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0 SOBRE O CONTROLO DA QUALIDADE EM TRADUÇÃO: UMA PROPOSTA PARA AS CIÊNCIAS DA SAÚDE Andreia Filipa Ramalho Mendes e Viçoso Ferreira Dissertação de Mestrado em Tradução (Inglês) julho de 2017

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SOBRE O CONTROLO DA QUALIDADE EM TRADUÇÃO:

UMA PROPOSTA PARA AS CIÊNCIAS DA SAÚDE

Andreia Filipa Ramalho Mendes e Viçoso Ferreira

Dissertação de Mestrado em Tradução (Inglês)

julho de 2017

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Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Mestre em Tradução, realizada sob a orientação científica de

Professora Doutora Maria Zulmira Castanheira e Mestre Susana Valdez.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, aos meus pais, por todo o esforço que fizeram para

me ajudarem ao longo do meu percurso académico, em especial no último ano.

À Professora Doutora Maria Zulmira Castanheira e à professora Mestre Susana

Valdez, pela orientação e disponibilidade durante a realização da componente não letiva

do mestrado, de que resulta esta dissertação. A ambas agradeço também os conselhos

e motivação que me deram em alturas cruciais.

À Professora Doutora Gabriela Gândara Terenas, por me ter despertado e

fomentado o gosto pela investigação académica.

Aos restantes professores de Licenciatura e Mestrado, desta e de outras áreas,

que contribuíram para a minha formação académica.

A todos os outros seres e, em especial, aos amigos que me têm motivado, cujos

nomes não menciono, mas que sabem quem são, pelo companheirismo, pelas conversas

animadas, pela troca de ideias e pelo bom humor.

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SOBRE O CONTROLO DA QUALIDADE EM TRADUÇÃO:

UMA PROPOSTA PARA AS CIÊNCIAS DA SAÚDE

ANDREIA FILIPA RAMALHO MENDES E VIÇOSO FERREIRA

RESUMO

As preocupações com a qualidade em tradução têm levado vários autores a investigar sobre este assunto, sobretudo nas décadas recentes. Surgiram, assim, estudos sobre a avaliação, o controlo e a garantia da qualidade da tradução, entre os quais se destaca Juliane House (1997, 1998, 2001, 2009, 2013, 2014, 2015 e 2016; House e Baumgarten 2007), Wioleta Karwacka (2014), Daniel Gouadec (2007 e 2010) e Brian Mossop (1992, 2001, 2007, 2007a, 2011, 2014 e 2015). Apesar de várias obras evidenciarem a necessidade de abordar o controlo da qualidade na tradução, a literatura não é rica em estudos sobre este tópico concretamente para textos das ciências da saúde.

É nesse contexto do estudo da qualidade e da ausência de investigações para o controlo da qualidade de traduções das ciências da saúde que se insere a presente dissertação. Intitulada Sobre o Controlo da Qualidade em Tradução: Uma Proposta para as Ciências da Saúde, visa tratar o controlo da qualidade de traduções desta área, de inglês para português europeu, com base na revisão dos documentos traduzidos. O objetivo é o de propor um padrão de controlo da qualidade baseado na revisão, após a avaliação da aplicabilidade das propostas de Mossop (2014) a traduções das ciências da saúde.

Assim, parte desta dissertação consiste na análise dos conceitos de “tradução médica”, “tradução das ciências da saúde”, “qualidade”, “controlo da qualidade” e “revisão” presentes na literatura consultada, e sua adaptação à presente dissertação. Em seguida, são analisados os documentos dos dois corpora constituídos para a presente dissertação, bem como as propostas de Mossop (2014). Os textos dos corpora pertencem a três tipos textuais, de acordo com a sua função principal: Consentimento Informado, Resumo das Carcaterísticas do Produto e Orientações Clínicas. Em comum têm o facto de se destinarem à boa prática clínica.

A proposta aqui apresentada resultou do estudo destes tipos de texto, podendo estudos posteriores vir a confirmar a sua aplicabilidade a outras tipologias na mesma área.

PALAVRAS-CHAVE: ciências da saúde, qualidade, controlo da qualidade, Brian Mossop, revisão.

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ABSTRACT

Many authors have studied translation quality, especially in recent decades. Therefore, new researches on quality assessment, quality control and quality assurance in translation have emerged. Among those authors are Juliane House (1997, 1998, 2001, 2009, 2013, 2014, 2015 and 2016; House and Baumgarten 2007), Wioleta Karwacka (2014), Daniel Gouadec (2007 and 2010) and Brian Mossop (1992, 2001, 2007, 2007a, 2011, 2014 and 2015). Despite several works evidencing a need for more research on translation quality, very few works about quality in translation of health sciences are available.

In this context, this dissertation, Sobre o Controlo da Qualidade em Tradução: Uma Proposta para as Ciências da Saúde, aims to study the quality control through revision in the translation of health sciences texts from English into European Portuguese. The main objective is to put forward a standard for quality control based on revision, after assessing the applicability of Mossop’s (2014) revision proposal to translations of the health sciences

Thus, much of this research discusses the concepts behind “medical translation”, “translation of health sciences”, “quality”, “quality control” and “revision”. These are present in the bibliography and adapted to this study. After that, I analyse the two corpora collected for the purpose of this dissertation, as well as Mossop’s (2014) proposal. The corpora are composed of three text types, in line with their main function: informed consent, summary of product characteristics and clinical guidelines. These texts have in common the fact that they all aim at the best clinical practice.

The model proposed outcomes from the study on these text types. Its applicability to other text types of the health sciences might be confirmed by further research.

KEYWORDS: health sciences, quality, quality control, Brian Mossop, revision.

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ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS .................................................................. i

ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................................ ii

Introdução .............................................................................................................................. 1

Critérios Metodológicos ......................................................................................................... 4

Capítulo 1 - Os Textos das Ciências da Saúde ....................................................................... 6

1.1 Definições ................................................................................................................... 6

1.2 Tipologia ................................................................................................................... 10

1.3 Características gerais ............................................................................................... 14

1.4 Os textos das ciências da saúde nos Estudos de Tradução .................................... 21

Capítulo 2 - O Conceito de “Qualidade” na Tradução ........................................................ 24

2.1 “Qualidade” nos Estudos de Tradução: notas para o estado da arte .................... 25

2.2 Algumas propostas de definição de “qualidade” ................................................... 29

Capítulo 3 - O Contributo de Brian Mossop para a Qualidade da Tradução ..................... 41

3.1 O conceito de revisão .............................................................................................. 41

3.2 Os parâmetros de revisão propostos por Mossop ................................................. 47

3.2.1 Problemas de transferência ................................................................ 47

3.2.2 Problemas de conteúdo ...................................................................... 50

3.2.3 Problemas de linguagem ..................................................................... 51

3.2.4 Problemas de apresentação ................................................................ 55

3.3 Pressupostos teóricos da revisão na obra de Mossop ........................................... 56

Capítulo 4 – A Aplicabilidade das Propostas de Mossop .................................................... 64

4.1 Características dos textos dos corpora em análise ................................................. 64

4.1.1 Consentimento Informado .................................................................. 64

4.1.2 Resumo das Carcaterísticas do Produto .............................................. 68

4.1.3 Orientações Clínicas ............................................................................ 70

4.2 Avaliação da aplicabiliade ........................................................................................ 73

CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 90

ANEXOS ............................................................................................................................... 108

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Anexo I – Resumos das Características do Produto.................................................... 109

Anexo I (a) – Resumo das Características do Produto Veterinário Apivar

500 mg .................................................................................................................... 109

Anexo I (b) – Resumo das Características do Produto Veterinário

Seremucoli solução oral ......................................................................................... 115

Anexo I (c) – Resumo das Características do Produto para uso humano .. 123

Anexo II – Características gerais dos documentos Consentimento Informado, Resumo das Cracaterísticas do Produto e Orientações Clínicas............................................... 140

Anexo III – Formulário de Consentimento Informado nos termos da norma n.º 5/2013 da Direção-Geral da Saúde .......................................................................................... 141

Anexo IV – Consentimento Informado em linguagem não especializada ................. 143

Anexo IV (a) – Consentimento Informado em linguagem não especializada

– português ............................................................................................................ 143

Anexo IV (b) – Consentimento Informado em linguagem não especializada –

inglês ...................................................................................................................... 149

Anexo V – Modelos de Consentimento Informado para participação em estudo .... 162

Anexo V (a) – Modelo de Consentimento Informado prveniente do

corpus B .................................................................................................................. 162

Anexo V (b) – Modelo de Consentimento Informado proveniente de projeto

de tradução do corpus A ........................................................................................ 163

Anexo VI – Estrutura do Resumo das Características do Produto de acordo com as disposições da EMA ..................................................................................................... 164

Anexo VII – Índices de Orientações Clínicas ................................................................ 165

Anexo VII (a) – Índice das Orientações Clínicas Difficult Intravenous Access,

publicadas pela Emergency Nurses Association .................................................... 165

Anexo VII (b) – Índice das Orientações Clínicas Suicide Risk Assessment,

publicadas pela Emergency Nurses Association .................................................... 166

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS

CEN – Comité Europeu de Normalização

CI – Consentimento Informado

EMA – Agência de Medicamentos Europeia

IMIA – International Medical Interpreters Association (Associação Internacional de

Intérpretes de Medicina)

ISO – Organização Internacional de Normalização

LC – Língua de chegada

LE – Língua de especialidade

LP – Língua de partida

OC – Orientações Clínicas

OMS – Organização Mundial da Saúde

PST – Prestador de serviço de tradução

RCP – Resumo das Carcaterísticas do Produto

TC – Texto de chegada

TP – Texto de partida

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Exemplos de géneros textuais de acordo com a intenção comunicativa geral

do autor. Taduzido e adaptado de Montalt e Davies (2007:58) ……………….. 12

Tabela 2 – Exemplos de géneros textuais de acordo com a função social geral. Traduzido

e adaptado de Montalt e Davies (2007:58) ………………………………………………… 13

Tabela 3 – Questões para a decisão do grau de revisão. Traduzido e adaptado de Mossop

(2014:152-160) ………………………………………………………………………………………….. 62

Tabela 4 – Características a ter em conta pelo tradutor/revisor de acordo com o texto a

trabalhar, no cenário hipotético criado para o presente estudo ………………… 77

Tabela 5 – Grupos de problemas e parâmetros de revisão desenvolvidos por Mossop

(2014:134-149) de acordo com o tipo textual e o cenário proposto …………… 79

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Introdução

A discussão em torno da qualidade da tradução e de diferentes modos de

traduzir foi aberta logo na Antiguidade Clássica. Mas, não foi antes das últimas décadas

do século XX que instituições internacionais, como o Comité Europeu de Normalização

(CEN) e a Organização Internacional de Normalização (ISO), se lançaram na elaboração

de normas com vista à prestação de serviços de qualidade, nomeadamente de tradução.

Segundo Mossop (2001: 6-7), a qualidade é sempre relativa a necessidades

(como a função do texto na cultura de chegada e as motivações que levaram à sua

tradução) e diferentes tarefas exigem diferentes critérios de qualidade, atendendo à

natureza das imposições das mesmas. Com efeito, cada texto cumpre determinada

função no sistema cultural de chegada, fator que deve orientar o tipo de linguagem e de

registo nele contido, bem como aspetos editoriais como o formato do documento. Por

sua vez, Palumbo (2009) distingue uma variação dos parâmetros de qualidade conforme

a tradução seja vista enquanto produto, processo ou serviço, e Gouadec (2010: 270)

define a qualidade do seguinte modo: “Quality in translation is both the quality of an

end-product (the translated material) and the quality of the transaction (the service

provided)”. Desta forma, Gouadec realça como o conceito pode ser visto por prismas

diferentes pelos diversos agentes envolvidos no processo de tradução. Atendendo, pois,

às especificidades dos textos na área da saúde, o controlo de qualidade assume-se como

uma tarefa de suma importância, com vista à promoção da melhor tradução possível de

um texto de partida, não só enquanto resultado de um processo (i. e. produto), mas

também enquanto serviço. Entende-se, aqui, por serviço a verificação das especificações

dadas pelo cliente em termos de função do texto no sistema cultural de chegada e do

cumprimento do prazo acordado, por exemplo.

A pesquisa efetuada até ao momento evidencia uma forte ausência de estudos

sobre o controlo da qualidade de traduções especificamente das ciências da saúde,

contando, designadamente, com pequenas publicações da autoria de Simon Andriesen

(2006 e 2008). A realidade da tradução e revisão de inglês para português europeu conta

com a dissertação de mestrado de Isabel Melo (2015), não obstante dedicar à revisão

apenas uma subsecção que refere a “revisão de inglês por não nativos”.

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Com base neste enquadramento, a presente dissertação tem como objetivo

abordar o controlo da qualidade de traduções das ciências da saúde, mais

especificamente a revisão dos documentos traduzidos, sobretudo avaliar a

aplicabilidade das propostas de revisão de Brian Mossop (2014) a traduções destas

áreas. O controlo da qualidade e a revisão são aqui entendidos como processos durante

os quais o prestador do serviço de tradução deteta e corrige erros antes da entrega do

produto ao cliente.

A fase de revisão da tradução foi relativamente pouco abordada, na literatura

especializada, até aos primeiros anos do novo milénio, altura em que o seu estudo foi

levado a cabo por Mossop em Revising and Editing for Translators (2001, 2007 e 2014),

onde o autor defende que a revisão, o controlo da qualidade e a avaliação da qualidade

são tarefas que confluem para o mesmo fim – a garantia da qualidade.

Para além do interesse e curiosidade pessoal pela área das ciências médicas, as

motivações que conduziram à escolha do tema deste estudo são a ausência de

investigação relacionada com o controlo da qualidade de traduções das ciências da

saúde e com o processo de revisão de traduções desta área. Pretende-se, por isso,

propor um padrão de controlo da qualidade baseado na revisão, o qual possa ser

aplicado a projetos de tradução e revisão de textos das ciências da saúde, ainda que com

adaptações de acordo com as necessidades específicas da tarefa.

A presente dissertação encontra-se organizada em quatro capítulos. No

primeiro, “Os Textos das Ciências da Saúde”, subdividido em quatro secções,

problematiza-se o conceito de “tradução médica” e propõe-se uma definição para a

tradução das ciências da saúde, apresenta-se uma tipologia de textos dessa(s) área(s)

do conhecimento e as características gerais dos documentos usados pelos profissionais

da saúde e analisa-se, ainda que brevemente, o estado atual da investigação acerca dos

textos das ciências da saúde nos Estudos de Tradução.

O segundo capítulo, “O Conceito de “Qualidade” na Tradução”, parte da análise

sumária do estado da arte da “qualidade” nos Estudos de Tradução para a apresentação

crítica de alguns estudos sobre qualidade na tradução, designadamente de autores

como Juliane House, Brian Mossop, Daniel Gouadec e Wioleta Karwacka. O capítulo

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termina com uma proposta de definição do conceito de “qualidade” e de “controlo da

qualidade” adequados à presente dissertação.

O capítulo 3, “O Contributo de Brian Mosop para a Qualidade da Tradução”,

encontra-se dividido em três secções. A primeira trata o conceito de “revisão” nas

normas EN 15038, publicada pelo CEN, e ISO 17100, publicada pela ISO, e em literatura

dedicada ao tema, como as publicações de Künzli, Mossop e Palumbo, delineando uma

definição do conceito de “revisão” e identificando-o com o de “controlo da qualidade”

proposto no capítulo anterior. A segunda secção descreve os doze parâmetros de

revisão propostos por Mossop em Revising and Editing for Translators (2014) e a terceira

expõe as propostas de revisão desenvolvidas pelo autor na mesma obra.

No quarto e último capítulo, “Sobre a Aplicabilidade dos Parâmetros de Revisão

Propostos por Mossop em Traduções das Ciências da Saúde”, são apresentadas as

definições de três tipos textuais (Consentimento Informado, Resumo das Carcaterísticas

do Produto e Orientações Clínicas) e suas características, seguindo-se de uma avaliação

crítica da aplicabilidade das propostas de revisão de Mossop à revisão de textos

traduzidos das ciências da saúde. Nesta fase, cria-se um cenário hipotético de tarefa de

revisão e sugere-se a ampliação do número de parâmetros definidos por Mossop,

acrescentando-se três: “internacionalização”, “registo” e “consistência”.

Tomando a análise das propostas de Mossop e seus resultados como uma

representação de um padrão de controlo de qualidade de traduções das ciências da

saúde apoiado no processo de revisão, espera-se que a presente dissertação contribua

para colmatar a ausência de estudos desse processo, nomeadamente para os textos da

área especializada em questão.

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Critérios Metodológicos

Em termos de bibliografia de base, e no sentido de avaliar a adequabilidade das

propostas de revisão da tradução de Brian Mossop aos textos das ciências da saúde e

criar um padrão de controlo da qualidade para esses textos, houve que ter em atenção,

obviamente, literatura sobre a tradução de textos das ciências da saúde, sobre a

qualidade e sobre a revisão da tradução.

A problematização do conceito de “ciências da saúde” contou com várias obras

das especialidades da medicina, das ciências e da vida, e com a análise de vários planos

de estudos de instituições de ensino superior em Portugal e de dicionários gerais e do

âmbito das ciências da saúde.

A reflexão teórica sobre a qualidade em tradução teve como base a leitura crítica

de literatura sobre o tema, sua avaliação e controlo, de que se destacam autores como

House (1997; 2001; 2009; 2015), Mossop (2007) e Gouadec (2010), a par de estudos

sobre a tradução de textos técnicos e científicos em geral, como os de Byrne (2006;

2012) e Cavaco-Cruz (2012), e da área da saúde em particular, como os de Montalt e

Davies (2007), Montalt (2010) e Karwacka (2014). Foram, ainda, de especial utilidade

documentos produzidos pelo CEN e pela ISO. Em 2006, o CEN publicou a EN 15038 (para

prestação de serviços de tradução). A esta norma, seguiram-se a ISO 17100:2015 (sobre

os requisitos dos serviços de tradução) e a ISO 9001:2008 (sobre as bases de gestão de

qualidade para que um produto final vá de encontro às exigências do cliente e a

regulamentos existentes), publicadas pela ISO. Em janeiro de 2009, a Associação

Internacional de Intérpretes de Medicina (IMIA) publicou, também, um guia para a

tradução médica (IMIA Guide on Medical Translation).

No que respeita a questões de revisão da tradução, a presente dissertação

alicerça-se sobre as referidas normas publicadas pelo CEN e pela ISO e a leitura crítica

de literatura sobre o tópico, sendo essencial a obra de Mossop (2014), já referida em

parágrafo anterior, cujas propostas se centram particularmente nas necessidades de

edição e revisão dos textos traduzidos.

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A propósito dos textos produzidos na área das Ciências da Saúde, estes

pertencem a variados domínios do conhecimento (a título ilustrativo: enfermagem,

farmácia, psiquiatria, psicologia, biologia molecular, genética, veterinária). Além disso,

a variedade da tipologia textual apresenta diferentes complexidades e especificidades

inerentes a cada texto. Entre os exemplos, contam-se documentos destinados à

divulgação de conhecimento no âmbito académico ou profissional, documentos para

uso dos utentes, instruções de uso de instrumentos ou de medicamentos.

Além das leituras bibliográficas que enquadraram a reflexão acerca do tema

selecionado, e tendo em conta tal diversidade e as características próprias destes textos,

bem como a consciência de que cada tradução deve ser adequada à função

desempenhada pelo texto no sistema cultural de chegada, foi organizado um primeiro

corpus composto por textos representativos de três tipologias (Consentimento

Informado, Resumo das Carcaterísticas do Produto e Orientações Clínicas) e que faz

parte de um corpus maior com cerca de 700 mil palavras, a saber English-EU Portuguese

Medical and Biomedical Corpus (Valdez, em preparação). O sub-corpus aqui analisado é

composto por 16 projetos de tradução de inglês para português europeu em contexto

profissional e por documentos provenientes do controlo da qualidade das traduções

respetivas.

Dada a confidencialidade dos documentos do corpus acima descrito e atendendo

a necessidades de demonstração de algumas características dos mesmos, foi criado o

segundo corpus, constituído por 17 documentos, em inglês e em português europeu,

publicados online por entidades como a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS

Norte) e a Emergency Nurses Association (ENA), ilustrativos dos mesmos tipos.

Após a descrição e análise cuidada destes documentos, apresenta-se uma

abordagem crítica às propostas apresentadas por Mossop (2014), apoiada, ainda, na

caracterização dos tipos textuais e das necessidades de revisão das suas traduções, à luz

de um cenário hipotético, com a finalidade de propor um padrão de controlo de

qualidade das traduções de textos das ciências da saúde.

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Capítulo 1 - Os Textos das Ciências da Saúde

O discurso sobre a tradução de documentos do âmbito das áreas da vida, saúde

e medicina tem-se referido a essa especialidade como “tradução médica”. Na literatura

dedicada à tradução regista-se a sua presença frequente, sem distinção entre os vários

saberes que permitem o desenvolvimento e a prática da Medicina.

Este primeiro capítulo da presente dissertação apresenta uma perspetiva crítica

sobre o termo “tradução médica”, no sentido de propor uma definição para a tradução

das ciências da saúde. É apresentada uma tipologia de textos da área e as características

gerais dos documentos usados pelos profissionais da saúde, terminando com uma breve

análise do estado atual da reflexão sobre os textos das ciências da saúde nos Estudos de

Tradução.

1.1 Definições

Um trabalho sobre a tradução de documentos do domínio das ciências da saúde

deve incluir uma clarificação do que se entende por “ciências da saúde”. Julgando pelas

designações presentes em obras especializadas em temas associados a esta área do

conhecimento, pode afirmar-se que a designação terminológica não é unânime,

variando entre “ciências médicas” (medical sciences), “ciências da saúde” (health

sciences) e “ciências da vida” (life sciences). Entre os exemplos de obras de especialidade

que não a tradução que tratam das ciências da saúde e que usam as diferentes

designações para a elas se referirem contam-se Epidemiology. An Introductory Text for

Medical and Other Health Science Students, de David Christie et al. (1997), Medical

Statistics. A Textbook for the Health Sciences, de David Machin et al. (2007), Chemistry.

An Introduction for Medical and Healthcare Sciences, de Alan Jones (2005) ou

Visualization in Medicine and Life Sciences, de Lars Linsen et al. (2008).

A definição de “saúde” proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é a

seguinte: “Health is a state of complete physical, mental and social well-being and not

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merely the absence of disease or infirmity”.1 Nos mesmos termos, o Dicionário de

Ciências da Saúde, da autoria de Ramon Piñeiro Gonzalez et al., assume o conceito de

“saúde” como um “estado em que o ser orgânico exerce normalmente todas as suas

funções (…) de bem-estar óptimo, físico, mental e social, com ausência de doença”

(1997:398).

Neste âmbito, podemos definir as “ciências da saúde” enquanto disciplinas

dedicadas ao estudo e investigação do corpo humano e animal (no caso da medicina

veterinária) e a questões relacionadas com a saúde, bem como à aplicação dos

conhecimentos daí resultantes, no sentido de a melhorar e de prevenir e curar doenças.

De acordo com Katherine Cullen na introdução a Encyclopedia of Life Science

(2009:vii), as “ciências da vida” são aquelas que estudam as células, a hereditariedade

molecular, a evolução biológica, a interdependência dos organismos e a organização dos

organismos vivos e seus comportamentos. Na base de dados multilingue online da União

Europeia (IATE – InterActive Terminology for Europe), a definição do termo em língua

inglesa inclui a medicina e é a seguinte: “any of the branches of natural science dealing

with the structure and behaviour of living organisms; for example, biology, medicine,

anthropology, ecology, and physiology”.

No dicionário de especialidade Stedman’s Medical Dictionary (1995:1074), a

definição do adjetivo “médico” (medical) remete para a prática clínica, a qual depende

da existência de várias disciplinas para estudo do diagnóstico, tratamento e prevenção

de doenças, nomeadamente a anatomia, a biologia e a imunologia. A entrada “Medical

science” no Oxford Online Dictionary identifica as “ciências médicas” como os ramos da

ciência que estudam o diagnóstico, tratamento e prevenção das doenças, como a

anatomia e a imunologia.2

Da análise destas definições, compreende-se que os três ramos da ciência que

nos ocupam – saúde, vida e medicina – apresentam barreiras ténues e não estanques

1 Esta definição, presente na Constitution of the World Health Organization (1946:1) assinada em 22 de julho de 1946 pelos representantes dos Estados da organização, data de 1946. Tendo entrado em vigor em 7 de abril de 1948, não sofreu qualquer alteração até aos dias de hoje. Cf. World Health Organization Interim Commission (1948:100-103). 2 O link http://www.macmillandictionary.com/thesaurus-category/british/branches-of-medical-science, do MacMillan Dictionary, enumera diversos ramos das ciências médicas. Esta lista não está, no entanto, completa, faltando, por exemplo, a medicina veterinária (veterinary science) e a enfermagem (nursery).

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entre si, pois encontram-se interligados: sem o conhecimento proporcionado pelos

estudos das ciências da vida, muitos dos avanços na medicina3 não seriam possíveis e,

sem o recurso a técnicas e especialidades abrangidas pelas ciências da saúde, as

definições de saúde apresentadas não fariam sentido, nomeadamente no que diz

respeito ao bem-estar físico e mental do ser humano.

Em alguma da literatura consultada, de que são exemplo Fischbach (1962, 1986

e 1963), Angelelli (2004), Montalt and Davies (2007) e Montalt (2010), o termo “médico”

é frequentemente aplicado por extensão a outras ciências relacionadas com a saúde que

não somente a medicina, como a biologia. Esta característica também está presente em

dicionários que à medicina se dedicam: por exemplo, no prefácio à primeira edição do

Dicionário Médico (Manuila et al.), onde são designados como principais destinatários

da obra “os estudantes de Medicina, Farmácia, Biologia, e outros cursos correlativos (…)

enfim, todos os elementos do que deve ser a equipa de saúde (…) e muitas outras

categorias de profissionais da saúde” (2004:13); ou na afirmação de J. L. Themudo

Barata em Dicionário Médico para Todos, “A linguagem médica deve ser dominada não

só pelos médicos e estudantes de Medicina, mas também por outros profissionais

ligados à saúde” (2007:12).

Na literatura sobre tradução e interpretação concretamente das áreas da saúde

é, também, comum o uso dos termos “tradução médica” (medical translation) e

“interpretação médica” (medical interpreting)4 para referir a tradução e interpretação

não apenas no âmbito da medicina, mas da saúde, afirmação atestada por Vicent

Montalt (2010) na citação seguinte:

Medical translation refers to a specific type of scientific and technical translation

that focuses on medicine and other fields closely related to health and disease such as

nursery, public health, pharmacology, psychiatry, psychology, molecular biology, genetics

and veterinary sciences. (79)

3 Dos vários ramos da medicina apontados, por exemplo, por Ludmila Manuila et al. (13), destacam-se, neste âmbito, a imunologia, a virologia, a infeciologia, a genética, entre outros. 4 A interpretação médica é definida no Prefácio de Medical Interpreting Standards of Practice (1995:7) nos seguintes termos: “spoken language interpreting in medical settings”. Deste modo, é identificável com o conceito de “tradução médica” apontado na citação anterior.

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9

Aos campos mencionados por Montalt, podem acrescentar-se especialidades

como imunologia, epidemiologia, toxicologia, imagiologia, nutrição, dietética, fisiologia,

anatomia, nos campos da medicina e da saúde, ou biologia e microbiologia, bioquímica,

histologia, genética, nos campos das ciências da saúde e da vida, disciplinas que figuram

em vários curricula académicos portugueses de ensino superior.5

Efetivamente, analisando alguns curricula académicos portugueses nas áreas da

saúde, constata-se a presença simultânea dos termos “ciências da saúde”, ou apenas

“saúde”, e “ciências da vida”, de que são exemplo os planos de estudos da Licenciatura

em Ciências da Saúde pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

(https://ciencias.ulisboa.pt/pt/oferta-formativa/curso/licenciatura/ciencias-da-saude)

e do Mestrado em Tradução Especializada a decorrer na Escola Superior de Saúde da

Universidade de Aveiro (https://www.ua.pt/ensino/course/122), e a presença de

disciplinas consideradas do âmbito das ciências médicas, da saúde e da vida, na

estrutura curricular do Mestrado Integrado em Medicina pela Faculdade de Ciências

Médicas da Universidade Nova de Lisboa

(http://www.fcm.unl.pt/main/alldoc/galeria_imagens/Regulamento_MIM_Agosto201

6.pdf), que apresenta disciplinas como “Tecidos, células e moléculas”, “Nutrição e

Metabolismo” ou “Farmacologia,” entre outras. A oferta ao nível dos cursos nas escolas

de especialização nas áreas da saúde, como, por exemplo, a Escola Superior de Saúde

do Instituto Politécnico de Bragança (http://www.essa.ipb.pt), ou a Escola Superior de

Tecnologia da Saúde de Lisboa (https://www.estesl.ipl.pt/cursos) é, também, indicadora

da diversidade e complementaridade entre ciências da vida, da saúde e da medicina.

Feitas as considerações acima, a designação “ciências da saúde” parece ser mais

abrangente do que “ciências médicas”, por não se reportar apenas à prática da

medicina, mas aos estudos a esta inerentes e a todas as áreas de estudo relacionadas

com a vida, a saúde e a doença. É, por isso, o termo selecionado para a presente

dissertação. Todavia, reconhecendo que o termo maioritariamente empregue na

5 Para uma lista das disciplinas lecionadas nas instituições de ensino superior em Portugal, nas Licenciaturas em Medicina, ver Contente (2008:349-350). Ressalve-se apenas que a informação nela contida data de 2003, pelo que, devido à restruturação de cursos em anos recentes, poderá não se encontrar completamente atualizada.

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10

literatura corresponde a “tradução médica” (medical translation), este será também

usado nas passagens em que a presente dissertação se referir a estudos cujo termo

empregue é esse.6 É o caso da próxima secção deste capítulo, em que serão

apresentadas algumas tipologias de textos na área da saúde propostas pelos autores em

estudo.

1.2 Tipologia

A importância da classificação de textos por tipologias foi afirmada pelos Estudos

de Tradução logo na década de 1970, nomeadamente através do reconhecimento de

que o tradutor deve compreender o funcionamento dos textos7 para que possa

selecionar a(s) estratégia(s) de tradução mais adequada(s) (Gambier 2013:65).8

Os textos das ciências da saúde apresentam uma linguagem aplicada a variadas

situações comunicativas, servindo diferentes propósitos: podem partir de/dirigir-se a

investigadores e profissionais da saúde, a docentes e estudantes da saúde, a utentes, ao

público em geral, cada grupo com um determinado horizonte de expectativa e objetivo

na “aplicação da informação”, na formulação de Montalt e Davies (2007:53). É neste

sentido que se podem admitir duas tendências no plano da partilha de informação,

designáveis, respetivamente, por horizontal, em que o discurso se realiza entre pares, e

6 A este respeito, alerta-se para o facto de termos como “ciências médicas” (medical sciences) ou semelhantes poderem ser usados como sinónimo de “ciências da saúde” (health sciences) na presente dissertação. 7 No verbete de que provém esta informação, Gambier (2013) não explicita o conceito de “funcionamento dos textos”. No presente estudo, entende-se como sendo o modo como o conteúdo, a função e a intenção comunicativa dos textos são percecionados pelos leitores, o uso que deles é feito e o subsequente cumprimento (ou não) da função em ambos os sistemas culturais de partida e de chegada. 8 Montalt e Davies (2007:60) e Reiss e Vermeer (2013:171-180) são exemplos de autores que concordam com a importância do (re)conhecimento dos géneros textuais pelo tradutor na tomada de decisões sobre as estratégias de tradução a adotar, pois tal favorecerá a compreensão do(s) texto(s) de partida (TP), o processo de tradução, a identificação das especificidades interlinguísticas presentes e as possíveis mudanças de género textual. Não cabendo na presente dissertação discutir os conceitos de “género” e “tipo”, os termos adotados serão aqueles usados na literatura respetiva. Tal opção tem em conta as observações de autores como Anna Trosborg (1997:vii) de que o termo “género” é, por vezes, usado em sentido lato para referir variações de registo, ou confundido com tipos retóricos, não distinguindo, por exemplo, textos expositivos, argumentativos ou outros como géneros textuais, e Yves Gambier (2013:64), que afirma que a distinção entre os dois permanece vaga e confusa. Para definições destes termos ver, por exemplo, Bazerman (1998:24), Trosborg (1997, 1997a e 2000), Hurtado Albir (2001:458-506), Montalt and Davies (2007:57), Palumbo (2009:53-54), Reiss and Vermeer (2013:157-161) e Olohan (2016:15-18).

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11

por vertical, quando a comunicação é estabelecida entre indivíduos com diferentes

níveis de conhecimento e especialização, e pode apresentar maior ou menor grau de

formalidade e características linguísticas e formais mais ou menos especializadas.9

Partindo de tais pressupostos, Montalt e Davies (2007:58) exemplificam vários

géneros textuais das ciências da saúde de acordo com 1) a intenção comunicativa, que

pode ser instrutiva, expositiva ou argumentativa e 2) a função social geral, reproduzidos

nas tabelas abaixo.10

Intenção comunicativa geral do autor Exemplos de género textuais

Instrutiva: dar instruções aos leitores para

que procedam a determinadas ações

Orientações Clínicas, folhetos de

informação ao utente, manuais.

Expositiva: fornecer informação aos

leitores

Atlas anatómicos, tratados, artigos de

revisão, relatórios clínicos, primeira parte

de um Consentimento Informado

(informativa).

Argumentativa: convencer os leitores Editoriais médicos, artigos originais,

posters de campanhas médicas.

Tabela 1 – Exemplos de géneros textuais de acordo com a intenção comunicativa geral do autor. Traduzido e adaptado de Montalt e Davies (2007:58).

9 De notar que a literatura especializada consultada sobre os textos em estudo não discrimina estas duas linhas de direção de comunicação, limitando-se à designação dos diferentes tipos de público-leitor. A esse respeito, Montalt e Davies (2007:47) apenas identificam a comunicação entre locutores com diferentes níveis de especialização, adotando os termos top-down e bottom-up, consoante a comunicação parta de um agente mais especializado para outro menos especializado, ou vice-versa. A comunicação entre agentes que pertencem ao mesmo público-leitor é, na sua obra, identificável nomeadamente através do conhecimento das características dos géneros pertencentes a cada categoria textual definida por Montalt e Davies (2007:30-31) e Montalt (2010:81), pelo que no presente texto se optou por criar uma designação própria (“horizontal” e “vertical”) e adequada às direções de comunicação referidas. 10 No que respeita à organização dos textos por géneros, Montalt e Davies (2007:46 e 51) assumem que os textos que partilham a mesma intenção comunicativa e público-leitor e, por isso, características formais tais como estrutura, teor, estilo, terminologia ou fraseologias, pertencem ao mesmo género textual. Em nenhuma passagem os autores explicitam o conceito de “intenção comunicativa” (rhetorical purpose) ou de “função social geral” (overall social function). No entanto, de acordo com os dados disponíveis nas tabelas em que estes termos são empregues, ambos parecem muito próximos, não sendo clara a distinção entre eles.

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12

Função social geral Exemplos de géneros textuais

Prevenir doenças, educar o público em

geral, consciencializar sobre riscos, etc.

Documentos de campanhas

institucionais, tais como comunicados de

imprensa, informações para utentes, etc.

Proceder a ações tais como seguir uma

dieta ou um tratamento…

Dietas, folhetos de informação ao utente,

manuais, etc.

Comunicar novas descobertas a leitores

não especializados

Artigos de jornal, sumários para o utente,

livros para o grande público, manuais

para não especialistas, etc.

Ensinar e aprender a ser um profissional

de saúde

Livros, manuais, enciclopédias, atlas

anatómicos, etc.

Exercer as práticas médicas, implementar

novas técnicas na prática clínica

Históricos dos utentes, guiões de prática,

manuais, etc.

Vender produtos a profissionais Propaganda, panfletos e outros materiais

profissionais

Comunicar novas investigações a públicos

especializados

Artigos originais, artigos de revisão,

editoriais científicos, etc.

Tabela 2 – Exemplos de géneros textuais de acordo com a função social geral.

Traduzido e adaptado de Montalt e Davies (2007:58).

Estas delimitações feitas por Montalt e Davies não são isentas de crítica. Dois

exemplos: o Folheto Informativo, inserido, na primeira tabela, na função comunicativa

“instrutiva” por pretender conduzir o leitor a determinadas ações, também é um

documento expositivo, pois fornece informações; e os manuais, presentes, na segunda

tabela, na função social geral “exercer as práticas médicas…”, têm também em vista a

realização de determinadas ações por parte do leitor (como apresentado na tabela 1).

