Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

8
FOCAS 21º CURSO INTENSIVO DE JORNALISMO APLICADO Emaranhado de redes e dutos, galerias abandonadas e até moradores: histórias do subterrâneo de São Paulo http://www.estadao.com.br Sob nossos pés EPITÁCIO PESSOA/AE O ESTADO DE S. PAULO H SÁBADO 11 DE DEZEMBRO DE 2010

description

Suplemento "Sob nosso pés" - o subterrâneo de São Paulo. Produção da XXI turma do Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado do O Estado de S. Paulo. Publicado em dezembro de 2010.

Transcript of Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

Page 1: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

FOCAS21ºCURSOINTENSIVODEJORNALISMOAPLICADO

Emaranhadode redesedutos,galeriasabandonadaseatémoradores: históriasdosubterrâneodeSãoPaulo

http://www.estadao.com.br

Sobnossospés

EPITÁCIO PESSOA/AE

PB COR

%HermesFileInfo:H-1:20101211:

O ESTADO DE S. PAULO H SÁBADO11 DE DEZEMBRO DE 2010

Page 2: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

Na vertical,na primeira fileira:Ramon VitralBernardo BarbosaGustavo S. FerreiraFábio PupoDaniela SchmidAmanda Agutuli

Na segunda fileira:Felipe TauIvan MartínezLucas SampaioGustavo Coltri SkrotzkyCarolina AlmeidaMarina EstarqueVanessa CorrêaMariana Congo

Na terceira fileira:Guilherme WaltenbergPaula Bianca BianchiCedê SilvaHenrique BolgueAndréa CarneiroNayara FragaRodrigo RochaFlávia Maia

Na quarta fileira:Ricardo F. SantosTiago RogeroFelipe FrazãoÉrica SaboyaGustavo AntonioGustavo AleixoAmon BorgesBruna Maia

FOCASINOVAÇÃO

Daredaçãoà rede,jornalismonaprática

CURSO INTENSIVO DEJORNALISMO APLICADOAv. Eng. Caetano Álvares, 55 –São Paulo – SP – 02598-900Fone: 11 3856-2187Fax: 11 [email protected]://www.estadao.com.br/talentosCoordenação: Francisco OrnellasEdição: Carla Miranda (foca em1997) e Nathália MolinaDiagramação: Suely AndreazziInfografia: Flávia MarinhoReportagem:Alunos do 21º CursoIntensivo de Jornalismo Aplicado

TURMADE 2010

Quemsãoos focas

NOSSOBLOG

A diferença entre aboa e a má apuraçãopassa por um ponto: ahumildade do jornalistana pauta. Humildadepara perguntar e,principalmente, ouvir omáximo possível.Amanda Agutuli

Fiquei com asensação de ter feito otrabalho correto. Nadamais. E talvez sejaassim que o jornalistadeva se sentir.Felipe Frazão

Precisamos sair donosso núcleo social,conhecer pessoas,novas realidades. Lugarde repórter é na rua.Parece óbvio, mas não é.O telefone é um conviteao comodismo.Flávia Maia

Sempre há maneirasde aperfeiçoar aredação. Ainda quetrechos ótimos fiquemde fora. Mesmo que sejapreciso ler o texto peladécima vez. Afinal, bomjornalista não escrevepara si. O leitoragradece.Gustavo Aleixo

Tão importantequanto fornecer ao leitorinformações exatas éfazer com que ele entrena atmosfera do fato. Sóassim o jornalismo écapaz de oferecer nãoum amontoado dedados, mas boashistórias que merecemser contadas.Vanessa Corrêa

SÉRGIO CASTRO/AE

Carlos LordeloLuiz GuilhermeGerbelli

Os cem dias que deram forma econteúdo a este caderno – quemarca o encerramento do 21.ºCurso Intensivo de JornalismoAplicadodoEstado – foramdes-critosemumblogatualizadope-los alunos, fato inédito na histó-riadoprogramadetreinamento.Os focas, como são chamados

osjornalistaseminíciodecarrei-ra, dividiram experiências, de-ram dicas e narraram situaçõesem que sentiram o frio na barri-ga típicodequemestá começan-donaprofissão.OEmFoca (blo-gs.estadao.com.br/em-foca) re-gistrou a evolução e se tornouum rico arquivo do aprendizadodos 30 autores das reportagensdas próximas páginas.Quemacessarositeencontra-

rá, em textos, fotos e vídeos, osbastidores da elaboração destecaderno que mergulha nos sub-terrâneos de São Paulo, cenáriode fios, cabos e tubos, mas tam-bémumaextensãodavidademi-lhões de pessoas.Os focas identificaram que

não há um mapeamento exatodo subsolo da capital. Na Aveni-da Paulista, conheceram gale-rias subterrâneas abandonadas.

Em umperíodo de preocupaçãocom omeio ambiente, os textostrazem números da poluição dosoloeda águanoEstadoediscu-temsoluções.“Comotema,con-seguimos abordar diversos pro-blemas, de sociais a econômi-cos”,explicaaalunaCarolinaAl-meida, de 22 anos, formada pelaUniversidade Federal do RioGrande doNorte (UFRN).Este caderno também é resul-

tado das aulas de texto e apura-ção, alémda formaçãohumanís-tica agregada ao longo do curso,comfocoempolítica, economia,filosofia e ética.ParaFranciscoOrnellas,coor-

denadordocursodesdeaprimei-ra edição, em 1990, o programade treinamento é uma das pro-vas do compromisso do GrupoEstadocomojornalismoéticoeresponsável. “São testemunhas

disso os 630 jornalistas que pas-saram por ele e hoje atuam noBrasil e no exterior.”Reconhecido como extensão

universitária pela UniversidadedeNavarra, na Espanha, o cursoencontra respaldo no concorri-do mercado de comunicação. Opróprio Grupo Estado acolheparte dos formandos. Da turmaanterior,de2009,16estãoatuan-dona empresa. “Os focas sãova-lorizados pela direção do jornale os ex-alunos contam comapoiodocursonodirecionamen-to da carreira”, diz Rodrigo Bur-garelli, repórter do cadernoMe-trópole desde janeiro e aluno doano passado.Durante o treinamento, os fo-

casserevezamentreasredaçõesdoEstado,JornaldaTarde,Agên-cia Estado, Rádio Eldorado e Por-talestadão.com.br.Acadaduasse-

manas, eles conhecem o funcio-namento de uma editoria, unin-do conhecimento prático à baseteórica das aulas e palestras.“O curso é um núcleo de dis-

cussãodapráticajornalística,pa-raoqual contribuemmuitosdosrepórteres e editores dos veícu-losdaempresa”,afirmaodiretordeConteúdodoGrupoEstado,RicardoGandour.Patrocinado por Odebrecht,

PhilipMorris, SyngentaeVivo,ocurso deste ano recebeu 1.901inscrições.Osparticipantessele-cionadosestudaramemfaculda-desdeJornalismodeBrasília,Mi-nas, Paraná, Rio de Janeiro, RioGrandedoNorte,RioGrandedoSul, Santa Catarina e São Paulo.Currículoeperfildos30forman-dos estão no Banco de Talentos(www.estadao.com.br/talen-tos). / FOCASDE2009

Apoio:EXPEDIENTE

%HermesFileInfo:H-2:20101211:H2 Especial SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Page 3: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

Nos últimos 30 anos, o níveldo AquíferoGuarani caiu60metros na região centralde Ribeirão Preto. O abasteci-mento da cidade vem tododo reservatório. Boa parte doesvaziamento se deve ao des-perdício pela população, porexemplo, comouso de asper-sores para vaporizar águacontra o calor. SegundoCar-los Eduardo Alencastre, dire-tor regional do Departamen-to de Água e Energia Elétrica(Daee), a cidade usa 50% amais de água do que o neces-sário. “Isso pode ter conse-quências no abastecimento.”

� Mesmo sem a renda dos royal-ties, São Paulo pode ser o Estadoa se beneficiar mais com o pré-sal, desde que invista em diferen-tes setores da economia e acele-re a formação de profissionais,especialmente engenheiros etécnicos. A avaliação é comparti-lhada pelo governo estadual epor especialistas. O setor de pe-tróleo e gás deve investir em SãoPaulo R$ 176 bilhões em obras eatividades do pré-sal nos próxi-

mos 15 anos. Estima-se que 230mil empregos diretos e indiretossejam criados até 2020. O gover-no paulista vai anunciar metasnas próximas semanas, mas en-tre os planos estão incentivosfiscais à cadeia fornecedora e ofortalecimento da formação deespecialistas em petróleo, apro-veitando a presença de universi-dades e institutos de pesquisa.Para o secretário paulista de De-senvolvimento, Luciano Almeida,São Paulo deve se esforçar paracontinuar sendo “a grande loco-motiva” do atendimento ao setorde petróleo e gás, que com o pré-sal passou a ser estratégico, aolado das indústrias automotiva,

aeronáutica e de tecnologia dainformação. “Temos 25 anos pa-ra aproveitar as oportunidades.Depois os poços podem secar e ajanela se fecha”, afirma.Segundo o professor Osvair Trevi-san, diretor do Centro de Estu-dos de Petróleo da Unicamp (Ce-petro), só agora os paulistas co-meçaram a se atentar para aárea. “Muitos dosmestrandos edoutorandos em petróleo aindavêm dos outros Estados.”A Petrobrás instalará seu quartel-general da Bacia de Santos, cida-de que deve receber boa partedas 450mil pessoas que migra-rão para o litoral paulista nos pró-ximos quinze anos. / CEDÊ SILVA

FOCASABASTECIMENTO

Petrobrásvai reordenardutosemSP

"Não temcomo tirar acidade, porisso tiram-seos dutos"EdimilsonMoutinho,professor da USP

AQUÍFEROGUARANI

RISCO

Contaminado, solopaulistaé incógnita

Regiãodependedepoçosdeáguaclandestinos

28milempregos diretos e indiretosserão criados coma execuçãodas obras emSão Paulo

565 kmserá a extensão da redepaulista de dutos apósasmudanças propostas

Previstas antes dadescoberta do pré-sal,obras para instalação danova rede começamnos próximos meses

AYRTON VIGNOLA/AE

ERNESTO RODRIGUES/AE

R$ 2 bilhõesé o valor estimadodo investimento,segundo a Petrobrás

Estadopodesermaiorbeneficiadocomaexploração

Caminho livre.Com o projeto, não devem ocorrermais episódios como o de agosto, quando dutos foram achados no terreno onde será o estádio do Corinthians

Controle.Condomínio emMauá émonitorado pela Cetesb

Paula BianchiTiago Rogero

Boa parte dosmoradores do Es-tadonãosabeondepisa.Sejapormeiodepostosdecombustíveis,áreasindustriaisouaterrossani-tários (alguns clandestinos), asformasdepoluiçãodosoloseso-brepõemeaprópriaCompanhiaAmbientaldoEstadodeSãoPau-lo (Cetesb) admite não conhe-certodasasáreascontaminadas.OúltimolevantamentodaCe-

tesb, de novembro de 2009, lis-

tou 2.904 pontos de contamina-çãonoEstado,mas especialistasestimampelomenos10mil,ape-nas na regiãometropolitana. DeacordocomoambientalistaCar-losBocuhy,integrantedoConse-lhoNacional doMeio Ambiente(Conama),osolonuncafoidevi-damentemapeado.SegundoBocuhy,em2002,ele

e outros ambientalistas realiza-ram um levantamento com asmesmasdiretrizesdoestudofei-to pela Environmental Protec-tionAgencyemáreascontamina-

daspela industrializaçãonosEs-tadosUnidos.“Apartirdisso,cal-culamos um mínimo de 10 miláreas contaminadas na regiãometropolitana de São Paulo.”ACetesbtambémrealizouum

inventárioem2002comumper-filsemelhanteaodolevantamen-to americano. O geólogo da Ce-tesb, Helton Gloeden, um doscoordenadores do inventáriopaulista, acha difícil estimar umnúmero, mas admite ser bemmaior do que o apresentado.

