Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf ·...

14
09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 1/14 Cientista tem que ter apetite! Publicado em 26/06/2015 Vejo cada vez mais alunos que parecem totalmente perdidos em seus estágios, mestrados ou doutorados. Alguns dão a impressão de estar sofrendo o tempo todo. Outros seguem a passos lentos, devagar, quase parando. O fato é que a ciência profissional é uma carreira para poucos, muito difícil e competitiva. Assim, para alertar pessoas que talvez estejam no caminho errado, antes que elas desperdicem mais tempo, energia e dinheiro, resolvi escrever sobre algo essencial para um “aspira” da ciência: o apetite. Como nos cursos de ciências naturais das universidades públicas (Biologia, Ecologia, Física, Química etc.) a maior parte dos exemplos de profissionais ( role models) que os alunos têm são os próprios professores, muitos acabam achando que a carreira acadêmica é a única opção para alguém que se forma. Meu bróder , só na Biologia existem muitas outras possibilidades. Ninguém é obrigado a ser cientista! Somando a essa cisma o acesso pouco seletivo aos programas de pósgraduação que temos hoje em dia, com ingresso fácil demais nos piores cursos e bolsas garantidas para a maioria dos alunos nos melhores cursos, o resultado é um monte de gente na pósgraduação que não tem a menor vocação para estar ali. Não quer dizer que essas pessoas não seriam bons profissionais em outras carreiras: elas apenas estão vivendo a vida de outra pessoa. Não adianta querer dar uma de camarada e enganar os aspiras com falsas esperanças, como muitos colegas fazem. Beneficiarse do conhecimento científico é para todos. Mas fazer ciência é para poucos. É preciso uma combinação rara de características pessoais para progredir na carreira acadêmica e se tornar um gerador de conhecimento profissional. No mínimo, você tem que ser curioso, inteligente, criativo, disciplinado e tenaz. E trabalhar realmente duro. Não estou dizendo que cientistas são pessoas especiais, os “escolhidos”, blablabla. Estou dizendo apenas que, em carreiras altamente especializadas, como a ciência, o alto sacerdócio ou a música de câmara, não basta ter apenas uma ou algumas das características consideradas necessárias: você tem que ter todas elas, receber treinamento adequado e ainda usar os seus dons de forma inteligente. Seguir Seguir Sobrevivendo na Ciência Blog com dicas para quem está começando na Ciência

Transcript of Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf ·...

Page 1: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 1/14

Cientista tem que ter apetite!Publicado em 26/06/2015

Vejo cada vez mais alunos que parecem totalmente perdidos em seus estágios,mestrados ou doutorados. Alguns dão a impressão de estar sofrendo o tempo todo.Outros seguem a passos lentos, devagar, quase parando. O fato é que a ciênciaprofissional é uma carreira para poucos, muito difícil e competitiva. Assim, para alertarpessoas que talvez estejam no caminho errado, antes que elas desperdicem mais tempo,energia e dinheiro, resolvi escrever sobre algo essencial para um “aspira” da ciência: oapetite.

Como nos cursos de ciências naturais das universidades públicas (Biologia, Ecologia,Física, Química etc.) a maior parte dos exemplos de profissionais (role models) que osalunos têm são os próprios professores, muitos acabam achando que a carreiraacadêmica é a única opção para alguém que se forma. Meu bróder, só na Biologiaexistem muitas outras possibilidades. Ninguém é obrigado a ser cientista! Somando aessa cisma o acesso pouco seletivo aos programas de pósgraduação que temos hoje emdia, com ingresso fácil demais nos piores cursos e bolsas garantidas para a maioria dosalunos nos melhores cursos, o resultado é um monte de gente na pósgraduação que nãotem a menor vocação para estar ali. Não quer dizer que essas pessoas não seriam bonsprofissionais em outras carreiras: elas apenas estão vivendo a vida de outra pessoa.