Estas considerações revelam que os exemplos apontados pelos autores não cabem,

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13

necessariamente, em apenas uma “intenção comunicativa geral do autor” ou “função

social geral”.

Outro autor que investigou sobre a questão da tipologia dos textos nas áreas da

saúde é Henry Fishbach, a quem se deve uma das primeiras publicações dedicadas ao

tema, datada de 1962. O texto inicia-se com uma distinção entre os documentos pela

sua função informativa ou de divulgação e a afirmação de que ambas não são

mutuamente exclusivas (462): um texto pode, ao mesmo tempo, informar e divulgar,

como é o caso dos artigos de especialidade apresentados em conferências, por exemplo.

A este respeito, também se pronunciou Yves Gambier (2013:63), ao afirmar que os

géneros textuais são, muitas vezes, híbridos, podendo servir diversas funções. No que a

estas respeita, Leander Doornekamp (2011:13) conta cinco: informar, instruir,

convencer, ativar e entreter.

De acordo com a função social, Montalt e Davies (2007:30-31) e Montalt

(2010:81) distinguem quatro categorias, de que Csilla Keresztes (2013:538) faz eco, a

saber: investigação, composta pelos textos usados por investigadores e médicos para

apresentar descobertas e discussões (por exemplo, em encontros científicos);

profissional, formada pelos textos usados pelos profissionais da saúde; educacional,

com textos de cariz instrutivo; e comercial, englobando os textos cujo propósito é o da

venda e/ou aquisição de produtos.

Tendo em conta esta categorização, a presente dissertação centra-se

precisamente nos textos da referida categoria profissional em ambos os sistemas

culturais de partida e de chegada para o par de línguas inglês-português europeu.11 Esta

opção foi feita tendo em conta a variedade textual nas ciências da saúde e os limites

impostos a um trabalho académico desta natureza, por um lado, e a variedade

11 O presente estudo segue a categorização quadripartida feita por Montalt and Davies (2007:30-31) e reproduzida por Montalt (2010:81) relativamente à função social. Tal opção deve-se ao facto de serem estes os autores em literatura que exploram o tema da tradução de documentação médica e dos cuidados de saúde abrangendo vários géneros documentais, e de a autora do presente ensaio crer que uma tipologia baseada nos TP é particularmente significativa para os TC no caso de estes manterem, em simultâneo, a intenção comunicativa, a função, o público-leitor e, portanto, o género textual dos primeiros.

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bibliográfica em termos de organização tipológica dos textos,12 por outro. De entre os

géneros mais traduzidos destinados ao uso em contexto profissional, contam-se,

segundo Montalt e Davies (2007:30-31), os seguintes: Orientações Clínicas,

procedimentos operacionais normalizados, resumos das características dos produtos,

consentimentos informados, testes de laboratório, questionários médicos, glossários de

terminologia médica, manuais, guias de manutenção, relatórios anuais, boletins,

relatórios de especialistas, historiais clínicos, classificações de doenças, nomenclaturas,

dicionários médicos, vade-mécuns e interfaces de software.

A próxima secção dedicar-se-á à caracterização dos textos cujos destinatários são

os profissionais da saúde.

1.3 Características gerais

No início da secção anterior, indicou-se que o tradutor deve compreender como

funcionam os textos nas culturas em que se inserem, no sentido de usar estratégias de

tradução adequadas à tarefa que tem em mãos (Gambier 2013:65). Assim se

compreende, pois, que o conhecimento das características textuais de cada género é de

grande importância para o trabalho do tradutor: funciona como guia de orientação no

processo de tradução e na tomada de decisões, nomeadamente através da

compreensão da(s) função(ões) do texto, da possibilidade de antecipação das pesquisas

necessárias e do reconhecimento de possíveis diferenças na forma como os textos são

concretizados nas culturas de partida e de chegada.

12 De entre os exemplos, contam-se a abordagem funcionalista de Katharina Reiss (1977/89), que apresenta uma tipologia orientada para os textos traduzidos, com base em três categorias, informativa, expressiva e operativa, apresentada por Jeremy Munday em Introducing Translation Studies. Theories and Applications (2008:72-74); Juliane House, que publicou, em Translation Quality Assessment: A Model Revisited, um esquema para análise e comparação dos textos de partida e de chegada com base na correlação entre as características textuais e linguísticas de ambos e as características situacionais (66-71); Anna Trosborg, que relaciona as estratégicas retóricas que determinam os tipos de texto com a intenção comunicativa (1997a) e defende que o género textual é indicado pela função do texto (2000:vii); Christiane Nord (1997), que atribui maior relevância ao processo de tradução, baseando a organização de uma tipologia na função do texto de chegada (TC) no sistema cultural respetivo e na relação entre o trabalho do tradutor e os restantes agentes do processo de tradução. Em “Towards a Typology of Translations”, Ronda P. Roberts expõe alguns critérios de organização tipológica (ex. função do texto de partida, grau de especialização no texto de partida, propósito da tradução, estilo do texto de partida, conteúdo, entre outros). Para outros exemplos de organização tipológica, ver Roberts (1995) e bibliografia presente em Gambier (2013:68-69).

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15

Um estudo dedicado aos textos das ciências da saúde não significa que trate

apenas de documentos altamente especializados e de características padronizadas, com

terminologia, sintaxe e registo específicos. Em rigor, as características textuais tendem

a adaptar-se a circunstâncias como os diferentes tipos de público-leitor a que os

documentos se destinam ou as convenções do género a que pertencem. Por isso, no que

diz respeito à linguagem dos textos médicos, Montalt e Davies afirmam o seguinte:

(…) medical language has been regarded (…) as (…) objective, neutral and non-

rhetorical, whose only function was to transmit information, a so-called ‘referential’

function. In this traditional, received image of medical language, words and texts are

detached from society and from the individual. (…) they contain no cultural or ideological

references, and have a uniform and impersonal style. Furthermore, each concept is

represented by one – and only one – term, (…) and concepts are precise and remain stable

and unchanging over time. (2007:50)

A afirmação que os autores em causa fazem a respeito desta visão tradicional

sugere que a linguagem médica merecia, à data do texto citado, maior atenção da parte

dos Estudos de Tradução. Na realidade, da literatura consultada para elaboração da

presente dissertação entende-se que as publicações se centravam, muitas vezes, em

investigações de caráter linguístico, nomeadamente terminológico, ou do âmbito dos

problemas colocados pelos textos em estudo ao tradutor.13 Contudo, trata-se de uma

literatura que, por ser selecionada, impõe limites à concordância com os autores em

questão.

Contrariamente a esta visão apresentada por Montalt and Davies, a linguagem

dos textos em questão parece ser adaptada à função do texto no respetivo sistema

cultural, discernindo-se uma variedade de estilos retóricos e registando-se o recurso a

metáforas, a termos e conceitos sinónimos, polissémicos e homónimos, a neologismos,

13 Esta informação é corroborada pelas publicações de Contente (2008), Fischbach (1962 e 1986), Maglie (2009), Pedersen e Halliday (2009), Pilegaard (1997), Reeves (2005), Vandaele (2002) e Vihla (1999). Em Portugal, os aspetos culturais e terminológicos da linguagem médica foram abordados na tese de doutoramento de Contente (2008). Acrescenta-se, ainda, que em Portugal, segundo o Registo Nacional de Teses de Doutoramento em Curso da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, a única tese de doutoramento em curso sobre tradução na área das ciências da saúde é a de Valdez, não existindo nenhuma outra defendida em Portugal na área, segundo o RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal.

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16

e onde são visíveis referentes culturais e ideológicos (por exemplo, em graus de

formalidade ou na escolha de palavras ou expressões, sobretudo quando a comunicação

é dirigida a leigos). Comprova-o a caracterização da linguagem usada nos artigos

médicos (inseridos na categoria da investigação, de acordo com Montalt e Davies

(2007:30)) em língua inglesa feita por Pedersen and Halliday (2009:24-34), que vai de

encontro ao afirmado neste parágrafo.

Uma análise de alguns textos da categoria profissional, tal como definidos por

Montalt e Davies (2007:30) e Montalt (2010:81), também permite justificar essa

afirmação. São textos destinados ao auxílio do exercício das práticas dos profissionais

da saúde, mas que nem sempre a eles se dirigem em primeiro lugar, pelo que podem

conter termos leigos a par dos termos de especialidade14. É o caso do Consentimento

Informado, através do qual o utente, ou seu responsável ou familiar, toma

conhecimento de tratamentos ou de ensaios clínicos a realizar e expressa a sua vontade

(ou não) de colaborar e, por conseguinte, a sua corresponsabilização no tratamento.

No que à terminologia diz respeito, o cenário a que os autores se referem

coaduna-se com a distinção, também tradicional, comummente feita entre língua de

especialidade (LE), caracterizada pela precisão, univocidade denominativa, economia e

relação matéria/objeto, e língua corrente (LCor), caracterizada pela polissemia,

ambiguidade, redundância, multiplicidade situacional e temática (Contente 2008:33).

De um modo geral, os documentos em causa podem ser caracterizados pelo uso

de uma linguagem mais ou menos especializada, conforme o tipo textual a que

pertencem, o público a que se dirigem e a função do texto. Salientam-se os seguintes

aspetos:15

14 Entendendo como “língua de especialidade” um “conjunto de meios linguísticos utilizados numa situação de comunicação de uma determinada especialidade a fim de assegurar a comunicação entre os seus pares” (Contente 208:33), o conceito de “termo de especialidade” remete para uma unidade linguística que nomeia um conceito pertencente a determinada área do saber e que permite a comunicação entre especialistas dessa mesma área. 15 A caracterização apresentada tem por base as publicações de Wakabayashi (1996), Vandaele (2001), Reeves (2005), Taylor (2005), Berghammer (2006), Contente (2008), Henderson e Dorsey (2008), Moglie (2009), Quérin (2011) e Crezee (2013).

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17

presença de termos de especialidade16 formados por:

aglomerados de raízes e afixos de origem greco-latina, combinados de forma a

constituir um termo mais ou menos complexo,17 numa lógica de formações

específicas (Barata 2007:37 e Taibo 2004:1),18 que indicam partes do corpo,

substâncias, coloração, posições, órgãos, processos biológicos, quantidades, entre

outros, bastando, muitas vezes, que se conheça a sua origem para os

compreender;19

designações em língua vernácula, nomeadamente inglesa (ex. screening, bypass,

pacemaker, stress);20

hibridismos, através da junção de elementos pertencentes a línguas diferentes (ex.

bio + feedback = biofeedback), podendo ocorrer termos exclusivamente derivados

das raízes greco-latinas (ex. mammo, do latim + graphein, do grego = mamografia);

16 Em Terminocriatividade, Sinonímia e Equivalência Interlinguística em Medicina, Maria Madalena Contente (2008:162-173) expõe vários processos de formação terminológica na linguagem médica, pelo que se remete desde já o leitor para a referida obra. 17 Um termo será tanto mais complexo quanto o número de morfemas por que é constituído. 18 Em Introduction to Healthcare for Interpreters and Translators (35), Ineke Crezee apresenta uma lista de combinações comuns, a saber: raiz + raiz; raiz + sufixo; prefixo + raiz + sufixo; raiz + vogal de ligação + raiz. 19 É pertinente a defesa de Wakabayashi (1996:359) relativamente à não-linearidade desta afirmação de Barata (2007:37): “(…) the meaning of a term does not always reflect the exact meaning of the individual components, so that such analysis is not always infallible. For example, “neuritis” does not mean “inflammation of the nerve” (…) but a “condition of the nerve”. Contudo, mais do que analisar os problemas levantados pela literatura, importa, neste ponto, definir as características gerais dos textos profissionais definidos por Montalt and Davies (2007:30-31) e Montalt (2010:81). Sobre o processo de formação de termos de raiz greco-latina, ver Contente (2008:165). Sobre a variação ortográfica no emprego de termos de origem greco-latina, ver Quérin (2001) e Berghammer (2006). 20 Nas últimas quatro décadas, a língua inglesa tem tido um papel dominante na comunicação do conhecimento científico e técnico, graças aos avanços da ciência computacional e da tecnologia, nomeadamente médica (McMorrow 1998:13). A comunicação frequente entre especialistas das ciências da saúde, bem como o número de publicações em inglês facilitam as situações de contacto entre diferentes sistemas linguísticos, provocando a permanente atualização das redes terminológicas e conceptuais, de que resultam, muitas vezes, empréstimos interlinguísticos. Tais empréstimos não se limitam às línguas correntes, ocorrendo também entre línguas de especialidade: o termo “rato” (mouse) foi emprestado da língua corrente à língua da especialidade da informática. Como empréstimo entre línguas de especialidade, exemplifica-se o termo “vírus” (virus), usado em ciências da saúde e em informática. Por outro lado, a importação de termos de origem estrangeira é contornada pelo que, em linguística, se denomina “decalque”, correspondendo as unidades terminológicas basicamente à tradução do(s) vocábulo(s) estrangeiro(s) importado(s) (ex. velocidade de deslocação (PT) corresponde a shear rate (EN)). Sobre a supremacia do inglês na comunicação médica destinada aos profissionais, ver Ruiz Rosendo (2008) e respetiva bibliografia.

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coocorrência de termos em mais de uma língua, materializada na presença de dois

ou mais termos em línguas diferentes (ex. úlcera de stress), na sequência de termos

correspondentes em línguas diferentes (ex. fração de ejeção / ventricular ejection

fraction), ou em sequências do tipo termo + sigla ou acrónimo de outra língua (ex.

volume endodiastólico (EDV)), entre outros;

epónimos, para designar novas descobertas, teorias, procedimentos ou outros (ex.

doença de Alzheimer).

neologismos, justificados perante os avanços do conhecimento científico, para sua

comunicação e divulgação, podendo ser:

terminológicos, quando é criado um termo para designar um conceito;

conceptuais, quando é atribuído um novo conceito a um termo já existente;

terminológicos e conceptuais, quando ao novo termo corresponde um novo

conceito.

A formação de unidades especializadas do discurso tanto através da neologia

como dos processos acima descritos permite admitir que a linguagem das ciências da

saúde não é estática nem universal.21

abreviaturas

siglas e acrónimos, unidades que, pela possibilidade de falta de internacionalização,

podem comportar problemas de interpretação e compreensão para o leitor e o

tradutor (Ruíz Rosendo 2008:237-238);22

21 A respeito da variação de termos que designam o mesmo conceito, tanto ao nível internacional como nacional, Contente (2008:250) dá o exemplo do termo “polineuropatia amiloidótica familiar”, que encontra equivalente português em “doença de Corino de Andrade”, “doença de Corino” ou “doença dos pezinhos”, entre outras designações possíveis, afirmando que “cada especialista emissor de um enunciado de especialidade adopta a terminologia que considera mais adequada” (206). Pedersen and Halliday (34) também exemplificam a não-uniformidade da terminologia nas ciências da saúde com os termos ingleses finger (dedo da mão) e toe (dedo do pé), a que corresponde o português “dedo”, especificando, nos casos necessários, se da mão ou do pé. 22 Na tentativa de fazer frente ao caos terminológico que se pode instaurar pelo uso de sinónimos, epónimos, siglas e acrónimos nos textos das ciências da saúde, várias instituições têm organizado nomenclaturas e classificações tendencialmente universais – outro elemento característico da linguagem nas ciências da saúde. É o caso da lista de Denominações Comuns Internacionais da OMS, da Classificação Internacional de Doenças (CID), da Nomenclatura Sistematizada de Medicina, da International Nomina Anatomica (INA) ou do Medical Dictionary for Regulatory Activities (MedDRA), entre outros.

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false friends, termos que, pela sua sonoridade, podem parecer o mesmo nas línguas

de partida e de chegada, mas que, na realidade, têm sentidos diferentes.23

No plano da construção frásica24, podem assinalar-se:

fraseologias, sequências fixas de palavras, de uso estandardizado, com ocorrência

marcada em documentos de características padronizadas, nomeadamente em

títulos de secções, como nos Resumos das Carcaterísticas do Produto (RCP)25 (ex.

Conservar na embalagem de origem para proteger da luz e da humidade26);

metáforas, recurso estilístico que serve para facilitar a compreensão e interpretação

do leitor relativamente ao conceito que se pretende demonstrar.27

omissão de elementos frásicos (ex. root nodule bacteria em vez de bacteria to be

found in root nodules);

substituição de orações relativas (ex. crisis intervention techniques em vez de

techniques which are used for intervening in a crisis).28

nominalizações, recurso através do qual se dá preferência ao uso de substantivos no

lugar de verbos (ex. diagnosis em vez de to diagnose);

compostos nominais, materializados em sequências de substantivos (ex. functional

insertion and deletion polymorphism);

23 Por exemplo, em medicina e farmácia, o termo inglês drug encontra geralmente equivalente no português “medicamento” e não “droga”. 24 Os exemplos dados no presente texto têm como fonte a publicação de Maglie (2009:29-41), Understanding the Language of Medicine, à exceção das fraseologias, por não serem mencionadas pela autora. A opção por exemplos em língua inglesa justifica-se por se pretender a elaboração de um padrão de sistema de controlo de qualidade das traduções dessa língua para o português europeu. Apesar de o tradutor dever compreender os textos no sistema cultural de chegada, a descodificação de todos os elementos do texto de partida adquire suma importância na tradução das ciências da saúde. 25 Ver anexo I, “Resumos das Carcaterísticas do Produto” (páginas 109-139). 26 Este é apenas um exemplo de fraseologia, que pode variar em construções do tipo Manter o contentor dentro da sua embalagem exterior ou Conservar à temperatura ambiente, em embalagem hermeticamente fechada… (ver anexo I, “Resumos das Carcaterísticas do Produto” (páginas 109-139). 27 Tanto as metáforas como os empréstimos de língua corrente às línguas de especialidade podem constituir um desafio para o tradutor, que deve saber distinguir o sentido em que os mesmos são empregues nos textos. Alguns exemplos do uso de metáforas nos textos médicos são dados por Montalt and Davies (2007:111). Sobre o uso de metáforas em textos de especialidade, ver Reeves (2005:21-36). 28 Tanto a omissão de elementos frásicos como a substituição de orações relativas demonstram a intenção de comprimir as frases sem prejudicar a sua compreensão por parte do recetor da mensagem.

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20

densidade lexical e complexidade frásica, com frases ricas em termos especializados

e relativamente longas;

frases na voz passiva (ex. The system is composed of…);29

conjunções (ex. However, when these three standard drugs…);

referências anafóricas (ex. In the section 21 thereof).30

Ao exporem e defenderem a sua visão da linguagem médica, Montalt e Davies

(2007) destacam a presença de polissemia, sinonímia e variação conceptual. Com efeito,

para além dos possíveis problemas causados pelo recurso a empréstimos de língua

corrente à língua de especialidade, a abreviaturas e a metáforas, ou pela própria

construção frásica, aquelas características terminológicas existem nos textos das

ciências da saúde e podem constituir constrangimentos no trabalho do tradutor.

À partida, nos textos da categoria profissional os termos são usados com sentido

denotativo, isto é, contêm um sentido preciso. Assim, o emprego do termo “cérebro”

referir-se-á, única e exclusivamente, ao órgão que se encontra dentro da caixa craniana,

enquanto em linguagem comum a mesma palavra admite outras interpretações. Por

outro lado, a neologia terminológica pode conter implicações na interpretação dos

textos, nomeadamente nos casos em que ao novo termo não corresponde um novo

conceito.31

De acordo com o que Montalt e Davies (2008:61-88) consideram ser tipos de

texto de produção comum dentro da categoria profissional, e no sentido de demonstrar

a variedade de aspetos linguísticos e formais que estes textos podem apresentar, foram

selecionados e caracterizados três géneros textuais, a saber: Consentimento Informado,

29 Segundo Taylor (2005:39-42), tal tendência vai sendo contrariada pelo uso cada vez mais recorrente de frases na voz ativa. Nesta realidade, o autor identifica a preferência do uso da passiva nos casos em que o agente é menos importante que o afetado pela ação (43). 30 Tanto o uso de conjunções como de referências anafóricas servem o propósito da coesão textual, remetendo para outras partes do texto ou para sujeitos já mencionados ou a mencionar. 31 A respeito da sinonímia nos textos médicos, ver Vandaele (2001). Sobre sinonímia, homonímia e polissemia, ver Contente (2008), com especial atenção ao cap. 8, “Sinonímia Terminológica – Análise Contrastiva” (181-238) e ao cap. 9, “Equivalência Interlinguística” (239-270).

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21

Resumo das Carcaterísticas do Produto, e Orientações Clínicas.32 Tal caracterização foi

feita a partir de dados disponíveis na literatura consultada e na análise dos corpora de

estudo, de que resultou a tabela correspondente ao anexo II, “Características gerais dos

documentos Consentimento Informado, Resumo das Carcaterísticas do Produto e

Orientações Clínicas” (página 140), da presente dissertação.

1.4 Os textos das ciências da saúde nos Estudos de Tradução

Na secção anterior foram expostas algumas das características gerais dos textos

da categoria profissional das ciências da saúde. Os próximos parágrafos pretendem

resumir o que tem sido escrito a propósito da tradução nestas áreas.

No verbete “Medical translation and interpreting”, Montalt (2010:82) apresenta

um breve apanhado da produção literária recente sobre a tradução de documentos

médicos, retomado e ampliado nas linhas abaixo.

As palavras de Montalt (2010:82) sobre a história da tradução médica ilustram a

situação, ainda atual, dos estudos sobre tradução das ciências da saúde: “Research into

the history of medical translation is still in its infancy”. Não obstante, a pesquisa

bibliográfica na base de dados Translation Studies Bibliography demonstra que, nos

últimos anos, tem havido um aumento do número de publicações sobre a tradução

nesta área.33

32 A opção por estes géneros não é, portanto, aleatória. Além da justificação apontada, esta escolha baseou-se na falta de informação sobre os textos das ciências da saúde mais traduzidos para português europeu, uma vez que os resultados de um potencial inquérito a empresas de tradução sediadas em Portugal e dedicadas à tradução de textos técnicos e científicos seriam apenas ilustrativos. 33 Esta pesquisa foi levada a cabo em dezembro de 2016 pela autora da presente dissertação. Os dados registados são os que se seguem. A pesquisa por “palavra-chave” medical forneceu um total de 464 registos, o primeiro dos quais data de 1977 e o último de 2016. Entre 1977 e 2010 (data da publicação de Montalt), 346 entradas, o que perfaz um total de c. 10 (aproximado à unidade) publicações por ano. Entre 2010 e 2016, o número de entradas é 118, dando um total de c. 20 (aproximado à unidade) publicações por ano. Reconhece-se, no entanto, que estes dados são ilustrativos, por nem todas as publicações se encontrarem representadas nesta base de dados. Citam-se as publicações de Andriesen (2006), Fischbach (1986 e 1993), International Medical Interpreters Association & Education Development Center (1996) e Doornekamp (2011), que são apenas alguns exemplos.

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22

Em primeiro lugar, destaca-se Fischbach, que tratou a história da tradução

médica desde a Antiguidade (1993) e os problemas colocados durante o processo

tradutório (1962 e 1986).

Wakabayashi (1996), Montalt e Davies (2007) e Doornekamp (2011)

debruçaram-se sobre a didática da tradução médica, salientando-se, por um lado,

Montalt e Davies, por serem os autores da única obra até hoje inteiramente dedicada

ao ensino da tradução destes textos, ainda que fornecendo apenas diretrizes gerais sem

terem em conta a multiplicidade de públicos-leitores e as diferentes abordagens que

cada um requer na tradução e, por outro, Doornekamp, por procurar colmatar esta

falha, ao aplicar linhas de orientação gerais à tradução de textos das ciências da saúde

de acordo com três tipos de público-leitor: leigo, estudantil e profissional.

Sobre os aspetos culturais e linguísticos da comunicação (leia-se tradução e

interpretação) médica, são de mencionar os trabalhos de Pilegaard (1997), Angelelli

(2004) Felberg e Skaaden (2012) e Crezee (2013).

A literatura é especialmente profícua em informação sobre textos altamente

especializados das áreas médicas e dos cuidados de saúde, sua terminologia e expressão

linguística, nomeadamente relacionadas com o conceito de “equivalência” e assumindo,

muitas vezes, um caráter prescritivo ao nível da tradução (Montalt 2010:79 e 81). São

de mencionar os trabalhos de Vihla (1999) a respeito do uso de verbos modais nestes

documentos, de Vandaele (2002) e de Reeves (2005) sobre o uso de metáforas no

discurso médico, de Maglie (2009) sobre as características linguísticas gerais dos textos,

e de Contente (2008) sobre os aspetos terminológicos e conceptuais da linguagem

médica, entre outros. Ainda que não tão recente, é de referir, também, o primeiro

número do volume 31 da revista de tradução Meta (março de 1986), inteiramente

dedicado à tradução e terminologia médicas.

Montalt (2010:82) também dá indicação da existência de publicações recentes

relativas a certos aspetos de alguns géneros textuais da área em estudo, embora não

nomeie qualquer um. Contudo, das pesquisas realizadas para a presente dissertação,

podem enumerar-se a dissertação de Pedersen e Halliday (2009), a tese de

doutoramento de Jensen (2013) e o artigo de Keresztes (2013).

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23

A par das publicações exclusivamente sobre tradução médica, surgem algumas

menções em obras mais gerais, nomeadamente a propósito da discussão sobre a

distinção entre tradução técnica e/ou tradução científica. A este respeito, são vários os

autores que advogam que a linguagem médica é científica e que a tradução destes

documentos tende a ser mais científica do que técnica.34

De especial relevância para a presente dissertação são as publicações relativas à

avaliação e ao controlo de qualidade, com destaque para Juliane House (1997, 2001,

2015), Daniel Gouadec (2010) e Mossop (2014), ainda que nenhum destes autores trate

concretamente textos das ciências da saúde, domínio em relação ao qual a literatura

demonstra ser, face a este aspeto e de acordo com a investigação levada a cabo à

presente data, escassa, contando apenas com curtas publicações como a de Grunwald

et al. (2006), as de Andriesen (2006 e 2008) e a de Karwacka (2014).

Apresentado o conceito da tradução de textos das ciências da saúde, definido e

caracterizado, em termos linguísticos gerais, o conjunto de documentos a tratar e

descrito, ainda que de forma resumida, o panorama da investigação sobre os textos das

ciências da saúde nos Estudos de Tradução, segue-se a apresentação e problematização

de outro conceito importante para o presente estudo: “qualidade” na tradução.

34 De entre a literatura, destacam-se Newmark (1979), Fischbach (1998:1), Reeves (2005), Pedersen e Hallliday (2009:35-37). Não sendo objetivo da presente dissertação analisar os conceitos de tradução científica e tradução técnica propostos pelos vários autores da bibliografia, remete-se o leitor para algumas publicações: Byrne (2006:3-6), Gouadec (2007:24-54), Olohan (2008 e 2016), Montalt (2010:79), Wright (2011) e Cavaco-Cruz (2012:3-40).

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24

Capítulo 2 - O Conceito de “Qualidade” na Tradução

A globalização e o crescente volume de traduções feitas a nível mundial têm

implicado o desenvolvimento de normas elaboradas por órgãos internacionais que

visam regulamentar a qualidade dos serviços de tradução.

Desta forma surgiram a EN 15038:2006 Translation Services – Requirements,35

primeira norma europeia para prestação de serviços de tradução, publicada pelo Comité

Europeu de Normalização (CEN), a ISO 17100:2015 Translation Services – Requirements

for Translation Services,36 norma internacional sobre os requisitos dos serviços de

tradução, que veio substituir a EN 15038, e a ISO 9001:2000 Quality Management

Systems – Requirements.37 A última estabelece as bases de gestão da qualidade para

que um produto final vá de encontro às exigências do cliente e a regulamentos

existentes (como a ISO 17100:2015 ou outros adotados por cada instituição). As normas

ISO foram publicadas pela Organização Internacional de Normalização (ISO). As duas

instituições (CEN e ISO) são responsáveis pela padronização dos requisitos de qualidade

nas traduções a um nível geral.

Em particular para a tradução das ciências da saúde, destaca-se o IMIA Guide on

Medical Translation, que aborda a gestão da tradução e estabelece linhas orientadoras

do controlo da qualidade da tradução em jeito de “Perguntas Frequentes”, publicado

em janeiro de 2009 pela International Medical Interpreters Association (IMIA)38

(Associação Internacional de Intérpretes de Medicina).

35 A referência portuguesa é Serviços de tradução – Requisitos. 36 A referência portuguesa é Serviços de tradução – Requisitos para os Serviços de Tradução. 37 A referência portuguesa é Sistemas de Gestão da Qualidade – Requisitos. Esta norma foi revista e substituída pela ISO 9001:2008 Quality Management Systems – Requirements, por sua vez revista e substituída pela ISO 9001:2015 Quality Management Systems – Requirements. As três especificam os requisitos para um sistema de gestão da qualidade com o foco no cliente, tendo por objetivo ir de encontro às suas exigências, assim aumentando a sua satisfação, através do cumprimento das especificações dos sistemas de gestão de qualidade. Contrariamente à EN 15038:2006 e à ISO 17100:2015, certificam sistemas de gestão no geral e não a prestação de serviços de tradução. De notar que as normas referidas não se focam na normalização da qualidade, mas nos procedimentos a ter em conta para essa normalização, com vista à prestação de serviços de qualidade. 38 Sobre este documento, fica a ressalva de que é direcionado para a realidade da tradução de documentação médica para o inglês norte-americano (EN-US) nos Estados Unidos da América.

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25

Tendo em conta as normas acima indicadas e a literatura consultada, o objetivo

do presente capítulo é o de fornecer algumas indicações relativamente aos estudos

sobre a qualidade na tradução e examinar algumas propostas de definição de

“qualidade”. Para tal, de entre as obras dedicadas ao tópico, selecionam-se nomes

relevantes como Juliane House, Brian Mossop, Daniel Gouadec e Wioleta Karwacka, a

partir dos quais se procurará definir um conceito de “qualidade” e de “controlo da

qualidade” adequado à presente dissertação.

2.1 “Qualidade” nos Estudos de Tradução: notas para o estado da

arte

O discurso teórico em torno dos modos de traduzir, que trouxe consigo a

avaliação qualitativa da tradução literária, remonta já ao período clássico da história.39

No que toca à qualidade da tradução no geral, a discussão foi aberta de forma alargada

num simpósio internacional sobre o tema no ano de 1959, em Paris (Williams 2001:327).

As preocupações com a qualidade dos serviços de tradução e seus produtos culminaram

na elaboração, pelo CEN e pela ISO, das normas referidas na secção anterior, já no último

quartel do século XX, a par de trabalhos que têm vindo a ser desenvolvidos na área. Os

parágrafos que se seguem têm por objetivo fornecer algumas indicações sobre o estado

da produção científica dedicada ao tema da qualidade na tradução. Esta exposição

sumária será essencialmente apoiada na literatura consultada e em bases de dados

bibliográficas especializadas em Tradução.

Mais do que o conceito de “qualidade”, de que Palumbo apresenta uma

definição em obra dedicada a termos-chave na tradução (2009) e Gouadec num verbete

publicado no primeiro volume de Handbook of Translation Studies (2010), a literatura

tem-se concentrado em questões de avaliação, controlo e garantia da qualidade nesta

área (Koby et al. 2014).

A falta de trabalhos sistemáticos sobre a avaliação da qualidade na tradução foi

notada por House, no modelo que desenvolveu para obtenção do grau de Doutora,

39 Ver Venuti (2012).

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26

publicado em 1977 em A Model for Translation Quality Assessment.40 De acordo com as

pesquisas bibliográficas efetuadas até ao presente, esta é a autora que mais se tem

debruçado sobre o tema, contando com várias publicações em que distingue diferentes

abordagens à avaliação da qualidade (1997, 1998, 2001, 2009, 2013, 2014, 2015 e 2016;

House e Baumgarten 2007). O modelo original foi por si revisto em 1997 e atualizado

em 2014.41

Algumas perspetivas iniciais sobre a avaliação da qualidade foram demonstradas

por autores como Nida (1964) e Nida e Taber (1969), cujas abordagens são

essencialmente prescritivas.42 Da escola funcionalista fazem parte as abordagens de

Reiss (1971), de Koller (1979), de Reiss e Vermeer (1984, de Nord (1991) e de Schäffner

(1998).43

Mais recentemente, vários profissionais e académicos têm vindo a desenvolver

propostas para a avaliação da qualidade da tradução baseadas no uso de corpora

(Bowker 2000), em parâmetros de caráter universal (Malcolm Williams 2001, 2004 e

2009, tendo iniciado os seus estudos sobre o tema em 1989), na existência de erros de

tradução (Waddington 2001 e 2003), em técnicas de retrotradução (Tyupa 2011), em

perspetivas ecléticas e pluridimensionais dos textos (Mobaraki e Aminzadeh 2012;

Mariana et al. 2015) e nas especificações dos clientes (Hague et al. 2014). Algumas das

40 Este modelo foi republicado, no mesmo ano, no número 2 do volume 22 da revista Meta, sob o título “A Model for Assessing Translation Quality”. 41 A atualização do modelo de House foi também publicada em Translation Quality Assessment. Past and Present (2015). Apesar da referência feita por Lee-Jahnke (2001:206) à necessidade de haver mais estudos centrados na avaliação da qualidade, a primeira página da obra de House (2015) indica que este assunto se tem vindo a tornar um dos principais tópicos dos Estudos de Tradução. 42 Os autores referidos, Nida e Taber, são responsáveis pelo surgimento dos conceitos de “equivalência dinâmica” e de “equivalência formal”. A primeira tem por base a transposição do significado dos documentos em LP para as traduções respetivas de acordo com as normas linguísticas do sistema cultural de chegada, de modo a que o efeito da mensagem nos leitores seja equivalente em ambos os contextos de partida e de chegada. Por sua vez, a “equivalência formal” segue o princípio de que os elementos linguísticos e gramaticais presentes no texto traduzido representam o equivalente mais próximo, em termos de forma e de conteúdo da mensagem, àqueles do TP correspondente, isto é, as normas linguísticas do TP podem ser encontradas no TC. Tal característica, ancorada num modelo que lembra a tradução literal, permite que o texto traduzido seja identificado enquanto tal, sobretudo se as normas linguísticas dos sistemas de partida e de chegada diferirem substancialmente. 43 Os autores da perspetiva funcionalista têm destacado, relativamente à avaliação da qualidade da tradução, tipologias e funções textuais, nomeadamente com base na Skopostheorie, alicerçada no propósito dos textos nos sistemas culturais de partida e de chegada e em noções de equivalência e adequabilidade.

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27

propostas existentes encontram-se analisadas na obra de Drugan (2013), que discorre

sobre várias abordagens académicas e profissionais à qualidade, com foco nas últimas.

Por sua vez, o controlo da qualidade das traduções, em geral, foi abordado por

Chesterman que, no capítulo 5 de Memes of Translation (1997), “Translation as Theory”,

discorre sobre vários modos de avaliação da tradução, e por Samuelsson-Brown (2004),

que apresenta um modelo de controlo da qualidade das traduções em forma de ficha

(108).

Em Portugal, a título ilustrativo, destacam-se três relatórios de estágio para

aquisição do grau de Mestre em Tradução, apresentados à Faculdade de Ciências Sociais

e Humanas da Universidade Nova de Lisboa que, direta ou indiretamente, tratam o tema

do controlo da qualidade na tradução: Alves (2014) e Gonçalves (2014) propuseram um

guia de estilo de tradução para as empresas de tradução em que estagiaram, e Thomas

Williams (2013) concebeu um sistema de controlo da qualidade das traduções para a

Assembleia da República.

No que exclusivamente à tradução médica toca, registam-se o artigo de

Grunwald e Goldfarb (2006), que incide sobre o controlo de qualidade da tradução de

consentimentos informados com base na retrotradução, e a publicação de Andriesen

(2008), onde são identificados alguns métodos de controlo da qualidade dos textos

traduzidos dessa área.

Do controlo da qualidade faz parte o processo de revisão da tradução, tema

central da presente dissertação.44 Este aspeto foi relativamente pouco abordado até aos

primeiros anos do novo milénio. De entre as publicações sobre o tema, surgem algumas

sobre a avaliação de revisões, com as de Arthern (1983 e 1987) e de Pilar Lorenzo (2002),

e sobre questões práticas de revisão, de que são exemplo as de Mossop (1992, 2001,

2007, 2007a e 2014), de Horguelin e Brunette (1998) e de Brunette et al. (2005),

oferecendo orientações a estudantes e profissionais da tradução.