Crescimento.Desde 2002, a re-laçãodenovasáreascadastradascresceaumamédiade50,5%porano. Segundo a Cetesb, porém,issonãosignificanecessariamen-te um crescimento da poluição

dosolo.Deacordocomaempre-sa, o aumento se deve a ações defiscalização e licenciamento.Norelatório,ospostossãores-

ponsáveispor79%dasáreascon-taminadaseasindústriasrespon-dempor 13%. ParaGloeden, elassão mais difíceis de fiscalizar.“Sãomais complexas, commaiscontaminantes. Nos postos, asubstância émais evidente.”Há 2.279 áreas contaminadas

porpostosnacapitalesó382atri-buídasaaçãodeindústrias.Con-tudo,onúmerode indústriasemSãoPaulo é 17 vezesmaior que odepostos.“Alémdafaltadefisca-lizaçãonas indústrias, hámuitasfabriquetas de fundo de quin-tal”,dizaagrônomadaUSP,Sid-neideManfredini.

GuilhermeWaltenberg

Amalhadedutosque levapetró-leo,gásederivadosdosportosàsrefinariasdoplanaltopaulistaso-frerá alterações a partir de 2011.A Petrobrás criou, em 2007, umPlano Diretor de Dutos (PDD)para afastar a rede dos grandescentrosurbanosemodernizá-la.Agora, mais de três anos após oinício do projeto e na iminênciadoaumentodaofertadecombus-tível com o pré-sal, parte dasobras recebeu autorização am-bientalparaser iniciada.Ossub-terrâneos da Grande São Pauloserão osmais afetados.Casos como o ocorrido em

agosto, quando dutos da Petro-brásforamdescobertosnoterre-no onde será construído o está-diodoCorinthians,emItaquera,não deverãomais ocorrer. Aliás,a linha de 28 quilômetros quepassa por ali – vinda de São Josédos Campos, cortando Guaru-lhos e chegando aSãoCaetano –será desativada. Outro trecho,de42,5quilômetros,entreBarue-ri e São Caetano, também vaisair da rede.Emambos, adesati-vação será necessária por se tra-taremdeáreasdealtaconcentra-ção populacional.Além de alterar a malha duto-

viária, o PDD vai desativar algu-masrefinariasecentrosdedistri-buição de petróleo e construiroutros.Na regiãodaGrande SãoPaulo,osterminaisdeSãoCaeta-no e Barueri serão parcialmentedesativados por estarem em lo-caismuito povoados.Arede,quecontacom628qui-

lômetros, será reduzidapara 565quilômetros: o PDD vai cons-truir 55 quilômetros de faixas edesativar 118 quilômetros. Ape-sardaredução,anovamalhaterámaiorcapacidadede transporte.Em nota, a Petrobrás afirmou

quea empresa já recebeuautori-zações da Companhia Ambien-tal do Estado de São Paulo (Ce-tesb)para realizarobrasnos ter-minais de Cubatão eGuarulhos.

O início da construção está pre-visto para o começo de 2011.Segundo Edimilson Mouti-

nho, professor do Instituto deEletrotécnica e Energia da USP,amodernizaçãoénecessáriapor-

que há dutos dos anos 1950 e 60ainda em operação. Ele tambémalertaparaaquestãodaseguran-ça. “Houve ao longo dos anos ir-responsabilidade do governopaulista em permitir a constru-ção de casas na região de dutos.Agoranão temcomotirar a cida-de, por isso tiram-se os dutos.”

Preparação. Outras partes doprojeto ainda esperam licencia-mento ambiental. O processoprevê três etapas: Licença Pré-via, Licença de Instalação e Li-cençadeOperação.Paralelamen-te, empresas estão sendo licita-das para realizar as obras. Serãocriados 28mil empregos diretoseindiretoscomoprojetoeinves-tidosmaisdeR$2bilhões,segun-do dados de 2007 da Petrobrás.

Gustavo AntonioGustavo S. Ferreira

A Grande São Paulo tem 17 milpoços particulares, 35% delesclandestinos. Os dados são doDepartamento de Águas e Ener-giaElétrica (Daee)deSãoPaulo,que enfrenta umdilema: comosilegais, a região metropolitanaestá exposta a graves problemasambientais e de saúde pública;semeles,oabastecimentoentra-ria em colapso.

Um dos riscos da ilegalidadeestá na poluição de reservató-rios.“Seumsoloécontaminado,a água tambémé”, explicaRicar-do Hirata, diretor do Centro dePesquisas de Águas Subterrâ-neasdaUSP.São2.904áreascon-taminadas no Estado, conformeaCompanhiaAmbientaldoEsta-do de São Paulo (Cetesb). Dascincoconsideradascríticas,qua-tro estão na região metropolita-na:osbairrosdeJurubatubaeVi-la Carioca, na capital, o Condo-

mínio Residencial Barão deMauá, em Mauá, e o Jardim dasOliveiras, em São Bernardo.Um poço ilegal chega a custar

metade de um regular. Só que,além de problemas ambientais,pode trazer doenças graves. Se-gundo dados do Programa doMeioAmbientedasNaçõesUni-das (Unep), águas sujas são res-ponsáveis pelas 2,2 milhões demortes que ocorrem nomundo,por diarreia, a cada ano. Cólera,hepatiteA,amebíaseefebretifoi-

de tambémestão entre osmalescausados pelo contato com essaágua poluída. Poços, em geral,sãousadosporumgrandenúme-ro de pessoas, o que agrava a si-tuação.Hotéiseescolasestãoen-tre osmaiores perfuradores.

Crises. A região metropolitanademanda 78 m³ de água por se-gundo. Dessa quantia, 13% vêmdo solo. Enchem dez caixasd’água demil litros por segundoeevitamracionamentos.Contu-do, a importância do solo para oabastecimento tende a aumen-tar a exploração. Os poços, hojeimprescindíveis, podem ruir osistemaseusadosdeumamanei-ra não-sustentável.Para evitar as crisesde abaste-

cimento, além de conscientizara população, Hirata defende so-luções inovadoras. Em Madri,

por exemplo, a prefeitura deci-diu, durante as cheias, injetar oexcedente de água no subsolo.Estereservatórioservecomosal-vaguarda para eventuais secas.Odiretordocentrodepesqui-

sas da USP aponta diminuiçãonasreservas.Issotornariaobom-beamentomais caro e poços po-deriamserabandonados.Seasu-perfície, saturada, ganhar usuá-rios, faltará água. O Daee nega oesvaziamento. Aponta queda de20%nasperfurações,masnãoasrestringe.Paraumnovopoço responder

àsnormasdoDaee,antesdecon-tratar uma perfuradora é reco-mendável encomendar o proje-to a um geólogo. Cadastrado aoConselho Regional de Engenha-ria e Arquitetura, o profissionaldá garantias ao contratante denão lidar com clandestinos.

%HermesFileInfo:H-3:20101211:O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 Especial H3

Page 4: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

FOCASCONFUSÃO

Prefeiturasó terámapadigitalderedesapós2012

Usodosolo renderiaR$ 1bilhão

DEBATE

Soluçãoparaacidadeestánosubterrâneo?

Emoutrospaíses,fimdosproblemas

Paradarordemaoemaranhado

� Quanto vale

GeoConvias vai unificardados fornecidospelas concessionárias,considerados imprecisospor especialistas

EmMadri,umrodoanel símbolode caos na hora do rush é hojeum espaço com área verde, par-que e ciclovias. A via, agora, estáno subterrâneo. No Japão, me-gaestações de metrô estão liga-dasporcentroscomerciais,esta-cionamentos e galerias de arte.Exemplos parecidos são vistosno Canadá e em partes da Euro-pa. Construídas para fins dife-rentes, tais iniciativas têm umpontocomum:amelhoranaqua-lidade de vida da população.Asideiaslevadasadiantenoex-

terior podem servir de inspira-ção para empreendimentos noBrasil, mas as soluções devemser pensadas caso a caso, segun-do especialistas. “É preciso umplano de ocupação do subterrâ-neo, pois demolir uma obra nosubsolo não é simples como nasuperfície”, diz Han Admiraal,professordoCentrodePesquisaAplicada do Espaço Subterrâ-neo, em Roterdã, na Holanda.Abaixo, conheça algumas inicia-tivas internacionais de sucesso.

AlagamentoTúnel dois em umKuala Lumpur, MalásiaEm razão do encontro de dois riosno centro da cidade, a chuva erasempre motivo de alagamento. Asolução foi a construção de umtúnel multiuso, de 9,7 quilôme-tros, chamado de Smart – abrevia-ção para Stormwater Manage-ment and Road Tunnel; em portu-guês, Túnel para Tráfego de Veícu-los e Gerenciamento de Água deChuva. Dividido em três partes,duas para veículos e outra paraágua, o túnel direciona aos rios oque causaria enchente. Se a chu-va é muita, funciona só para es-

coar o grande volume. É reabertoao tráfego em 48 horas.

TrânsitoGrande escavaçãoBoston, Estados UnidosUm viaduto com seis pistas deuma rodovia cortava a cidade edividia centro histórico e baía des-de 1959. Era uma estrutura pare-cida com o Minhocão de São Pau-lo. Conhecido como Artéria Cen-tral, o elevado desde 1980 já nãosuportava a passagem de 200 milveículos por dia. A solução foi au-daciosa. Chamada de Big Dig(grande escavação), a obra duroude 1991 a 2006 e envolveu a cons-trução de 13 quilômetros de tú-neis com até dez pistas cada. Nofim da obra, de custo estimadoem US$ 15 bilhões, a cidade ga-nhou 45 parques e praças e redu-ziu em 12% as emissões de CO2,com o fim de congestionamentos.

LixoColeta subterrâneaBarcelona, EspanhaNem cheiro de lixo nem barulhode caminhões. Em Barcelona es-sa é a realidade de 20% da popula-ção, que descarta seu lixo por umsistema subterrâneo de coleta.Instalado em 1992 nos prédiosda Vila Olímpica, foi levado a ou-tros bairros e continua em expan-são. Hoje Barcelona tem 113 quilô-metros de dutos espalhados por10% da área da cidade, que cole-tam 140 toneladas de lixo por dia.Os resíduos são descartados empontos nas ruas e nos edifícios.Depois, são transportados por arcomprimido a 70 km/h até umacentral. / LUCAS SAMPAIO, MARIANACONGO, MARINA ESTARQUE E

NAYARA FRAGA

R$ 12,87é o valormáximo porm2 cobradopela cidade a concessionárias

R$ 0,50é quanto paga porm2, emmédia,a Comgás, uma das contribuintes

NãoO arquiteto e ur-banista Jaime Ler-ner diz que São

Paulo está viciada em um fal-so dilema entre a superfície eo subterrâneo. Sua crítica:nem metrô nem carro resol-vem sozinhos o problema dotrânsito na cidade, o sistemadeve ser integrado.

�Como se resolve o trânsito?A solução subterrânea ocor-reu há 150 anos, quando eramais barato trabalhar no sub-solo. Londres, Paris, Moscou eNova York têm redes comple-tas de metrô, pois as fizeramantes mesmo do ônibus. EmSão Paulo, a solução para amo-bilidade não será só subterrâ-nea. Além do custo e do tem-po da obra, a operação tem deser subsidiada.

�É possível mudar São Pauloem pouco tempo?Sim. São Paulo criou um falsodilema e se viciou nele: ou me-trô ou automóvel. Nenhumdos dois isoladamente ou con-juntamente vai resolver o pro-blema. O metrô porque nãohá tempo para construir umarede completa. As pessoas pen-sam que o metrô vai passarem frente da casa delas, mas is-so não vai acontecer nunca. Eas obras viárias levam o carrode um congestionamento a ou-tro mais rapidamente.

�Há alternativas?A solução de mobilidade é acombinação de todos os siste-mas: ônibus, trem de subúrbioe metrô. / MARIANA CONGO

SimOs grandes proje-tos de interven-ção no subsolo

empreendidos no exterior sãopossíveis em São Paulo. Para oPhD em obras subterrâneas eprofessor titular da Universi-dade de Brasília André Pache-co de Assis, temos tecnologiae dinheiro para isso.

�Por que usar o subsolo?Se deixamos a superfície paraáreas verdes e lazer, a socieda-de ganha. É preferível abrir ca-minho no subterrâneo para es-tacionamento, metrô e mais.Pode-se pôr de tudo lá embai-xo. Até museu, pois a tempera-tura a 15 metros de profundi-dade não oscila, o que signifi-ca corte de gasto com ar-con-dicionado e calefação.

