Sobre flores e balas de borracha

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Sobre flores e balas de borracha Por Guilherme Mendes Fotos por Erick Ferreira e Guilherme Mendes Inspire. Respire. Inspire. Respire. Mas não agora, tem gás lacrimogênio na rua. I. Inspire. Respire. Agora sim tudo bem. Agora sim inspire, encha os pulmões do ar enevoado do centro de São Paulo. Ninguém pode negar: é uma outra quinta-feira qualquer. Tudo é igual, como sempre foi igual, como se os dias tivessem saído de uma máquina de xerox. Tá tudo constrangedoramente igual: as pessoas não olham umas na cara das outras, a estação República ainda está em obras, as empresas de telemarketing da Sete de Abril com seu tradicional vaivém de jovens e mendigos em sua portas duplas. Na frente do antigo Mappin hoje uma Casas Bahia os clássicos do sertanejo universitário eram ainda mais maltratados na voz de Alex Leone, “A voz de ouro do Brasil”. Mais pra frente, colado a uma banca de jornal, um cover de Michael Jackson erguia as mãos, gritando “thrileeeeeeeeeeeeeeer”, com a roda de curiosos habituais. Sim. Um dia ordinário. Erick Ferreira

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O que eu vivi na Revolta da Salada

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Sobre flores e balas de borracha Por Guilherme Mendes

Fotos por Erick Ferreira e Guilherme Mendes

Inspire. Respire. Inspire. Respire. Mas não agora, tem gás lacrimogênio

na rua.

I.

Inspire. Respire. Agora sim tudo bem. Agora sim inspire, encha os

pulmões do ar enevoado do centro de São Paulo. Ninguém pode negar: é uma

outra quinta-feira qualquer. Tudo é igual, como sempre foi igual, como se os

dias tivessem saído de uma máquina de xerox. Tá tudo constrangedoramente

igual: as pessoas não olham umas na cara das outras, a estação República

ainda está em obras, as empresas de telemarketing da Sete de Abril com seu

tradicional vaivém de jovens e mendigos em sua portas duplas. Na frente do

antigo Mappin – hoje uma Casas Bahia – os clássicos do sertanejo universitário

eram ainda mais maltratados na voz de Alex Leone, “A voz de ouro do Brasil”.

Mais pra frente, colado a uma banca de jornal, um cover de Michael Jackson

erguia as mãos, gritando “thrileeeeeeeeeeeeeeer”, com a roda de curiosos

habituais. Sim. Um dia ordinário.

Erick Ferreira

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Ordinário? Aos finos olhos da multidão sim, outra tarde chatíssima,

modorrenta, um clima calorento que prenunciava o frio costumeiro das noites

de junho. Mas se eras tão ordinária a quinta, por que o cochicho? Por que as

vendedoras ostentavam um estranho sorriso de “expediente que vai acabar

mais cedo”. A UNIESP, no centro da cidade, mandou fechar os campi. Os

motoristas de ônibus já davam maliciosos sorrisinhos de canto de boca. Aí, na

esquina do viaduto do Chá, ali onde fica o shopping Light, uma van da TV

Cultura está em cima da calçada, uma parati da Redetv! está ali, todos

destoando no cenário, em cima da calçada. Um mictório de Duchamp no

museu não seria tão gritante quanto isso.

Uma outra tarde normal.

Ao primeiro olhar, um outro dia. Mas, nas entrelinhas, ah...nas

entrelinhas...a guerra se prenuncia. O tambor começa a bater. E policiais do

capacete branco revistando as bolsas das pessoas.

São dezesseis horas, três minutos. O dia é treze de junho de dois mil e

treze. O mundo vai cair em três horas.

Meu chefe, na segunda-feira, me criticou que eu dizia muito “eu acho”, e

que jornalistas devem apurar e ter certeza. Então me enfiei no olho do furacão

para saber o que estava acontecendo.

A partir de agora vamos apurar essas três horas.

Guilherme Mendes

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II.

Até às 15h50 da terça-feira, mais ou menos 22.500 pessoas

confirmaram presença no do Facebook conhecido como “quarto grande ato

contra o aumento das passagens”. Quando marcado pela rede social não

significa um RSVP, ou seja, nem todos vão. E quando o relógio do prédio do

Mappin conclui 16 horas, faltando 60 minutos para o horário marcado para o

dateline, os (penso que) treze degraus do Theatro Municipal, local marcado no

evento, já estão com espaços tomados. São jovens, alguns uniformizados,

outros à paisana, mas todos ali concisos, conscientes que todos estão ali pelo

“você-sabe-o-que”. Enquanto eu sento na escadaria, dois jovens atrás de mim

mexem num cartaz laranja-mecânico. A garota abre um guache gigante preto,

puxa um pincel e vai aos poucos:

Os guardas na porta pedem pra ver. Pedem pra ver a bolsa. Pedem

para não sujar o piso recém-reformado. O engraçado é que o próprio guarda

não demonstrava maldade. Eram só ordens. O primeiro paradigma de tantos

que vão cair nos próximos momentos.