Não adianta querer dar uma de camarada e enganar os aspiras com falsas esperanças,como muitos colegas fazem. Beneficiarse do conhecimento científico é para todos. Masfazer ciência é para poucos. É preciso uma combinação rara de características pessoaispara progredir na carreira acadêmica e se tornar um gerador de conhecimento profissional.No mínimo, você tem que ser curioso, inteligente, criativo, disciplinado e tenaz. Etrabalhar realmente duro. Não estou dizendo que cientistas são pessoas especiais, os“escolhidos”, blablabla. Estou dizendo apenas que, em carreiras altamenteespecializadas, como a ciência, o alto sacerdócio ou a música de câmara, não basta terapenas uma ou algumas das características consideradas necessárias: você tem que tertodas elas, receber treinamento adequado e ainda usar os seus dons de forma inteligente.

Seguir

Seguir

Sobrevivendo na CiênciaBlog com dicas para quem está começando na Ciência

Page 2: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 2/14

Além disso, como nunca me canso de repetir, não há nenhuma outra razão para querer setornar um cientista, além de ser obcecado por perguntas e ter uma fome de conhecimentoinsaciável. Não se iluda: após décadas de investimento na sua formação, sem garantiaalguma e sob enorme pressão, se você arrumar mesmo um emprego estável naAcademia, seja como professor ou pesquisador, a maior parte das recompensas queobterá será puramente intelectual e não financeira ou social. Praticamente ninguém ficarico ou famoso fazendo ciência, ainda mais no Brasil, onde professores, pesquisadores eintelectuais de um modo geral são vistos com pena, desprezo ou ódio.

Assim, a motivação para trilhar o Caminho do Cientista (nerddo, em japonês) deve vir dedentro de você mesmo, aspira. Um estudante acadêmico que precisa de elogios ouchicotadas o tempo todo certamente está tentando a carreira errada. Assim, #fikdik:preste atenção a alguns sinais reveladores. Aqui vou comentar sobre algumasbarbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas sãosinais tão evidentes quanto uma baleia jubarte jogando fliperama no shopping. Se você seidentificar com qualquer um desses sinais, search your feelings e repense as suasescolhas profissionais.

“Eu acho tão chato ter sempre uma pilha de artigos e livros para ler”

Ai, tadinho… Sério, meu bróder? Está fazendo o que na universidade então? Auniversidade é (ou deveria ser) o templo do conhecimento, onde ler é um prazer, um vício,e nunca uma obrigação. Se você só quer saber de ler no “tábleti” e tem preguiça de abrirum livro grande, sem figuras, vá fazer qualquer outra coisa, menos ser pesquisador ouprofessor. Há inúmeras profissões por aí e muitas delas não requerem tanto esforçointelectual quanto na Academia. A sociedade precisa de um pequeno número decientistas, mas de um grande número de profissionais liberais, técnicos e trabalhadoresmanuais bem treinados e bem remunerados. Todos os tipos de profissão são importantes.Se estudar para o resto da vida não é a sua praia, não tenha vergonha disso e parta paraoutro caminho. Só não dê murro em ponta de faca. Se você não tem apetite pela leitura,por que escolheu uma carreira onde esse é o principal pilar?

“Eu adoro fazer estágio no meu lab, mas ando tão sem tempo para as atividadesque o meu orientador inventa”

Que fofo! Você acha que a sua falta de tempo vai melhorar ao longo da carreira? Vocêacha que professores ficam de pernas ao ar, coçando o lattes, enquanto só os alunos,coitados, é que trabalham duro? Ao progredir em cada fase no Caminho do Cientista,mais complicadas as coisas ficarão. Se você achar a graduação pesada demais,certamente vai chorar no mestrado (a pósgraduação é o lugar onde a criança chora e amãe não escuta…). Se você achar o mestrado pesado demais, certamente vai entrar emdepressão no doutorado. Se, mesmo com esse mimimi todo, você conseguir entrar emum doutorado, mas achar esse curso pesado demais, provavelmente não vai conseguiruma vaga de postdoc e a sua carreira estará com os dias contados. O ponto é que, desdecedo, se você não entender que gerenciar bem o seu tempo é fundamental não só notrabalho, mas também na vida de um modo geral, então não vai chegar muito longe na

“Sobrevivendo naCiência”Obtenha todo post novoentregue na sua caixa deentrada.

