Sobre o Credo

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EDITORA AVE-MARIA

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Explicação do Credo

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  • 5Apresentao

    Aps a homilia na Sagrada Liturgia, rezamos so-lenemente o Credo como profisso de nossa f. Em primeira pessoa, o fiel diz publicamente Creio re-ferindo-se s verdades do cristianismo. Porm, mui-tos no sabem a origem desta magnfica exortao e apenas repetem palavras sem realmente entender o significado de tamanha profundidade espiritual.

    Na tradio da Igreja, o Creio chamado de smbolo da f e resume os dons que Deus ou-torga ao homem como Autor de todo o bem, como Redentor, como Santificador (Catecismo da Igreja Catlica, 14). A palavra smbolo (smbo-lon, em grego), etimologicamente, significava a

  • 6metade de um objeto quebrado que era apresen-tada como sinal de reconhecimento. Em seguida, essa mesma palavra passa a significar coletnea, coleo, sumrio. Por isso que entendemos o Creio como resumo de nossa f, pois exprime o ncleo evanglico da revelao de Deus sobre si mesmo e sobre a criao mediante a encarnao do Filho.

    Ns temos dois smbolos que comumente reza-mos: o Smbolo dos Apstolos, considerado o resumo fiel dos Apstolos; e o Smbolo niceno-constan-tinopolitano, resultado dos dois primeiros Conc-lios Ecumnicos celebrados em Niceia (325) e em Constantinopla (381).

    Nos prximos captulos ser feita uma reflexo sobre o credo dos cristos. Podemos antecipar que, segundo o Catecismo da Igreja Catlica (CIC), crer um ato humano, consciente e livre, que corresponde dignidade da pessoa humana (CIC, 180). Nin-gum forado a crer em uma doutrina ou profes-sar sua f em uma religio. A crena deve brotar espontaneamente no corao dos fiis, e medida que a pessoa amadurece, tambm amadurecem os conceitos da f. Crer aderir a um projeto de vida. Quando professamos nossa f em Deus Pai, Filho e Esprito Santo, afirmamos que o centro de nossa vida est no mistrio de quem nos criou. Assim sendo, ao rezar solenemente o Creio, tanto na missa quan-to em outros momentos devocionais, reconhece-

  • 7mos a forte e amorosa presena de Deus em tudo. Outorgamos-lhe o comando de nossa vida, visto que a iniciativa sempre parte dele.

    Crer compromisso e responsabilidade que no se exprime da boca para fora e sim a partir do in-terior. a orao que brota da verdade e assume a plenitude do encontro com Deus e com sua obra redentora.

    A partir de agora, ao rezarmos o Creio, levemos em considerao que crer significa amar, reconhecer e celebrar a presena de Deus. Significa confiar e entregar o caminho a quem realmente nos salvar. Acolhamos com carinho e respeito o smbolo de nossa f que nos d vida e segurana. Se crer tam-bm sinnimo de confiar, mergulhemos no vasto universo do Criador e deixemo-nos possuir por sua divina vontade. Confiar mais do que um ato vo-luntrio, mais do que tudo abandono. O smbolo de nossa f exprime nosso abandono em Deus e a certeza de que Deus nos quer para Ele.

    Pe. Nilton Csar Boni, cmf

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    Creio em Deus Pai todo-poderoso

    Quem o Deus? Essa a pergunta que todas as religies, e especialmente a nossa, fazem ao tentar entender o caminho da existncia e de todas as coi-sas criadas. Na origem de tudo existe um deus, em-bora muitas correntes cientficas, ateias e filosficas, afirmem o contrrio. Os que esto inseridos em uma religio sempre reconhecero que h um deus que tudo cria e que tudo direciona para si.

    Comeamos a orao smbolo de nossa f afir-mando que cremos em Deus, acreditamos nEle. Antes de tudo, importante esclarecer que para ns cristos esse deus no um ser qualquer, ele no ser tratado aqui no diminutivo e nem com

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    O Creio dos cristos: a profisso de f meditada

    letras minsculas; esse deus tem nome desde os pri-mrdios da Sagrada Escritura. o Deus de Israel, do povo escolhido, o Deus que na sara ardente se apresenta a Moiss como EU SOU AQUELE QUE SOU, e que para o evangelista Joo o amor, Deus amor. o Deus que se revela como o Abba (papai-zinho), tantas vezes invocado por Jesus. o Deus de nossa histria que caminha junto a seus escolhidos.