�Enterrar vias não estaria dis-tante da realidade brasileira?De forma nenhuma, temos tec-nologia e dinheiro. Ninguémquer esconder o alto custo deuma obra subterrânea. É preci-so levar em conta fragilidadesdas redondezas, como uma li-nha de esgoto mal projetada.Mas construção na superfícietambém exige demolição, in-denização, desvio de tráfego.

�Qual é a saída para os proble-mas do transporte coletivo?A sociedade quer metrô, queralternativas que facilitem a vi-da. Quanto custam os engarra-famentos de São Paulo? São170 quilômetros todo dia: arpoluído, pessoas hospitaliza-das, estresse. É um custo so-cial absurdo. / NAYARA FRAGA

A demanda da Grande São Paulo é de 78 m3 de águapor segundo. Os 17 mil poços particulares são essenciais para que a demanda seja atendida

Desses poços, 35% são clandestinos

POÇOS

ESGOTO

ANIMAIS

CONTAMINAÇÃO DO SOLOAmbientalistas criticam a falta de mapeamento das áreas contaminadas

METRÔ

MAPEAMENTO

SITUAÇÃO DESSAS ÁREAS

Contaminada

1397

Contaminada sob investigação

579

Em processo de monitoramento para reabilitação

819

Reabilitada

110

32%das áreas contami-

nadas são considera-das aptas para uso

44gases tóxicos foram

encontrados no Conjunto Residen-

cial Barão de Mauá, construído sobre um aterro de lixo

clandestino

Causas da contaminação

Postos de combustíveis

79%

13% Indústria

4% Comercial4% Outros

%

%

%

PARA UM POÇO DE 200 METROS

87%

13%% vêm de

águassuperficiais (do sistema

da Sabesp), o que equivale

a 68m3

vêm dos17 mil poços

90%foi a reduçãono número de acidentes entre a Sabesp e a Comgás após a integração dos mapas das duas

LUGARES AFETADOS

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 20090

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

255

7271.596

2.272

2.904

VANTAGENS DO PISCINÃO DO PACAEMBU

CRESCIMENTO

ESTAÇÕES POR LINHA

!!!!!!!!107,831 toneladas

de lixo já foram recolhidas dos piscinões da Grande

São Paulo neste ano.O Jardim Maria Sampaioé o mais poluído: foram retiradas 22,2 toneladas de detritos. Os resíduos

transportados pelachuva entopem a

estrutura de drenagem, causando enchentes

COMO A ÁGUA ESCOA

CAPACIDADE DOS PISCINÕES (em mil m3³)

25Pedras

Pedreira1.500

Sharp500

Jabaquara360

Aricanduva III320

Caguaçu 310

Rincão304

Limoeiro300

Oratório280

Guaraú240

Bananal210

Aricanduva I 200

Aricanduva V 167

Aricanduva II150

Pacaembu74

Jd. Maria Sampaio 120

Cedrolândria113

Anhanguera 100

Inhumas100

Único subterrâneo

• É totalmente subterrâneo, e a área em cima dele pode ser aproveitada

• Sua construção não interrompeu trânsito ou desapropriou terrenos• Está em local desnivelado, escoando a água e a sujeira naturalmente

O sistema de drenagem de São Paulo é composto principalmente por piscinões e galerias

DRENAGEM E PISCINÕES

ÁGUA

GÁS

A água é armazenada nos piscinões antes de ser escoada para galerias e rios

1

2 No Pacaembu, único piscinão subterrâneo, a água cai pelas calhas até o reservatório

3 A água da chuvaentra pelos bueiros e escorre pelas galerias até os rios

1

galerias

piscinões

rios

Pacaembu

piscinões

bocas de lobo

km de galerias e córregos

GASTOS COM DRENAGEMO investimento público em construção e limpeza vem aumentando nos últimos anos (em R$ milhões)

Em cinco anos, o númerode usuários do metrôsubiu 28,7%

No total são 60,sendo que as estações Sé, Ana Rosa e Paraíso integram maisde uma linha

0

150

2004 2009 2010 2011*(projeção)

400

300

60

309

421

540

Estima-se que 15% dos domicíliosestejam infestadospor ratos

Ratos, baratas e escorpiões são as principais pragas no subterrâneo. Ratos roem tubulações e cabos e podem até causar incêndios

Nos poços clandestinos,

não há avaliação técnica da água. O aspecto limpo não

significa que é potável. Pode estar

contaminada

São 41 mil kmde redes de

telecomunicaçãona cidade. Cerca de

38 mil km são da Telefônica, sendo

6,6 mil kmsubterrâneos

A lei de 2003também determinaque a passagem de

cabos e fios pelo subsolo deve ser

remunerada à Prefeitura

%

Lei municipal de2003 obriga as

empresas que usamo subsolo a entregarà Prefeitura dadosda localização das

suas redes

O rato é a principal preocupação, pois sua urina causa leptospirose. O escorpião é arriscado devido ao veneno da sua picada. A barata não transmite doenças diretamente, mas é chamada de “transmissor mecânico”, pois carrega em seu corpo diversos microor-ganismos adquiridos durante suas andanças por esgotos, canos e lixo

TRÊS ESPÉCIES QUE HABITAM A CIDADE

Ratazana(Rattus norvegicus): é a maior espécie. Vive em média dois anos. Usa as galerias subterrâneas para locomoção

Rato de telhado(Rattus rattus): vive um ano e meio e gosta de escalar. Tem caldalonga para se equilibrare anda sobre fios

Camundongo(Mus musculus): vive durante um ano, dentro de casas. É até 10 vezes menor que a ratazana

4 meses e meio é o tempo necessário para conseguir a concessão de um poço. É preciso renovar a cada 5 anos (poços privados) ou 10 anos (poços de uso público)

R$ 70 mil a R$ 80 milé o custo total de um poço regularizado de200 metros de profun-didade. O dobro de um poço clandestino

3% a 5% é o custo do

mapeamento do subsolo no

orçamento de obras

19 4.066400 milAs galerias são canais subterrâneos que direcionam a água da chuva para os rios.

Os piscinões são reservatórios que retêm água da chuva para que os rios não sobrecarreguem e transbordem. Somente um piscinão é subterrâneo, odo Pacaembu

São Paulo ainda não sabe por completo o

que tem sob seus pés

!R$ 1 bilhão

é o que a Prefeitura poderia arrecadar

nos últimosnove anos pela

cobrança do usodo subsolo

Em média, são 3,5 milhões de usuários por dia. Equivale à soma da população de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos

626,4milhões de passageiros

usaramo metrô neste ano,

de janeiro a outubro

232322233 144141411881888 6666 2222

A profundidade dos 15,4 mil kmde redes de São Paulo variade 1 a 10 metros. O escoamentoé feito por gravidade

• O descarte inadequado de óleo de cozinha é uma das principais causas de entupimento

• Segundo a Sabesp, 100% dos domicílios regulares têm ligação de água; 97%, coleta de esgoto; e 75%, tratamento de esgoto

40% foi a queda no número de

reclamações sobre ratos entre 2005 e 2009, após o início

da vigilância

A extensãoda rede de

energia elétrica da São Paulo é de

45.584 km, sendo 2.996 km no subterrâneo

São Paulotem 19,1 mil km

de redesde distribuição

de água Há cerca de

400 km de redes desativadas no

subsolo da cidade

Redesda década de 1920 ainda

funcionam. As mais antigas estão na Sé, no Brás, na

Liberdade e na Consolação.

A Sabesp pretendetrocar na região metropolitanacerca de 200 km de redes de água por ano, a um custo anual de R$ 40 milhões

• Todo dia a Sabesp faz cerca de milconsertos na cidade, mobilizando cerca de1,5 mil trabalhadores. Custam a partir de R$ 60.A pressão do tráfego de veículos sobre o solo colabora com o desgaste

!!!!!

A Comgás possui 4 mil km de rede na cidade de São Paulo. A principal causa de vazamentos são danos causados por terceiros durante escavações

R$ 400milhões

785 milé o investimento

anual, sendo80% para a

construção de redes de distribuição

clientes são atendidos na cidade

pela empresa

de rede estão desativados em

São Paulo

450 km

O abastecimentode água e a coleta e

tratamento de esgoto de São Paulo têm 34,503 mil km, o equivalente a mais de 78 viagens entre São Paulo e Rio de

Janeiro

No mundo,o metrô de São

Paulo tem o maior número de

passageiros por quilômetro

de linha

2

3

705,8

5032009

2004

MAPEAMENTO: Convias, Eletropaulo, Telefônica e Carlos Zveibil Neto ( vice-presidente daAssociação Paulista de Empresários de Obras Públicas); ESGOTO: Sabesp; POÇOS: Daee,Ricardo Hirata (geólogo e professor do Instituto de Geociências da USP) e João Carlos deSouza (conselheiro da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas); DRENAGEM: Prefeitu-ra de São Paulo e Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê; CONTAMINA-ÇÃO: Cetesb; ANIMAIS: Covisa (órgão subordinado à Secretaria Municipal de Saúde); GÁS:Comgás; ÁGUA: Sabesp; METRÔ: Companhia do Metropolitano de São Paulo

AndréaCarneiroFábio Pupo

A cidade de São Paulo poderiater arrecadado, nos últimos no-ve anos, mais de R$ 1 bilhão dasempresas cujos serviços depen-dem do subsolo. O chamado“preço público” seria cobradopela passagem de cabos e redesinstalados abaixo de vias públi-cas, comoosdetelefonia e inter-net,porexemplo.Muitasconces-sionárias estão isentas graças adecisõesjudiciais,oquefezomu-nicípio só receber 1,5%desse va-lor (R$ 15milhões).De acordo com o relatório fi-

nal daCPIdaCâmaraMunicipalque investigavaacessãodeáreaspúblicas à iniciativa privada em2001, a cidadearrecadariaR$ 118milhõesporano,considerandoarede subterrânea até então exis-tente.SegundoovereadorPauloFrange (PTB), umdos relatores,a arrecadação atual seria aindamaior, pois a rede cresceu.Em2003, umprojeto de lei foi

aprovadonaCâmaraparaestabe-lecer a cobrança, substituindodecretos anteriores. O texto de-terminaqueapassagemdeequi-pamentos de infraestrutura emvias públicas, inclusive em sub-solo e espaço aéreo, deve ser re-munerada mensalmente. Naépoca, foram estabelecidos deR$ 0,04 a R$ 9. Atualmente, co-modeterminaalei,osvaloresfo-ram reajustados pelo Índice dePreços ao Consumidor Amplo(IPCA) e ficariam entre R$ 0,06e R$ 12,87 pormetro quadrado.

Com 4mil quilômetros de re-de, a distribuidora Comgás éuma das poucas empresas quepaga a remuneração, aproxima-damenteR$0,50pormetroqua-drado ocupado. Outras conces-sionárias, como a Eletropaulo ea Sabesp, recorreram à Justiça egarantiram a isenção.APrefeitura alega quenão po-

desepronunciarsobreosproces-sos em trâmite. Nos tribunais,defende ter a propriedade dosbens de domínio público e deseus respectivos subsolos. Issolhe garantiria o direito de admi-nistrar e cobrar pela ocupação.ParaoadvogadoLuísEduardo

Schoueri,acobrançasóseriajus-tificadaquandoarededaempre-saimpedisseousopúblico,oquenão é o caso das vias. Já o juristaKiyoshi Harada e o professor deDireito Aires Barreto, membrodo Instituto Brasileiro de Estu-dosTributários, defendemopa-gamento. “O Município tem opoder de cobrar pelo uso do seupatrimônio”, diz Barreto.

Bernardo Barbosa

Nãoexisteummapeamentoexa-to do subterrâneo de São Paulo.Essaimprecisãoprovocaaciden-tes, retrabalho e gasto público eprivado desnecessário. Para re-solver o problema, a Prefeituracriouemjaneirode2009oproje-toGeoConvias, que tambémpa-recelongedesolucionaroimpas-se. A proposta é reunir em umúnico cadastro todas as redes,comdadosfornecidospelascon-cessionárias, considerados fa-lhos por especialistas.“Os mapas são pouco confiá-

veis. O cadastro mostra a redena rua, mas na verdade está nomeio do terreno”, exemplifica ovice-presidente da AssociaçãoPaulista de Empresários deObras Públicas (Apeop), CarlosZveibil Neto. Há diferenças en-treasprojeçõesearealidadepor-que, muitas vezes, as mudançasnostraçadosnãosãoregistradase algumas estruturas antigasnem foram detectadas. Com ocrescimento urbano nos últi-mos 100 anos, surgiram redessubterrâneaspara levaros servi-çosnecessáriosaofuncionamen-to da cidade, como água, gás, es-goto, telefonia e internet.A diretora do Departamento

deControledeUsodeViasPúbli-cas (Convias), Antonia Gugliel-mi, estima que o órgão autorizecerca de 100 obras de expansãode redes e 300 execuções de ra-mais todo mês. “Na prática, sãoabertos de 2 mil a 3 mil por mêsna cidade”, afirma. Segundo ela,porvezesasempresasexecutamos ramais como obras de emer-gência, o que só exige umaviso àCompanhia de Engenharia deTrânsito (CET). Sendo fiel à lei,diz ela, um ramal feito comoobra emergencial é clandestino.