Junte-se a 1.489 outrosseguidores

Insira seu endereço de email

Cadastreme

Crie um site com WordPress.com

Page 3: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 3/14

Academia. Tempo livre não se pede, não se espera: se inventa na marra. Se vocêrealmente ama a ciência e quer ser um profissional do conhecimento, então vai ter quedar um jeito de arrumar janelas de tempo para o seu estágio, mesmo que a carga de aulasda graduação seja massacrante no Brasil. Se não tem apetite pelo seu estágio, por quenão vai fazer outra coisa?

“Meu orientador vive me enchendo o saco, perguntando se eu já fiz a análise X queele recomendou. Poxa, ele precisa ficar perguntando a mesma coisa a cada seismeses?”

Aspira que só funciona na base do controle remoto está na carreira errada. Ponto. Seuorientador sugeriu X para você fazer na tese? Então faça não apenas X, mas apresente aele 3X na próxima reunião. Não é para impressionálo, mas sim porque você estáapaixonado pelo seu projeto. Orientador não é babá. Orientador não é psicoterapeuta.Orientador não é confessor. Orientador serve para tirar dúvidas, apontar caminhos eensinar habilidades essenciais. Uma vez que o seu orientador te abriu uma determinadaporta, passar por ela e trilhar o caminho apontado cabe única e exclusivamente a você. Atal análise X que ele te pediu certamente é somente a ponta de um iceberg. Descubra otamanho dessa montanha de gelo! Um bom aspira da ciência não precisa andar de mãosdadas: ele tem tanta iniciativa e curiosidade, que caminha sozinho, mesmo que tropecemuitas vezes. Uma das principais coisas que separam quem tem vocação para cientistade quem não a tem é a disposição para trabalhar sempre um pouco mais. Se vocêmesmo não tem apetite pelo seu projeto, por que decidiu desenvolvêlo?

“Estou até agora esperando o meu orientador me explicar uma parada Y. Enquantoeu não receber esse feedback, não saio do lugar”

Opa, peraí! Qual de voces dois já tem o título acadêmico em questão (BSc, MSc, PhDetc.): você ou o seu orientador? Ah, ele, não é mesmo… Então a tese é sua, não dele.Logo, corra atrás! A vontade de responder a pergunta proposta no projeto deve vir devocê. A iniciativa e a empolgação devem vir de você. É você quem deve ficar obcecadopor montar o tal quebracabeças. É você quem deve correr atrás de aprender ashabilidades e conhecimentos de que precisa. Não espere o seu orientador: estude,trabalhe, progrida. Conte com ele para ajudar a focar melhor sua energia. Mas nuncaconte com ele para dar o próximo passo. Se você não tem apetite pelo caminho, por quetrilhálo?

“Nossa, não cumpri uma obrigação Z exigida pelo meu PPG. Tudo bem, pois elestêm que ser compreensivos já que eu não tenho experiência, né?”

Sério que eu preciso explicar isso para adultos? Na cultura brasileira somos tolerantesdemais com vacilões. Deveríamos guardar a nossa compaixão para quem realmente amerece, não a desperdiçando com malandros. Não inverta os valores! Se você ingressouem um determinado programa de pósgraduação, automaticamente fica implícito que vocêaceitou seu estatuto, regimento, normas etc. Te deram um prazo para a qualificação?Cumprao! Te deram um prazo para a defesa da tese? Respeiteo! Estipularam uma

Page 4: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 4/14

qualidade mínima aceitável para uma tese ser aprovada? Superea! Ninguém tem que sercompreensivo: você é que tem que ser responsável e proativo. Quem tem bebê grande éelefante. Se você não tem apetite pelas tarefas inerentes a uma pósgraduação, por quecursála?