A julgar pelas obras que se dedicam à revisão, este tópico tem ganho algum

relevo sobretudo em anos recentes, destacando-se algumas publicações. Em primeiro

44 Nem todos os autores concordam com esta afirmação, sendo Mossop (2001, 2007 e 2014) um exemplo no presente estudo, como se verá na secção seguinte.

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lugar, Horning e Becker (2006) traçam a história e o desenvolvimento da teoria e da

prática da revisão de textos no geral. Künzli (2006, 2006a e 2007) tem desenvolvido

estudos que focam a ética do revisor e o ensino da revisão enquanto processo e produto.

Parra Galiano (2007) desenvolveu uma proposta metodológica para a revisão, cujos

parâmetros surgem associados às características do TC e à adequação do revisor à sua

tarefa. Laflamme (2007) desenvolveu um modelo de revisão baseado no contexto em

que esse processo se desenrola. Robert (2008) estudou o impacto dos procedimentos

de revisão no processo de revisão e no produto final. A obra de Mossop (2001), referida

no parágrafo anterior, em que o autor defende a revisão, o controlo da qualidade e a

avaliação da qualidade como tarefas que confluem para o mesmo fim – a garantia da

qualidade –, contou com duas novas edições, respetivamente em 2007 e 2014, sendo a

última revista e atualizada.45

Outras investigações têm sido dedicadas às práticas de autorrevisão por

estudantes de tradução e tradutores profissionais. São exemplo Jakobsen (2002) e Shih

(2006).

Do discurso sobre revisão em língua portuguesa indicam-se, pelo seu caráter

recente, algumas investigações académicas. Vaz (2012) estudou a importância da

revisão da tradução de artigos científicos para publicação por um falante nativo. Fidalgo

(2014) apresentou uma proposta para o exercício da revisão da tradução, com especial

enfoque no texto técnico. Por fim, Melo (2015) dedicou-se às competências específicas

que o tradutor e o revisor de textos em inglês das áreas da saúde devem ter.

No que toca a modelos de garantia da qualidade referidos no presente estudo, o

único conhecido especificamente para a tradução médica é da autoria de Karwacka e foi

desenvolvido na última década (2014).

Ao nível das publicações periódicas, é de salientar o número especial da revista

Meta (46.2, de junho de 2001), inteiramente dedicado à qualidade na tradução, com

45 No presente ensaio far-se-á uso essencialmente da última, por ser nessa que Mossop expõe o seu pensamento mais atual. O autor tem vindo a compilar, ainda, uma base bibliográfica online sobre a revisão e edição da tradução (sem exclusão da autorrevisão e da pós-edição), disponível no link http://www.yorku.ca/brmossop/RevisionBiblio.htm. A data da última atualização é 19 de fevereiro de 2017.

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participação de Heidrun, House, Delisle, Lee-Jahnke, Pinto, Martínez Melis e Hurtado

Albir, Ørsted, Waddington e Williams.

A questão da qualidade na tradução tem sido abordada, também, em obras

sobre a crítica da tradução, de que se destaca Translation Criticism – The Potentials and

Limitations. Categories and Criteria for Translation Quality Assessment, de Reiss (2000).

2.2 Algumas propostas de definição de “qualidade”

O conceito de “qualidade” varia consoante o domínio a que se reporta, seja a

gestão, a construção, a arte, ou outros. Tal variação também se encontra presente na

literatura sobre tradução, a julgar pelas diversas abordagens encontradas nas

referências bibliográficas desta dissertação.

Segundo a EN 15038, “[o]s PST [Prestadores de Serviços de Tradução] devem ter

um sistema de gestão da qualidade documentado, proporcional à respetiva dimensão e

estrutura organizacional” (2006:8). Apesar de ter como objetivo o estabelecimento e

definição das condições para a prestação de um serviço de qualidade pelos PST,46 nem

este nem os restantes documentos acima referidos, que padronizam os requisitos a

preencher por um serviço de qualidade (ISO 17100:201, ISO 9001:2000 e IMIA Guide…),

apresentam uma definição clara do termo em apreço. A análise dos documentos é a que

se segue.

No seu formato de pergunta e resposta, o texto elaborado pela IMIA, IMIA

Guide…, limita-se a esclarecer que o padrão de qualidade da prestação de serviços de

tradução médica é assegurado por pessoal qualificado: para desempenhar as tarefas em

prol do serviço pretendido pelo cliente, os PST devem ter as competências linguísticas e

culturais necessárias, conhecendo as nuances dos sistemas culturais de partida e de

chegada.47

46 Por prestador do serviço de tradução entende-se todos os responsáveis pelo serviço, à exceção do cliente: gestor de projetos, tradutor, revisor, terminólogo e outros. 47 Concretamente para o contexto do português europeu, as competências dos tradutores têm vindo a ser trabalhadas por autores como Calhanas (2017), em dissertação de mestrado intitulada A Informática para a Tradução: As Competências Tecnológicas do Tradutor no Contexto do Mercado Português, e Valdez e Martins (forthcoming), em estudo com o título “A Digital Platform for Literary Translation: collaborative translation and teaching”.

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Da leitura da norma EN 15038:2006 e da sua substituta, a ISO 17100:2015,

depreende-se uma noção de “qualidade” baseada na posse, por parte do PST, das

qualificações e competências necessárias para realizar o serviço acordado com o cliente.

As competências estabelecidas pela norma mais recente são 6, e incidem sobre as

capacidades linguísticas e culturais e de uso das ferramentas e recursos necessários,

com vista ao cumprimento dos requisitos do cliente e, consequentemente, à satisfação

deste agente.48

No mesmo âmbito, o prefácio do Guia do utilizador da ISO 9001:2015

(2015:[s./p.]),49 publicado pela APCER (Associação Portuguesa de Certificação), indica

que a noção de “qualidade” subjacente a esta norma se relaciona com a satisfação do

cliente através da demonstração das capacidades de uma instituição para prestar

serviços conforme as especificações do primeiro.

Da “família” desta norma é a ISO 9000:2015. No ponto 2.2.1 “Qualidade” deste

documento, o conceito em apreço é definido nos seguintes termos:

(…) cultura que se traduz em comportamentos, atitudes, atividades e processos

que proporcionam valor ao satisfazer as necessidades e as expetativas dos clientes e de

outras partes interessadas relevantes.

A qualidade (…) é determinada pela aptidão para satisfazer os clientes e pelo

impacto, pretendido ou não, sobre outras partes interessadas relevantes. (2015a:7)

A norma salienta, assim, o facto de a importância da qualidade ir para além da

satisfação do cliente, podendo ter impacto na reputação do PST (ISO 2015a:7). Portanto,

em termos gerais, pode inferir-se que estas normas entendem a “qualidade” enquanto

atributo do PST com vista à satisfação do cliente, sendo que as ISO 9000:2015 e

ISO 9001:2015 estendem o conceito à reputação do dito prestador.

Os parágrafos que se seguem analisam algumas indicações presentes em obras

que se debruçam diretamente sobre o conceito em análise.

48 As competências presentes na norma ISO 17100:2015 (6) são: 1) tradutória, 2) linguística e textual, 3) de pesquisa, aquisição e processamento da informação, 4) cultural, 5) técnica e 6) de domínio dos documentos a tratar. Esta última competência não está incluída na EN 15038:2006. 49 De ora em diante referido apenas por Guia do utilizador.

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Em 1997, House (119), nome de referência em matéria de avaliação da qualidade

da tradução, argumentava que o conceito de “qualidade” é problemático: é necessário

ter em conta a sua conceção por parte dos agentes do processo de tradução. Na lista de

agentes, Palumbo (2009:99) e Gouadec (2010:270) incluem o cliente, para quem um

serviço de qualidade implica o cumprimento das especificações por si fornecidas e a

entrega dos documentos finalizados dentro do limite temporal estabelecido.

Focando-se no texto, House (1997:37) indica como princípios orientadores para

a qualidade a equivalência linguística, semântica e pragmática entre o TP e o TC,

equivalência essa que dá conta da reprodução da função do primeiro no segundo, sem

esquecer a relação entre texto e contexto.50 Esta aceção veicula a ideia de que a

equivalência entre documentos dos sistemas culturais de partida e de chegada se

relaciona com o género textual e a função individual de cada texto,51 podendo os

elementos linguísticos e de registo do TC face ao TP ser alterados aquando da tradução.

Essa alteração será realizada de acordo com as normas culturais do sistema a que a

tradução pertence, de modo a cumprir a função respetiva.52 Sobre este aspeto, Montalt

e Davies (2007:12) também afirmam que o tradutor deve atentar na função do

documento.

Contrariamente ao que seria de esperar a julgar pelo título do verbete “Quality

of translation”, da Routledge Encyclopedia of Translation Studies (1998:197-200), House

não define qualidade per se, mas aborda, ainda que de forma breve, diferentes modos

de avaliar a qualidade das traduções de acordo com alguns autores que se

50 Tanto o modelo de avaliação da qualidade inicial de House (1977 e 1977a) como o modelo revisto (1997) têm por base a comparação entre TP e TC. O capítulo 5 de Translation Quality Assessment. A Model Revisited, “Analysis and Comparison of Source and Translation Texts” (121-157), é dedicado aos elementos através dos quais é possível, de acordo com House, fazer a comparação entre TP e TC aos níveis lexical, sintático, textual, temático e de género. 51 Por “função textual” House (1997:36) entende a aplicação ou uso do texto em determinada situação, definição que envolve, para si, a análise linguístico-pragmática sistemática do texto no seu contexto. 52 Neste âmbito, House introduz o conceito de “filtro cultural” (cultural filter), estratégia através da qual o tradutor ajusta o TP às convenções do sistema cultural de chegada, no sentido de os textos cumprirem a mesma função nos dois sistemas culturais (ver Palumbo 2009:164). No entanto, na aceção da autora, este filtro é aplicado apenas em questões linguísticas e formais. Ignora, assim, toda uma rede de traços culturais distinta entre os sistemas culturais respetivos, determinante para a relação entre o tradutor, o TP e o TC.

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debruçaram sobre esta temática.53

O próprio conceito de “avaliação” (no caso, da qualidade) é relativo. De acordo

com Malcolm Williams (2009:4), prende-se com um julgamento de valor, seja moral,

estético ou utilitário. Deste pressuposto, o autor parte para a distinção entre duas

abordagens, a quantitativa, baseada em estatísticas matemáticas (ex. número de erros),

e a qualitativa, baseada na dicotomia boa/má,54 após colocar a ênfase no propósito da

tradução, através da afirmação:

In short, it is the purpose of the translation that determines how much effort

should be expended to ensure quality. If he is to make a realistic assessment, the

evaluator must be able to determine that purpose with a reasonable degree of certainty.

(1989:21)

53 Este texto foi retomado pela autora na segunda edição da Routledge Encyclopedia of Translation Studies (2009:222-225). A análise sumarizada das abordagens à avaliação da qualidade a que se refere (anecdotal and subjective – “circunstanciais e subjetivas”; response-oriented, psycho-linguistic – “orientadas para a resposta, psicolinguísticas”; e text-based – “baseadas no texto”) encontra-se também presente noutras publicações de sua autoria como, por exemplo, Translation Quality Assessment. A Model Revisited (1997), “Translation Quality Assessment: Linguistic Description versus Social Evaluation” (2001), “Quality in Translation Studies” (2013), “Translation Quality Assessment: Past and Present” (2014), Translation Quality Assessment. Past and Present (2015) e Translation as Communication across Languages and Cultures (2016). Não se pretendendo fazer uma análise extensiva das conceções de cada autor relativamente aos modos de avaliar a qualidade das traduções, remete-se o leitor para a entrada referida, sem deixar de nomear aqueles cujas obras se encontram nas Referências Bibliográficas da presente dissertação, a saber: Nida (1964), Nida e Taber (1969), Koller (1979), Williams (1989, 2004 e 2009) e Reiss (1971). Fica, no entanto, a seguinte nota: House admite que as três abordagens são limitadas, justificando a sua defesa de que a tradução se relaciona com o TP e com as condições da sua receção no sistema cultural de chegada. Para a autora, a avaliação deve ter em conta ambos os textos e os contextos em que estes circulam, com base na descrição e explicação do grau de equivalência de uma tradução face ao TP. Diferentes abordagens à avaliação da qualidade são também referidas por Chesterman (1997:117-46) e por Drugan em Quality in Professional Translation… (2014:46-47 e 65-66). Este enfoque na avaliação da tradução reproduz a noção de Mossop, já referida, de que a avaliação contribui para a garantia da qualidade. 54 A distinção referida havia sido já feita pelo teórico em 1989 (17), quando estabeleceu a diferença entre dois sistemas de avaliação da qualidade da tradução: um fechado, baseado no número de erros e sua gravidade em termos absolutos, em que existe um grau de aceitabilidade estandardizado, outro aberto, que permite uma abordagem de acordo com o contexto em que a tradução é produzida, no qual a necessidade de haver elementos estandardizados se mantém. Williams não especifica quais os elementos a que se refere, podendo os mesmos estar relacionados com os padrões de qualidade delimitados pelo PST.

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Gouadec (2010: 270) indica que as referidas normas publicadas pelo CEN e pela

ISO têm dado primazia à qualidade da prestação do serviço, verificada quando este

satisfaz tanto o cliente como o prestador. Na definição deste autor, a “qualidade” refere-

se ao produto e ao serviço prestado: “Quality in translation is both the quality of an end-

product (the translated material) and the quality of the transaction (the service

provided)” (2010:270). Desta forma, o autor realça, tal como House (1997:119), que o

conceito pode ser visto por prismas diferentes pelos diversos agentes envolvidos no

processo de tradução: do ponto de vista do PST, a qualidade do serviço implica o

fornecimento, por parte do cliente, de tempo suficiente para a preparação e realização

da tradução e sua revisão, de instruções claras e completas, da versão final do

documento a traduzir e dos apoios necessários ao serviço (i. e. informações, troca de

ideias, recursos linguísticos e textuais). A estes fatores acrescenta a preparação do

cliente para debater possíveis propostas de tradução, sem interferir excessivamente no

processo e acordando o pagamento de um preço justo. Por seu turno, o cliente terá

como parâmetro de qualidade a satisfação em relação ao produto final com base na

eficácia e adequabilidade desse produto ao propósito e cumprimento da função a que

se destina, resultado das competências do PST face aos requisitos do cliente, às

instruções recebidas e ao estipulado no acordo estabelecido entre ambos.55

Gouadec (2010:272) também identifica dois tipos de qualidade, extrínseca e

intrínseca, mas apenas explica a primeira, que relaciona com o modo como a tradução

se adequa à função em termos de conteúdo e forma, isto é, a medida em que satisfaz

as necessidades particulares dos leitores em termos linguísticos e formais (entendendo,

aqui, “formais” como formato e meio de publicação). Tendo em conta que este autor vê

a tradução enquanto produto (texto traduzido) e processo (serviço),56 e que relaciona a

“qualidade extrínseca” com o texto sem fornecer pistas para o que entende por

“qualidade intrínseca”, o leitor fica sem saber se esta se reportará, por exemplo, a

55 Gouadec (2010:271) apresenta uma lista de requisitos para a qualidade da prestação de um serviço de tradução baseada, de modo geral, na negociação de prazos e preços, nas especificações do cliente, nas necessidades do PST relativas à prestação desse serviço (recursos e especificações claras fornecidos pelo cliente) e no próprio processo tradutório desde o contacto com o cliente à entrega do serviço e respetivo pagamento (competências dos agentes responsáveis pela tradução, adequação do processo aos requisitos do cliente, prazos, etc.). 56 Nesta aceção, “processo” é entendido como a prestação de serviço e não como o processo de tradução per se.

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questões de equivalência linguística, de exatidão, ou aos termos do serviço prestado,

pese embora a possibilidade de tais interpretações.

No verbete “Revision” (2011) e na terceira edição de Revising and Editing for

Translators (2014), Mossop ampliou a secção dedicada à qualidade na tradução (1.3

“Quality in Translation”). Nesta obra, o autor distingue quatro perspetivas de

“qualidade”. São elas a satisfação do cliente, através da verificação do cumprimento de

todas as especificações fornecidas ao PST; a adequação ao propósito, visão baseada na

leitura do documento e contemplada na norma EN 15038:2006; a promoção da língua

de chegada em contraposição à língua de partida ou a uma língua dominante ou

maioritária; e a adequação do processo de tradução de forma a evitar erros na tradução

antes de esta ser feita (2011:135; 2014:23-25). Mossop assume, ainda, preferência pelo

conceito de “qualidade” presente na norma ISO 8402:1994 Quality Management and

Quality Assurance em detrimento do da ISO 9000:2000/2005 Quality Management

Systems: Fundamentals and Vocabulary.57 A justificação do autor é a de que a primeira

indica a existência de necessidades implícitas (Mossop 2014:22), de que destaca duas

para a tradução: a exatidão, que é essencial ser assegurada na tarefa de revisão, e o

sucesso da comunicação da mensagem veiculada pelo texto e dirigida ao leitor (Mossop

2014:23). Assim, mantém as posições de que a qualidade é sempre relativa a

necessidades, i. e., tem sempre um catalisador por detrás, como as motivações que

conduziram à tradução de determinado texto ou o cumprimento da função do texto no

sistema cultural a que pertence e de que diferentes objetivos exigem diferentes critérios

de qualidade, atendendo à natureza das imposições dos mesmos (Mossop 2001:6-7).

Esta relação entre qualidade e necessidades/propósitos foi, também, tida em

conta por House (2016) na afirmação seguinte:

One of the most intriguing questions asked in connection with translation is the

question of how to tell whether a translation is good or bad. (…) any statement about the

quality of a translation implies a conception of the nature and goals of translation. (…)

57 De acordo com Mossop (2014:22), a primeira entende por “qualidade” o conjunto de características que conferem a uma entidade a aptidão de satisfazer necessidades explícitas e implícitas e a segunda o grau em que um conjunto de características intrínsecas preenche requisitos, os quais incluem necessidades e expetativas.

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And different theoretical stances must needs lead to different concepts of translational

quality, to different ways of going about assessing (retrospectively) the quality of a

translation and different ways of ensuring (prospectively) the production of a translation

of specified qualities. (67)

Com efeito, a orientação teórica de cada tradução e revisão terá que ver com as

características do serviço acordado com o cliente e em prol da adequação do texto

traduzido ao sistema cultural de chegada. Cada texto cumpre determinada função no

seu sistema cultural, fator que deve nortear, por sua vez, o tipo de linguagem e registo

nele contidos, bem como questões editoriais, de que são exemplo o formato do

documento e o meio através do qual é publicado, questões a ter em conta, à partida,

durante o processo de revisão.

Nas palavras de Sager (1983:21) e de Palumbo (2009:98), a noção de “qualidade”

é relativa por depender não só de necessidades, mas das motivações e pressupostos

específicos de quem avalia o texto traduzido e da adequabilidade da tradução ao

propósito da mesma. É assim que Palumbo (2009:98) faz variar o conceito conforme a

tradução seja vista enquanto produto, processo ou serviço, numa aceção diferente da

de Gouadec (2010:270), acima apresentada, em que processo e serviço se entendem

como sinónimos. No primeiro caso (produto), a avaliação será feita de acordo com o

grau de equivalência linguística e formal entre TP e TC, sem descurar o tipo textual e a

função dos textos, o horizonte de expetativa dos clientes/leitores e as normas que

regulam a atividade tradutória.58 No segundo (processo), o foco é colocado na satisfação

do cliente através do cumprimento das linhas de orientação fornecidas ao PST. Apesar

da distinção tripartida apresentada, Palumbo não identifica a relação entre “qualidade”

e tradução enquanto serviço.

Na apreciação da autora da presente dissertação, esta dimensão da tradução

enquanto serviço encontra-se intimamente ligada com os dois pontos de vista

anteriores (tradução enquanto produto e processo): a prestação do serviço deve ter em

58 Esta ideia de Palumbo não é novidade na literatura que se dedica à questão da avaliação da qualidade da tradução. Reiss (1971) e Reiss e Vermeer (1984) haviam já ponderado uma avaliação com base no tipo textual e na função dos textos e, em Memes of Translation (1997), Chesterman refere a necessidade de atender quer ao horizonte de expetativa dos destinatários da tradução, quer às normas que regulam o processo tradutório.

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conta as especificidades (linguísticas, culturais, formais) dos documentos de partida e

de chegada e as funções a que se destinam, por um lado, e as características do acordo

estabelecido entre PST e cliente (expetativas do cliente, orçamento, prazo, etc.), por

outro, a que se adicionam a adequação das capacidades do PST ao serviço

encomendado.

Autora dedicada à tradução médica, Karwacka (2014) introduz a questão da

qualidade com base em Gouadec (2010) e na norma EN 15038, do seguinte modo:

Translation quality is a complex issue because, apart from accuracy and correct

language use, it involves such factors as client satisfaction and compliance with

contractual requirements, and is largely determined by text type, function and

expectations in the community related to translation. (22)

Neste excerto, Karwacka deixa antever a relação entre a qualidade e o cliente, o

processo tradutório, as características do documento e os leitores. Para si, a garantia da

qualidade na área em apreço envolve 1) a existência de métodos eficientes para a

deteção de erros, de que fazem parte um processo de tradução específico com

preparação da tradução, análise do TP, tradução e verificação em várias etapas59; 2) a

recorrência a testes de inteligibilidade60; 3) a escolha de PST qualificado(s) para a

59 Na verificação em várias etapas contam-se, por exemplo, a revisão e edição por um ou mais profissionais mais experientes do que o tradutor na matéria em causa e a leitura/revisão por outrem, tarefas realizadas por meio da comparação entre TP e TC (IMIA Guide… 2009; Karwacka 2014:25). 60 O termo usado por Karwacka é readability testing (2014:22). Ao longo do texto, a autora não explicita claramente ao que se refere. Não obstante, pode deduzir-se que o conceito se prende com questões formais, designadamente de complexidade sintática e lexical, tais como o comprimento das frases e das palavras, a proporção de palavras complexas e o número médio de sílabas por palavra, bem como o vocabulário usado e a densidade lexical (razão entre conteúdo e número total de palavras) (Olohan 2016:53-54). Algumas ferramentas de concretização destes testes são mencionadas por Olohan (2016:53-54). A par do termo em questão, a literatura refere outro, linguistic testing (“teste linguístico”), semelhante à leitura de prova dos documentos, realizado no sentido de verificar se a mensagem é compreensível para os leitores (Drugan 2013:77; Olohan 2014:53). Um exemplo de literatura que usa o termo neste sentido é o texto de Andriesen (2008) relativamente a folhetos de informação a utentes. De acordo com Olohan (2016:53), este termo relaciona-se com o conceito de “usabilidade” (usability), que remete para o grau de adequabilidade de um documento ao seu contexto de uso. Para uma análise crítica de literatura dedicada ao conceito de readability, ver Kolahi (2012:346-348).

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tradução médica61; e 4) a educação do cliente62 (2014:22-26).

Ao analisar a literatura dedicada ao conceito de “qualidade” na tradução,

verifica-se que este é, muitas vezes, remetido para as noções de “garantia da qualidade”

(quality assurance) e “avaliação da qualidade” (quality assessment), termos referidos

em parágrafos anteriores. Com efeito, ambos estão relacionados com o processo de

tradução63: se ao PST cabe assegurar que o serviço prestado, em termos de serviço e

produto, se encontra dentro dos parâmetros de qualidade definidos, a avaliação da

qualidade tem como agentes tanto o PST como o cliente e, em última análise, os leitores

a quem os documentos traduzidos se destinam.

Em Key Terms in Translation Studies, Palumbo (2009:99) define “garantia da

qualidade” como o conjunto de procedimentos aplicados durante o processo tradutório

de modo a garantir o cumprimento dos requisitos do cliente, nomeadamente o prazo

de entrega, a apresentação (formato e layout) e a qualidade linguística da tradução. Esta

definição, voltada para a perspetiva do cliente, é retomada e ampliada por Mossop

(2014:129), com a indicação de que a garantia da qualidade deve ser assegurada não

61 No ponto 3.1, “Qualifications of medical translators and interpreters”, (2014:23-25), Karwacka reconhece o debate em torno das competências específicas que um tradutor/intérprete da área em estudo deve ter e lista as seguintes: proficiência na língua de partida (LP) e na língua de chegada (LC), conhecimentos sobre teoria e prática da tradução, conhecimento especializado em matéria de terminologia da área a trabalhar e capacidade de pesquisa e organização terminológica, capacidades de escrita adaptadas aos documentos de trabalho, conhecimento prático do uso de dicionários e glossários especializados, conhecimento de diferentes géneros e registos textuais. Com base nestas características, a teórica advoga que o tradutor/intérprete de medicina não deve ser, idealmente, um profissional da medicina, mas um tradutor especializado na área que coopere com especialistas dos temas a trabalhar. A este respeito, defende como opção ótima a tradução por tradutores especializados e a edição dos documentos por profissionais da saúde, ou vice-versa, nos casos em que a tradução seja feita por um profissional da saúde. Uma perspetiva algo diferente é apresentada por O’Neil (1998:80), que indica que uma tradução médica de qualidade pode ser feita tanto por tradutores como por profissionais da saúde, desde que estes tenham as competências necessárias ao tradutor desta área, como ter aptidão para a língua, o estilo, a terminologia. A respeito das competências dos tradutores das ciências da saúde, ver também Montalt and Davies (2007:34-36, 93), Fischbach (1998:4) e IMIA (2009:3-5). Sobre o percurso académico de tradutores/intérpretes especializados em documentação médica, ver Montalt and Davies (2007:34-44), Fischbach (1998:69-102), O’Neil (1998:69-80), IMIA (2009:3-5). 62 No sentido de negociar prazos e orçamentos realistas, é importante que o cliente conheça os trâmites do processo tradutório, nomeadamente no caso de a tradução ser revista por terceiros e/ou por mais de uma pessoa, de modo a assegurar que há tempo necessário para realizar todas as tarefas e orçamento disponível para pagar o serviço a todos os PST envolvidos. 63 Entende-se por processo de tradução o conjunto de etapas iniciadas pelo contacto e acordo entre PST e cliente e finalizadas aquando da entrega do serviço ao cliente e respetivo pagamento e faturação.

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apenas durante o processo de tradução, mas antes e depois e por todos os agentes.

Mossop não foi o primeiro a abordar esta questão, presente na publicação de Williams

“The Application of Argumentation Theory…” (2001:327).

Palumbo (2009:99) e Mossop (2014:128) indicam que a avaliação da qualidade,

tarefa que pode ter lugar depois da entrega do serviço ao cliente, se prende com a

identificação, mas não correção, de problemas na tradução, a fim de averiguar o grau

de correspondência do serviço prestado com as normas de certificação e os padrões

profissionais do prestador.

A par dos termos “garantia da qualidade” e “avaliação da qualidade”, Mossop

refere um terceiro: “controlo da qualidade” (quality control) – processo no qual se

podem encontrar e corrigir erros (2001:84; 2007:110 e 2014:116) – que, ao longo da sua

obra, usa como sinónimo de “revisão” (revision) e que é realizado antes da entrega do

serviço ao cliente (2001:92 e 2014:128). Todavia, o autor apresenta uma distinção entre

os dois: para si, a revisão encontra-se a cargo de um tradutor qualificado antes da

entrega do serviço, ao passo que o controlo da qualidade pode ser feito por outro agente

envolvido no processo de tradução com a função de verificar o texto e corrigir erros sem

necessidade de comparar TP e TC (Mossop 2001:84; 2007:110 e 2014:116).

De acordo com os princípios de Mossop, o controlo e a avaliação da qualidade

contribuem para a garantia da qualidade do serviço prestado pela entidade ao cliente

(2014:129). Essa garantia passa pela tomada de medidas como a formação apropriada

do tradutor para os serviços requeridos e o acesso do PST às ferramentas e recursos

necessários à prestação do serviço, a certeza de que o processo tradutório decorre no

sentido de prestar um serviço em conformidade com as especificações do cliente e a

obtenção de feedback do cliente relativamente a trabalhos anteriores (se aplicável)

(2014:27).

Assumindo o conceito de “controlo da qualidade” enquanto processo conduzido

aquando da leitura de prova e da revisão no qual se encontram e corrigem erros,

Gouadec (2007:24-25) diferencia três tipos de controlo que podem ser realizados por

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qualquer PST envolvido no processo:64 leitura de prova (correção de erros gramaticais,

omissões e formatação, anotação de erros de tradução a verificar pelo PST responsável),

revisão (correção de erros e alterações necessárias para atender aos critérios e níveis de

qualidade) e pós-edição (verificação, leitura de prova e revisão de traduções

automáticas65). Este autor (2007:25) nota que, para “várias pessoas” (to many people),

o conceito de “pós-tradução” corresponde ao de “controlo da qualidade”.66 Na sua

opinião, remete para a etapa do processo tradutório que se segue ao que denomina

transfer phase (2007:23). Esta “fase de transferência”, na qual se dá a conversão dos

elementos a traduzir do sistema cultural de partida para o de chegada, inclui as

verificações feitas pelo próprio tradutor e faz parte da garantia da qualidade do serviço

prestado (2007:24).

Da análise das considerações acima compreende-se que 1) o conceito de

“qualidade” na tradução está longe de alcançar a unanimidade, variando consoante os

princípios de cada autor e o agente do processo tradutório; e 2) a literatura é consensual

no que toca à falta de critérios objetivos e universalmente aceites por todos esses

agentes para a avaliação e controlo da qualidade das traduções.67 Uma tentativa de

uniformização de critérios materializa-se no referido IMIA Guide…, criado com vista ao

apoio de tradutores, intérpretes e clientes, ainda que desenvolvido com base na

realidade da tradução norte-americana.

Por estas razões, e tendo em mãos uma dissertação sobre o controlo da

qualidade de documentos traduzidos da área da saúde, torna-se necessário propor uma

definição de “qualidade” e de “controlo da qualidade” adequadas às especificidades

desta dissertação: tratar a revisão de textos das ciências da saúde em contexto

64 Não pretendendo analisar todas as tarefas a cargo de cada agente a que o autor se refere, remete-se o leitor para o ponto 6, “Performing quality controls and upgrades”, do capítulo 3, “The translation process from A to Z”, da obra (2007:74-81). 65 Entende-se por “tradução automática” o uso de programas de computador para traduzir textos de uma língua para outra de forma automática (Ping 2009:162). 66 O autor não menciona quais as pessoas a que se refere, nem faz menção a fontes bibliográficas que se identifiquem com a ideia expressa. 67 Ver, por exemplo, Sager (1983), House (1997, 1998, 2001, 2013, 2014, 2015 e 2016), Chesterman (1997), Mossop (2001 e 2014), Williams (2001, 2004 e 2009), Palumbo (2009), Gouadec (2010) e Drugan (2013) para a tradução no geral, e Karwacka (2014) para a tradução médica em particular.

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profissional. As noções que se seguem tomarão como base o enquadramento teórico

presente nos parágrafos anteriores.

Para definir “qualidade” na tradução, é necessário atender ao que se

compreende por “tradução” tendo em conta os fins presentes68: o produto final

resultante do processo tradutório. Admitindo que este se inicia com a negociação do

contrato entre PST e cliente e termina aquando da entrega do serviço ao cliente,

faturação e receção do pagamento respetivo, para efeitos da presente dissertação

assumir-se-á como “qualidade” uma propriedade que tanto o PST como, especialmente,

o cliente atribuem ao produto do serviço prestado pelo primeiro e que compreende a

satisfação mútua destes agentes. Tal satisfação advém do cumprimento dos requisitos

do cliente pelo PST, patentes no texto traduzido.

Por sua vez, entenda-se por “controlo da qualidade” os mecanismos acionados

e exercidos pelos agentes do processo tradutório, essencialmente na fase de pós-

tradução e antes da entrega do produto ao cliente, com vista ao cumprimento dos

requisitos (ou necessidades implícitas e explícitas referidas por Mossop 2014:22) do

cliente e à qualidade do produto (a tradução). Engloba a verificação da correção

linguística, estilística e formal dos documentos traduzidos, a conformidade destes

elementos com as especificações do cliente e a averiguação da adequabilidade das

traduções ao propósito das mesmas, questões a ter em conta nos processos de revisão

e edição da tradução.69 À luz destas conceções, pode identificar-se a garantia da

qualidade com uma fase do processo tradutório e relacionar o controlo da qualidade

com o seu produto.

Delineadas as ideias base do presente estudo, segue-se uma exposição da

literatura sobre revisão da tradução e a apresentação dos parâmetros de revisão

sugeridos por Mossop, teórico também com longa experiência prática enquanto

tradutor profissional, na obra Revising and Editing for Translators.

68 Sobre a falta de consenso relativamente ao que é a tradução, a qualidade e a qualidade na tradução, ver Koby et al. (2014). 69 O conceito de “revisão” utilizado por Mossop é essencialmente linguístico, relegando os aspetos como a estrutura e formatação das traduções para o conceito de “edição”. Não obstante, o modelo de revisão do autor abarca o conceito de “edição” por si trabalhado.

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Capítulo 3 - O Contributo de Brian Mossop para a Qualidade da Tradução

As propostas de revisão de Brian Mossop foram concebidas com a finalidade de

instruir estudantes e profissionais de tradução sobre como rever as próprias traduções

ou as produzidas por outros. Encontram-se publicadas em Revising and Editing for

Translators (2001), obra reeditada em 2007 e atualizada em 2014. As motivações do

autor prenderam-se com a falta de estudos sobre revisão no ensino da tradução no

geral, por um lado, e com a falta de visão crítica em relação a procedimentos de revisão

a adotar para realização dessa tarefa, por outro (Mossop 2001:5; 2007:3 e 2014:3).

O presente capítulo tem como objetivo descrever as sugestões desenvolvidas

pelo autor em análise. Nesse sentido, será apresentado, ainda que de forma breve, o

conceito de revisão deste e de outros autores, seguido dos parâmetros de revisão

estabelecidos por Mossop e da descrição das suas propostas.70

3.1 O conceito de revisão

Künzli (2006:9), Mossop (2007a:6) e Robert (2008:1) são exemplos de autores

que reconhecem que o processo de revisão ganhou maior importância por conta da

publicação da EN 15038:2006, onde se pode ler sobre o valor crucial do ato de revisão

no processo tradutório: “The Translation Service Provider shall ensure that the

translation is revised.” (11).

A norma mencionada distingue os conceitos de revise e review (5-6) que, na

literatura portuguesa consultada, correspondem ambos ao termo “rever”.71 Tanto nesta

70 A este respeito, a publicação utilizada com maior frequência será a terceira edição de Revising and Editing for Translators, por se tratar da edição revista e mais atualizada da obra, como já afirmado anteriormente (ver nota de rodapé 45 do presente estudo, página 28). Nesta edição, o autor coloca maior peso na componente de leitura que de escrita na revisão (Mossop 2014:8). O capítulo que mais alterações sofreu foi o 9, “The Work of a Reviser”, a que foram adicionadas informações que incidem sobre a revisão de segunda língua, a relação entre tempo e qualidade, a auto revisão e as especificações da tarefa do revisor. Contudo, os parâmetros de revisão apresentados nas edições anteriores mantêm-se sem alterações. No capitulo 14, “Revising the Work of Others” (2014:192-204), foi também acrescentado um ponto dedicado à revisão de memórias de tradução (2014:201-203). 71 Os termos revise e review encontram equivalência em autores como Brunette et al. (2005), respetivamente bilingual revision (“revisão bilingue”) e monolingual revision (“revisão monolingue”), e nas designações de Mossop (2001:84; 2007:110 e 2014) comparative re-reading (“releitura comparativa”) e unilingual re-reading (“releitura unilingue”). Apesar da definição presente na EN 15038, algumas publicações do mesmo ano (2006) e posteriores referem que o conceito de revising (“revisão”) carece de unanimidade no seio dos académicos e profissionais da tradução. De acordo com Robert (2008:4 e 6) e Mossop (2014:116) o termo é, muitas

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como na que a substituiu, a ISO 17100:2015 (2), o primeiro termo, revise, refere-se à

revisão com base na comparação entre TP e TC e o segundo, review, à revisão do TC

apenas. Em ambas as tarefas, procede-se à verificação da adequabilidade das opções

tradutórias às convenções textuais correspondentes no sistema cultural de chegada e

ao acordado com o cliente, resultando nas propostas de alteração feitas pelo revisor.