Acidentes. A desorganizaçãoaumenta os riscos de acidentes.“De tempos em tempos, algumtratorarrancacabos,canosdees-goto, entre outras redes, justa-mente porque falta controle”,diz o geógrafo e professor daUSP Jurandyr Ross. “Quantomais completos forem os dadosgeográficos e cartográficos, me-lhor será a gestão pública.”A engenheira Carla Sautchuk,

da Tecnologia e Consultoria deSistemas em Engenharia (TE-SIS), explica que, alémde danosmateriaiseproblemasnotrânsi-to,háumcustosocialnosaciden-tes com interrupção do forneci-mento. “É incalculável o valorde uma hora sem energia.”Para Sérgio Palazzo, diretor

deRelaçõesInstitucionaisdaAs-sociação Brasileira de Tecnolo-giaNãoDestrutiva(Abratt),aso-lução seria um dispositivo legalpara obrigar as permissionáriasa demarcarem as redes no localdeeventuaisobras. Segundoele,

o procedimento é usado empaí-ses desenvolvidos.As concessionárias dizemque

atualizam constantemente seusmapas. Comgás e Sabesp afir-mam registrar as mudanças emseus cadastros, acompanhandoo trabalho uma da outra.

Integração. Já faz mais de umadécadaqueaPrefeituratentage-renciar as redes do subsolo. En-tretanto, o levantamento inte-gradonãoestarácompletoantesde2012, segundooConvias, res-ponsável pela mais recente ten-tativa de chegar a esse mapea-mento, o GeoConvias, que pre-tende criar ummapa digital úni-co do subterrâneo.Apesar de uma lei municipal

de 2003 prever a entrega dos ca-dastros das redes ao município,muitas empresas não o fizeramaté hoje. Umdecreto de 1999 doentão prefeitoCelso Pitta já exi-gia que as companhias envias-sem as informações ao Convias.A Eletropaulo, por exemplo,

conseguiunaJustiçaodireitodenão enviar os dados e de não pa-gar o “preço público” pelo usodo subsolo – outro motivo peloqual algumas companhias nãoquerem entregar seusmapas.Mas nem sempre a dificulda-

de está em obter os dados. Co-mo as empresas não foramobri-gadas a fornecer os cadastrosem formato digital, as informa-ções estão em papel . /COLABORARAM AMANDA AGUTULI,

ANDRÉA CARNEIRO, BRUNA MAIA E

CAROLINA ALMEIDA

AmandaAgutuliAndréaCarneiroCarolina Almeida

Uma solução para a desordemno subterrâneo de São Paulo é aconstrução de valas e galeriastécnicas. “Este sistema integratodas as redes do subsolo e asorganiza em um mesmo espa-ço”, explica a engenheira CarlaSautchuk. Assim, há um cadas-tro unificado, em vez de mapasisolados. “Nahoradaobra, sabe-sea localizaçãoexatadas redes.”Cidades como Washington,

Paris eLondres optaramporum

sistema semelhante. No Brasil,ele é usado em Minas Gerais ePernambuco. Na capital paulis-ta, já chegou à Vila Olímpia, porexemplo.As tubulações sãoaco-modadas em túneis, facilitandointervençõeseaumentandoavi-da útil do sistema. As valas po-dem ou não ser acessíveis. Nasgalerias, háumtúnelondesepo-de entrar e fazer amanutenção.

Raio X. Para driblar a confusãosubterrânea, as construtoras in-vestememtecnologiademapea-mento, que representa de 3% a5% do custo das obras. Nos últi-

mos anos, novosmétodos facili-taramoplanejamento.Ogeo-ra-dar atua de maneira não-invasi-va, como se fosse um raio X.“O Ground-Penetrating Ra-

dar,métodogeofísicoeletromag-nético, localiza commais preci-sãoalvosnosubsolo”,dizogeofí-sico e professor da USP JorgePorsani. A tecnologia foi aplica-danaampliaçãodaestaçãoferro-viária da Luz. “Todas as escava-ções foram realizadas com ostrensemoperação”,disseoenge-nheiroeprofessordaUSPRober-toKochen,queprestouconsulto-ria durante a obra.

PRODUÇÃO: BRUNAMAIA E LUCAS SAMPAIO

%HermesFileInfo:H-4:20101211:H4 Especial SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 Especial H5

Page 5: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

FOCASCONFUSÃO

Prefeiturasó terámapadigitalderedesapós2012

Usodosolo renderiaR$ 1bilhão

DEBATE

Soluçãoparaacidadeestánosubterrâneo?

Emoutrospaíses,fimdosproblemas

Paradarordemaoemaranhado

� Quanto vale

GeoConvias vai unificardados fornecidospelas concessionárias,considerados imprecisospor especialistas

EmMadri,umrodoanel símbolode caos na hora do rush é hojeum espaço com área verde, par-que e ciclovias. A via, agora, estáno subterrâneo. No Japão, me-gaestações de metrô estão liga-dasporcentroscomerciais,esta-cionamentos e galerias de arte.Exemplos parecidos são vistosno Canadá e em partes da Euro-pa. Construídas para fins dife-rentes, tais iniciativas têm umpontocomum:amelhoranaqua-lidade de vida da população.Asideiaslevadasadiantenoex-

terior podem servir de inspira-ção para empreendimentos noBrasil, mas as soluções devemser pensadas caso a caso, segun-do especialistas. “É preciso umplano de ocupação do subterrâ-neo, pois demolir uma obra nosubsolo não é simples como nasuperfície”, diz Han Admiraal,professordoCentrodePesquisaAplicada do Espaço Subterrâ-neo, em Roterdã, na Holanda.Abaixo, conheça algumas inicia-tivas internacionais de sucesso.

AlagamentoTúnel dois em umKuala Lumpur, MalásiaEm razão do encontro de dois riosno centro da cidade, a chuva erasempre motivo de alagamento. Asolução foi a construção de umtúnel multiuso, de 9,7 quilôme-tros, chamado de Smart – abrevia-ção para Stormwater Manage-ment and Road Tunnel; em portu-guês, Túnel para Tráfego de Veícu-los e Gerenciamento de Água deChuva. Dividido em três partes,duas para veículos e outra paraágua, o túnel direciona aos rios oque causaria enchente. Se a chu-va é muita, funciona só para es-

coar o grande volume. É reabertoao tráfego em 48 horas.

TrânsitoGrande escavaçãoBoston, Estados UnidosUm viaduto com seis pistas deuma rodovia cortava a cidade edividia centro histórico e baía des-de 1959. Era uma estrutura pare-cida com o Minhocão de São Pau-lo. Conhecido como Artéria Cen-tral, o elevado desde 1980 já nãosuportava a passagem de 200 milveículos por dia. A solução foi au-daciosa. Chamada de Big Dig(grande escavação), a obra duroude 1991 a 2006 e envolveu a cons-trução de 13 quilômetros de tú-neis com até dez pistas cada. Nofim da obra, de custo estimadoem US$ 15 bilhões, a cidade ga-nhou 45 parques e praças e redu-ziu em 12% as emissões de CO2,com o fim de congestionamentos.

LixoColeta subterrâneaBarcelona, EspanhaNem cheiro de lixo nem barulhode caminhões. Em Barcelona es-sa é a realidade de 20% da popula-ção, que descarta seu lixo por umsistema subterrâneo de coleta.Instalado em 1992 nos prédiosda Vila Olímpica, foi levado a ou-tros bairros e continua em expan-são. Hoje Barcelona tem 113 quilô-metros de dutos espalhados por10% da área da cidade, que cole-tam 140 toneladas de lixo por dia.Os resíduos são descartados empontos nas ruas e nos edifícios.Depois, são transportados por arcomprimido a 70 km/h até umacentral. / LUCAS SAMPAIO, MARIANACONGO, MARINA ESTARQUE E

NAYARA FRAGA

R$ 12,87é o valormáximo porm2 cobradopela cidade a concessionárias

R$ 0,50é quanto paga porm2, emmédia,a Comgás, uma das contribuintes

NãoO arquiteto e ur-banista Jaime Ler-ner diz que São

Paulo está viciada em um fal-so dilema entre a superfície eo subterrâneo. Sua crítica:nem metrô nem carro resol-vem sozinhos o problema dotrânsito na cidade, o sistemadeve ser integrado.

�Como se resolve o trânsito?A solução subterrânea ocor-reu há 150 anos, quando eramais barato trabalhar no sub-solo. Londres, Paris, Moscou eNova York têm redes comple-tas de metrô, pois as fizeramantes mesmo do ônibus. EmSão Paulo, a solução para amo-bilidade não será só subterrâ-nea. Além do custo e do tem-po da obra, a operação tem deser subsidiada.

�É possível mudar São Pauloem pouco tempo?Sim. São Paulo criou um falsodilema e se viciou nele: ou me-trô ou automóvel. Nenhumdos dois isoladamente ou con-juntamente vai resolver o pro-blema. O metrô porque nãohá tempo para construir umarede completa. As pessoas pen-sam que o metrô vai passarem frente da casa delas, mas is-so não vai acontecer nunca. Eas obras viárias levam o carrode um congestionamento a ou-tro mais rapidamente.

�Há alternativas?A solução de mobilidade é acombinação de todos os siste-mas: ônibus, trem de subúrbioe metrô. / MARIANA CONGO

SimOs grandes proje-tos de interven-ção no subsolo

empreendidos no exterior sãopossíveis em São Paulo. Para oPhD em obras subterrâneas eprofessor titular da Universi-dade de Brasília André Pache-co de Assis, temos tecnologiae dinheiro para isso.

�Por que usar o subsolo?Se deixamos a superfície paraáreas verdes e lazer, a socieda-de ganha. É preferível abrir ca-minho no subterrâneo para es-tacionamento, metrô e mais.Pode-se pôr de tudo lá embai-xo. Até museu, pois a tempera-tura a 15 metros de profundi-dade não oscila, o que signifi-ca corte de gasto com ar-con-dicionado e calefação.

�Enterrar vias não estaria dis-tante da realidade brasileira?De forma nenhuma, temos tec-nologia e dinheiro. Ninguémquer esconder o alto custo deuma obra subterrânea. É preci-so levar em conta fragilidadesdas redondezas, como uma li-nha de esgoto mal projetada.Mas construção na superfícietambém exige demolição, in-denização, desvio de tráfego.

