Sociedade Civil Organizada Global · movimentos sociais pode revelar-se como mais político do que...
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Aula 6 (03/10)
Novos movimentos sociais e classes sociais
Leitura base: EVERS, Tilman. Identidade: a face oculta dos novos movimentos sociais. Novos Estudos Cebrap, v. 2, n. 4, pp. 11-23, 1984. LACLAU, Ernesto. Os novos movimentos sociais e a pluralidade do social. CEDLA, Latin American Studies, n° 29, pp. 1-9, 1984. Leitura complementar: PAOLI, Maria Celia. Movimentos sociais, Cidadania, Espaço Público: perspectivas brasileiras para os anos 1990. Revista Crítica de Ciências Sociais, n. 23, 1991. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Cap. 6 – Espaço Social e gênese das classes. Bertrand Brasil, 2004.
Novos movimentos sociais e classes sociais
Contexto: autores de meados dos anos 1980, refletindo sobre as mudanças políticas e sociais ocorridas desde os 1960
As modificações no panorama descritivo da política impunham rupturas com instrumentos normativos de interpretação, que já não respondem à complexidade social
Interpretações baseadas no conceito de classe e no estruturalismo marxista são colocadas em questão. Na tradição marxista, os sujeitos sociais tem existência objetiva a priori, sob a forma de classes sociais
Evers: o potencial destes novos movimentos não está na tomada do poder, mas sim na renovação de padrões sócio-culturais e sócio-psíquicos do cotidiano
Dicotomia alienação-identidade (representação x autorepresentação). Processo de criação dos próprios sujeitos – modos de subjetivação
A criação de novas formas autônomas de expressão social expandiu a esfera “do político”
Religião, moradia, raça, gênero, indígenas, camponeses, jovens, ecologia, etc passam a ser objeto do conflito público
Momento de crise do socialismo realmente existente ainda ante da queda da URSS, crise das esquerdas partidárias
Se há novos campos de ação política, novas formas de se fazer política, novos sujeitos da política, então...
Seria possível pensar numa nova forma de disputa e construção de hegemonia, não mais sob a forma da liderança do partido, mas sim
Segundo uma lógica movimentista
Realidade multifacetada
Identidade multiclassista
Em termos Habermasianos, os novos movimentos sociais resgatariam a política do domínio do sistema, de volta para o mundo da vida
Potencial transformador sociocultural: movimentos de numero baixo de participantes; estruturas não-burocráticas ou informais; tomada de decisão coletiva; pouco distanciamento entre liderança e base; atividades culturais
Novos movimentos sociais seriam criticados como formas pré-políticas, menos válidas do que aquelas praticadas por políticos profissionais e burocratas
Para Evers, no entanto, o potencial socio-cultural dos novos movimentos sociais pode revelar-se como mais político do que a ação imediatamente orientada na direção das estruturas de poder existentes
A utopia positiva para a qual apontam os novos movimentos sociais permanece como a face oculta da sociedade dominante e visível no cotidiano
Novos movimentos sociais e um novo tipo de partido político em gestação, exemplo do PT no Brasil, um partido gestado a partir de movimentos sociais diversos
Nenhum movimento social pode ir além de tentar lutar em um (ou poucos) dos muitos fronts possíveis de dominação, aceitando por consequência, o status quo em todos os outros fronts
Mas não há hierarquia preestabelecida e das metas emancipatórias e, assim, também não há sujeitos históricos ontológicamente privilegiados
Laclau: crise dos paradigmas normativos das C. Sociais
Identidade dos agentes como categorias pertencentes à estrutura social: qualquer conflito tem unidade referencial de um grupo – lutas “camponesas, p. ex.
Conflito determinado em termos de um modelo diacrônico-evolucionário: o significado de cada luta em termos de um esquema evolucionista em que o movimento da história se torna objetivo e independente da agência dos sujeitos
Pluralidade de espaços do conflito social era reduzida a um espaço político unificado no qual a presença dos agentes é entendida enquanto representação de interesses: a esfera política é um nível específico da sociedade
Os novos movimentos sociais são resultado de construções políticas complexas, que não podem decorrer unilateralmente das relações de produção
Pela mesma razão, o político deixa de ser um nível do social tornando-se uma dimensão presente ao longo de toda a prática social
“O pessoal é político”
Ruptura com a categoria de sujeito enquanto unidade racional e transparente que transmite um significado homogêneo para o campo da conduta individual
Os sujeitos podem ocupar múltiplas posições de sujeito no interior da estrutura social, participando assim de diferentes formações discursivas
Formações discursivas se influenciam mutuamente através de práticas articulatórias
O social é construído pela limitação parcial dos efeitos das lógicas discursivas contraditórias
Os antagonismos sociais surgem quando a divisão do espaço social em dois campos impede a ambos de serem constituídos através de diferença e positividade
Já que a identidade de um é definida enquanto negação da outra posição de sujeito
Nas últimas décadas a multiplicação de pontos de ruptura que tem acompanhado a crescente burocratização da vida social e a comodificação das sociedade industriais avançadas tem levado a uma proliferação de antagonismos
No século XIX, as lutas sociais não conduziram tanto a uma proliferação de espaços políticos e a uma politização de cada antagonismo social, mas, ao invés disso,
A construção de formas de permitir o acesso destes antagonismos a um espaço político relativamente unificado
A presença dos conflitos na esfera política assume a forma de uma relação de representação
Dimensão totalizante do social
O fato novo dos novos movimentos sociais é que neles a dimensão totalizante da sociedade está ausente ou questionada
As mobilizações populares não mais se baseiam num modelo de sociedade total, mas numa pluralidade de exigências que leva a abertura de uma pluralidade de espaços políticos
Estariam estas novas práticas alterando as dinâmicas entre representantes e representados ou seriam elas também capturadas pela lógica política da representação institucional?