No ponto 2.2 da presente dissertação (páginas 29-40), foi abordado o conceito

de “qualidade” na obra de Mossop, entre outros autores. Sobre este, afirmou-se que

assume a revisão enquanto processo que contribui para a garantia da qualidade da

tradução. Mossop (2001:169; 2007:109 e 2014:115) e Künzli (2006:7) definem “revisão”

como o processo de leitura do texto traduzido e realização das alterações necessárias,

com vista à garantia da qualidade. Ambos referem as tarefas de encontrar características

no TC que não são aceitáveis face ao TP e de fazer as correções e melhoramentos

necessários (verificar omissões, erros ortográficos, terminológicos, de tradução e

formatação e desvios às normas da língua de chegada) (Mossop 2014:115). Pode,

portanto, afirmar-se que o processo de revisão é, para o autor em estudo,

essencialmente linguístico, ainda que três dos parâmetros de revisão por si

apresentados (formatação, tipografia e organização) se relacionem com questões de

edição textual.

Os termos comparative re-reading e unilingual re-reading expostos na obra de

Mossop (2014) também se refletem quando o autor diferencia a função dos

responsáveis pela revisão da dos responsáveis pelo controlo da qualidade.

Efetivamente, Mossop (2014:116) assume que a tarefa dos segundos não envolve

proceder a uma revisão comparativa:

(…) while ‘quality control’ and ‘revision’ are synonyms, a distinction is made

between ‘quality controllers’ and ‘revisers’. The latter category consists entirely of

qualified translators; the former category is broader, including anyone who performs a

vezes, confundido com checking (“verificação”), re-reading (“releitura”), QC-controlling (“controlo da qualidade”), entre outros. Para autores que se debruçam sobre este assunto ver, por exemplo, Lee (2006) e Robert (2008). Na presente dissertação, serão apresentadas apenas algumas definições, por não ser a sua análise o objetivo último: o estudo da aplicabilidade das propostas de Mossop aos textos traduzidos das Ciências da Saúde.

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checking and correcting function. Thus, non-translators (such as proofreaders or subject-

matter experts) who do only those forms of checking and correcting that don’t involve

comparing the translation to its source, are quality controllers but they are not revisers.

(2014:116)

Com estas palavras, Mossop destaca os dois tipos de revisão (com e sem

comparação entre TP e TC) enquanto métodos do controlo da qualidade da tradução,

por considerar os termos sinónimos. Além disso, destaca os revisores como sendo

profissionais da tradução, enquanto os controladores da qualidade podem ser apenas

especialistas na matéria de que trata o texto. Na mesma página, Mossop também

distingue a tarefa dos revisores da dos controladores da qualidade afirmando que

aqueles procedem à leitura comparativa do texto na íntegra e que, pelo contrário, o

controlo da qualidade realizado pelos controladores pode ter como objeto apenas

partes selecionadas do documento.72 Esta razão levou o autor a defender a “revisão

completa” como o mais elevado grau de controlo da qualidade da tradução

(2014:116).73

De acordo com o agente, Mossop (2007a:10 e 12; 2014:1) distingue outros dois

tipos de revisão: self-revision (“autorrevisão”) e other revision (“heterorrevisão”). A

autorrevisão é parte integral do ato de tradução, realizada pelo próprio tradutor e, por

isso, em qualquer momento da atividade tradutória.74 Encontra correspondência na

denominação check (“verificação”) presente na ISO:2015 (2). O segundo tipo,

heterorrevisão, é levado a cabo por um revisor que não o tradutor e que reúna as

condições necessárias à tarefa a executar.

72 Neste caso, Mossop (2014:116) refere-se à “revisão completa” (full revision). Na secção 3.3, “Pressupostos teóricos da revisão na obra de Mossop”, do presente estudo (páginas 56-63) serão apresentados vários graus de revisão de acordo com o autor. 73 O capítulo 11 de Revising and Editing…, “Degrees of Revision” (2014:150-164) dedica-se, precisamente, aos diferentes graus de revisão distinguidos por Mossop, nos quais se enquadra a amplitude da revisão em termos de extensão do texto revisto. 74 O autor parece conferir maior importância a este termo na 3ª edição de Revising and Editing… que nas anteriores, adicionando dois pontos aos capítulos 9, The Work of a Reviser (2014:115-133), e 13, “Self-Revision" (2014:182-191), respetivamente 9.4, “Reliance on self-revision” (2014:118-119) e 13.3, “The term ‘self-revision’” (2014:187-188). Na página 118 afirma, inclusive, que a substituição da revisão por outrem por um processo de auto revisão e controlo da qualidade (leia-se leitura do TC por terceiros) pode tornar o tradutor mais independente.

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As ditas “condições necessárias” são especificadas nas normas EN 15038 (11) e

ISO 17100 (10), que conferem grande importância ao processo de revisão, explicitando

que uma tradução de qualidade deve ser revista pelo próprio tradutor e por terceiros e

distinguindo entre os papéis de tradutor e de revisor. As competências atribuídas ao

revisor na ISO 17100 foram já indicadas no ponto 2.2, “Algumas propostas de definição

de “qualidade”’, da presente dissertação.75 Contrariamente à EN 15038, esta norma

indica não apenas as competências, que são seis, mas as qualidades do tradutor

(resumidas, não obstante, à comprovação da qualificação profissional) (6), e define as

mesmas para quem faz a revisão comparativa. No caso de a revisão ser levada a cabo

apenas através da leitura do TC, tanto a EN 15038 (11) como a ISO 17100 (6) indicam

que deve ser feita por especialistas na matéria sobre a qual incide a tradução.

Na terceira edição de Revising and Editing…, Mossop (4) refere, para o revisor,

as mesmas três competências do tradutor: interpretação de texto, pesquisa,

composição e informática.

Para uma revisão de qualidade, Mossop (2001:95-96; 2007:121 e 2014:120) e

Künzli (2007) sugerem, também, que o revisor deve ter características básicas como ser

um tradutor profissional, qualificado e experiente. Künzli (2006:11) reparte essas

características por três competências: 1) estratégica, 2) interpessoal e 3) profissional e

instrumental.76

No que a estes dois tipos de revisão explicitados por Mossop diz respeito, self-

revision e other revision, o primeiro parece ser mais vantajoso no caso de o prazo para

entrega da tradução ser curto e não poder despender-se do tempo necessário à revisão

por outrem. O autor em análise destaca, face a esta questão, o seguinte: quando o

tradutor revê o próprio trabalho, é eliminada a tendência do revisor para “corrigir”

elementos do texto (como o estilo, por exemplo) apenas por gosto pessoal, além de que

o revisor, ao iniciar a revisão, está mais familiarizado com o texto que traduziu (Mossop

2001:91; 2007a:12). Por outro lado, este tipo de revisão também apresenta algumas

75 Ver nota de rodapé 48, página 30. 76 Não sendo objetivo da presente dissertação, cujo foco é o trabalho desenvolvido por Mossop, analisar estas estratégias, remete-se o leitor para as páginas 11-16 do artigo respetivo.

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desvantagens, como deixar passar erros que os olhos de um terceiro, não habituados ao

texto a rever, podem captar (Mossop 2001:91; Balemberg 2014:28).

A distinção entre “autorrevisão” e “heterorrevisão” tem sido adotada, também,

por autores como Robert (2008:4), que afirma a existência de tipos de revisão de acordo

com três realidades: quem revê (o próprio tradutor ou outrem), quando revê (durante

ou após a realização da tradução) e se o texto a rever corresponde, ou não, a uma

tradução. Independentemente da situação (quem, quando e o que revê), Kunzli

(2006:10) defende que o processo de revisão deverá ter lugar antes da entrega do

serviço ao cliente. Tal aceção merece a observação seguinte: entendendo o processo de

revisão como parte do controlo da qualidade, nenhuma tradução deve ser entregue ao

cliente sem passar, pelo menos, pela autorrevisão. Não obstante, o cliente poderá

encomendar uma revisão por outrem após receber a tradução, pelo que a asserção de

Künzli deve ser tida como ideal, mas não generalizável.

Em Key Terms in Translation Studies, Palumbo (2009:101-102) identifica a revisão

nos mesmos termos dos autores anteriores, i. e., leitura comparativa entre TC e TP de

forma a encontrar problemas e a resolvê-los. A relação entre o processo de revisão e o

fator “qualidade” tem a ver, para este autor, com os padrões estabelecidos pelo PST

para que as necessidades do cliente sejam cumpridas, assim ditando os procedimentos

da revisão. A mesma conceção é, também, adotada por Lee (2006:410).

Para além de “revisão”, outro termo em destaque no título Revising and Editing…

é o de “edição”. O autor distingue a edição da revisão remetendo aquela para a tarefa

de rever aplicada a textos que não são traduções, como os textos originais (2014:1).77

Nos dois casos, o editor/revisor pode proceder a algumas correções no sentido de uma

77 A expressão usada por Mossop é original writing (2014:1). Os “documentos originais” a que se refere podem corresponder aos TP das traduções. Neste caso, em que a revisão corresponde ao conceito de editing, de acordo com as palavras do autor o PST pode proceder a alterações do TP, por exemplo para que algumas passagens problemáticas se tornem mais inteligíveis (2014:1). Sobre a potencial falta de qualidade do TP nas ciências da saúde, ver Montalt e Davies (2007:22), que atribuem a causa ao facto de os autores não terem as competências de escrita necessárias à redação, e Andriesen (2006:158), que relaciona os principais problemas dos TP com o conteúdo (ambiguidades, uso incorreto de termos e conceitos, etc.), o grau de internacionalização (ausência de terminologia local, seleção de ilustrações e cores, caso se aplique, etc., devido a referências culturais) e o formato e formatação. Pode ainda acrescentar-se que, quando o TP é redigido numa língua que não é a língua materna do(s) autore(s), também é possível apresentar falta de qualidade.

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maior inteligibilidade do texto, mas sem que o seu significado seja alterado. Contudo,

apenas na revisão são corrigidas omissões ou adições (2014:1).

Na conceção de Mossop, tanto a revisão como a edição envolvem, pois, a

verificação da adequabilidade do texto no seu todo, i. e. características linguísticas e

textuais, aos propósitos para que o texto foi criado e ao público a que se dirige:

Editing means finding problems in a text which is not a translation, and then

correcting and improving it, with particular attention to making the text suitable for its

future readers and for the use to which they will put it. Revising is this same task applied

to draft translations. (Mossop 2001:iii).78

Tendo em conta o intuito da presente dissertação (avaliar a aplicabilidade das

propostas de revisão de Mossop a textos das ciências da saúde), o conceito de “revisão”

a ter e conta refere-se à comparação entre TP e TC de forma a encontrar e

corrigir/propor correção de erros, durante ou após finalizada a tradução, pelo próprio

tradutor ou por outro PST a quem é incumbida tal tarefa.

É nesta aceção que se enquadra o processo de revisão na definição de “controlo

da qualidade” apresentada pela autora da presente dissertação (página 40). Assume-se

que a finalidade do processo é garantir que os documentos traduzidos se encontram

conforme as regras linguísticas e estilísticas dos textos no sistema cultural de chegada,

as especificações do cliente e o que este espera do serviço prestado (respetivamente,

parte das necessidades explícitas e implícitas referidas por Mossop 2014:22).

O objetivo das secções seguintes é o de analisar as propostas de Mossop para a

revisão da tradução.

78 A conceção de “edição” de Mossop nesta obra limita-se à revisão textual (copyediting), estilística (stylistic editing) e de alguns aspetos de estrutura e conteúdo (structural and content editing) (Mossop 2014:2), conceitos abordados nos capítulos 3 a 6 de Revising and Editing… (2014:42-89). Esta decisão parece ter em conta o público a que se dirige (estudantes e profissionais da tradução), e não os editores, últimos responsáveis pela publicação das traduções e, por isso, com um conceito de “edição” mais relacionado com questões tipográficas e publicitárias, por exemplo. Algumas tarefas dos editores de texto encontram-se listadas nas páginas 29 e 30 da obra em análise (3ª edição).

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3.2 Os parâmetros de revisão propostos por Mossop

O capítulo 10 de Revising and Editing for Translators (2001:99-113; 2007:125-

139 e 2014:134-149), “The Revision Parameters", apresenta os parâmetros de revisão

da tradução sugeridos por Mossop. Começa por uma definição do que são: tipos de erro

que o revisor procura (2014:134).

Do ponto de vista deste autor (2014:134-135), a revisão concorre para solucionar

quatro tipos de problemas: 1) de “transferência”, 2) de “conteúdo”, 3) de “linguagem”

e 4) de “apresentação”.79 As subsecções que se seguem explicitam cada um deles e

expõem os parâmetros respetivos, seguindo a ordem apresentada na obra em análise.

3.2.1 Problemas de transferência

Dizem respeito à transferência de significado do TP para o TC e relacionam-se

com a exatidão (accuracy) e com transmissão completa da mensagem, i. e. sem que

tenham sido omitidos elementos (completeness).

1) accuracy:

Para Mossop (2014:135), a “exatidão” é a característica mais importante da

tradução. O papel do revisor é o de garantir que não há erros de tradução que impedem

a transferência do significado do TP para o TC, não apenas ao nível das palavras e frases,

mas da organização interna do texto, i. e. da relação entre as frases. Contudo, a

construção frásica não tem de ser idêntica nos dois textos: o fator “legibilidade” deve

ser considerado.

Face a este aspeto, Mossop (2014:136) entende que o grau de exatidão da

79 Esta divisão por quatro grupos e 12 parâmetros advém do reconhecimento, por parte do autor, de que uma lista exaustiva de erros seria demasiado extensa (Mossop 2014:134). Tendo em conta que, no geral, cada parâmetro engloba mais de um problema de tradução, pode afirmar-se que Mossop procurou englobar o maior número possível na proposta de revisão apresentada.

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tradução deve depender do tipo de texto e do uso que dele será feito.80 Assim, chama a

atenção para a possibilidade de exagero neste parâmetro poder conduzir à construção

de frases estranhas e complexas que limitam a inteligibilidade do TC.81 O ideal será, por

isso, encontrar um equilíbrio entre exatidão e legibilidade, sem que ambas sejam

mutuamente exclusivas (Mossop 2014:136).

Atribuindo a inexatidão da tradução sobretudo à falta de entendimento da

mensagem do TP pelo tradutor, Mossop (2014:137) levanta duas questões para

determinar o grau de exatidão: 1) se o tradutor compreendeu o TP e 2) se a tradução

exprime essa compreensão. Ainda que a resposta à primeira seja positiva, o tradutor

pode não ter conseguido transmitir a mensagem, usando, por exemplo, construções

frásicas ambíguas ou escolhas lexicais menos indicadas (Mossop 2014:137).

Por fim, Mossop (2014:137) salienta as questões políticas e ideológicas como

justificação possível para a falta de exatidão. Com efeito, política e ideologia podem

colocar entraves à transferência de significado, nomeadamente através de mecanismos

de censura, ou podem causar estranheza ao leitor, por este não reconhecer o significado

do TC da mesma forma que é dado aos leitores do TP no caso de as diferenças culturais

não serem tidas em conta.

2) completeness:

O parâmetro “completude” remete para a adição/omissão de elementos da

mensagem do TP na tradução. O princípio usado por Mossop, NANS, encontra-se

resumido numa frase: “(…) translators are usually expected to render all the message,

and only the message, that is in the source text – No Additions, No Subtractions”

(2014:137). As exceções admissíveis dão-se apenas quando o objetivo é que o tradutor

80 Por exemplo, se a tradução for para leitura rápida, sendo depois descartada, o mais importante é manter a mensagem, sem grande necessidade de exatidão dos factos. Pelo contrário, se o TP contiver informações essenciais para a tomada de decisões importantes que dependem da exatidão da mensagem (por exemplo, as instruções de uso de material médico para bloco operatório ou um Consentimento Informado, sob pena de colocar a vida do utente em risco), a necessidade de precisão e detalhe dos dados torna-se maior. 81 Mossop (2014:136) menciona que este “exagero” pode ser apreciado, por exemplo, na tradução jurídica, a que Balemberg (2014:32) acrescenta textos baseados em números e percentagens.

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faça um resumo, se foque apenas na questão central do TP ou faça uma adaptação

(Mossop 2014:137).

Por outro lado, o princípio NANS tem algumas restrições (Mossop 2014:138-139).

A primeira prende-se com o fator “inteligibilidade”: podem ser adicionados ou retirados

elementos do TP em passagens que não sejam claras, ou em que o tradutor sinta

necessidade de explicitar a mensagem ou retirar-lhe elementos (por questões culturais,

técnicas ou outras). Em segundo lugar, destaca-se a importância do significado do texto:

NANS aplica-se essencialmente às passagens cuja mensagem é relevante para os

leitores, podendo outras serem resumidas ou, mesmo, completamente omitidas. A

terceira restrição prende-se com a “completude” da mensagem do texto e não com as

formas de expressão. Deste modo, é possível ao tradutor anular, por exemplo,

repetições presentes no TP.

Mossop (2014:139) indica, também, que “completude” não é sinónimo de

“explicitação”. Assim, elementos explícitos no TP podem encontrar-se implícitos no TC,

desde que a mensagem seja percetível na íntegra para o leitor. Esta opção é importante,

sobretudo quando o espaço a ocupar pela tradução é reduzido.82

Apesar de reconhecer que este parâmetro possa ser considerado um aspeto da

exatidão, Mossop (2014:139) defende que deve ser tratado separadamente, afirmando

que o tradutor pode, facilmente, deixar escapar informações. Tal pode ocorrer, por

exemplo, quando opta por omitir passagens com várias repetições, não se apercebendo

da existência de outras informações entre elas.

Esta razão levou o autor a recomendar que se proceda à contagem de parágrafos

no caso de os documentos a traduzir se encontrarem impressos, para evitar omissões.

No entanto, a possibilidade de o número não ser idêntico nos TP e TC não representa,

necessariamente, uma omissão, pois o tradutor pode simplesmente ter juntado ou

dividido parágrafos.

82 Mossop refere a questão do espaço disponível para a tradução apenas a este nível. Pode, não obstante, afirmar-se que se estende às restrições do princípio “Nem Adições, Nem Subtrações” (NANS), pois a sumarização ou omissão de elementos textuais e a anulação de repetições presentes no TP também encurtam a tradução.

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Mossop remata a apresentação deste parâmetro chamando a atenção para

possíveis constrangimentos colocados pelos textos em formato eletrónico (como

software de apresentação, tipo PowerPoint, e ficheiros HTLM), que podem conter

trechos de texto, como cabeçalhos e notas de rodapé, que não se encontram visíveis.

3.2.2 Problemas de conteúdo

Relacionam-se com o sentido da sequência de ideias, podendo registar-se a

presença de inconsistências ou contradições (logic) e de erros conceptuais ou factuais

(facts).

3) logic:

O terceiro parâmetro de revisão, “lógica”, relaciona-se com a presença de

inconsistências ou contradições na tradução. Mossop (2014:140) atribui as causas à

elaboração de sequências temporais ou causais e de outros erros.

Segundo o autor (2014:140), os problemas de lógica podem dar-se de duas

formas: 1) o próprio TP não tem lógica e o tradutor não fez nada em relação a esse facto

e 2) o TP tem lógica, sendo o tradutor quem introduz inconsistências ou contradições no

TC.

No primeiro caso, a falta de lógica pode ser atribuída a uma escolha de palavras

que não é a melhor para exprimir as ideias do autor, à presença de dados contraditórios

porque invertidos83 e ao uso de expressões tautológicas, i. e. com repetições

desnecessárias, como na frase “The short-term consequences are temporary and do not

last very long” (Mossop 2014:140), onde short-term, temporary e do not last very long

são sinónimos.

No segundo caso, Mossop (2014:141) avança como causas possíveis da falta de

lógica introduzida pelo tradutor a incompetência em relação à LP e a falta de atenção,

devida à pressa para terminar a tarefa ou ao cansaço.

83 Mossop cita a presença de números percentuais (o exemplo é 8.9 e 9.8), que podem ser lidos de forma trocada ou confundidos: “(…) an author accidentally self-contradicts by claiming that the unemployment rate has gone up from 9.8 to 8.9 percent” (2014:140).

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4) facts:

O parâmetro “factos” diz respeito à ocorrência de erros conceptuais ou factuais

no TP ou na tradução. Embora verificá-los no TP não seja a tarefa principal do revisor, é

importante alertar o cliente para a sua existência e proceder de acordo com as

especificações deste agente: fazer correções na tradução, listar e descrever os erros

num ficheiro à parte, contactar o autor do TP para saber da possibilidade de alterar as

suas palavras são os exemplos dados por Mossop (2014:142). Na mesma página, o autor

afirma que, caso este tipo de erros no TP tenha a ver com desconhecimento por parte

do autor, o tradutor deve, de alguma forma, assinalar que o erro não é seu.

Supostamente, os problemas de transferência expostos na subsecção anterior

(“exatidão” e “completude”) e os de conteúdo (“lógica” e “factos”) podem ser

confundidos. A diferença entre eles reside no facto de os primeiros poderem passar

despercebidos se o TC fizer sentido. O mesmo não ocorre no caso dos problemas de

conteúdo, de acordo com Mossop (2014:142) imediatamente óbvios para os

especialistas da área do TC.

Na publicação de 2007, Mossop (133) acrescenta outra questão: visto a

formação do tradutor ser linguística, pode acontecer não se aperceber de erros

matemáticos. Um exemplo é a frase “Dos inquiridos, 49% eram adultos e 61% eram

crianças”, que representa uma impossibilidade.

3.2.3 Problemas de linguagem

Abarcam a linguagem e o estilo, ligados à fluidez, clareza e legibilidade do texto

(smoothness), ao uso correto das convenções do género textual correspondente no

sistema cultural de chegada e da adequabilidade das opções tradutórias ao propósito

da tradução (tailoring), à adequabilidade do estilo de escrita, da terminologia e das

fraseologias ao género textual (sub-language), à combinação das palavras e ao

cumprimento das preferências retóricas da LC (idiom) e ao cumprimento das regras de

gramática, ortografia e pontuação (mechanics).

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5) smoothness:84

O quarto parâmetro designado por Mossop é a “fluidez”. Um texto é tanto mais

fluido quanto mais permite ao público compreender a mensagem numa primeira leitura,

feita a velocidade normal (Mossop 2014:142).

A fluidez de um texto pode ser contrariada pela má organização das estruturas

frásicas, pela falta de relação entre as frases e pela alternância e seleção inapropriada

dos tempos verbais. Para Mossop (2014:143), a falta de fluidez no TP não implica a

mesma característica na tradução, cujo grau será determinado atendendo ao público e

à função a que se destina.

Para o leitor que desconhece a LP, um aspeto que pode interferir com a fluidez é

a presença de passagens nessa língua estrangeira, de que são exemplo citações, nomes

de instituições e títulos de publicações.85 Face a este constrangimento, o revisor deve

certificar-se de que o tradutor reduziu a presença de itens estranhos à LC tanto quanto

possível (Mossop 2014:143).

6) tailoring:

O parâmetro “personalização” reporta-se à adequação da tradução ao propósito

com que é feita e ao público a que se dirige. Neste sentido, deve ser escrita num registo,

grau de tecnicalidade e de formalidade, bem como vocabulário, apropriados (Mossop

2014:144).

Além disso, o uso que será feito da tradução pode ser diferente nos dois sistemas

culturais. Outro cenário possível é o de os dois textos serem escritos para públicos com

84 Na literatura dedicada à tradução, o conceito de smoothness é, por vezes, definido pelo termo cohesion (“coesão”), relacionado com a fluidez das palavras; por sua vez, o termo logic, que corresponde ao parâmetro 3 sugerido por Mossop, pode aparecer como coherence (“coerência”), respeitante à fluidez de ideias. Uma justificação para a seleção de termos diferentes feita por Mossop encontra-se na semelhança entre cohesion e coherence, que pode confundir o leitor (Mossop 2014:143). 85 A tradução de textos especializados para o leitor comum ou desconhecedor de alguns termos não é aqui referida por Mossop. No caso dos textos das ciências da saúde, nomeadamente os destinados aos profissionais, podem registar-se termos especializados que não fazem, ainda, parte do conhecimento do leitor, por representarem neologismos terminológicos, regionalismos ou, inclusive, por o leitor não estar familiarizado com o tema do texto. Contudo, se estes possuírem raiz grega e/ou latina, serão, à partida, facilmente compreensíveis pelos profissionais. As características da linguagem médica escrita, de que faz parte a terminologia de especialidade, encontram-se analisadas na 1.3, “Características Gerais”, da presente dissertação (páginas 14-21).

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as mesmas características, mas com intenções diferentes, caso em que o revisor deve

verificar se as adaptações necessárias foram feitas pelo tradutor.

7) sub-language:

De acordo com Mossop (2014:142), o parâmetro “sublinguagem”, juntamente

com os dois anteriores (“fluidez” e “personalização”), define o “estilo” da tradução.

Relaciona-se com os recursos lexicais, sintáticos e retóricos da LC característicos do tipo

textual e da área do conhecimento a que pertence a tradução.

O autor em análise aconselha o revisor a atentar no uso de fraseologias e

construções específicas (como a ocorrência de nominalizações e verbalizações) da língua

de especialidade e do género textual em que a tradução se enquadra. No que ao léxico

toca, atribui à terminologia de especialidade a maior preocupação do revisor, que deve

certificar-se de que todos os termos estão conforme o indicado pelo cliente ou o que é

expectável na LC (2014:144-145).

A este nível, Mossop (2014:145) informa que, caso o propósito da tradução seja

meramente informativo, o cliente pode aceitar que o tradutor se centre na mensagem,

relegando a terminologia para segundo plano.86 Neste caso, o mais importante não é

usar os termos equivalentes nas LP e LC mas, antes, transpor a mensagem veiculada pela

primeira para a tradução. Além disso, refere ser comum o tradutor não se aperceber de

que certa sequência de palavras no TP pode corresponder a um termo na língua de

especialidade. Mossop (2014:145) defende, ainda, que o uso de termos e fraseologias

deve ser evitado, caso não estejam de acordo com o contexto em que, normalmente,

seriam usados.

86 Nestes casos, em que a função principal da tradução é informar, Mossop acredita que os especialistas se preocupam mais com a mensagem transmitida pelo texto que com a terminologia usada. As suas palavras merecem destaque, pela relação que estabelece entre as preocupações do revisor e a forma de pensar do cliente/leitor: “Many revisers believe that subject-matter experts will be annoyed if they find anything other than the correct term in the translation. I think that in general this is not true. The subject-matter experts (…) are not ‘language people’ like us; (…) Experts tend to ‘read through’ language to the non-linguistic world in which they are interested. We should not project onto them our own interest in linguistic matters” (2014:145). A mensagem é, novamente, a de que o tipo de leitor e o propósito da tradução ditam a estratégia tradutória, nomeadamente os recursos de linguagem usados. Contudo, apesar de tal perspetiva ser aceitável, admite-se a possibilidade de risco ao generalizá-la, por não haver conhecimento da realidade exemplificada a uma escala universal.

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8) idiom

O parâmetro “expressões idiomáticas” baseia-se na aceção de que, de todas as

combinatórias lexicais possíveis, apenas um conjunto é usado.

Por vezes, os tradutores incorrem no uso de construções menos comuns, mas

compreensíveis, baseadas nas do TP. Tais construções podem causar estranheza no

leitor nativo da LC, fazendo-o questionar se a passagem em causa terá outro significado.

Por esta razão, Mossop (2014:146) defende que o revisor deve ser, idealmente, nativo

da LC.87

O autor explica, ainda, que mesmo após anos de experiência em tradução e

revisão se pode duvidar sobre a idiomaticidade de certa expressão. O uso de dicionários

e bases de dados onde se pode verificar a frequência da ocorrência dessa expressão é,

neste caso, de grande utilidade para o profissional (Mossop 2014:146).

9) mechanics:

O último parâmetro do grupo “linguagem” denomina-se “mecanismos”. É

centrado no cumprimento do(s) guia(s) de estilo especificado(s) para a tradução a rever.

Dos erros que fazem parte deste parâmetro destacam-se, por exemplo, as

convenções de pontuação e numerais, o espaçamento entre itens (por exemplo, entre

numerais e unidades de medida), as aspas, os signos (por exemplo, o cifrão), a

capitalização de palavras, o uso de itálicos, os negritos, os parêntesis e outros do género.

Mossop (2014:147) enfatiza a atenção que deve ser prestada quanto à tradução

de nomes próprios, títulos de publicações ou outros em que haja capitalização, pelo

facto de o leitor poder ser induzido em erro. Com efeito, é possível que a tradução de

títulos de publicações (ou de outros itens semelhantes) leve o leitor a pensar que os

mesmos estão disponíveis na LC, mesmo não sendo essa a realidade.

87 A mesma tese é defendida por Vaz (2012). Sobre a problemática da revisão nas áreas da saúde por não-nativos de língua inglesa, ver Melo (2015:36-38).

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3.2.4 Problemas de apresentação

São erros na forma do documento ao nível do espaçamento, indentação e

margens (layout), dos tipos de letra (typography) e da organização do documento no

seu todo (números de página, cabeçalhos, rodapés, índices, etc.) (organization).

10) layout:

O parâmetro “formatação” relaciona-se com a disposição de todos os

constituintes do documento (texto, imagens, gráficos ou outros) na página.

Mossop (2014:148) destaca a presença de margens e o espaçamento como

essenciais à legibilidade. Outros elementos de importância são os cabeçalhos, rodapés,

marcas de enumeração, números de página ou outros. Todos eles devem manter-se

consistentes ao longo do documento, sobretudo se a tradução for apresentada em

várias línguas, em paralelo, no mesmo documento.

Nesta condição, caso o espaço ocupado por um texto difira substancialmente de

outro, Mossop (2014:148) sugere que se acionem mecanismos de forma a criar a ilusão

de que os tamanhos dos dois são semelhantes. O autor exemplifica indicando que, se os

textos se encontrarem lado a lado, pode estreitar-se a coluna para o mais curto, ou

alargar-se a do mais longo (Mossop 2014:148).

No caso de a tradução ser submetida a leitura de prova antes de ser entregue ao

cliente, Mossop (2014:148) indica que esta etapa pode ser saltada pelo revisor.

11) typography:

A “tipografia” diz respeito aos tipos e formatação das letras ao longo do

documento, também relacionados com a legibilidade do texto. A escolha dos formatos

das letras deve refletir, por um lado, moderação (não exagerando no uso de

maiúsculas/minúsculas, itálicos, negritos, sublinhados ou na variação de tipos e

tamanhos de letra) e, por outro, consistência (usando-se a mesma formatação para os

mesmos fins).

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Além disso, a ênfase marcada pela formatação das letras deve fazer sentido na LC,

pois pode alterar a importância conferida aos elementos destacados no texto (Mossop

2014:149).

12) organization:

O último parâmetro de revisão definido por Mossop é a “organização”, que

corresponde à estrutura do texto: localização de secções, subsecções, capítulos,

subcapítulos, imagens ou outros, bem como listagens por ordem alfabética.

Nesta fase, o revisor deve certificar-se de que elementos como as referências

feitas a páginas do documento no corpo do texto estão corretas. Mossop (2014:149)

observa que, se o documento for para publicação, o número preciso de páginas só é

conhecido após o trabalho do editor responsável. Este profissional deve ser notificado

sobre a possibilidade de não correspondência entre as páginas mencionadas no texto e

as reais, ficando a seu cargo as alterações necessárias.

Outro componente do texto a ter em conta é o índice. Não só as denominações

de capítulos e subcapítulos/secções e subsecções devem estar de acordo com o texto,

como os números e formatação respetivos.88

Em caso de erro no número dos capítulos/secções no TP, Mossop (2914:149)

aponta que o mesmo deve ser mantido, salvo indicação contrária do cliente.

Por fim, o revisor deve verificar a presença de citações, cabeçalhos, rodapés,

legendas ou outros.89

3.3 Pressupostos teóricos da revisão na obra de Mossop

Focado no conceito de “qualidade”, Mossop (2014:23-24) destaca três objetivos

de revisão. O primeiro diz respeito à procura e correção de erros facilmente notados

88 Às denominações, numeração e formatação, pode acrescentar-se os números de página que, tal como no caso das referências presentes no corpo do texto, poderão ser da responsabilidade do editor se a tradução for para publicação. 89 Estes elementos textuais foram referidos no parâmetro 10) “formatação”. No parâmetro 12) “organização”, Mossop não se refere à formatação, mas à localização dos elementos no texto.

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pelo cliente, como os tipográficos ou terminológicos. O segundo relaciona-se com a

finalidade com que é realizada, procedendo o revisor a alterações menores que tenham

em vista a adequação da tradução a essa finalidade.90 Por fim, o intuito da revisão pode

ser o de promover a LC face à LP, que pode ser dominante, assim “melhorando” a

linguagem e o estilo de acordo com as convenções do sistema cultural de chegada.

Se, de um modo geral, a revisão se dedica à verificação de problemas e ao

melhoramento da tradução, como proceder para os encontrar e decidir quais corrigir?

A resposta à segunda parte da questão, como decidir quais os erros a corrigir, é clara e

pode ser dividida em vários aspetos (Mossop 2014:150-160): 1) depende das

características específicas do contrato com o cliente ao nível do serviço pretendido; 2)

depende do prazo e do orçamento acordados; 3) depende do tipo e da importância do

texto traduzido no sistema cultural de chegada; e 4) depende das competências

específicas do tradutor responsável pela tradução face ao TP.91

Estes elementos, interdependentes entre si, concorrem para a determinação do

grau de revisão a aplicar.92

Para encontrar problemas na tradução, Mossop (2014:165) fornece várias

indicações. Em primeiro lugar, é necessário que o revisor conheça o grau de revisão a

realizar, com base no conhecimento dos elementos referidos no parágrafo anterior.

90 Esta conceção de revisão, relacionada com a de “qualidade”, está presente na EN 15038 (11), onde se lê: “The reviser shall examine the translation for its suitability for purpose”. É, também, a escolhida na obra de Mossop (2014:24). O autor declara, assim, que as suas propostas de revisão têm como pano de fundo a adequabilidade da tradução aos propósitos do texto no sistema cultural de chegada. 91 O’Neil (1998), Montallt e Davies (2007), Karwacka (2014) e Melo (2014) pronunciaram-se a respeito da preferência por um tradutor especializado na área da saúde ou por um especialista dessa área. Em “Who Makes a Better Translator…”, O’Neil (1998:80) conclui que ambos podem prestar um serviço de tradução de qualidade: “Good medical translation can be done by both edical professionals and medically knowledgeable linguists; (…) a love of language, an ear for style, a willingness to pursue arcane terminology and caring enough to get it right are the keys to true success”. Montalt e Davies (2014:35) concordam com esta aceção, afirmando que os profissionais da saúde que tenham uma formação linguística e cultural adequada podem desenvolver as competências necessárias à tradução. Karwacka (2014:31), por sua vez, admite como ideal a realização da tradução por um tradutor experiente e especializado na área da saúde e a realização da revisão por um profissional da saúde, após o que se seguirá uma leitura de provas por terceiros. Melo (2014:35) segue as opiniões de O’Neil e de Montalt e Davies, opinando que o importante é que o responsável pela tradução tenha as competências necessárias ao desempenho da tarefa de tradução. As vantagens de a revisão ser levada a cabo por um especialista na área foram, também, abordadas por Vaz (2012) em várias passagens do seu estudo, indicando que, em termos científicos, esta é a melhor solução. 92 Entenda-se por “grau de revisão” a quantidade de texto revisto em relação à totalidade de texto traduzido, o tipo de revisão (unilingue ou bilingue) e os parâmetros a ter em atenção pelo revisor.

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Assim, este agente deve decidir entre proceder a uma revisão parcial ou total, unilingue

e/ou bilingue, verificar o texto a rever de uma vez ou por excertos, quais os parâmetros

a verificar e se os terá todos em conta ao mesmo tempo ou não.

De acordo com Mossop (2014:166), o ideal é examinar os parâmetros

relacionados com a transferência da mensagem separadamente da verificação do

conteúdo, da linguagem e da apresentação do texto, especialmente se o tipo de

linguagem e o estilo do TP forem importantes na tradução. A justificação adiantada pelo

autor é a de que a análise dos aspetos relacionados com a presença da mensagem do

TP no TC – transferência – pode distrair o revisor dos restantes problemas textuais

(2014:166). Ao seguir este método, e não o oposto, o revisor evita introduzir erros,

sobretudo de conteúdo e linguagem, durante a verificação da transferência da

mensagem, erros esses que não serão, à partida, novamente analisados.