�Qual é a saída para os proble-mas do transporte coletivo?A sociedade quer metrô, queralternativas que facilitem a vi-da. Quanto custam os engarra-famentos de São Paulo? São170 quilômetros todo dia: arpoluído, pessoas hospitaliza-das, estresse. É um custo so-cial absurdo. / NAYARA FRAGA

A demanda da Grande São Paulo é de 78 m3 de águapor segundo. Os 17 mil poços particulares são essenciais para que a demanda seja atendida

Desses poços, 35% são clandestinos

POÇOS

ESGOTO

ANIMAIS

CONTAMINAÇÃO DO SOLOAmbientalistas criticam a falta de mapeamento das áreas contaminadas

METRÔ

MAPEAMENTO

SITUAÇÃO DESSAS ÁREAS

Contaminada

1397

Contaminada sob investigação

579

Em processo de monitoramento para reabilitação

819

Reabilitada

110

32%das áreas contami-

nadas são considera-das aptas para uso

44gases tóxicos foram

encontrados no Conjunto Residen-

cial Barão de Mauá, construído sobre um aterro de lixo

clandestino

Causas da contaminação

Postos de combustíveis

79%

13% Indústria

4% Comercial4% Outros

%

%

%

PARA UM POÇO DE 200 METROS

87%

13%% vêm de

águassuperficiais (do sistema

da Sabesp), o que equivale

a 68m3

vêm dos17 mil poços

90%foi a reduçãono número de acidentes entre a Sabesp e a Comgás após a integração dos mapas das duas

LUGARES AFETADOS

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 20090

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

255

7271.596

2.272

2.904

VANTAGENS DO PISCINÃO DO PACAEMBU

CRESCIMENTO

ESTAÇÕES POR LINHA

!!!!!!!!107,831 toneladas

de lixo já foram recolhidas dos piscinões da Grande

São Paulo neste ano.O Jardim Maria Sampaioé o mais poluído: foram retiradas 22,2 toneladas de detritos. Os resíduos

transportados pelachuva entopem a

estrutura de drenagem, causando enchentes

COMO A ÁGUA ESCOA

CAPACIDADE DOS PISCINÕES (em mil m3³)

25Pedras

Pedreira1.500

Sharp500

Jabaquara360

Aricanduva III320

Caguaçu 310

Rincão304

Limoeiro300

Oratório280

Guaraú240

Bananal210

Aricanduva I 200

Aricanduva V 167

Aricanduva II150

Pacaembu74

Jd. Maria Sampaio 120

Cedrolândria113

Anhanguera 100

Inhumas100

Único subterrâneo

• É totalmente subterrâneo, e a área em cima dele pode ser aproveitada

• Sua construção não interrompeu trânsito ou desapropriou terrenos• Está em local desnivelado, escoando a água e a sujeira naturalmente

O sistema de drenagem de São Paulo é composto principalmente por piscinões e galerias

DRENAGEM E PISCINÕES

ÁGUA

GÁS

A água é armazenada nos piscinões antes de ser escoada para galerias e rios

1

2 No Pacaembu, único piscinão subterrâneo, a água cai pelas calhas até o reservatório

3 A água da chuvaentra pelos bueiros e escorre pelas galerias até os rios

1

galerias

piscinões

rios

Pacaembu

piscinões

bocas de lobo

km de galerias e córregos

GASTOS COM DRENAGEMO investimento público em construção e limpeza vem aumentando nos últimos anos (em R$ milhões)

Em cinco anos, o númerode usuários do metrôsubiu 28,7%

No total são 60,sendo que as estações Sé, Ana Rosa e Paraíso integram maisde uma linha

0

150

2004 2009 2010 2011*(projeção)

400

300

60

309

421

540

Estima-se que 15% dos domicíliosestejam infestadospor ratos

Ratos, baratas e escorpiões são as principais pragas no subterrâneo. Ratos roem tubulações e cabos e podem até causar incêndios

Nos poços clandestinos,

não há avaliação técnica da água. O aspecto limpo não

significa que é potável. Pode estar

contaminada

São 41 mil kmde redes de

telecomunicaçãona cidade. Cerca de

38 mil km são da Telefônica, sendo

6,6 mil kmsubterrâneos

A lei de 2003também determinaque a passagem de

cabos e fios pelo subsolo deve ser

remunerada à Prefeitura

%

Lei municipal de2003 obriga as

empresas que usamo subsolo a entregarà Prefeitura dadosda localização das

suas redes

O rato é a principal preocupação, pois sua urina causa leptospirose. O escorpião é arriscado devido ao veneno da sua picada. A barata não transmite doenças diretamente, mas é chamada de “transmissor mecânico”, pois carrega em seu corpo diversos microor-ganismos adquiridos durante suas andanças por esgotos, canos e lixo

TRÊS ESPÉCIES QUE HABITAM A CIDADE

Ratazana(Rattus norvegicus): é a maior espécie. Vive em média dois anos. Usa as galerias subterrâneas para locomoção

Rato de telhado(Rattus rattus): vive um ano e meio e gosta de escalar. Tem caldalonga para se equilibrare anda sobre fios

Camundongo(Mus musculus): vive durante um ano, dentro de casas. É até 10 vezes menor que a ratazana

4 meses e meio é o tempo necessário para conseguir a concessão de um poço. É preciso renovar a cada 5 anos (poços privados) ou 10 anos (poços de uso público)

R$ 70 mil a R$ 80 milé o custo total de um poço regularizado de200 metros de profun-didade. O dobro de um poço clandestino

3% a 5% é o custo do

mapeamento do subsolo no

orçamento de obras

19 4.066400 milAs galerias são canais subterrâneos que direcionam a água da chuva para os rios.

Os piscinões são reservatórios que retêm água da chuva para que os rios não sobrecarreguem e transbordem. Somente um piscinão é subterrâneo, odo Pacaembu

São Paulo ainda não sabe por completo o

que tem sob seus pés

!R$ 1 bilhão

é o que a Prefeitura poderia arrecadar

nos últimosnove anos pela

cobrança do usodo subsolo

Em média, são 3,5 milhões de usuários por dia. Equivale à soma da população de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos

626,4milhões de passageiros

usaramo metrô neste ano,

de janeiro a outubro

232322233 144141411881888 6666 2222

A profundidade dos 15,4 mil kmde redes de São Paulo variade 1 a 10 metros. O escoamentoé feito por gravidade

• O descarte inadequado de óleo de cozinha é uma das principais causas de entupimento

• Segundo a Sabesp, 100% dos domicílios regulares têm ligação de água; 97%, coleta de esgoto; e 75%, tratamento de esgoto

40% foi a queda no número de

reclamações sobre ratos entre 2005 e 2009, após o início

da vigilância

A extensãoda rede de

energia elétrica da São Paulo é de

45.584 km, sendo 2.996 km no subterrâneo

São Paulotem 19,1 mil km

de redesde distribuição

de água Há cerca de

400 km de redes desativadas no

subsolo da cidade

Redesda década de 1920 ainda

funcionam. As mais antigas estão na Sé, no Brás, na

Liberdade e na Consolação.

A Sabesp pretendetrocar na região metropolitanacerca de 200 km de redes de água por ano, a um custo anual de R$ 40 milhões

• Todo dia a Sabesp faz cerca de milconsertos na cidade, mobilizando cerca de1,5 mil trabalhadores. Custam a partir de R$ 60.A pressão do tráfego de veículos sobre o solo colabora com o desgaste

!!!!!

A Comgás possui 4 mil km de rede na cidade de São Paulo. A principal causa de vazamentos são danos causados por terceiros durante escavações

R$ 400milhões

785 milé o investimento

anual, sendo80% para a

construção de redes de distribuição

clientes são atendidos na cidade

pela empresa

de rede estão desativados em

São Paulo

450 km

O abastecimentode água e a coleta e

tratamento de esgoto de São Paulo têm 34,503 mil km, o equivalente a mais de 78 viagens entre São Paulo e Rio de

Janeiro

No mundo,o metrô de São

Paulo tem o maior número de

passageiros por quilômetro

de linha

2

3

705,8

5032009

2004

MAPEAMENTO: Convias, Eletropaulo, Telefônica e Carlos Zveibil Neto ( vice-presidente daAssociação Paulista de Empresários de Obras Públicas); ESGOTO: Sabesp; POÇOS: Daee,Ricardo Hirata (geólogo e professor do Instituto de Geociências da USP) e João Carlos deSouza (conselheiro da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas); DRENAGEM: Prefeitu-ra de São Paulo e Plano Diretor de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê; CONTAMINA-ÇÃO: Cetesb; ANIMAIS: Covisa (órgão subordinado à Secretaria Municipal de Saúde); GÁS:Comgás; ÁGUA: Sabesp; METRÔ: Companhia do Metropolitano de São Paulo

AndréaCarneiroFábio Pupo

A cidade de São Paulo poderiater arrecadado, nos últimos no-ve anos, mais de R$ 1 bilhão dasempresas cujos serviços depen-dem do subsolo. O chamado“preço público” seria cobradopela passagem de cabos e redesinstalados abaixo de vias públi-cas, comoosdetelefonia e inter-net,porexemplo.Muitasconces-sionárias estão isentas graças adecisõesjudiciais,oquefezomu-nicípio só receber 1,5%desse va-lor (R$ 15milhões).De acordo com o relatório fi-

nal daCPIdaCâmaraMunicipalque investigavaacessãodeáreaspúblicas à iniciativa privada em2001, a cidadearrecadariaR$ 118milhõesporano,considerandoarede subterrânea até então exis-tente.SegundoovereadorPauloFrange (PTB), umdos relatores,a arrecadação atual seria aindamaior, pois a rede cresceu.Em2003, umprojeto de lei foi

aprovadonaCâmaraparaestabe-lecer a cobrança, substituindodecretos anteriores. O texto de-terminaqueapassagemdeequi-pamentos de infraestrutura emvias públicas, inclusive em sub-solo e espaço aéreo, deve ser re-munerada mensalmente. Naépoca, foram estabelecidos deR$ 0,04 a R$ 9. Atualmente, co-modeterminaalei,osvaloresfo-ram reajustados pelo Índice dePreços ao Consumidor Amplo(IPCA) e ficariam entre R$ 0,06e R$ 12,87 pormetro quadrado.

Com 4mil quilômetros de re-de, a distribuidora Comgás éuma das poucas empresas quepaga a remuneração, aproxima-damenteR$0,50pormetroqua-drado ocupado. Outras conces-sionárias, como a Eletropaulo ea Sabesp, recorreram à Justiça egarantiram a isenção.APrefeitura alega quenão po-

desepronunciarsobreosproces-sos em trâmite. Nos tribunais,defende ter a propriedade dosbens de domínio público e deseus respectivos subsolos. Issolhe garantiria o direito de admi-nistrar e cobrar pela ocupação.ParaoadvogadoLuísEduardo

Schoueri,acobrançasóseriajus-tificadaquandoarededaempre-saimpedisseousopúblico,oquenão é o caso das vias. Já o juristaKiyoshi Harada e o professor deDireito Aires Barreto, membrodo Instituto Brasileiro de Estu-dosTributários, defendemopa-gamento. “O Município tem opoder de cobrar pelo uso do seupatrimônio”, diz Barreto.

Bernardo Barbosa

Nãoexisteummapeamentoexa-to do subterrâneo de São Paulo.Essaimprecisãoprovocaaciden-tes, retrabalho e gasto público eprivado desnecessário. Para re-solver o problema, a Prefeituracriouemjaneirode2009oproje-toGeoConvias, que tambémpa-recelongedesolucionaroimpas-se. A proposta é reunir em umúnico cadastro todas as redes,comdadosfornecidospelascon-cessionárias, considerados fa-lhos por especialistas.“Os mapas são pouco confiá-

veis. O cadastro mostra a redena rua, mas na verdade está nomeio do terreno”, exemplifica ovice-presidente da AssociaçãoPaulista de Empresários deObras Públicas (Apeop), CarlosZveibil Neto. Há diferenças en-treasprojeçõesearealidadepor-que, muitas vezes, as mudançasnostraçadosnãosãoregistradase algumas estruturas antigasnem foram detectadas. Com ocrescimento urbano nos últi-mos 100 anos, surgiram redessubterrâneaspara levaros servi-çosnecessáriosaofuncionamen-to da cidade, como água, gás, es-goto, telefonia e internet.A diretora do Departamento

deControledeUsodeViasPúbli-cas (Convias), Antonia Gugliel-mi, estima que o órgão autorizecerca de 100 obras de expansãode redes e 300 execuções de ra-mais todo mês. “Na prática, sãoabertos de 2 mil a 3 mil por mêsna cidade”, afirma. Segundo ela,porvezesasempresasexecutamos ramais como obras de emer-gência, o que só exige umaviso àCompanhia de Engenharia deTrânsito (CET). Sendo fiel à lei,diz ela, um ramal feito comoobra emergencial é clandestino.

Acidentes. A desorganizaçãoaumenta os riscos de acidentes.“De tempos em tempos, algumtratorarrancacabos,canosdees-goto, entre outras redes, justa-mente porque falta controle”,diz o geógrafo e professor daUSP Jurandyr Ross. “Quantomais completos forem os dadosgeográficos e cartográficos, me-lhor será a gestão pública.”A engenheira Carla Sautchuk,

da Tecnologia e Consultoria deSistemas em Engenharia (TE-SIS), explica que, alémde danosmateriaiseproblemasnotrânsi-to,háumcustosocialnosaciden-tes com interrupção do forneci-mento. “É incalculável o valorde uma hora sem energia.”Para Sérgio Palazzo, diretor

deRelaçõesInstitucionaisdaAs-sociação Brasileira de Tecnolo-giaNãoDestrutiva(Abratt),aso-lução seria um dispositivo legalpara obrigar as permissionáriasa demarcarem as redes no localdeeventuaisobras. Segundoele,

o procedimento é usado empaí-ses desenvolvidos.As concessionárias dizemque

atualizam constantemente seusmapas. Comgás e Sabesp afir-mam registrar as mudanças emseus cadastros, acompanhandoo trabalho uma da outra.

