Sobre o Campo de Irreverência de Uma Escola Artística Na Renovação Da Educação Artística

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Sobre o campo de irreverência de uma Es Artística na renovação da educação artística ' foto d'outro dia' Pátio M_EIA S! "icente! #oto$ra%a de &n$elo opes ())*! Resumo O projecto de uma Escola Internacional de Arte (M_EIA) es no contexto preciso da ilha de São Vicente, Cabo Verde, n século XXI, materializa uma complexidade conceptual onde relacionam, num nó cego, as controvérsias políticas da ac dimensão da sua globalidade e na precisão do local; a con da arte e da cultura num panorama ambivalente onde a cult se desequilibra entre o isolamento informativo e o acesso movimento solitário e comunitário por melhores condições A comunicação centra-se num estudo partilhado do desenvol do percurso do M_EIA, onde os investigadores incorporam a acção. O M_EIA constituiu-se como instituição educativa p reconhecida o cialmente, integrante no amplo campo de int cultura na vida quotidiana das comunidades e nos seus pro superação das suas di culdades. Esta escola transpira inq vinculada com o sentido que a cultura visual assume na ac com o desenvolvimento do território onde se encontra, tra regularmente no sentido da construção de aprendizagens co articuladas com as iniciativas do Atelier Mar, entidade p Atelier Mar é uma ONGD caboverdiana que promove, a partir

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O projecto de uma Escola Internacional de Arte (M_EIA) estabelecida no contexto preciso da ilha de São Vicente, Cabo Verde, no início do século XXI, materializa uma complexidade conceptual onde se relacionam, num nó cego, as controvérsias políticas da actualidade, na dimensão da sua globalidade e na precisão do local; a conflitualidade da arte e da cultura num panorama ambivalente onde a cultura visual se desequilibra entre o isolamento informativo e o acesso franco; o movimento solitário e comunitário por melhores condições de vida.

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Sobre o campo de irreverncia de uma Escola Artstica na renovao da educao artstica

' foto d'outro dia' Ptio M_EIA, S. Vicente. Fotografia de ngelo Lopes, 2007.ResumoO projecto de uma Escola Internacional de Arte (M_EIA) estabelecida no contexto preciso da ilha de So Vicente, Cabo Verde, no incio do sculo XXI, materializa uma complexidade conceptual onde se relacionam, num n cego, as controvrsias polticas da actualidade, na dimenso da sua globalidade e na preciso do local; a conflitualidade da arte e da cultura num panorama ambivalente onde a cultura visual se desequilibra entre o isolamento informativo e o acesso franco; o movimento solitrio e comunitrio por melhores condies devida.A comunicao centra-se num estudo partilhado do desenvolvimento do percurso do M_EIA, onde os investigadores incorporam a prpria aco. O M_EIA constituiu-se como instituio educativa privada, reconhecida oficialmente, integrante no amplo campo de interveno da cultura na vida quotidiana das comunidades e nos seus projectos de superao das suas dificuldades. Esta escola transpira inquietude vinculada com o sentido que a cultura visual assume na actualidade, e com o desenvolvimento do territrio onde se encontra, trabalhando regularmente no sentido da construo de aprendizagens contextuais e articuladas com as iniciativas do Atelier Mar, entidade promotora. O Atelier Mar uma ONGD caboverdiana que promove, a partir da participao intensa das populaes, projectos de aco de desenvolvimento local, implicados na especificidade e anseios dascomunidades.Na conscincia de uma instituio aberta, interdisciplinar, esta escola absorve experincias externas, privilegiando a criao de momentos de relacionamento intercultural, controversos, antagnicos e de confronto de saberes e de aprendizagens. Potencia-se, assim, a construo de implicaes nos estudantes e nas comunidades, em contraponto com a tendncia de isolamento das aprendizagens em reas especializadas, ou em abordagens estreitas e incuas das tcnicas, das gramticas, dosmtodos.O M_EIA solta um conceito de educao inovador, perseguindo utopias, jovem, experimental e experiencial, capaz de suspender as grandes verdades, num desafio de construo situada no sujeito, autoral e interferente nopoltico.Aula de desenho 1 no ptio M_EIA, S. Vicente. Fotografia de Rita Rainho,2012.O modo como se encara este estudo reflecte um processo bipolar e contaminante da relao da aco e investigao. A partir de prticas experimentais e