu-nicação, tomada de decisão, administração e gerencia-mento e educação permanente.

As instituições de ensino interessadas podem entrar em contato com o CFMV para iniciar sua ade-são voluntária.

UCDB | MS UNIGRAN | MS

UFG | GO

UFMT | MT UFMT – SINOP | MT

UNIC | MT

UNIFIL | PR FEPAR | PR

UNOCHAPECÓ | SC

UNIMAR | SP UNOESTE | SP UNIPINHAL | SP UNESP/JABOTICABAL | SP

UNIPAM | MGUNIFENAS | MGUNIVIÇOSA | MGIFNMG | MG

UFPI | PI

INSTITUIÇÕES QUE ADERIRAM AO PROJETO:

UECE | CE

UNIPAMPA | RS UFRGS | RS ULBRA | RS

Foto: Arquivo CFMV

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DESTAQUES CFMV

MAIOR INTEGRAÇÃO ENTRE AS COMISSÕES DE ANIMAIS SELVAGENS DO SISTEMA CFMV/CRMVs

GRUPO DE TRABALHO SOBRE BIOTÉRIOS IRÁ PROPOR AÇÕES

O Conselho Federal de Me-dicina Veterinária (CFMV) conta com mais um Grupo de Trabalho. Desta vez, o objetivo é apresentar propostas de treinamento, resolu-ções e outras ações relacionadas a biotérios.

O GT Biotérios é formado pelos médicos veterinários Klena Sarges

Outro objetivo do grupo é a elaboração de uma proposta de treinamento de médicos ve-terinários para atuar na área. “A maior capilaridade nos propor-cionará um trabalho com mais profundidade e aprimoramento, pois são profissionais que trarão seus conhecimentos para sociali-zar com profissionais, estudantes e a sociedade brasileira”, avalia o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, sobre a criação dos grupos.

O CFMV também conta com outros dois GTs, responsáveis pela apresentação de propostas de treinamento e Resoluções nas áreas de Aquicultura e Apicultura.

da Silva, pesquisadora do Institu-to Evandro Chagas, que preside o grupo; Marcelo Alves Pinto e Vitor Valério Maffili, ambos da Fiocruz; e Carlos Alberto Muller, presidente da Comissão Nacional de Especiali-dades Emergentes do CFMV (CNEE/CFMV). O GT foi criado em janeiro e é coordenado pela CNEE/CFMV.

Pela primeira vez, as Comis-sões Nacional e Regionais de Ani-mais Selvagens do Sistema CFMV/CRMVs estarão reunidas em Fórum realizado para alinhar as ações e levantar necessidades de cada uma frente aos diferentes cenários da área. O evento será realizado nos dias 12 e 13 de abril, na sede do CFMV, em Brasília, DF.

Para o presidente da Comis-são Nacional de Animais Selva-gens (CNAS/CFMV), Carlos Eduar-do Saad, a representatividade em

cada Conselho Regional é muito importante. “Queremos incenti-var que cada estado tenha sua comissão regional, já que são realidades diferentes, com pro-blemas pontuais”, afirma Saad.

Atualmente, existem 11 Co-missões Regionais de Animais Selvagens, distribuídas nos es-tados de São Paulo, Maranhão, Santa Catarina, Alagoas, Pernam-buco, Paraíba, Rio Grande do Sul, Bahia, Mato Grosso, Rio de Janei-ro e Pará.

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DESTAQUES CFMV

PROJETO DE LEI CRIMINALIZA O EXERCÍCIO ILEGAL DE QUALQUER PROFISSÃO REGULAMENTADA E O CFMV CONTRIBUI PARA O DEBATE

CFMV PARTICIPA DA CONSTRUÇÃO DE PROJETOS DE INTERESSE DA MEDICINA VETERINÁRIA

Está sendo discutido pela Câ-mara dos Deputados o Projeto de Lei nº 3.614/2015, que pretende criminalizar o exercício ilegal de qualquer profissão regulamenta-da. Atualmente, apenas o exercí-cio ilegal de Medicina, Odonto-logia e Farmácia se enquadram como crime.

O presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Benedito Fortes de Arru-da, ressalta que esta é uma de-manda antiga no Congresso Na-cional. “Com este novo PL, creio

O Conselho Federal de Medi-cina Veterinária está atento aos projetos de lei e normas em an-damento no Congresso Nacional e nos Ministérios. Dentre as ações, encaminhou, no início do ano, ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sugestões para projetos e consultas públicas.

que a tramitação será mais rápida, e poderemos contar com um ins-trumento que possibilitará puni-ção mais severa”, afirma Arruda. Em sua concepção, “não está em jogo apenas o bem-estar animal, mas também a saúde pública”.

A Comissão Nacional de As-suntos Políticos (Conap/CFMV) acompanha a tramitação do pro-jeto. “O exercício ilegal da Medici-na Veterinária causa uma série de problemas à saúde dos animais, das pessoas e do meio ambiente. Hoje existem instrumentos para

Entre eles está o projeto de Instrução Normativa (IN) que pre-tende estabelecer normas de cre-denciamento das entidades para realização de treinamento em manejo pré-abate e abate de ani-mais. Entre suas sugestões, pediu a inserção de um artigo que es-tabelece a necessidade da atua-ção do médico veterinário, con-forme estabelece a Lei Federal nº 5.517/1968.

Para a IN que estabelece o Plano Nacional de Prevenção e Vigilância da Influenza Aviária (IA) e Doença de Newcastle (DCN), o CFMV propôs medidas relacio-

punir, mas ainda de forma muito branda”, afirma o presidente da Comissão, Júlio Barcellos.

nadas à biossegurança. Também enviou sugestões para o setor de leite e derivados.

Internamente, estão em ava-liação, pelas comissões assesso-ras, outros pareceres relacionados a questões sobre registro genea-lógico de animais domésticos de interesse zootécnico; agroindús-tria de pequeno porte de produ-tos de abelha e derivados, bem como para o setor de agroindús-tria de pequeno porte de ovos de galinha e codornas; e, por fim, monitoramento do controle de salmonella ssp.

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CFMV NA MÍDIA

O TRABALHO DO CFMVUma avaliação do presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Benedito Fortes de Arruda, sobre o trabalho desenvolvido pelo CFMV em 2015 e as ações desse ano foi tema de reportagem da Revista Cães e Gatos. Entre as principais conquistas do ano que passou estão o trabalho de divulgação do conceito de Saúde Única, a realização de eventos para a discussão de temas pertinentes à profissão, na área de educação e as novas resoluções.

ATENDIMENTO GRATUITOA nota conjunta assinada pelo Conselho Federal e Conselhos Regionais de Medicina Veterinária sobre o atendimento médico veterinário gratuito eventual repercutiu em veículos de comunicação de todas as regiões do país. Veículos como A Crítica, Jornal Dia a Dia e G1 deram destaque ao assunto. No texto, o Sistema CFMV/CRMVs esclarece que não é permitida prestação de serviços de forma gratuita que tenham caráter de publicidade, autopromoção, de forma permanente e na busca de captação ilegal de clientela ou para fins eleitoreiros.

MULHERES NA MEDICINA VETERINÁRIAEm sua edição especial em homenagem às mulheres, a Revista Cães e Gatos abordou o protagonismo feminino na Medicina Veterinária. Com o título “Elas sabem o que querem”, a reportagem abordou a presença das médicas veterinárias em diferentes áreas de atuação. “Antes se imaginava que a profissão era apenas para homens, mas as mulheres têm quebrado tabus da profissão. As mulheres se dedicaram ao estudo, conquistaram espaço no mercado de trabalho e mostraram competência”, afirmou em entrevista o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda.

COMBATE AO AEDES AEGYPTIA atuação dos profissionais de Medicina Veterinária na saúde pública, principalmente na prevenção e controle do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya, febre amarela e zika vírus chamou a atenção de veículos como a Rádio Nacional e Agência RadioWeb. Em entrevista, Fred Monteiro, da Comissão Nacional de Saúde Pública do CFMV, destacou que a inserção do médico veterinário na saúde pública deve-se à amplitude de sua formação acadêmica que lhe permite atuar em saúde ambiental e animal, para garantir a saúde humana, dentro do conceito de Saúde Única da OMS.

ATUAÇÃO PROFISSIONAL Em entrevista à Rádio Verdes Mares, o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, falou sobre os reflexos do trabalho dos médicos veterinários para a sociedade, não só no cuidado com a saúde dos animais de estimação, mas também com a qualidade e inocuidade dos alimentos. O presidente do CFMV abordou a importância dos médicos veterinários na saúde pública e também a preocupação mundial com o bem-estar dos animais. Arruda foi entrevistado pela TV Diário (CE) sobre o trabalho do CFMV e a realização das reuniões Plenárias.

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CFMV NA MÍDIA

COMPETÊNCIAS HUMANÍSTICASPortais de notícias do Mato Grosso do Sul, como o Agora MS e Campo Grande News, noticiaram a primeira visita técnica da equipe do CFMV ao Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran). O encontro deu início à aplicação do Projeto Estratégias de Ensino-Aprendizagem e trabalhou com professores e estudantes em dinâmicas que desenvolvam as competências humanísticas como comunicação, tomada de decisão, liderança, atenção à saúde, educação permanente, administração e gerenciamento.

DEFESA SANITÁRIA A defesa sanitária foi assunto do programa Giro do Boi, do Canal Rural, com a participação do tesoureiro do CFMV, Amílson Pereira Said. A entrevista abordou os principais pontos discutidos durante o Encontro Nacional de Defesa Sanitária Animal. Amílson Said destacou a importância da discussão entre o setor público e o privado para aprimorar a defesa agropecuária brasileira.

ANIMAL DE ESTIMAÇÃOReportagem do Jornal de Brasília fez um alerta aos consumidores que desejam comprar animais de estimação. Cães, gatos ou qualquer outro animal, não podem ser considerados objetos e exigem responsabilidade e cuidado por parte dos donos. Em entrevista ao jornal, o secretário-geral do CFMV, Marcello Roza, abordou questões importantes que devem ser tomadas antes da aquisição de um pet.

ANESTESIA Em entrevista ao Jornal Folha de São Paulo, o presidente da Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária (CNEMV/CFMV), Felipe Wouk, ressaltou que a anestesia de animais, seja qual for a espécie, é uma prerrogativa dos médicos veterinários. Felipe Wouk citou a Lei nº 5.517/1968, que regulamenta a profissão. A reportagem tratou de uma resolução do Conselho Federal de Biologia que está sendo contestada na justiça e que permite a biólogos fazer procedimentos que são exclusivos dos médicos veterinários.

SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO O programa Jornal da Pecuária, do Canal Rural, destacou a realização, pelo CFMV, do XXII Seminário Nacional de Educação da Medicina Veterinária. O presidente da Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária do CFMV, Felipe Wouk, falou ao vivo sobre a importância da avaliação e os desafios dos gestores dos cursos de Medicina Veterinária. “O CFMV tem atuado junto ao Ministério da Educação para aperfeiçoar os instrumentos de avaliação e o treinamento que é fornecido aos avaliadores das universidades”, afirmou Wouk.

ANIMAL DE ESTIMAÇÃO Viajar envolve planejamento, ainda mais para quem tem animal de estimação, e, nem sempre, pode levá-lo junto. O portal Saúde do Meio, motivado por material de comunicação do CFMV, abordou dicas importantes para a escolha dos serviços de hospedagem para animais de companhia. Com entrevista do médico veterinário Marcello Roza, secretário-geral do CFMV, foi sugerido que o cliente obtenha informação sobe o estabelecimento, verifique se há o registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária da localidade e se há a presença do médico veterinário como responsável técnico.

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LEGISLAÇÃO EM PAUTA

Por Carolina Menkes

Para que os profissionais e pessoas jurídicas pos-sam regularizar-se com o Sistema CFMV/CRMVs, entra em vigor, a partir de 30 de março de 2016,

a Resolução CFMV nº 1.102/2015 que permite o re-parcelamento dos débitos com o Conselho. A resolu-ção beneficiará os profissionais e empresas que já fize-ram o parcelamento em edições anteriores, porém não conseguiram quitar o compromisso.

“A partir dessa resolução, estabelecemos nova oportunidade para regularização”, explica o presi-dente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. O pre-sidente comenta que é importante que os profissio-nais se regularizem para continuar desempenhando suas atividades, e as empresas possam continuar prestando serviços.

A Resolução nº 1.102, publicada no Diário Oficial da União em 8 de janeiro, alterou a Resolução CFMV nº 867/2007. O texto anterior vedava o reparcelamen-to no caso de inadimplência, constatada por ausência de pagamento de duas prestações da dívida, de forma sucessiva ou alternada.

REGULAMENTAÇÃO DOS REGIONAIS

Vale lembrar que a Resolução CFMV nº 1.102/2015 é a base para as regulamentações regionais. Ela permi-tirá que, a partir de 30 de março de 2016, os CRMVs, por meio de resolução própria, estabeleçam critérios específicos, baseado na realidade local, para o repar-celamento de seus débitos.

No texto da Resolução existem diretrizes que de-vem ser cumpridas por todos os regionais, como a obrigatoriedade do pagamento antecipado, em parcela única, de no mínimo 20% do valor atualizado do débi-to. O CRMV que editar a resolução deverá, ainda, fazer um comunicado oficial ao CFMV em até dois dias após a publicação no Diário Oficial da União.

Quem não está em dia com os pagamentos está impedido de atuar, de gozar de uma série de benefí-cios que variam de acordo com o estado, além de estar sujeito a ser inscrito em dívida ativa ou ter prossegui-mento de execução.

RESOLUÇÃO PERMITE NOVAS ALTERNATIVAS PARA INADIMPLENTES COM O SISTEMA CFMV/CRMVs

Pessoas físicas e jurídicas podem agora reparcelar seus débitos a partir de 30 de março. O Conselho Federal estabeleceu as diretrizes para embasar as legislações regionais

T É importante que os profissionais se regularizem para que possam continuar desempenhando suas atividades.

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CLÍNICA MÉDICA

A erliquiose canina é uma doença transmitida pelo carrapato, capaz de acarretar anemia, anorexia, apatia e emagrecimento, hemorra-

gias petequiais difusas, ataxia, artrite (DUARTE, 2013), complicações oftálmicas e reprodutivas, entre outras alterações (ALMOSNY, 1998). Entretanto, os sinais clí-nicos estão associados à imunidade do hospedeiro e à amostra do parasita (NEER, 1998). Esse agente pode es-tar associado a outras bactérias ou a protozoários, como Babesia sp., em coinfecção, e isso agrava, ainda mais, os sinais clínicos (XAVIER, 2009).

O primeiro relato brasileiro foi em Belo Horizonte (MACHADO, 2004). No Rio de Janeiro foi descrita em cães da Polícia Militar, com grande morbidade e letali-dade (CARRILO et al., 1976). Atualmente, a erliquiose ca-nina tem sido descrita em todo o mundo, notadamente nas regiões tropicais e subtropicais (XAVIER, 2009).

A erliquiose clínica pode não estar relacionada ao parasitismo recente por artrópodes vetores, pois a doença pode não se desenvolver por vários meses após a infecção, e os carrapatos que a transmitiram podem ter se desprendido do animal. Portanto, nem a época do ano, nem a ausência da observação de carra-patos ao exame físico eliminam a hipótese de erliquio-se. É importante observar que a infecção por Ehrlichia também pode acontecer por transfusões e que esses organismos permanecem infectantes após resfriamen-to do sangue (ALMOSNY, 1998; LITTLE, 2010).

A variedade de espécies do gênero Ehrlichia e de outros agentes transmitidos por carrapatos vetores, com variações na patogenicidade das amostras de E. canis, re-sultam em várias apresentações clínicas que vão desde inaparentes a graves, conforme a resposta imune espe-cífica do cão ou presença de coinfecção (LITTLE, 2010).

ERLIQUIOSE CANINAEmbora a trombocitopenia seja frequente, ela não confirma a presença de Anaplasma Platys ou de Erlichia canis ou de qualquer outro agente isoladamente, sendo necessários testes específicos para confirmação diagnóstica

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EHRLICHIOSE MONOCÍTICA CANINA

Ehrlichia canis é o agente da erliquiose e se mul-tiplica em monócitos e macrófagos, causando doença grave que pode levar o animal a óbito (RIKIHISA, 2003). Fatores que favorecem a proliferação do carrapato vetor estão relacionados à disseminação da doença (DUMLER, 2001). O carrapato vermelho do cão, Rhipi-cephalus sanguineus, vem sendo relacionado à trans-missão de E.canis por via transestadial, mas não tran-sovariana. Entretanto, outras espécies de carrapatos podem transmitir o agente, como Dermacentor variabi-lis, Otobius megnini, Ixodes scapularis e I. ricinus (STICH et al., 2008).

No Brasil, estudos sorológicos demonstraram a ocorrência positiva de 19,8% a 23%, e, em estudos baseados na PCR, observou-se que 1,4% a 3,5% de cães com plaquetometria normal eram positivos, 20% a 26,1% de população com leve trombocitopenia e eram positivos 63,1% com trombocitopenia acentua-da (abaixo de 100mil/μL) (STICH et al., 2008). A trom-bocitopenia, entretanto, não pode ser considerada como sinônimo de erliquiose ou de hemoparasitoses em geral, embora frequente nesses casos, uma vez que pode ocorrer em outras doenças, como as hepáticas e renais e por ação de anticoagulantes.

As diferentes espécies do gênero Ehrlichia possuem tropismo por alguns tecidos (ALMOSNY; MAS-SARD, 2002) como, por exemplo, E. canis tem prefe-rência por células da microvascularização de pulmões, rins e meninges de cães, causando hemorragias pul-monares e epistaxe (HARRUS et al., 1997a; HARRUS et al., 1997b). Os sinais clínicos ocorrem após oito a vinte dias (MOREIRA et al., 2003; XAVIER, 2009).

A doença clínica pode se apresentar como aguda, subclínica e crônica. A fase aguda dura de duas a qua-tro semanas e é quando ocorre a multiplicação do or-ganismo dentro das células mononucleadas infectadas. A partir daí, a doença se dissemina (ALMOSNY; MAS-SARD, 2002). Os sinais clínicos observados incluem febre, anorexia, perda de peso, edema de membros, vômitos e linfadenopatia. Almosny (1998), em infec-ção experimental, observou que a gravidade varia en-tre animais e que, em alguns casos mais graves, pode ser observado epistaxe, anemia, edema de membros e saco escrotal, perda de peso acentuada, equimoses no abdômen e petéquias em mucosas. Neer & Harrus (2006) observaram a ocorrência de melena e hifema.

Os cães costumam sobreviver à fase aguda, per-manecendo por longos períodos na fase subclínica

(ALMOSNY; MASSARD, 2002), quando ocorrerá a eleva-ção do título de anticorpos séricos (HOSKINS, 1991). Algumas alterações hematológicas podem persistir durante essa fase, como anemia arregenerativa, trom-bocitopenia e respostas leucocitárias variáveis, embo-ra na ausência de sinais clínicos (ALMOSNY; MASSARD, 2002). Alguns cães desenvolvem a forma grave da doença meses ou anos após a infecção inicial, apre-sentando anorexia, febre, mialgia, lesões oculares e alterações neurológicas e hemorragias petequiais a difusas, (HARRUS; WANNER, 1997). As formas hemor-rágicas se revelam com epistaxe, petéquias, equimo-se, hifema, hemorragia na retina e hematúria. Uveíte anterior, claudicação, ataxia, nistagmo e convulsões podem ser observados (LITTLE, 2010). A estimulação antigênica determina hipergamaglobulinemia e a res-posta autoimunomediada leva à pancitopenia, quando podem ocorrer infecções secundárias, como pneumo-nia, doença renal, artrite, polimiosite e ataxia (ALMOS-NY, 1998).

T Mórulas de Ehrlichia canis em cão da cidade de Campo Grande (MS). Médica Veterinária Polliana Alves Franco. CRMV-MS 3097.

T Mórulas de Ehrlichia canis em cão da cidade de Campo Grande (MS). Médica Veterinária Polliana Alves Franco. CRMV-MS 3097.

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ANAPLASMOSE CANINA

A partir de 2001, o que era conhecido como gê-nero Ehrlichia foi reclassificado e reorganizado dentro de três gêneros: Ehrlichia, Anaplasma e Neorickett-sia. Atualmente, as espécies do gênero Ehrlichia que acometem cães são E. canis, E. chaffeensis e E. Ewingii, as do gênero Anaplasma são A. phagocytophilum e A. Platys e, ainda, o agente que era conhecido como Ehr-lichia risticii, capaz de causar diarreias e laminite em equinos e infecção branda em cães foi reclassificado como gênero Neoricketsia (DUMLER et al., 2001).

A anaplasmose canina tem como agentes causais Anaplasma phagocytophilum ou Anaplasma platys. No Brasil, Santos et al. (2013) caracterizaram a presença de A. phagocytophilum, por meio de testes molecula-res, em cães e em carrapatos (A. cajennense e R. san-guineus) das regiões de Itaguaí e Seropédica (região metropolitana do Rio de Janeiro) e não encontraram mórulas em sangue periférico das amostras avaliadas. Relataram que 6,03% dos cães eram positivos na PCR e não apresentavam sinais clínicos aparentes.

Anaplasma platys é o agente da trombocitopenia cíclica dos cães e está relacionado ao aparecimento de mórulas em plaquetas, entretanto é preciso observar que nem toda inclusão é mórula e que esses elementos apresentam inclusões inespecíficas (FERREIRA, 2007). Durante a doença, pode ocorrer ativação plaquetária com granulações, e essas inclusões podem ser con-fundidas com mórulas (MYLONAKIS et al., 2003). No entanto, E. canis, na fase inicial, também apresenta in-clusões em outros tipos celulares, inclusive plaquetas (DAGNONE et al., 2009).

A. platys é um micro-organismo intracelular obri-gatório de plaquetas de cães (ALMOSNY; MASSARD, 2002) e tem sido relacionado à infestação por Rhi-picephalus sanguineus (INOKUMA et al., 2000). Cães inoculados desenvolveram estruturas em plaquetas e uma trombocitopenia cíclica, sem o aparecimento de doença clínica (FRENCH; HARVEY, 1983). É possível a ocorrência de coinfecções com outros agentes, como E. canis e Babesia sp. (INOKUMA et al., 2003).

Embora a trombocitopenia seja frequente, ela não confirma a presença de A. Platys ou de E. canis ou de qualquer outro agente isoladamente, sendo necessá-rios testes específicos (COCKBURN; TROY, 1986). O pe-ríodo de incubação vai de oito a quinze dias e, nessa fase, há elevado percentual de plaquetas infectadas circulantes. Posteriormente, ocorrerá o decréscimo do número das plaquetas circulantes e a plaquetometria

poderá chegar a 20.000 plaquetas/μL ou menos, sendo impossível visualizar plaquetas infectadas no sangue. Em três a quatro dias o numero voltará a ser normal e, em sete a quatorze dias, ocorrerá outra parasitemia seguida de trombocitopenia. Essa natureza cíclica di-minui com a cronificação da doença, resultando em trombocitopenias medianas (WOODY; HOSKINS, 1991).

Cães infectados naturalmente por A. platys não costumam apresentar doença clínica e a evidência de hemorragias é rara. Entretanto, estão relatados palidez, anorexia, letargia, depressão, emagrecimento, febre, secreção nasal mucopurulenta e linfadenomegalia (HARRUS et al., 1997a). Casos de óbitos são raríssimos, e o tratamento é bem-sucedido após quatro semanas (SAINZ et al., 1999). Embora existam poucos estudos sobre a ocorrência e patogenia de A. platys no mun-do, observou-se que, na Austrália, animais infectados apenas com A. platys ou coinfectados, costumam de-senvolver trombocitopenia e com sangramentos, o que difere dos relatos em outros países de baixa patogeni-cidade e sinais clínicos discretos (BROWN et al., 2006).