    Crer em Deus Pai saber olhar para a vastido do universo e reconhecer que existe uma fora, maior do que ns, capaz de tudo criar. Deus Pai que gera os filhos num ato sublime de encontro com a natu-reza. O Pai que, ao ver a terra informe e vazia, no se contenta e explode de amor e luz dando origem beleza como fonte de partilha, em que todos podem contemplar o mistrio de quem no est solitrio em um mundo distante, mas est dentro de cada coisa criada. Dentro do ser mais perfeito que o homem.

    A paternidade de Deus o torna todo-poderoso, pois somente quem capaz de criar do nada, este sim tem o poder nas mos. No como as criaturas que criam a partir do que j existe, da matria pr- -fabricada e que muitas vezes se creem deuses diante de suas invenes. Deus no! Deus, tudo faz a partir do nada e do vazio. Deus, ao arquitetar sua obra, cer-tamente buscou no corao um significado e encon-trou no amor a motivao para no ficar s. O Pai de-sejou ardentemente construir sua histria no para si, mas para os outros. Criar a mais sublime arte do Pai.

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    Creio em Deus Pai todo-poderoso

    O grande artista sabe que sua glria ser contempla-da pelos olhos da f dados a cada uma de suas cria-turas. Esse o poder de Deus: fazer que o enxergue-mos por meio dele mesmo. para ns, sem dvida, o maior desafio, uma vez que estamos imbudos do egosmo e da falta de amor.

    Crer em Deus Pai estar acima dos interesses pessoais. A Deus o louvor, a honra, a glria e to-dos os atributos que Ele merece, pois dele provm a graa de sermos o que somos e pertencermos ao eterno. E crer em Deus como Pai nos reconhecer-mos como filhos dependentes de sua bondade e ao mesmo tempo como servidores de seu reino.

    Eu creio Senhor, mas aumentai minha f!

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    Criador do cu e da terra

    Dentro da tradio da Igreja importante escla-recermos que cu e terra significam tudo aquilo que existe, a criao inteira (CIC, 326). Se Deus todo--poderoso, como lemos no texto anterior, porque Ele criou o cu e a terra (CIC, 269). Nada impossvel para Ele. Com seu consentimento as coisas acontecem e integram-se, sua vontade a Verdade que se encarna.

    A criao o encontro de Deus com o nada que existia, com o vazio e a imensido o encontro do amor com as trevas. realmente um grande e admi-rvel mistrio que est presente no corao humano e estar pelos sculos adiante. Da contemplao do nada, Deus tira a fora para criar, para transformar

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    o que aparentemente no tem forma. A terra e o firmamento que, em sntese, nosso espao e onde podemos nos apoiar surgem de suas mos laborio-sas. A terra nos d segurana e fornece a matria--prima para o Criador nos modelar segundo sua imagem e semelhana; enquanto o cu a realidade divina que nos toca, que nos invade com a sabedoria do Alto para sustentarmos quem somos. Cu e terra sempre estiveram ligados com a origem de tudo, o complemento perfeito da matria com o esprito, do slido com o gasoso, do vento que insufla nas narinas o ar da vida.

    Sempre afirmamos que Deus criou o cu e a ter-ra. Da terra samos e para ela voltamos como p. A terra nos forma e nos consome; d-nos a certeza de que estamos imersos no mundo e nela desenvolve-mos nossa misso. O cu nosso objetivo, a meta de chegada, a concretizao de nossos sonhos.

    sempre na perspectiva da alegria e do amor que Deus tudo cria. Sem esta energia vital no seria possvel a vida, e, ento, tudo o que Deus construiu seria insosso. Sua criao um gesto de amor e ter-nura que nunca aprisiona, e sim liberta. O que nos falta a conscincia de que a criao sempre um bem que transcende o limite de nossa capacidade como filhos que renova nosso entusiasmo em rela-o a Deus. Quando a terra e o cu esto ameaados, o homem enfraquece. A criatura, desconectada do Criador e de sua arte, sente os dramas e as turbu-