interculturais, do domnio do vivencial e da partilha franca de olhares e fazeres, interfere na construo do olhar e da cultura, no entender do local e da envolvente global. As relaes estabelecem-se a partir do confronto das vises, assumindo as conflitualidades como produtor de interveno eaco.Assim, o estudo prev um intenso envolvimento e partilha de experincias e desafios educativos, institucionais e relacionais no campo do poltico comprometido com as comunidades. Torna-se evidente a nsia de testar e renovar os discursos, narrativas e experincias no campo da educao artstica, mbito no qual esta investigao-aco seinsere.Cabo Verde, pelas suas singularidades geogrficas e antropolgicas, congrega um conjunto de particularidades que lhe conferem condio privilegiada enquanto espao laboratorial para o exerccio das confrontaes culturais que, no contemporneo, atravessam os desgnios profundos dos artistas. O pas tem percorrido um caminho de desenvolvimento que lhe pe questes de vria ordem, uma das quais o papel da cultura e o que dela se espera para melhor o enquadrar nos desafios e conflitos da modernidade e do globo. No campo da arte persistem presenas presas numa modernidade prolongada e manutenes tradicionalistas, tanto no que respeita aos produtos gerados e s teorias sustentadas, como quanto sua importncia como meio de conhecimento e de procura das potencialidades nacionais com vista a um desenvolvimento que reverta para a boa qualidade de vida dos cabo-verdianos e para a boa realizao dos seus desgniostransnacionais.Paiva, Jos C.(2009:14)Atravessando as geografias que separam as Ilhas de Cabo Verde, em paralelo com as deslumbrantes e inquietantes montanhas onde se comprova a tenacidade com que o agropastor vence as agruras da natureza e de seu suor retira a sobrevivncia, enfrentam-se, para quem se disponha a esse enfrentamento num to novo Pas, as mesmas controvrsias de toda a parte, e persistentes procuras de caminhos - enfrentando a necessidade de na sua particularidade os sujeitos se entenderem como pertena implicada a este mundo controverso, dominado por polticas neoliberais geradoras de tanta excluso einjustia.Neste recente pas, pensar a Educao Artstica, construir a possibilidade de desenhar uma nova Escola de Arte, s podia ter sentido na recusa dos caminhos que a herana colonial estabeleceu e que autonomiza a Arte num isolamento que a fecha dentro de si prpria, e, na dimenso criada por essa recusa, para se experienciarem outras possibilidades que se impliquem na luta persistente contra o infortnio de um territrio, onde as secas sucessivas, a escassez de gua frente ao paradoxo do imenso mar salgado que cerca as terras, a geografia rude e a utilizao de tcnicas rudimentares de trabalho tornam agreste o quotidiano, e, no mesmo sentido, correspondam ao modo audacioso e persistente como este povo sorridente e afvel, leal e criativo, edifica as suas vidas. Com este enraizamento no local no se isolam as controvrsias contemporneas que em todo o mundo pretendem esclarecer os processos de aprendizagem e buscam uma narrativa renovada para a Educao Artstica que a solte da perseguio do modernismo para o confronto franco das culturas dos tempos que sevivem.A brisa fresca que ameniza o ar e ca a luz das paisagens, solta-se do mar que cerca as ilhas, constituinte territorial privilegiado de interligao das populaes que sempre se cruzaram e dos estrangeiros que chegam e partem. Este mar que gera a economia do movimento porturio, importante fonte de recursos, fornecendo a gua para consumo urbano e oferecendo o peixe, determina uma cultura que atravs dos tempos soube escapar das suas fronteiras para se espalhar por todo o lado, num vai-e-vem constante que liga as populaes ao mundo e simultaneidade dos tempos, construindo capacidades inigualveis de relacionamento internacional. E essa particularidade molda, por si, todos os desenhos que se pretendam esboar de uma Escola de Arte, que s pode ser plena enquanto entidade aberta, navegvel, atenta, contempornea eInternacional.A evoluo econmica e poltica verificada neste pequeno estado insular, que regista progressos democrticos, elevando o pas ao patamar internacional do desenvolvimento humano mdio, consolida-se no estreitar da relao entre o conhecimento, o poder e o desenvolvimento, dependente que est da capacidade de a populao saber converter em vantagem a adversidade da sua pequenez fsica, da disperso pelas dez ilhas e do seu isolamento. O perfil transnacional de uma populao afro-europeia propensa incluso, unida num