Mesmo assim é o suficiente pra irritar o Wesley (nome fictício). Ele, que

você não daria nada, que a polícia teria prioridade em enquadrar na rua: blusa

do Corinthians, um Nike Shox de 12 molas, boné pra trás. 16 anos e morador

de São Matheus, levando “1 hora, 1 hora e meia, se vier de trólebus”, não quis

ficar em casa. Foi protestar, foi dizer que não aguenta mais.

Não aguenta mais o quê? Para os não-paulistanos, a história é

conhecida: a tarifa de transporte na cidade foi reajustada, para cima, de acordo

com a inflação. Porém, mesmo com corte de impostos e aumento abaixo do

esperado, subir de R$3,00 para R$3,20, para uma sensível parte da cidade,

formado por gente tão forte quanto aqueles cafeeiros dos quadros de Portinari,

provoca um desequilíbrio fundamental. De cada quatro reais de um salário

mínimo, um vai para transporte, em média. Dos outros três você toma banho,

come, vive. Por você e por mais dois, três, por uma família. Junte isso a trens,

metrôs e ônibus lotados; a um trânsito infernal e a uma decepção generalizada

(que falaremos depois) e você tem o Theatro Municipal, tombado pelo

Patrimônio Histórico Estadual desde 1981, com um número crescente de

pessoas chegando.

E as faixas vão se estendendo no chão. Os guaches aumentando. As

frases de ordem nascem aqui e ali. As pessoas já começam a se perguntar o

“SUFOCO POR R$3,20

NÃO!”

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que seria aquilo, pois afinal de contas quem não se conecta, neste caso, está

alheio. As lojas das ruas adjacentes agora, às 16h25, já começam a descer as

portas. O que causa estranheza aos passantes: será por causa daquilo ali? Ah,

que se dane, vou ali dar uma olhada.

Wesley e garota desconhecida.

E quem olhou foi ficando. O movimento, liderado pelo até pouco tempo

escuso “Movimento Passe Livre” perdeu o status de “estudantil esquerdista e

desocupado” com a velocidade de um byte – mesmo que ainda bandeiras do

PSTU e do PSOL dominem por ali. Agora você tem senhores, rapazes em fim

de expediente, com camisa social e gravata. Você tem vendedoras, de calça

legging e bota. Tem emos. Ao que parece, eles não estão tão empolgados

ainda – mas também não demonstram pressa em se enfiar em trens lotados ou

mesmo no próximo expresso. É dia de greve em alguns pontos da CPTM,

voltar pra casa vai ser mais complicado para alguns do que normalmente já é.

Ali, de frente a entrada principal, conheci um desses que já tinham

perdido a pressa. Danilo, 18, já tinha terminado o dia no escritório da Sete de

Abril. Headset na cabeça e uma meta a bater: era uma coisa já passada no seu

dia. Ele, que poderia levar mais 1h10 pra chegar em casa, no extremo norte da

Guilherme Mendes

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cidade, resolveu ficar ali, e pregar a palavra. O jardim Brasil que ficasse lá. Ele

ficaria aqui, não arredaria pé, e iria mostrar que era possível mudar as coisas.

E explicava sobre as “Diretas Já” que ele não viveu. E explicou dos

caras-pintadas que ele nem era nascido. Atentos, seu José, um senhor na casa

dos cinquenta e morador do Jaraguá e Thiago, um porteiro de um prédio na

Nove de Julho que mora em Cotia (“cara, R$4,70 pra vir pro Butantã, só na

Raposo Tavares eu fico 40 minutos parado. E depois metrô”). A decepção nas

caras deles três – e de todos – era visível.

Os iPhones, de praxe, levantam-se pouco a pouco. As meninas que

tentavam animar os passantes, vestidas de camisa verde, davam o seu

depoimento. “Porque eu pego ônibus e isso” “é uma exploração e assim assim

assado...” e por aí segue. Quando elas tiram um tempo pra descansar, surgem

os jingles. Sério: eles dariam um simpático CD Eis um deles:

“Se a passagem não baixar, olé olé olá (2x)

São Paulo vai parar”

Gente que mora no aeroporto considera justo. Gente que mora em

Moema e que estava lá também demonstrava simpatia. Porém o quarto ato

agora conta com um agravante: Não são só as passagens que iram os

rebeldes de Zion. É o fato do protesto não poder existir de maneira pacífica.

Hoje não vai ser diferente. O homem com o tambor, no centro dos agora mil

manifestantes, faz uma batida lenta, grave, extremamente ritmada –

Tum...tum...tum. É o chamado dos manifestantes para o ideal:

“Vem, vem, vem pra rua, vem contra o aumento”

III.

