SOBRE A LIMPEZA DA CASA

É preciso limpar a casa. Luvas de pelica se adequam perfeitamente ao trabalho doméstico.É preciso limpar como esquecer, bolas de pelo que flutuam no ar, e se escondem sob o sofávermelhoa ornar com a mancha de ketchup no porcelanato branco próxima aos resíduos das plantasdos gatosdos homens.Há o lixo, e o chorume que persiste ao fundo das latas, há a louça frente às indigestões diárias da casa, seus moradores.Visto as luvas de pelica pois os objetos são extremamente frágeis:aqui tudo quebra. O texto mesmo, na sua potência infinitamente silenciosa,pode destruir todos os laços que se armam entre o chão e quem o pisa.Mas poderá o texto (quem sabe) unir, não na desagregação do sujeito no coletivo,mas na individualização-mutação do ser na comunidade?É possível (é necessário?) falar em uma só voz? É preciso limpar a casa, na função de alguma saúde, é preciso retirar tudo o que sobra, purificar, benzer, harmonizar, é preciso falar puramente, em direção a uma linguagem pura que não polua a atmosfera habitável, limpar, limpar, retirar o pelo, a mancha, a louça, ou ainda as plantas, e para melhor limpeza os gatose para que nada reste a comprometer a pureza da casa,retirarpor fimos homens.