forte sentimento de pertena e desgnio comuns, representam vantagens civilizacionais, em particular para o relacionamento internacional, exemplo de unio entre povos, culturas ecivilizaes.Retomando o sentido do nativismo claridoso o projecto caboverdiano legitima-se na confrontao democrtica, atravs do exerccio da liberdade individual, da participao cvica e do recurso privilegiado educao e aoconhecimento.A democracia encontra-se em perigo no apenas quando o consenso e a fidelidade aos valores que ela encarna so insuficientes, mas tambm quando a sua dinmica combativa travada por um aparente excesso de consenso que, normalmente, mascara uma apatia inquietante. igualmente posta em perigo pela crescente marginalizao de grupos inteiros, cujo estatuto de subclasse praticamente os coloca fora da comunidadepoltica.MOUFFE, Chantal(1993:17)O Atelier Mar, com 29 anos de experincia na rea de interveno da cultura/desenvolvimento, chamou a si a responsabilidade de dar uma contribuio problemtica do ensino artstico no arquiplago e criou uma Escola Internacional de Arte, situada no espao da formao universitria. Um projecto que tem sido longamente amadurecido, com a clara inteno da internacionalizao do intento, projectando-a para parcerias e cumplicidades cientficas com o tecido universitrio com afinidades, de modo a promover o desenvolvimento criativo e qualificado de Cabo Verde, marcando presena no mundo, no campo das escolas dearte.No contexto adequado e preciso do Mindelo, o Atelier Mar (ONG), com experincia nessa rea de interveno e profundamente implicada em projectos locais de desenvolvimento, onde as populaes assumem a liderana e deles so promotores, decide assumir o desafio de criar uma Escola Internacional de Arte, sediada nesta cidade, na Ilha de So Vicente. Sabendo estar a esboar uma utopia, desenvolvem-se contactos internacionais, conversas, recolhas de opinies e de apoios, determinando desde logo que se pretendia constituir uma Escola de Arte, de natureza internacional, inovadora, no rplica de nenhuma outra. Com esse desafio de fundar a primeira instituio educativa no campo da Arte em Cabo Verde, se desenharam os primeiros contornos do seu perfil educativo, que se sustenta no princpio de que a cultura e o desenvolvimento se condicionam mutuamente, e se estabeleceram os principais eixos de definioestratgia: Interesse em integrar o esforo de Cabo Verde de criao de uma rede de formao universitria, considerando a particularidade de se tratar de uma escola privada (promovida pelo Atelier Mar ONG), o que determina um amplo campo de autonomia e abre um eixo de dilogo com as entidades oficiais: um esforo para o reconhecimento das graduaes que se pretendem, a co-responsabilizao na procura de um espao para instalar asactividades;A nossa luta baseada na nossa cultura, porque a cultura fruto da histria e ela uma fora. Mas a nossa cultura cheia de fraqueza diante da natureza. preciso saberisso.CABRAL, Amlcar(1974:121) Determinao na deciso de entender a instituio como no fechada na geografia nacional de Cabo Verde, mas estabelecer como eixo poltico fundamental a promoo de uma ampla rede de relacionamentos internacionais, que vinculem a sua actividade cultural e educativa contemporaneidade, que no se contm em fronteiras mas se funda numa relao de simultaneidade do artstico com otempo;Mesmo vivendo na mesma poca, nem todos os homens vivem no mesmotempo.JIMNEZ, Jos(1997:39) Vinculao definitiva e estruturante do processo educativo cultura, s lutas das populaes implicados na construo de melhores vidas, que determina um eixo no s de expresso curricular, de escolha dos Cursos, da organizao dos Planos de Estudo, dos Programas, mas, e principalmente, de produo, de implicao quotidiana do decurso educativo nas aces e nos eventos em curso nas comunidades e de proximidade spopulaes;() a cultura no apenas uma viagem de redescoberta, uma viagem de retorno. No uma arqueologia. A cultura umaproduoHALL. Stuart(2003:43) Recusa da vinculao a uma estrutura de formao rgida e com incidncia predominante em disciplinas, na autoridade do professor, e em sistemas de horrios rgidos, favorecendo blocos abertos nas diversas reas cientficas, espaos de atelier e de oficina submergidos em projectos, gesto flexvel de calendrio e fomento de um relacionamento afvel, participativo e civicamenteimplicado;O educador democrtico no pode negar-se o dever de, na sua prtica docente, reforar a capacidade crtica do educando, sua curiosidade, suainsubmisso.FREIRE, Paulo(1996:33) Mobilizao contnua de