Conselho final

Foi você quem escolheu ser cientista, então mexase. Ninguém te deve nada, você não éespecial e o sucesso nasce do trabalho duro.

Sugestões de leitura

O que define um bom cientista?Pense duas vezes antes de virar cientistaPorque os jovens profissionais da geração Y estão infelizesPare de mimimi e vá à luta!A importância da ousadia na carreira científicaA importância da humildade na carreira científica

Fonte

Page 5: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 5/14

27 RESPOSTAS EM “CIENTISTA TEM QUE TER APETITE!”

COMPARTILHE:

Twitter 42 Facebook 10K+ Google LinkedIn 15

Esse post foi publicado em Formação e marcado academia, apetite, atitude, carreira,ciência, comportamento, formação, geração y, graduação, pósgraduação, postura,universidade por Marco. Guardar link permanente[https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/] .

Curtir

15 blogueiros gostam disto.

RELACIONADO

Pense duas vezes antesde virar cientista

O que é uma pósgraduação?

A importância daousadia na carreiracientíficaEm "Academia" Em "Formação"Em "Academia"

Fabrício Motteranem 26/06/2015 às 14:48 disse:

Muito bom!!! Gostei do texto e do ponto de vista!!!Abraços

Patrick Thomazem 26/06/2015 às 21:05 disse:

Mais uma leitura obrigatória aos meus orientandos de IC.Assim como as demais postagens, conteúdo muito bom!

Page 6: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 6/14

Leandro Duarteem 26/06/2015 às 22:12 disse:

Concordo 100%. Síntese fantástica!

AntimidiaBlogem 27/06/2015 às 9:05 disse:

Republicou isso em reblogador.

Erick Ribeiroem 27/06/2015 às 15:42 disse:

Concordo em muitas coisas, inclusive sou orientador eorientando também, mas acho que tem muita gente nauniversidade que está acostumado a meter o pau no trabalho dosoutros muitas vezes esquecendo como foi a sua própria trajetóriae nivelando por cima todo aquele que está na academia. Além dogrande ego que existe por parte de muitos professores, quecompetem entre si e que muitas vezes fazem é desorientar seusalunos. Observamos também as exigências ridículas da Capespor publicações que muitas vezes são motivos de diversasdoenças em professores e alunos. Vejo amigos professores nauniversidade que são retirados de programas de pósgraduaçãopor ausência de publicações em um curto período de tempo sóporque a coordenação do programa está querendo elevar o nívelda capes. Considerando também que quase 100% de estudantesde doutorado adquirem alguma doença ao longo do doutoramentopor stress e pressão e nem sempre por mimimi ou falta deorganização. Isso é preocupante do ponto de vista da carreira deuma pessoa. É preciso também rever esse sistema. Precisamossaber motivar estudantes a pesquisarem e não desistirem desuas carreiras quando percebemos que aquele é o caminho quea pessoa realmente quer. É claro que é preciso deixar visível as

Page 7: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 7/14

exigências que serão feitas ao pesquisador, mas é preciso veros problemas que ainda temos em nosso sistema de ensino, quesofre reclamação de muitos professores. É preciso sempre veros dois lados, por isso gosto do lugar de orientando e orientador.

Marcoem 28/06/2015 às 11:01 disse:

Sim, concordo, tem muito professor ruim por aí e o nossosistema é péssimo. Mas, neste blog, foco nos aspiras,pois é eles que eu quero ajudar, mesmo que seja dandoconselhos duros algumas vezes, como em textos comoeste. O ponto é que eu acredito que burro velho nãoaprende truque novo, ainda mais burro velho que nãopode ser demitido, então cansei de falar sobre essesproblemas com meus colegas professores. Nos aspirasainda tenho esperança, pois são eles que podem pensarfora da caixinha e, quiçá, mudar de forma mais profundaa ciência brasileira nas próximas gerações. Faço a minhaparte aqui no blog, em sala de aula, no lab e noscongressos da vida, e espero, assim, plantar sementes.