Em termos de etapas de atuação, Mossop aconselha a fazer-se uma leitura da

tradução primeiro, de modo a ter-se a perceção do leitor, seguida da comparação entre

TP e TC:

(…) all things being equal, you should read the translation alone first, without

comparing it to the source text. This is especially so when you are revising someone else’s

work, because you have a golden opportunity to see the translation from the user’s point

of view. You are not burdened by prior knowledge of what the text is supposed to be

saying (…). Your knowledge of the message is coming from the transation alone.

(2014:167)

O autor não exclui a credibilidade da revisão unilingue, procedendo-se apenas à

comparação com o TP quando se suspeita haver erros de transferência ou de lógica

(2014:158-159).

A opinião sobre as etapas de revisão a seguir quanto ao tipo (unilingue ou

bilingue) varia. Gile (1995:110) concorda com o processo definido por Mossop. Pelo

contrário, Horguelin and Brunette (1998:39) preferem uma metodologia baseada na

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leitura do TP, seguida da comparação entre TP e TC e, finalmente, das alterações

necessárias e releitura do TC.93

A autora desta dissertação é da opinião que só é possível proceder aos dois tipos

de revisão, unilingue e bilingue, nos casos em que o prazo estabelecido para a realização

das tarefas de tradução e revisão e a negociação de um orçamento justo entre PST e

cliente o permita. Nesse sentido, a sensibilização do cliente com vista à negociação de

um prazo e orçamento realista com o PST, de acordo com os requisitos do contrato

estabelecido, assume grande importância.

A discussão sobre o tipo de revisão a realizar tem levado autores como

Balemberg (2014) e Mossop (2014) a afirmar a preferência pela revisão bilingue, pelas

vantagens que apresenta sobre a revisão não comparativa, nomeadamente em termos

da procura de erros. Idealmente, as três leituras (do TC, comparação entre TP e TC e,

novamente, do TC) devem ser feitas. No entanto, esse processo é, praticamente, uma

impossibilidade, dados os constrangimentos “prazo” e “orçamento” que, muitas vezes,

tornam a tarefa de revisão nessas três etapas inviável.

Subscreve-se a referida preferência de Mossop e de Balemberg, concordando

que, na prática, se faça pelo menos a revisão comparativa, especialmente se o revisor

não corresponder ao tradutor. Esta permite que o revisor conheça as características do

TP e do TC, verifique se a transferência dos elementos está de acordo com os

pressupostos contratuais estabelecidos e tenha acesso ao documento de chegada,

antevendo, assim, a perceção do TC pelo público-leitor. Além disso, no caso concreto

dos textos das ciências da saúde, o processo de revisão comparativa pode ser crucial

para apurar se não foram omitidas ou alteradas passagens, pois estes documentos

contêm, no geral, informações importantes que é necessário passar com rigor para o TC.

Só a comparação entre os TP e TC facultará a certeza de que nenhuma dessas

93 Sobre a revisão comparativa, Mossop (2014:168-169) chama a atenção para alguns riscos quando se começa por ler o TP: se a revisão incidir sobre o parâmetro “linguagem”, a opinião do revisor sobre a qualidade da linguagem do TC pode ser condicionada pelo conhecimento prévio da do TP; a revisão pode ficar dependente do modo como o revisor traduziria, ao fazer uma tradução mental enquanto lê; o revisor pode interpretar o TP de uma forma diferente da do tradutor, sem perceber que o sentido dado por este pode ser o correto; o revisor não lê o texto do ponto de vista do leitor no sistema cultural de chegada. Para outros métodos de revisão, ver Robert 2008. Apesar de dedicada ao estudo de alguns métodos de revisão, aquela autora não emite qualquer opinião sobre o procedimento que prefere.

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informações foi omitida ou alterada pelo tradutor.94 Esta argumentação está

relacionada com o alcance destes documentos em termos dos riscos que uma tradução

deficitária pode representar para a prática dos profissionais e, consequentemente, para

os utentes, seja no decorrer da prática clínica ou na divulgação de resultados de

investigações e ensaios.

Nas palavras de Mossop (2014: 158), a revisão pode, ainda, ser parcial, ou seja,

o texto traduzido pode não ser revisto na totalidade.95 Os riscos que este tipo de revisão

acarreta variam entre a não verificação da ocorrência de alguns erros e a não verificação

de possíveis omissões de passagens completas, ou problemas semelhantes.

As políticas que vigoram na instituição prestadora do serviço de tradução e

revisão também podem ditar o grau de revisão, embora o revisor possa decidir tomar

outros aspetos em conta:

The predominant view (…) is that not every text requires a second look, and (…)

the revision can sometimes be partial (…), need not be comparative (…), and need not

cover all parameters.

(…) Some translation services and agencies emphasize checking certain micro-

aspects of a translation where errors will be immediately visible to clients (…). However

the revisers may not actually follow this preference strictly, and instead devote quite a lot

of time to style (…). (2014: 150-151)

Pode, então, afirmar-se que o processo de revisão nem sempre se limita ao

cumprimento das instruções fornecidas ao revisor, cuja perspetiva sobre o texto a rever

pode ter influência no modo como revê e nos parâmetros que tem em conta na

operação de revisão. Referindo-se à revisão das traduções no geral, as palavras de

94 Esta aceção não tem em conta os casos em que o tradutor procede a omissões ou a alterações de conteúdo por indicação do cliente, por não ser essa a realidade a tratar na presente dissertação: a revisão de traduções cuja mensagem do TP deve ser transposta na íntegra para os sistemas linguístico e cultural de chegada. 95 A propósito do estabelecimento de critérios para selecionar apenas parte dos textos a serem revistos, ver Rasmussen e Schjoldager (2011:91-92).

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Mossop no primeiro parágrafo do excerto acima relacionar-se-ão, também, com a

realidade da revisão de textos das ciências da saúde.96

Ao discorrer sobre a dependência do grau de revisão face ao tempo disponível

para essa tarefa, a par do público-leitor e dos propósitos da tradução, Mossop

(2014:152) coloca algumas questões a ter em mente, reproduzidas na tabela abaixo:

Questões para a determinação do grau de revisão

Quais os parâmetros a ter em conta?

Quem é o público-leitor?

Qual o propósito da tradução?

Por quanto tempo será lida a tradução?

Como será lida a tradução?

Onde será lida a tradução?

O revisor está familiarizado com o trabalho do tradutor?

A tradução foi realizada à pressa?

Haverá mais algum controlo da qualidade além da revisão?

Qual o grau de exatidão e qual a qualidade de escrita necessários?

Inteligível, informativa, publicável, polida

Revisão parcial ou total? Leitura completa, revisão localizada, leitura em diagonal, vista de olhos, comparação ou releitura

Tabela 3 – Questões para a decisão do grau de revisão. Traduzido e adaptado de Mossop (2014:152-160).

Em Medical Translation Step by Step, Montalt e Davies (2007:28-29) haviam

colocado questões semelhantes, reproduzidas também por Isabel Melo (2015:50-51) na

96 Esta afirmação diz respeito, essencialmente, a textos longos ou a processos de revisão que dispõem de prazos curtos para a quantidade de texto a rever. Não deve, por isso, ser tida como generalizável a todos os textos das ciências da saúde. Todavia, dada a importância das informações contidas nos textos da área em estudo, nomeadamente dos documentos que fazem parte dos corpora do presente ensaio (Consentimento Informado, Resumo das Carcaterísticas do Produto e Orientações Clínicas), é importante que o PST sensibilize o revisor para as necessidades de revisão e de esta ser o mais extensa possível.

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sua dissertação de mestrado a respeito da tradução e revisão de artigos científicos da

área da saúde. De acordo com estes autores, às questões levantadas por Mossop e

apresentadas na tabela acima podem adicionar-se duas, referidas, aliás, também pelo

autor em análise na introdução do capítulo 11 de Revising and Editing…, “Degrees of

Revision” (2014:150). A primeira refere-se ao serviço pretendido pelo cliente, como

mencionado acima, e a segunda lida com a existência de questões legais que afetem a

produção do TC. Este é o caso do Consentimento Informado e do Resumo das

Carcaterísticas do Produto, como se verá no próximo capítulo da presente dissertação.

Finalmente, Mossop (2014:162) refere que o revisor deve ter em conta a

abordagem do tradutor à tarefa que lhe é incumbida. Por exemplo, se a abordagem

tradutória for a de realizar uma tradução adequada à finalidade, o revisor terá de tomar

esse aspeto em consideração.

Da análise dos parâmetros e pressupostos apresentados por Mossop, salienta-se

a ideia de que este autor coloca o foco no sistema cultural de chegada. Insiste na

necessidade de atender ao público-leitor e ao propósito da tradução, a par da

importância que confere à transmissão de mensagens e à legibilidade dos textos, que

menciona recorrentemente. Outras preocupações que o revisor deve ter em mente

relacionam-se com a clareza da mensagem e a terminologia usada, bem como questões

de estilo e formatação da tradução.

Embora Revising and Editing for Translators tenha sido concebida, como já

afirmado, para estudantes e profissionais da tradução, Mossop (2014:135) assinala que

os parâmetros por si estabelecidos têm como objetivo o debate e a reflexão sobre as

práticas de revisão e não o uso em contexto profissional. Contudo, insiste na

necessidade de referência aos quatro grupos de problemas apresentados (transferência,

conteúdo, linguagem e apresentação), no sentido de se decidir sobre a dimensão da

revisão.

No capítulo seguinte serão apresentadas as características dos textos que

compõem os corpora da presente dissertação, pertencentes a três tipologias:

Consentimento Informado, sumário das características do produto e Orientações

Clínicas. Estes tipos de texto das ciências da saúde são usados em contexto profissional.

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Em seguida, far-se-á a avaliação da aplicabilidade dos parâmetros de revisão propostos

por Mossop a esses tipos textuais específicos.

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Capítulo 4 – A Aplicabilidade das Propostas de Mossop

Este capítulo é composto por duas secções. A primeira trata das definições e

características dos textos das ciências da saúde que constituem os dois corpora da

presente dissertação. O corpus A é composto por 16 projetos de tradução que podem

inserir-se em três tipos textuais, a saber: Consentimento Informado (CI), Resumo das

Carcaterísticas do Produto (RCP) e Orientações Clínicas (OC). O corpus B é constituído

por outros 17 documentos, em inglês e em português europeu, publicados online e

ilustrativos dos mesmos tipos.

A segunda secção refere-se à crítica da aplicabilidade das propostas de revisão

de Mossop nas traduções de textos das ciências da saúde. Será realizada tendo em conta

as características expostas na primeira e com auxílio de documentos relativos ao

controlo da qualidade dos projetos do corpus A.

4.1 Características dos textos dos corpora em análise

As características gerais dos textos das ciências da saúde dirigidos aos

profissionais foram já abordadas no capítulo 1 da presente dissertação, intitulado “Os

Textos nas Ciências da Saúde” (páginas 6-23). Nesta secção, serão individualizadas, tanto

quanto possível, algumas especificidades dos tipos textuais que compõem os corpora

selecionados.

Esses tipos pertencem à categoria profissional estabelecida por Montalt e Davies

(2007:30-31). São textos usados por profissionais da saúde no exercício da sua profissão

e relacionam-se com a prática clínica e a indústria dos setores da saúde.

4.1.1 Consentimento Informado

A autorização livre e esclarecida prestada pelo utente ou seu responsável antes

da submissão a determinada intervenção de cuidados de saúde ou da participação num

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estudo ou ensaio clínico designa-se “Consentimento Informado”.97 Neste documento

confidencial, escrito por um profissional e assinado pelo utente, deve constar toda a

informação relativa ao objetivo, natureza, consequências, riscos e alternativas da

intervenção, estudo ou ensaio, bem como o esclarecimento completo do destinatário

no que toca ao seu estado de saúde, sua evolução e riscos associados à

intervenção/tratamento ou ensaio.98 Por isso, pode afirmar-se que existe uma relativa

padronização dos conteúdos deste tipo de documento.

O anexo à Norma 015/2013 da Direção-Geral da Saúde (DGS), datada de 03 de

outubro de 2013 e atualizada em 04 de novembro 2015, e o anexo III, “Formulário de

Consentimento Informado nos termos da norma n.º 015/2013 da Direção-Geral da

Saúde” (141-142), da presente dissertação, mostram como o CI é composto por uma

parte informativa e duas declarativas, a do profissional responsável pela intervenção ou

tratamento, com descrição e eventuais riscos, e a da pessoa que consente.99

Neste contexto, pode afirmar-se a existência de duas componentes do CI

relacionadas com aspetos linguísticos, o da transmissão da informação e o da

compreensão da informação, de que resulta o consentimento. É, por isso, essencial que

o tradutor e o revisor tenham sempre em consideração as características do leitor

97 A autorização é prestada pelo responsável pelo utente (i. e. o seu representante legal) quando este é menor de idade ou possui alterações do foro cognitivo definitivas ou temporárias. Na presente dissertação, será usado o termo “utente” para abranger a duas possibilidades. 98 Informação recolhida no sítio da Entidade Reguladora da Saúde, www.ers.pt, em 26 de abril de 2017. 99 A parte declarativa, editável na Plataforma de Dados da Saúde – Portal do Profissional, apresenta as seguintes informações: 1) diagnóstico e/ou descrição da situação clínica, 2) descrição do ato/intervenção, sua natureza e objetivo, 3) benefícios, 4) riscos graves e riscos frequentes, 5) atos/intervenções alternativas fiáveis e cientificamente reconhecidas, e 6) riscos de não tratamento. Schaefer (2012:6332-6333), cuja publicação trata do CI na realidade brasileira, destaca cinco elementos que devem estar presentes no documento: I) capacidade para consentir, II) voluntariedade, III) autorização (ativa) ou consentimento, IV) informação prévia, clara, aproximativa da realidade, honesta e adequada à compreensão e ao estado emocional do interlocutor e V) termo de consentimento. No sítio da Entidade Reguladora da Saúde, atualizado a 20 de dezembro de 2014, pode ler-se que não existe nenhum modelo/formulário de CI escrito. Pelo contrário, a referida Norma 015/2013 prevê que o documento seja inscrito no formulário disponível no sítio da instituição (anexo III, “Formulário de Consentimento Informado nos termos da norma n.º5/2013 da Direção-Geral da Saúde”, páginas 141-142).

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do TC, sem esquecer questões linguísticas, culturais e ideológicas.100

Apesar de usado em contexto profissional, o CI dirige-se ao público geral, i. e.

não profissional. Por isso, de acordo com o texto Consentimento Informado – Relatório

Final (2009:3), publicado pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS), e com a informação

disponível no sítio da mesma, o esclarecimento deve ser prestado de forma simples,

objetiva, clara, suficiente e razoável,101 sendo a inteligibilidade do texto um dos fatores

de maior relevância.

O teor do documento e o público-alvo devem, portanto, ditar as características

linguísticas do texto, apropriando-as o mais possível à faixa etária e à formação do

destinatário. A linguagem usada deve ser, tanto quanto possível, corrente e evitar o

jargão médico, salvo no caso de o destinatário ser um profissional da saúde (Montalt e

Davies 2007:65; ERS 2009). De outro modo, o consentimento poderá ser informado e

livre, mas talvez não se possa dizer que é esclarecido, devido à falta de compreensão

pelo destinatário.

Os anexos IV (a), “Consentimento Informado em linguagem não especializada –

português” (páginas 143-148), e IV (b), “Consentimento Informado em linguagem não

especializada – inglês” (páginas 149-161) demonstram a conformidade geral do

documento com a especificação mencionada relativamente ao tipo de linguagem. Não

obstante, por vezes regista-se a ocorrência de termos da especialidade a que se refere

o CI, sendo exemplo, nos documentos analisados, cryopreserve, stem cells, adipose

100 Dadas estas características do CI, Grunwald e Goldfarb (2006:1) defendem que é essencial que a tradução seja feita por especialistas em tradução médica. Com efeito, a necessidade de especialização da tradução médica é reconhecida, designadamente porque a presença de erros resultantes do desconhecimento por parte do tradutor pode alterar o significado de conteúdos importantes no texto, potenciando a receção de informações erradas pelo destinatário do documento. Os dois autores (2006:1) sublinham que, ainda assim, podem ocorrer erros devido a três fatores: a tradução não é uma ciência, mas uma arte, os tradutores não são necessariamente especialistas na área de que trata o documento e o prazo e orçamento disponíveis são, geralmente, limitados. No que à limitação do prazo para realização da tradução e da revisão se refere, ver também Andriesen (2006:18) e Karwacka (2014:29). 101 De acordo com o sítio da ERS (https://www.ers.pt/pages/419), regra geral a informação é prestada oralmente pelo responsável pelo tratamento ou intervenção, sendo legalmente exigida por escrito em três casos: nos ensaios clínicos, na procriação medicamente assistida e na obtenção e utilização de material biológico em bancos de produtos biológicos (ERS 2009:26-27). Sobre a legislação de Direito da Saúde relativa ao CI, consultar ERS (2009:26-27). A lista de situações de obrigatoriedade de CI escrito pode ser consultada no endereço eletrónico https://www.ers.pt/pages/419.

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tissue, e equivalentes portugueses, a par de termos de língua corrente. Esta presença

de termos de especialidade constitui, nos documentos analisados, a exceção à regra.

Além disso, é comum serem antecedidos de ou secundados pela definição respetiva em

linguagem corrente, tendencialmente inteligível para o público em geral.

No decorrer do presente estudo, não foi possível apurar a relação entre as

características linguísticas do CI e o destinatário do documento, pelo que a escolha da

linguagem usada no CI de acordo com o destinatário carece de comprovação.102

Ao nível formal, o CI não apresenta uma estrutura rígida, podendo adquirir

diferentes formas consoante, por exemplo, os interesses e propósitos para que é

elaborado ou a norma da entidade emissora. A informação é comprovada pelos anexos

III, “Formulário de Consentimento Informado nos termos da norma n.º 5/2013 da

Direção-Geral da Saúde”, (páginas 141-142), IV, “Consentimento Informado em

linguagem não especializada” (páginas 143-161), e V, (“Modelos de Consentimento

Informado para participação em estudo”, páginas 162-163) da presente dissertação.

Concretamente, o anexo V (páginas 162-163) é constituído por dois modelos para

participação em estudos de investigação. As diferenças entre os dois comprovam que

este documento não segue propriamente um padrão estrutural, i. e. pode ser adaptado

a cada caso concreto de ensaios clínicos, não esgotando os itens nele contidos as

possibilidades dos ensaios a que se destinam.103 A mesma dimensão de adaptação é

102 A este nível, seria necessário ter conhecimento dos destinatários dos documentos e responder a questões do âmbito da sua produção (por exemplo: “Será que o responsável pela autoria do documento tem conhecimento das capacidades e conhecimentos do destinatário?). Por outro lado, o facto de alguns CI apresentarem alguns termos de especialidade sem definição, mas serem, de resto, escritos em linguagem simples, mesmo que usando de estruturas mais ou menos comprexas, permite levantar várias questões, como: “Até que ponto são respeitadas as normas que regulam a elaboração deste tipo de documento?”, ou “Tratando-se de traduções, a escolha terminológica relaciona-se com as instruções fornecidas pelo cliente?”. 103 O primeiro modelo apresentado (anexo V (a) “Modelo de Consentimento Informado proveniente do corpus B”, página 162), corresponde a uma adaptação do apresentado em https://www.uc.pt/fcdef/Comissao_de_etica/.../Modelo_de_Consentimento. O segundo (anexo V (b), “Modelo de Consentimento Informado proveniente de projeto de tradução do corpus A”, página 163) é uma adaptação de um dos projetos de tradução do corpus A do presente estudo. Aos dois foram retiradas as informações correspondentes a cada item, por não se pretender mostrar o conteúdo, mas a estrutura, e dado o caráter de confidencialidade da informação do segundo.

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aplicada aos CI destinados a intervenções/tratamentos dos utentes.104

Em relação à construção frásica, a análise feita aos CI dos corpora permite

constatar também que não existe um padrão de construções em vigor. As partes

declarativas do CI, que poderiam apresentar um padrão mais invariável que a

informativa, variam entre construções do tipo “Declaro e assino…”, “Declaro que li e

compreendi…”, “Declaro que prestei todas as informações…”, ou outras semelhantes, e

a total ausência de fórmula declarativa, como comprovado pelo anexo V (b) (página

163).

4.1.2 Resumo das Carcaterísticas do Produto

Compreende-se por “Resumo das Carcaterísticas do Produto” (ou “do

medicamento”) um documento legal e não confidencial que acompanha o pedido de

autorização de colocação e circulação do produto no mercado (Comissão Europeia

2009:2; Ponciano 2013:21).

Contém informações resumidas, do foro médico e farmacêutico, que provêm da

avaliação do produto pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e sua aprovação

pela autoridade competente (em Portugal, o Infarmed ou a Comissão Europeia). São

relevantes para os profissionais da saúde, instruindo-os sobre a utilização segura e eficaz

do medicamento. A relevância deste documento para a boa prática clínica exige que o

mesmo seja atualizado quando surgem novas informações importantes para o uso do

produto. Um exemplo é o conhecimento de novos efeitos secundários, que devem ser

integrados na lista apresentada na secção respetiva.

No âmbito das ciências da saúde, o RCP refere-se, essencialmente, a

medicamentos para humanos, animais ou para plantas (caso dos produtos

104 No sítio da OMS estão disponíveis vários modelos de CI em língua inglesa, designadamente para fins de estudos e ensaios clínicos e armazenamento de amostras, incluindo aqueles cujos sujeitos são menores de idade. Remete-se o leitor para o endereço eletrónico respetivo, http://www.who.int/rpc/research_ethics/informed_consent/en/.

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fitofarmacêuticos).105

O Artigo 10.º da Lei n.º 51/2014, de 25 de agosto106, indica que a apresentação

da informação deve ser adaptada ao destinatário do documento, “evitando

designadamente textos e sua formatação, desenhos, cores ou formulações que possam

criar dificuldades na identificação dos medicamentos ou na distinção das diferentes

dosagens e formas farmacêuticas”. Em Portugal, o RCP é, nos trâmites do Artigo 26.º da

mesma Lei, publicado na página eletrónica do INFARMED, I.P quando o produto se

destina ao consumo humano.

A estrutura e o conteúdo do RCP encontram-se, de acordo com a European

Medicines Agency ([s. d.]:5), Montalt e Davies (2007:73-74), Ponciano (2013:21) e a

análise dos documentos dos corpora em estudo, bem definidas. A EMA, que trata da

avaliação dos produtos medicinais para comercialização, estabeleceu a estrutura do RCP

e informações que nele devem constar. O anexo VI, “Estrutura do Resumo das

Carcaterísticas do Produto de acordo com as disposições da EMA” (página 164), diz

respeito às disposições apresentadas por essa entidade. O mesmo padrão está previsto,

para os RCP redigidos em português europeu, no artigo 18.º da legislação acima

mencionada.

Os anexos I (a), “Resumo das Características do Produto Veterinário Apvar 500

mg” (páginas 109-114), e I (b), “Resumo das Características do Produto Veterinário

Serimucoli solução oral” (páginas 115-122), dizem respeito ao RCP de medicamentos

destinados a animais, onde se pode ver que o documento apresenta a mesma estrutura

de base que os destinados ao uso humano. É, todavia, adaptada à realidade da medicina

veterinária, sendo retirados itens como, por exemplo, “Efeitos sobre a capacidade de

conduzir e utilizar máquinas”, presentes nos RCP para uso humano (ver anexo I (c),

“Resumo das Características do Produto para uso humano”, páginas 123-139).

105 Dada a natureza dos documentos que compõem o corpus de estudo da presente dissertação, onde não se contam materiais relacionados com a saúde das plantas, no texto utilizar-se-ão as designações “medicamento” ou “produto” como sinónimos, mas sem referência aos produtos fitofarmacêuticos, por não se conhecer a estrutura dos RCP dedicados a estes seres vivos. 106 Esta Lei encontra-se disponível para consulta no endereço eletrónico http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=1884&tabela=leis&so_miolo=.

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No que respeita ao tipo de linguagem característica do RCP, apresenta termos

geralmente mais técnicos do que o folheto informativo (FI), outro documento que

acompanha o medicamento, com o mesmo princípio de uso seguro e eficaz, mas

destinado ao público em geral.

4.1.3 Orientações Clínicas

De acordo com Montalt e Davies (78), os profissionais da saúde recebem, muitas

vezes, informações resumidas, por não terem acesso a toda a documentação referente

ao assunto, por nem toda essa informação ser, para si, relevante e por não disporem de

tempo suficiente para a leitura de todos os documentos.

Por isso, dedicam-se à leitura de “Orientações Clínicas”, documentos que

resumem as informações relevantes sobre determinado estudo, elaborados por

especialistas e que podem ser dirigidos a vários públicos, como os profissionais da

saúde, os utentes e a indústria médica, que comercializa equipamentos de diagnóstico

e medicamentos. Representam uma atualização do conhecimento na matéria sobre a

qual se debruçam, pelo que as informações são mutáveis ou passíveis de atualização

constante, à medida que novas descobertas são feitas. Destinam-se à educação e

formação dos leitores para auxílio na tomada de decisões pelo profissional e pelo utente

relativamente a opções de tratamento em circunstâncias determinadas (Montalt e

Davies 2007:79), assim promovendo a boa prática clínica e indo ao encontro das

necessidades do utente, aumentando a qualidade do serviço clínico e potenciando as

hipóteses de sucesso no tratamento (Committee of Ministers of the Council of Europe,

2002:8).

Para que a elaboração das OC fosse normalizada, o Comité de Ministros do

Conselho Europeu elaborou e adotou, em 2001, a Recomendação Rec(2001) 13,

aplicada nos estados-membros da União Europeia. Este documento destina-se à

padronização das políticas de produção, avaliação, atualização e disseminação das

OC.107

107 Outras organizações também concorreram para a normalização da elaboração de OC. Sobre este assunto, ver Montalt e Davies (2007:79-80).

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Tal como os documentos anteriores, as OC devem ter em conta o contexto para

que são elaboradas. Daí, decorre o estabelecido na Recomendação Rec(2001) 13

(2002:16) de que estes documentos, quando adaptados de outros países ou áreas,

devem ser reeditados e revistos ou testados para serem aplicadas na nova realidade

cultural.

A quantidade de itens apresentados nas OC e as informações correspondentes

podem ser variáveis, possivelmente dependendo dos dados disponíveis e para

divulgação. Os anexos VII (a), “Índice das Orientações Clínicas Difficult Intravenous

Access, publicadas pela Emergency Nurses Association” (página 165), e (b), “Índice das

Orientações Clínicas Suicide Risk Assessment, publicadas pela Emergency Nurses

Association” (página 166), servem como exemplo.108 O tipo e a sequência das

informações apresentadas não se esgotam nos exemplos destes anexos. Prova disso são

as OC que fazem parte do corpus A que, como já referido, por motivos de

confidencialidade não poderá ser divulgado no presente estudo. Porém, várias

informações sobre os documentos que o compõem podem ser avançadas.

A respeito da extensão e dos itens constantes das OC, três documentos têm

como objeto o estudo de determinado medicamento. Nestes documentos, é

característica a presença de itens semelhantes aos dos RCP. O quarto documento do

corpus A assemelha-se mais a instruções de uso do produto (no caso, material clínico

não medicamentoso), do que a OC. Na realidade, neste documento as características de

OC encontram-se em poucos itens, nomeadamente na presença de contraindicações e

de complicações advindas da utilização do produto, resultantes de estudos prévios.

Outro documento do corpus A limita-se a dois campos: à utilização prevista do produto

medicamentoso a que se refere e às reações adversas a agentes que entram na sua

composição. Dado o seu teor, pode ser entendido como um resumo do RCP, por se

108 Os índices das várias OC publicadas por esta entidade (ENA), disponíveis através do endereço eletrónico https://www.ena.org/practice-research/research/CPG/Pages/Default.aspx, apresentam, no geral, os mesmos itens, apenas com algumas variações em número. O facto de outras OC, pertencentes ao corpus A, publicadas por outras entidades, apresentarem itens diferentes, poderá sugerir que a estrutura destes documentos depende da entidade responsável pela sua publicação. Todavia, esta informação só poderá ser confirmada em estudos posteriores, por não ser esse o objetivo da presente dissertação.

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limitar a informações presentes e caraterísticas desses documentos que, por sua vez,

também servem para orientação dos profissionais da saúde.

Desta forma, tanto o documento sumarizado do corpus A como os diferentes

modos de conceção das OC, justificam criticar a tipificação textual aparentemente rígida

oferecida por Montalt e Davies (20007:30-31). Na abertura do presente capítulo, foi dito

que sobre os textos dos corpora em análise podem inserir-se em três tipos textuais. A

escolha do verbo “poder” não foi inocente. Com efeito, o hibridismo de alguns

documentos mostra que os tipos textuais não são estanques, podendo assumir-se que

Montalt e Davies sentiram a necessidade de organizar uma tipologia tendo em conta a

finalidade instrutiva da sua obra. Facilitariam, assim, a caracterização de alguns textos e

o fornecimento de indicações gerais relativamente a procedimentos para a sua

tradução.

A linguagem das OC não parece ser padronizada, registando-se uma maior

presença de termos técnicos e de construções específicas, com fraseologias, sobretudo

nos documentos do corpus A relativamente ao corpus B, onde a linguagem varia entre

mais especializada e mais acessível ao público leigo, que beneficia da existência de

glossários nos respetivos documentos.

Caracterizados os textos que constituem os corpora da presente dissertação,

conclui-se que o CI, o RCP e as OC têm tanto características distintivas como traços em

comum. Os três encontram-se bem definidos em termos do propósito para que são

elaborados e da função que devem desempenhar no seu contexto de uso. A legislação

ou as instruções de elaboração, quando existem, reivindicam a importância de a

linguagem ser adaptada ao meio em que serão utilizados os documentos, tendo em vista

a compreensão pelo leitor e o cumprimento da função que deles decorre.

A secção seguinte, última da presente dissertação, avalia a aplicabilidade das

propostas de revisão de Mossop em textos das ciências da saúde, com base nos

documentos dos corpora analisados e na leitura crítica da literatura.

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4.2 Avaliação da aplicabiliade

No ponto 3.3 desta dissertação, “Pressupostos teóricos da revisão na obra de

Mossop” (páginas 56-63), foram apresentados os métodos de atuação delimitados por

esse autor para definir que erros a corrigir na tradução, ou seja, quais os parâmetros a

ter em conta durante a revisão. Aí, ficou estabelecido que o grau de revisão depende de

fatores tais como as características específicas do contrato com o cliente ao nível do

serviço pretendido, o prazo e o orçamento acordados entre PST e cliente, o tipo e a

importância do texto traduzido no sistema cultural de chegada e as competências

específicas do tradutor responsável pela tradução face ao TP. Como se afirmou, estes

aspetos encontram-se todos interligados e serão desenvolvidos nos parágrafos que se

seguem.

Efetivamente, o cliente pode encomendar ao PST apenas a tradução de

documentos, sem incluir a revisão por terceiros. Porém, se o processo de revisão

contribui para a qualidade da tradução, pressupõe-se que o tradutor proceda sempre à

verificação do TC, com ou sem comparação entre TP e TC, certificando-se de que os

requisitos para a qualidade daquele serviço são cumpridos. Contudo, tanto os limites

dessa verificação como os da heterorrevisão estão sujeitos ao prazo e ao orçamento

definidos em contrato, pois implicam tempo que pode ser elevado e que deve ser pago.

A esse respeito, é seguro afirmar que a questão do prazo tem implicações no

tempo que o PST pode dedicar à revisão e no tipo de revisão a fazer (monolingue ou

bilingue, total ou parcial). Se o prazo para o serviço for curto para a dimensão do

documento a rever, o revisor (ou tradutor, no caso da autorrevisão) poderá ter, ainda,

de selecionar os parâmetros que lhe parecem mais importantes de acordo com o texto

e o público ao qual se destina, tendo em atenção os requisitos do cliente e as motivações

que levaram à tradução, ligadas à função do documento no sistema cultural de chegada.

O prazo e o orçamento acordados com o cliente devem, assim, ser realistas, de modo a

cobrir as necessidades específicas de revisão.

A dependência do grau de revisão e dos parâmetros a ter em conta

relativamente à importância do texto traduzido no sistema cultural de chegada está

intimamente ligada às motivações da tradução, ao propósito com que é realizada, ao

tempo de uso e à adequação à finalidade, questão também prevista nas normas EN

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15038 (5) e ISO 17100 (2). Com efeito, certos tipos textuais podem exigir um maior rigor

ao nível das características linguísticas. É o caso do CI, cuja linguagem deve ser adaptada

aos conhecimentos e capacidades do leitor, o qual tomará uma decisão de acordo com

a leitura e interpretação que faz do texto. Outros tipos textuais podem requerer uma

maior ênfase do que este, por exemplo, no grupo “apresentação”, por serem destinados

à publicação e a sua estrutura ser padronizada, como o RCP.

Por fim, referiu-se que a revisão está sujeita às competências específicas do

responsável pela tradução. Neste ponto, importa salientar a necessidade de observância

das competências do tradutor estipuladas na norma ISO 17100 (6) e mencionadas na

página 30 da presente dissertação. Julgando pelas palavras de Mossop (2014:151), um

tradutor menos experiente poderá elaborar um TC com maiores necessidades de

revisão. O autor em estudo parece, assim, desvirtuar o trabalho do tradutor com menos

experiência, sem ter em consideração a formação deste agente. Com efeito, se o

tradutor tiver conhecimentos na área a que se reporta a tradução ou se se tiver

especializado na tradução dessa área, o seu trabalho pode ser uma mais valia face a uma

tradução realizada por outrem que não possua os mesmos conhecimentos. A formação

do tradutor facilitará, pois, a sua compreensão do documento e o conhecimento das

características que o mesmo deverá ter no sistema cultural de chegada, podendo então

desenvolver um TC cuja qualidade se considere elevada. É a partir desta noção da

importância da especialização do tradutor que a opinião apresentada nesta dissertação

e as ideias de O’Neil (1998), Montalt e Davies (2007), Karwacka (2014) e Melo (2014) se

tocam.109

Se o grau de revisão, os parâmetros a ter em conta e sua importância variam, no

geral, conforme as circunstâncias do contrato de tradução e revisão e o texto a tratar,

as propostas de Mossop são aplicáveis a qualquer projeto de revisão. Na realidade, a

existência de cada tradução tem por detrás uma razão de ser, uma determinada

finalidade, dirige-se a um determinado público e é usada em determinado contexto. Tal

como noutros casos, os textos das ciências da saúde devem ser traduzidos de acordo

com os preceitos que se esperam cumpridos pelo cliente com vista à satisfação deste

109 Ver nota de rodapé 91 da presente dissertação (página 57).

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agente e em consonância com as normas e convenções textuais do sistema cultural de

chegada.

Portanto, para avaliar a aplicabilidade das propostas de Mossop ao caso concreto

das ciências da saúde, é necessário ter em conta as especificidades do projeto de

tradução e revisão em causa. Só assim se pode definir o que é ou não considerado erro,

tendo em conta que as propostas de Mossop se baseiam na identificação e classificação

de erros de tradução. De forma a ilustrar um quadro possível para as ciências da saúde,

para efeitos da presente dissertação será criado um cenário hipotético onde se usam os

tipos textuais presentes nos corpora de estudo (CI, RCP e OC). As instruções recebidas

pelo revisor vão no sentido da manutenção do tipo, da finalidade e do contexto de uso

dos textos, e as características do público-leitor são as mesmas. Com o revisor, foi

acordado um prazo e orçamento realistas que lhe permitem proceder à leitura e revisão

bilingue do documento na totalidade.

A tabela abaixo apresenta as características a ter em conta pelo revisor de acordo

com o texto a trabalhar. Lembrando que o cenário é meramente hipotético, os dados

não representam todas as realidades possíveis dos documentos em análise. Pelo

contrário, encontram-se preenchidos de acordo com as características a ter em

consideração pelo PST para este caso concreto.

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Tipo textual Consentimento Informado

Resumo das Carcaterísticas do Produto

Orientações Clínicas

Público Utente Profissional da saúde

Profissional da saúde

Função Informar e expressar consentimento

Instruir sobre a utilização útil e eficaz do produto

Informar e instruir sobre investigações

Propósito Esclarecer o utente para tomada de decisões e exprimir o seu consentimento

Dar a conhecer o produto para garantir a utilização eficaz e segura

Instruir sobre resultados de novas investigações para tomada de decisões

Contexto de uso Investigação e prática clínicas

Prática clínica Prática clínica

Tempo de uso Pontual Prolongado Prolongado

Linguagem Simples, clara e objetiva; possível presença de jargão

Especializada Mais ou menos especializada

Grau de padronização Baixo (apenas ao nível das partes constituintes e seu conteúdo)

Elevado Relativo (estrutura e conteúdo podem ser variáveis)

Tabela 4 – Características a ter em conta pelo tradutor/revisor de acordo com o texto a trabalhar, no cenário hipotético criado para o presente estudo.110

A fim de compreender as informações da tabela, explicitam-se alguns termos

usados. Entende-se por “função” a relação entre a tradução e o objetivo com que é

realizada, a necessidade a que responde, e por “propósito” a expressão desse objetivo.

