Sobre Atrasos e Responsabilidade
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SOBRE ATRASOS E RESPONSABILIDADE
Uma criança não tem a mesma noção de tempo do adulto. Para ela, o tempo
cronológico do relógio não tem muito significado. O decorrer do dia, para a criança com
menos de seis anos, é compreendido a partir das experiências que ela vive.
Desse modo, ela entende que, terminado o tempo de estar na escola, acaba o período de
ficar separada de seus pais ou de sua casa, que os representa nesse momento. Isso quer dizer
que um atraso de 15 minutos, se não faz muita diferença para o adulto, para a criança o faz.
Faz parte da rotina escolar o fechamento do dia para que o aluno se organize e se prepare para
a mudança de experiência, e isso acontece no horário combinado. A partir desse momento, a
criança espera por seus pais ou responsáveis porque sabe que, depois da escola, é hora de
encontrá-los e ir para casa.
Quando eles demoram, mesmo que por alguns minutos, a criança se ressente. Tem
receio de ficar desamparada, sente-se solitária já que o grupo com o qual se identifica foi
desfeito e experimenta o isolamento, mesmo que ao lado de vários colegas cujos pais são,
igualmente, retardatários. Nessa idade, a criança não entende o que é atraso nem os motivos
que podem provocar isso na vida de um adulto e, por isso, interpreta que foi abandonada.
Para os alunos mais velhos, que já dominam um pouco mais o tempo cronológico, o
atraso dos pais é também problemático, já que eles relacionam a demora com o fato de não
serem uma prioridade.
E por que os pais se atrasam para esse compromisso tão sério? Em primeiro lugar,
vivemos numa cultura que não dá muita importância à pontualidade. Atrasos são sempre
tolerados e até previstos em quase todas as atividades. Em segundo, porque o trabalho exige
cada vez mais das pessoas, e elas se comprometem cada vez mais com essa parte de suas
vidas. Entretanto, quem tem filho precisa encarar as mudanças que isso provoca na vida de
homens e mulheres e se programar para dar conta de compromisso tão importante.
Claro que imprevistos ocorrem na vida de qualquer um, mas quem tem filhos precisa
contar com essa possibilidade e se organizar para que alguém o substitua nesses momentos. O
que não pode acontecer é o que tem ocorrido: atrasos sistemáticos dos pais. Ora, isso é não
assumir o devido compromisso com o filho e com o papel de mãe e de pai. Imprevisto
nenhum justifica essa situação.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de Como Educar Meu Filho? (ed. Publifolha)