A Polícia Militar brasileira é única no planeta. Enquanto todas as nações

contam com algo que se assemelham à nossa polícia civil, a PM é a instituição

que, em tese, contém atos de violência, reprime crimes na rua, resolve as

“desinteligências”, ao estilo da Polícia 24h. Mas não precisa ser jornalista, ou

vestir o manto da imparcialidade, para sabermos que os exageros dos “de

farda” são costumeiros. Qualquer levante de violência, civil ou criminal, a

polícia reprime, como manda o seu trabalho. Mas cada vez mais se ouvem

relatos de “era só um inocente, era trabalhador, foi PM! Foi PM!”, chorados

sobre o corpo de alguém estendido no chão, quase sempre de alguma

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periferia. Para uns, ossos do ofício. Para outros, símbolo de uma sociedade

que ama a violência.

Aos olhos a sociedade paulista, os tiras são amados. A classe média se

apoia neles como seu cão-de-guarda, ligando para o 190 a cada emergência.

Para eles tem programas no período da tarde que mostram exclusivamente

suas ações. E, para eles, temos agora, cinco e quinze da tarde, três

helicópteros rodando o quarteirão do protesto.

Para os agora três, quatro mil manifestantes que gritam, balançam

bandeiras, erguem cartazes, a polícia é uma marionete de um governo dito

“fascista” e isso fica claro nos gritos de guerra. Mais uma do Greatest Hits dos

jovens:

“Dança Haddad, dança até o chão

Aqui é o povo unido contra o aumento do busão”

Os helicópteros são dois modelos Robinson e um Águia. Os dois

primeiros são prateado e dourado, provavelmente da Band e Record,

respectivamente. O terceiro, um portentoso branco, preto e vermelho, voa

baixinho, para. Vai e volta. É o da polícia, observando os dedos do meio

apontados para si.

O que eles veem de lá de cima? Baderna? Um repórter ser preso por

porte de vinagre e dois manifestantes por portar isso, máscaras e guache? O

trânsito da 23 de Maio já dando sinais de caos? O que viam aqueles três

comandantes? Nunca saberemos, mas visto na altura dos olhos, a calmaria

ainda reina. É só mais um espaço público cheio. Poderia ser a entrada de uma

opera no teatro, uns jovens fazendo flashmob.

*

No inverno é assim: cinco e meia e as luminárias centenárias do centro

de Sampa já são acesas. E elas aquecem ainda mais a turba – que não para

de crescer. Não me arrisco, pela próxima hora, a chutar um número. São eles a

quem as capas de jornais se referem como “baderneiros”i. Mas quem é

baderneiro? Quem está instalando o clima de caos no centro de São Paulo?

Quem está chegando agora para manifestar, mesmo depois de um dia de

trabalho?

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O maníaco das flores.

Com certeza: não é o Danilo Gusmão. Ele, entrevistado pela TVT, pelas

rádios, pelos populares, levava um cacho de flores na mão. Dessas bem

simplezinhas, de mercado. Ele explica: “é pra parar de ter medo da violência.

(...) [a violência] se vier, que não venha da gente.” E tuc, foiçava uma flor.

Colocou uma na alça da minha bolsa. O cabelo de um companheiro seu, com

cabelos cacheados, já cheio delas. Tuc, outra flor.

São baderneiros? Até agora não foram vistos assaltos, tretas gerais e

um amigo meu disse que sentiu cheiro de maconha uma vez. Ali no núcleo

pesado da coisa, nada. Não consegui entrar na brisa de nada. Só um Marlboro

aqui ou ali. Com a banda completa, o que era protesto vira uma animada festa.

O novo single agora é:

“Ô Ô Haddad / Que papelão

Guilherme Mendes

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Abraça o Maluf e aumenta o busão”

É isso: um toca uma clarineta, outro toca o tema da festa junina numa

escaleta azul-clara. A galera grita algo e a banda toca outra. Não estamos nos

EUA, não são homens e mulheres balançando placas penduradas em paus,

girando em círculos na porta de uma instituição. Aqui é Brasil, aqui o negócio é

ser ouvido. Seja lá o que se diga.

Plínio de Arruda, 82, não ficou no sofá.

“JOGRAL”, alguém grita.

“JOGRAL”, todos repetem.

E então alguém diz “senta”. E quando todos se sentam, ele está lá de pé

Plínio de Arruda Sampaio, 83 anos mês que vem, com um megafone na mão,

toma uma onda de aplausos. O velho lobo saiu de casa. Novamente os

“baderneiros” são espertos: Alguém grita, todos repetem “jogral” e assim a

comunicação prevalece entre todos. Seis e tanto agora. E Plínio, em cinco

minutos, mais fez que muito socialista de redes sociais.

E então o mágico: alguns manifestantes romperam o trato, se

levantaram e protestaram. Protestaram dentro do protesto. Eram contra o

partidarismo dentro do que julgavam ser “uma causa apartidária”. Baderneiros

Guilherme Mendes

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contra baderneiros e o que acontece: sim, o que os baderneiros fazem:

respeitam e esperam eles sentarem novamente. Quando sentam, o discurso

continua.