esforos para ampliar os recursos existentes, entendidos sempre como condio real mobilizvel para a realizao dos programas e no como carncia paralizadora. Reside este esforo na ampliao dos relacionamentos de relacionamento internacional, no equilbrio entre um corpo de professores residentes e um alargado nmero de professores internacionais, na elaborao de um plano de formao de curto e mdio prazo, na responsabilizao de toda a comunidade escolar, implicando os estudantes na suaaprendizagem;A conscincia individual , no nosso tempo, bombardeada, seno anulada, por uma quantidade enorme de informao organizadamente encapotada, cujo objectivo principal produzir uma espcie de passividade colectiva aquiescente einquestionada.BARSAMIAN. David(2003:94) Considerando o estudante como um sujeito que constri o seu prprio discurso e a sua condio autoral no enfrentamento das conflitualidades epistemolgicas e empricas, na procura de um posicionamento crtico fundamentado e arguto perante a imagem dominante que a todos inunda, no desenvolvimento do pensamento artstico divergente, estabelece-se como eixo a promoo de condies que possibilitem a experienciao de modos particulares de dar e encontrar sentido s experincias pessoais ou colectivas, ampliando a sensibilidade, a percepo, a reflexo e aimaginao;Adquiri um alfabetismo visual crtico que permita a los aprendices analizar, inerpretar, evaluar y crear a partir de relacionar los saberes que circulam por los textos orales, aurales, visuales, escritos, corporales, y en especial por los vinculados a las imgenes que saturan las representaciones tecnologizadas en las sociedadescontemporneas.HERNNDEZ, Fernando(2007:22) Responder aos que buscam conhecimentos pedaggico-artsticos, preocupados em estimular a sua capacidade humana de operar no campo criativo, com dispositivos educativos, profissionalmente qualificantes, numa perspectiva interdisciplinar que actualize e integre, e permita promover instrumentos para uma maior participao socialmente produtora, com tica e cidadania, em questes sociais, polticas, artsticas e culturais do contexto em que estoinseridos;() as concepes de futuro desempenham um papel muito maior do que as ideias do passado nas actuais polticas de grupo,()APPADURAI(1966:193) Entendendo a necessidade de possibilitar o reconhecimento internacional dos currculos, por instituies homlogas e parceiras internacionais, a mobilidade e empregabilidade dos diplomados e ainda a competitividade dos sistemas de formao superior, estabelecer como eixo estruturante a utilizao do sistema organizacional de Bolonha, a promoo de um alto nvel de exigncia cientfica e a participao no esforo internacional de renovao das narrativas sobre educaoartstica;El problema principal que hoy tiennen nuestras escuelas y universidades es la narrativa dominante sobre la educacin en la que se inscriben y en su dificultad decambiarla.HERNNDEZ, Fernando(2007:9) Reconhecendo a imprescindibilidade da investigao, determina-se a criao de um Centro de Estudos Transculturais para cumprir plenamente os seusdesgnios.O estilo, num grande escritor, sempre um estilo de vida, de maneira nenhuma qualquer coisa de pessoal, mas a inveno de uma possibilidade de vida, de um modo deexistncia.DELEUZE, Gilles (1972/90:139)

Aula de desenho 2 Ptio M_EIA, S. Vicente. Fotografia de Rita Rainho, 2012.O M_EIA tem cinco anos de funcionamento. Graduou um primeiro grupo de estudantes como professores de educao visual, que se encontram a leccionar espalhados pelas diversas ilhas de Cabo Verde e comprovam a a boa formao recebida estabelecendo uma postura renovada nas escolas onde esto colocados. O governo de Cabo Verde e as instituies oficiais reconhecem a escola, aprovaram os seus cursos de licenciatura e legitimam a sua formao. No ano de 2007 iniciaram-se as licenciaturas em Artes Visuais e em Design (ramo de Equipamento e de Comunicao), onde se perseguem as linhas gerais traadas inicialmente, confrontando as dificuldades, desenhando um caminho prprio. No ano transacto realizou-se uma ps-graduao em cinema, com estudantes e docentes dos diversoscontinentes.O conjunto de professores residentes e convidados, os estudantes inscritos, as instituies universitrias internacionais que por protocolo assinado se tornaram parceiras do projecto, as comunidades envolvidas, constituem a base do seu sucesso educativo, estabelecido num projecto educativo contemporneo, criativo e pleno de responsabilidade pelo futuro, numa plenitude de audcia que partilho e tenho o prazer desaudar.