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    lncias de uma histria que poderia ter sido bela. Quando agredimos a criao, Deus sofre, mas nosso sofrimento torna-se insuportvel. Quando a nature-za agredida em sua dignidade, o todo lamenta as consequncias. o que vem acontecendo com nosso planeta nos ltimos anos. E ainda nos perguntamos: onde Deus est? Ser que silenciou diante de tan-tas contradies? E ns, onde estamos? O que fa-zemos para perpetuar a criao, uma vez que somos parte dela?

    Ao afirmar que Deus o criador do cu e da terra nos vem a certeza de que tambm somos parte fun-damental de sua arte salvfica. Sendo assim, vivemos no aqui e agora da terra com o corao elevado para onde est a graa.

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    E em Jesus Cristo seu nico Filho Nosso Senhor

    Crer em Jesus! O que isso significa? O Creio pro-fessa a f no Verbo que se fez carne e habitou entre ns. Segundo o prlogo de So Joo (1,1-18), Cristo a Palavra de Deus que assume nossa natureza, vem ao encontro de nossa realidade e conhecendo nossa fragilidade conduz-nos redeno. S um Deus to humano pode nos salvar; s o divino entrando na histria pode nos entender e assim nos conduzir eternidade.

    Jesus Cristo a consumao da obra do Pai, vem para fazer a vontade daquele que o enviou. Com sua vida, paixo, morte e ressurreio inaugura um novo tempo na humanidade; a criao inteira projeta-se

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    no evento Ressurreio e assume o mandamento novo do amor como o autntico caminho da felici-dade. Em Jesus, a histria se completa, pois ele o Filho amado, o centro de nossa f, a razo de nos-sa pregao. Por meio de seu Evangelho instrui os filhos de Deus na esperana escatolgica do reino, apontando sempre para a vida nova que transcende a cruz e os sofrimentos. O maior evento da hist-ria da humanidade chama-se Jesus Cristo. Nenhum outro nome iguala-se a Ele em grandeza e majesta-de. Sua vinda trouxe-nos a reconciliao, a maneira tica e moral de nos relacionarmos com o prximo, a partir da experincia do encontro pessoal que im-pulsiona os coraes a viver a misericrdia e a prti-ca da caridade fraterna.

    Jesus ensina-nos a beleza do mundo com pala-vras simples e essenciais, preocupa-se em devolver ao pecador a dignidade, abre os olhos dos cegos para verem a luz, e aventura-se no calvrio para nos mostrar que o sentido da vida o caminho querido por Deus. Em suas palavras e atos, revela o grande mistrio de um Deus to prximo e ntimo de ns; acaba com a diviso, silencia os poderosos com seu gesto de servio e doao. O olhar de Jesus sobre ns um grande questionamento. Ser cristo segui-lo, ser batizado comprometer-se com Aquele que nos chama a estar com Ele (Mc 3,13). Nossa existn-cia completa-se no seguimento de Cristo, o ungido para anunciar a libertao. Em Cristo somos nova

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    criatura, pois o que era velho j passou, agora segui-mos para o cu na certeza de o encontrarmos.

    Ao professar a f em Jesus como nico Senhor, afirmamos que nada o substitui, Ele e o Pai esto em primeiro lugar em nossa vida, e tudo fazemos para permanecer em seu amor. Crer em Cristo segui-lo por meio da uno do Esprito; unir-se a Ele na busca por um mundo melhor onde a fraternidade e o amor se completam.

    Crer em Jesus Cristo responder mesma per-gunta que Ele fez a Pedro: que dizem os homens que eu sou?; em outras palavras, reconhecer que o Ressusci-tado o Nosso Senhor, pertence a ns e ns pertencemos a Ele. Por isso, reze o Creio com conscincia. Essa orao cotidianamente um maravilhoso encontro com Cristo!