E passam caixas com máscaras descartáveis. Um cara de dreadlocks

deixou na minha mão um pequeno papel, onde diz:

AVISO: Caso a polícia jogue bombas de gás lacrimogêneo, mantenha a

calma. Evite correr enquanto estiver em meio a (sic) fumaça, pois ao

realizarmos um esforço físico maior, a respiração fica mais intensa e a

quantidade de gás inalado aumenta. Pergunte aos manifestantes

próximos se algum deles possui vinagre. Passe em um pano e respire

através dele. O vinagre serve pra neutralizar a ardência causada pelo

gás. A mesma dica de não correr serve para bombas de efeito moral, já

que o objetivo da polícia é dispersar os manifestantes, separando-os do

grupo. Com isso, a chance de se tornar um alvo de agressão física ou

prisão só aumenta. Portanto, FIQUE CALMO e mantenha-se ao lado do

grupo.

A SEGURANÇA É A PRINCIPAL ARMA DE UMA MANIFESTAÇÃO.

Seriam os manifestantes suecos? Dinamarqueses? Não, tem negros

aqui. Mas olha essa organização, essa volúpia, gente, máscaras dessas

custam grana. Alguém roubou de um hospital? Ou vocês tiveram a pachorra de

comprar mesmo?

A tensão aumenta. O povo grita “Ô/São Paulo acordou” e “vamo pra

rua”, e a tensão permanece. A tensão é uma massa mole, que você pode

pegar um pouco no ar frio. Os olhos estão preocupados. Sim, quem faz parte

do protesto, quem realmente protesta, têm medo dos polícias, tem medo das

três, quatro helicópteros rodando. Se sentem como dentro de um Coliseu, ou

caindo ao lado de Winston Smith em alguma página de 1984. Todos olham

para o Viaduto do Chá: a última vez seguiu por ali, por aqueles meandros de

ruas sem carros, para um confronto na praça da Sé. Dizem que a polícia já

armou bloqueios em ruas como a Direita, a poucos metros da Praça da Sé.

Todos querem ir pra lá.

Mas aí, quase que como um velório, um senhor, boné é bigode branco,

surge com ramalhetes de flores gigantes, dezenas e dezenas delas. Ele

atravessa a multidão. E segue pela Barão de Itapetininga. A banda pede

passagem e segue. O povo segue atrás.

Ainda dia treze de junho de dois mil e treze. Dezoito horas e dezessete

minutos. Vinte centavos vão parar São Paulo.

Page 10: Sobre flores e balas de borracha

IV.

O centro da maior cidade ao sul do Equador, durante a noite, é

depressivo. Muito concreto e asfalto traz calor de dia e um frio amargo ao

crepúsculo. Os mendigos, agindo como morcegos, acordam. E as lanchonetes

de esquina, tão melancólicas quanto um samba de Adoniran, não fazem

barulho: das ruas a gente mesmo ouve as TVs, que em uníssono transmitem a

voz nasalada e brevemente aguda de Marcelo Rezende: “agora corta pro

protesto. Hamilton”

E Hamilton está ali, onipotente, acima de nossas cabeças. Filmando

tudo, chamando de “confronto”, de “distúrbios no centro de SP” – sem explicar

necessariamente o motivo da passeataii. Mas o zoom da câmera, por mais

potente que seja, é só uma câmera. Antes de tudo, uma câmera. Do alto, como

uma máquina dependurada do lado de fora de uma máquina, não tem um fator

humano.

Não tem, como, lá de cima (e, consequentemente, do lado de lá da TV),

ver as coisas com olhos humanos: quando cortei Conselheiro Crispiniano,

dobrei a Sete de Abril e caí na Praça da República, em três minutos, vi cenas

que não lembravam as da TV: a de policiais mandando carros avançarem no

sinal vermelho na República e manifestantes, passando pela porta da estação,

portando flores. Pareciam ter sido desviadas de algum túmulo do cemitério da

Quarta Parada, mas eram flores. Não balas, não sprays, não pedras. Flores,

aos ramos, em dúzias. Para policiais que também não demonstravam a raiva

de minutos antes, quando enfiaram litros e litros de spray de pimenta na cara

de jornalistas acusados de portar vinagre, ou de jovens, como os dois de

Campinas. Flores para policiais, agora simpáticos.

*

Não que todos os ali gritando fossem os bons homens brasileiros.

Na linha de frente, mais na frente que a linha de frente, estavam eles: os

0.01% dos mascarados, Anonymous e anarquistas que dão nome aos bois. Os

“pingos no is” da passeata. Segurando skates, sprays, eles vão avançando,

voando abaixo do radar. A frente da linha de imprensa.

Imprensa, dessa vez, maior que nunca: de fotógrafos, mais de 300;

Fábio Turci da Globo estava lá; Marcelo Mattos, a Jovem Pan, idem; o corpo de

imprensa estava ali, como uma cúpula: uns em cima dos outros, em andares.