A E. chaffeensis é o agente causal da a ehrlichiose monocítica humana, e pode determinar infecção bran-das em cães, mas em coinfecção com outras espécies de Ehrlichia spp., ou por protozoários, pode se tornar mais grave (DAGNONE et al., 2001).

T Cão positivo para Ehrlichia sp apresentando hemorragias petequiais.Médica Veterinária Isabela Poubel. CRMV-RJ 10.579.

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DIAGNÓSTICO

A observação de achados clínicos sugestivos de erliquiose necessita de aprofundamento diagnóstico, uma vez que não existe uma alteração laboratorial ca-racterística da doença. Embora a trombocitopenia seja um achado comum na avaliação laboratorial da erli-quiose canina e a hiperglobulinemia seja uma caracte-rística marcante, o diagnóstico não pode ser baseado apenas nesses achados (ALMOSNY; MASSARD, 2002). As trombocitopenias não ocorrem apenas nas erliquio-se ou nas hemoparasitoses em geral.

A observação de mórulas em esfregaços sanguí-neos costuma ser uma forma de diagnosticar o parasita que, entretanto, costuma ser observado na fase aguda, durante o pico febril Na fase crônica, dificilmente são observados em esfregaços de sangue periférico. Em relação a A. platys, outro fato que dificulta o diagnósti-co é a presença de inclusões anormais em plaquetas, notadamente as jovens, que aparecem em resposta ao consumo periférico devido às vasculites que elevam a demanda por plaquetas (FERREIRA et al., 2006; XAVIER et al, 2009).

A reação em cadeia da polimerase (PCR) e “nested” PCR (nPCR) vem sendo utilizadas para a detecção dos agentes erliquiais com boa especificidade e sensibili-dade (XAVIER, 2009). São os mais indicados para carac-terizar o agente, notadamente na fase aguda.

Vários testes sorológicos comerciais na detecção de anticorpos IgG anti-E. canis têm sido utilizados no Brasil (MACHADO, 2004). A reação de imunofluores-cência indireta (RIFI) é considerada o teste ouro no diagnóstico de infecção por E. canis e E platys. É o mé-

todo mais sensível na fase crônica. Entretanto testes positivos indicam a exposição ao agente, tornando-se necessário associar o achado a alterações clínicas (MA-CHADO, 2004; CARLOS et al., 2007).

Testes como “Dot Elisa”, Imunocomb (Biogal, Is-rael) e o “Snap 3Dx+ assay” (IDEXX Laboratories Inc., USA) têm sido relatados (MACHADO, 2004). A positi-vidade nesses testes, entretanto, está relacionada à exposição ao agente e também precisa ser associada a dados clínicos.

É importante observar que os testes RIFI, Elisa e Snap podem mostrar-se falsos negativos na fase aguda e falsos positivos após a cura do paciente, devido a an-ticorpos remanescentes. É preciso, saber, portanto, em que momento um teste é mais eficiente que os demais.

T Cão positivo para Ehrlichia sp apresentando hemorragias petequiais. Médica Veterinária Isabela Poubel. CRMV-RJ 10.579.

TRATAMENTO

A doxiciclina ainda é a principal droga para o tratamento das erliquioses, as tetraciclinas podem ser utilizadas assim como a oxitetraciclina e o dipropionato de imidocarb. O cloranfenicol pode ser indicado, mas não é aconselhável em cães que apresentam trombocitopenias ou leucopenias. Tratamentos com azitromicina ou enrofloxacina não se mostraram eficientes. Os corticosteroides também estão indicados, objetivando a preservação da integridade vascular ou da função plaquetária (ALMOSNY; MASSARD, 2002; MACHADO, 2004; XAVIER, 2009).É recomendado o controle dos carrapatos vetores de modo eficiente tanto no cão quanto no ambiente.

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AUTORA

NADIA ALMOSNYMédica VeterináriaCRMV-RJ 2535MSc, DSc, Docente da Faculdade de Veterinária, Universidade Federal [email protected]

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SUINOCULTURA

O BEM-ESTAR DOS SUÍNOS E OS NOVOS DESAFIOS

PROFISSIONAIS

As discussões sobre o bem-estar dos suínos ganham continuamente mais evidência à medida que os consumidores, como condição para

manterem seus hábitos de consumo, passam a exigir o cumprimento de determinadas práticas produtivas que são aceitas por eles. O desafio de médicos veterinários e zootecnistas está em conhecer, orientar e aplicar

essas práticas para que a suinocultura esteja de acordo com normas internacionais e com os interesses do mercado comprador

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A ciência do bem-estar animal estuda os te-mas relacionados com a qualidade de vida e for-nece os conhecimentos gerados nas pesquisas e experimentações. Já a sociedade, de acordo com suas bases éticas e morais, define o que é certo ou

Figura 1. Inter-relação entre ciência, ética e leis com o bem-estar animal.

errado e determina como devem ser aplicados es-ses conhecimentos, que passam a ser exigidos na forma de leis, determinando condutas mínimas em relação aos animais.

As posturas tomadas frente ao tema do bem-estar animal têm forte base moral e ética, que efetivamen-te são posições abstratas, complexas e que filosofica-mente são difíceis de serem estabelecidas (se o que decidimos é certo ou errado). Ao mesmo tempo, não existe plena aceitação de que as questões éticas sejam decididas pela razão (FARM ANIMAL WELFARE COUN-CIL, 2009). Outro elemento a ser adicionado é que as questões éticas da Europa Ocidental podem diferir das do Oriente Médio, que por sua vez podem diferir das opiniões da América do Norte, do Oriente ou da África (DUNCAN, 2005).

Ser consciente sobre o bem-estar dos animais é estar consciente sobre a sua qualidade de vida in-dividual (FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL, 2009). O reconhecimento social de que os animais são se-res sencientes representa um passo importante para as mudanças de atitudes que evitam o sofrimento desnecessário. A suinocultura industrial vem fazendo ajustes decorrentes dessa linha de pensamento, sen-do inevitável a evolução dos sistemas de produção em direção a essas mudanças. A abordagem de bem--estar animal como um conceito multidimensional, envolvendo emoções, funcionamento do organismo e o comportamento natural da espécie tem se consoli-dado na sociedade.

É importante diferenciar o escopo do tratamen-to recebido pelos animais de produção do conferido aos animais de companhia, pois, em decorrência dos objetivos em sociedade, o relacionamento com os pri-meiros é pautado por princípios econômicos, já para o segundo caso, o vínculo homem-animal direciona o relacionamento.

Um destaque histórico sobre o bem-estar animal foi o fato que o governo britânico instituiu, em 1968, órgãos encarregados de manter uma contínua revisão do tema bem-estar animal em todos os níveis da ca-deia, tanto nas granjas quanto no mercado, no trans-porte e nos locais de abate, aconselhando o governo e demais órgãos envolvidos nas tomadas de decisões. Foi elaborado um documento que propôs um padrão mínimo necessário para garantir boa qualidade de vida aos animais. Esses postulados ficaram conhecidos como as cinco liberdades (Tabela 1).

Os profissionais que atuam na suinocultura brasileira têm experimentado mais um de-safio: conhecer as práticas relacionadas com

o bem-estar animal que, legalmente, já estão em vi-gor em muitos países e que vêm sendo discutidas e deverão, num médio prazo, ser implementadas no segmento nacional. Em nível mundial, com mais intensidade nas últimas duas décadas, a sociedade tem exigido uma postura mais ética com relação à produção animal, e essa inquietação está fomentan-do o desenvolvimento de muitos estudos.

O bem-estar das espécies de produção deve con-templar todas as fases da vida, do nascimento, passan-do pelo transporte, até o abate. Não basta atender o bem-estar do suíno numa única etapa da cadeia e tam-pouco considerar que a produtividade ou a qualidade média de um rebanho é um sinalizador do pleno bem--estar. A base dessa ciência enxerga, primariamente, o animal como um indivíduo, portanto, o bem-estar deve ser dirigido ao animal, e não ao rebanho. Para o êxito dessas transformações, a ciência, a ética e a legislação e suas interações devem ser compreendidas de forma completa, não dissociada (Figura 1).

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Nesse mesmo informe, o Farm Animal Welfare Cou-ncil (FAWC) enfatizou que essas liberdades poderiam ser mais bem providas se as equipes de trabalho ti-vessem uma prática de manejo cuidadosa e responsa-velmente planejada; se fossem hábeis, conhecedoras e conscientes; se tivessem um projeto ambiental apro-priado e considerassem o carregamento, o transporte e o abate humanitário (MANTECA; GASA, 2008).

O bem-estar animal é um conceito científico que descreve uma qualidade de vida potencialmente men-surável de um ser vivo em determinado momento, e seu estudo científico está amplamente separado da ética (BROOM, 2011). O bem-estar deve ser medido de forma objetiva, com uma avaliação completamente se-parada de considerações éticas, e uma vez terminada a avaliação, ela provê as informações necessárias para que as decisões éticas possam ser tomadas sobre uma dada situação (BROOM; MOLENTO, 2004).

O projeto Welfare Quality® reconheceu que os con-sumidores europeus identificavam que a qualidade de

O bem-estar deve ser medido de forma objetiva, com uma avaliação separada de considerações éticas, e uma vez terminada a avaliação, ela provê as informações para que as decisões éticas possam ser tomadas um alimento não era determinada somente pela condi-ção de ser natural e seguro, mas também pela condição de bem-estar a que eram submetidos os animais que o produziam, integrando, assim, a visão do bem-estar ani-mal ao conceito da qualidade do alimento (BLOKHUIS, 2008). Portanto, essa nova percepção quebrou um pa-radigma que perdurou por anos, de que a produção agropecuária estava focada principalmente no preço da oferta e na concorrência (BLOKHUIS et al., 2003).

As avaliações de bem-estar animal devem ter en-foque multifatorial, evitando-se o uso de parâmetro ou indicador único, pois seria insuficiente para avaliar o estado geral de um animal ou de um grupo de animais. O uso de uma combinação de medidas proporciona uma informação mais completa do que o uso de uma ou poucas variáveis, além disso deve considerar todas as etapas por que passa o animal no segmento avalia-do (DALMAU; VELARDE, 2012).

A preocupação com o bem-estar dos animais de produção se baseia no fato de que eles podem sentir dor e sofrer, e passou a ser uma questão claramente relevante para os cidadãos comuns em toda a Europa, que exigem que os animais sejam criados, transporta-dos e abatidos de forma humanitária (VELARDE; DAL-MAU, 2012). Como a União Europeia reconhece que os animais são seres sencientes que merecem proteção, ela criou uma legislação comunitária que estabelece os requisitos mínimos para evitar todo sofrimento des-necessário aos animais de produção.

Tabela 1. Princípio das cinco liberdades com respectivo desdobramento proposto pela Farm Animal Welfare Council (FAWC) em 1992.

Liberdade Desdobramento

Livre de fome e sede

Acesso à água fresca e a uma dieta para completa manutenção da saúde e vigor

Livre de desconforto

Fornecimento de um ambiente apropriado, incluindo abrigo e uma confortável área de descanso

Livre de dor, injúria e doenças

Prevenção ou rápido diagnóstico e tratamento

Livre para expressar comportamento normal

Fornecimento de espaço suficiente, instalação adequada e companhia de animais da mesma espécie

Livre de medo e diestresse*

Garantia de condições e tratamento que evitem sofrimento mental

Nota: *Diestresse: termo em inglês que designa estado de sofrimento físico e mental intenso.

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AUTORES

CLEANDRO PAZINATO DIAS Médico VeterinárioCRMV-PR 4625DSc, MScConsultor do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA)[email protected]

CAIO ABÉRCIO DA SILVAMédico VeterinárioCRMV-PR 1994DSc, MSc - Docente, Universidade Estadual de Londrina

XAVIER MANTECAMédico VeterinárioUniversidade Autônoma de BarcelonaBarcelona, Espanha

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bem-estar do suíno deverá participar como um elemento indissociável dos modelos modernos de produção. Não dirigir esforços a favor dessa tendência contraria a evolução da suinocultura e a opinião públi-ca, além de promover a piora dos resultados produti-vos. Como o homem é o principal instrumento para a identificação dos problemas de bem-estar, que devem ter constantes e rápidas correções, ele deve se manter capacitado e estar sensibilizado para esse novo mo-mento da suinocultura, relacionando-os com a quali-dade de vida do suíno.

REFERÊNCIAS

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É indiscutível que o tema bem-estar animal tem ga-nhado atenção dos consumidores, do setor pro-dutivo e dos governos. A Organização Mundial de

Saúde Animal (OIE) e a Associação Mundial de Veterinária (WVA) estabeleceram o bem-estar animal como uma de suas prioridades para atuação nos próximos anos, e os padrões internacionais têm se tornado cada vez mais im-portantes para garantir mercados no mundo globalizado.

No Brasil, grande agroexportador, o setor privado e o governo têm a obrigação e a responsabilidade de manter as cadeias produtivas pecuárias atualizadas quanto às práticas mais sustentáveis, que garantirão mercados, produtos de qualidade e boa imagem dos nossos produtores.

SUINOCULTURA

NO BRASIL, O GOVERNO E GRANDES EMPRESAS INCENTIVAM MUDANÇASAções de fomento e esclarecimento para a gestação coletiva de matrizes suínas são realizadas pelo Ministério da Agricultura, associações do setor e grandes empresas. Há necessidade de mudanças para atender um consumidor cada vez mais consciente

Para isso, precisa prover segurança e estabilidade das políticas públicas que direcionarão o setor produ-tivo para o uso de práticas mais arrojadas, que garan-tirão a continuidade da atividade e a competitividade.

Um exemplo de iniciativa da Comissão Técnica Per-manente de Bem-estar Animal (CTBEA) do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) é o traba-lho que teve início em 2014 e que trata da divulgação da gestação coletiva de matrizes suínas como prática viável para o nosso setor produtivo, com melhor grau de bem-estar para as matrizes.

O cenário internacional já aponta para essa prática como tendência dos grandes exportadores, sendo que os principais produtores já baniram o uso de celas indi-viduais, já anunciaram planos de transição ou já estão implantando por pressão do mercado. Exemplos são casos da União Europeia, do Canadá e dos EUA.

O Brasil, como quarto maior exportador, precisa trabalhar urgentemente seu plano de transição. Para isso, a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) está pró-ativamente envolvida com a CTBEA em projetos, visando elaborar estratégias e soluções para a suinocultura, sem excluir produtores em atividade, garantindo os atuais índices zootécnicos.

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A ABCS está levando a informação sobre gestação co-letiva aos produtores em todo o país, por meio de semi-nários organizados pelas associações estaduais. Nesses seminários, até janeiro de 2016, foram envolvidos pelo menos 740 produtores rurais, responsáveis por aproxi-madamente 150 mil matrizes. Esses eventos são sempre divulgados no site da CTBEA e também da associação.

Adicionalmente, um projeto proposto pela Comissão à União Europeia foi aceito. O projeto de diálogos se-toriais contará com apoio financeiro do bloco europeu, com o apoio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, com a participação da Associação Brasileira de Produtores de Suínos, para levantamento das informa-ções relevantes para o direcionamento do setor.

Esse projeto possui trabalhos previstos ao longo de um ano (finalização em nov./2016) com a apresen-tação pública dos resultados, visando à transparência das ações da CTBEA.

Um material de divulgação da World Animal Protec-tion (WAP), sobre bem-estar na suinocultura com foco na gestação coletiva de matrizes, está de posse das Su-perintendências Federais de Agricultura em cada estado do país e disponível para eventos de divulgação.

A WAP, que é parceira da CTBEA há 6 anos, especial-mente nos trabalhos de treinamento para abate humani-tário (Programa Nacional de Abate Humanitário – STEPS), também vem atuando no setor produtivo, fechando par-cerias com grandes empresas, como a Brasil Foods (BRF), primeira empresa brasileira que se posicionou sobre abolir as gaiolas nas suas granjas e nas de seus fornecedores.

Recentemente, outra grande empresa, a JBS, tam-bém informou em seu relatório de sustentabilidade que irá substituir as gaiolas de suas granjas por ges-

tação coletiva. Em dezembro de 2015, a Cooperativa Aurora, terceira maior empresa processadora de carne suína brasileira, anunciou que seguirá o mesmo cami-nho das duas maiores empresas.

Juntas, essas três empresas detêm aproximadamen-te 830 mil ou quase 52% do total de matrizes suínas, ou seja, um grande passo já foi dado para a transição para um sistema produtivo melhor para os animais.

Desde 2013, está entre as opções de crédito agrí-cola o Inovagro, com juros subsidiados, que visa aten-der às demandas por reformas estruturais, novas insta-lações, capacitação técnica, equipamentos e software de gestão, importantes para sistemas produtivos mais sustentáveis e inovadores. São passíveis de financia-mento itens que visam melhorar o bem-estar dos ani-mais e a adoção de boas práticas agropecuárias.

Para a CTBEA, o setor produtivo, nas últimas déca-das, usou as gaiolas como forma de controlar melhor o fornecimento de alimento, identificar melhor o cio, evitar brigas entre as matrizes, e que este confina-mento extremo foi realizado com o suporte técnico dos veterinários e zootecnistas, objetivando aumentar a produção e garantir sanidade com as informações científicas disponíveis na época.

Atualmente, o cenário mudou. O Brasil conquistou a sanidade do nosso rebanho, o conhecimento sobre a genética e nutrição, resultando em um alto desempenho zootécnico. Mas o conhecimento científico sempre avan-ça e há elementos e fatos para comprovar que os animais sofrem quando não conseguem expressar comportamen-tos naturais, quando estão em confinamento extremo.

Mais uma vez, a academia e os profissionais serão fatores chaves para essa mudança de foco, para uma transição tranquila, qualificada, sem exclusão de pro-dutores, mantendo o desempenho zootécnico. O Brasil detém tecnologia e conhecimento científico para tal. As novas granjas devem seguir modelos de sistemas mais sustentáveis e as atuais precisam elaborar suas estra-tégias para essa alteração. Não há como ficar parado.

AUTORA

LIZIE PEREIRA BUSS Médica Veterinária, CRMV-DF nº. 3107Comissão Técnica Permanente de Bem-estar Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e [email protected]

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O Brasil, um expressivo exportador de carne suí-na, convive com um mercado de economia li-vre e sofre, naturalmente, forte concorrência e

exigência para a consolidação e expansão do quadro de importadores. Assim, há um rol de granjas que já adota-ram esses conceitos e outro número significativo de em-presas que, nos próximos anos, implantarão esse mode-lo, identificando-se com o que a Europa sedimentou em 2013. Nas mudanças que se desenham, a prioridade é manter uma produção em escala sob custos competiti-vos, valorizando ao máximo o bem-estar animal.

TRANSIÇÃO PARA O MODELO DE GESTAÇÃO COLETIVA

A migração do alojamento em celas individuais, tratado como modelo convencional, para o sistema coletivo em baias, tem grande apelo social, mas repre-senta um ponto de importante impacto econômico, dadas as mudanças estruturais que são demandadas.

As mudanças são inevitáveis, e as futuras amplia-ções de projetos seguirão essa nova concepção, no entanto muitas unidades que ainda adotam o sistema convencional deverão permanecer com esse modelo até que o Brasil tenha uma legislação própria.

SUINOCULTURA

NA PRÁTICA, QUAIS OS PRINCIPAIS PONTOS DE MODIFICAÇÃO NAS GRANJAS?

ESTRUTURA FÍSICA DAS UNIDADES

As alterações na estrutura física das granjas são necessárias à medida que as celas individuais passam a ser substituídas pelas baias coletivas. Nesse novo desenho, a dimensão das baias pode variar, mas ten-de, nas granjas de grande escala produtiva, para baias grandes, com capacidade para 40 a 160 fêmeas, valo-res que predominam em muitas granjas no mundo.

Nesse modelo, o sistema de escoamento dos de-jetos (fezes, urina e água residual), ou a limpeza das baias, é garantido pelo uso de pisos ripados, evitando o emprego abusivo de mão de obra. É recomendado que as baias tenham um percentual do piso ripado para atender à limpeza e uma área com piso com-pacto como área de descanso e para que os animais pratiquem caminhadas, correspondendo, respectiva-mente, em média, à seguinte razão, 43% e 57%.

Geralmente, os pisos de concreto ripado seguem a recomendação europeia, a qual orienta que as grelhas contenham a largura mínima das vigas de 80 mm e a largura máxima das aberturas (frestas) de 20 mm.

O design das baias deve contemplar a construção de áreas de fuga que, na prática, funcionam como divisórias,

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constituindo um pré-requisito para que se possa trabalhar de forma harmônica com grupos grandes de fêmeas ges-tantes. Essas estruturas permitem a formação/manuten-ção de subgrupos de matrizes de comportamento estável hierarquicamente e com reduzido nível de agressividade.

A área útil recomendada para cada reprodutora, quando alojadas em grupos maiores ou iguais a 40 ani-mais, é de 1,48 m2 para leitoas após a cobertura, e de 2,03 m2 para as porcas. Essa área deve ser livre, ou seja,

T Sistema convencional em celas caracterizando privação física das matrizes.

T Baias de gestação coletiva com piso ripado e compacto, evidenciando conforto e liberdade de movimentação.

não é considerada a presença de equipamentos nesse cômputo. Com essas alterações estruturais, estima-se a necessidade de 10% a 15% mais área em relação ao sistema convencional para atender à legislação euro-peia de bem-estar animal.

Outras diferenças estruturais envolvem a presença das máquinas de alimentação automática nas baias das matrizes, e a disposição adjacente das baias de machos.

T Sistema convencional de gestação em celas.

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PRECISÃO NA ALIMENTAÇÃO

Convencionalmente, o arraçoamento das porcas gestantes alojadas em baias coletivas, independente-mente da prática de um ou dois tratos por dia, se dá pela oferta diária de uma quantidade de ração baseada na necessidade média do consumo do lote. No entanto, do ponto de vista de eficiência, a proposta é inadequa-da para baias com médio e grande número de matrizes, pois levam a disputas que geram estresse, lesões e de-suniformidade corporal do lote, além de maiores riscos de perdas reprodutivas.

Um dos recursos mais efetivos para minimizar esses danos é o uso de máquinas de alimentação eletrônica (Electronic Sow Feeding – ESF). Nesse processo, as fêmeas são identificadas por meio de microships instalados nos brincos presos às orelhas das matrizes, e a oferta de ração pelo equipamento é feita individualmente, sendo a quantidade diária de ração identificada especificadamente com o escore corporal e/ou a ordem de parto da matriz. A preci-são na alimentação ainda preserva um baixo nível de estresse, beneficiando os índices produtivos e o bem-estar animal.

O processo alimentar consiste na identificação eletrônica da fêmea pelo equipamento, que passa a fornecer pequenas quantidades de ração (80-120 gra-mas) em intervalos regulares. O consumo é específico e limitado por fêmea, e a liberação da ração é interrom-pida quando o limite é atingido.

Esse sistema proporciona baixíssimo nível de per-das de ração, um insumo que representa o maior ele-

mento dos custos variáveis de produção. Assim, os ga-nhos econômicos mostram-se mais expressivos quando comparados com o arraçoamento convencional.

TREINAMENTO DOS ANIMAIS

Nos modelos coletivos que adotam os equipa-mentos eletrônicos de alimentação, as matrizes de-vem ser submetidas a treinamento para uso adequa-do do comedouro. O suíno é um animal inteligente, com grande capacidade de aprendizado e dotado de boa memória, o que garante bons resultados quando são treinados.