110 No presente estudo entende-se por público a quem se dirige o documento e por destinatário quem fará uso do documento. No caso do CI, o documento é dirigido, em primeiro lugar, ao utente, mas serve ao profissional da saúde para exercer práticas clínicas adequadas.

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O campo “tempo de uso” diz respeito à possível duração de utilização do documento,

sendo que “pontual” significa que o texto é usado num dado momento, numa situação

específica.111 Por oposição, a designação “prolongado” é usada para textos cujo

conteúdo tende a ser consultado com certa frequência, em situações diversas – por

exemplo, os RCP e as OC servem à leitura por vários grupos ao longo do tempo, e são

substituídos apenas quando se descobrem novas informações passíveis de serem

integradas nestes documentos. O grau de padronização está classificado como “baixo”

no caso do CI por existir apenas ao nível das partes constituintes do documento e seu

conteúdo, apesar de a legislação se referir também ao tipo de linguagem a usar. Assume-

se que as OC possuem um grau “relativo” porque a sua estrutura e conteúdo mostraram-

se, de acordo com os documentos analisados, variáveis, possivelmente consoante as

informações prestadas no documento e a entidade responsável pela sua publicação. No

RCP, o grau de padronização diz-se “elevado” por este documento se encontrar legislado

a nível internacional, nomeadamente em relação à estrutura e conteúdos apresentados.

A tabela que se segue diz respeito aos grupos de problemas e respetivos

parâmetros de revisão desenvolvidos por Mossop (2014:134-149) e a ter em conta em

cada tipo textual de acordo com o cenário proposto.

111 A respeito da pontualidade do CI, tal não significa que o documento seja composto para a situação específica de um caso único e exclusivo. Na verdade, a elaboração do CI pode ser massificada, sendo o documento distribuído conforme necessário. É o caso dos CI destinados a ensaios clínicos, que são distribuídos aos utentes ou seus responsáveis.

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Transferência Conteúdo Linguagem Apresentação

Consentimento Informado

Exatidão e completude

Lógica e factos

Fluidez, personalização, sublinguagem, expressões idiomáticas e mecanismos

Formatação, tipografia e organização

Resumo das Carcaterísticas do Produto

Exatidão e completude

Lógica e factos

Fluidez, personalização, sublinguagem, expressões idiomáticas e mecanismos

Formatação, tipografia e organização

Orientações Clínicas

Exatidão e completude

Lógica e factos

Fluidez, personalização, sublinguagem, expressões idiomáticas e mecanismos

Formatação, tipografia e organização

Tabela 5 – Grupos de problemas e parâmetros de revisão desenvolvidos por Mossop (2014:134-149) de acordo com o tipo textual e o cenário proposto.

Um primeiro olhar à tabela 4 dá a entender que os doze parâmetros de Mossop

estão, no geral, presentes. A razão para tal é que, considerando o acordo com o cliente,

pressupõe-se que se fará a revisão comparativa do TC na íntegra com vista à

identificação e correção do número máximo de erros. Ainda assim, alguns parâmetros

poderão ser mais importantes do que outros, conforme o tipo de texto, o propósito com

que foi realizada a tradução e o público a quem se dirige. A pertinência dos parâmetros

encontra-se diferenciada, na tabela, através do destaque a sublinhado daqueles que

podem ser considerados de importância variável, explicada nos parágrafos que se

seguem à medida que se estabelece uma proposta de controlo da qualidade de

traduções de textos das ciências da saúde através do processo de revisão.

Num primeiro momento, o revisor procederá à comparação entre TP e TC,

verificando se a mensagem do TP se reflete de forma correta e na totalidade da

tradução. Neste ponto, assume-se a concordância com Mossop (2014:166) quando o

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autor defende que os erros de transferência da mensagem devem ser examinados

separadamente dos restantes. A justificação é de que o grupo “transferência” diz

respeito à mensagem veiculada pelo texto, ao passo que os grupos “conteúdo” e

“linguagem” se relacionam com as formas linguísticas e sua organização no texto para

veicular essa mensagem, e o grupo “apresentação” identifica problemas relacionados

com a componente visual do texto no seu conjunto. Após analisar os parâmetros

“exatidão” e “completude” da mensagem do TP no TC, o revisor poderá, então,

concentrar-se nos restantes sem o risco de ter introduzido erros de conteúdo e

linguagem numa primeira análise.

Os tipos de texto que constituem os corpora desta dissertação (CI, RCP e OC) são

um auxílio para a tomada de decisões conscientes em relação a atitudes a ter por parte

dos profissionais da saúde, sobretudo no caso do RCP e das OC, e dos utentes no caso

do CI, na prática clínica ou em investigações nas áreas da saúde. São, portanto, tipos de

texto em que os parâmetros “exatidão” e “completude” se revestem de grande

importância, mas não sem reservas. Atente-se no caso de um CI cuja informação se

reporta a uma intervenção cirúrgica: a menos que os procedimentos e os materiais

usados na instituição onde será realizada a intervenção sejam idênticos aos descritos no

TP, o tradutor poderá ter alterado essa descrição. Ao revisor cabe certificar-se de que

todas as informações estão de acordo com as instruções fornecidas ao tradutor para

esse efeito. Este é um caso em que o parâmetro “exatidão” pode não ser verificado na

totalidade.

Associado à “transferência” da mensagem do TP para o TC encontra-se o grupo

“conteúdo”. A sua importância na tradução explica que, na tabela acima, se encontre

representado de igual forma nos três tipos textuais em estudo. Efetivamente, é

necessário que o revisor atente na possível falta de sentido ou na presença de

contradições ao longo do texto e verifique a sua fonte, de modo a garantir a lógica dos

conteúdos do documento (parâmetro “lógica”). Esses problemas podem estar, também,

associados ao parâmetro “factos”, através do qual o revisor atenta em erros de caráter

factual, conceptual ou matemático. Os erros factuais ou conceptuais podem, inclusive,

encontrar-se no TP. Neste caso, o mais indicado será que o cliente seja alertado,

nomeadamente nos casos em que dos documentos depende a tomada de decisões

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pelos leitores, como os CI, os RCP e as OC. De entre os documentos em estudo, é

sobretudo nos últimos que se podem registar erros matemáticos, nomeadamente se

forem fornecidos valores resultantes de estudos (como, por exemplo, frequências,

percentagens, dosagens erradas, entre outros).

Ao longo de Revising and Editing… (2014), Mossop enfatiza o fator legibilidade

como essencial na tradução. As características cognitivas do leitor assumem, para o

efeito, grande relevância. O terceiro grupo de problemas identificados por Mossop

(2014:134-149), “linguagem”, encontra-se em estreita relação com os conhecimentos

do leitor e a sua capacidade de compreensão da mensagem. Uma vez mais, todos os

parâmetros adquirem maior ou menor grau de importância dentro dos pressupostos

contratuais designados para o cenário aqui criado.

Apesar de usado na prática e investigação clínicas, o CI dirige-se, em primeiro

lugar, aos utentes. A legislação e recomendações feitas pelas entidades reguladoras

deste documento112 indicam que a linguagem deve ser clara, simples e objetiva,

evitando o uso de termos de especialidade. Por isso, é necessário que o revisor dedique

algum tempo aos parâmetros do grupo “linguagem”, devotados à boa compreensão da

mensagem por parte do leitor.

No que aos parâmetros “fluidez”, “personalização”, “sublinguagem” e

“expressões idiomáticas” toca, na tabela 4 são apresentados com igual importância para

os tipos de texto em estudo. A observância dos quatro contribui para a legibilidade do

texto pelo leitor, uma vez que a “fluidez” e as “expressões idiomáticas” tratam da clareza

do texto e a “personalização” e a “sublinguagem” se relacionam mais com a adequação

da linguagem usada ao leitor, ao tipo textual e ao propósito da tradução. A respeito do

penúltimo parâmetro, “personalização”, é significativo que o tradutor adote uma

abordagem cultural especialmente no CI, por ser este o documento que, de acordo com

o que se pôde verificar, apresenta maior variação linguística. Mesmo mantendo as

características do público-leitor em termos de grau de especialização, não se pode

esquecer que a presente dissertação aborda os textos traduzidos da língua inglesa para

o português europeu, logo, pertencentes a duas línguas e culturas diferentes. Por isso,

112 Ver página 65 da presente dissertação.

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os conhecimentos e nível de instrução não serão, por certo, idênticos, pelo que existe

necessidade de verificar se o tradutor teve a questão em atenção, ou seja, se procedeu

às adaptações necessárias.113 É ainda neste parâmetro que, para os textos das ciências

da saúde, se incluirá a verificação do uso correto de siglas, acrónimos e abreviaturas,

não referidos por Mossop (2014).

Já o parâmetro “mecanismos” poderá não ser tido em linha de conta da mesma

forma para o CI, o RCP e as OC. Em termos de verificação da pontuação, das regras

gramaticais e da correção da ortografia, adquire igual relevância em todos os textos

estudados. Contudo, uma vez que também é orientado para a verificação do uso correto

do estilo próprio da instituição de que provém o documento, esta característica pode

ser tida como mais importante em documentos para publicação e uso prolongado ao

longo do tempo, como os RCP e as OC. Se o documento se tratar de um CI, caso a

entidade emissora não possua uma norma formal, a maior preocupação residirá nos

erros gramaticais e de escrita, ficando a questão do “estilo próprio da instituição” afeta

à manutenção das características do TP.

Como já foi afirmado na página 55 desta dissertação, o grupo “apresentação”

destaca o aspeto físico, visual, do documento no seu conjunto, pelo que será mais

importante quando se destina à publicação. Nesta situação, o revisor pode conferir

maior importância à formatação, tipografia e organização do RCP, de estrutura

altamente padronizada, e das OC, supostamente padronizadas em termos de estrutura

de acordo com a entidade responsável pela publicação, do que às do CI. Pelo menos ao

que parece, os parâmetros de maior relevância dentro do grupo “apresentação” neste

documento correspondem à “formatação” e à “tipografia”, fatores de legibilidade. O

parâmetro “organização” é mais passível de ser tido em atenção no RCP e nas OC por

estes documentos se encontrarem, com frequência, organizados por pontos, e inclusive

as OC possuírem índices, paginação ou notas de rodapé e outros elementos não

presentes no CI, como se pode ver nos anexos I, “Resumos das Carcaterísticas do

Produto” (páginas 109-139), e VII, Índices de Orientações Clínicas (páginas 165-166). No

113 A sensibilidade do tradutor e do revisor são, neste aspeto, cruciais. Reconhecendo ser uma questão individual, de personalidade, a ideia aqui apresentada pretende-se como uma chamada de atenção, mais do que como um padrão de atuação do revisor.

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entanto, caso sejam dadas instruções ao PST relativamente a todos os critérios de

“apresentação” para o CI, o revisor deve tê-los sempre em conta.

Finda a ilustração e análise do cenário criado para efeitos deste estudo à luz das

propostas de revisão elaboradas por Mossop, verifica-se que: 1) todos os parâmetros

são passíveis de ser confirmados à luz do cenário criado; 2) a importância conferida a

cada parâmetro está dependente do tipo de texto, do público a quem se dirige, do

propósito, contexto e tempo de uso da tradução e do prazo e orçamento acordados com

o cliente. Pode, portanto, concluir-se a aplicabilidade das propostas de Mossop, em

certa medida, a diversos projetos de tradução/revisão, dos quais o cenário criado

representa apenas um. As suas propostas abrangem, pois, projetos de tradução e

revisão dos textos das ciências da saúde, cujas traduções são passíveis de revisão e

edição tendo em conta os parâmetros propostos pelo autor.

Mas, será que os doze parâmetros desenvolvidos por Mossop são suficientes

para todos os tipos de texto? De acordo com as características dos textos das ciências

da saúde e as realidades que representam, a resposta é negativa. O exemplo que se

segue é representativo de tal alegação.

A presença de ilustrações e cores nos documentos é uma questão a ter em

atenção nos textos das ciências da saúde, mas não abordada por Mossop. O autor em

análise parece esquecer as possibilidades de ocorrência desses elementos. Não

obstante a sua obra debruçar-se sobre a tradução no geral, é significativo abordá-los

tendo em conta o caso específico estudado na presente dissertação. Na realidade, no

que às ciências da saúde diz respeito, a sua presença pode registar-se em vários tipos

de texto destinados a diversos públicos como, por exemplo, manuais, artigos ou livros

científicos, folhetos informativos, enciclopédias, rótulos e outros de entre os quais as

OC. Dado que a interpretação destes elementos pode ser diferente de acordo com o

contexto cultural em que são usados,114 é importante que o tradutor tenha esses

aspetos em consideração, certificando-se o revisor de que a sua presença no documento

está conforme as regras do sistema cultural de chegada, salvo sob indicação contrária.

114 Por exemplo, a ilustração da realização de testes em animais não representa o mesmo para indivíduos que os praticam e para indivíduos que se opõem a estas práticas. Este assunto foi, também, abordado por Andriesen (2006:157), que exemplifica a questão das cores através de exemplos como a associação da cor negra, no mundo ocidental, ao luto, enquanto na China a cor usada para o mesmo efeito é o branco.

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Em “Medical Translation: What Is It…”, Andriesen (2006) refere a presença de

imagens e cores como um problema possível na tradução, que pode causar entraves à

interpretação dos documentos em que ocorrem, relacionando-a com o grau de

internacionalização dos mesmos. Aproveitando estas indicações, pode acrescentar-se

um terceiro parâmetro no segundo grupo de problemas diagnosticados por Mossop

(2014), “conteúdo”, que se designará precisamente “internacionalização”. O critério de

inserção do novo parâmetro no grupo “conteúdo” é fundamentado no teor do próprio

grupo: inconsistência na apresentação das ideias e problemas que potenciam a

interpretação errónea do documento pelo leitor.

Mossop (2014) também não dedica, em nenhum momento da sua obra, espaço

à questão do registo. Tal como o estilo da linguagem, o registo, relacionado com o grau

de formalidade dos documentos em termos linguísticos, adquire considerável

importância em termos de proximidade com o leitor. Atentando no CI, por exemplo, se

o grau de formalidade for elevado, o utente poderá não se sentir tão próximo do

responsável pelo tratamento/investigação a que o documento diz respeito. Se, ao invés,

o documento for escrito num registo menos formal, o utente poderá ser mais facilmente

recetivo à submissão ao tratamento proposto ou à participação no ensaio a que se

refere o documento. Além disso, as formas de tratamento correspondem, também, a

questões culturais. Trata-se, pois, da adaptação da linguagem ao público-leitor, pelo que

se advoga a criação do parâmetro “registo” no grupo “linguagem”.

Finalmente, a questão da consistência é apontada por Balemberg

(2014:”Abstract”) como um ponto fraco de Revising and Editing, por não ser tratado

diretamente como um parâmetro. A realidade é que Mossop dedica todo um capítulo a

este princípio, intitulado precisamente “Checking for consistency” (capítulo 7, 2001:69-

73; 2007: 87-92; 2014:90-96), onde deixa perceber que a consistência é necessária em

vários termos, nomeadamente os que são discutidos nas próximas linhas. A consistência

conceptual e terminológica são, pois, importantes, sobretudo nos casos em que possam

existir variações pela ocorrência de neologismos.115 Entendida como um fator que

confere legibilidade ao texto, a consistência adquire, ainda, valor aos níveis do estilo e

115 A neologia foi abordada na secção 1.3, “Características gerais” (páginas 14-22), deste ensaio. Para alguns exemplos, ver nota de rodapé 21 da presente dissertação (página 18).

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do registo da linguagem, permitindo uma maior fluidez na leitura. Em terceiro lugar,

deve estar presente também em conjunto com os parâmetros do grupo “apresentação”,

de acordo com a ideia de que o aspeto visual e a correção em termos de remissões no

texto (índice, paginação, notas de rodapé ou outras) jogam, também, com a legibilidade

do texto.

Por estas razões, concorda-se com Balemberg na aceção de que a “consistência”

merece realce num serviço de tradução e revisão, devendo, então, ser compreendida

como um parâmetro independente a ter em conta durante a prestação do serviço

contratado.

A análise aqui apresentada para os documentos dos corpora representa uma

proposta para um padrão de controlo da qualidade que deve sempre ser adaptado

tendo em conta as características da tarefa que temos em mãos. É necessário ter

presente que todos os cenários são variáveis, dependentes de circunstâncias

específicas. É por isso que as propostas de Mossop podem ser extrapoladas para várias

experiências de revisão e adaptadas a cada caso particular de tradução e revisão.

Tendo-se revelado insuficientes para a verificação de todos os erros que podem

registar-se em documentos das ciências da saúde, especialmente dos tipos em estudo

(CI, RCP e OC), defende-se a necessidade de adicionar três parâmetros aos propostos

pelo autor em estudo, “internacionalização”, “registo” e “consistência”. Da mesma

forma, a observação destes parâmetros também varia consoante as necessidades

específicas de cada projeto de tradução/revisão.

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CONCLUSÕES

O estudo aqui apresentado junta-se ao número crescente de trabalhos de

investigação que têm vindo a ser feitos sobre a tradução e revisão de textos das áreas

das ciências da saúde, em especial na última década.

A escolha do tema não foi aleatória: das pesquisas levadas a cabo, constatou-se

uma lacuna na investigação centrada na fase de revisão das traduções destes textos, em

especial no que toca ao par de línguas inglês – português europeu. Pelo que se pôde

apurar, a análise da adequabilidade das propostas de revisão de Mossop aos textos das

ciências da saúde também não constituiu, até à presente dissertação, tema de

investigação académica. Além disso, concretamente para os textos tratados, destinados

aos profissionais da saúde com vista à boa prática clínica, a importância deste estudo

reside no facto de esses documentos poderem conter informações cruciais que, se mal

interpretadas, dúbias ou erróneas, podem resultar na aplicação errada da mensagem

dos textos de partida e, em último caso, em práticas clínicas que poderão ser bastante

danosas. Compreende-se, assim, a importância do processo de revisão das traduções

dos textos das ciências da saúde: a verificação dos conteúdos da mensagem e da sua

inteligibilidade adquirem uma importância crucial nos textos das ciências da saúde, na

medida em que deles dependem ações dos leitores.

É destes aspetos que resulta a relevância da presente dissertação: preencher

uma lacuna na investigação sobre o processo de revisão de textos das ciências da saúde,

por um lado, e procurar delinear um padrão de revisão geral para esses textos, para que

o produto da tradução e revisão vá, o mais possível, de encontro às necessidades e

especificações do cliente, por outro.

Os quatro capítulos que compõem esta dissertação debruçaram-se sobre os

textos das ciências da saúde e sua tradução, a qualidade e o controlo da qualidade em

tradução e a fase de revisão das traduções. A obra de Mossop (2014), Revising and

Editing for Translators, recebeu especial enfoque por ter sido considerada bastante

produtiva para a reflexão em torno do tema em apreço. A análise crítica das suas

propostas teve como finalidade verificar a sua aplicabilidade em traduções de textos das

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ciências da saúde e sugerir um padrão de revisão para os mesmos, que se apresente

ainda mais abrangente.

A primeira problemática abordada prendeu-se com o termo que designa, por

norma, a tradução das ciências da saúde: a designação “tradução médica” não parece

ser suficiente para englobar todos os conhecimentos que esta implica. Por isso, com

base nas investigações feitas para a presente dissertação, propôs-se o uso do termo

“tradução das ciências da saúde”, por se entender mais inclusivo. Com efeito, nele

cabem áreas do âmbito da saúde, da vida e da medicina, conhecimentos que se

encontram interligados, com barreiras ténues e não estanques, e sobre os quais os

“tradutores médicos” trabalham (por exemplo, biologia, anatomia, imunologia, etc.).

Para abordar os textos de determinada área, é necessário conhecer as suas

características. Em termos de linguagem, nos textos das ciências da saúde pode ser

aplicada a diferentes situações comunicativas, com maior ou menor grau de formalidade

e de especialização. A esse propósito, definiu-se a comunicação enquanto “horizontal”,

interpares, e “vertical”, quando emissor e recetor possuem diferentes graus de

conhecimento. Desta aceção resulta que nem todos os documentos são altamente

especializados e padronizados. Pelo contrário, as suas características linguísticas e

formais tendem a adaptar-se às circunstâncias de uso a que se destinam,

nomeadamente ao contexto e ao público-leitor.

Tais características, aliadas ao teor dos documentos, estão na origem do

aparecimento de diversas tipologias textuais, organizadas seguindo diferentes

preceitos. Para a presente dissertação, usou-se a elaborada por Montalt e Davies

(2007:30-31), que está de acordo com a sua função principal, no caso, a prática clínica.

As necessidades de restrição a um conjunto limitado de tipos de texto (Consentimento

Informado, Resumo das Carcaterísticas do Produto e Orientações Clínicas) prendeu-se

com a multiplicidade de tipos textuais das ciências da saúde, que variam de acordo com

as suas características, finalidades e público a que se destinam. Embora os tipos textuais

selecionados sejam usados em contexto profissional, representam uma certa variedade

em termos linguísticos e estruturais, por não terem em comum o público-leitor e devido

à existência de legislação e recomendações que os procuram padronizar em termos do

conteúdo e/ou da organização da mensagem.

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Os conceitos de “qualidade” e “controlo da qualidade” na literatura sobre

tradução também não são consensuais. Por essa razão, um estudo sobre o controlo da

qualidade na tradução requer uma definição adequada aos propósitos do mesmo.

Designou-se, então, por “qualidade” uma propriedade que tanto o PST como o cliente

atribuem ao produto do serviço prestado pelo primeiro e que compreende a satisfação

mútua destes agentes, a qual advém do cumprimento dos requisitos do cliente pelo PST,

patentes no texto traduzido. Por sua vez, identificou-se o “controlo da qualidade” com

os mecanismos acionados e exercidos pelos agentes do processo tradutório,

essencialmente na fase de pós-tradução e antes da entrega do produto ao cliente, com

vista ao cumprimento dos requisitos deste e à qualidade do produto (a tradução), de

que faz parte o processo de revisão.

Do mesmo modo, compreende-se que uma das fundamentações de Mossop

(2014:3) para publicação de uma obra dedicada à revisão e edição de traduções se

prenda com a falta de visão crítica sobre o processo de revisão por parte dos

profissionais da tradução. Após a análise crítica de literatura sobre este assunto,

entendeu-se por “revisão” o processo de comparação entre TP e TC, de forma a

encontrar e corrigir erros com vista à garantia de que os documentos traduzidos se

encontram conforme as regras dos textos no sistema cultural de chegada e os requisitos

e expetativas do cliente. Este processo pode ser levado a cabo durante ou após a

realização da tradução, pelo próprio tradutor ou por outrem.

À luz dos conceitos definidos e das características dos textos estudados, pode

afirmar-se que as propostas desenvolvidas por Mossop (2014) são aplicáveis, em maior

ou menor escala, a todos os tipos de texto, pois a tradução e, por extensão, a revisão,

têm, no geral, em conta questões de conteúdo, linguagem e apresentação. A medida

em que o revisor opta pela aplicação de determinados pressupostos, como a revisão

integral ou parcial, e de certos parâmetros em detrimento de outros varia,

nomeadamente, de acordo com os objetivos da revisão e com o tempo disponível para

a tarefa.

Em termos de processo de revisão de traduções das ciências da saúde, sugeriu-

se o acordo de um prazo e orçamento realistas e justos entre PST e cliente, para que a

leitura dos textos e a revisão comparativa possa ser levada a cabo, de modo a que todos

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os grupos de problemas definidos por Mossop (2014) possam ser examinados. Só assim

se poderá ter em consideração o maior número possível de parâmetros apresentados

na presente dissertação, com vista a assegurar a maior qualidade possível da tradução.

Por outro lado, os doze parâmetros definidos por Mossop (2014) revelaram-se

insuficientes no contexto da revisão profissional de traduções de textos das ciências da

saúde. A razão é que o autor não dedica espaço, nesses parâmetros, a questões de

interpretação/exigências de alteração de referentes culturais por motivos de diferenças

culturais ou nas práticas das diferentes realidades de partida e de chegada, nem se

refere a necessidades de verificação da adequação do registo do texto aos propósitos

da tradução e ao público-leitor. Deste modo, foram sugeridos dois novos parâmetros,

“internacionalização” e “registo”. Um terceiro, “consistência”, foi acrescentado por se

entender que é um fator de legibilidade e que confere maior sentido ao documento. Em

relação a este parâmetro, não pode deixar de se considerar que é uma propriedade

referida por Mossop ao longo da sua obra, podendo discernir-se que é identificável com

a mensagem em termos de conteúdo, linguagem e forma.

Este estudo não deve ser rematado sem se notar que é válido sobretudo para os

documentos estudados. Devido à restrição da análise da aplicabilidade das propostas de

revisão de Mossop a apenas três tipos de texto das ciências da saúde, e apesar de alguns

exemplos de outros serem fornecidos ao longo da dissertação, a sua aplicação noutros

tipos textuais carece de confirmação. Por sua vez, a criação de um cenário hipotético

também não esgota todas as possibilidades dos projetos de tradução e revisão, de cujas

especificidades depende a atuação do tradutor e do revisor.

Ademais, Revising and Editing for Translators (2014) constituiu o alicercepara a

criação do padrão de controlo da qualidade aqui apresentado. Todavia, reconhece-se a

existência de outros modelos de revisão, como o elaborado por Laflamme (2007), que

podem também ser explorados. A partir desta ideia, outros padrões poderão ser

delineados com base na abordagem à revisão apresentada por outros autores que não

Mossop.

A dissertação aqui apresentada trata-se, pois, do resultado de uma possibilidade

de investigação entre várias: por não abranger todos os tipos textuais nem todos os

cenários possíveis e por se dedicar essencialmente às propostas de um autor. Sugere-

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se, por isso, a realização de estudos futuros neste âmbito, que selecionem outros tipos

de textos das ciências da saúde e que tenham em conta outros cenários de tradução e

revisão, no sentido de ajudar a desenvolver práticas de revisão o mais adequadas

possível à tradução de textos destas áreas, de inquestionável importância à escala global

e que constituem um setor de relevo no contexto do mercado profissional da tradução.

Ao concluir, reconhece-se que a investigação e a reflexão realizadas para a

elaboração da presente dissertação, em articulação com os conhecimentos adquiridos

ao longo da componente lectiva do Mestrado em Tradução, proporcionaram uma maior

consciencialização da fulcral importância dos mecanismos de controlo de qualidade para

a prática profissional da tradução, aqui abordada do ponto de vista específico dos textos

da área das ciências da saúde, um serviço que deve ser prestado com competência, rigor

e ética.

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108

ANEXOS

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109

Anexo I – Resumos das Características do Produto

Anexo I (a) – Resumo das Características do Produto Veterinário Apivar 500 mg

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO VETERINÁRIO

1. Nome do medicamento veterinário,

APIVAR 500 mg, bandas antiparasitárias para abelhas melíferas

2. Composição qualitativa e quantitativa

Barras com as dimensões 20x4x0,2 cm, impregnadas com a substancia ativa:

Amitraz 500 mg

Para a lista completa de excipientes, ver secção 6.1.

3. Forma farmacêutica

Bandas antiparasitárias para colmeias

4. Informações clínicas

4.1 Espécie (s) alvo

Abelhas melíferas, Apis mellifera.

4.2 Indicação (ões) especificando as espécie (s) alvo

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110

Tratamento da Varroose (Varroa destructor) em colónias de abelhas-do-mel

4.3 Contra-indicações

Não administrar em caso de hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos

excipientes

4.4 Advertência (s) especial (ais) para cada espécie alvo, se necessário

Não existem

4.5 Precauções especiais de utilização

Precauções especiais para utilização em animais

Não aplicável

Precauções especiais a adoptar pela pessoa que administra o medicamento aos

animais Evitar qualquer tipo de contacto com a pele, a boca e os olhos. Usar luvas e lavar as

mãos após manusear as tiras. Lavar as mãos após manusear as tiras. Não fumar, beber nem comer

durante a aplicação. Apenas para o tratamento de animais

Evitar o contacto das bandas com o mel destinado ao consumo humano.

4.6 Reacções adversas (frequência e gravidade)

Não descritas

4.7 Utilização durante a gestação, a lactação e a postura de ovos

Não aplicável

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111

4.8 Interacções medicamentosas e outras formas de interacção

Desconhecidas.

4.9 Posologia, modo e via (s) de administração Para aplicação apícola.

Aplicar, nas colmeias, 2 bandas por colmeia, durante pelo menos 6 semanas (1 barra entre

2 quadros).

4.10 Sobredosagem, incluindo sintomas, medidas de emergência e antídotos,

se

necessário

O medicamento veterinário foi administrado às abelhas até 5 vezes a dose terapêutica

durante 6 semanas, sem efeitos secundários para as abelhas.

4.11 Intervalo de segurança,

Mel e outros produtos apícolas (polén, cera e propolis): zero dias

5. Propriedades farmacológicas ou imunológicas

Grupo farmacoterapêutico: ectoparasiticida para uso tópico, amitraze

Código ATCvet: QP53AD01

5.1 Propriedades farmacodinâmicas

O Amitraz é uma substância de síntese, com actividade acaricida e insecticida.

O modo de acção do Amitraz é do tipo neurotóxico, como a maioria dos outros acaridicas.

Os neuro-mediadores mais frequentemente atingidos pelos insecticidas ou acaricidas, são a

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112

acetilcolina e o ácido gama-aminobutírico (GABA). A acção do Amitraz produz-se,

principalmente, por inibição de outro mediador sinático, a octopamina. Esta inibição vai traduzir-

se por paralisia, que permite a eliminação natural (por simples gravidade) para o meio exterior.

5.2 Propriedades farmacocinéticas

A absorção cutânea de amitraze é relativamente lenta.

5.3 Impacte ambiental

Muito tóxico para os peixes. O medicamento veterinário não deve ser eliminado nos

cursos de água, porque pode constituir perigo para peixes e outros organismos aquáticos.

6. Informações farmacêuticas

6.1 Lista de excipientes

Copolímero de etileno;

Acetato de vinilo.

6.2 Incompatibilidades

Desconhecidas

6.3 Prazo de validade antes e, se necessário, após reconstituição do medicamento veterinário ou após a primeira

abertura do acondicionamento primário, quando for caso disso

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113

Prazo de validade do medicamento veterinário tal como embalado para venda: 21 meses

Prazo de validade após a primeira abertura do acondicionamento primário: utilização

imediata

6.4 Precauções especiais de conservação;

Conservar à temperatura ambiente, em embalagem hermeticamente fechada na sua

embalagem original, ao abrigo da luz direta do sol, afastadas de produtos alimentares e de

substâncias químicas. As tiras devem ser utilizadas logo após a abertura das embalagens para

evitar que se contaminem com quaisquer elementos estranhos.

6.5 Natureza e composição do acondicionamento primário

As bandas do medicamento veterinário são acondicionadas em sacos termocoláveis,

contendo 10 ou 4 bandas. Os sacos são em:

Papel / polietileno / alumínio / polietileno

50 g/m2 15 g/m2 7µ 50 g/ m2

6.6 Precauções especiais para a eliminação do medicamento veterinário não utilizado ou de desperdícios derivados da

utilização desses medicamentos, caso existam

O medicamento veterinário não utilizado ou os seus desperdícios devem ser eliminados

de acordo com os requisitos nacionais.

O medicamento veterinário não deve ser eliminado nos cursos de água, porque pode

constituir perigo para peixes e outros organismos aquáticos.

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114

7. Nome ou designação social e endereço do titular da AIM

QALIAN Portugal - Sociedade Comercial de produtos Agropecuários Unipessoal

LdaRua

Mouzinho da Silveira nº 27 - 5º Andar B

1250-166 Lisboa

Número da AIM

564/01/12NFVPT

Data da primeira autorização ou data de renovação da autorização

28 de Junho de 2012

10. Data de revisão do texto

Outubro 2013

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115

Anexo I (b) – Resumo das Características do Produto Veterinário Seremucoli

solução oral

ANEXO I

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO

DENOMINAÇÃO DO MEDICAMENTO VETERINÁRIO

Serinucoli solução oral

2. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA

2.1 Princípio activo

Soro lácteo concentrado de bovino contendo imunoglobulinas G específicas

contra adesina F5 (K99) de E. coli ≥2.8* log10/ml. * método de microaglutinação

2.2 Excipiente cujo conhecimento é essencial para uma administração

correcta do medicamento veterinário

Parabenos ≤ 1.0 mg/ml

FORMA FARMACÊUTICA

Solução oral

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116

PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS

Este produto complementa a acção protectora do colostro normal contra a adesina

F5 (K99) da E. coli.

5. INFORMAÇÕES CLÍNICAS

5.1 Espécies a que se destina

Vitelos recém-nascidos com menos de 12 horas de vida

5.2 Indicações de utilização, especificando as espécies a que se destina

Redução de mortalidade causada por entero toxicose associada à adesina F5 (K99)

de E. coli. durante os primeiros dias de vida e suplemento ao colostro do dique.

5.3 Contra-indicações

Nenhumas

5.4 Efeitos indesejáveis

Nenhumas

5.5 Precauções especiais de utilização

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117

Este produto pode conter anticorpos contra o vírus pesti BVD.

5.6 Utilização durante a gravidez e lactação

O produto não se destina a fêmeas gestantes ou aleitantes.

5.7 Interacção com outros medicamentos veterinários e outras formas de interacção

Nenhum estudo foi conduzido de forma a demonstrar interacção com outros

medicamentos ou outras formas de interação.

5.8 Posologia e modo de administração

Administração oral de 60 ml desde que possível, de preferência durante as 4

primeiras horas, mas não além das 12 primeiras horas de vida.

Administrar o produto concentrado ou diluído no leite (ou substituto) durante as

primeiras 12 horas de vida do vitelo. Se necessário utilizar uma seringa para facilitar a

ingestão do produto por via oral. Na ausência de informação demonstrando

especificamente a inocuidade de mais de 1 dose repetida, recomenda-se tratar os vitelos

apenas uma única vez.

5.9 Sobredosagem

Os efeitos transitórios de um aumento de temperatura e de frequência respiratória

foram observados aquando da administração do produto em doses duplas.

5.10 Advertências especiais para cada espécie a que se destina

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118

O produto é produzido a partir de colostro recolhido de vacas mantidas em

condições normais de pasto. Além dos anticorpos contra E. coli F5 (K99), também

contém outros anticorpos contra outros organismos como resultado da vacinação e/ou

exposição das vacas dadoras a organismos presentes no meio ambiente. Este aspecto

deveria ser considerado aquando da planificação de programas de vacinação em vitelos

que estão ou estiveram sujeitos ao tratamento com Serinucoli.

5.11 Intervalo de segurança

Zero dias

5.12 Precauções especiais a adoptar pela pessoa que administra o

medicamento veterinário aos animais

Nenhuma

6. INFORMAÇÕES FARMACÊUTICAS

6.1 Incompatibilidades

Na ausência de estudos de incompatibilidades, este medicamento veterinário não

deverá ser misturado com outros produtos medicinais.

6.2 Prazo de validade, se necessário após reconstituição do medicamento

veterinário ou quando o recipiente é aberto pela primeira vez

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119

21 meses

6.3 Precauções especiais de conservação

Conservar entre 2°C e 8°C.

Manter o contentor dentro da sua embalagem exterior. Não congelar.

6.4 Natureza e conteúdo do recipiente

Recipiente de 60 ml em vidro farmacêutico tipo III.

6.5 Precauções especiais relativas à eliminação do produto não utilizado ou dos seus resíduos

Todos os materiais em excesso ou de desperdício deverão ser eliminados de

acordo com normas locais.

6.6 Condições e restrições relativas ao fornecimento e utilização

A importação, venda, fornecimento e/ou uso deste produto pode ser/vir a ser

proibido em certos Países Membros na sua totalidade ou em partes dos seus territórios em

aplicação de normas de Saúde Animal Nacional. Qualquer pessoa, que tenha a intenção

de importar, vender, fornecer e/ou usar este produto deverá consultar as autoridades

competentes relevantes dos Países Membros para o reconhecimento de normas de saúde

animal actuais antes de importar, vender, fornecer e/ou usar.