Todos para pegar a faixa principal: “VIOLÊNCIA É A TARIFA”. Um preto com

letras brancas rimando com as máscaras.

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Ninguém quer perder o bonde da história.

Rua Barão de Itapetininga com Praça da República.

(aqui agora entra a titia Arminda, quarenta anos e fã absoluta da VEJA:

“Mas são mascarados, malfeitores, uns crápulas que só pensam na

destruição”. E sim, parabéns tia, acertou de novo. Porém esses mascarados

não marcavam mais de um em cada 200 ali. Até as seis da tarde não tinham,

na dita escadaria, mais de 15 deles. E eles que aparecem na frente dos

fotógrafos. Entendeu tia? Agora me traz um pedaço desse bolo...)

Ok. A polícia foi boazinha até agora. Mas e agora? Agora a praça

Roosevelt está fechada por uma fileira de choque da guarda Civil

Metropolitana. Ou então esses milhares se esgueiram pelas ruas minúsculas

que circundam a praça – sem entrar nela -, ou sobem a rua da Consolação.

Consolação essa que agora está com uma barreira de carros da polícia, o

trânsito fechado. Uma típica cena do jogo GTA.

O grupo avança. Para na frente dos policiais. Distribuem mais flores.

Essas parecem estar chegando ao fim. Assim como a paciência dos

mascarados, como a paciência daqueles dois jovens de 17 anos, moradores de

Interlagos, que dizem que é “o aumento do abuso” e que demonstravam estar

Erick Ferreira

Page 12: Sobre flores e balas de borracha

pronto pro que viesse. Aparece o primeiro “R$3.20 é o caralho” na lateral de

um ônibus laranja. O grupo chega a poucos passos da barreira policial. E

param. E encaram. Apenas encaram. E recuam. Milagrosamente recuam.

O chefe da polícia, com o sugestivo nome de capitão Ben-Hur, todo

pimpão, se entrincheira atrás de uma montanha de microfones, e defronte a um

cartaz de protesto. Estado de Direito é isso mesmo, e tem câmeras demais pra

ele descer o cassetete no espertinho.

Segunda tentativa: há um cordão agora. Homens mulheres, braços

dados ou não. Novamente frente a frente, polícia e manifestantes. Policiais

treinados juntos no batalhão frente a pessoas que se conheceram pela internet,

ou nem isso. A Consolação está vazia de carros, apenas repórteres e

fotógrafos e curiosos e gente que saiu do bar para um “é agora”. Estou de

costas e, quando ouço o primeiro grito, quero me recusar a virar e ver.

É alguém caindo. Algo como uma cassetada, mas a vista embaça com a

adrenalina pingando. E assim veio a primeira corrida, a primeira pedrada.

E a primeira bomba moral. Estão abertos os trabalhos.

V.

Imaginamos que você tivesse uma máquina do tempo e parasse aquela

cena. Se voltasse 45 anos, veria que aquela cena, ali, não era novidade pra

ninguém. Como lembrou Elio Gaspari em um texto para a Folha no dia

seguinteiii, ali é a esquina da rua Consolação com a Maria Antônia. Ali, em

Erick Ferreira

Page 13: Sobre flores e balas de borracha

1968, estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie (ditos “de direita”)

enfrentaram a paus e pedras os estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e

Ciências Humanas da USP (ditos “esquerdinhas”) e um estudante

secundarista, José Carlos Guimarães, 20, acabou morto. Sim, chegamos bem

perto disso.

As bombas começam a explodir e todo mundo nada faz além de correr.

Transeuntes correm, imprensa corre. Mas motoristas de ônibus apenas

bocejam. Um caminhoneiro que eu interpelei, quando perguntei se estava com

medo, deu um arrastado “naaaaaaaaaaaaada”. Os “baderneiros” agora não

poupam esforços: voam pedras, e eu vi um rojão desses caseiros pipocar na

horizontal, como que se tivesse sido apontado para a cara do policial.

Mais pra cima, uma prova de que a polícia, dessa vez, agiu como uma

criança mimada que não consegue aceitar a provocação: perdida, agia com

truculência – não, não é mentira: truculência é o verbete correto – em cima de

gente nada fazia além de recuar e gritar “sem violência”, Mais pra cima um

grupo, mais eficiente que uma brigada dos escoteiros, cumpria um trabalho em

equipe que deixaria qualquer escritório envergonhado. Os mascarados atacam

de novo.

Um abre a lata de lixo (mas não a depreda, o porquê talvez deva ser

examinado), enquanto outros dois, no canteiro central da rua, arrancam galhos

Erick Ferreira

Como começa.

Page 14: Sobre flores e balas de borracha

secos de uma árvore qualquer. Quando ambos se encontram no meio da rua,

alguém puxa um isqueiro e um Rexona. No plástico, a dupla é fatal. Em cinco

minutos, já são três as barricadas – montadas atrás da barreira policial. Parece

que eles deixam acontecer de propósito.