Integração. Já faz mais de umadécadaqueaPrefeituratentage-renciar as redes do subsolo. En-tretanto, o levantamento inte-gradonãoestarácompletoantesde2012, segundooConvias, res-ponsável pela mais recente ten-tativa de chegar a esse mapea-mento, o GeoConvias, que pre-tende criar ummapa digital úni-co do subterrâneo.Apesar de uma lei municipal

de 2003 prever a entrega dos ca-dastros das redes ao município,muitas empresas não o fizeramaté hoje. Umdecreto de 1999 doentão prefeitoCelso Pitta já exi-gia que as companhias envias-sem as informações ao Convias.A Eletropaulo, por exemplo,

conseguiunaJustiçaodireitodenão enviar os dados e de não pa-gar o “preço público” pelo usodo subsolo – outro motivo peloqual algumas companhias nãoquerem entregar seusmapas.Mas nem sempre a dificulda-

de está em obter os dados. Co-mo as empresas não foramobri-gadas a fornecer os cadastrosem formato digital, as informa-ções estão em papel . /COLABORARAM AMANDA AGUTULI,

ANDRÉA CARNEIRO, BRUNA MAIA E

CAROLINA ALMEIDA

AmandaAgutuliAndréaCarneiroCarolina Almeida

Uma solução para a desordemno subterrâneo de São Paulo é aconstrução de valas e galeriastécnicas. “Este sistema integratodas as redes do subsolo e asorganiza em um mesmo espa-ço”, explica a engenheira CarlaSautchuk. Assim, há um cadas-tro unificado, em vez de mapasisolados. “Nahoradaobra, sabe-sea localizaçãoexatadas redes.”Cidades como Washington,

Paris eLondres optaramporum

sistema semelhante. No Brasil,ele é usado em Minas Gerais ePernambuco. Na capital paulis-ta, já chegou à Vila Olímpia, porexemplo.As tubulações sãoaco-modadas em túneis, facilitandointervençõeseaumentandoavi-da útil do sistema. As valas po-dem ou não ser acessíveis. Nasgalerias, háumtúnelondesepo-de entrar e fazer amanutenção.

Raio X. Para driblar a confusãosubterrânea, as construtoras in-vestememtecnologiademapea-mento, que representa de 3% a5% do custo das obras. Nos últi-

mos anos, novosmétodos facili-taramoplanejamento.Ogeo-ra-dar atua de maneira não-invasi-va, como se fosse um raio X.“O Ground-Penetrating Ra-

dar,métodogeofísicoeletromag-nético, localiza commais preci-sãoalvosnosubsolo”,dizogeofí-sico e professor da USP JorgePorsani. A tecnologia foi aplica-danaampliaçãodaestaçãoferro-viária da Luz. “Todas as escava-ções foram realizadas com ostrensemoperação”,disseoenge-nheiroeprofessordaUSPRober-toKochen,queprestouconsulto-ria durante a obra.

PRODUÇÃO: BRUNAMAIA E LUCAS SAMPAIO

%HermesFileInfo:H-4:20101211:H4 Especial SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 Especial H5

Page 6: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

FOCASMETRÔ

Pordentrodasnovasestações

� ExtensãoNo total, a Linha 4-Amarelaterá 12,8 km. Já estão emoperação 3,6 km dos 8,9 kmincluídos na primeira fase

� RestanteCom inauguração prevista até2014, a segunda fase inclui asestações Vila Sônia, Morumbi,Fradique Coutinho, Oscar Freiree Higienópolis/Mackenzie

OUTRASÁREAS

ARQUEOLOGIA

SítioarqueológicoencontradoemPinheiros teráexibiçãopermanente

CHUVAS

Prefeituraadmite riscodealagamentosnoverão� Petybon

A Fábrica de Louça SantaCatharina foi descoberta em2003 sob a fábrica Petybon,na Lapa. Foram achadosmais de 30 mil fragmentos epeças inteiras fabricadas nolocal no início do século 20

� LíticoLocalizado no Morumbi, temcerca de 6 mil anos. Foramencontrados raspadores,facas e pontas de flecha

� ItaimFica no terreno da Casado Itaim-Bibi, imóvelbandeirista tombado peloCondephaat e Conpresp

� Solar da MarquesaDescoberto na década

de 1980, o sítio nocasarão do centroteve as últimasescavações emjulho. Um anel epedaços de louças

foram achados

"Esperamoslocalizarvestígios dealdeamentosjesuítas doséculo 16"Plácido Cali, arqueólogoresponsável pelo estudo

EPITÁCIO PESSOA/AE

Visitamos trechos daLinha 4 em obras. Luz,República, Butantãe Pinheiros têm entregaprevista para 2011

Vanessa CorrêaRodrigo Rocha

Quando os tapumes das obrasde revitalização do Largo da Ba-tata, emPinheiros, foremretira-dos,quempassarpelotrechoen-treasRuasFernãoDiaseTeodo-ro Sampaio poderá ver mais doque uma praça. Uma iniciativainéditanacidadeprevêaexposi-ção permanente de parte de umsítio arqueológico descobertonolocal,noiníciodoano.Duran-te os trabalhos, foramencontra-dos cerca de 40mil peças e frag-mentos de objetos do século 19.ChefiadapeloarqueólogoPlá-

cido Cali, a equipe responsávelpelo estudo do local planeja dei-xar no fim da revitalização par-tes do sítio arqueológico expos-tas e iluminadas. “Isso é impor-tante para mostrar às pessoasque existe história onde elas es-tãopisando”,afirmouCali.Aini-ciativa se assemelha às adotadaspor cidades como Roma e Ate-nas, que conciliaram a execuçãodeobras dometrô comapreser-vação de locais históricos.Segundo o projeto, os vestí-

gios estarão visíveis em trêsáreas do sítio, cada uma com 2metrosquadrados.Omaterialse-rá cercado e coberto por placasde vidro, que estarãononível dosolo. A proposta já foi aprovadapelo Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional(Iphan) e pela SPObras, empre-sa da Prefeitura. “Nossa maiorpreocupaçãoé garantir que a ex-posição não causará danos aosvestígios arqueológicos”, disseRossanoLopesBastos,arqueólo-go do Iphan.Emsuamaioria,oscercade40

mil peças e fragmentos de obje-tos descobertos durante asobras em Pinheiros são louças egarrafas,oqueapontaparaaexis-tência de uma antiga taverna naregião. Todos os vestígios de-vem ser catalogados emantidosno Departamento do Patrimô-nioHistórico (DPH).Os trabalhos de revitalização,

que tiveram início em 2009, fo-ramsuspensospor40diasapósa

descoberta do sítio arqueológi-co. “O Iphan embargou a obra jáemandamento.Felizmente,nãohouvedanosaosítioporqueain-da estavam na fase de demoli-ção”, contouCali.As escavações no sítio de Pi-

nheiros foram encerradas emagosto,masoarqueólogoacredi-taquemaisdescobertasserãofei-tas quando oquarteirão entre asRuasCardeal Arcoverde eBalta-zarCarrascofordemolido.“Are-giãoabrigavaaldeamentosjesuí-tas no século 16. Esperamos en-contrar vestígios desses aldea-mentos”, disse.

Pesquisa. São Paulo tem 49 sí-tios arqueológicos, sendoque 31 foram descober-tos naúltimadécada.A pesquisa arqueo-lógicaemSãoPau-lo tomou fôlegonadécadade 1980e se consolidouem 2002, quandofoi aprovada a portaria do Iphanque tornouobrigatória a realiza-ção de pesquisa ambiental e ar-queológica antes da construçãode qualquer empreendimento.Aportariapossibilitouadesco-

berta de inúmeras peças e vestí-giosdaSãoPauloantiga.Adeter-minação, contudo, exige estudoprévio apenas em áreas maioresque900metros quadrados. “Ou

seja,áreasenormesnãosãoex-ploradas e isso pode resultarnadestruiçãodesítios impor-tantes por falta de conheci-mento”, afirmouCali.O maior desafio enfrenta-

dopelosarqueólogoséapres-sãodosdonosdosempreendi-mentos, que não querem versuas obras paradas por umlongo tempo.

RamonVitralRicardo Santos

Osistemadecombate a enchen-tes emSão Paulo está em xeque.Apesar do investimento de R$421 milhões na ampliação e nalimpeza do sistema de drena-gemem2010, 36%maior do queno ano anterior e sete vezes ovalorinvestidoem2004,asauto-ridades admitemqueas estrutu-ras poderão ser insuficientes napróxima temporada de chuvas.Atualmente,aPrefeiturareali-

za 88 intervenções em áreas derisco. Focos de problemas em2009,asBaciasdoRioAricandu-va (zona leste) e dos CórregosPirajuçara(zonaoeste)e Ipiran-ga (zona sul) sãoprioritárias.OsbairrosJardimRomanoeJardimPantanal (zona leste), alagadospor mais de 50 dias no início doano, tambémpassampor obras.Omunicípio aindaadministra

19piscinões,maisde4mil quilô-metros de galerias e 400mil bo-cas-de-lobo. Mesmo com todaessa estrutura, o diretor daDivi-são de Obras de Águas Pluviaisda Prefeitura, Ariovaldo Lopes,não descarta novas inundações.“Nunca sabemos, mas acho queo que aconteceu no início de2010 pode se repetir.”A fragilidade da estrutura da

Prefeitura ficou mais evidentecomoSistemadePrevisãoeAler-

tadeEnchentes. Inauguradoemsetembro,cruzadadosmeteoro-lógicos e de redes de monitora-mento de água e deveria preverinundações duas horas antes.Mas, em 25 de outubro, falhou enão previu um transbordamen-to em Americanópolis, na zonasul, que causou duasmortes.Responsávelpeloplanodedre-

nagemdacidade,de1998,oenge-nheiroAluísioCanholi reitera aslimitaçõesdeSãoPaulo. “Tenta-mosreduzir a frequênciadasen-chentes,mas quemmora nabei-ra do rio está sujeito a elas.”

Saída. As galerias foram priori-dadeaté1995,anodeconstruçãodo piscinão do Pacaembu, o pri-meiro dos 19 da cidade. Os im-pactos ambiental e urbanísticosãoasprincipaiscríticasdeespe-cialistas a essas estruturas, comaté 30 metros de diâmetro. Se-gundo o ex-professor da EscolaPolitécnica da USP Júlio Cer-queira, uma falha nos piscinõesteria consequênciasmais gravesdo que um problema em gale-rias, pois eles acumulam a água.ParaÁlvarodosSantos, geólo-

godoInstitutodePesquisasTec-nológicas do Estado de SãoPau-lo, piscinões e galerias são solu-ções invasivas e caras. “O idealseria que ao menos 15% de cadabacia hidrográfica urbanizadafosse coberta por bosques.”

AmonBorgesGustavo AleixoIvanMartínez

Atemperaturacaigradativamen-te conformese segueaté aplata-forma. Filtrada pela imensa cla-raboia, a luz externa acompanhao trajeto de descida, de cerca de40 metros de profundidade. Láembaixo,fios,cabos,equipamen-tos, cheiro de cimento fresco euma fina poeira cobrindo piso eparedes da futura Estação Luzda Linha 4-Amarela doMetrô. Aestruturaestáquaseprontaparareceber os passageiros em 2011.Na superfície, os que passam

pela Luz podem ver um canteirodeobrascompoucamovimenta-ção. Atualmente, trabalham alimenos de 10% dos 8.500 operá-riosquechegaramaparticipardoprojetodaLinhaAmarela.Eleses-tãona fasedeacabamento:mon-tamescadasrolantes,checamtú-neis e outras instalações.Operários na Estação Butantã

trabalham em bloqueios de vi-dro, que substituem as catracas.Comasparedes forradasporpe-ças retangulares metálicas, oacesso principal recebe os últi-mosretoques.NaEstaçãoRepú-blica, o vaivém de funcionáriosse concentra na plataforma, on-deestão sendo instaladas portasde vidro à beira dos trilhos. Sãoas mesmas usadas nas EstaçõesFaria Lima ePaulista, emopera-ção desde maio. Abrem em sin-cronia com as portas dos trens.O teto e as paredes brancos e

osladrilhosverdesdanovaEsta-ção República confirmam o pa-drão clean adotado na Linha 4 –

visualbemdiferentedoambien-te escuro das estações antigas.Ocontrasteficaevidentenapró-pria República, onde o preto dopiso emborrachado e o cinza doconcreto das paredes predomi-nam na parte velha. Na Luz, osambientes também são claros,masoquemudaéacordaspilas-tras, revestidas de vermelho.