Petra Barrosem 29/06/2015 às 13:16 disse:

Perfeita colocação. O ambiente da universidade federalestá cada vez mais nojento, com professores colocandoos nomes dos seus comparsas em artigos e publicaçõesde qualquer espécie só para alongar o Lattes do outro. Onome de fulano está em todos as publicações do ciclanoe vice versa. Uma nojeira incitada pela própria CAPES.Já vi muitos desenvolvendo doenças justamente por nãoconcordarem com esse “way of life”. Saí da vidaacadêmica após meu doutorado muito mais por essanojeira que descobri na universidade que qualquer outromotivo. Não tinha condições psicológicas nenhuma deconviver com pessoas daquele tipo. Existem sim muitosprofessores “cientistas” honestos, mas a maioria ali estápreocupada somente na competição de egos. Um nojo.

Petra Barros

Page 8: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 8/14

em 29/06/2015 às 13:19 disse:

obs.: me referindo a colocação do Erick Ribeiro.

Marcoem 29/06/2015 às 14:06 disse:

Petra, não discordo da sua colocação, apenasnão acho que valha para a maioria. Tem muitagente trabalhando séria na universidade, apesarde o sistema como um todo estar equivocado emvárias coisas. E sujeira, infelizmente, a gente vêpor toda parte. Já trabalhei fora da Academia e ascoisas são até piores no mundo real. O ponto éque convencionouse malhar a Capes e osprofessores, mas há muita coisa errada tambémdo lado dos alunos. Quando escrevo esses textosmais duros é a fim de cachoalhar os aspiras eincentiválos a repensarem coisas que setornaram a normalidade.

Thiago H. G. Da Silvaem 27/06/2015 às 22:34 disse:

Concordo com muita coisa no texto, mas o ser humano (quase)sempre busca o caminho mais fácil, e com aluno não é diferente.Hoje, o que as empresas exigem numa vaga de emprego? E osprogramas de pósgraduação? Qual seria o caminho mais fácil?Muitos processos seletivos de doutorado, por exemplo, exigem aapresentação de um projeto no ato da inscrição, e muitas vezesisso nem é avaliado como deveria e frequentemente é elaboradopelo próprio orientador. Como a habilidade de escrever umprojeto pode ser tão desconsiderada em se tratando de um futurodoutor?É fácil, para um professor, reclamar do aluno mais lento quandoa produção cai, mas eu pergunto: por que o aceitou? Você não é

Page 9: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 9/14

capaz de selecionar um bom candidato?Nós sabemos que o sistema pede por números e bla bla bla,mas o que você, professor, tem feito para mudar esse cenário?Você concordou com essa situação ao aceitar esse tipo dealuno.Enfim, tem muito aluno ruim e muito dinheiro sendo malinvestido, e isso não vai mudar tão cedo. Mas eles estãoocupando o espaço que lhes foi oferecido por vocês.E sim, cientista precisa ter apetite… Mesmo após a mudança debolsa para salário. Apetite para mudar o que está errado. Afinal,reclamar é fácil; até um aluno lento e perdido faz.