Esse processo de ensinamento/condicionamento deve ser iniciado com as fêmeas na condição de mar-rãs, portanto antes de atingirem a vida reprodutiva. O treinamento dura entre três e seis semanas (con-secutivas) e deve ser acompanhado por funcionários experientes, que “ensinam” os animais a entrarem para se alimentar. É esperado que mais de 95% dos animais aprendam a utilizar o sistema durante o trei-namento e, em granjas estabilizadas, as taxas são pró-ximas a 100%.

T Portas abertas (seta) do equipamento eletrônico de alimentação na fase inicial do treinamento de marrãs.

T Fêmea se alimentando (seta) enquanto as demais aguardam.

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T Fêmea em estro na abertura (janela) da baia de macho. Fonte: Unidade da Frísia Cooperativa Agroindustrial (Carambeí/PR).

MANEJO REPRODUTIVO

Não existe um manejo reprodutivo padrão que possa ser aplicado em todas as unidades, pois os protocolos devem atender às peculiaridades de cada granja, considerando, assim, as diferenças estruturais (instalações), genéticas, de composição etária do plan-tel etc. No entanto, em granjas com gestações coletivas e alimentação eletrônica, é possível efetuar a trans-ferência das matrizes do local de inseminação (celas individuais) para as baias coletivas logo após a última inseminação (sistema conhecido como cobre e solta) sem qualquer dano reprodutivo que extrapole os va-lores normais esperados (perdas embrionárias, repeti-ções de cio, abortos etc.).

O manejo reprodutivo realizado nas baias cole-tivas é relativamente simples e fácil. Para identifica-ção das fêmeas que retornam ao estro, os machos são

T Subgrupos constituídos hierarquicamente em área de refúgio no sistema coletivo.

mantidos em baias anexas às baias das fêmeas cober-tas. Quando demonstram interesse pelo reprodutor e se aproximam com frequência das baias dos machos, o sistema detecta esse comportamento reprodutivo por meio da leitura dos sinais eletrônicos dos brincos. Assim, após a sinalização efetua-se a confirmação do estro pela verificação do reflexo de tolerância ao ho-mem na presença do cachaço.

Já no manejo de detecção de estro em granjas com gestação individual ou mesmo gestação coletiva sem o sistema eletrônico, o procedimento consiste em expor diariamente as fêmeas cobertas aos cachaços. Haven-do a suspeita do estro, novamente é feita a identifica-ção do reflexo de tolerância da fêmea ao homem na presença do cachaço. Portanto, a detecção de estro é facilitada no sistema eletrônico em relação ao método convencional, além de exigir menos mão de obra e dis-pêndio de tempo.

MANEJO SANITÁRIO

Outra vantagem do uso do sistema eletrônico nas baias coletivas de gestação é a possibilidade da pro-gramação do equipamento para a identificação das datas de vacinação. As matrizes são identificadas com tinta marcadora e/ou removidas pelo equipamento de suas baias para um corredor de manejo, facilitando a imunização. Também alguns equipamentos eletrônicos são dotados de um sistema que permite que seja feito o fornecimento seletivo de aditivos (medicamentos, nutracêuticos etc.) com a ração para a matriz.

O manejo sanitário torna-se mais fácil, flexível e efetivo, gerando ganhos produtivos importantes.

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T Fêmea no corredor de manejo. O sistema identifica e separa automatica-mente os animais, sistematizando o programa sanitário. Fonte: Cleandro Pazinato Dias/Fazenda Miunça, DF.

T Utilização do leitor eletrônico de microchips.

CAPACITAÇÃO DAS EQUIPES

Operar um sistema de gestação coletiva exige das equipes de trabalho da granja e dos profissionais que assessoram essas unidades novos conhecimentos e habilidades. As equipes precisam dominar os equi-pamentos, operar com facilidade os leitores de mi-crochips, fazer os ajustes mecânicos e eletrônicos das máquinas de alimentação e dar suporte aos softwares que controlam os programas alimentar, vacinal e repro-dutivo. Os profissionais envolvidos, além das noções de funcionamento desses equipamentos, precisam do-minar as ferramentas de gestão zootécnica e estarem preparados para interagir com as equipes.

AUTORES

CLEANDRO PAZINATO DIAS Médico VeterinárioCRMV-PR 4625MSc, DScConsultor do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA)

CAIO ABÉRCIO DA SILVAMédico VeterinárioCRMV-PR 1994MSc, DScDocenteCentro de Ciências Agrárias – DZO/UEL

XAVIER MANTECAMédico VeterinárioUniversidade Autônoma de Barcelona (UAB)

T O sistema coletivo permite maior interação entre o homem e os animais.

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Por Flávia Tonin e Ricardo Junqueira Del Carlo

No Brasil, apesar de não haver obrigatoriedade go-vernamental, existem projetos consolidados que comprovam que praticar o bem-estar é possí-

vel, principalmente na fase de gestação das fêmeas suínas. Elas deixam de ser alojadas em celas, podem caminhar, duplicam seu espaço e vivem em grupos de acordo com a própria hierarquia. O ambiente torna-se mais amigável para os animais que viviam completa-mente presos.

Desde dezembro de 2010, a fazenda Miunça, em Planaltina-DF, adota um sistema que permite maior equilíbrio dos animais com seu meio, fundamenta-do no que acontece na Europa, desde 2009, com a proibição das gaiolas de gestação. “Não é legal ver o animal preso e machucado”, afirma Rubens Valen-tini, proprietário da Miunça, alertado principalmente

SUINOCULTURA

MODELO PARA O PAÍSpela esposa e filhas. “Além disso, conheci um siste-ma que aliava o bem-estar com maior precisão de alimentação, controle de ingredientes e outros deta-lhes de manejo que permitiram a melhor gestão do negócio”, completa.

Valentini valoriza o uso de um equipamento de arraçoamento desenvolvido para alimentar animais que estão em regime de confinamento coletivo, de-nominado estação eletrônica de alimentação. Nes-se sistema, há controle individual do fornecimento de ração, minimizando a agressividade provocada por disputas, pois permite que os animais sejam ali-mentados com dieta programada. Além disso, esses equipamentos permitem a inserção de softwares que controlam, de maneira individual, aspectos re-lacionados à reprodução e sanidade, sendo possível conhecer o rebanho pela análise de planilhas em te-las de computador.

Na análise do gerente de produção, Wilson Apare-cido da Silva, com as baias de gestação coletiva “tira-mos nosso olhar da tarefa para olhar o indivíduo”. Com o novo sistema de produção, o número de trabalhado-res por galpão diminuiu, mas a eficiência do serviço aumentou. O responsável pelo galpão passou a veri-ficar qual animal se alimentou total ou parcialmente ou se não se alimentou, se precisará de cuidados es-peciais para se alimentar, passou a programar dietas personalizadas. Ou seja, ao bem-estar dos animais foi aliado à economia com mão de obra e ração.

No Distrito Federal, a Fazenda Miunça é referência no manejo que preconiza o bem-estar das fêmeas em fase de gestação. Além disso, soma ganhos pela maior precisão da alimentação, eficiência reprodutiva, longevidade e na qualificação da mão de obra

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COMPARAÇÃO EM NÚMEROS Na fazenda Miunça ainda coexistem os dois siste-

mas, com 1.300 matrizes em sistema coletivo e outras 2.500 na forma convencional, com matrizes em celas. Dessa forma, na propriedade são desenvolvidos traba-lhos experimentais que já resultaram em duas teses de doutorado e oito dissertações de mestrado. “Estudos mostram que os índices zootécnicos são muito próxi-mos, desde que comparados o sistema coletivo com uma granja convencional muito bem conduzida”, co-menta Valentini. Mesmo assim, os índices da unidade coletiva são de impressionar. No ano passado, a taxa de repetição de cio foi de 2,5%, e para aborto foi 0,67%. A taxa de parição foi de 93,86% e de nascidos totais em 16,32, com 14,54 de nascidos vivos. Na tabela, estão es-pecificados os dados colhidos em um dos experimentos conduzidos na Miunça (Tabela 1).

T Pavilhão de gestação coletiva, com máquinas eletrônicas de alimentação e atividade de identificação em microchip.

T Fêmeas no cio, identificadas no dorso, sendo inseminadas.

Tabela 1. Estudo comparativo entre diferentes sistemas de produção de suínos. Dados de 2012 e 2013.

ConvencionalGestação coletiva

Porcentagem partos/coberturas 91,17% 92,75%

Número de vivos/partos 13,76 14,24

Peso médio da leitegada/parto 19,33 19,34

Peso desmamado/ nascido vivo 5,02 5,74

Fonte: Estudo de caso: comparação financeira de granjas de suinocultura com sistemas de gaiolas de gestação e de gestação coletiva. World Animal Protection.

Pelo lado sanitário, como os animais se levantam e caminham, há menor risco de infecção urinária, feri-mentos e problemas locomotores, informa o médico veterinário Carmos Pedro Triacca, da Infoporc Brasil, que participa da gestão e implantação de projetos e ins-peciona a granja. Porém ele reconhece que, pelo maior contato entre os animais, aumentou a necessidade de vermifugação. No galpão coletivo, as matrizes formam seus grupos naturalmente. Há uma área compacta para descanso e refúgio e outra ripada para dejetos. Natural-mente, os animais mantêm o local de descanso limpo.

Mantendo os índices zootécnicos, são evidentes os ganhos gerencial, econômico – relacionado ao consu-mo de ração – e de longevidade, que importa em maior numero de ciclos reprodutivos. Também na Miunça existem dados preliminares que informam que a du-ração média do trabalho de parto é menor nas fêmeas provenientes das baias coletivas, já que elas se exer-citam mais.

Cada estação eletrônica de alimentação atende a um lote de 80 fêmeas e tem um custo de implantação de R$ 800 por matriz. Requer a implantação de micro-chips, consequentemente necessita de mão de obra com conhecimento de informática, e os animais preci-sam ser treinados. Os lotes precisam ser formados com animais do mesmo tamanho e idade. A reposição das fêmeas no grupo também deve ser feita em lotes de cinco a dez animais para evitar disputa e estresse.

Valentini também ressalta a diminuição do núme-ro e a satisfação dos servidores que atuam no sistema de baias coletivas. “Com a introdução da tecnologia, há maior satisfação das pessoas em trabalhar, pois di-minui o trabalho “sujo” relacionado à limpeza. O co-laborador precisa estar feliz, manejar os animais com tranquilidade”, comenta.

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SISTEMA COBRE E SOLTA

Atualmente, na fazenda Miunça, as fêmeas insemi-nadas e com gestação confirmada são mantidas em ce-las por até 40 dias para evitar a perda embrionária. “Mas vamos modificar e soltar as fêmeas após a cobertura”, explica Valentini, sobre o sistema conhecido por “cobre e solta”. Os animais deixarão de ficar confinados após a inseminação, pois trabalhos realizados na fazenda e exemplos da Espanha confirmaram que os índices re-produtivos não são prejudicados. A médica veterinária Julia Eumira Gomes Neves, docente do Instituto Federal de Brasília, está pesquisando em seu doutorado a com-paração entre os sistemas, e já tem resultados. Segundo ela, as matrizes são inseridas no grupo logo após a inse-minação e antes do período de nidação (implantação do embrião no endométrio), que nos suínos se dá entre o sétimo e 24º após a fecundação. “A organização da hie-rarquia dos animais ocorre nas primeiras 48 horas, ou seja, antes da nidação”, explica Júlia. Na tabela 2 estão apresentados dados preliminares da tese de doutorado da médica veterinária Júlia.

T Sustentabilidade no controle de resíduos e na produção de energia capaz de atender a toda a granja.

T Gaiolas de parição onde as matrizes ficam até o desmame dos leitões aos 24 dias. Há refrigeração direcionada para a porca, tapete lateral de aqueci-mento para os recém-nascidos e piso especial em toda a baia.

Tabela 2. Dados comparativos para diferentes manejos de porcas após a cobertura.

Fonte: Gestação coletiva de matrizes suínas: visão brasileira da utilização de sistemas eletrônicos de alimentação. World Animal Protection.

Cobre e solta

Gestação coletiva

Gestação gaiola

Dias de gestação 116,68 a 116,78 a 116,96 b

Total de nascidos 16,01 a 15,8 ab 15,51 b

Nascidos vivos 14,44 a 14,15 a 13,76 b

Mumificados 0,39 a 0,42 a 0,47 a

Peso da leitegada 19,51 a 19,49 a 19,38 a

Peso médio leitão ao nascimento

1,36 c 1,40 b 1,43 a

Repetição cio 3,78% a 3,50% a 4,30% b

Aborto 1,34% a 1,63% a 1,30% a

Taxa de parição 92,94 ab 93,23 a 91,12 b

FUTURO

Segundo Carmos Triacca, é crescente o interesse dos produtores e dos técnicos pela implantação do sistema, e a Miunça está aberta a visitas e treinamen-tos. Para o gerente comercial da Bretanha Suíno, mé-dico veterinário Pedro Ivo de Quadros Filho, há uma busca por eliminar ou reduzir as gaiolas, mesmo en-tre aqueles produtores que inicialmente não podem investir na máquina de arraçoamento. Priorizar a ges-

tação coletiva de matrizes suínas é um passo para as práticas de bem-estar, mas deve-se considerar que os manejos amigáveis devem ser expandidos para todas as etapas da suinocultura. “Não vejo mais espaço para aumentar a prolificidade, mas haverá uma revolução na conversão alimentar”, prevê Valentini enumerando os avanços em genética, ingredientes das rações e ma-nejo nutricional. Ele também aposta na importância de melhorar a qualidade da carne, incorporando suculên-cia e na expansão da venda de cortes diferenciados. É um exemplo de produção a frente de seu tempo e modelo no país.

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terminação, permitindo que o desempenho do país seja avaliado com expectativas favoráveis a cada ano. E quem está no comando des-ses projetos, em muitos casos, são médicos veteriná-rios que aliaram o conhecimento técnico da produção às atividades gerenciais e administrativas, refletindo no bom resultado. Transformaram as criações extensi-vas em empreendimentos.

Com 13 unidades nos estados do Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, Levy Campanhã de Souza Junior é o diretor de pecuá-ria das Fazendas Bartira, que totalizam 42 mil cabeças. O empreendimento atua ainda na produção de cana e grãos. Formado pela Unoeste, de Presidente Prudente--SP, em 1995, o médico veterinário, inicialmente, atuou exclusivamente na reprodução animal e, em seguida, assumiu o comando técnico e gerencial de pecuária da Bartira, respondendo diretamente aos diretores da empresa. A importância de seu conhecimento técnico se reflete na rentabilidade, por exemplo, parte dos in-vestimentos é direcionada ao melhoramento genético, com isso, o bezerro produzido pela empresa tornou-se um animal valorizado, com ágio de 30% se compara-do às médias de comercialização na região. O exemplo

Por Flávia Tonin

Nos últimos 25 anos, o Brasil tornou-se uma das maiores potências quando o assun-to é a exportação de alimentos, tanto que

a Organização das Nações Unidas para Agricultu-ra e Alimentação (FAO) acredita que o país deve-rá assumir a liderança mundial na exportação de produtos agrícolas a partir de 2024. No setor de carne bovina, no ano passado, as exportações bra-sileiras fecharam com faturamento de US$ 5,9 bi-lhões, com embarque de 1,39 milhão de tonela-das, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), mantendo o Brasil en-tre os líderes no mercado externo. Trata-se de uma cadeia produtiva com grandes projetos pecuários que envolvem desde a produção de bezerros até a

BOVINOCULTURA

COM O REBANHO NAS MÃOS

Médicos veterinários são responsáveis por grandes projetos pecuários no Brasil. Administram rebanhos com dezenas de milhares de cabeças e constroem a base de uma cadeia que cada vez tem maior importância para a economia do país

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está nas vendas do Mato Grosso do Sul, onde os ani-mais da Bartira foram negociados a R$ 1.700, frente a R$ 1.300 do mercado local, no ano passado.

Souza Junior reconhece que, atualmente, a pecuária é uma atividade cada vez mais profissionalizada e que, para ser um empreendimento lucrativo, não pode ser praticada de forma extensiva. “A regra é trabalhar em cima de custo e planejamento, pois o projeto precisa ter objetivo e meta a ser alcançada, para que possa ser lu-crativo”, comenta. Seu maior desafio é manter a equipe motivada e trabalhando de forma eficiente. Explica que a boa relação interpessoal é uma competência que deve estar em constante desenvolvimento no profissional. “A experiência de lidar com pessoas vem com o tempo e com a convivência diária”, afirma. O médico veterinário traz na bagagem a experiência de quem administrou um grupo de inseminadores que atuavam em todo o Brasil e que foram responsáveis por um programa de reprodu-ção envolvendo mais de 100 mil animais.

Lembrando o início de sua carreira, ele sugere que o recém-formado se preocupe em “ganhar experiência antes de ganhar dinheiro” e, para que possa ter uma carreira longa e em crescimento, não pode se descuidar de sua formação, participando de eventos e congressos técnicos. “É preciso saber fazer para poder orientar a equipe e direcionar os investimentos”, reconhece.

OLHO NO CONSUMIDOR

Com apenas 29 anos de idade, Leone Vinicius Fur-lanetto tem sob sua responsabilidade, em unidades do Mato Grosso, 40 mil cabeças de gado pertencentes às Fazendas São Marcelo, do Grupo JD. Na pecuária, atua da cria até o confinamento, com meta de abate de 28 mil cabeças/ano. Mais do que a simples gestão, ele tem como tarefa modernizar um projeto que, re-conhecidamente em seu meio, já está à frente de seu tempo, pois foi a primeira fazenda pecuária do mundo a conquistar a certificação Rainforest Alliance, direcio-nada às práticas ambientais, sociais e de produtivida-de (box). Também é a primeira fazenda do Brasil a ser certificada para práticas de bem-estar animal (Certified Humane), concedida pela Ecocert Brasil, além de já ter sido a maior produtora de carne orgânica certificada do mundo. Ele lembra que atuar em produção susten-tável, pela exigência dos governos e do mercado con-sumidor, é uma realidade para os profissionais da atua-lidade, por isso a importância das certificações. “É um desafio que precisa ser enfrentado”, avalia.

O que o levou a gerência geral da fazenda foi o so-matório da convivência desde criança na São Marcelo, aliada à sua formação profissional e ao resultado positi-vo dos trabalhos apresentados aos diretores. Egresso da Universidade de Cuiabá (Unic), em 2008, somou à sua formação um mestrado em Ciência de Alimentos, uma publicação internacional e a experiência na indústria de alimentos de origem animal antes de voltar para a fa-zenda. “Na indústria, há uma necessidade de trabalhar com procedimentos e protocolos, e foi isso que aprendi e implantamos na fazenda”, comenta sobre os procedi-mentos para conseguir as certificações, área que era de sua responsabilidade antes da gerência atual.

Ele reconhece que as certificações exigem muita organização e programas estabelecidos para as mais diversas áreas, como nutrição, sanidade e reprodução. “São áreas de conhecimento do médico veterinário, por isso a importância de técnicos para implantá-los e acompanhá-los”, comenta. Uma das necessidades foi ampliar o corpo técnico das fazendas com a con-tratação de médicos veterinários e zootecnistas. “Era um olhar mais clínico para o problema, o que favorecia a nossa tomada de decisão”, avalia sobre a profissio-nalização da equipe. Para atuar em gestão, Furlanetto buscou ampliar seu conhecimento em planejamento, controle de custos, marketing e outras questões ad-ministrativas. Ele acredita que os profissionais, inde-pendentemente da área de atuação, devem investir na formação complementar.

Produzir de forma sustentável, pela exigência dos governos e do mercado consumidor, é uma realidade para os profissionais da atualidade, por isso a importância da padronização e das certificações

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PROXIMIDADE COM A ACADEMIA

Filho de um pequeno produtor, Rogério Fonse-ca Guimarães Peres sabia que queria trabalhar com agropecuária e formou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Uberlândia, em 2005. Pouco tempo depois foi contratado como veteriná-rio, assumiu a gerência de pecuária e depois a di-retoria de planejamento da Agropecuária Fazenda Brasil, envolvendo um rebanho de 50 mil cabeças, e localizada próximo à Barra do Garças, MT. Apesar de estar no mercado, Peres nunca deixou a área aca-dêmica. Fez mestrado e agora está na fase final do doutorado. “Sempre gostei de pesquisa aplicada. É um campo aberto de trabalho

RECONHECIDA PELO MUNDO

Representado por um sa-pinho verde, a certificação Rainforest Alliance é um dos selos mais conhecidos no mundo para garantia de pro-dução em critérios sustentá-veis e lidera o mercado de certificações nos Esta-dos Unidos, além de outros países. A expectativa é de que também seja um selo reconhecido no Brasil. A certificação encoraja os produtores a crescer e manejar com base na sustentabilidade. Para isso, o sistema tem rigorosos critérios relacionados a questões de proteção ambiental, igualdade social e viabilidade econômica. Como exemplo, os requisi-tos do Rainforest baseiam-se na redução de uso de agroquímicos, manejo adequado do solo e dos re-cursos naturais, conservação dos recursos existen-tes e adoção de práticas que visam ao bem-estar animal, além de respeito e segurança aos trabalha-dores e garantia de que o consumidor terá acesso aos produtos de acordo com a norma.

Mais informações em: www

www.rainforest-alliance.org/

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T Leone Vinícius Fulanetto é responsável pelo rebanho de 40.000 cabeças das Fazendas São Marcelo, em MT.

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A pecuária está em fase de reinvenção e, para manterem-se no mercado, os profissionais precisam acompanhar a competitividade da atividade que administram

T O desafio dos gerentes está em manter uma equipe unida e motivada.

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na nossa profissão”, informa o atual aluno de Pós-Graduação em Zootecnia pela UNESP de Botucatu, reconhecendo que “o médico veterinário tem muitas vantagens por poder associar várias áreas importan-tes como a sanidade, reprodução, zootecnia e ges-tão”, completa.

A proximidade com a vida acadêmica favoreceu a empresa para que tecnologias fossem implantadas ainda quando estavam pouco difundidas. Por ter o co-nhecimento técnico e ser responsável pela pecuária, ele pode “investir em ideias próximas à realidade do mercado e que garantem viabilidade financeira”, co-menta. Exemplo foi a implantação de tecnologias que buscam eficiência reprodutiva, como por exemplo, o uso, desde 2007, de protocolos de indução de puber-dade em novilhas.

Para Peres, a pecuária está em fase de reinven-ção e, para manterem-se no mercado, os profissio-nais precisam acompanhar e garantir a competitivi-dade da atividade que administram. Em sua opinião, por muitos anos o setor foi visto como uma atividade secundária e de reserva de capital. “Hoje é preciso transformar a fazenda numa empresa, com pessoas

motivadas e viabilidade financeira para atrair o in-vestidor”, comenta o médico veterinário. Para ele, o profissional do futuro precisa ter proatividade, es-pírito de liderança e saber trabalhar em equipe. “De todos, o trabalho em equipe é o mais importante”, pois a grandiosidade e profissionalização dos pro-jetos exigem o bom relacionamento para a correta aplicação das técnicas.

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Os médicos veterinários e demais profissionais ligados à saúde animal correm maior risco de sofrer lesões causadas por cães e gatos do que

a população em geral. Das 800 mil mordidas anuais de cães nos EUA que requerem atendimento médico, cerca de 20% são fatais. Entretanto, mordidas que não estão relacionadas com a prática médico-veterinária podem levar alguém a consultar um médico veteriná-rio para determinar se o cão ou gato responsável pela mordida deve ser eliminado ou não. Os procedimentos na pessoa com a lesão também podem ser aplicados para tratar ferimentos de cães e gatos mordidos duran-te uma briga (HADDAD JR., 2013).