Inaugurao de exposio 'Tra k' panh pa viv', Fotografia de Rita Rainho 2012.O transporte e o nivelamento da realidade, das situaes e dos acontecimentos na representao no correspondem ao acontecido, assumem apenas uma forma suprema de alienao. E a angstia alimentada pela falta de sentido do tempo, ainda que forjada na solido, transfere para a conscincia dilacerada uma latente carga de instabilidade. Naturalmente conveniente para a sociedade global, liberal e de mercado, que se transforme a experincia efectiva em representao e em consumo, anulando com a presena de uma ideologia submersa em hipocrisia a percepo das condies de explorao material e cultural das vidashumanas.Paiva, Jos C.(2009:33/34)O projecto desta escola, distante da universidade onde pertencemos, no se encontra em nada deslocada, nem afastada das controvrsias que inundam um presente que navega angustiado e nauseado. O que se observa, considerando que no vivemos num momento singular, uma epidemia sofisticada pelo rejuvenescimento do capitalismo globalizador, que planta paisagens desoladoras nos territrios que vai saqueando e transforma em resduos humanos a mo de obra que vai utilizando, agora que se libertou das responsabilidades de colonizador e deslocaliza os seus investimentos, sem amarras de pertena nacional, sem necessitar de argumentos ou dar a cara. E dizer que a arte se encontra numa crise de identidade corresponde apenas a uma banal afirmao, repetida amide, no como grito de energia superadora ou de procura de uma cultura nova que se sobreponha aos estilhaos criados, mas como contemplao espectacular das runas da cultura ocidental ou da sua prpria contingncia. Independente da crise, seja ela qual for, a arte arrasta sempre a magia da sua sombra, o encanto do enigmtico, a inquietao das mentes insubmissas, a incompletude do estabelecido, a procura da transcendncia, a vontade de superao doconseguido.Escrevo, Excelncia, quase por via oral. As coisas que vou narrar, passadas aqui na localidade, so de mais admirosa que nem cabem num relatrio. Faz conta este relatrio uma cartafamiliar.() Sabe filho? A boca nunca fala sozinha. Talvez l na terra desse branco. Mas aqui no () aprenda uma coisa, filho. Na nossa terra, um homem os outrostodos.Mia Couto, O ltimo Voo doFlamingoOs poucos anos e vida do M_EIA, o modo como se enfrentam as conflitualidades quotidianas e se resiste institucionalizao em modelo do seu processo educativo, implicando os sujeitos que compe a sua comunidade educativa, estendida para o relacionamento amplo com as comunidades com quem cruza a sua aco, tornam mais visvel e encantador o entendimento de como a luta por uma democracia radical se suporta em cidados, sujeitos implicados, emancipados, ligados intimamente ao seu meio e navegadores pelas geografias possveis. nesta conscincia, que remete para o poltico como condio da prpria emancipao do sujeito (Mouffe, 1993), por onde se rompem, pela inventividade, os caminhos traados, que se ensaiam novas possibilidades, se evidencia a persistncia e determinao, equivalente aos camponeses que face a uma suspeita tnue de chuva, se espalham pelas montanhas agrestes de Cabo Verde, semeando uma mo de feijo, nunca deixando de aproveitar a mnima possibilidade de boacolheita.(Comunicao apresentada nas1es Jornades dInvestigaci en ArtsVisuals, Barcelona,Espna.)