Marcoem 28/06/2015 às 10:57 disse:

Thiago, sim, concordo, tem muito professor ruim por aí,que não tem critério para escolher alunos, fica com o labinchado e depois reclama do caos. Na verdade, temmuitos que nem reclamam e nem dão atenção aosalunos: aceitam 30 para ver se, por sorte, 1 ou 2 dãocerto espontaneamente. Mas este blog é focado emajudar os aspiras, não os seniores, porque eu acreditoque burro velho não aprende truque novo, ainda maisburro velho que não pode ser demitido, rs. E, sim, eufaço a minha parte e não fico só reclamando. Basta notarque dedico uma fatia preciosa do meu tempo a escrevereste blog com dicas, dentre várias outras ações paraajudar os aspiras da ciência. Eu mesmo sou criticado pormuitos colegas por ser seletivo demais e ter um grupo depesquisas pequeno para os padrões brasileiros. Epretendo ficar cada vez mais seletivo no futuro. O pontoé: estou disposto a fazer ensino em massa (estoufalando de turmas de 200 alunos, ao estilo de Harvard,se a universidade permitisse) na graduação, que é onderealmente deve haver mais gente na universidade e ondeé aceitável que mais gente esteja perdida, ainda tentandose encontrar profissionalmente. Mas defendo que a pósgraduação deva ser muito mais seletiva. Não tanto comrelação à formação prévia, pois tem muita gente boa quedepende apenas de uma oportunidade para aprender eflorescer, mas com relação ao potencial do aluno eadequação de seu perfil a cada tipo de curso de PG.

Page 10: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 10/14

Izabel Silvaem 28/06/2015 às 8:05 disse:

Onde te encontro para te dar parabéns..??? Adoreei.. e voucompartilharrrr

Marcoem 28/06/2015 às 10:50 disse:

Na UFMG, rs. Obrigado, se quiser aparecer lá, será bemvinda.

Izabel Silvaem 30/06/2015 às 8:32 disse:

Vi algumas de suas publicações agora. Conheciseu texto pelo facebook da Suzana HerculanoHouzel. Marco, trouxe uma luz num momentobem difícil para mim. De repensar o que éorientar, e o que é selecionar um aluno paraorientação. Queria te agradecer enormementepelo convite à reflexão.Posso sugerir alguns tópicos para reflexão?

PS: vi que vc trabalha com sistemas complexose ecologia. num passado muuuito distante fiz amesma coisa, e então, passei a te admirar maisainda, pois de fato isso não é pra qualquer um.

Marcoem 30/06/2015 às 8:37 disse:

Izabel, fico muito feliz em saber que o meu textoatingiu seu objetivo: fazer as pessoas refletiremsobre a carreira. Escrevio em um tom mais ácidodo que o habitual justamente para provocar,incomodar. Nossa carreira é tão corrida ecompetitiva, que muitas vezes a gente ficasobrecarregado e vai na onda, não pensa sobre o

Page 11: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 11/14

sentido maior do que está fazendo. Vejo ummonte de alunos entrando sem pensar na pósgraduação simplesmente porque muitos colegasestão indo ou porque parece a maneira maisrápida de conseguir uma fonte de renda nosprimeiros anos depois de formado. Claro quevocê pode sugerir tópicos, ideias para posts sãosempre muito bemvindas. Muito do que escrevoaqui nasceu a partir de sugestões e conversas.Um abraço.

Izabel Silvaem 30/06/2015 às 10:28 disse:

hehehhe.. assim… ontem fui a uma defesa, efiquei bem impressionada com um monte decelular gravando ate a arguição… eu era dabanca, fiquei um pouco inibida hehehe

Marcoem 30/06/2015 às 10:42 disse:

Olha, confesso que também fico inibido quandoestão gravando áudio ou vídeo em bancas. Achoinvasivo. Vivemos em tempos de paranoia tãogrande com o politicamente correto, que a gentenunca sabe quando alguém vai pinçar e distorceralgo que a gente falou.