MORDIDAS: IMPLICAÇÕES, TRATAMENTOS E ORIENTAÇÕESQuando o assunto é mordedura, independentemente do alvo ser animal ou humano, o médico veterinário é um dos principais orientadores. Além da preocupação com as zoonoses, é comum cães e gatos serem vitimados por mordeduras de variável gravidade, resultando, por vezes, em lesões que devem ser tratadas como emergências

CLÍNICA MÉDICA DE CÃES E GATOS

FATORES QUE CONTRIBUEM PARA MORTES HUMANAS POR MORDEDURA DE CÃES:

Nenhuma pessoa presente para intervir.

A vítima não possui relação familiar com o animal.

Animais inteiros/não castrados.

Capacidade comprometida da vítima (idade ou condição física).

Animais mantidos em isolamento ou longe de interação com as pessoas.

Má supervisão e abuso ou negligência com o animal.

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MORDIDA DE CÃO

� Força de 450 psi com a mandíbula, suficiente para

dano tecidual extenso.

� Atos adicionais de puxar e lacerar causam lesões

por cisalhamento.

� A característica é o esmagamento de tecidos e

lacerações, devido à força das mandíbulas e aos

dentes “rombos”.

� Comprometimento de estruturas profundas como

músculos, vasos, tendões e ossos.

MORDIDA DE GATO

� Ferimentos puntiformes profundos sem

esmagamento.

� Maior possibilidade de complicações.

tardias, principalmente infecções fúngicas e

bacterianas.

� Os pequenos incisivos dos gatos podem

penetrar em ossos subjacentes, tecidos

conjuntivos e musculares e articulações.

Estima-se que entre 4% e 20% dos ferimentos cau-sados por mordedura de cães em pessoas e 20% a 50% dos ferimentos causados por mordedura de gatos tor-nam-se clinicamente infectados. Em geral, as infecções clínicas ocorrem 8h a 24h após a lesão. É provável que as feridas infectadas de cães possam resultar em maior comprometimento funcional, embora as de gatos impli-quem maior risco de uma infecção progressiva.

Os ferimentos por mordeduras costumam ser po-limicrobianos, com a mediana de cinco diferentes isolados bacterianos por ferida, compreendendo três

aeróbios e dois anaeróbios. É possível que as pessoas vítimas de mordidas precisem de hospitalização, caso venham a ter infecções locais ou sistêmicas importan-tes, não respondam aos antibacterianos orais, tenham ferimentos penetrantes em tendões, articulações ou no sistema nervoso central, precisem de cirurgias re-construtivas ou estejam imunocomprometidas.

É possível que feridas causadas por cães e gatos contenham bactérias exclusivas, não identificadas em pessoas, e podem não responder a antibacterianos usados convencionalmente.

BACTÉRIAS COMUMENTE ENVOLVIDAS NA INFECÇÃO DE FERIDAS POR MORDEDURA DE CÃES

BACTÉRIAS COMUMENTE ENVOLVIDAS NA INFECÇÃO DE FERIDAS POR MORDEDURA DE GATOS

Pasteurella species.

Actinomyces species.

Propionibacterium species.

Bacteroides species.

Fusobacterium species.

Clostridium species.

Wolinella species.

Peptostreptococcus species.

Staphylococcus species.

Streptococcus species.

Staphylococcus species.

Streptococcus species.

Eikenella species.

Pasteurella species.

Proteus species.

Klebsiella species.

Haemophilus species.

Enterobacter species.

DF-2 or Capnocytophaga canimorsus.

Bacteroides species.

Moraxella species.

Corynebacterium species.

Neisseria species.

Fusobacterium species.

Prevotella species.

Porphyromonas species.

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ACHADOS CLÍNICOS EM PESSOAS

Os sinais clínicos de mordedura canina em se-res humanos dependem da natureza do ataque: ta-manho, raça e temperamento do cão, intensidade e duração do ataque, idade e tamanho do paciente e região anatômica acometida. As lesões provocadas por felinos acontecem, frequentemente, nas mãos e braços, com maior chance de infecção e complica-ções. São indicativos de infecção o edema, eritema, dor e presença de pus, lindadenomegalia e febre (GREENE, 2012).

Os tipos de lesões causadas por mordidas de cães em seres humanos variam e incluem abrasões, per-furações, avulsões e lacerações. A maioria das lesões em adultos ocorre nas extremidades superiores e no tronco, embora envolvam, menos comumente, as ex-tremidades inferiores. Crianças geralmente têm lesões faciais devido à baixa estatura.

As mordidas de gatos, devido aos dentes aguça-dos, são mais propensas a causar feridas mais profun-das que as infringidas pelos cães, podendo resultar na formação de abscessos e complicações resultantes, como sepse, meningite, endocardite, artrite séptica ou osteomielite. Os arranhões podem ser colonizados pe-los mesmos organismos que colonizam mordidas.

ACHADOS CLÍNICOS EM CÃES E GATOS

Na pele móvel e elástica de cães e gatos, as lesões por mordidas podem ser menos notáveis e ou migrar através dos tecidos profundos e não serem detectadas, enquanto as mordidas de animais em pessoas são mais aparentes. Como nas lesões em pessoas, o organismo inoculado em tecidos de cães e gatos, após mordidas, são habitantes da flora bucal. As bactérias envolvidas podem vir do ambiente local, de superfícies cutâneas ou da cavidade bucal. Em geral, as infecções são mistas e incluem uma combinação de bactérias aeróbicas e anaeróbicas que podem dissecar ao longo de planos teciduais. Casos graves de fascilite necrosante ou aco-metimento das cavidades corporais ou órgãos podem ocorrer ocasionalmente. Provavelmente muitas dessas infecções subsequentes demorem a surgir e não sejam reconhecidas até que surjam sinais de infecção sistê-mica (GREENE, 2012).

As lesões penetrantes por mordeduras podem ser classificadas como contaminadas ou infectadas, pois o dente do agressor cria uma solução de continuidade inoculando microrganismos presentes na cavidade oral. O que pode acontecer também nesse tipo de trauma-

tismo é o denominado “efeito iceberg”, no qual muitas vezes é visualizado apenas o orifício da lesão, porém, devido ao movimento da cabeça do agressor durante o trauma, a pele é avulsionada do subcutâneo e mus-culatura adjacente, causando uma série de lesões que podem ficar camufladas (FADEL; RABELO, 2012).

T Efeito "iceberg" o orifício da lesão é visualizada mas as lesões profundas são camufladas.

O QUE FAZER QUANDO AS MORDIDAS FOREM EM PESSOAS?

Embora não sejam os principais responsáveis pelo tratamento de pessoas vítimas de mordidas, os médi-cos veterinários devem estar cientes dos protocolos de atendimento médico para orientar os proprietários que venham consultá-lo, até para que possam fazer um autossocorro de emergência, para o caso de sofrerem mordidas por acidente.

As pessoas vítimas de mordidas ou arranhões, em especial as imunocomprometidas, devem ser instruídas a procurar sempre atendimento médico imediatamente.

É essencial lavar bem com água e sabão todos os ferimentos humanos causados por mordidas e arra-nhões. O uso de solução aquosa orgânica de iodo (com povidona a 1%) também pode ser benéfico, mas pode irritar o tecido e facilitar infecção secundária e retardar a cicatrização. A irrigação deve ser feita com solução estéril de cloreto de sódio a 0,9% ou ringer lactato, de forma intermitente, pulsada e sob alta pressão, em que os líquidos isotônicos incidem diretamente na ferida, sendo mais eficaz para deslocar bactérias contaminan-tes (GREENE, 2012).

O grau de intervenção cirúrgica depende do local e do tipo de mordida. Lesões na face sangram muito e

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rios antibacterianos e glicocorticoides de ação rápida. É importante que, durante o manejo inicial, a fe-

rida seja protegida com curativos limpos ou mesmos estéreis, associados a substâncias antissépticas. Esse procedimento é muito importante, pois pode existir comunicação com a cavidade torácica, abdominal ou mesmo intracraniana e diminuir a possibilidade de contaminação (FADEL; RABELO, 2012).

O exame físico do local determina a extensão da lesão a nervos, tendões ou ossos. Pode ser necessária contenção química ou infusão de lidocaína para rea-lizar melhor avaliação e examinar a ferida. O exame radiográfico pode revelar lesões ósseas subjacentes ou corpo estranho e servir para avaliar osteomielite potencial no futuro.

As feridas devem ser abundantemente irrigadas com solução fisiológica isotônica, adicionada ou não de agentes antissépticos. Sabão e detergentes têm propriedades antivirais e atuam como profiláticos lo-cais contra o vírus da raiva. Soluções contendo anti-bacterianos não são fisiológicas, costumam ser irritan-tes e não funcionam bem em contato direto por curtos períodos. Para lavagem, soluções diluídas de iodo com povidona podem servir como antimicrobianos, mas no meio orgânico da ferida são menos eficazes. A clorexi-dina (1 parte de clorexidine 2% + 40 partes de solu-ção salina 0,9%) tem atividade antibacteriana melhor e não interfere na cicatrização (GREENE, 2012).

Uma vez identificada lesão em subcutâneo ou comunicação com alguma cavidade, a exploração ci-rúrgica da lesão é mandatória, com a finalidade de identificar sua extensão total e comunicações. Essa ex-ploração deve ser realizada sob anestesia geral e em centro cirúrgico (FADEL; RABELO, 2012).

Corpos estranhos e tecido necrótico devem ser removidos durante o desbridamento inicial da ferida, mas com cautela para evitar dano ao restante do supri-mento sanguíneo ou nervoso. A remoção conservadora possibilita avaliação posterior, 72 horas, para melhor demarcação do tecido viável.

Feridas infectadas ou existentes há mais de 24 ho-ras devem ser tratadas como ferimentos abertos.

Feridas causadas por mordidas não devem ser suturadas, a menos que as bordas possam ser rea-proximadas e sejam colocados drenos. O fechamento primário é indicado se os tecidos parecem vivos, a in-fecção ou contaminação for mínima e o espaço morto puder ser eliminado. O fechamento tardio primário ou secundário pode ser indicado cinco dias após a ocor-

podem resultar em conspícuo tecido cicatricial, razão pela qual o procedimento de rotina é suturá-las. Feri-das em extremidades são visíveis e geralmente mais contaminadas e propensas à infecção, sendo frequen-temente tratadas como ferimento aberto. Perfurações com hemorragias mínimas devem ser irrigadas, embora alguns médicos excisem as margens com cautela, dei-xando-as abertas para drenar.

Tem-se recomendado o tratamento antimicrobiano com amoxicilina-clavulanato (500 mg, de 6/6 horas, por dez dias) para todas as lesões penetrantes, moderadas a graves, embora alguns estudos tenham questionado a profilaxia rotineira. Outras opções incluem as penicili-nas e as cefalosporinas de segunda e terceira gerações. Pacientes sem imunização antitetânica devem receber a vacina e o toxoide tetânico. Nos imunizados sem reforço há mais de cinco anos, é necessária a aplicação apenas do toxoide tetânico (HADDAD JR., 2013).

Pacientes mordidos por animais selvagens ou de origem desconhecida devem ser vacinados contra a raiva (5 doses por via intramuscular) e receber imuno-globulina antirrábica (20 UI/kg). A infiltração de uma parte no local é útil, devendo o restante ser aplicado por via intramuscular (HADDAD JR., 2013).

TRATAMENTOS PARA MORDIDAS DE ANIMAIS EM CÃES E GATOS

A avaliação de sinais vitais, tais como a tempera-tura corporal, o pulso e a frequência respiratória, fre-quência e ritmo cardíaco, bem como o exame físico geral, é fundamental para identificação dos problemas e para se tomar as medidas iniciais para estabilizar o animal com traumatismo. A hipotensão decorrente de choque, infecção ou hipovolemia deve ser tratada com líquidos intravenosos; provavelmente sejam necessá-

T Feridas na face devem ser suturadas para evitar fibrose intensa.

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rência da ferida, quando ela estiver em processo de ci-catrização ativa e o exsudato for mínimo. A cicatrização por segunda intenção envolve granulação, contração e epitelização e resulta em fibrose, entretanto é neces-sária quando há excesso de secreção, perda de tecido ou infecção no interior da ferida. Feridas faciais com rico suprimento sanguíneo costumam ser fechadas para evitar fibrose, da mesma maneira que feridas em extremidades, onde há menos tecido subjacente em que possa ocorrer infecção profunda.

O tratamento antimicrobiano tópico é reservado para o curativo de feridas nas superfícies cutâneas externas. O tratamento antimicrobiano sistêmico empírico pode ser instituído para tratar um amplo espectro de micror-ganismos, embora não se tenha demonstrado que o uso isolado de antimicrobianos previnam as infecções em feridas por mordida. Os ferimentos por mordedura es-tão sempre contaminados com vários microrganismos do ambiente e flora oral comensal. Os antibacterianos devem ser considerados para feridas que envolvam per-furações profundas ou desbridamento cirúrgico extenso.

Poucos agentes podem ser eficazes, de forma iso-lada, para combater o amplo espectro de organismos existentes na cavidade bucal. Amoxicilina-clavulanato tem sido a preferência no período de contaminação, pelo amplo espectro de eficácia e baixa toxicidade (HADDAD JR., 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, não estão disponíveis extensas compila-ções sobre dados epidemiológicos que retratam as mor-didas por animais domésticos. Com base em informa-ções de outros países, é possível atentar para a elevada incidência de mordeduras de cães e gatos, responsáveis por complicações como sangramento, lacerações e in-fecções bacterianas graves. O tratamento inclui medi-das iniciais (de primeiros socorros) e tardias destinadas ao tratamento das infecções secundárias e suas conse-quências e reparos de tecidos.

AUTORES

RICARDO JUNQUEIRA DEL CARLOMédico VeterinárioCRMV-MG nº. 1759DSc, MSc, docente Universidade Federal de Viç[email protected]

LISSANDRO GONÇALVES CONCEIÇÃOMédico VeterinárioCRMV-MG nº. 51335DSc, MSc, docente Universidade Federal de Viçosa

REFERÊNCIAS

GREENE, C.E. Infectious diseases of the dog and cat. 4th ed. St Louis: Elsevier, 2012.

FADEL, L; RABELO, R.C. Lesões por mordedura. In: RABELO, R. Emergências de pequenos animais. Condutas clínicas e cirúrgicas no paciente grave. Rio de Ja-neiro: Elsevier, 2012.

HADDAD JR., V.; CAMPOS NETO, M.F.; MENDES, A.L. Mordeduras de animais (sel-vagens e domésticas) e humanas. Rev. Patol. Trop., v. 42, n. 1, p. 13-19, 2013.

WHETSTONE, W.D. Animal Bites. Medline Plus. Medical Encyclopedia. Dispo-nível em: <http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/article/000034.htm>. Acesso em: 16 dez. 2015.

T Mediação de suporte, limpeza intensa e colocação de drenos.

Para o manejo da dor devem ser usados os analgé-sicos narcóticos sistêmicos combinados ou não, depen-dendo do caso, aos sedativos ou anestesia local. Os anes-tésicos locais podem interferir no crescimento epitelial e devem ser evitados nos estágios finais da cicatrização.

A drenagem é um componente importante no tratamento. Pode ser necessário colocar compressas quentes em perfurações ou lacerações que tenham causado lesões abaixo da superfície e abri-las para drenagem após a formação de seroma ou abscesso. A cicatrização pode acontecer por segunda intenção. Quando permanece espaço morto abaixo da superfí-cie da ferida ou a secreção é excessiva, é necessário instituir um sistema de drenagem passivo ou ativo. A drenagem passiva age por ação capilar ou gravi-dade, enquanto drenos ativos atuam por aspiração externa constante. Os drenos a vácuo consistem em um tubo fenestrado conectado a um reservatório ge-rador de vácuo. Esse sistema diminui o risco de con-taminação com o meio externo, em relação ao uso de drenos passivos, como o dreno de Penrose (FADEL; RABELO, 2012), mas somente podem ser implantados se a ferida for suturada. Os drenos devem ser troca-dos quando a secreção torna-se viscosa e exsudativa ou séptica.

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A deterioração do pescado é complexa e envolve processos autolíticos, oxidação de lipídeos e decomposição microbiana, ou, ainda, a combinação dos três elementos

SEGURANÇA ALIMENTAR

HIGIENE E QUALIDADE DO PESCADO

O pescado possui elevada qualidade nutricio-nal e valor biológico, e faz parte da dieta humana nas mais diferentes culturas, sendo

importante agregador socioeconômico e cultural. A denominação genérica pescado engloba peixes, mo-luscos, crustáceos e outros animais que vivem no meio aquático e têm valor alimentar e econômico. Dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) indicam que em 2012 a produ-ção mundial de pescado atingiu cerca de 158 milhões de toneladas (136,2 milhões para consumo humano e 21,8 milhões para uso não alimentar), sendo a China o maior produtor (MATIAS, 2014). No Brasil (produção de 1,240 milhões de toneladas), os estados de Santa

Catarina e Pará lideram a produção. O consumo per capita mundial está estimado em 19,2 kg/hab./ano, 11,7 kg/hab./ano no Brasil (BRASIL, 2011).

As perdas econômicas podem atingir 30% e se devem a desperdícios no espaço captura-indústria de beneficiamento, rejeições no circuito industrial e na comercialização do produto acabado, consequentes à qualidade higiênica e sanitária inadequadas. Uma parte considerável das perdas é devida ao desconhe-cimento das características da matéria-prima e suas relações com o meio em que é produzida e a falta de percepção da importância dos cuidados higiênicos e do uso insubstituível do frio em todos os segmentos da cadeia produtiva.

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DETERIORAÇÃO DE PESCADO (PEIXES)O pescado apresenta grande vulnerabilidade aos

processos de deterioração, dos quais a putrefação é o mais extremo, por causa de sua estrutura tecidual, ele-vado teor de umidade, composição química, intensi-dade de ações enzimáticas na musculatura, facilidade para instalação de processos autolíticos, valores de pH elevados (7,05 a 7,35), presença de microbiota dete-riorante e condições de beneficiamento inadequadas (FREITAS, 2015).

A deterioração do pescado é complexa e envol-ve processos autolíticos, oxidação de lipídeos e de-composição microbiana ou ainda a combinação dos três (ORDÓÑEZ et al., 2005). Na autólise, proteinases levam à degradação da parede do tubo digestivo e musculatura adjacente, de modo que as enzimas proteolíticas do aparelho digestivo causam danos na textura da musculatura e órgãos vizinhos, provocan-do o relaxamento (amolecimento) dos tecidos; por oxidação, as lipases desdobram as gorduras insatura-das acumuladas, provocando o aparecimento de alte-rações no aroma (odor) e na coloração; proteólise e lipólise criam um ambiente favorável ao crescimen-to e às ações da microbiota. Na putrefação também ocorrem reações enzimáticas, químicas e degrada-ções por agentes da microbiota como Pseudomonas fluorescens, P. fragii, P. putrefaciens, espécies psicro-tróficas e outras bactérias que invadem a musculatu-ra, resultando no desenvolvimento de características sensoriais anormais, danos profundos na estrutura de tecidos e formação de substâncias de odor repugnan-te (FREITAS, 2015).

MICROBIOTA E OUTROS ORGANISMOS EM PESCADO

Peixes, moluscos e crustáceos apresentam inúme-ras interfaces com o meio aquático, entre elas a micro-biota que os acompanha, reforçando a importância dos cuidados higiênicos que devem estar presentes em toda a cadeia produtiva. A microbiota está presente na pele e muco superficial, nas guelras e no tubo intestinal, sendo a musculatura considerada isenta e mesmo esté-ril em condições normais, mas no decorrer dos diversos elos da cadeia produtiva pode multiplicar-se e ingressar no tecido muscular através, principalmente, da parede do tubo intestinal, criando condições para o desenvolvi-mento da deterioração e putrefação (VIEIRA, 2004).

FAZEM PARTE DA MICROBIOTA DE PESCADO OS SEGUINTES GÊNEROS E ESPÉCIES BACTERIANAS:

(1) No pescado fresco – Pseudomonas, Shewanel-la, Bacillus, Micrococcus, Vibrio e enterobactérias (Morganella morganii, relacionada à produção de histamina), alguns como agentes deterioradores; (2) Na pele e muco superficial são encontrados Moraxella, Acinetobacter, Flavobacterium, Corine-bacterium, Aeromonas, Sarcina, Serratia; (3) No conteúdo estomacal – Clostridium e Escherichia, coliformes (totais e fecais), outras enterobactérias, Edwardsiella tarda e Salmonella sp.; (4) Na maioria dos moluscos filtradores – microbiota semelhante a de pescado marinho e às vezes grande quanti-dade de espécies de Bacillus, Micrococcus, Strep-tococcus e enterobactérias; (5) Em crustáceos e moluscos recém-capturados – os mesmos gêneros encontrados nos peixes; (6) No pescado de águas frias, peixes e moluscos de águas temperadas e de águas tropicais e subtropicais – Psycrobacter, Aci-netobacter, Alteromonas, Pseudomonas, Flavobac-terium e Vibrio; Cytophaga, Moraxella, Shewanella, Achromobacter; bactérias corineformes, respecti-vamente. Outros agentes bacterianos patogênicos e não deteriorantes de origem entérica (Salmonel-la sp. por exemplo), Campylobacter, Listeria spp. (em camarão), Aeromonas spp. (em peixes como o “pintado”). Vibrio (em moluscos bivalvos como ostra e mexilhões) podem ser incorporados à mi-crobiota inicial e, quando alcançam número sig-nificante, podem causar gastroenterites e outras doenças transmitidas pela ingestão de alimentos.

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Certos agentes bacterianos constituintes da mi-crobiota do pescado estão envolvidos na produção de histamina, uma amina formada na musculatura de certas espécies de pescado sob condições higiênicas inadequadas e temperaturas elevadas na manipula-ção, evisceração e no processamento (SILVEIRA et al., 2001), capaz de causar grave processo tóxico-alérgico. Nematódeos, trematodeos e cestódeos ocorrem em pescados e têm importante significado higiênico, pelo aspecto repugnante causado por suas formas de de-senvolvimento nos hospedeiros, e sanitário por serem, alguns, agentes de doenças zoonóticas (RODRIGUES et al., 2015). Alguns microparasitos que acompanham peixes, moluscos e crustáceos têm sido imputados como agentes zoonóticos ou como carga biológica de elevado significado higiênico (DIAS, 2013). Por outro lado, toxinas sintetizadas por espécies de peixes e mo-luscos ou por eles incorporadas na cadeia alimentar podem contaminar o pescado (VARNAM; EVANS, 1991).

FATORES QUE INFLUENCIAM A QUALIDADE DO PESCADO

� Manipulação e evisceração; � Superfícies de contato (equipamentos e uten-sílios diversos, caixas, embalagens, bandejas, facas);

� Emprego do frio (conservação); � Limpeza e sanitização (de equipamentos e utensílios e de instalações);

� Água (qualidade e quantidade) empregada no processamento e na limpeza e sanitização; e

� Mão de obra.

Para garantir a qualidade do pescado nos mais di-versos aspectos e na atenção às exigências da legisla-ção, os seguintes fatores devem ser observados e aten-didos (BRASIL, 1997). A manipulação e a evisceração devem ser cuidadosas e empregar itens facilitadores e adequados como superfícies de contato, facas e utensí-lios limpos e sanitizados e dispor de utensílios dispen-sadores para recebimento e contenção de resíduos e partes eliminadas, prevenindo a contaminação cruzada.

Da mão de obra requer-se adequados hábitos higiênicos e o uso de equipamentos de proteção in-dividual; é um fator de elevado risco por causa das contaminações cruzadas e dos perigos a que pode ser exposta na manipulação de matérias-primas nas indústrias e de produtos acabados postos ao consumo; mão de obra treinada e adequadamente paramentada (vestuário, botas, luvas, máscaras) são itens preponderantes.