Com atraso. Por causa de umdeslizamento em 2007, o proje-to da Estação Pinheiros sofreuatraso.Oacidenteabriuumacra-tera de 80metros de diâmetro e30metrosdeprofundidadeema-tousetepessoas.Hoje,aestação,cujo acesso tem formato circu-lar, está na fase final das obras.AinauguraçãodeLuz,Repúbli-

ca, Butantã e Pinheiros está pre-vista para 2011. Inicialmente asseis estações da primeira fase daLinha 4 estariam abertas até ofim deste ano. Delas, só Paulistae Faria Lima foram entregues,mas operam em horário reduzi-do, das 9 às 15 horas. Em quasesetemeses,maisde1,5milhãodepessoas passaram pelas duas –cercade12milpordiaútil.Segun-do a ViaQuatro, concessionáriada linha, com o fim da primeirafase, o número diário de passa-geiros deve chegar a 750mil.

Toquemarcante.Na parte nova da Luz, a claraboia garante iluminação natural, realçada pelo teto e pelos ladrilhos brancos

RAIOX

%HermesFileInfo:H-6:20101211:H6 Especial SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO

Page 7: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

FOCAS

� Em famíliaA babáMaria José(na foto, de vermelho)divide o quarto de pensãoe o aluguel com afilha Andréa (à esquerda)e o filho Rodrigo.A tia deles, Maria Lúcia,(à direita) tambémmora no porão

� CantinhoO pequeno cômodo de tetobaixo acomoda geladeira,fogão, TV e computador.No colchão de solteiroencaixado no centro doquarto, dormemNalvae a filha, Érica, entre ursosde pelúcia e pôsteres doRestart e do Daniel

SEMJANELA

DaParaíbaparaosporõespaulistanos

Históriasdequemconheceavidaembaixoda terra

URBANISMO

MoradoresaprovamOperaçãoLapa-Brás

Cidadesenterramtrilhosparamudarentornoemelhoraro transporte

ALTERNATIVA

DANIEL TEIXEIRA/AE

Subterrâneos de antigoscasarões da regiãocentral viraram comércioou pensões para famíliasde baixa renda

FOTOS LUCAS SAMPAIO

Herança portuguesa, os porõesimpediam o contato do assoalho demadeira com a umidade do solo,evitando omofo emantendoa temperatura amena. Depois dastécnicas de impermeabilização,deixaram de fazer parte dosprojetos arquitetônicos da cidade

“No começoa gente ficacommedo.Depois, sabecom quemcontar”Nalva Pinheiros,diarista

Henrique BolgueMarina Estarque

Enquanto ainda se discute a via-bilidade do projeto de enterrar12quilômetrosdeferroviadaLa-paaoBrás, cidadesnoBrasil enoexterior já se beneficiam de ini-ciativas semelhantes. Trilhos eestações foram para o subterrâ-neo em cidades como Maringá,no Paraná, e Turim, na Itália.Com a expansão urbana, a ci-

dade paranaense viu-se divididapela linha férrea. Os cruzamen-tos atrapalhavam o trânsito hátempos–ocontratoparaaexecu-ção do aterramento é de 1995.A princípio, pensou-se em

afastar a linha do centro, levan-do-a para a periferia.Mas a ideiafoi deixada de lado ao ver o queaconteceu na vizinha Londrina,que seguiu esse caminho. “Uma

horaacidadeacabaengolindotu-do de novo”, afirma EdsonCan-tadori,assessortécnicodaUrba-mar,quecuidadasobrasemMa-ringá. A solução encontrada foicriar um túnel para que o trechode 1,6 quilômetro de ferroviasaísse da superfície.A italiana Turim também era

cortada por várias linhas. O pla-no para enterrá-las surgiu em1990 e seria concluído em 2006,quando a cidade serviu de sedeparaOlimpíada de Inverno.Nãofoi possível,mas hoje já há 4 qui-lômetrosdetúneisemoperação,o equivalente a 75% do projeto.No lugar da ferrovia, abriu-se

um bulevar arborizado, comáreas para pedestres e ciclistas.Os moradores aprovam a mu-dança, que criou um espaço deconvivência. “Ao planejar umquarteirão o que importa nãosão os prédios, mas o que estáentre eles”, diz o secretário deDesenvolvimento da cidade,Franco Corsico. O projeto usou�3bilhõesdainiciativaprivada–oequivalente aR$6,7 bilhões –e� 1,3 bilhão do governo – cercade R$ 3 bilhões.

Financiamento. Essas iniciati-vas envolvem grandes quantias.Mas para o secretário-geral doComitê de Espaços Subterrâ-neos Internacional, Jean PaulGodard, é preciso ver além. “Secontarmos as expropriações, aduraçãodasestruturasnasuper-fície, manutenção e compra deterrenos, fica mais barato.” Oque não impede rombos.Em Buenos Aires, um projeto

para enterrar 32,6 quilômetrosde ferrovia temproblemas de fi-nanciamento.Anunciadoháseisanos, com custo de 138 milhõesdepesos–cercadeR$55milhões–, está parado desde 2008. Sóagoraogovernopagouumadian-tamento ao consórcio da obra.Emsituaçãomelhor está Seul.

Desde 1974 tem metrô e contacom340estações.Mas, com23,2milhões de habitantes na regiãometropolitana,acidadetempro-blemas constantes de trânsito.Para resolvê-los, discute criar145,5 quilômetros de linhas detremdealtavelocidadenosubso-lo. “A ideia é facilitar o acesso aoentornoda cidade”, diz o prefei-to de Seul, Oh Se-hoon.Mudança.Prefeitura quer esconder 12 km da linha férrea

Diversão no subsolo.Atrás de uma porta pintada em estilo oncinha, um forró se esconde sob uma churrascaria do Bexiga

Nopassado

Com trens no subsolo,Maringá e Turim ganhambulevares. Seul considerater linhas sob a superfíciepara combater o trânsito

Érica SaboyaFláviaMaia

Nalva Pinheiros e Maria José deSousa não se conhecem. MariaJosé pisou em São Paulo há 17anos e aos poucos foi trazendoparte da família. Nalva chegouem1996,umanodepoisdomari-do, que já foi embora, levandoum filho do casal. Com ela ficoua caçulaÉrica e a eterna vontadede voltar a reunir as crianças.Nalva nasceu emPombal.MariaJosé,emLagoaGrande.Duashis-tórias que começam no interiorda Paraíba e encontram abrigonos porões do centro.Elas fazem parte do pequeno

exército que dá vida a espaçosantes usados como depósito dequinquilhariaseantigasrecorda-ções de família. Habitam pen-sões como a que Eknatios Abda-la, de 75 anos, montou na RuaMajor Diogo. Ele herdou a casade um tio e, até quatro anosatrás, não sabia o que fazer como imóvel. Foi quandodecidiu re-formaroporãoealugarparapes-soas vindas do “Nortinho” – co-mo se refere ao Nordeste e aoNorte do País.Comquarto, cozinha, banhei-

ro individual, janela e revesti-mentocerâmico,apensãodeAb-dala está entre as melhores doBexiga. Talvez por isso, o preçoseja omenos acessível da região.A babá Maria José divide os R$630mensaisdoaluguel eoúnicoquarto comos dois filhos.Tambéméemumporãoque a

paraibana de 41 anos se diverte.Nos fins de semana, costuma ircomosamigosaoforróqueacon-tece debaixo da churrascaria darua.Oambiente simples daTrêsIrmãos contrasta com a portaque dá acesso ao forró, pintadade lilás e preto, no estilo onci-

nha. “Gostode lá,mas aindanãovoltei depois da reforma”, contaMariaJosé.Comcertodesprezo,a filhaAndréa,de 19anos, chamao local de “buraco da barata”.Já Nalva, de 35, prefere não

sair à noite para não deixar a fi-lha de 11 anos sozinha. A violên-ciaquevênaTVmetemedo.Mes-moassim,prefereavidaemCam-posElísios àque levavana favelade Carapicuíba, onde moroucom o marido. Aqui divide comosmoradoresobanheiroeacozi-nha.Elaéfaxineiradetodaapen-são e de outra do mesmo dono,que desconta do pagamento osR$ 290 de aluguel. “Aqui (no po-rão)étipoumafamília.Nocome-ço a gente fica com medo, nãosabequeméquem.Depoisagen-te sabe comquem contar.”

Sem privacidade. Na vida deporão é difícil manter segredos.A casa sempre está de portasabertaspara ventilação.As áreascomunsajudamacriar laçosafe-tivos ou de inimizade. Nalva jáfoi parar na delegacia quandoumcasalquasesematounoquar-to ao lado.Maria José temmedode viver comumamoradora queenlouquece na lua cheia.Maria acredita em Deus. Nal-

va, também–ealgunsdizemquea diarista é capaz de prever o fu-turo.Aindaquetenhaodom,seudestinoé aindaumdesejo: reen-contrar as pessoas que deixouna Paraíba.

Felipe FrazãoGustavo Coltri Skrotzky

À noite, a movimentação dimi-nui nocentro antigode SãoPau-lo.Faz frio.NaRua15deNovem-bro, na frente da sede da Boves-pa, moradores de rua abrem osbueiros, um a um, e mergulhamos braços lá dentro. Nas bocas-de-lobo, guardam seus perten-cesmais valiosos.Com pressa, quem passa por

ali nem repara. Basta um olharmaisatentoparavermantas,col-chões e roupas serem retiradosde sacos plásticos. Atualmenteservem de armário, mas houveumaépoca emqueesses bueirosabrigavam gente.

Perto dali, ao lado da escada-ria de acesso à Catedral da Sé,José Renato, de 30 anos, apontapara o chão: “Esse bueiro salvouminha vida.” Ele tem 19 anos deruae,porduasvezes, se refugiouemuma saída de esgoto porme-do de violência.Zé, como é conhecido,mostra

como fazia: agacha-se, mete osdedos entres as frestas da gradede ferro e joga o corpo para trás,levantandoatampa.Algumasba-ratassaemdesorientadas.Umfi-lete de água surge no fundo. Oburaco tem menos de 1 metroquadrado. “Eu colocava plásticoe colchão para forrar e tentavadormir. Mas hoje ninguémmaisdorme embueiro por aqui.”

Omesmonãopode serditodagaleriapluvialsobaAvenidaIna-jar de Souza, na zona norte. Sô-nia, de 25, mora em uma tendaimprovisada,4metrosabaixodoasfalto. Dependente de crack,não sabe nadar, mas resolveu seabrigar no local há um ano.ASecretariadeAssistênciaSo-

cialdomunicípionãosabeinfor-mar quantas das 13.666 pessoasem situação de rua vivem comoSônia, sob a terra.“Elascostumamsermarginali-

zadas pelas outras, porque sãoegressas do sistema penitenciá-rio, viciadas ou tem problemasmentais. Às vezes, se isolam pormotivos particulares”, diz ÁtilaPinheiro, um dos coordenado-

res do Movimento Nacional daPopulação de Rua.