Izabel Silvaem 30/06/2015 às 10:29 disse:

(essa era uma sugestão pra reflexão)

Page 12: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 12/14

Lucas Menezesem 29/06/2015 às 3:21 disse:

Primeiramente, ótimo texto e que ele sirva de ajuda para aquelesque estão perdidos por aí. Parabéns.Não sei se fico triste ou feliz agora, mas de qualquer forma,obrigado.Me identifiquei com texto e confesso que a um bom tempo venhome questionando se escolhi ingressar no curso certo. Ao fim daminha vida escolar eu terminei optando pelo curso deBacharelado em Ciências Biológicas por apenas gostar da maiorparte dos assuntos passados em sala de aula. Terminei sendoaprovado no vestibular e estou persistindo no curso há 7períodos, já reprovei algumas matérias e tenho certa dificuldadepara entender vários assuntos de outras, mas por outro lado eugosto do estágio que consegui, gosto de aprender coisas novas.Por fim me pergunto o que eu faria depois da graduação e se eufizesse alguma pós o que eu faria depois? Se hipoteticamente euconseguisse o título de doutor não saberia o que fazerposteriormente e se eu trancasse o curso agora não saberiamuito menos em qual outro ingressar.

Marcoem 30/06/2015 às 15:01 disse:

Lucas, não desanime. Eu escrevi esse texto em um tommais ácido do que o habitual, justamente para provocarvocês, aspiras, fazendoos refletir seriamente. Existemvários motivos para você não estar curtindo o seu curso,dentre eles: (i) Biologia não ser a sua praia, (ii) o cursoem que você está não ser bom por alguma razão(professores, disciplinas, infraestrutura etc.), (iii) o cursoem que você está não ser compatível com o seu perfil.Leve em conta também que o que aprendemos em umestágio, seja em pesquisa, ensino ou extensão, fica bemmais próximo da realidade da profissão do que o queaprendemos em sala de aula. Considere também que aBiologia não é uma coisa única em toda parte e quecursos diferentes podem ter perfis muito diferentes.Casos como o seu podem requerer uma outra soluçãomenos radical do que largar tudo: tentar o mesmo cursoem outra instituição. Já pensou em tentar cursar Biologia

Page 13: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 13/14

em outra universidade ou fazer um estágio longo emoutro país? Leia um outro post sobre intercâmbio.

Vinicius Cerqueiraem 29/06/2015 às 10:04 disse:

Sensacional, Marco. Parabéns e obrigado.

Marcoem 30/06/2015 às 10:43 disse:

Obrigado! E parabéns pelo trabalho e vocês na Bocaina!

Vinícius Giglioem 29/06/2015 às 13:05 disse:

Excelente, Marco!! Hoje em dia é muito fácil conseguir entrarnuma pósgraduação e ficar mamando na teta do governo pordois anos. Muitos alunos desempregados acabam indo pra esselado e se formam mestres e doutores traumatizados com aacadêmia, pois não tinham vocação para isto. Um abraço emuito obrigado pelos ótimos posts.

Fabricio Belgranoem 29/06/2015 às 16:44 disse:

Uma amiga publicou no facebook essa postagem. ACHEISENSACIONAL! Tenho vários amigos que se encaixam nesse

Page 14: Sobrevivendo na Ciência Cientista tem que ter apetite!vania/teaching/INE410111/cientista.pdf · barbaridades que tenho ouvido cada vez com mais frequência entre aspiras. Elas são

09/08/2015 Cientista tem que ter apetite! | Sobrevivendo na Ciência

https://marcoarmello.wordpress.com/2015/06/26/apetite/ 14/14

Os comentários estão desativados.

perfil, e muitos nem se deram conta.Uma pena que iniciativas incríveis como seu blog sejam tãodifíceis de achar… Parabéns!

Fernando Castor (@fernandocastor)em 01/07/2015 às 10:39 disse:

Parabéns pelo texto. Já repassei para meus alunos.

Francisco Severo Netoem 01/07/2015 às 11:52 disse:

Parabéns por mais um excelente texto, Marco, e vai minhaadmiração pelo cuidado e atenção em responder aos diversoscomentários do pessoal. Mto bom mesmo

Edson Meloem 01/07/2015 às 15:20 disse:

gostei muito, procuro refletir se gostaria de fazer carreiraacademica, não espere que as coisas caiam do ceú!