Água potável de boa qualidade, físico-química e microbiológica, e em quantidade suficiente, nas unida-des de beneficiamento e estabelecimentos comerciais de venda a varejo; é primordial para a higienização de instalações e equipamentos. Gelo processado a partir de água potável é essencial nos processos de con-servação nos equipamentos de captura, nas plantas processadoras e no elo final, o consumo, para garantir a manutenção do grau de frescor, em proporção ade-quada pescado/gelo; as exigências de boa qualidade bacteriológica previnem as contaminações por orga-nismos presentes na água.

Os estabelecimentos industriais e aqueles de co-mercialização a varejo são obrigados a implantar um programa de limpeza e sanitização, com objetivo de dar destinação e tratamento adequados aos resíduos (biológicos ou não) gerados no processamento, evitan-do, assim, contaminações de instalações e meio am-biente e prevenir perigos físicos, químicos e biológicos ao produto e ao consumidor.

As plantas processadoras também devem im-plantar programas como as “boas práticas de fabri-cação (BPF)” e o “sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC)”, além de “pro-cedimentos padronizados de higiene operacional (PPHO)”, dos quais os dois primeiros são partes integrantes destes, e adotar níveis adequados de conformidade para os procedimentos de controle higiênico e sanitário visando a prevenção e mesmo a eliminação de perigos de qualquer natureza (BRA-SIL, 1997; LIMA, 2012).

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CARACTERES SENSORIAIS SÃO FATORES DE AVALIAÇÃO PELO CONSUMIDOR

A qualidade de um produto ou bem econômico repre-

senta a somatória de atributos que atraem e/ou satisfa-

zem os consumidores; em se tratando de pescado, alguns

atributos, além do valor nutricional, são os caracteres sen-

soriais; outros atributos não avaliados diretamente pelo

consumidor, mas também importantes, são a qualidade

físico-química, a qualidade microbiológica, a sanidade e

a segurança alimentar.

O grau de frescor do pescado reflete a qualidade da

matéria-prima recebida pela indústria, proveniente das

fontes de produção, da matéria-prima processada e enca-

minhada para o consumo, mas reflete também a qualida-

de do produto posto ao consumo nos variados canais de

comercialização (mercados/supermercados, feiras-livres,

outros estabelecimentos comerciais especializados) (FA-

RIAS; FREITAS, 2008, 2011). A segurança alimentar deve

traduzir a conformidade desse produto em termos físico-

químico, microbiológico, sensorial, nutricional e sanitário

resguardados por normas padronizadas de beneficiamen-

to, transporte, armazenamento e comercialização.

O grau de frescor demonstra a manutenção do estado

dos caracteres (próprios, essenciais) de odor, sabor, cor,

textura e, portanto, do estado das características senso-

riais iniciais em função principalmente das condições de

A avaliação é subjetiva, mas existem indicadores químicos que podem auxiliar nessa análise

conservação do produto, e que o torna próprio ou impró-

prio para o consumo.

Na caracterização do grau de frescor do pescado, em-

pregam-se indicadores sensoriais e indicadores químicos;

a avaliação sensorial é subjetiva, já os indicadores quí-

micos (as substâncias a respeito das quais os testes quí-

micos são realizados) compreendem a determinação do

nitrogênio básico volátil total (N-BVT), a prova de Eber e

a determinação do nível de substâncias reativas ao ácido

tiobarbitúrico, TBArs, segundo limites fixados por legisla-

ção federal vigente (BRASIL, 1997).

O pescado recebido pelas indústrias de beneficia-

mento e direcionado para a venda no nível de consumo é

submetido, a priori, à avaliação sensorial (cor, odor, sabor,

textura, aparência geral, das brânquias/guelras, dos olhos,

da pele e do muco superficial); nas indústrias, pela rapi-

dez, os testes sensoriais de odor e textura (considerados

como parâmetros) são os mais empregados; nos locais

de venda a varejo, a avaliação da qualidade é também

direcionada para a determinação do grau de frescor por

indicadores sensoriais. O controle interno das indústrias

e os laboratórios oficiais (federais e estaduais) responsa-

bilizam-se pelas avaliações subsequentes (indicadores

físico-químicos e microbiológicos).

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Corpo rígido, textura firme e elástica deixando

a impressão do contato quando comprimido

Brânquias vermelhas, com variação de acordo com a

espécie, com pouco muco de odor normal)

Pele lustrosa e com reflexos brilhantes, muco transparente e distribuído uniformermente

sobre a pele; escamas firmemente aderidas à pele, brilho prateado e iridiscente

Olhos proeminentes e salientes, pupila negra, córnea transparente

As paredes abdominais relativamente firmes e elásticas; opérculo rígido e com vasos sanguíneos cheios e firmes na face interna; abdome tenso, peritônio bem aderido às paredes, vísceras bem diferenciadas e sem danos

Moluscos e crustáceos devem refletir os caracteres

próprios das espécies; lagosta e camarão apresentam

odor fresco, próprio e suave próximos a algas marinhas,

carne branca e tensa, olhos vivos e destacados, brilhan-

tes e fortemente corados, coloração própria sem qualquer

pigmentação, órgãos torácicos firmes e consistentes, ca-

rapaça brilhante e úmida e cauda encurvada.

Moluscos bivalves, ostras e mexilhões, apresentam

odor agradável, pronunciado, fresco, carne úmida, bem

aderente à concha, de aspecto esponjoso, cor cinza cla-

ro nas ostras e amarelada nos mexilhões, valvas fecha-

das e concha com água de retenção límpida e incolor;

polvo e lula apresentam odor próprio, carne consisten-

te e elástica, olhos vivos, salientes nas órbitas, pele lisa

e úmida e com ausência de qualquer pigmentação es-

tranha à espécie.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento. Portaria nº 185 de 1997. Regulamento técnico de identidade e qualidade do peixe fresco (intei-ro e eviscerado). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Execu-tivo, Brasília, 15 Mar. 1997, Seção 1, n. 158, p.102-108.

BRASIL. Ministério da Pesca e Aquicultura. Boletim Estatístico da Pesca. Brasília, 2011.

DIAS, L.N.S. Fauna microparasitária de Brachyplatystoma rousseaux e Mugil cure-ma desembarcados na Amazônia Oriental. 141f. 2013. Tese (Doutorado em Ci-ência Animal) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal, Universidade Federal do Pará, Belém, 2013.

FARIAS, M.C.A.; FREITAS, J.A. Qualidade microbiológica de pescado beneficiado em indústrias paraenses. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 67, n. 2, p. 113-117, 2008.

______. Avaliação sensorial e físico-química de pescado processado. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 70, n. 2, p. 175-9, 2011.

FREITAS, J.A. Introdução à higiene e conservação das matérias-primas de ori-gem animal. Rio de Janeiro: Atheneu, 2015. 440p.

LIMA, C.L.S. Avaliação dos perigos microbiológicos em uma indústria de be-neficiamento de pescado e sugestão de um sistema de gestão da qualidade. 126f. Belém, 2012. Tese (Doutorado em Ciência Animal) – Programa de Pós-Gra-duação em Ciência Animal, Universidade Federal do Pará, Belém, 2012.

MATIAS, F. Aquicultura na América Latina e Caribe: situação atual, tendências e perspectivas. Rede de Acuicultura de lãs Américas, FAO: 2014.

ORDÓÑEZ, J. A. et al. Características gerais do pescado. In: ______. Tecnologia de alimentos. Porto Alegre: Artmed, 2005.

RODRIGUES, M. V, et al. Prevalence of nematodes of hygiene-sanitary importan-ce in fish from Colares Island and Vigia, Pará, Brazil. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 22, n. 2, p. 124-128, abr./jun. 2015.

SILVEIRA, N.F.A. et al. Bactérias produtoras de histamina e potencial para sua for-mação em peixes de origem fluvial e lacustre. Brazilian Journal of Food Tech-nology, Campinas, v. 4, p. 19-25, 2001.

VARNAM, A. H.; EVANS, M. G. Control of pathogenic micro-organisms in fish and shellfish. In:______. Foodborne pathogens. An illustrated text. Saint Louis: Mos-by Year Book, 1991.

VIEIRA, R. H. S. F. Microbiologia, higiene e qualidade do pescado. São Paulo: Varela, 2004.

AUTOR

JOSÉ DE ARIMATÉA FREITASMédico VeterinárioCRMV–PA nº 0104DSc, MSc e docente aposentado, Universidade Federal Rural da Amazônia- UFRA, Belém, Pará[email protected]

Características do peixe próprio para o consumo:

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Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul, mas, diante da enorme demanda, que cresce a cada dia, existem os laboratórios credenciados para apoiar o diagnóstico oficial das enfermidades. O conjunto de Lanagros e credenciados é chamado de Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários (RNLA).

Para exemplificar, de 2005 a 2011 houve aumento de 261% na demanda por ensaios laboratoriais. Apro-ximadamente 80% dos laboratórios são credenciados, ou seja, parceiros do Mapa, e apenas 3% do diagnós-tico de enfermidades animais é realizado nos labora-tórios oficiais. Diante desses números, fica evidente a importância da RNLA. Os laboratórios são importantes parceiros dos órgãos de defesa e vigilância sanitária e imprescindíveis aos programas nacionais de controle e erradicação de enfermidades.

Independentemente se o laboratório é oficial, cre-denciado, público ou privado, os resultados emitidos

O maior desafio dos laboratórios de diagnósti-co é a padronização dos resultados. O diag-nóstico laboratorial de enfermidades que

acometem animais é dividido entre órgãos públicos e laboratórios privados, com interesses, realidades e in-fraestruturas distintas. No Brasil, o Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) possui seis laboratórios, os Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros), distribuídos nos estados Pará, Pernambuco,

BIOTECNOLOGIA

A IMPORTÂNCIA DA CERTIFICAÇÃO DE LABORATÓRIOS DE DIAGNÓSTICOO diagnóstico laboratorial de enfermidades que acometem animais é dividido entre órgãos públicos e laboratórios privados credenciados, com interesses, realidades e infraestruturas distintas

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devem ser padronizados, precisam ter o mesmo valor. Sabe-se que isso é difícil, principalmente com doen-ças cujo diagnóstico é complexo e demandam técni-cas laboriosas. Doenças como febre aftosa obtiveram altos investimentos financeiros e empenho científico ao longo dos anos, por isso, atualmente, metodologias cada vez mais assertivas e rápidas estão disponíveis. O mesmo não acontece com doenças como o mormo, que foram dadas como controladas, ou até mesmo er-radicadas, e que o desenvolvimento de técnicas não acompanhou a evolução da doença.

Ainda temos que conviver com a diferença entre as doenças, pois alguns microrganismos exigem a apli-cação de técnicas extremamente complexas para o seu diagnóstico e outras, como a brucelose, possuem um programa de controle e erradicação oficial, que preco-niza o emprego de técnicas simples, bem definidas e de baixo custo. Resultado disso são as conquistas do país na erradicação desta doença.

Mesmo a técnica mais simples exige padronização, sendo que, no Brasil, o Instituto Nacional de Metrolo-gia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) detém a exper-tise para avaliar e exigir o cumprimento das normas, possuindo responsabilidade e autoridade sobre todos os aspectos referentes à acreditação. Mais precisa-mente, a Coordenação-Geral de Acreditação do Inme-

tro (CGCRE) é o organismo de acreditação reconhecido pelo Governo Brasileiro.

A norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2005 disciplina todos os aspectos administrativos e técnicos aplicados aos laboratórios de ensaio. O objetivo é garantir a qua-lidade do resultado final emitido, mesmo com as va-riáveis que influenciam o diagnóstico de uma doença.

O Mapa estabelece legislação específica para as principais enfermidades que acometem os animais e que destacam as metodologias validadas para uso nos laboratórios. Organizações internacionais, como a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), também buscam padronizar e compartilhar as técnicas utiliza-das nos laboratórios. Para algumas doenças, devido à escassez de estudos, não há consenso sobre padrão de referência a utilizar, o que é desfavorável para obten-ção de resultado assertivo. Nesses casos, há necessida-de de validação dos testes diagnósticos.

Em 2010, foi firmado o Acordo de Cooperação Téc-nica Mapa/Inmetro, buscando acelerar o processo de padronização dos ensaios na RNLA. Porém, até para o

T Técnica acompanhando sequenciamento genético.

T Envase de antígenos para diagnóstico de brucelose.

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AUTORA

CLÁUDIA PESTANA RIBEIROMédica VeterináriaCRMV-SP nº 14.361Lab. Viroses de Bovídeos, Instituto Bioló[email protected]

Inmetro, o volume de laboratórios veterinários é muito grande, havendo a necessidade de agregar esforços e profissionais especialistas para auxiliar no processo de acreditação. As auditorias são conduzidas por um avalia-dor líder e um ou mais especialistas que possuem ampla experiência laboratorial, especificamente nas técnicas dos ensaios que estão sendo auditados. Dessa forma, alia-se o conhecimento das normas e técnicas, buscando o sinergismo e validando o processo de acreditação.

O laboratório acreditado deve cumprir todas as exigências do Mapa, além dos requisitos da ISO/IEC 17025:2005. Com as evidências da competência técni-ca, alcança novos mercados, com aumento da confian-ça de seus clientes, e, dessa forma, consegue, inclusive, reconhecimento internacional de suas atividades.

Mesmo doenças tidas como fáceis de diagnosti-car exigem estrutura e treinamento mínimos para se-rem detectadas. Boas práticas devem ser aplicadas na condução dos testes, um exemplo é a pipetagem. Não adianta ter uma micropipeta calibrada e o executor não saber utilizá-la, pois até o ângulo de empunhadu-ra interfere na quantidade de líquido aspirado, o que pode gerar erro na interpretação do resultado do teste. Até mesmo a temperatura ambiente interfere na rea-lização de um teste, ou seja, um exame realizado no extremo norte do país precisa ter a mesma validade de um realizado no extremo sul.

Infraestrutura adequada, funcionários treinados, equipamentos calibrados e atendimento às normas au-xiliam na obtenção de resultados confiáveis. Auxiliam, não garantem. Até mesmo testes interlaboratoriais são realizados, cujas amostras cegas, sem identificação dos resultados, são avaliadas por diferentes laborató-rios para que os resultados possam ser confrontados.

No Brasil, dentre as doenças que possuem um programa de controle citam-se o mormo e anemia infecciosa equina (AIE), que acometem cavalos, ju-mentos e muares e fazem parte do Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE), estabelecido pelo Mapa, e possuem instruções normativas específicas, estabelecendo todos os critérios para realização do diagnóstico. Os equídeos que serão transportados de um município a outro ou para outros estados, que irão participar de algum tipo de aglomeração, feiras, expo-sições, vaquejadas e competições de outras naturezas, necessariamente, precisam portar uma Guia de Trân-sito Animal (GTA). Para obter essa guia, devem possuir exame de AIE e mormo negativos.

Atualmente existem cerca de 160 laboratórios cre-denciados para o diagnóstico de AIE e 26 para mor-mo (Tabela). Ao final do processo, apenas laboratórios acreditados ou oficiais poderão realizar o diagnóstico oficial dessas enfermidades, devendo passar por todas as etapas contempladas na auditoria do Inmetro. Esse cenário será ampliado para todas as enfermidades, atendendo, inicialmente, as que possuem programa sanitário oficial.

PONTOS CRÍTICOS QUE LEVAM AO MAIOR NÚMERO DE ERROS DURANTE O PROCESSO:

Conservação de padrões e reagentes.

Calibração dos equipamentos críticos para o processo.

Controle de condiçõesambientais.

Pipetagem.

Limpeza davidraria.

Qualidade da água.

Contaminaçãocruzada.

Identificação, acondicionamentoe manuseio da amostra.

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EM DIA COM A FISCALIZAÇÃO

A legislação está em constante atualização e existem particularidades entre estados.Para mais detalhes, consulte o CRMV de sua jurisdição.

O profissional médico veterinário pode fazer

atendimentos aos animais de população carente sem

cobrar honorários?

Que legislação suporta a proibição?

Há casos em que ele pode fazer o atendimento

gratuito?

A quem cabe fiscalizar a legalidade dos

atendimentos gratuitos?

Existe preocupação com a qualidade do

atendimento?

É possível o atendimento gratuito aos animais de pessoas carentes, desde que aconteça de forma eventual e obedecendo aos preceitos da legalidade. Há necessidade do cumprimento das normas vigentes para proteger a socie-dade e os animais de um eventual exercício profissional inadequado.

O Código de Ética Profissional (Resolução nº 722/02) do Médico Veterinário diz, em seus artigos 21 e 22, que não é permitida a prestação gratuita e divul-gação de serviços, exceto em casos de pesquisa, ensino ou utilidade pública. Também é proibida a prestação de serviço gratuita com caráter de publicida-de, autopromoção, de forma permanente e na busca de captação ilegal de clientela ou para fins eleitoreiros.

O Sistema CFMV/CRMVs não proíbe o atendimento gratuito, desde que atenda certas premissas. Na maioria dos casos, o profissional pode fazê-lo após esta-belecer convênio com entidades públicas ou privadas. O atendimento pode acontecer em seu estabelecimento ou, como voluntario, em outro local. Casos excepcionais, podem ser atendidos considerando aqueles que não têm condi-ções de arcar com as despesas. O profissional está proibido de usar a assistên-cia profissional de forma gratuita como publicidade, o que pode gerar falsas expectativas aos carentes e concorrência desleal com os colegas profissionais.

É dever dos Conselhos Regionais a fiscalização do exercício da Medicina Veterinária, o que é feito por profissionais qualificados, com o objetivo de orientar sobre as normas vigentes e averiguar irregularidades. Desse modo, as ações de orientação e fiscalização realizadas pelos conselhos profissionais não podem ser vistas como perseguições.

A legislação estabelece que a normatização não é mero formalismo, mas sim uma garantia de que esses serviços sejam oferecidos com qualidade, dentro dos parâmetros éticos da profissão, com as técnicas e procedimentos em-pregados de forma adequada. É preciso esclarecer se todo o atendimento será gratuito ou somente parte dos procedimentos, se o paciente será acom-panhado até a alta clínica, como serão feitos os registros em prontuários e receituários, além de outras questões.

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Suplementocientífico

60 Helmintos Gastrointestinais em Cães do

município de Viçosa, Alagoas

65 Ressecção de carcinoma de

córnea em equino

70 Epizootia de tuberculose em mamíferos

silvestres mantidos em zoológico

76 Influência da substituição do milho por

milheto no desempenho de ovinos jovens

AS NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ESTÃO EM WWW.CFMV.GOV.BR E A TRAMITAÇÃO É EXCLUSIVAMENTE ELETRÔNICA.

Revista CFMV Brasília DF

Ano XXInº 68

Janeiro a Março

O Comitê Científico é formado por presidente das comissões assessoras do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk (CNEMV)

Benedito Dias de Oliveira Filho (CNRMV)

Carla Forte Maiolino Molento (CEBEA)

Carlos Alberto Muller (CNEE)

Carlos Eduardo do Prado Saad (CNAS)

José Pedro Soares Martins (CNAF)

Júlio Otávio Jardim Barcellos (CONAP)

Maria Izabel Merino de Medeiros (CNMA)

Sthenia dos Santos Albano Amora (CNSPV)

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HELMINTOS GASTROINTESTINAIS EM CÃES DO MUNICÍPIO DE VIÇOSA, ALAGOASGASTROINTESTINAL HELMINTHS IN DOGS OFVIÇOSA, ALAGOAS, BRAZIL

Foram analisadas fezes coletadas de 210 cães de ambos os sexos e de diferentes raças e idades, domicilia-dos e semidomiciliados nas seis regiões da cidade de Viçosa, Alagoas, em média 35 cães por região, a fim de determinar a prevalência de parasitas intestinais. A técnica de flutuação de Willis Mollay foi utilizada no processamento das amostras, que apresentaram positividade para um ou mais helmintos, cerca de 43,81% (92/210) das amostras analisadas. O helminto mais frequentemente foi o Ancylostoma spp., correspondendo a 88,04% (81/92), seguido pelo Toxocara canis, correspondendo a 16,30% (15/92).

Palavras-chave: Helmintos. Diagnóstico parasitológico. Cão. Prevalência.

Fecal samples from 210 dogs of both sexes and of different races and ages, and domiciled semidomiciliados six areas in Viçosa-AL were conducted and followed an average of 35 dogs analyzed by region to determine the prevalence of parasites intestinal in each. Was used for the sample processing, the flotation technique Willis Mollay, showing positivity for one or more helminth, about 43.81% (92/210) of samples. The helminths most frequently encountered was Ancylostoma spp., corresponding to 88.04% (81/92). The second most frequent helminth was Toxocara canis, corresponding to 16.30% (15/92).

Keywords: Helminths. Parasitological diagnosis. Dog. Prevalence.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Revista CFMV Brasília DF Ano XXI nº 68 Janeiro a Março 201660

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

A convivência entre humanos e animais vem sen-do intensificada e, em especial, o cão presente nas residências vem sendo utilizado para companhia e guarda. Os cães estão associados a mais de 60 zoono-ses, particularmente aquelas causadas por helmintos, que podem determinar problemas de saúde pública em todo o mundo (RINALDIL et al., 2006). Os animais infectados, ao defecarem, contaminam o solo com vá-rios tipos e formas parasitárias, que podem persistir no ambiente (solo, jardins, pelo do animal etc.) por longos períodos, à espera de um novo hospedeiro (GUIMARÃES et al., 2005).

Apesar de não causarem, com frequência, óbitos em humanos, determinam alergias, diarreias, anemias, custos com diagnóstico e tratamentos e redução da produtividade (VASCONCELLOS et al., 2006). Na po-pulação humana, as crianças, as mulheres grávidas e as pessoas imunocomprometidas são consideradas de maior risco para as zoonoses (ROBERTSON et al., 2000).

Considerando a seriedade e importância das en-doparasitoses caninas, percebe-se a necessidade de obtenção de dados e análises para conhecimento e controle. O presente trabalho tem por objetivo estu-dar a ocorrência dos parasitas intestinais em fezes caninas coletadas na zona domiciliar do município de Viçosa, Alagoas.

MATERIAL E MÉTODOS

Durante abril e maio de 2012, foram realizadas co-letas de fezes de 210 cães, de ambos os sexos, de di-ferentes raças e idades, domiciliados e semidomicilia-dos nas seis regiões na cidade de Viçosa (9º22’17”S e 35º14’27”W), Alagoas. Em média, foram analisados 35

cães por região a fim de determinar a prevalência de parasitas intestinais em cada uma delas. As amostras foram coletas diretamente da ampola retal do animal, utilizando luvas e saco plástico adequado (Figuras 1 e 2). Foram identificadas, armazenadas, em caixa iso-térmica com gelo reciclável, mantendo-as frescas até o momento da análise.

Foram observadas em microscópio ótico, com a objetiva de 10x, no laboratório de Parasitologia da Universidade Federal de Alagoas, Unidade Viçosa. To-das as amostras foram examinadas no mesmo dia, por meio da técnica de flutuação de Willis Mollay (Willis, 1921), em solução saturada de açúcar de densidade 1,2, e em seguida realizada a leitura de uma lâmina por amostra.

Na análise estatística foi utilizado o teste qui-qua-drado para verificar a associação entre as endoparasi-toses e as regiões avaliadas. Em todos os casos, ado-tou-se o nível de p<0,05 para a exclusão da hipótese.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 210 amostras de fezes analisadas, 43,81% (92/210) apresentaram positividade para um ou mais helmintos, sendo 86,96% (80/92) com infecções sim-ples e 13,04% (12/92) múltiplas.