Túmulo. Há 15 anos, Cleonice,de 53, vive em um cemitério deSão Paulo. Entra e sai dos túmu-loscomoquemsesenteemcasa.Lá,elaconsegueabrigoeunstro-cados.Abaixaestaturaeamagre-za facilitamasdescidas às covas,a cerca de 2metros de profundi-dade. Em tumbas abandonadas,guarda um saco de roupa, umabolsinhaderemédioseduasvas-souras. Ela ganha dinheiro lim-pando vielas e covas, enquantosonhaem irpara a cariocaCopa-cabana. “Não preciso de muito.Uma casinha está bom”, diz. /

COLABOROU DANIELA SCHMID

AmonBorgesGustavo AleixoIvanMartínez

AsaudiênciaspúblicasdaOpera-ção Urbana Lapa-Brás devemocorrerno iníciodoano.Mesmosem conhecer integralmente apropostadaPrefeitura–quepre-vê enterrar 12 quilômetros da li-nha férrea que liga os bairros –,moradores e comerciantes jáaprovam amudança.O empresário Edélcio Tostes,

de60anos,trabalhanaRuaGuai-curus, perto da Estação Lapa,bairroondemoradesde1975.Eleconheceu a proposta pelos jor-nais e considera importante termais opções de cultura na re-gião. “Um novo teatro e lugarespara exercícios seriam ótimos.Sou favorável à proposta, desdequeosproblemasde trânsito se-jam resolvidos.”FernandoMiranda,de25,tam-

bém sente falta de equipamen-tos esportivos próximo do Ter-minal Rodoviário Barra Funda.“Temospoucasquadras e asqueexistem são particulares”, afir-mao estudante, que faz faculda-

de ali perto emora na Lapa.Com o projeto, a Prefeitura

promete revitalizar a região en-tre osdois bairros, comumavia-parque, ciclofaixas e bulevares.Pertodos trilhos, galpões indus-triais e grandes construções, co-mooMemorial daAméricaLati-na e o Mercado da Lapa, são co-muns, transformando algumasruas em locais de passagem.Desiludido após impressio-

nantes 28 assaltos, o portuguêsManuel Luiz de Gouveia, de 69,não crê no sucesso da iniciativa.

EletemumbarnaRuadaVárzea,perto do Viaduto Pacaembu –área comlixo acumulado, picha-ções e pouco movimento. “Es-touaquihá 36anos eescutopro-messasdessetipodesdequevimpara o Brasil.”

Opostos. Entre especialistas, oprojetonãoéunanimidade.Paraa arquiteta e professora da Uni-versidadedeSãoPaulo(USP)Re-ginaMeyer, enterrar a linha é sóuma das alternativas. “É muitocaro. Temos soluções em todo omundo onde o transporte sobretrilhos fica no nível da rua.” Já oengenheiro e presidente do Co-mitêBrasileirodeTúneis,Tarcí-sioCelestino,aprovaaproposta.“Nuncavi umprojetonascer tãobem concebido como esse.”

%HermesFileInfo:H-7:20101211:O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 Especial H7

Page 8: Sob nossos pés - O Estado de S. Paulo - dezembro de 2010

1965AlargamentoAPrefeitura propõe alargar aAvenida Paulista, rebaixandoa pista e eliminando oscruzamentos para facilitar otráfego de veículos

1967Túnel e bulevaresOprojeto sofremudanças. Éadotada a versãodo arquitetoNadirMezerani, emqueoleitodos automóveis seriaenterrado emumtúnel,abrindo espaçoparabulevares acima

1973InterrupçãoAs obras, que haviamcomeçado no fim da décadade 1960, na gestão doprefeito Faria Lima, sãointerrompidas quando oprefeito Figueiredo Ferraz,presidente de uma dasempresas do consórcio, éexonerado

1974ConclusãoApós o novo prefeito, MiguelColasuonno, descartar aexecução do projeto original,apenas o alargamento daavenida é concluído

FOCAS

MEMÓRIADaniela Schmid

N a década de 1950, o tú-nel subterrâneoque li-gaoHospitaldasClíni-cas (HC) ao Instituto

deVerificaçãodeÓbitos,emCer-queira César, provocava medonos enfermeiros. Encarregadosde levar os mortos para examesno prédio ao lado, eles viam asluzes se apagarem de repente eouviamvozes. Sóquenadadissoera obra do sobrenatural: Ma-nuel Fabiano, coordenador deEngenharia de Manutenção doHC, passou 58 dos seus 82 anosno hospital e fazia a brincadeirapara assustar os colegas.Construído nos anos 1940, o

túnelaindaéusadopelosfuncio-nários.Oatendentedeenferma-gem Sebastião Donizetti, há 31anos no hospital, lembra que fi-cou temeroso ao entrar ali pelaprimeira vez. Agora circula porlá duas vezes por semana, para

verificaras lâmpadasea limpezado espaço. “Se existe fantasma,ele temmedo demim.”Em outras regiões da capital,

passagens semelhantes contammaiscapítulosdahistóriadeSãoPaulo.AbaixodoprédiodasRon-dasOstensivasTobias deAguiar(Rota), por exemplo, uma rede

decaminhosfoiabertanofimdoséculo 19 para levar criminosospara quartéis vizinhos. Trechostiveramdeserdestruídospeladi-ficuldade de conservação ou pa-ra construir ometrô e prédios.A parte que ainda existe virou

umaespécie dememorial daRo-ta. Os tijolos originais, trazidos

da Itália, foramconservados, as-sim como a antiga estrutura dascelas e peças de época.É possível visitar o túnel com

agendamento prévio – informa-ções pelo telefone 11-3327-7062.ORoteiroCulturaldaPolíciaMi-litardoEstadodeSãoPaulopre-vê também a ida a outros quar-téis e espaços culturais, como aPinacoteca e oMuseu da PolíciaMilitar. A cada sábado, é organi-zadaumavisita gratuitadiferen-te, que inclui um ou dois quar-téis e um centro cultural.

Lendas. No Mosteiro de SãoBento, nocentro, existeumsub-solo comuma área de trabalho earquivos doColégio de SãoBen-to.Olocaléligadoaalgunscômo-dos e ao jardimdo prédio do iní-ciodoséculo20,masmuitashis-tórias falam de trilhas que leva-riam a outras igrejas e a lugaresestratégicos da região central. Aassessoria de imprensa do mos-

teiro sabe da existência dashistórias,mas afirma que nãopassamde lendas.Muita imaginação também

rondaoTeatroMunicipal.Di-zemquetúneisteriamsidofei-tos até hotéis do entorno, pa-rapermitirqueartistasentras-sem e saíssem sem ter conta-to com o público. A arquitetadoDepartamentodePatrimô-nio Histórico da Prefeitura,Rafaela Calil, porém, garanteque as passagens levam ape-nas até a Praça Ramos e sãousadas para ventilação.Maspodemdefatoterservi-

do de caminho para divas deoutros tempos. “Não há com-provação, mas pode ser queelas saíssem de algum hotelna região, fossematéotúnel eentrassempor ali”, diz Rafae-la.Se forverdade,assimcomoas divas, os túneis da cidadeaindamexem com a imagina-ção e despistam os curiosos.

PATRIMÔNIO

R$62milhõesesquecidosnaPaulistaCRONOLOGIA

EntendaoNovaPaulista

Entrefantasmasedivas

Deacesso restrito,antigos túneisguardam lendase capítulos da históriadeSão Paulo

"Isso é umabacaxi. Porque vou gastardinheiro emalgo que jáfoi nosso?"Vilma Peramezza, gerentedoConjuntoNacional

É quanto podem valeras 22 galerias que ficamdebaixo da avenida; áreasestão abandonadasdesde a década de 1970

Seguro.Donizetti no túnel do HC: semmedo de assombração

Érica SaboyaFelipe TauFláviaMaia

Quemtentaestacionarouprocu-raumimóvelna regiãodaAveni-da Paulista sabe que o espaço alié negociado a preço de ouro porcausadaescassezdeáreasdispo-níveis. Por isso é difícil imaginarque abaixo dos milhares de pésque transitam diariamente poraquelascalçadasexistam22gale-rias abandonadas.Mapeamento realizado pela

antigaEmpresaMunicipaldeUr-banização(Emurb),atualSPUr-banismo,mostraqueessesespa-ços no subsolo variam de 26 a2.440 m², somando cerca de 13mil m². Como o preço dometroquadradodedepósitossubterrâ-neosna região fica entreR$3mileR$5.300,deacordocomavalia-

çãodaEmpresaBrasileira deEs-tudos de Patrimônio (Em-braesp), a Paulista guarda nes-sas galerias um patrimônio quechegaria a R$ 62 milhões, se asáreas estivessem em bom esta-do. Os espaços estão deteriora-dos e precisam de reformas.Hoje essas galerias são públi-

cas,mas nenhumdepartamentoda Prefeitura soube informarquem é responsável por elas. Osdados sobre a existência ou nãode projetos de uso do local sãocontroversos e a assessoria deimprensa da Prefeitura evita co-mentar o assunto, alegando quenada pode ser feito ali.Resquício do projeto Nova

Paulista, de 1967, as galerias se-riam usadas como parte de umtúnel a ser construído sob a ave-nida.Naépoca, avia foi expandi-da em 10 metros de cada lado,passando de 28 para 48 metrosde largura.Comorecuodospré-dios, as entradas e as instalaçõessubterrâneas – a maioria gara-gens – foram desapropriadas,dando origem a bolsões. Eles fi-caram abandonados após a sus-pensão das obras, em 1973.

Só em 2004, por iniciativa daAssociação Paulista Viva, o usodo espaço voltou a ser discutidocom a Prefeitura. No entanto, ocomitê técnico formado não se-guiuadiante,porcausadadificul-dade de achar solução viável.Oinvestimentonecessáriopa-

ra o uso dos espaços é um dosprincipaismotivosdasdivergên-ciasquantoaodestinoaserdadoaeles.Os37anosdedescasoleva-ram à deterioração. Para se des-cer à galeria doConjuntoNacio-

nal, por exemplo, foi preciso au-xílio de brigadistas.Aberta a tampa do bueiro na

esquinadaRuaAugusta,oquesevê é umburaco escuro e a poucaluz que entra ilumina uma esca-da de cerca de 4metros. Àmedi-da que se caminha, a luz da lan-terna mostra restos de constru-ção,desenhosnasparedeseesta-lactiteseestalagmitesquesefor-maram com as infiltrações. Ocheirodemofo, o somdas gotei-ras e a sensaçãode tremorquan-do o metrô passa completam ocenário de abandono.

Impasse. Para a recuperação, adiretora de PaisagemUrbana daSP Urbanismo, Regina Montei-ro, é a favor de parcerias com ainiciativa privada. Segundo ela,as áreas poderiam ser transfor-madas em lojas, estacionamen-tos ou galerias de arte. “A gentecedeoespaço,elesfazemarefor-mae,emtroca,podemexporsuamarca.”APaulistaViva tempro-posta semelhante. “Até consul-tei a Secretaria de Turismo deSão Paulo para propor um espa-ço de convenções debaixo do

ConjuntoNacional”,dizadireto-raMarly Lemos.Porém, a viabilidade da solu-

ção é questionada pelos empre-sários. A gerente-geral do Con-junto Nacional, Vilma Perame-zza, afirma não ter interesse naárea. “Issoéumabacaxi.Porqueeu vou gastar dinheiro em algoque já foi nosso?” A síndica sequeixa de que a galeria dá gastosparaocondomínio, comreparosde infiltração e limpeza do local.“Émais barato aterrar.”Para o arquiteto responsável

peloNovaPaulista,NadirMeze-rani, o projeto ainda é tecnica-menteviável e as áreas sódevemser usadas se ele for retomadoem sua totalidade. O presidenteda Construtora Figueiredo Fer-raz, João Antonio del Nero, quetocavaaobra, tambémdefendearetomada da proposta.Segundo a Paulista Viva, das

22 galerias, pelo menos 9 estãoocupadas irregularmente porprédios e lojas. A SP Urbanismonão descarta ocupações ilegais.“Quando a Prefeitura fizer umnovo cadastro, vai achar até oqueDeus duvida”, diz Regina.

FOTOS LUCAS SAMPAIO

Deterioração.No subterrâneo,mofo e goteiras

Par

que

Tria

non

Bel

aC

intr

a

Had

ock

Lobo

Aug

usta

Aug

usta

Cam

pina

sC

ampi

nas

Bri

gade

iro

Luís

Ant

ônio

Bri

gade

iro

Luís

Ant

ônio

Pam

plon

aP

ampl

ona

13 de maio

Con

junt

oN

acio

nal

AV. PAULISTA

MASP

ONDE FICAMGALERIAS

irororooo nioinoionanaaboboo

LuLLL

22galerias

subterrâneas

TOTAL

%HermesFileInfo:H-8:20101211:H8 Especial SÁBADO, 11 DE DEZEMBRO DE 2010 O ESTADO DE S. PAULO