7. NOME E MORADA DO TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO

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120

Biokema Anstalt,

Aeulestrasse 38,

9490 Vaduz,

Fürstentum Liechtenstein.

NÚMERO(S) NO REGISTO COMUNITÁRIO DE MEDICAMENTOS

[deixar em branco]

DATA DA PRIMEIRA AUTORIZAÇÃO/RENOVAÇÃO DA

AUTORIZAÇÃO

[deixar em branco]

DATA DA REVISÃO DO TEXTO

[deixar em branco]

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121

ANEXO II

TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE FABRICO RESPONSÁVEL PELA

IMPORTAÇÃO E LIBERTAÇÃO DO LOTE E CONDIÇÕES RELATIVAS Á

AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO

A. TITULAR OU TITULARES DA AUTORIZAÇÃO OU AUTORIZAÇÕES DE FABRICO

Fabricante responsáveis pela libertação do lote

Merial Laboratoire de Gerland

Av. Marcel Mérieux 254

69342 Lyon Cedex 07

França

Autorização de fabrico emitida em 26 de Abril de 1996 por Ministério Francês

da Agricultura e Pescas.

B. CONDIÇÕES OU RESTRIÇÕES RELATIVAS AO

FORNECIMENTO E UTILIZAÇÃO

Medicamento sujeito a receita médica.

C. PROIBIÇÃO DE VENDA, FORNECIMENTO E/OU UTILIZAÇÃO

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122

Nos termos do artigo 4º da Directiva 90/677/CEE5 do Conselho os Estados-

membros proíbem ou podem proibir a importação, a venda e/ou o uso de Serinucoli na

totalidade ou em parte do seu território caso se verifique que:

a administração do medicamento veterinário interfere com a aplicação de um

programa nacional de diagnóstico, controlo ou erradicação de doença animal, ou dificulte

a verificação da ausência de contaminação em animais vivos ou em produtos alimentares

ou outros produtos obtidos dos animais tratados

a doença para a qual o medicamento veterinário é suposto conferir imunidade, está

em larga medida ausente de um território.

D. INDICAÇÃO DOS LIMITES MÁXIMOS DE RESÍDUOS QUE PODEM SER ACEITES NOS TERMOS DO

REGULAMENTO (CEE) N.º 2377/90 DO CONSELHO

Anexo II do Regulamento (CEE) n.º 2377/90 do Conselho

Substância farmocologicamente activa

Espécies animais Outras disposições

Cloreto de cálcio 6 Todas as espécies destinada à produção de alimentos

Cloreto de sódio 7

Ácido lácteo 8

Hidróxido de sódio 9

Sal de sódio hidroxibenzoato de metilo 10

Sal de sódio hidroxibenzoato de propilo 11

Propionato de sódio 12

Ácido propiónico 13

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123

Anexo I (c) – Resumo das Características do Produto para uso humano

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

NOME DO MEDICAMENTO

Fluoxetina Jaba 20 mg Cápsulas,

COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA

Cada cápsula contém cloridrato de fluoxetina, equivalente a 20 mg de fluoxetina.

Lista completa de excipientes, ver secção 6.1.

FORMA FARMACÊUTICA

Cápsula.

Cápsulas azul claro e turquesa claro.

INFORMAÇÕES CLÍNICAS

Indicações terapêuticas

Adultos:

Episódios Depressivos Major.

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124

Perturbação Obsessivo-Compulsiva.

Bulimia Nervosa: Fluoxetina Jaba está indicado como complemento da psicoterapia destinada à

redução da ingestão compulsiva e actividade purgativa.

Posologia e modo de administração

Para administração oral apenas para adultos.

Episódios Depressivos Major

Adultos e idosos: A dose aconselhada é 20 mg/dia. Se necessário, a dose deve ser revista e ajustada

dentro de 3 a 4 semanas após o início da terapêutica e, depois deste período, de acordo com uma avaliação

clínica adequada. Embora possa haver um aumento potencial de efeitos indesejáveis com doses mais

elevadas, nalguns doentes com uma resposta insuficiente aos 20 mg, pode considerar-se um aumento

gradual da dose até a um máximo de 60 mg (ver secção 5.1). O ajuste posológico deve ser feito com cuidado,

tendo em conta cada doente individualmente, de modo a manter os doentes na dose efectiva mais baixa.

Os doentes com depressão devem ser tratados durante um período de pelo menos 6 meses, de modo

a assegurar a remissão dos sintomas.

Perturbação Obsessivo-Compulsiva

Adultos e idosos: A dose aconselhada é 20 mg/dia. Embora possa haver um aumento potencial de

efeitos indesejáveis com doses mais elevadas, nalguns doentes, se ao fim de duas semanas não houver uma

resposta suficiente aos 20 mg, a dose pode ser aumentada gradualmente até um máximo de 60 mg.

Se não se verificar qualquer melhoria no espaço de 10 semanas, deve reconsiderar-se o tratamento

com fluoxetina. Se tiver sido obtida uma boa resposta terapêutica, pode continuar-se com o tratamento

utilizando uma posologia ajustada individualmente. Embora não existam estudos sistemáticos para

responder à pergunta sobre durante quanto tempo se deve continuar a terapêutica com fluoxetina,

considerando que a Perturbação Obsessivo-Compulsiva é uma doença crónica, é razoável considerar a

continuação da terapêutica para além das 10 semanas, em doentes que respondam à terapêutica. Devem

fazer-se ajustes cuidadosos da dose numa base individual, de forma a manter o doente na dose mínima

eficaz. Deve ser reavaliada periodicamente a necessidade do tratamento. Alguns clínicos defendem uma

psicoterapia comportamental concomitante em doentes que respondam bem à farmacoterapia.

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125

Na Perturbação Obsessivo-Compulsiva não foi demonstrada eficácia a longo prazo (superior a 24

semanas).

Bulimia Nervosa - Adultos e idosos: é recomendada uma dose de 60 mg/dia.

Na bulimia nervosa não foi demonstrada eficácia a longo prazo (superior a 3 meses).

Adultos - Todas as indicações: A dose recomendada pode ser aumentada ou diminuída. Doses

superiores a 80 mg/dia não foram avaliadas sistematicamente.

A fluoxetina pode ser administrada como dose única ou em doses divididas durante ou fora das

refeições.

Quando o tratamento é interrompido, as substâncias farmacologicamente activas permanecem no

organismo durante semanas. Este facto deve ser tido em consideração quando se inicia ou interrompe o

tratamento.

Idosos: Recomenda-se precaução no aumento da dose e a dose diária não deve, geralmente,

exceder os 40 mg. A dose máxima recomendada é de 60 mg/dia.

Deve considerar-se uma dose mais baixa ou menos frequente (por ex. 20 mg, em dias alternados)

em doentes com insuficiência hepática (ver secção 5.2) ou nos doentes em que a medicação concomitante

poderá ter interacção com Fluoxetina Jaba (ver secção 4.5).

Sintomas de descontinuação observados quando se interrompe o tratamento com Fluoxetina Jaba:

A interrupção abrupta deve ser evitada. Quando se interrompe o tratamento com Fluoxetina Jaba, a dose

deve ser gradualmente reduzida durante um período de pelo menos uma ou duas semanas, de modo a reduzir

o risco de reacções de descontinuação (ver secções 4.4 e 4.8). Se ocorrerem sintomas intoleráveis após uma

diminuição da dose ou após interrupção do tratamento, então pode considerar-se retomar a dose

anteriormente prescrita. Subsequentemente o médico pode continuar a diminuir a dose, mas de uma forma

mais gradual.

4.3 Contra-indicações

Hipersensibilidade à fluoxetina ou a qualquer dos excipientes.

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126

Inibidores da Monoamino-Oxidase: Foram notificadas reacções graves, nalguns casos fatais, em

doentes a tomar um inibidor selectivo da recaptação da serotonina (ISRS) em combinação com um inibidor

da monoamino-oxidase (IMAO) e em doentes que tinham descontinuado recentemente um ISRS e

começaram um IMAO. O tratamento com fluoxetina apenas deve ser iniciado 2 semanas após a

descontinuação de um IMAO irreversível e no dia seguinte à descontinuação de um IMAO-A reversível.

Alguns casos apresentaram características semelhantes à síndrome da serotonina (que pode

assemelhar-se à síndrome neuroléptica maligna e ser diagnosticada como tal). A ciproheptadina e o

dantroleno podem beneficiar os doentes que desenvolvam estas reacções. Os sintomas de uma interacção

com um IMAO incluem: hipertermia, rigidez, mioclonias, instabilidade autonómica com possíveis

flutuações rápidas dos sinais vitais, alterações do estado mental que incluem confusão, irritabilidade e

agitação extrema progredindo para delírio e coma.

Assim, a fluoxetina está contra-indicada em combinação com um IMAO não selectivo. De igual

modo, devem decorrer, pelo menos, 5 semanas entre a interrupção da terapêutica com fluoxetina e o início

da terapêutica com um IMAO. Se a fluoxetina tiver sido prescrita para uso crónico e/ou numa dose elevada,

deverá considerar-se um intervalo mais longo entre as doses.

Apesar da combinação não ser recomendada, o tratamento com fluoxetina pode ser iniciado no dia

seguinte à descontinuação de um IMAO reversível (p.ex. moclobemida).

4.4 Advertências e precauções especiais de utilização

Exantema e reacções alérgicas: têm sido notificados exantema, reacções anafilactóides e efeitos

sistémicos progressivos, algumas vezes graves (envolvendo a pele, rins, fígado ou pulmões). No caso de

aparecimento de exantema ou de outro fenómeno alérgico, para o qual não possa ser identificada uma

etiologia alternativa, o tratamento com fluoxetina deve ser descontinuado.

Convulsões: As convulsões constituem um risco potencial da terapia com antidepressivos. Assim,

tal como com outros antidepressivos, a fluoxetina deverá ser introduzida cautelosamente em doentes que

têm história de convulsões. O tratamento deverá ser descontinuado em qualquer doente que desenvolva

convulsões ou quando haja um aumento da frequência das convulsões. A fluoxetina deve ser evitada em

doentes com perturbações convulsivas instáveis/epilepsia e os doentes com epilepsia controlada deverão

ser cuidadosamente seguidos.

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127

Mania: Os antidepressivos devem ser utilizados com precaução em doentes com história de

mania/hipomania. Tal como com todos os antidepressivos, a fluoxetina deverá ser descontinuada em

qualquer doente que desencadeie uma fase maníaca.

Função hepática/renal: A fluoxetina é extensamente metabolizada no fígado e excretada pelos rins.

Uma dose inferior, por ex., administração em dias alternados, é recomendada em doentes com disfunção

hepática significativa. Quando foi administrada fluoxetina 20 mg/dia durante 2 meses, a doentes com

insuficiência renal grave (GFR<10 ml/min) em diálise, estes não demonstraram diferenças nos níveis

plasmáticos de fluoxetina ou norfluoxetina, quando comparados com os controlos, com função renal

normal.

Patologia cardíaca: Não foram observadas no ECG anomalias da condução que resultassem em

paragem cardíaca, nos 312 doentes a quem foi administrada fluoxetina em ensaios clínicos com dupla

ocultação. No entanto, recomenda-se precaução porque a experiência clínica em doença cardíaca aguda é

limitada.

Perda de peso: Pode ocorrer perda de peso em doentes a tomar fluoxetina que é normalmente

proporcional ao peso corporal no início do tratamento.

Diabetes: Em doentes com diabetes, o tratamento com um ISRS pode alterar o controlo da

glicemia. Ocorreu hipoglicemia durante a terapêutica com fluoxetina e após a

descontinuação desenvolveu-se hiperglicemia. Pode ser necessário ajustar a dose de insulina e/ou

de hipoglicemiantes orais.

Suicídio/Ideação suicida/agravamento da situação clínica: A depressão está associada ao aumento

do risco de ideação suicida, auto-agressividade e suicídio

(pensamentos/comportamentos relacionados com suicídio). O risco prevalece até que ocorra

remissão significativa dos sintomas. Como, durante as primeiras semanas ou mais de tratamento, pode não

se verificar qualquer melhoria, os doentes deverão ter uma vigilância mais rigorosa até que essa melhoria

ocorra. De acordo com a prática clínica, em geral o risco de suicídio pode aumentar nas fases iniciais da

recuperação.

Outros distúrbios psiquiátricos para os quais Fluoxetina Jaba é prescrito podem estar associados

ao aumento do risco de ideação/comportamentos relacionados com o suicídio.

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128

Adicionalmente, estas situações podem ser co-mórbidas com os distúrbios depressivos major.

Consequentemente, no tratamento de doentes com outros distúrbios psiquiátricos, deverão ser tomadas as

mesmas precauções que aquando da terapêutica de doentes com distúrbios depressivos major.

Os doentes com história de pensamentos/comportamentos relacionados com o suicídio, que

apresentem um grau significativo destes sintomas antes do início do tratamento, apresentam também um

maior risco de ideação suicida ou de tentativa de suicídio, devendo por este motivo ser cuidadosamente

monitorizados durante o tratamento. Uma meta-análise de estudos clínicos controlados com placebo em

adultos com distúrbios psiquiátricos demonstrou um aumento do risco de comportamentos relacionados

com o suicídio em doentes com menos de 25 anos a tomar antidepressivos, comparativamente aos doentes

a tomar placebo. A terapêutica medicamentosa deverá ser acompanhada de uma monitorização rigorosa,

em particular nos doentes de maior risco, especialmente na fase inicial do tratamento, ou na sequência de

alterações psicológicas.

Os doentes, e os prestadores de cuidados de saúde dos doentes, devem ser alertados para a

necessidade de monitorização relativamente a qualquer agravamento da sua situação clínica,

pensamentos/comportamentos relacionados com o suicídio e alterações não habituais de comportamento, e

para procurar assistência médica imediatamente caso estes ocorram.

Acatisia/agitação psicomotora: O uso de fluoxetina tem sido associado com o desenvolvimento de

acatisia, caracterizada por uma agitação subjectiva ou perturbadora desagradável e por uma necessidade de

mobilização frequente e por uma incapacidade de estar sentado e de permanecer quieto. É possível que

estes sintomas se manifestem durante as primeiras semanas de tratamento. Nos doentes que desenvolverem

estes sintomas, o aumento de dose pode ser prejudicial.

Sintomas observados na interrupção do tratamento com ISRSs: São comuns sintomas de

descontinuação quando se interrompe o tratamento, particularmente se a interrupção é abrupta (ver secção

4.8). Em ensaios clínicos ocorreram acontecimentos adversos com a interrupção do tratamento em

aproximadamente 60% dos doentes, tanto no grupo tratado com fluoxetina como no grupo tratado com

placebo.

Destes acontecimentos adversos, foram considerados graves 17% no grupo tratado com fluoxetina

e 12% no grupo tratado com placebo.

O risco de sintomas de descontinuação pode estar dependente de vários factores incluindo a

duração e dose da terapêutica e a percentagem de redução da dose. Tonturas, perturbações sensoriais

(incluindo parestesia), distúrbios do sono (incluindo insónia e sonhos intensos), astenia, agitação ou

ansiedade, náuseas e/ou vómitos, tremores e cefaleias são as reacções mais frequentemente notificadas.

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Embora geralmente ligeiros a moderados, em alguns doentes estes sintomas podem ser de intensidade

grave. Ocorrem habitualmente nos primeiros dias de interrupção do tratamento. Geralmente estes sintomas

são auto limitados e resolvem-se em 2 semanas; nalguns indivíduos podem prolongar-se (2-3 meses ou

mais). Assim aconselha-se que a dose de Fluoxetina Jaba seja gradualmente diminuída quando se

interrompe o tratamento, durante um período de, pelo menos, uma ou duas semanas, de acordo com as

necessidades do doente (ver “Sintomas de descontinuação observados quando se interrompe o tratamento

com Fluoxetina Jaba”, secção 4.2).

Hemorragia: Foram notificadas anomalias hemorrágicas cutâneas tais como equimose e púrpura

com ISRS. A equimose foi notificada como sendo um fenómeno pouco frequente durante o tratamento com

fluoxetina. Foram notificadas, raramente, outras manifestações hemorrágicas (p.ex., hemorragias

ginecológicas, hemorragias gastrointestinais e outras hemorragias cutâneas ou mucosas). É aconselhada

precaução em doentes a tomar ISRS, particularmente em caso de utilização concomitante com

anticoagulantes orais, medicamentos que se sabe afectarem a função plaquetária (p.ex., antipsicóticos

atípicos como a clozapina, fenotiazinas, a maioria dos antidepressivos tricíclicos, ácido acetilsalicílico,

AINEs) ou outros medicamentos que possam aumentar o risco de hemorragia bem como em doentes com

história de perturbações hemorrágicas.

Terapia Electroconvulsiva (TEC): Têm sido raramente notificados episódios convulsivos

prolongados em doentes a tomar fluoxetina e submetidos a TEC, pelo que devem ser tomadas precauções.

Hipericão: Um aumento dos efeitos serotoninérgicos, tais como a síndrome da serotonina, pode

ocorrer quando são utilizados concomitantemente Inibidores Selectivos da Recaptação da Serotonina e

preparações à base de plantas contendo erva de S. João (Hypericum perforatum).

Em ocasiões raras, o desenvolvimento de síndrome da serotonina ou de casos do tipo síndrome

neuroléptica maligna têm sido notificados em associação ao tratamento com fluoxetina, mais

especificamente quando administrada em associação com outros fármacos serotoninérgicos (L-triptofano,

entre outros) e/ou neurolépticos. Uma vez que destas síndromes podem resultar condições que

potencialmente colocam a vida em risco, o tratamento com fluoxetina deve ser descontinuado se tais

episódios (caracterizados por conjuntos de sintomas como hipertermia, rigidez, mioclonias, instabilidade

autonómica com possíveis flutuações rápidas dos sinais vitais, alterações do estado mental incluindo

confusão, irritabilidade, agitação extrema progredindo para delírio e coma) ocorrerem e deverá ser iniciado

tratamento sintomático de suporte.

4.5 Interacções medicamentosas e outras formas de interacção

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130

Só foram efectuados estudos de interacção em adultos.

Semi-vida: As elevadas semi-vidas de eliminação da fluoxetina e do seu principal metabolito, a

norfluoxetina, deverão ser tidas em conta (ver secção 5.2) quando se consideram interacções

medicamentosas por razões de farmacodinâmica ou farmacocinética (p.ex., quando se muda da fluoxetina

para outros antidepressivos).

Inibidores da Monoamino-Oxidase: (ver secção 4.3).

Combinações não recomendadas: IMAO-A (ver secção 4.3)

Combinações que requerem precauções na utilização:

IMAO-B (selegilina): Risco de síndrome da serotonina. É recomendada monitorização clínica.

Fenitoína: Quando combinada com a fluoxetina, foram observadas alterações dos níveis séricos.

Em alguns casos ocorreram manifestações de toxicidade. Deverá ter-se em consideração a utilização de

esquemas conservadores de titulação do fármaco concomitante e proceder à monitorização clínica.

Fármacos Serotoninérgicos: A co-administração com fármacos serotoninérgicos (ex.: tramadol,

triptanos) pode aumentar o risco de síndrome da serotonina. O uso com triptanos acarreta um risco adicional

de vasoconstrição coronária e hipertensão.

Lítio e triptofano: Têm sido notificados casos de síndrome da serotonina quando os ISRS são

administrados com lítio ou triptofano e, por isso, o uso concomitante de fluoxetina com estes fármacos deve

ser feito com precaução. Quando a fluoxetina é usada em combinação com o lítio, é necessária uma

monitorização clínica mais cuidada e frequente.

Isoenzima CYP2D6: Dado que o metabolismo da fluoxetina utiliza o sistema isoenzimático do

citocromo hepático CYP2D6 (como os antidepressivos tricíclicos e outros antidepressivos selectivos da

serotonina), a terapêutica concomitante com fármacos também metabolizados por este sistema enzimático

pode levar a interacções medicamentosas. A terapêutica concomitante com fármacos predominantemente

metabolizados por esta isoenzima, e que possuem um índice terapêutico estreito (tal como a flecainida,

encainida, carbamazepina e antidepressivos tricíclicos) deve ser iniciada com ou ajustada à dose mais baixa

do intervalo terapêutico. O mesmo se aplica se tiver tomado fluoxetina nas 5 semanas anteriores.

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131

Anticoagulantes orais: A alteração dos efeitos anticoagulantes (valores laboratoriais e/ou sinais e

sintomas clínicos), sem um padrão consistente, mas incluindo um aumento de hemorragia, foi notificada

com pouca frequência quando a fluoxetina foi administrada concomitantemente com anticoagulantes orais.

Os doentes em terapêutica com varfarina, devem ser objecto de monitorização cuidadosa da coagulação

quando iniciarem ou descontinuarem a fluoxetina (ver secção 4.4 Hemorragia).

Terapêutica Electroconvulsiva (TEC): Foram notificados raramente casos de convulsões

prolongadas em doentes a tomar fluoxetina e a fazer terapêutica electroconvulsiva, sendo por isso

aconselhável cuidado.

Álcool: Em testes formais, não se verificou que a fluoxetina aumentasse os níveis sanguíneos de

álcool ou potenciasse os efeitos do álcool. No entanto, a combinação do álcool com o tratamento com ISRS

não é aconselhável.

Hipericão: à semelhança dos outros ISRS, podem ocorrer interacções farmacodinâmicas entre a

fluoxetina e o produto à base de plantas erva de S. João (Hypericum perforatum), que poderão resultar num

aumento de efeitos indesejáveis.

4.6 Fertilidade, gravidez e aleitamento

Gravidez:

Dados epidemiológicos sugerem que a utilização de inibidores selectivos da recaptação da

serotonina (ISRS) durante a gravidez, em especial na parte final, pode aumentar o risco de hipertensão

pulmonar persistente no recém-nascido (HPPN). O risco observado foi de aproximadamente 5 casos por

1000 gravidezes. Na população em geral ocorrem um a dois casos de HPPN por 1000 gravidezes.

Além disso, embora a fluoxetina possa ser usada durante a gravidez, deve ter-se cuidado quando

se prescrever fluoxetina a mulheres grávidas, especialmente durante o final da gravidez ou imediatamente

antes do início do trabalho de parto, visto terem sido notificados os seguintes efeitos em recém-nascidos:

irritabilidade, tremor, hipotonia, choro persistente, dificuldade de sucção e em dormir.

Estes sintomas podem indicar tantos efeitos serotoninérgicos como síndrome de abstinência. O

intervalo de tempo para a ocorrência e a duração destes sintomas pode estar relacionado com a longa semi-

vida da fluoxetina (4-6 dias) e do seu metabolito activo, norfluoxetina (4-16 dias).

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132

Alguns estudos epidemiológicos sugerem um risco aumentado de malformações cardiovasculares

associadas ao uso de fluoxetina durante o primeiro trimestre de gravidez. O mecanismo é ainda

desconhecido. No seu conjunto, os dados indicam que o risco de um recém-nascido apresentar

malformações cardiovasculares na sequência da exposição materna à fluoxetina é de 2/100, enquanto a taxa

esperada para estas malformações é de aproximadamente 1/100 na população geral.

Aleitamento: A fluoxetina e o seu metabolito, norfluoxetina são excretados no leite materno

humano. Têm sido notificados acontecimentos adversos em crianças a serem amamentadas. No caso de o

tratamento com fluoxetina ser considerado necessário, a descontinuação da amamentação deverá ser

considerada; no entanto, se se mantiver a amamentação, deve ser prescrita a dose mínima eficaz de

fluoxetina.

4.7 Efeitos sobre a capacidade de conduzir e utilizar máquinas

Apesar de se ter demonstrado que a fluoxetina não afecta o desempenho psicomotor em voluntários

saudáveis, qualquer fármaco psicoactivo pode comprometer o discernimento ou as capacidades. Os doentes

devem ser avisados para evitarem conduzir automóveis ou operar com máquinas potencialmente perigosas

até estarem razoavelmente certos que o fármaco não afecta o seu desempenho.

4.8 Efeitos indesejáveis

Os efeitos indesejáveis podem diminuir em intensidade e frequência com a continuação do

tratamento e, em geral, não implicam a interrupção da terapêutica.

Conforme descrito para outros ISRS, verificaram-se os seguintes efeitos indesejáveis:

Organismo como um todo: Hipersensibilidade (ex.: prurido, exantema, urticária, reacção

anafilactóide, vasculite, reacção do tipo doença do soro, angioedema) (ver secções 4.3.e 4.4.), arrepios,

síndrome da serotonina, fotossensibilidade e, muito raramente, Eritema Multiforme que pode progredir para

Síndrome de Stevens-Johnson ou Necrólise Epidérmica Tóxica (síndrome de Lyell).

Aparelho Digestivo: Doenças gastrintestinais (ex.: diarreia, náusea, vómitos, disfagia, dispepsia e

perturbações do paladar), xerostomia. Foram notificados, raramente, testes anómalos da função hepática,

muito raramente hepatite idiossincrática.

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133

Sistema nervoso: Cefaleias, alterações do sono (ex.: sonhos anormais, insónia), tonturas, anorexia,

fadiga (ex.: sonolência, torpor), euforia, movimento anormal transitório (ex.: contracções musculares,

ataxia, tremores, mioclonias), convulsões e raramente agitação psicomotora/acatisia (ver secção 4.4).

Alucinações, reacções maníacas, confusão, agitação, ansiedade e sintomas associados (ex.: nervosismo),

concentração e processo de raciocínio diminuídos (ex.: despersonalização), ataques de pânico, ideação e

comportamento suicida (estes sintomas podem ser devidos à doença subjacente), muito raramente Síndrome

da Serotonina, pensamentos/comportamentos relacionados com o suicídio (estes sintomas podem dever-se

a doença subjacente).

Foram notificados casos de ideação/comportamento suicida durante o tratamento com Fluoxetina

Jaba ou imediatamente após a sua descontinuação (ver secção 4.4)

Aparelho geniturinário: Retenção urinária, aumento da frequência urinária.

Função reprodutiva: Disfunção sexual (ejaculação demorada ou ausência de ejaculação,

anorgasmia), priapismo, galactorreia.

Outros: Alopecia, bocejo, alterações visuais (por ex. visão turva, midríase), sudorese,

vasodilatação, artralgia, mialgia, hipotensão postural, equimoses. Outras manifestações hemorrágicas (ex.:

hemorragias ginecológicas, hemorragias gastrintestinais e outras hemorragias cutâneas ou mucosas) foram

raramente notificadas (ver secção 4.4 Hemorragia).

Hiponatremia: Foi raramente notificada hiponatremia (incluindo sódio sérico inferior a 110

mmol/l), que parece ser reversível quando a fluoxetina é descontinuada. Alguns destes casos foram

possivelmente devidos à Síndrome de Secreção Inapropriada da Hormona Antidiurética. A maioria das

notificações foi associada a doentes idosos e em doentes tratados com diuréticos ou com qualquer outra

diminuição da volémia.

Aparelho respiratório: Faringite, dispneia. Foram raramente notificados eventos pulmonares

(incluindo processos inflamatórios de histopatologia variada e/ou fibrose). A dispneia pode ser o único

sintoma precedente.

Sintomas de descontinuação observados com a interrupção do tratamento com fluoxetina: A

interrupção da fluoxetina leva frequentemente a sintomas de descontinuação. Tonturas, perturbações

sensoriais (incluindo parestesia), perturbações do sono (incluindo insónia e sonhos intensos), astenia,

agitação ou ansiedade, náuseas e/ou vómitos, tremores e cefaleias são as reacções mais frequentemente

notificadas. Geralmente, estes acontecimentos são ligeiros a moderados e são auto-limitados; no entanto,

nalguns doentes podem ser graves e/ou prolongados (ver secção 4.4). É por isso aconselhável que quando

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o tratamento com Fluoxetina Jaba deixar de ser necessário, seja efectuada uma interrupção com diminuição

gradual da dose (ver secções 4.2 e 4.4).

Efeitos de classe:

Dados epidemiológicos, sobretudo de estudos conduzidos em doentes com idade igual ou superior

a 50 anos, evidenciam um risco aumentado de fracturas ósseas em doentes a tomar inibidores selectivos da

recaptação da serotonina (ISRS) e antidepressivos tricíclicos. O mecanismo subjacente a este risco é ainda

desconhecido.

4.9 Sobredosagem

Os casos de sobredosagem devidos unicamente à fluoxetina têm em geral um desenvolvimento

moderado. Os sintomas em casos de sobredosagem incluem, náuseas, vómitos, convulsões, disfunções

cardiovasculares que variam de arritmias assintomáticas a paragem cardíaca, disfunções pulmonares e

sinais de alteração do SNC desde excitação ao coma. Foram extremamente raros, os casos de mortes

atribuídas à sobredosagem unicamente com fluoxetina. Recomenda-se a monitorização dos sinais cardíacos

e vitais, juntamente com medidas de suporte gerais e sintomáticas. Desconhece-se a existência de um

antídoto específico para a fluoxetina.

É pouco provável que a diurese forçada, diálise, hemoperfusão e exsanguíneotransfusão, sejam

benéficas. O carvão activado, que poderá ser utilizado juntamente com sorbitol, pode ser tanto ou mais

eficaz que a emese ou lavagem. Na presença duma sobredosagem, deve considerar-se a possibilidade da

existência de múltiplos fármacos. Poderá ser necessário um período suplementar de observação clínica

cuidada para doentes que tenham tomado uma quantidade excessiva de antidepressivos tricíclicos, no caso

de estarem a tomar, ou terem tomado recentemente fluoxetina.

PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS

5.1 Propriedades farmacodinâmicas

Grupo farmacoterapêutico: 2.9.3 Sistema nervoso central. Psicofármacos. Antidepressores.

Código ATC: N06A B03.

A fluoxetina é um inibidor selectivo da recaptação da serotonina e supõe-se que seja esse factor o

responsável pelo seu mecanismo de acção. A fluoxetina não tem praticamente afinidade para outros

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receptores tais como α1-, α2- e β-adrenérgicos serotoninérgicos, dopaminérgicos, histaminérgicos,

muscarínicos e receptores GABA.

Episódios Depressivos Major: Foram realizados ensaios clínicos em doentes com episódios

depressivos major versus placebo e controlos activos. Fluoxetina Jaba mostrou ser significativamente mais

eficaz que o placebo, tal como demonstrado pela Escala Depressiva de Hamilton (HAM-D). Nestes estudos,

Fluoxetina Jaba atingiu uma taxa de resposta e de remissão significativamente superior (definida por uma

diminuição de 50% na escala HAM-D), quando comparado com placebo.

Resposta à terapêutica: Nos estudos com dose fixa em doentes com depressão major, a curva de

resposta é plana, sugerindo que, em termos de eficácia, não há vantagem de utilizar doses mais altas do que

as recomendadas. No entanto, faz parte da experiência clínica que um aumento gradual da dose pode ser

benéfico para alguns doentes.

Perturbação Obsessivo-Compulsiva: Em ensaios de curta duração (inferior a 24 semanas), a

fluoxetina demonstrou ser significativamente mais eficaz que o placebo. Verificou-se efeito terapêutico

com uma dose de 20 mg/dia, mas doses superiores (40 a

60 mg/dia) apresentaram uma taxa de resposta superior. Em ensaios de longa duração (fase de

extensão de três ensaios clínicos de curta duração e um de prevenção da recaída) a eficácia não foi

demonstrada.

Bulimia Nervosa: Em ensaios de curta duração (inferior a 16 semanas), em doentes em ambulatório

a cumprir os critérios do DSM-III.R para a bulimia nervosa, a fluoxetina a

60 mg/dia demonstrou ser significativamente mais eficaz do que o placebo na redução da ingestão

compulsiva e da actividade purgativa. No entanto, quanto à eficácia a longo prazo, não pode ser retirada

nenhuma conclusão.

Dois estudos controlados com placebo foram realizados em doentes com Perturbação Disfórica

Pré-menstrual (PDPM) diagnosticada de acordo com os critérios da DSM-IV. As doentes incluídas teriam

de apresentar sintomas suficientemente graves de modo a comprometer a vida social e profissional, assim

como a relação com os outros. Foram excluídas doentes a utilizar contracepção oral. No primeiro estudo

com 20 mg/dia continuadamente durante 6 ciclos, observaram-se melhorias no parâmetro de eficácia

primário (irritabilidade, ansiedade e disforia). No segundo estudo, com uma dose intermitente em fase lútea

(20 mg diariamente durante 14 dias) durante 3 ciclos foram observadas melhorias no parâmetro de eficácia

primário (valor do Registo Diário de Gravidade de Problemas). No entanto, conclusões definitivas quanto

à eficácia e duração do tratamento não podem ser extraídas destes estudos.

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136

5.2 Propriedades farmacocinéticas

Absorção: A fluoxetina é bem absorvida a partir do tracto gastrintestinal após administração oral.

A biodisponibilidade não é afectada pela ingestão de alimentos.

Distribuição: A fluoxetina liga-se extensamente às proteínas do plasma (95%) e é largamente

distribuída (Volume de Distribuição: 20 - 40 l/Kg). O estado estacionário das concentrações plasmáticas

atinge-se após várias semanas de tratamento. As concentrações plasmáticas no estado estacionário após

tratamento prolongado são semelhantes às concentrações observadas após 4 a 5 semanas.

Metabolismo: A fluoxetina tem um perfil farmacocinético não-linear com efeito de primeira

passagem hepático. A concentração plasmática máxima é, em geral, atingida em 6 a 8 horas após

administração. A fluoxetina é extensamente metabolizada pela enzima polimórfica CYP2D6. A fluoxetina

é metabolizada principalmente pelo fígado no seu metabolito activo norfluoxetina (dimetilfluoxetina), por

desmetilação.

Excreção: A semi-vida de eliminação da fluoxetina é de 4-6 dias e a da norfluoxetina é de 4-16

dias. Estas longas semi-vidas são responsáveis pela persistência do fármaco durante 5-6 semanas após

descontinuação. A excreção é feita principalmente (cerca de 60%) pelos rins. A fluoxetina é excretada no

leite materno.

Populações de Risco:

Idosos: Parâmetros cinéticos não são alterados em idosos saudáveis quando comparados com

indivíduos mais jovens;

Insuficiência hepática: Em caso de insuficiência hepática (cirrose alcoólica), as semividas da

fluoxetina e norfluoxetina são aumentadas para 7 e 12 dias, respectivamente.

Deve ser considerada a diminuição de dose ou de frequência de administração. Insuficiência renal:

Após administração de uma dose única de fluoxetina a doentes com insuficiência renal ligeira, moderada

ou grave (anúria), os parâmetros cinéticos não se alteraram em comparação com voluntários sãos. No

entanto, após administração repetida pode ser observado um aumento da concentração plasmática no estado

estacionário.

5.3 Dados de segurança pré-clínica

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Em estudos “in vitro” e realizados em animais, não houve evidência de carcinogenicidade,

mutagenicidade ou diminuição da fertilidade.

Num estudo toxicológico em ratos CD jovens, a administração de 30 mg/kg/dia de cloridrato de

fluoxetina do dia 21 ao dia 90 após o nascimento, resultou em degeneração testicular irreversível e necrose,

vacuolação do epitélio do epidídimo, imaturidade e inactividade do aparelho reprodutor das fêmeas e

diminuição da fertilidade. Verificaram-se atrasos na maturação sexual nos machos (10 a 30 mg/kg/dia) e

nas fêmeas (30 mg/kg/dia). Desconhece-se qual o significado destes achados para o ser humano. Ratos aos

quais foram administrados 30 mg/kg também tiveram comprimento do fémur diminuído comparativamente

com os controlos e degeneração musculosquelética, necrose e regeneração. Com 10 mg/kg/dia, os níveis

plasmáticos atingidos em animais foram aproximadamente 0,8 a 8,8 vezes (fluoxetina) e 3,6 a 23,2 vezes

(norfluoxetina) os observados habitualmente nas crianças. Com 3 mg/kg/dia, os níveis plasmáticos

atingidos nos animais foram aproximadamente 0,04 a 0,5 vezes

(fluoxetina) e 0,3 a 2,1 vezes (norfluoxetina) os habitualmente atingidos nas crianças.

Estudos em ratinhos jovens indicaram que a inibição do transportador da serotonina inibe o

crescimento da formação óssea. Este achado parece ser suportado pelos achados clínicos. A reversibilidade

deste efeito não ficou estabelecida.

Outro estudo em ratinhos jovens (tratados do dia 4 ao dia 21 após o nascimento) demonstrou que

a inibição do transportador da serotonina teve efeitos de longa duração no comportamento dos ratinhos.