O helminto mais encontrado foi o Ancylostoma spp., correspondendo a 88,04% (81/92), seguido por Toxocara canis, correspondendo a 16,30% (15/92). Outros helmintos foram Toxascaris leonina, com 4,35% (4/92); Dipylidium caninum, com 4,35% (4/92); Trichu-ris vulpis, com 2,17% (2/92); e larvas de Strongyloides stercoralis com 1,09% (1/92). Os resultados totais es-tão distribuídos, por região avaliada, na tabela 1.

Tabela 1. Resultado da análise parasitológica de amostra de fezes de cães coletadas nas seis regiões da cidade de Viçosa, Alagoas.

Obs.: X2 encontrado = 0,038; X2 crítico = 11,070.

Centro Cohab Mutirão Sabalangá Frei DamiãoDist.

IndustrialTOTAL

Amostra N % N % N % N % N % N % N %

Positiva 9 25,71 11 31,43 15 42,86 18 51,43 20 57,14 19 54,29 92 43,81

Negativa 26 74,29 24 68,57 20 57,14 17 48,57 15 42,86 16 45,71 118 56,19

TOTAL 35 100 35 100 35 100 35 100 35 100 35 100 210 100

Total

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

A análise estatística evidenciou associação entre os resultados parasitológicos e as regiões avaliadas, indicando que as proporções de animais infectados são diferentes (p<0,05).

As parasitoses foram mais frequentes nos bairros Sabalangá, Distrito Industrial e Frei Damião, todos apre-sentando incidência parasitária acima de 50% (Tabela 1).

Resultados para prevalência de parasitas intesti-nais foram semelhantes em diversos lugares do Brasil, tais como Rio Grande-RS (KEPPS et al., 2006), Capão do Leão-RS (DIAS et al., 2005), Rio de Janeiro-RJ (VASCON-CELLOS et al., 2006), Goiânia-GO (ALVES et al., 2005) e Recife-PE (ROLIM et al., 2006). Dentre os endoparasitas mais encontrados estão o Ancylostoma sp., Toxocara sp., Trichuris sp., Dipylidium sp. (XAVIER, 2006).

Com isso, a frequência dos elementos encontra-dos nas amostras variou também conforme a região onde foram coletadas (Tabela 2).

Nas amostras analisadas, provenientes da região do Centro, 25,71% (9/35) apresentaram positividade para algum tipo de ovo, entre estes 88,89% (8/9) para infecções simples e 11,11% (1/9) para infecções múl-tiplas. Destas, 77,78% (7/9) estavam infectadas por

ovos de Ancylostoma spp., 11,11% (1/9) com ovos de Toxocara canis, 11,11% (1/9) com ovos de Toxascaris leonina e 11,11% (1/9) com ovos de Trichuris vulpis.

Nas amostras da região da Cohab, 31,43% (11/35) apresentaram positividade para algum tipo de ovo, sendo 90,91% (10/11) para infecções sim-ples e 9,09% (1/11) para infecções múltiplas. Destas, 90,91% (10/11) estavam infectadas com ovos de An-cylostoma spp., 9,09% (1/11) com ovos de Toxocara canis e 9,09% (1/11) com ovos de Toxascaris leonina.

Nas amostras da região do Mutirão, 42,86% (15/35) apresentaram positividade para algum tipo de ovo, sendo que 80% (12/15) por infecção sim-ples e 20% (3/15) por infecção múltipla. Destas, 80% (12/15) estavam infectadas com ovos de Ancylosto-ma spp., 26,67% (4/15) com ovos de Toxocara canis, 6,67% (1/15) com ovos de Dipylidium caninum. Nessa região obteve-se a presença de 6,67% (1/15) de con-taminação por larva de Strongyloides stercoralis.

Nas amostras da região do Sabalangá, 51,43% (18/35) apresentaram positividade para algum tipo de ovo. E só foram observadas infecções do tipo simples, ou seja, 100% (18/18). Destas, 88,89% (16/18) apresentaram infecção com ovos de Ancy-lostoma spp., e 11,11% (2/18) infecção com ovos de Dipylidium caninum.

Nas amostras da região do Frei Damião, 57,14% (20/35) apresentaram positividade para algum tipo de ovo, sendo 90% (18/20) infecções simples e 10% (2/20) infecções múltiplas. Destas, 95% (19/20) apre-sentaram infecção com ovos de Ancylostoma spp., 15% (3/20) com ovos de Toxocara canis e 5% (1/20) com ovos de Trichuris vulpis.

Nas amostras da região do Distrito Industrial, 54,29% (19/35) apresentaram positividade para al-gum tipo de ovo, sendo que 73,68% (14/19) com in-fecções simples e 26,32% (5/19) com infecções múl-tiplas. Destas, 89,47% (17/19) apresentaram infecção com ovos de Ancylostoma spp., 31,58% (6/19) com ovos de Toxocara canis, 10,53% (2/19) com ovos de Toxascaris leonina e 5,26% (1/19) com ovos de Dipyli-dium caninum.

T Figura 1. Coleta de fezes diretamente da ampola retal dos cães.

Foto

s dos

aut

ores

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

O teste qui-quadrado aplicado mostra ausência de associação entre as espécies de parasitas encontradas e as regiões avaliadas.

O parasita de maior prevalência foi o Ancylostoma spp., assim como observaram outros autores em outras

Tabela 2. Frequência da contaminação por parasitas em amostras de fezes de cães, coletadas nas seis regiões da cidade de Viçosa, Alagoas.

Obs.: X2 encontrado = 0,373; X2 crítico = 37,652.

Centro Cohab Mutirão Sabalangá Frei DamiãoDist.

IndustrialTOTAL

Parasitas N % N % N % N % N % N % N %

Ancylostoma spp. 7 77,78 10 90,91 12 80 16 88,89 19 95 17 89,47 81 88,04

Toxocara canis 1 11,11 1 9,09 4 26,67 0 0,0 3 15 6 31,58 15 16,30

Toxascaris leonina

1 11,11 1 9,09 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 10,53 4 4,35

Trichuris vulpis 1 11,11 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 5 0 0,0 2 2,17

Dipylidium caninum

0 0,0 0 0,0 1 6,67 2 11,11 0 0,0 1 5,26 4 4,35

Strongyloides stercoralis

0 0,0 0 0,0 1 6,67 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 1,09

Total

T Armazenamento das amostras de fezes em saco plástico.

T Ovos de Dipylidium caninum encontrado nas amostras.

T Ovos de Toxocara canis encontrados nas amostras.

regiões: Ginar et al. (2006), com índice de 34,16%; Capuano e Rocha (2006), com 41,7%; Araujo et al. (1999) verificaram em 56,8%; Castro et al. (2005) ob-tiveram alta prevalência e verificaram cerca de 45,9% em seus testes; e Blazius et al. (2005) e Scaini et al.

A B C

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JULIANA CARLA CAVALCANTI MARQUESGraduanda Medicina Veterinária - Universidade Federal de [email protected]

ANA CLÉCIA SILVA SANTOSGraduanda Medicina Veterinária - Universidade Federal de Alagoas

MARIANA DE FÁTIMA FARIAS FERROGraduanda Medicina Veterinária - Universidade Federal de Alagoas

EDSON MOURA DA SILVACRMV-PE nº. 4195Mestrando - Universidade Federal Rural de Pernambuco

ANNE KELLY LIMA ZAGOGraduanda Medicina Veterinária - Universidade Federal de Alagoas

SIMONE SINARA DE SOUZA PERREIRAGraduanda Medicina Veterinária - Universidade Federal de Alagoas

JOSÉ MÁRCIO DA SILVA LIMAGraduando Medicina Veterinária - Universidade Federal de Alagoas

WAGNNER JOSÉ NASCIMENTO PORTOMédico VeterinárioCRMV-AL no. 301MSc, DSc, docente Universidade Federal de Alagoas

AUTORES

ALVES, O.F.; GOMES, A.G.; SILVA, A.C. Ocorrência de enteroparasitos em cães do município de Goiânia, Goiás: comparação de técnicas de diagnóstico. Ciência Animal Brasileira, v. 6, n. 2, p. 127-133, 2005.

ARAÚJO, F.R. et al. Contaminação de praças públicas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, por ovos de Toxocara e Ancylostoma em fezes de cães. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 32, n. 5, p. 581-583, 1999.

BLAZIUS, R.D. et al. Ocorrência de protozoários e helmintos em amostras de fezes de cães errantes da cidade de Itapema, Santa Catarina. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 38, p. 73-74, 2005.

CAPUANO, D.M.; ROCHA, G.M. Ocorrência de parasitas com potencial zoonótico em fezes de cães coletadas em áreas públicas do município de Ribeirão Preto, SP, Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 9, n. 1, p. 81-86, 2006.

CASTRO, J.M.; SANTOS, S.V.; MONTEIRO, N.A. Contaminação de canteiros da orla marítima do município de Praia Grande, São Paulo, por ovos de Ancylostoma e Toxocara em fezes de cães. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 38, n. 2, p. 199-201, 2005.

DIAS, D.G. et al. Prevalência e parasitoses intestinais em cães domiciliados da localidade

do Saguão, município do Capão do Leão-RS. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA, 19., 2005, Porto Alegre. Anais... Goiânia: Revista de Patologia Tropical, 2005. v. 34.

FRANCISCO, M.M.S. et al. Prevalência de ovos e larvas de Ancylostoma spp. e de Toxocara spp. em praças públicas da cidade de Anápolis-GO. Ensaios e Ciências: Ciências Biologicas, Agrárias e da Saúde, v. XII, n. 1, 2008.

GINAR, R.M.B. et al. Índice de contaminação do solo por ovos dos principais nematoides de caninos nas praças públicas da cidade de Uruguaiana-RS, Brasil. Revista FZVA, v. 13, n. 1, p. 103-111, 2006.

GUIMARÃES, A.M. et al. Ovos de Toxocara sp. e larvas de Ancylostoma sp. em praça pública de Lavras, MG. Revista de Saúde Pública, v. 39, n. 2, p. 293-295, 2005.

KEPPS, M.S.S.F. et al. Infecção por parasitas, com potencial zoonótico, em cães semidomiciliados e domiciliados. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA, 19., 2006, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Revista de Patologia Tropical, 2006. v. 34.

RINALDI, L. et al. Canine faecal contamination and parasitic risk in the city of Naples (southern Italy). BMC Veterinary Research, v. 2, p. 29-34, 2006.

ROBERTSON, L.D. et al. The role of companion animals in the emergence of parasitic zoonoses. International Journal  for Parasitology, v. 30, p. 1369-1377, 2000.

ROLIM, M.B.Q. et al. Enteroparasitos de animais de estimação em uma comunidade da região metropolitana do Recife-PE. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PARASITOLOGIA, 19., 2006, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Revista de Patologia Tropical, 2006. v. 34.

SCAINI, C.J. et al. Contaminação ambiental por ovos e larvas de helmintos em fezes de cães na área central de Balneário Cassino, Rio Grande do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 5, p. 617-619, 2003.

VASCONCELLOS, M.C.; BARROS, J.S.L.; OLIVEIRA, C.S. Parasitas gastrointestinais em cães institucionalizados no Rio de Janeiro, RJ. Revista Saúde Pública, v. 40, n. 2, 2006.

WILLIS, H.H. A simple levitation method for the detection of hookworm ova. Medical Journal Australia, v. 8, p. 375-378, 1921.

XAVIER, G. A.; Prevalência de endoparasitos em cães de companhia em Pelotas-RS e risco zoonótico. 73p. 2006. Monografia (Curso de Ciências Biológicas) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2006.

REFERÊNCIAS

(2003) observaram os maiores níveis do parasita, ob-tendo 71,3% e 70,9% das amostras positivas (FRAN-CISCO et al., 2008). Evidencie-se que o Ancylostoma spp. pode causar sérios danos tanto a saúde dos ani-mais como na dos seres humanos.

CONCLUSÃO

Os resultados encontrados demonstram a pre-sença significativa de endoparasitas entre os cães analisados, com maior prevalência de Ancylostoma spp., seguido de Toxocara canis, ambos apresentando maior incidência em bairros da periferia da cidade. Os animais da área urbana do município estão infectados por parasitas com potencial zoonótico, com possibili-dades de contaminação do ambiente, submetendo a população a riscos.

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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RESSECÇÃO DE CARCINOMA DE CÓRNEA EM EQUINO CORNEAL CARCINOMA RESECTION IN EQUINE

Foi realizada a remoção de um carcinoma de células escamosas localizado na córnea de uma égua com nove anos de idade, no quinto mês de gestação. A opção terapêutica foi realização da enucleação com o animal em posição quadrupedal. O protocolo anestésico constou de sedação com detomidina e infusão contínua de cetamina, ambos por via endovenosa, além da anestesia local com lidocaína e bloqueio retrobulbar. Após a enucleação, foram prescritas quatro aplicações de penicilinas e estreptomicina e megluminato de flunixina. Diariamente foi efetuada a limpeza da ferida cirúrgica com iodo povidona tópico e aplicação de sulfadiazina de prata, alumínio e cipermetrina ao redor da ferida. Vinte e sete dias após o internamento o animal recebeu alta hospitalar e a gestação seguiu a termo.

Palavras-chave: Tumor de células escamosas. Enucleação. Cavalos.

It is presented to the removal of a squamous cell carcinoma located on the cornea of a mare, nine years old, in the fifth month of pregnancy. The therapeutic option was enucleation of eyeball with the animal in quadrupedal position. The anesthetic protocol included sedation with detomidine intravenous and continuous infusion of ketamine, in addition to local anesthesia with lidocaine and retrobulbar anesthesia. After enucleation were prescribed four applications of penicillin, streptomycin and flunixin meglumine. The wound was treated daily with topical povidone iodine application and silver sulfadiazine, aluminum and cypermethrin around it. Twenty-seven days after admission the animal returned to the property with no problems in the pregnancy.

Keywords: Squamous cell tumor. Enucleation. Horses.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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INTRODUÇÃO A enucleação é realizada com frequência e está in-

dicada quando o paciente apresenta cegueira, dor ocu-lar com infecção corneal ou intraocular grave, neopla-sia intraocular e globos traumatizados não passíveis de tratamento cirúrgico (PIERCE JR.; TOWNSEND, 2012).

A anestesia para enucleação deve ser precedida de tranquilização, e a realização do procedimento com o animal em posição quadrupedal evita as complicações de uma anestesia geral. Está indicada em pacientes ge-riátricos, em portadores de problemas locomotores e animais muito pesados (TOWSEND, 2013), porém não é indicada nos pacientes indóceis e com enfermidades que impedem a analgesia local (BOHANON, 2005). A contenção química ideal para procedimentos ocula-res deve manter o animal calmo, indiferente ao estí-mulo ambiental e à manipulação física. O equino deve permanecer em estação, sendo aceitável leve grau de ataxia (RINGER, 2012). O protocolo de sedação deve ser escolhido de acordo com o estado de saúde e tem-peramento do cavalo, tipo e duração do procedimento previsto, além da disponibilidade de medicamentos e experiência pessoal. Dentre os fármacos utilizados estão propofol, remifentanil, dexmedetomidina, xila-zina, acepromazina, butorfanol, detomidina, morfina, cetamina ou a associação destes (HOSPTER; KASTNER, 2013; TOWNSEND, 2013).

Os sarcoides são os tumores mais prevalentes em equinos, ocorrendo em 42% dos animais, seguidos pelo carcinoma de células escamosas (CCE) que repre-sentam 20% (VANDERSTRATEN, 2011). O CCE é um tu-mor epitelial maligno, também denominado carcinoma de células espinhosas, espinocelular ou epidermoide (VANDERSTRATEN, 2011), e possui comportamento in-vasivo e potencialmente metastático (PIGATTO, 2011). Essa neoplasia ocorre primariamente nas junções mu-cocutâneas e em diferentes regiões anatômicas. Na região ocular, ocorrem na terceira pálpebra ou canto medial do olho, na região de limbo e pálpebra inferior, córnea e conjuntiva (DUGAN, 1992).

O tratamento envolve a necessidade de terapia

adjuvante aos efeitos adversos e às frequentes reci-

divas (GILGER, 2011a). As modalidades são a excisão

cirúrgica, crioterapia, hipertermia por radiofrequên-

cia, radioterapia, quimioterapia tópica intralesional

com cisplatina e ablação com laser de dióxido de

carbono. A escolha depende da localização do tu-

mor, tamanho, extensão da invasão, grau de acuida-

de visual presente, valor do animal, disponibilidade

de equipamentos e às restrições financeiras do pro-

prietário (HENDRIX, 2005).

DESCRIÇÃO DO CASO

Uma égua com nove anos de idade, sem raça

definida (SRD) e de pelagem castanha, gestante de

cinco meses e pesando 415 kg, foi encaminhada ao

Hospital Veterinário da Universidade Estadual do

Norte do Paraná, no dia 8 de julho de 2013, portan-

do extensa neoformação tecidual na região do olho

esquerdo (Figura 1).

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

T Figura 1. Neoformação tecidual na região de olho esquerdo de égua adulta atendida no Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Norte do Paraná, em julho de 2013.

Foto

s dos

aut

ores

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Segundo a anamnese, a neoformação teve início no canto medial do olho esquerdo, com crescimento lento e há aproximadamente um ano. Foi administrada antibioticoterapia intramuscular (penicilinas e estrep-tomicina) e, topicamente, spray contendo oxitetracicli-na e hidrocortisona, sem sucesso. Na propriedade de origem, o animal permanecia em piquete de capim e coabitava com outros equinos.

Ao exame físico, os parâmetros encontravam-se dentro dos padrões de normalidade para a espécie, o estado nutricional classificado como magro e o com-portamento alerta. Ao exame oftalmológico do olho esquerdo, observou-se epífora, hiperemia conjunti-val, presença de secreção purulenta e neoformação tecidual de aspecto irregular, esfoliativa, não hemor-rágica, lobulada, com sete centímetros de diâmetro e aderida ao globo ocular. O hemograma evidenciou presença de neutrofilia e aumento da proteína plas-mática total.

Foi indicada a exérese da massa e, previamente ao procedimento, foi realizada a limpeza da região com solução fisiológica, a cada 8 horas e instilação dos colírios diclofenaco sódico e tobramicina, ambos duas gotas a cada duas horas. A enucleação foi reali-zada com o animal em posição quadrupedal devido ao comportamento dócil e por estar gestante. A égua foi previamente sedada com cloridrato de detomidina (12 mcg/kg) por via endovenosa, seguida de infusão contí-nua de cloridrato de cetamina (30mcg/kg/min), diluída em solução fisiológica. Também foi realizada anestesia local infiltrativa nas pálpebras superior e inferior com cloridrato de lidocaína e bloqueio retrobulbar.

Após a enucleação foram prescritas quatro apli-cações de penicilinas e estreptomicina (30.000 UI/Kg/IM), a cada 48 horas e megluminato de flunixina (1,1mg/Kg/IM), a cada 24 horas, durante quatro dias. Diariamente foi efetuada a limpeza da ferida cirúr-gica com iodo povidona tópico e aplicação de sulfa-diazina de prata, alumínio e cipermetrina ao redor da ferida (Figura 2).

T Figura 2. Aspecto da ferida cirúrgica após remoção da massa neoplásica.

Uma semana após a cirurgia, notou-se a presença de secreção purulenta pela linha de sutura e iniciou-se a limpeza da cavidade ocular com iodo povidona tó-pico diluído em solução fisiológica, por meio de uma sonda uretral nº 8, por 10 dias. Foi administrado enro-floxacina (2,5 mg/Kg/ IM), uma vez ao dia, por 10 dias. Vinte e sete dias após o internamento, o animal rece-beu alta hospitalar e a gestação seguiu a termo.

Após remoção da massa, macroscopicamente foi observada neoformação medindo 48x46x45mm, com superfície ulcerada, irregular e bordas levemen-te arredondadas (Figura 3). Ao corte, exibiu consis-tência firme, aspecto irregular, papiliforme e colora-ção esbranquiçada.

T Figura 3. Aspecto macroscópico após a excisão cirúrgica da massa tecidual removida do globo ocular do equino.

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Microscopicamente o tumor atingiu toda a superfí-cie da mucosa externa (córnea e conjuntiva bulbar), além de infiltrar-se na câmara anterior. Havia transformação neoplásica papiliforme, pouco delimitada e não revestida por cápsula fibrosa. As células tumorais eram morfologi-camente semelhantes às células da camada espinhosa da epiderme e proliferavam-se de maneira compacta, irregular e desordenada, exibiam disqueratose multifo-cal e formação de pérolas córneas, anisocariose e atipia nuclear. O diagnóstico histopatológico foi de Carcinoma Espinocelular Papiliforme bem diferenciado (Figura 4).

T Figura 4. Aspectos microscópicos da lesão. Transformação neoplásica papiliforme, pouco delimitada e não revestida por cápsula fibrosa (A). Disqueratose multifocal e formação de pérolas córneas, anisocariose e atipia nuclear (B).

A

B

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

DISCUSSÃO

O tumor ocular localizado na córnea encontrava-se em local atípico, pois a terceira pálpebra, a região do limbo e pálpebra inferior são as estruturas mais aco-metidas pelo carcinoma espinocelular (DUGAN, 1992).

A enucleação com o equino em posição quadru-pedal é uma cirurgia segura, pois o risco de hemorra-

gia é mínimo durante o procedimento (HEWES et al., 2007). Some-se, no presente relato, que se tratava de animal dócil, fácil de ser manipulado e com gestação de cinco meses.

Para a realização da cirurgia, o animal foi sedado com cloridrato de detomidina e infusão contínua de cloridrato de cetamina, diluída em solução fisiológi-ca, e a taxa de sucesso foi semelhante à descrita em outros procedimentos realizados (HEWES et al., 2007; POLLOCK et al., 2008; TOWNSEN, 2013). Adicional-mente, baixas doses de cetamina em bolus também podem ser usadas. Outra possibilidade é a combina-ção de detomidina com butorfanol, pela profunda se-dação e analgesia que conferem quando combinadas. O uso dessa associação em infusão contínua é indica-do para a realização de procedimentos mais demora-dos e dolorosos, pois além de evitar novas aplicações, diminuem o risco de efeitos secundários indesejáveis (BOHANON, 2005).

Os bloqueios anestésicos locais melhoram o con-forto do animal, promovem a diminuição da dor e ini-bição da função motora, além de facilitar a contenção. Para isso, podem ser utilizados bloqueio retrobulbar e um bloqueio em anel por toda a circunferência da pálpebra superior e inferior e o bloqueio retrobulbar (BRADECAMP; MATTES, 2004).

As neoplasias da pele e anexos são comuns em animais sob clima tropical (SOUSA et al., 2011), e no animal do presente relato, embora tivesse pigmenta-ção escura da pele, a exposição aos raios ultravioleta pode ter sido um fator desencadeante do tumor. De acordo com Pigatto (2011), a exposição à luz ultravio-leta e ausência de pigmento periocular podem ser os principais fatores predisponentes. Adicionalmente, os relatos de maior incidência do tumor ocorrem, em média, aos 10 anos (HENDRIX, 2005), idade aproxima-da do animal acompanhado, que tinha nove anos de idade. Em 13 casos de tumor de células escamosas ocular em equinos, seis animais apresentavam idade entre seis e doze anos, cinco animais com mais de doze anos e dois não tiveram a idade informada (RA-MOS et al. 2007).

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T Figura 5. Pós operatório imediáto.

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

A extensão do tumor e o grau de acometimento impossibilitaram o tratamento conservador e, apesar da variedade de tratamentos disponíveis, a maioria das lesões é tratada apenas de forma cirúrgica, pois já se apresentam muito extensas e/ou ulceradas (HEN-DRIX, 2005).

CONCLUSÃO

A enucleação do globo ocular de um animal em estação quadrupedal é passível de ser executada, evi-tando as quedas durante a anestesia geral e os riscos ao feto em pacientes gestantes.