(Pausa para ver o primeiro e único vidro de ônibus quebrado durante a

noite. Ao menos que eu vi).

O Mackenzie desce as portas. Quem entrou, entrou, quem não entrou

que se prepare pois a polícia está atirando como que num modo random.

Jornalistas da Folha acertados foram seteiv. Um deles, que estava com

capacete de bicicleta e uma pose tão ameaçadora quanto a de um velho,

cruzou minha frente com uma marca na cara. Desmoralizado e cabisbaixo,

como quem foi humilhado em praça pública.

Agora o único refúgio, para mim e para uns outros cem, é a rua Piauí.

Enquanto lá embaixo, no início do foco, a polícia cometeu a gafe de conseguir

dividir o grupo em três grandes focos, indo alguns pela Avenida Angélica,

outros pela rua Augusta e outros tantos sofrendo uma saraivada da guarda civil

na praça Roosevelt, estava ali, naquela rua típica de um bairro como

Higienópolis. Porta de faculdade de playba, carros parados dos dois lados.

Agora teremos calma.

E agora temos a companhia de Sakura – outro nome falso, uma

assessora simpática, de Perdizes. Mesmo de lá de um bairro rico, a vida não é

fácil pra quem precisa de transporte público. Ou ela estaria aqui, apoiando o

JUNTOS – uma das promotoras da marcha – e ainda tendo a companhia de

mais duas amigas?

Aí duas fichas caem simultaneamente: a primeira é que a marcha, a

destruição, a opressão, tudo contribui para mostrar que não é (apenas) a

esquerda quem comanda o levante. Ele é dos jovens, de gente com 16,18,25,

35 anos, que se cansou da vida. Cansaram-se de ver tanto esforço não dar

fruto. Se cansaram, ao mesmo tempo, de tucanos e estrelas. Um fenômeno

que pode marcar a “geração decepcionada” de hoje. Se Hemingway e

Fitzgerald faziam parte da Geração Perdida devido à guerra e a Depressão,

essa se decepciona com toda a conjuntura nacional. Com o quadro todo.

A segunda ficha é mais complexa. Todos veem o ímpeto de pacifismo

de grande parte dos manifestantes. Vê que a maioria nada faz e que, nenhum

dos jovens ali tem posse para armas não-letais. Então só sobra um lado pra

chamar de culpado. Apenas um lado pode reivindicar esse título. Então de

onde viriam aqueles gases, aqueles trecos brancos pesados explodindo sobre

nossos pés?

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Quando o primeiro apareceu, restou a mim e a Erick – o meu amigo

fotógrafo e Sancho Pança – correr pra onde dava entrada. E a entrada era a

porta da Faculdade de Jornalismo da Mackenzie. Que agora, vejam só, está

fechada.

Eu, Erick, umas dez pessoas, uma senhora quase chorando em meus

braços, dizendo que “só queria ir pra casa” – ela estava na porta do prédio

quando a bomba veio. A todos nós – e a uma cativa audiência nos prédios -

sobrou a missão de apenas encarar aquela rodela prateada, soltando uma

incrível fumaça roxa.

*

As garotas do Mackenzie inspiram o gás lacrimogêneo. Tem a primeira vez pra tudo.

Lembranças da infância.

Quando puxei o ar, pela primeira vez, fui jogado a um churrasco de

família, quando devia ser bem pivete. Me senti como comendo uma calabresa

que meu pai fazia. Só que me volto à realidade, e essa tal calabresa parece

estar mais ardida que em 2001. A respiração para. A garganta seca. Olhos

inundam em lágrimas. E máscara sem vinagre nada mais é que enfeite.

Corro pra cá. Pra lá. Pra cá e pra lá com as garotas de jornalismo do

Mackenzie, tossindo na minha cara. Cospem no chão. Clamam por socorro. Os

Erick Ferreira

Page 16: Sobre flores e balas de borracha

olhos vacilantes E dizem que é a primeira vez que isso acontece. Garotas,

polícia. Polícia, garotas.

A cápsula, que eu guardei de lembrança, foi jogada a uma distância de

uns 100,110 metros, quicou na roda do carro e ali ficou. A anatomia da rua

também ajudou: o impacto fica no meio da rua que parece uma concha

côncava Ao menos, disso tudo, restou um orgulho: armas brasileiras contra

cidadãos brasileiros dão a sensação que um “eu te amo, meu Brasil, eu te amo!

Meu coração é verde, branco, amarelo, azul e anil!”v vai sair tocando ao longe.

De volta à Consolação, a palavra agora é de Amanda e Felipe. Ela de

publicidade e ele deve ter falado o curso, mas não lembro. Ambos bonitos,

dentes certos, estudando numa faculdade de renome. E mesmo assim

apoiando a causa. Claro, com suas restrições, com a coisa de “ah, mas não

pode depredar” e a cantilena que já passamos a noite ouvindo. Ela é de

Osasco, sofre pra chegar e volta de carona. Estudando em São Paulo e

trabalhando em Barueri, o deslocamento por vias cada vez mais débeis e sem

infraestrutura básica parece impossível. E ela considera justa a revolta (placar

da noite até agora: 27 sim, nenhum não).