Não existe informação se este efeito foi reversível. A relevância clínica deste achado não ficou

demonstrada.

INFORMAÇÕES FARMACÊUTICAS

Lista dos excipientes

Amido pré-gelificado.

Cápsulas de gelatina n.º 2 (cabeça azul clara e corpo turquesa claro):

Azul brilhante (E133) Dióxido de titânio (E171) Gelatina.

Tinta de impressão das cápsulas - OPACODE S-1-8152 HV:

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Óxido de ferro negro (E172)

Lecitina (soja) (E322)

Incompatibilidades

Não aplicável

Prazo de validade

3 anos

6.4 Precauções especiais de conservação

Não conservar acima de 30ºC.

6.5 Natureza e conteúdo do recipiente

As cápsulas de Fluoxetina Jaba são acondicionadas em blisters de PVC/Aclar e Alumínio.

Embalagens de 10, 30 ou 60 cápsulas.

É possível que não sejam comercializadas todas as apresentações.

6.6 Precauções especiais de eliminação

Não existem requisitos especiais.

Os produtos não utilizados ou os resíduos devem ser eliminados de acordo com as exigências

locais.

TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO

Jaba Recordati S.A.

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Lagoas Park, Edificio 5, Torre C, Piso 3

2740-298 Porto Salvo

NÚMERO (S) DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO

Os números de registo do medicamento são os seguintes:

Nº de registo: 4911095 - 10 cápsulas, 20 mg, blisters de PVC/Aclar e Alumínio.

Nº de registo: 4911194 - 30 cápsulas, 20 mg, blisters de PVC/Aclar e Alumínio. Nº de registo:

4911293 - 60 cápsulas, 20 mg, blisters de PVC/Aclar e Alumínio.

DATA DA PRIMEIRA AUTORIZAÇÃO/RENOVAÇÃO DA AUTORIZAÇÃO DE

INTRODUÇÃO NO MERCADO

Data da primeira autorização: 23 de Fevereiro de 2004

Data da última renovação: 22 de Julho de 2009

DATA DA REVISÃO DO TEXTO

Dezembro de 2010

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Anexo II – Características gerais dos documentos Consentimento Informado, Resumo

das Cracaterísticas do Produto e Orientações Clínicas

Tipo textual Consentimento

informado

Resumo das

características do

produto

Orientações clínicas

Público Utente Profissional da

saúde/ utente

Profissional da saúde/

utente/ indústria

médica

Situação comunicativa Vertical Horizontal Horizontal

Função Informar e expressar

consentimento

Instruir sobre a

utilização útil e eficaz

do produto

Informar e instruir

sobre novas

investigações

Propósito Esclarecer o utente para

tomada de decisões e

exprimir o seu

consentimento

Dar a conhecer o

produto para garantir

a utilização eficaz e

segura

Instruir sobre

resultados de novas

investigações para

tomada de decisões

Contexto de uso Prática e investigação

clínicas

Prática clínica Prática clínica

Tempo de uso Pontual Prolongado Prolongado

Linguagem Simples, clara e objetiva;

possível presença de

termos especializados

Especializada Mais ou menos

especializada

(conforme o

destinatário e a

entidade responsável

pela divulgação

Grau de padronização Baixo (apenas ao nível

das partes constituintes

e seu conteúdo)

Elevado (existência

de legislação a nível

internacional)

Relativo (estrutura e

conteúdo podem ser

variáveis)

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Anexo III – Formulário de Consentimento Informado nos termos da norma n.º 5/2013

da Direção-Geral da Saúde

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Anexo IV – Consentimento Informado em linguagem não especializada

Anexo IV (a) – Consentimento Informado em linguagem não especializada – português

CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO

PARA COLOCAÇÃO DE IMPLANTE CONTRACEPTIVO

O que é o implante contraceptivo?

É um pequeno tubo de plástico, de cerca de 40 mm de comprimento por 2 mm de

largura (o tamanho de um pequeno gancho do cabelo), contendo um progestativo (uma

hormona) e que é colocado facilmente por um profissional treinado (*).

Como funciona?

O progestativo é libertado para o sangue da portadora, lentamente e de uma forma

contínua durante 3 anos e funciona de três modos: impedindo a ovulação (libertação do

óvulo dos ovários); fazendo com que o muco do colo do útero se espesse, o que dificulta

a passagem dos espermatozóides para o útero; e diminuindo a espessura do revestimento

do útero, o que torna difícil que um óvulo fertilizado aí se fixe.

Qual é a sua eficácia?

A sua eficácia é superior a 99%. Calcula-se que, num ano, possa haver um máximo

de 7 gravidezes em 10.000 mulheres que usem o implante. Se compararmos este número

com o número de mulheres sexualmente activas que anualmente ficam grávidas quando

não usam contraceptivos (cerca de 80 em cada 100 mulheres), a possibilidade de gravidez

é muito baixa.

Quais as vantagens de usar implante?

É um método prático e de longa duração (3 anos).

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Evita ter que tomar a pílula todos os dias.

Não interfere com a relação sexual.

Não interfere com a amamentação.

Melhora as dores menstruais.

Pode ser usado pelas mulheres que não podem tomar, ou que têm muitos efeitos

secundários quando tomam, pílulas contendo estrogéneo.

Não diminui a massa óssea (osteoporose).

Quais as desvantagens em usar implante?

Irregularidades da menstruação. Na maioria dos casos, há sangramento irregular,

podendo haver aumento do fluxo menstrual ou ausência de menstruação. Estas alterações

são mais comuns no primeiro ano e não têm consequências negativas na saúde da mulher.

• Em algumas mulheres pode ocorrer um ligeiro aumento de peso.

Podem ocorrer algumas alterações da pele, dores de cabeça, enjoos, aumento da

sensibilidade mamária e variações do humor (semelhantes às que ocorrem com outros

métodos contraceptivos como a pílula).

Podem aparecer quistos benignos nos ovários, que geralmente não necessitam de

tratamento.

(*) Código Deontológico da Ordem dos Médicos: «Artigo 36.º (Respeito por

qualificações e competências): 4 – Quando delegar competências noutros profissionais

de saúde, médicos ou não médicos devidamente habilitados, é dever do médico não

ultrapassar nesta delegação as competências destes profissionais, sendo também

responsável pelos actos delegados nos termos do artigo 34.º.»

Quando é colocado o implante?

É colocado, preferencialmente, até 5 dias após o início da sua menstruação (para

garantir que não há gravidez).

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Pode ser colocado nas mulheres a amamentar a partir da 6ª semana após o parto.

Pode ser colocado logo após a toma do último comprimido da embalagem da

pílula.

É eficaz logo após a colocação.

Como é colocado o implante?

É colocado na parte interna do seu braço, debaixo da pele.

Depois de desinfectada a pele, é-lhe administrada uma pequena injecção de

anestesia local.

O implante, que vem num aparelho próprio, é colocado sob a sua pele, como se

fosse uma injecção.

Depois da colocação faz-se um pequeno curativo e a cicatrização ocorre como se

tivesse havido um pequeno corte na pele.

Pode ocorrer alguma dor, algum inchaço ou uma nódoa negra no local da

colocação, mas passa rapidamente.

Como é retirado o implante?

O implante é removido 3 anos após a sua inserção, ou antes, se a seu pedido.

Para a remoção do implante, a parte superior do seu braço será desinfectada e

anestesiada, tal como aquando da sua colocação.

Por baixo da extremidade do implante será realizado um pequeno corte, por onde

este será empurrado e removido com uma pinça.

Por vezes, o implante fica envolvido num tecido duro que pode ter de ser cortado

antes de o remover.

Será depois necessário fechar o corte com um penso ou, eventualmente, com

alguns pontos.

Referências:

Direcção Geral de Saúde: Orientações técnicas de Saúde Reprodutiva -

Planeamento familiar (orientações técnicas 9 - edição revista e actualizada). Lisboa, 2008.

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Disponível em: http://www.dgs.pt

Infarmed: Folheto informativo para o utilizador de implante contraceptivo. 2009.

Disponível em:

http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=10036&tipo_doc=fi

Patient UK. Information Leaflets: Implanon® - The Contraceptive Implant.

United Kingdom, 2009.

Disponível em: http://www.patient.co.uk/health/Implanon-The-Contraceptive-

Implant.htm

Confirmo que expliquei à pessoa abaixo indicada, de forma adequada e

inteligível, os procedimentos necessários ao acto referido neste documento. Respondi

a todas as questões que me foram colocadas e assegurei-me de que houve um período

de reflexão suficiente para a tomada da decisão. Também garanti que, em caso de

recusa, não serão adoptados quaisquer procedimentos discriminatórios no contexto

da sua assistência nesta unidade de saúde.

O implante que escolheu _______________ (marca do implante) é efectivo

durante ____ anos, e deverá ser retirado até _____________ (DD/MM/AA).

Nome legível do médico/médica: |_________________________________|

Data ….../....../…....... Assinatura

....................................................................

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-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-

+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-+-

Por favor, leia com atenção todo o conteúdo deste documento. Não hesite em

solicitar mais informações se não estiver completamente esclarecida. Verifique se

todas as informações estão correctas. Se tudo estiver conforme, então assine este

documento.

“Declaro que concordo com a colocação do IMPLANTE conforme me foi

explicado pelo profissional de saúde que assina este documento, tendo podido fazer

todas as perguntas sobre o assunto. Assim, autorizo a realização do acto indicado nas

condições em que me foram explicadas e constam deste documento.”

… … … … … … … … … … (local), … …/… …/… … (data)

Nome: |_______________________________________________________|

Assinatura … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

… … … … … … …

A aplicação do método a menores ou a pessoas mentalmente incapazes de

decidir deve ser precedida de parecer concordante de, pelo menos, um/a médico/a de

outra especialidade, para além do médico/a de família que o propõe, devendo o

consentimento, no caso de menor de 16 anos, ser assinado pelo pai ou pela mãe, e, no

caso de uma incapaz, pelo seu representante legal.

Se não for a própria a assinar, por incapacidade mental comprovada ou idade abaixo de 16 anos:

Nome: .......................................................................................................................

BI/CD Nº: ........................................... datado de ...../...../......, validade …../..…/…... Grau de parentesco ou tipo de representação: ........................................................

Assinatura … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

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A página 3 deste documento deve ser feita em duplicado: uma via para o

processo, outra via para entrega à pessoa que consente, juntamente com as outras

páginas.

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Anexo IV (b) – Consentimento Informado em linguagem não especializada – inglês

©2009 American Society of Plastic Surgeons®. Purchasers of the Patient Consultation

Resource Book are given a limited license to modify documents contained herein and reproduce the

modified version for use in the Purchaser's own practice only. All other rights are reserved by American

Society of Plastic Surgeons. Purchasers may not sell or allow any other party to use any version of the

Patient Consultation Resource Book, any of the documents contained herein or any modified version

of such documents.

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INSTRUCTIONS

This is an informed-consent document that has been prepared to help your plastic surgeon inform

you of abdominoplasty surgery, its risks, as well as alternative treatments.

It is important that you read this information carefully and completely. Please initial each page,

indicating that you have read the page and sign the consent for surgery as proposed by your plastic surgeon

and agreed upon by you.

GENERAL INFORMATION

Abdominoplasty is a surgical procedure to remove excess skin and fatty tissue from the middle

and lower abdomen and to tighten muscles of the abdominal wall. Abdominoplasty is not a surgical

treatment for being overweight. Obese individuals who intend to lose weight should postpone all forms of

body contouring surgery until they have reached a stable weight.

There are a variety of different techniques used by plastic surgeons for abdominoplasty.

Abdominoplasty can be combined with other forms of body-contouring surgery, including suction-assisted

lipectomy, or performed at the same time with other elective surgeries.

ALTERNATIVE TREATMENTS

Alternative forms of management consist of not treating the areas of loose skin and fatty deposits.

Liposuction may be a surgical alternative to abdominoplasty if there is good skin tone and localized

abdominal fatty deposits in an individual of normal weight. Diet and exercise programs may be of benefit

in the overall reduction of excess body fat and contour improvement. Risks and potential complications

are associated with alternative surgical forms of treatment.

RISKS OF ABDOMINOPLASTY SURGERY

Every surgical procedure involves a certain amount of risk and it is important that you understand

these risks and the possible complications associated with them. In addition, every procedure has

limitations. An individual’s choice to undergo a surgical procedure is based on the comparison of the risk

to potential benefit. Although the majority of patients do not experience these complications, you should

discuss each of them with your plastic surgeon to make sure you completely understand all possible

consequences of a abdominoplasty.

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Specific Risks of Abdominoplasty Surgery

Change in Skin Sensation: It is common to experience diminished (or loss) of skin sensation

in areas that have had surgery. Diminished (or complete loss of skin sensation) may not totally resolve

after an abdominoplasty.

Skin Contour Irregularities: Contour and shape irregularities and depressions may occur after

abdominoplasty. Visible and palpable wrinkling of skin can occur. Residual skin irregularities at the ends

of the incisions or “dog ears” are always a possibility as is skin pleating when there is excessive redundant

skin. This may improve with time, or it can be surgically corrected.

Major Wound Separation: Wounds may separate after surgery. Should this occur, additional

treatment including surgery may be necessary.

Umbilicus: Malposition, scarring, unacceptable appearance or loss of the umbilicus (navel) may

occur.

Pubic Distortion: It is possible, though unusual, for women to develop distortion of their labia

and pubic area. Should this occur, additional treatment including surgery may be necessary.

General Risks of Surgery

Healing Issues: Certain medical conditions, dietary supplements and medications may delay

and interfere with healing. Patients with massive weight loss may have a healing delay that could result in

the incisions coming apart, infection, and tissue changes resulting in the need for additional medical care,

surgery, and prolonged hospitalizations. Patients with diabetes or those taking medications such as steroids

on an extended basis may have prolonged healing issues. Smoking will cause a delay in the healing process,

often resulting in the need for additional surgery. There are general risks associated with healing such as

swelling, bleeding, and the length of surgery and anesthesia that include a longer recovery and the

possibility of additional surgery, prolonged recovery, color changes, shape changes, infection, not meeting

goals and expectations, and added expense to the patient. Patients with significant skin laxity (patients

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seeking facelifts, breast lifts, abdominoplasty, and body lifts) will continue to have the same lax skin after

surgery. The quality or elasticity of skin will not change and recurrence of skin looseness will occur at some

time in the future, quicker for some than others. There are nerve endings that may become involved with

healing scars during surgery such as suction-assisted lipectomy, abdominoplasty, facelifts, body lifts, and

extremity surgery. While there may not be a major nerve injury, the small nerve endings during the healing

period may become too active producing a painful or oversensitive area due to the small sensory nerve

involved with scar tissue. Often massage and early non-surgical intervention resolves this. It is important

to discuss post-surgical pain with your surgeon.

Bleeding: It is possible, though unusual, to experience a bleeding episode during or after surgery.

Should postoperative bleeding occur, it may require emergency treatment to drain accumulated blood or

you may require a blood transfusion, though such occurrences are rare. Increased activity too soon after

surgery can lead to increased chance of bleeding and additional surgery. It is important to follow

postoperative instructions and limit exercise and strenuous activity for the instructed time. Do not take any

aspirin or anti-inflammatory medications for at least ten days before or after surgery, as this may increase

the risk of bleeding. Non-prescription “herbs” and dietary supplements can increase the risk of surgical

bleeding. Hematoma can occur at any time, usually in the first three weeks following injury to the operative

area. If blood transfusions are necessary to treat blood loss, there is the risk of blood-related infections

such as hepatitis and HIV (AIDS). Heparin medications that are used to prevent blood clots in veins can

produce bleeding and decreased blood platelets.

Infection: Infection is unusual after surgery. Should an infection occur, additional treatment

including antibiotics, hospitalization, or additional surgery may be necessary. It is important to tell your

surgeon of any other infections, such as ingrown toenail, insect bite, or urinary tract infection. Remote

infections, infections in other parts of the body, may lead to an infection in the operated area.

Scarring: All surgery leaves scars, some more visible than others. Although good wound healing

after a surgical procedure is expected, abnormal scars may occur within the skin and deeper tissues. Scars

may be unattractive and of different color than the surrounding skin tone. Scar appearance may also vary

within the same scar. Scars may be asymmetrical (appear different on the right and left side of the body).

There is the possibility of visible marks in the skin from sutures. In some cases scars may require surgical

revision or treatment.

Firmness: Excessive firmness can occur after surgery due to internal scarring. The occurrence

of this is not predictable. Additional treatment including surgery may be necessary.

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Skin Discoloration / Swelling: Some bruising and swelling normally occur. The skin in or

near the surgical site can appear either lighter or darker than surrounding skin. Although uncommon,

swelling and skin discoloration may persist for long periods of time and, in rare situations, may be

permanent.

Skin Sensitivity: Itching, tenderness, or exaggerated responses to hot or cold temperatures may

occur after surgery. Usually this resolves during healing, but in rare situations it may be chronic.

Major Wound Separation: Wounds may separate after surgery. Should this occur, additional

treatment including surgery may be necessary.

Sutures: Most surgical techniques use deep sutures. You may notice these sutures after your

surgery. Sutures may spontaneously poke through the skin, become visible or produce irritation that

requires suture removal.

Delayed Healing: Wound disruption or delayed wound healing is possible. Some areas of the

skin may not heal normally and may take a long time to heal. Areas of skin may die. This may require

frequent dressing changes or further surgery to remove the non-healed tissue. Individuals who have

decreased blood supply to tissue from past surgery or radiation therapy may be at increased risk for wound

healing and poor surgical outcome. Smokers have a greater risk of skin loss and wound healing

complications.

Damage to Deeper Structures: There is the potential for injury to deeper structures including

nerves, blood vessels, muscles, and lungs (pneumothorax) during any surgical procedure. The potential for

this to occur varies according to the type of procedure being performed. Injury to deeper structures may be

temporary or permanent.

Fat Necrosis: Fatty tissue found deep in the skin might die. This may produce areas of firmness

within the skin. Additional surgery to remove areas of fat necrosis may be necessary. There is the

possibility of contour irregularities in the skin that may result from fat necrosis.

Seroma: Infrequently, fluid may accumulate between the skin and the underlying tissues

following surgery, trauma or vigorous exercise. Should this problem occur, it may require additional

procedures for drainage of fluid.

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Surgical Anesthesia: Both local and general anesthesia involve risk. There is the possibility

of complications, injury, and even death from all forms of surgical anesthesia or sedation.

Shock: In rare circumstances, your surgical procedure can cause severe trauma, particularly when

multiple or extensive procedures are performed. Although serious complications are infrequent, infections

or excessive fluid loss can lead to severe illness and even death. If surgical shock occurs, hospitalization

and additional treatment would be necessary.

Pain: You will experience pain after your surgery. Pain of varying intensity and duration may

occur and persist after surgery. Chronic pain may occur very infrequently from nerves becoming trapped

in scar tissue or due to tissue stretching.

Cardiac and Pulmonary Complications: Pulmonary complications may occur secondarily

to both blood clots (pulmonary emboli), fat deposits (fat emboli) or partial collapse of the lungs after general

anesthesia. Pulmonary emboli can be life-threatening or fatal in some circumstances. Inactivity and other

conditions may increase the incidence of blood clots traveling to the lungs causing a major blood clot that

may result in death. It is important to discuss with your physician any past history of swelling in your legs

or blood clots that may contribute to this condition. Cardiac complications are a risk with any surgery and

anesthesia, even in patients without symptoms.

If you experience shortness of breath, chest pain, or unusual heart beats, seek medical attention

immediately. Should any of these complications occur, you may require hospitalization and additional

treatment.

Allergic Reactions: In rare cases, local allergies to tape, suture material and glues, blood

products, topical preparations or injected agents have been reported. Serious systemic reactions including

shock (anaphylaxis) may occur in response to drugs used during surgery and prescription medicines.

Allergic reactions may require additional treatment.

Asymmetry: Symmetrical body appearance may not result after surgery. Factors such as skin

tone, fatty deposits, skeletal prominence, and muscle tone may contribute to normal asymmetry in body

features. Most patients have differences between the right and left side of their bodies before any surgery

is performed. Additional surgery may be necessary to attempt to diminish asymmetry.

Surgical Wetting Solutions: There is the possibility that large volumes of fluid containing

dilute local anesthetic drugs and epinephrine that is injected into fatty deposits during surgery may

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contribute to fluid overload or systemic reaction to these medications. Additional treatment including

hospitalization may be necessary.

Persistent Swelling (Lymphedema): Persistent swelling in the legs can occur following

surgery.

Unsatisfactory Result: Although good results are expected, there is no guarantee or warranty

expressed or implied, on the results that may be obtained. You may be disappointed with the results of

surgery. Asymmetry, unanticipated shape and size, loss of function, wound disruption, poor healing, and

loss of sensation may occur after surgery. Size may be incorrect. Unsatisfactory surgical scar location or

appearance may occur. It may be necessary to perform additional surgery to improve your results.

ADDITIONAL ADVISORIES

Smoking, Second-Hand Smoke Exposure, Nicotine Products (Patch, Gum, Nasal

Spray):

Patients who are currently smoking or use tobacco or nicotine products (patch, gum, or nasal spray)

are at a greater risk for significant surgical complications of skin dying, delayed healing and additional

scarring. Individuals exposed to second-hand smoke are also at potential risk for similar complications

attributable to nicotine exposure. Additionally, smoking may have a significant negative effect on

anesthesia and recovery from anesthesia, with coughing and possibly increased bleeding. Individuals who

are not exposed to tobacco smoke or nicotine-containing products have a significantly lower risk of this

type of complication. Please indicate your current status regarding these items below:

__ I am a non-smoker and do not use nicotine products. I understand the potential risk of second-

hand smoke exposure causing surgical complications.

__ I am a smoker or use tobacco / nicotine products. I understand the risk of surgical complications

due to smoking or use of nicotine products.

__ I have smoked and stopped approximately _________ ago. I understand I may still have the

effects and therefore risks from smoking in my system, if not enough time has lapsed.

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It is important to refrain from smoking at least 6 weeks before surgery and until your physician

states it is safe to return, if desired. I acknowledge that I will inform my physician if I continue to smoke

within this time frame, and understand that for my safety, the surgery, if possible, may be delayed.

Medications and Herbal Dietary Supplements: There are potential adverse reactions that

occur as the result of taking over-the-counter, herbal, and/or prescription medications. Aspirin and

medications that contain aspirin interfere with clotting and can cause more bleeding. These include non-

steroidal anti-inflammatories such as Motrin, Advil, and Alleve. It is very important not to stop drugs that

interfere with platelets, such as Plavix, which is used after a stent. It is important if you have had a stent

and are taking Plavix that you inform the plastic surgeon. Stopping Plavix may result in a heart attack,

stroke and even death. Be sure to check with your physician about any drug interactions that may exist with

medications that you are already taking. If you have an adverse reaction, stop the drugs immediately and

call your plastic surgeon for further instructions. If the reaction is severe, go immediately to the nearest

emergency room. When taking the prescribed pain medications after surgery, realize that they can affect

your thought process and coordination. Do not drive, do not operate complex equipment, do not make any

important decisions and do not drink any alcohol while taking these medications. Be sure to take your

prescribed medication only as directed.

Sun Exposure – Direct or Tanning Salon: The effects of the sun are damaging to the skin.

Exposing the treated areas to sun may result in increased scarring, color changes, and poor healing. Patients

who tan, either outdoors or in a salon, should inform their surgeon and either delay treatment, or avoid

tanning until the surgeon says it is safe to resume. The damaging effect of sun exposure occurs even with

the use sun block or clothing coverage.

Travel Plans: Any surgery holds the risk of complications that may delay healing and delay your

return to normal life. Please let the surgeon know of any travel plans, important commitments already

scheduled or planned, or time demands that are important to you, so that appropriate timing of surgery can

occur. There are no guarantees that you will be able to resume all activities in the desired time frame.

Long-Term Results: Subsequent alterations in the appearance of your body may occur as the

result of aging, sun exposure, weight loss, weight gain, pregnancy, menopause or other circumstances not

related to your surgery.

Body-Piercing Procedures: Individuals who currently wear body-piercing jewelry in the

surgical region are advised that an infection could develop from this activity.

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Future Pregnancy and Breast Feeding: This surgery is not known to interfere with

pregnancy. If you are planning a pregnancy, your breast skin may stretch and offset the results of surgery.

You may have more difficulty breast feeding after this operation.

Female Patient Information: It is important to inform your plastic surgeon if you use birth

control pills, estrogen replacement, or if you suspect you may be pregnant. Many medications including

antibiotics may neutralize the preventive effect of birth control pills, allowing for conception and

pregnancy.

Intimate Relations After Surgery: Surgery involves coagulating of blood vessels and

increased activity of any kind may open these vessels leading to a bleed, or hematoma. Activity that

increases your pulse or heart rate may cause additional bruising, swelling, and the need for return to surgery

and control bleeding. It is wise to refrain from intimate physical activities until your physician states it is

safe.

Mental Health Disorders and Elective Surgery: It is important that all patients seeking to

undergo elective surgery have realistic expectations that focus on improvement rather than perfection.

Complications or less than satisfactory results are sometimes unavoidable, may require additional surgery

and often are stressful. Please openly discuss with your surgeon, prior to surgery, any history that you may

have of significant emotional depression or mental health disorders. Although many individuals may

benefit psychologically from the results of elective surgery, effects on mental health cannot be accurately

predicted.

Metabolic Status of Massive Weight Loss Patients: Your personal metabolic status of

blood chemistry and protein levels may be abnormal following massive weight loss and surgical procedures

to make a patient loose weight. Individuals with abnormalities may be at risk for serious medical and

surgical complications, including delayed wound healing, infection or even in rare cases, death.

ADDITIONAL SURGERY NECESSARY (Re-Operations)

There are many variable conditions that may influence the long-term result of surgery. It is

unknown how your tissue may respond or how wound healing will occur after surgery. Secondary surgery

may be necessary to perform additional tightening or repositioning of body structures. Should

complications occur, additional surgery or other treatments may be necessary. Even though risks and

complications occur infrequently, the risks cited are particularly associated with this surgery. Other

complications and risks can occur but are even more uncommon. The practice of medicine and surgery is

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not an exact science. Although good results are expected, there is no guarantee or warranty expressed or

implied, on the results that may be obtained. In some situations, it may not be possible to achieve optimal

results with a single surgical procedure.

PATIENT COMPLIANCE

Follow all physician instructions carefully; this is essential for the success of your outcome. It is

important that the surgical incisions are not subjected to excessive force, swelling, abrasion, or motion

during the time of healing. Personal and vocational activity needs to be restricted. Protective dressings

and drains should not be removed unless instructed by your plastic surgeon. Successful post-operative

function depends on both surgery and subsequent care. Physical activity that increases your pulse or heart

rate may cause bruising, swelling, fluid accumulation and the need for return to surgery. It is wise to refrain

from intimate physical activities after surgery until your physician states it is safe. It is important that you

participate in follow-up care, return for aftercare, and promote your recovery after surgery.

HEALTH INSURANCE

Most health insurance companies exclude coverage for cosmetic surgical operations or any

resulting complications. Please carefully review your health insurance subscriber-information pamphlet.

Most insurance plans exclude coverage for secondary or revisionary surgery due to

complications of cosmetic surgery.

FINANCIAL RESPONSIBILITIES

The cost of surgery involves several charges for the services provided. The total includes fees

charged by your surgeon, the cost of surgical supplies, anesthesia, laboratory tests, and possible outpatient

hospital charges, depending on where the surgery is performed. Depending on whether the cost of surgery

is covered by an insurance plan, you will be responsible for necessary co-payments, deductibles, and

charges not covered. The fees charged for this procedure do not include any potential future costs for

additional procedures that you elect to have or require in order to revise, optimize, or complete your

outcome. Additional costs may occur should complications develop from the surgery. Secondary surgery

or hospital day-surgery charges involved with revision surgery will also be your responsibility. In signing

the consent for this surgery/procedure, you acknowledge that you have been informed

about its risks and consequences and accept responsibility for the clinical decisions that

were made along with the financial costs of all future treatments.

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___I understand that with cosmetic surgery, I am responsible for the surgical fees quoted to me,

as well as additional fees for anesthesia, facility (OR), and possibly laboratory, X-ray, and pathology fees.

Surgicenters, Outpatient Centers, and Hospitals often have rules that certain tissue/implants

removed during surgery must be sent for evaluation which may result in additional fees. Please check with

your surgeon to receive an estimate of any additional costs that you may be charged.

___I understand that there will be a non-refundable fee for booking and scheduling my surgery of

$_________________, which is a part of the overall surgical fee.

Should I cancel my surgery without an approved medically acceptable reason, submitted in writing

and acceptable to the practice, within _____ weeks of the scheduled surgery, this fee is forfeited. While this

may appear to be a charge for services which were not provided, this fee is necessary to reserve time in the

OR and in the practice, which are done when I schedule.

___ I understand and unconditionally and irrevocably accept this.

DISCLAIMER

Informed-consent documents are used to communicate information about the proposed surgical

treatment of a disease or condition along with disclosure of risks and alternative forms of treatment(s),

including no surgery. The informed-consent process attempts to define principles of risk disclosure that

should generally meet the needs of most patients in most circumstances.

However, informed-consent documents should not be considered all-inclusive in defining other

methods of care and risks encountered. Your plastic surgeon may provide you with additional or different

information which is based on all the facts in your particular case and the current state of medical

knowledge.

Informed-consent documents are not intended to define or serve as the standard of medical care.

Standards of medical care are determined on the basis of all of the facts involved in an individual case and

are subject to change as scientific knowledge and technology advance and as practice patterns evolve.

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160

It is important that you read the above information carefully and have

all of your questions answered before signing the consent on the next page.

CONSENT FOR SURGERY / PROCEDURE or TREATMENT

I hereby authorize Dr. _____________________ and such assistants as may be selected to

perform the following procedure or treatment: ABDOMINOPLASTY

have received the following information sheet:

INFORMED CONSENT – ABDOMINOPLASTY SURGERY

I recognize that during the course of the operation and medical treatment or anesthesia, unforeseen

conditions may necessitate different procedures than those above. I therefore authorize the above physician

and assistants or designees to perform such other procedures that are in the exercise of his or her

professional judgment necessary and desirable. The authority granted under this paragraph shall include

all conditions that require treatment and are not known to my physician at the time the procedure is begun.

I consent to the administration of such anesthetics considered necessary or advisable. I understand

that all forms of anesthesia involves risk and the possibility of complications, injury, and sometimes death.

I understand what my surgeon can and cannot do, and I understand there are no warranties or

guarantees, implied or specific about my outcome. I have had the opportunity to explain my goals and

understand which desired outcomes are realistic and which are not. All of my questions have been

answered, and I understand the inherent (specific) risks of the procedures I seek, as well as those additional

risks and complications, benefits, and alternatives. Understanding all of this, I elect to proceed.

I consent to be photographed or televised before, during, and after the operation(s) or procedure(s)

to be performed, including appropriate portions of my body, for medical, scientific or educational purposes,

provided my identity is not revealed by the pictures.

For purposes of advancing medical education, I consent to the admittance of observers to the

operating room.

I consent to the disposal of any tissue, medical devices or body parts which may be removed.

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I consent to the utilization of blood products should they be deemed necessary by my surgeon

and/or his/her appointees, and I am aware that there are potential significant risks to my health with their

utilization.

I authorize the release of my Social Security number to appropriate agencies for legal reporting

and medicaldevice registration, if applicable.

I understand that the surgeon’s fees are separate from the anesthesia and hospital charges, and the

fees are agreeable to me. If a secondary procedure is necessary, further expenditure will be required.

I realize that not having the operation is an option.

IT HAS BEEN EXPLAINED TO ME IN A WAY THAT I UNDERSTAND:

THE ABOVE TREATMENT OR PROCEDURE TO BE UNDERTAKEN

THERE MAY BE ALTERNATIVE PROCEDURES OR METHODS OF TREATMENT

THERE ARE RISKS TO THE PROCEDURE OR TREATMENT PROPOSED

CONSENT TO THE TREATMENT OR PROCEDURE AND THE ABOVE LISTED ITEMS (1-

12). I AM SATISFIED WITH THE EXPLANATION.

__________________________________________________________________________

Patient or Person Authorized to Sign for Patient

Date __________________________ Witness

____________________________________

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Anexo V – Modelos de Consentimento Informado para participação em estudo

Anexo V (a) – Modelo de Consentimento Informado prveniente do corpus B

CONSENTIMENTO INFORMADO, ESCLARECIDO E LIVRE PARA PARTICIPAÇÃO EM ESTUDOS DE INVESTIGAÇÃO TÍTULO DO ESTUDO:

ENQUADRAMENTO:

EXPLICAÇÃO DO ESTUDO:

CONDIÇÕES E FINANCIAMENTO:

CONFIDENCIALIDADE E ANONIMATO:

… [AGRADECIMENTOS E IDENTIFICAÇÃO DO/A INVESTIGADOR/A – NOME, PROFISSÃO, LOCAL DE TRABALHO,

CONTACTO TELEFÓNICO, ENDEREÇO ELETRÓNICO – E DA PESSOA QUE PEDE O CONSENTIMENTO, SE FOR

DIFERENTE;]

POR FAVOR, LEIA COM ATENÇÃO A SEGUINTE INFORMAÇÃO. SE ACHAR QUE ALGO ESTÁ INCORRETO OU QUE

NÃO ESTÁ CLARO, NÃO HESITE EM SOLICITAR MAIS INFORMAÇÕES. SE CONCORDA COM A PROPOSTA QUE LHE

FOI FEITA, QUEIRA ASSINAR ESTE DOCUMENTO.

ASSINATURA/S DE QUEM PEDE CONSENTIMENTO:

DECLARO TER LIDO E COMPREENDIDO ESTE DOCUMENTO, BEM COMO AS INFORMAÇÕES VERBAIS QUE ME

FORAM FORNECIDAS PELA/S PESSOA/S QUE ACIMA ASSINA/M. FOI-ME GARANTIDA A POSSIBILIDADE DE, EM

QUALQUER ALTURA, RECUSAR PARTICIPAR NESTE ESTUDO SEM QUALQUER TIPO DE CONSEQUÊNCIAS. DESTA

FORMA, ACEITO PARTICIPAR NESTE ESTUDO E PERMITO A UTILIZAÇÃO DOS DADOS QUE DE FORMA

VOLUNTÁRIA FORNEÇO, CONFIANDO EM QUE APENAS SERÃO UTILIZADOS PARA ESTA INVESTIGAÇÃO E NAS

GARANTIAS DE CONFIDENCIALIDADE E ANONIMATO QUE ME SÃO DADAS PELO/A INVESTIGADOR/A.

NOME:

ASSINATURA: DATA: …… /…… /………..

SE NÃO FOR O PRÓPRIO A ASSINAR POR IDADE OU INCAPACIDADE

(SE O MENOR TIVER DISCERNIMENTO DEVE TAMBÉM ASSINAR EM CIMA, SE CONSENTIR)

NOME:

BI/CC N.º: DATA OU VALIDADE ….. /..… /….....

GRAU DE PARENTESCO OU TIPO DE REPRESENTAÇÃO:

ASSINATURA:

ESTE DOCUMENTO É COMPOSTO DE … PÁGINA /S E FEITO EM DUPLICADO: UMA VIA PARA O /A INVESTIGADOR

/A , OUTRA PARA A PESSOA QUE CONSENTE

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Anexo V (b) – Modelo de Consentimento Informado proveniente de projeto de tradução

do corpus A

FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Promotor

N.º do protocolo:

Título:

N.º EudraCT: european

clinical trials database

Nome do investigador:

Nome do

hospital/instituição:

Morada:

Número de telefone:

Número de Participante do

Estudo:

NATUREZA E FINALIDADE DO ESTUDO

DIREITOS DO PARTICIPANTE

RESPONSABILIDADES DO PARTICIPANTE

PROCEDIMENTOS DO ESTUDO PARA O PERÍODO DE RASTREIO, O PERÍODO DE TRATAMENTO E O ACOMPANHAMENTO

O que acontece durante o Período de rastreio/avaliação inicial?

O que irá acontecer durante o período de tratamento com o RO5459072 ou placebo?

O que irá acontecer quando parar de tomar o fármaco do estudo?

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Anexo VI – Estrutura do Resumo das Características do Produto de acordo com as

disposições da EMA

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Anexo VII – Índices de Orientações Clínicas

Anexo VII (a) – Índice das Orientações Clínicas Difficult Intravenous Access, publicadas

pela Emergency Nurses Association

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Anexo VII (b) – Índice das Orientações Clínicas Suicide Risk Assessment, publicadas pela

Emergency Nurses Association