FLÁVIA NESI MARIAMédica VeterináriaCRMV-PR nº[email protected]

CAROLINE CELLA GERONMédica VeterináriaCRMV-PR nº. 11500

KÉZIA DE OLIVEIRA GERARDMédica VeterináriaCRMV-PR nº. 12647Discente Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp)

ADEMIR ZACARIAS JUNIORCRMV-PR nº. 4828MSc, DSc, docente - Uenp

THAÍS HELENA CONSTANTINO PATELLIMédica VeterináriaCRMV-PR nº. 9131Docente Uenp

FRANCISCO ARMANDO DE AZEVEDO SOUZAMédica VeterináriaCRMV-PR nº. 8798MSc, DSc, docente Uenp

AUTORES

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REFERÊNCIAS

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EPIZOOTIA DE TUBERCULOSE EM MAMÍFEROS SILVESTRES MANTIDOS EM ZOOLÓGICOTUBERCULOSIS OUTBREAK IN WILD MAMMALS KEPT IN ZOO

O presente artigo discorre sobre a ocorrência de epizootias de tuberculose em espécimes de mamíferos silvestres, nativos e exóticos, pertencentes ao plantel de zoológico localizado na região metropolitana de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul. A tuberculose, causada pelo Mycobacterium bovis é uma enfermidade infectocontagiosa de caráter zoonótico, com evolução crônica. Sua principal característica é o desenvolvimento progressivo de lesões nodulares, denominadas tubérculos, podendo localizar-se em qualquer órgão ou tecido. Micobactérias patogênicas acometem todas as classes de vertebrados, produzindo enfermidades em mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes. A forma de doença desenvolvida pela micobactéria patogênica varia conforme a espécie afetada, também dependendo da dose e via de exposição, da virulência da bactéria e da suscetibilidade das espécies. A ocorrência de infecção por M. bovis em cervídeos de vida livre e em cativeiro foi descrita em muitas ocasiões. A infecção, nessas espécies, causa preocupação pelo possível impacto sobre os programas de erradicação para o gado doméstico.

Palavras-chave: Tuberculose. Mycobacterium bovis. Mamíferos silvestres. Cervídeos.

This article discusses the occurrence of epizzootia tuberculosis in specimens of wild mammals, native and exotic, belonging to the squad of Zoo located in the metropolitan area of Porto Alegre, Rio Grande do Sul state. Tuberculosis caused by Mycobacterium bovis is an infectious disease of zoonotic with chronic disease. Its main feature is the progressive development of nodular lesions called tubercles, may be located in any organ or tissue. Pathogenic mycobacteria involve all classes of vertebrates, producing diseases in mammals, birds, amphibians, reptiles and fish. The form of the disease developed by pathogenic mycobacteria species affected varies also depending on the dose and route of exposure, the virulence of bacteria and susceptibility of the species. The occurrence of infection with M. bovis in free-living cervids in captivity and several species have been described on many occasions. The infection in these species causes concern for the possible impact on the eradication programs for domestic cattle.

Keywords: Tuberculosis. Mycobacterium bovis. Wild mammals. Deer.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURAA tuberculose causada pelo Mycobacterium bovis é

uma doença infectocontagiosa de caráter zoonótico e evolução crônica que acomete, principalmente, bovinos e bubalinos. Caracteriza-se pelo desenvolvimento pro-gressivo de lesões nodulares denominadas tubérculos, que podem se localizar em qualquer órgão ou tecido (BROLIO; LIMA FILHO, 1976). Reconhecem-se três tipos principais de bacilos tuberculosos: o humano, o bovino e o aviário; respectivamente, M. tuberculosis, M. bovis e o complexo da M. avium (M. avium-intracellulare-scrofu-laceum), micobactérias patogênicas acometem todas as classes de vertebrados, causando enfermidades em ma-míferos, aves, anfíbios, répteis e peixes. Há diversos re-latos de ocorrências da doença em coleções de animais de zoológicos, criatórios conservacionistas e comerciais e mesmo em animais de vida livre, embora seja consi-derada muito rara em indivíduos localizados em áreas pouco expostas às ações antrópicas ou ao contato dire-to com seres humanos (CATÃO-DIAS; CARVALHO, 2006).

A infecção ocorre predominantemente por via oral ou respiratória, por meio da ingestão ou inalação da micobactéria, respectivamente. Animais infectados po-dem eliminar o agente pelas secreções do trato respi-ratório, esputo, fezes, urina e por meio de fístulas sub-mandibulares (CATÃO-DIAS; CARVALHO, 2006).

O patógeno possui uma gama larga de hospedei-ros, com capacidade de causar lesões nos primatas e mais um grande número de mamíferos selvagens (O’REILLY; DABORN, 1995).

Segundo Bonat (2008), Mycobacterium bovis tem um amplo espectro de patogenicidade para vários ani-mais domésticos e selvagens. Murakami (2007) relata o diagnóstico positivo de tuberculose em quatis (Na-sua nasua) em um Centro de Triagem de Animais Sel-vagens. A identificação de Mycobacterium tuberculosis em antas (Tapirus terrestris) alerta para o potencial risco de transmissão da infecção entre seres humanos e ani-mais silvestres (MURAKAMI, 2007).

A propagação do M. bovis de animais cativos em zoológicos e parques para o homem ocorre por via aerógena. A transmissão de animais selvagens para animais selvagens ocorre pela inalação de aerossóis

infecciosos ou após o consumo de alimento infectado. O íntimo contato que existe entre os animais de zoo-lógicos e parques favorece a transmissão da doença, provavelmente, via aerossóis, fômites, alimento e água contaminados. Há também relatos de transmissão de bovinos para animais selvagens e destes para bovinos via aerógena, na dependência do grau de contato en-tre esses animais. Há registros dessa transmissão em cervos e búfalos pela via respiratória, e em focas, na Austrália, pelo lançamento de carcaças de bovinos tu-berculosos no mar (ABRAHÃO, 1999).

A ocorrência de infecção por M. bovis em cervídeos de vida livre e em cativeiro foi descrita, sendo que ca-sos em animais em cativeiro tornam-se uma preocu-pação adicional por conta das implicações zoonóticas (BASAK et al., 1975; LEHNER, 1988). Tuberculose entre veados de criação ocorreram em vários países (BOLSKE et al., 1995), e atenção especial deve ser focada sobre as populações selvagens, que servem como reserva-tórios potenciais de infecção de animais domésticos (GUERIN, 1989).

Não há relatos de tuberculose congênita em vea-dos, o que contrasta com a sua ocorrência em bovinos (DUNGWORTH, 1993). Lesões em veados infectados são encontradas especialmente nos gânglios linfáticos retro-faríngeos, mediastínicos e mesentéricos (MACKINTOSH; GRIFFIN, 2004). Essa distribuição é indicativa da infecção por ambas as vias, respiratória e alimentar (BEATSON et al., 1984), sendo que as lesões no linfonodo retrofarín-geo podem representar ambas as rotas (STAMP, 1954). O risco de infecção varia de acordo com o grau de conta-to com animais infectados e seus produtos, a densidade populacional do reservatório, bem como a prevalência de infecção. No entanto, mesmo quando a prevalência é alta, a amostragem local sugere que os cervos mais infectados liberam pouca carga patogênica, exceto nos estágios ter-minais da doença (NUGENT; LUGTON, 1995).

Cervídeos afetados podem servir como fonte de infecção para os predadores simpátricos e necrófagos. Coiotes (Canis latrans) foram infectados pelo consumo de cervídeos infectados, provavelmente veados e al-ces (RHYAN et al., 1995).

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

A doença em veados, causada pelo M. bovis, é su-baguda ou crônica, com alguns animais apresentando sinais clínicos em seis meses após a infecção, enquan-to outros podem sobreviver por vários anos sem evi-dência aparente de infecção (WILLIAMS, 1987). Alte-rações patológicas podem estar na forma do clássico granuloma proliferativo, acompanhado por caseação central e calcificação, desenvolvendo-se com a ida-de, ou, ainda, abscessos de paredes finas envolvendo nódulos linfáticos podem predominar (PALMER et al., 1999a). Bactérias álcool-ácido resistentes (BAAR) são altamente variáveis em número dentro de dois tipos principais de lesão (CORRIN et al., 1993).

Tem sido descrita amigdalite purulenta e lesões em linfonodos submandibulares e retrofaríngeos (FLEET-WOOD et al. 1988). Uma variedade de alterações foi registrada no tórax, como lesões nos gânglios linfáticos brônquicos e mediastínicos e nos pulmões. A propagação além dos pulmões pode resultar em formação de absces-so no diafragma, edemas subcutâneos de penetração da parede torácica e lesões no pericárdio e pleura, embora o derrame pleural seja raro (STUART et al., 1988).

Lesões abdominais incluem, especialmente, abs-cessos nos linfonodos mesentéricos e hepáticos, em superfícies serosas do peritônio e omento, no baço e rim (STUART et al., 1988).

Todas as faixas etárias de veados podem ser infec-tadas e a prevalência aumenta com a idade (NUGENT; LUGTON, 1995). Um grande número de organismos de M. bovis foi descrito no tecido linfático de cervos novos, sem qualquer modificação macroscópica óbvia (GRIFFIN; BUCHAN, 1994).

Em veados selvagens, um diagnóstico presuntivo pode depender do exame post-mortem e, em alguns casos, da aparência microscópica das lesões. No en-tanto, tais achados não são patognomônicos (GRIFFIN; CROSS, 1986). A utilização da reação em cadeia da po-limerase (PCR) para detectar M. bovis mostrou-se pro-missora quando aplicada a cortes histológicos com le-sões e organismos ácido-resistentes característicos da tuberculose. O teste tuberculínico exige melhor prepa-ração do local e mais cuidado na injeção intradérmica e possui sensibilidade variável (GRIFFIN et al., 1994).

A natureza esporádica da infecção em populações de veados selvagens de vida livre torna o controle qua-se impraticável. Em algumas populações, o controle da infecção em espécies simpátricas, que atuam como reservatórios, pode ter o efeito de reduzir ou mesmo eliminar a infecção em veados selvagens na vizinhan-ça. Tuberculose foi encontrada em veados-de-cauda--branca de vida livre e é considerada a maior ameaça potencial para a erradicação da tuberculose nos Esta-dos Unidos (McCARTY; MILLER, 1998).

RELATO DE CASO

O estabelecimento estudado trata-se de Jardim Zoológico, regularizado junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-veis (Ibama), instalado em área de município da região metropolitana de Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul. Em março de 2013, equipe técnica do Ibama procedeu à vistoria no local, tendo acesso a laudos ne-croscópicos de espécimes que vieram a óbito, em que restou comprovada a epizootia. Relatório apresentado

T Figura 1. Grupo de cervídeos exóticos com superlotação de piquete, facilitando a transmissão de patónegos.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

As lesões macroscópicas mais comuns foram: nódu-los caseosos esbranquiçados disseminados; nódulos, le-sões caseosas e áreas hemorrágicas em toda a extensão dos pulmões e parede intercostal; fígado com aumento do padrão lobular, bordas arredondadas e áreas com nódulos e lesões caseosas; linfonodos mediastínicos e mesentéricos aumentados e com conteúdo caseoso; intestino com áreas hemorrágicas na mucosa, estômago congesto na mucosa e baço aumentado.

Os seguintes materiais biológicos foram enviados para exame, de acordo com cada espécie: anta – pul-mão, coração, linfonodos, baço, fígado, rim, estômago e intestino delgado; camelo – vísceras em formol a 10% e material para exame bacteriológico; capivara – vísce-ras; cervo nobre – pulmão, fígado, baço; cervo sambar – pulmão, rim, baço, fígado, intestino delgado, cérebro, tecido subcutâneo e coração, órgãos em formalina a 10%; e lhama – rim, intestino, fígado, pulmão, cápsula de abscesso, adrenal, músculo, baço e linfonodos, ór-gãos em formol.

As lesões mais frequentes à histopatologia, de acor-do com cada órgão, foram as seguintes: pulmões com inflamação granulomatosa e áreas de necrose caseosa multifocais, com infiltrado de macrófagos epitelioides e linfocitário, formação de células gigantes; linfonodos com necrose caseosa e inflamação granulomatosa, com presença de BAAR; traqueia com necrose multifocal, com acentuado infiltrado de macrófagos epitelioides e linfócitos; fígado com áreas multifocais de infiltra-do predominantemente neutrofílico, hemossiderose e áreas de calcificação associadas com necrose caseosas;

aos técnicos do Núcleo de Fauna da Supes/Ibama/RS caracterizou a ocorrência de epizootia de tuberculose, disseminada por Mycobacterium bovis, acometendo, es-pecialmente, espécimes de animais de médio e grande porte: lhamas, anta e cervos. Segundo o relatório, cerca de 20 (vinte) espécimes de grande porte teriam vindo a óbito nos dois anos anteriores em decorrência da pa-tologia, com confirmação laboratorial de lesões típicas da zoonose, inclusive com isolamento do agente em material biológico proveniente de espécimes.

Após a vistoria, o zoológico foi embargado para visi-tação, interditado para o trânsito de animais (entradas e saídas) e, inicialmente, notificado a apresentar a licença ambiental do empreendimento e os relatórios de ne-cropsia dos óbitos ocorridos nos últimos dois anos.

A Lei Federal 7.173, de 14 de dezembro de 1983, que regula os Jardins Zoológicos, determina que espécimes que vêm a óbito, sob suspeita da causa mortis por processos patogênicos, especialmente zoonoses, devem ser submetidos a exame clínico e necropsia, para fins de diagnóstico. Entre os anos 2003 e 2012, 14 (catorze) casos de óbito, em 06 (seis) espécies (Tabela 1), obtiveram confirmação da enfer-midade, sendo que em 2 (dois) casos o diagnóstico foi corroborado pelo isolamento de Mycobacterium bovis. Os diagnósticos foram realizados em material biológi-co, no Setor de Patologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Favet/UFRGS), que emitiu os laudos confirmatórios. Todos os espécimes que tiveram ma-terial coletado e analisado eram adultos, sendo que a idade mínima determinada foi 3 (três) anos e a máxi-ma 20 (vinte) anos.

A análise dos laudos apresentou sinais clínicos variados, compatíveis com os sintomas do complexo tuberculose. Os mais comuns foram: emagrecimento progressivo, dispneia, prostração e óbito; prostrado e com anorexia; prostrado com dispneia e relutância em andar; e abscessos múltiplos na região da mandíbula e pescoço. Na maioria dos casos, o óbito ocorreu entre 3 e 5 dias após o surgimento ou agravamento dos sin-tomas. Outros espécimes foram encontrados mortos sem sinais clínicos pregressos.

T Figura 2. Ilha de macacos prego em coabitação com capivanas, ausência de isolamento interespecies.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

baço com hemossiderose difusa; rins com necrose de caseificação focal associada a células inflamatórias po-limorfonucleares, mononucleares e células gigantes. A determinação do diagnóstico foi corroborada pelo mé-todo de coloração de Ziehl-Nieelsen, que evidenciou a presença de BAAR no citoplasma de células gigantes, macrófagos epitelioides e em meio a áreas de tecido necrótico compatíveis com Micobacterium sp.

Em 11 de junho de 2013, a direção do Jardim Zoo-lógico protocolou na Supes/Ibama/RS proposta de Pla-no de Saneamento, sob responsabilidade da comissão técnica responsável pelo estabelecimento. O Plano estabeleceu ações para controlar a disseminação da doença, mitigar seus efeitos e tornar, ao longo do tem-po, a propriedade controlada para tuberculose. Como método diagnóstico, o zoológico estabeleceu o teste de PCR (Polymerase Chain Reaction).

Baseando-se no Programa Nacional de Controle de Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), segundo o qual existiriam dificuldades para aplicação das normas técnicas estabelecidas para propriedades livres em estabelecimentos de criação extensiva e com muitos animais, caso do estabelecimento, segundo sua direção, que decidiu utilizar as normas que constituem a implantação de propriedade monitorada para tuberculo-se. Utilizando o PNCEBT, a direção do zoológico decidiu realizar os testes de diagnóstico por amostragem. Segun-do o plano, após os testes, caso não sejam encontrados animais positivos, a propriedade recebe a certificação de monitorada para tuberculose. Encontrando-se animais reagentes positivos, os demais não incluídos nos testes de amostragem devem ser submetidos a testes diagnós-ticos, e todos os positivos sacrificados ou destruídos. Em propriedades monitoradas, os testes devem ser realiza-dos com periodicidade de 2 (dois) anos, após a obtenção de 2 (dois) testes anuais negativos sucessivos.

Alegando dificuldades de manejo das espécies-alvo (cervídeos e capivaras) a direção decidiu realizar amos-tragem aleatória, amostrando 30 (trinta) espécimes de cada espécie. Aqueles animais com resultado positivo foram enviados a recintos situados em área restrita, sem acesso ao zoológico. Animais considerados de baixo va-lor zootécnico foram enviados a sacrifício.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando os dados apresentados pela direção do zoológico após a realização de duas baterias de exames, em abril e maio/junho de 2013, pode ser ob-servado que, das 6 (seis) espécies que tiveram amos-tras coletadas, 4 (quatro) atenderam ao proposto no Plano de Controle apresentado pela direção, seja pelo número efetivo de espécimes coletados (proposta de 30 por espécie) ou pela percentagem da amostra em relação ao plantel: cervo sambar, cervo dama, camelo e lhama. Duas (2) das espécies ficaram aquém: capivara, especialmente, e cervo nobre.

O plantel total declarado das 6 (seis) espécies, em 11 de junho de 2013, consistia em 639 (seiscentos e trinta e nove) espécimes. Foram amostrados 117 (cen-to e dezessete) espécimes, ou 18,31% deste total. Dos 131 (cento e trinta e um) animais a serem analisados, como proposto no Plano de Controle, estes 117 (cen-to e dezessete) consistiram em 76,33% do previsto. O intervalo de amostragens variou entre 14,17%, nas capivaras, até 100%, nas lhamas. A amostragem média ficou em 40,28%.

Quanto aos resultados, 41 (quarenta e um) dos espécimes resultaram positivos, ou 35,04% da amos-tragem, e 76 (setenta e seis) negativos, ou 64,96% do total. Na análise dos resultados espécie a espécie, a média de positivos ficou em 41,09%, com um inter-valo entre 6,06%, e 85,71%, e a média dos negativos em 58,91%, com intervalo entre 14,29%, e 93,94%. Todas as espécies tiveram resultados positivos, com um mínimo de 6,06% nos cervos dama e um má-ximo de 85,71% nas lhamas. Os resultados destas 2 (duas) espécies requereu atenção, na medida em que a amostragem dos cervos dama atendeu ao proposto, com cerca de 30% dos animais analisados, minimizan-do possíveis falhas diagnósticas. Os espécimes deste grupo conviviam com os das demais espécies, estando expostos às mesmas condições ambientais e epide-miológicas. Essa suposta resistência à infecção sugere maior vigilância e aprofundamento na pesquisa. Quan-to às lhamas, sua origem andina, de ambiente semiári-do, com médias pluviométricas muito baixas, provavel-mente afetou sua capacidade de suportar o clima do

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Rio Grande do Sul, com invernos úmidos e frios, faci-litando a transmissão da infecção entre os indivíduos, especialmente no tipo de cativeiro do zoológico, con-sistindo de potreiros, com exposição às intempéries e onde as diversas espécies interagem.

CONCLUSÕES

Durante as atividades de investigação da epizoo-tia, verificaram-se procedimentos de manejo que pos-sibilitam inferir nas causas da disseminação da doença no plantel, com especial atenção para o fato de acome-timento da doença em várias espécies: sistema de cria-ção e manutenção dos espécimes organizado através de recintos de vários hectares, onde coexistem mais de 1 (uma) espécie, e com elevado número de espécimes, chegando a algumas centenas, facilitando a transmis-são dos patógenos; descrição de episódios de lutas e mortalidade de espécimes por predação de animais com características de machos-alfa agressivos, geran-do elevado grau de estresse nas populações, situação

PAULO GUILHERME CARNIEL WAGNERMédico VeterinárioCRMV-RS 04669Chefe do Centro de Triagem de Animais Silvestres da Superintendência do IBAMA, RS. [email protected]

CLÁUDIA ENK DE AGUIARBióloga, CRBio 025879/03-DMSc, Analista Ambiental IBAMA/DF

AUTORES

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INFLUÊNCIA DA SUBSTITUIÇÃO DO MILHO POR MILHETO NO DESEMPENHO DE OVINOS JOVENSINFLUENCE OF REPLACING CORN BY MILLET ON PERFORMANCE OF YOUNG SHEEP

Objetivou-se salientar a influência da substituição da dieta de milho pela dieta com milheto no desempenho de ovinos jovens. Os tratamentos foram representados por duas dietas. A dieta milho foi composta por: 74,5% de silagem, 11,82% de milho, 11,75% de farelo de soja, 0,9% de cloreto de amônio e 0,9% de mineral de ovinos, e a dieta milheto: 74,5% de silagem, 13,5% de milheto, 10,3% de farelo de soja, 0,9% de cloreto de amônio e 0,9% mineral de ovinos. As características avaliadas de desempenho e medidas biométricas não apresentaram diferenças entre os animais alimentados com as diferentes dietas, como também não foram observadas diferenças para sexo. Dessa forma, o milheto pode substituir o milho na alimentação de ovinos confinados sem quaisquer prejuízos, possibilitando redução do custo de produção e aumento do lucro.

Palavras-chave: Alimentação. Confinamento. Cordeiro. Medidas biométricas.

The objective was to point out the influence of replacing corn diet by diet with millet performance of young sheep. The treatments consisted of two diets. The diet was composed of corn: Silage 74.5%, 11.82% corn, 11.75% soybean meal, 0.9% of ammonium chloride and 0.9% mineral sheep and diet millet: 74.5% silage, 13.5% of millet, 10.3% of soybean meal, 0.9% ammonium chloride and 0.9% mineral sheep. The characteristics evaluated performance and biometric measurements showed no difference between the animals fed the different diets, but also no differences were observed for sex. Thus millet could replace corn in sheep feeding confined without any losses, enabling reduction of production cost and increase profit.

Keywords: Food. Confinement. Lamb. Biometric measurements.

RESUMO

ABSTRACT

SUPLEMENTO CIENTÍFICO

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

INTRODUÇÃO

A ovinocultura no Brasil vem crescendo conside-

ravelmente nos últimos anos, com Mato Grosso assu-

mindo papel de destaque. O grande aumento popula-

cional humano determina alta demanda por proteína,

principalmente a fração proteica de origem animal, em

que a carne ovina se destaca por atender o mercado

moderno com baixos índices de gordura.

A espécie ovina tem um ciclo produtivo muito rápi-

do. Dessa forma, para atender o mercado consumidor

de forma mais eficaz, a intensificação da produção, por

meio da terminação de cordeiros em confinamento,

permite o abate de animais ainda mais jovens, propor-

cionando maior rapidez na comercialização e produção

de carcaças com melhor rendimento, melhor sabor da

carne e acabamento das carcaças. No entanto, esse

tipo de criação requer mais investimento com a ali-

mentação, sendo o ponto crítico do sistema produtivo,

devendo ser barateada sempre que oportuno (ANDRA-

DE et al., 2014).

O uso de insumos mais baratos, ou produtos me-

nos nobres, pode ser destinado à nutrição animal, ob-

jetivando redução dos gastos com a alimentação.

Nesse contexto, o milheto, que é uma forrageira

anual de verão, pode ser uma alternativa para a produ-

ção de forragem e de grãos, sendo uma boa fonte de

energia, podendo substituir o milho, principalmente,

porque este é um ingrediente muito utilizado na ali-

mentação humana e tem custo mais elevado de pro-

dução quando comparado ao milheto (GONÇALVES et

al., 2010).