De súbito, os olhares distraídos dos estudantes – já não haviam

manifestantes ali- tomam a seriedade de um grupo de suricatas;

E então, enquanto discutíamos a legalidade ou não de se tomar as ruas,

quem tomou a rua de assalto, novamente, foi a tropa fardada. Esses rapazes,

nos píncaros da glória que a TV proporcionavavi, voltaram pra mais. Voltaram

para mais meia dúzia de balas de borracha - a qual guardei também um

souvenir- e mais lacrimogêneo. Amanda tossia, Felipe corria pra dentro do

prédio do Mackenzie, e eu e Erick já estávamos tão acostumados que

oferecemos nossas máscaras e continuamos discutindo algo inútil. As bombas,

que antes eram só na rua, tomaram de surpresa uns rapazes batendo um fut

na quadra do campus. Dessa vez, dava pra falar que bombas foram jogadas

num reduto de ensino – e um reduto privado.

“Foram os polícia! Foram os polícia!”. Sim, a gente entende. Sim, a

gente sabe. Sim, eles já perderam as linhas.

VI.

O alvo dos alpinistas é o Everest. O alvo do Rubinho era passar o

Schumacher. E o alvo do Passe Livre, como sempre, é a avenida Paulista.

Paulista, a mais paulista das avenidas, tem vivido dias estranhos. Só a

estação Trianon- Masp já teve madeirite no lugar de vidro duasvii vezes esse

mês. Batalhas campais têm saído aos montes. Protesto? Ih, quase todo dia.

Page 17: Sobre flores e balas de borracha

Médicos, guardas, professores, eles ok. Mas jovens? Rebeldinhos do cabelo

grande sem causa? Não. Apenas não.

Lá, segundo o que apurei, tudo estava pronto como uma festa no bufê

infantil. Antes de todo mundo pensar em escapar das forças policiais, a tropa

de choque já armava o bolo, bexigas e um ônibus lotado de (cães de) guardas,

prontos para os aniversariantes. Afinal, já são 11 dias, uma data que os

policiais querem comemorar com bolos de pimenta, brigadeiros morais e, por

que não, uma ou outra cassetada maneira.

Quando os nossos amigos da turba chegam ao portentoso e quadrado

prédio do Safra, na esquina da Augusta com a avenida, começa o show. Tiros

desnecessários. Prisões desnecessárias (na noite toda, mais de 200viii). Uso de

força desnecessária. Uma ação desnecessária?

Desnecessária? Ok, pra mim já deu. Não preciso – não posso - mais

vestir o véu sagrado da imparcialidade que guiam os jornalistas. Temos heróis

e vilões suficientes nessa história. Não dá pra compactuar com o que a PMSP,

essa instituição que, em cinco anos, matou mais que as polícias americanas

juntasix. Não dá para acreditar que não haja motivo para impedir jovens de se

reunir onde sempre se reúnem, apenas por pensar que eles podem causar

baderna em um lugar que, por um acaso, também é onde se concentram hotéis

e turistas. Se eu pudesse dar uma dica aos líderes do movimento, seria: marca

no Grajaú. No Campo Limpo. Em Diadema. Lá turistas não têm, eles vos

deixariam em paz.

*

Infelizmente, a minha missão foi abortada. Um dia de trabalho aliado a

esta pequena epopeia já cobra seus preços. Agora é só ir embora.

Mas por onde? Na porta do cemitério da Consolação, a umas quadras

da estação Paulista, o que vejo são bombas, bombas, bombas. Mais bombas.

O foco era ali, na porta da estação, e eu iria ficar onde? Dormir ali? Nem

pensar. O segredo é ir em direção oposta, e ir pra estação República, no centro

da cidade.

Descendo a rua e a vendo agora mais calma e lânguida, o estrago é

visível: enquanto os amarelinhos da CET correm pra varrer as faixas, nota-se

uma quantidade pequena de pedras. Comparado com as cinco cápsulas de

gás que eu encontrei ao acaso, fora outras balas de borracha que estavam ali

“ao acaso”. Foi desumano. Covarde. E isso não é interpretativo, é tangível em

forma de cápsulas escrito “CONDOR – INDÚSTRIA BRASILEIRA” escorridos

no meio fio ainda aos montes.

Por fim, fica aqui o depoimento de um fotógrafo da Abril, que desde

1965 trabalha e, para meu desgosto, tem carteirinha de jornalista mesmo sem

Guilherme Mendes

Page 18: Sobre flores e balas de borracha

formação. “Eu tô feliz pois é agora que a casa vai cair. Haddad, Alckmin, todo

mundo junto. Eu apoio”

Como nunca passou uma bala de borracha na TV, eis um retrato dela.

Epílogo

Enquanto digito esse texto, leio textos da Vice, Folha, Estadão, R7,

Diário de S. Paulo. Vejo vídeos de todos os canais. Leio comentários e posts e

mais posts do Facebook. De quinta pra cá a sociedade brasileira mudou numa

Page 19: Sobre flores e balas de borracha

curva nunca antes vista. E com isso tomamos baldes e baldes de informação.

Morremos afogados nela.

E dessa vez, a imprensa não perdoou: a Folha não deixou barato seus

sete jornalistas feridos – assim como a bela Giuliana Vallone, que tomou um

tiro no rostox-; a Carta Capital repudiou rapidamente a prisão de um repórter

pelo inédito crime de “Porte de Vinagre”xi. A Globo, cujo repórter Fábio Turci

eu encontrei quase antes de ir embora, fez uma cobertura, no mínimo honesta.

E a discreta TV Câmara – não porque eu trabalho lá - proporcionou um debate

de mais de 40 minutos sobre o tema, com dois vereadores de opiniões

diferentes e um repórter que viu tudo in loco – Fabrizio Glória chegou a ser

assaltado durante a transmissão.

A passagem ainda custa R$3,20. Haddad foi à TV e deu mil desculpas,

mas que “não dá”. Alckmin foi mais além e legitimou a ação, clamando por

vieses políticos. Deu crédito às balas, ao que todos viram e que ninguém podia

negar. E a Record, ainda movida por uma razão desconhecida, também tentou

dar uma forcinha, chamando apenas de “confrontos”, sem citar a causa.

Os vídeos pipocam. São muitos, são incríveis, são violentos. Homens

atirando contra pessoas que pediam pazxii. Balas voando a esmo. E um incrível

– se é que há outro adjetivo - em que o policial quebra o próprio vidro da

viatura, para provavelmente culpar alguém da massa.xiii Quando viu ao vivo na

TV Câmara, o Coronel Camilo, vereador por São Paulo e ex-PM, não soube

responder. Enrolou a resposta. A assessoria da PM se limitou a dizer que a

prática “não era recomendável”. xiv

E eu? Em linhas curtas, digo que nunca me senti com tanto orgulho de

ser brasileiro. De dar a cara a tapa – e a outra face, por que não – contra aquilo

que é abusivo, errado, injusto. Não fui a favor ou contra ninguém, mas se a TV

me dizia que eram vândalos e a internet me dizia que eram os “novos ares”, eu

sabia que alguém ali estaria mentindo. Nem que fosse na marra, mas eu

descobriria quem.

Essa bala de borracha...esse gás... as placas, as flores, as pedras e a

revolta. Tudo é um só. Tudo é uma revolução.

Tudo junto é uma salada.

(Para Fred Ghedini, meu chefe que citei no início da matéria.)

Guilherme Mendes, 19, é assessor na Câmara Municipal de São Paulo.

Erick Ferreira, 21, é professor de música e fotógrafo nas horas vagas.

NOTAS:

Page 20: Sobre flores e balas de borracha

i (O Diário de S. Paulo, 13/6/2013, página 1) ii Para a vergonhosa cobertura da Rede Record, recomendo dois vídeos: http://videos.r7.com/policia-teria-pedido-para-comerciantes-baixarem-as-portas-no-centro-de-sao-paulo/idmedia/51ba3be80cf27179ea090137.html e http://videos.r7.com/reporter-relata-a-confusao-no-centro-de-sao-paulo/idmedia/51ba3b4f0cf27179ea090135.html iii http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2013/06/1294837-a-pm-comecou-a-batalha-na-maria-antonia.shtml iv http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1294799-em-protesto-seis-reporteres-da-folha-sao-atingidos-2-levam-tiro-no-rosto.shtml v Refrão de uma antiga canção da época da ditadura militar.

vi http://videos.r7.com/confronto-em-sao-paulo-policiais-ficam-cercados-por-multidao-de-

manifestantes/idmedia/51ba4d9a0cf2b93b75940808.html vii

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1293914-metro-estima-prejuizo-de-mais-de-r-100-mil-apos-protestos-em-sp.shtml viii http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1294960-dos-235-detidos-em-protesto-231-sao-liberados-apos-prestar-depoimento.shtml ix http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/em-cinco-anos-pm-de-sao-paulo-mata-mais-que-todas-as-policias-dos-eua-juntas-20110607.html x http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1295166-disparo-que-feriu-jornalista-da-folha-no-rosto-tinha-como-destino-manifestantes-diz-pm.shtml xi http://www.cartacapital.com.br/politica/em-sao-paulo-vinagre-da-cadeia-4469.html xii http://www.youtube.com/watch?v=u3-PWM9uuGI xiii http://www.youtube.com/watch?v=kxPNQDFcR0U xiv http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/06/pm-apura-video-que-mostra-policial-quebrando-vidro-de-viatura.html