Com intuito de reduzir os custos com a alimenta-

ção sem que houvesse perdas de produtividade, este

estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a

influência da substituição do milho (Zea mays L.) pelo

grão de milheto (Pennisetum americanum L.) na alimen-

tação de cordeiros e sua influência sobre a classe se-

xual, desempenho e medidas biométricas desses ani-

mais em confinamento.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em uma proprieda-de parceira da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), no município de Santa Carmem, localizado no estado do Mato Grosso. As coordenadas geográficas aproximadas do local do experimento são 11º 54' 46" de latitude sul e 55º 13' 34" de longitude oeste.

O experimento foi conduzido utilizando-se 24 cordeiros da raça Santa Inês, sendo 16 machos e 8 fêmeas, recém-desmamados, com peso inicial médio de ±20 kg. Os cordeiros foram cedidos pelo dono da propriedade, sendo realizado exame de OPG (ovos por grama de fezes) antes do experimento para ob-servar a carga parasitária dos animais e, posterior-mente, a administração de anti-helmínticos para os que deles necessitavam. Esse exame e o controle dos parasitas foram feitos durante todo o decorrer do experimento.

Os animais foram pesados, em balança digital de mão, periodicamente, para acompanhamento do de-sempenho e ganho de peso.

As baias dispunham de comedouros e bebedouros, onde foi ofertada água “ad libitum” e as respectivas dietas durante todo o período experimental.

Os cordeiros ficaram alojados em baias coletivas em função da dieta utilizada, por um período experi-mental de 30 dias.

A alimentação dos animais foi baseada em sila-gem mista, de milho e capim mombaça, e concentra-do, na relação volumoso:concentrado de 75:25, com base na matéria seca. A composição bromatológica dos ingredientes foi mensurada por análise laborato-rial de acordo com a metodologia de Silva e Queiroz (2006), e os resultados são apresentados, na tabela 1, com base na matéria seca (MS). Ambos os tratamentos tinham à disposição sal mineral próprio para ovinos, e os tratamentos foram divididos de acordo com a composição do concentrado que é apresentado nas Tabelas 2 e 3. O fornecimento das dietas foi feito às 7h horas e às 17h.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Tabela 1. Composição bromatológica dos ingredientes da dieta.

Nota: * MS-Matéria Seca, PB-Proteína Bruta, EE-Extrato Etéreo, MM-Matéria Mineral, NDT-Nutrientes Digestíveis Totais, FDN-Fibra Solúvel em detergente Neutro, Ca-Cálcio, P-Fosforo.

Ingredientes/% MS PB EE MM NDT FDN Ca P

Silagem 27,81 5,22 2,34 8,03 58,02 68,25 0,32 0,16

Milheto 86,57 11,64 3,21 1,79 72,00 12,12 0,029 0,31

Milho 87,54 9,15 3,97 1,5 85,12 15,28 0,03 0,25

Cloreto de amônio 1,14 - - 1,02 - - - -

Mineral 99,00 - - - - - 19,00 7,3

Farelo soja 88,62 47,9 1,62 6,31 81,00 14,06 0,34 0,58

As dietas foram elaboradas de forma a manter teores próximos de energia, proteína e outros constituintes (Tabelas 2, 3 e 4).

Tabela 2. Composição da dieta milho. Tabela 3. Composição da dieta milheto.

Tabela 4. Níveis nutricionais da dieta milho e dieta milheto.

Ingredientes Proporção (%) Concentrado (%)

Silagem 74,50 -

Milho 11,82 46,70

Farelo de soja 11,75 46,50

Cloreto de amônio 0,90 3,40

Mineral de ovinos 0,90 3,40

TOTAL 100,00Fornecido: 75 silagem / 25 concentrado

Ingredientes Proporção (%) Concentrado (%)

Silagem 74,50 -

Milheto 13,50 53,00

Farelo de soja 10,30 40,30

Cloreto de amônio 0,90 3,40

Mineral de ovinos 0,90 3,40

TOTAL 100,00Fornecido: 75

silagem/25 concentrado

Níveis nutricionaisProporções (%)

Dieta Milho Dieta Milheto

Proteína bruta 18,92 18,41

Extrato etéreo 2,46 2,33

Matéria mineral 5,74 5,67

Nutrientes digestíveis totais 67,74 64,3

Fibra solúvel em detergente neutro 39,81 39,0

Cálcio 0,90 0,60

Fósforo 0,42 0,42

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Tabela 5. Valores médios encontrados para os ingredientes do concentrado.

O consumo dos animais foi calculado de acor-do com NRC (2006), que estabelece o consumo de matéria seca diário de cordeiros de raças adaptadas com peso médio de 20 kg, como 2,97% em relação ao seu peso vivo. O preço dos ingredientes do con-centrado foi retirado de pesquisa realizada no mu-nicípio de Sinop, entre os meses de abril e junho de 2015 (Tabela 5).

Ingredientes Preço (R$/Kg)

Milheto 0,18

Milho 0,23

Cloreto de amônio 4,90

Mineral 2,75

Farelo de soja 1,50

Foram realizadas medidas biométricas nos animais, visto que essas são medidas fáceis de serem utilizadas em campo e permitem acompanhar o desempenho, as-sim como o desenvolvimento das regiões anatômicas de maior valor comercial. As medidas biométricas dos cordeiros foram feitas no início e ao final do período experimental, com os animais em estação quadrupe-dal, sobre uma superfície plana, para que não houves-se nenhuma influência no resultado.

As medidas analisadas foram: escore de condição corporal, realizado subjetivamente por palpação da re-gião lombar, na qual o avaliador estabelece uma nota que varia de 0 (muito magro) a 5 (extremamente gordo) (SILVA et al., 2007).

Foi mensurado, em centímetros (cm), altura do anterior (medida da região da cernelha até o solo) (Figura 1), altura do posterior (distância entre a tube-rosidade sacra e o solo) (Figura 2), comprimento do corpo (medida em linha reta da região da cartilagem escapular até a tuberosidade isquiática) (Figura 3) (MORENO et al., 2010).

T Figura 1. Medida da altura do anterior (cm).

T Figura 3. Medida do comprimento do corpo.

T Figura 2. Medida da altura do posterior (cm).

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

T Figura 4. Medida da largura da garupa (cm).

Com o auxílio de fita métrica, foi mensurado o pe-rímetro do tórax (distância máxima entre o esterno e o dorso da carcaça) (Figura 5), perímetro abdominal (realizado na região do abdômen, na linha da cicatriz umbilical) (Figura 6), perímetro da coxa (perímetro da parte média do membro pélvico, acima da articulação fêmuro-tíbio-patelar) (Figura 7).

Com o auxílio de um compasso, foi mensurada lar-gura do peito (largura máxima do tórax) e largura da garupa (largura máxima entre os trocânteres dos fê-mures) (Figura 4), medindo a distância equivalente do compasso com uma fita métrica.

T Figura 5. Medida do perímetro do tórax.

T Figura 6. Medida do perímetro abdominal.

T Figura 7. Medida do perímetro da coxa.

Os dados coletados foram avaliados em esque-ma fatorial (2x2), com duas fontes de energia (milho x milheto) e duas classes sexuais (macho e fêmea). Os resultados foram submetidos à análise de variân-cia utilizando-se o procedimento PROC GLM do SAS (2002), utilizando o teste de Tukey para comparação das médias dos tratamentos, considerando o nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não houve diferença significativa quanto às carac-terísticas avaliadas de desempenho e escore de condi-ção corporal entre os animais que receberam as dietas de milho ou milheto (Figura 8).

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

Características1 MédiasClasse sexual Tratamento

CV(%)Machos Fêmeas Dieta Milho Dieta Milheto

Peso vivo inicial 20,16 19,95 20,59 20,63 19,91 24,20

Peso vivo final 23,95 24,11 23,64 25,08 22,67 28,02

Escore de condição corporal inicial 2,42 2,50 2,25 2,38 2,38 17,31

Escore de condição corpora final 2,83 2,96 2,58 2,89 2,65 20,29

Características1 MédiasClasse sexual Tratamento

CV(%)Machos Fêmeas Dieta Milho Dieta Milheto

Altura do anterior inicial 55,83 55,81 55,88 55,81 55,88 7,90

Altura do anterior final 61,10 61,91 59,49 62,86 58,54 14,82

Altura do posterior inicial 57,06 57,09 57,00 57,41 56,69 8,09

Altura do posterior final 62,54 63,46 60,69 64,66 59,49 14,44

Comprimento do corpo inicial 53,88 52,44 56,75 54,31 54,88 9,42

Comprimento do corpo final 59,16 58,05 61,36 61,19 58,23 12,59

Largura da garupa inicial 14,10 14,00 14,31 14,03 14,28 84,45

Largura da garupa final 16,66 16,74 16,51 17,03 16,22 12,65

Largura do peito inicial 14,48 14,63 14,19 14,63 14,19 10,72

Largura do peito final 17,03 17,36 16,38 17,62 16,12 14,52

Perímetro do tórax inicial 64,83 65,00 64,50 64,88 64,63 7,99

Perímetro do tórax final 68,86 69,07 68,44 70,20 67,31 10,02

Perímetro do abdômen inicial 75,88 76,19 75,25 76,69 74,75 9,33

Perímetro do abdômen final 82,34 83,23 80,55 84,36 79,42 13,05

Perímetro de perna inicial 26,92 27,44 25,88 25,94 27,38 14,38

Perímetro de perna final 28,82 29,87 26,73 28,50 28,09 19,48

Tabela 6. Desempenho e escore corporal de cordeiros em função do sexo e dietas distintas.

Tabela 7. Medidas biométricas (cm) dos cordeiros em função do sexo e dietas distintas.

Nota: 1Médias seguidas de letras diferentes nas linhas diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).CV – Coeficiente de variação (%).

Nota: 1 Médias seguidas de letras diferentes nas linhas diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).

CV – Coeficiente de variação (%).

No peso vivo final, 23,95 kg, não ocorreu diferen-ça entre as fontes de energia e classes sexuais, dados semelhantes foram encontrados por Peron (2012), que também não observou efeito no peso vivo final quando incluso o grão de milheto em substituição ao milho, em dietas de alto concentrado, no confinamen-to de ovinos. Isso ocorreu porque as dietas possuem teores de concentrado e volumoso semelhantes entre os tratamentos.

A utilização do milheto em substituição ao milho é estudada por diversos autores referindo-se às outras espécies, no entanto a literatura é escassa quando se

trata de ovinos. Segundo Silva et al. (2014), que ava-liaram novilhos alimentados em confinamento com dietas com elevada proporção de concentrado (80%) contendo diferentes níveis de grão de milheto moído em substituição ao grão de milho moído, foi observado que o ganho de peso médio diário, o peso corporal e o escore corporal final não foram alterados pelo aumen-to do nível de milheto na dieta, conferido similaridade aos resultados encontrados para ovinos em confina-mento, neste estudo.

Na tabela 7 são apresentados os dados das medi-das biométricas dos cordeiros.

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SUPLEMENTO CIENTÍFICO

De maneira geral, não houve influência dos trata-mentos sobre as medidas avaliadas, a altura do anterior final médio foi de 61,10 cm, valores parecidos com os encontrados por Gonzaga Neto et al. (2005), que traba-lharam com medidas biométricas e rendimento da carca-ça de ovinos Santa Inês e mestiços Dorper x Santa Inês, cujos valores foram de 59,8 cm para a raça Santa Inês.

A altura do posterior final médio foi de 62,54 cm, dado semelhante ao encontrado por Araújo Filho et al. (2007), que, analisando o efeito que a dieta e o genó-tipo têm sobre as medidas morfométricas de cordeiros deslanados terminados em confinamento, encontra-ram 61,00 cm para a raça Santa Inês.

O comprimento do corpo final médio foi de 58,05 cm para os machos e 61,36 cm para as fêmeas, e valores semelhantes para as dietas, não havendo diferenças sig-nificativas entre esses parâmetros. Esses dados são di-ferentes dos encontrados por Vargas Junior et al. (2011), que, avaliando medidas biométricas de cordeiros pan-taneiros, encontraram valores médios de 50,33 cm para os machos e 49,46 cm para as fêmeas. Esses resultados diversos são devidos aos animais pantaneiros, pois se trata de uma raça de menor porte, devido à sua seleção natural para se adaptar às regiões do pantanal.

A largura da garupa final e a largura do peito final foram de 16,66 cm e 17,03 cm. Os valores são diferen-

tes dos citados por Pinheiro et al. (2007), que analisa-ram a biometria de cordeiros confinados com dietas di-ferentes de concentrações de volumoso:concentrado. Uma das dietas era com a proporção de 50:50 e a outra 30:70, não havendo diferença significativa para esses parâmetros em seu trabalho, que encontrou valores médios de 20 cm para a largura da garupa e 19,46 cm para a largura do peito, isso ocorreu por terem os auto-res utilizado cordeiros 7/8 Île de France 1/8 Ideal que são raças com grande formato, com boa conformação de carcaça e com aptidão para produção de carne, di-ferente de raça Santa Inês que foi utilizada neste traba-lho, que são animais menores.

Para a medida biométrica perímetro do tórax, o valor médio encontrado foi de 68,86 cm. Dados seme-lhantes aos encontrados por Gomes et al. (2012), que analisaram ovinos alimentados com rações contendo torta de mamona, e observaram 68,0 cm em suas me-didas na dieta contendo torta de mamona não tratada. Pinheiro et al. (2009) analisaram o efeito da amoniza-ção do resíduo da produção de sementes de forragem no desempenho e biometria de cordeiros, também não encontraram diferença (P>0,05) entre macho e fêmea nas suas análises.

O perímetro da perna final médio foi de 28,82 cm, dados semelhantes aos encontrados por Alves

T Figura 8. Disposição dos animais para acesso às diferentes dietas.

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PERON, H.J.M.C. Inclusão de grão de milheto em dietas de alto concentrado para ovinos em confinamento. 2012. 59f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012.

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VARGAS JUNIOR, F.M. et al. Avaliação biométrica de cordeiros pantaneiros. Revista Agrarian, v. 4, n. 11, p. 60-65, 2011.

REFERÊNCIAS

FELIPE CECCONELLO BENTOGraduando Zootecnia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), [email protected]

SOLANGE GARCIA HOLSCHUCH, Graduanda Zootecnia – UFMT

FLÁVIO LUIZ DE MENESESGraduando de Zootecnia – UFMT

ANGELO POLIZEL NETOMédico VeterinárioCRMV-MT nº. 2928. DSc, MSc, docente UFMT

HELEN FERNANDA BARROS GOMESZootecnistaCRMV-SP nº. 2619/Z. DSc, MSc, docente UFMT

AUTORES

et al. (2013) que trabalharam com morfometria em ovinos submetidos a diferentes estratégias de su-plementação. Utilizaram ovinos oriundos do cruza-mento de Santa Inês com ovinos sem raça definida e obtiveram 28,08 cm com os cordeiros recebendo suplemento proteinado.

Levando em consideração a informação de consu-mo dos animais mencionados anteriormente e as pro-porções que cada dieta fornecia nas tabelas 2 e 3, foi calculada a média de 0,655 kg MS/dia, sendo 491,25 gramas de volumoso e 163,75 gramas de concentrado por animal. Levando em consideração o período expe-rimental de 30 dias, o consumo total foi de 14,74 kg de volumoso e 4,91 kg de concentrado por animal. Na dieta com milheto, houve uma economia de R$ 0,60 por animal. Levando em consideração os 12 animais

que estavam sob a dieta do milheto, o ganho foi de R$ 7,20 com esse tratamento. Contando com a tota-lidade dos animais, caso o proprietário usasse todos os 24 animais na dieta com milheto, equivaleria a uma economia de R$ 14,40.

CONCLUSÕES

A substituição total do milho pelo grão de milhe-to, independentemente da classe sexual, proporciona ganho de peso e medidas biométricas semelhantes. O milheto pode ser utilizado como produto alternativo em substituição ao milho para ovinos jovens em con-finamento. Esse cereal pode ser utilizado sem alterar peso e medidas biométricas, tendo um aumento na lucratividade, dando mais viabilidade à produção de ovinos em confinamento.

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Os países da Europa foram os primeiros a definir regras claras de bem-estar animal e torná-las obrigatórias em seus sistemas de produção a

partir de 1º de janeiro de 2013, e, sobretudo, a partir deste ponto, várias indústrias de alimentos ao redor do mundo já se posicionaram sobre o tema. Varejistas e redes de fast food estão fazendo exigências aos seus fornecedores e, cada vez mais, os consumidores que-rem saber como são criados os animais que lhes forne-cem alimentos. Apesar de não existir no Brasil uma le-gislação obrigatória em relação ao assunto, a indústria saiu na frente e as três maiores produtoras de carne suína do país (BRF, JBS e Aurora) já se posicionaram so-bre o tema e anunciaram o fim das gaiolas de gestação em suas produções de suínos.

O debate atual sobre as questões do bem-estar para animais de produção tem como marco o livro Máquinas Animais, da ativista britânica Ruth Harrison, que em 1964 denunciava os métodos de produção no Reino Unido, e que resultou na indicação do médico veterinário Rogers Brambell para investigar a veracidade dos maus-tratos nos sistemas produtivos. O Relatório Brambell, de 1965, tornou-se uma referência no assunto ao estabelecer as bases para as “cinco liberdades”. De acordo com o mode-lo, todos os animais devem ser livres do medo, do estres-se, da fome e da sede. Além disso, também devem estar longe do desconforto, da dor e de doenças, e ter liberda-de para expressar seu comportamento ambiental.

De acordo com John Webster, da Universidade de Bristol, Inglaterra, na Europa já é consenso que "ani-mais não são commodities" e que os consumidores devem estar preparados para "pagar" pelo trabalho

OPINIÃO

A responsabilidadede comunicar é de

quem produz

Médico veterinário, formado pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), e mestre em Agronegócios pela Universidade de Brasília (UnB), onde defendeu

tese a respeito dos contratos de integração de suínos. Coser é analista de mercado de proteína animal,

consultor do Ministério da Agricultura, professor e palestrante. Criou e administra o Blog do Coser e a

consultoria Coser Agronegócio.

Fabiano Coser

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realizado pelos animais, exemplificando que uma vaca que produz 50 litros de leite por dia, ou uma porca que amamenta 13 leitões, tem um estresse, um esforço físi-co, comparável a um triatleta. A ideia é capaz de causar arrepios em certas rodas de debate sobre produção de proteína animal em qualquer lugar do mundo, mas isso não tira o mérito da questão e impõe um grande desa-fio às cadeias produtivas.

O debate muitas vezes é impedido de avançar por ser tomado de emoções e extremismos, tanto para um lado quanto para o outro. Se ativistas dos direitos animais e vegetarianos de todas as correntes apelam para uma antropomorfização exacerbada dos animais de produção, do lado contrário, defensores da proteí-na animal recorrem a discursos catastrofistas, muitas vezes utilizando imagens de pessoas passando fome, para estabelecerem uma sofrível conexão entre o bem--estar animal e a aquisição de alimentos mais baratos. Alimentar-se, atualmente, é uma questão econômica, de renda, em qualquer país do mundo. Retirando-se os extremos, há espaço para o debate profissional e cien-tífico sobre o assunto.

O tema do bem-estar e a discussão sobre o uso de antibióticos na produção de alimentos serão dois dos mais importantes assuntos relativos à produção de animais confinados, com reflexos sobre os custos de produção, o acesso a mercados e a preferência dos consumidores. Se durante muito tempo nossa principal preocupação com o avanço brasileiro no mercado inter-nacional de proteína animal esteve relacionada ao tema da sanidade, agora surgem no horizonte novos desafios. A manutenção da saúde animal dos rebanhos brasilei-

ros continua sendo o maior ativo da nossa pecuária, no entanto devemos estar atentos aos novos desafios que impactarão o modo como criamos os animais. Nos últi-mos anos, surgiram novos sistemas de manejo que, alia-dos a equipamentos eletrônicos, permitem a criação de porcas gestantes com o máximo de conforto, aumento da produtividade e otimização dos custos.

De outro lado, é cada vez maior a necessidade de diálogo com o mercado consumidor, e talvez aqui esteja nosso maior desafio. A sociedade mudou, o consumidor mudou, a comunicação mudou. A velocidade da inter-net e a multiplicidade das redes sociais trouxeram no-vos desafios à comunicação, e não será diferente com o mercado de alimentos, sobretudo quando se envolvem animais de produção. O consumidor moderno, principal-mente os mais jovens e os mais bem informados, não se contentam apenas com os aspectos nutricionais. Caberá à indústria de produção animal, sobretudo aos profissio-nais da área, informarem claramente sobre o processo produtivo, com transparência e eficiência.

A inação das cadeias produtivas pode levar a des-gastes frente ao mercado consumidor. Exemplar foi o caso do caminhão de porcos que tombou no rodoanel de São Paulo, em meados do ano passado, e se trans-formou em poucas horas no assunto mais comentado pela mídia brasileira, quando a informação ao público não coube aos profissionais, mas sim a interessados e oportunistas. A culpa não é dos consumidores ou da comunicação. A responsabilidade da informação é de quem produz, e os profissionais da produção animal precisam estar cada vez mais preparados para o diálo-go com a sociedade.

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PUBLICAÇÕES

O livro tem o objetivo de atualizar os conhecimentos de

alunos e profissionais da área de medicina veterinária

sobre diagnóstico e tratamento de claudicações de equí-

deos. Apresenta as técnicas e a interpretação de seus re-

sultados, por meio de explicações textuais e ilustrações

detalhadas. É resultado da experiência prática de mais de

20 anos de seus autores, associada ao avanço internacio-

nal do conhecimento sobre o tema.

O livro retrata a forma como os animais a cada dia vêm se

tornando mais importantes em nossas vidas, a prova dis-

so é o grande crescimento do comércio destinado a essa

área. O autor discorre sobre como as pessoas tratam seus

animais de estimação, como quase pessoas, colocando

muitas expectativas no animal, causando doenças antes

não conhecidas em animais.

Trata-se de um manual prático, de consulta rápida e de

fácil leitura, que pode auxiliar na condução adequada

da avaliação reprodutiva. A concepção deste manual

prático, segundo os autores, foi uma forma de compar-

tilharem suas experiências e disseminarem suas visões

sobre as aptidões que devem ser treinadas e adquiridas

por aqueles que desejam fazer da reprodução bovina

um meio de vida.

O livro trata de situações inseridas na realidade brasilei-

ra, e, dentre os inúmeros temas abordados, apresenta,

de maneira inovadora e pioneira, tópicos como respon-

sabilidade profissional e medicina legal. Ilustrações, fo-

tos, boxes e quadros tornam a obra ainda mais clara e

didática, garantindo um conteúdo de excelência não só

para a formação de acadêmicos de Medicina Veterinária,

mas também para a consulta.

Título:

Tratado de medicina interna de cães e gatos

Autores:

Márcia Marques JericóJoão Pedro de Andrade NetoMárcia Mery Kogika

Editora:

Roca

Contato:

www.grupogen.com.br/Editora Roca

Título:

Ginecologia e ultrassonografia reprodutiva em bovinos

Autores:

Luiz Francisco Machado PfeiferRogério Ferreira

Editora:

Embrapa

Contato:

www.embrapa.br/livraria

Título:

Cara de um, focinho do outro

Autor:

Marcos Fernandes

Editora:

Butterfly

Contato:

www.flyed.com.br

Título:

Guia ilustrado para injeção perineural em membros locomotores de equinos

Autores:

Raquel Yvonne Arantes Baccarin Luis Claudio Lopes Correia da Silva Patrícia Monaco Brossi

Editora:

Quiron Comunicação e Conteúdo

Contato:

www.quironcomunicacao.com.br

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