Sítio do Picapau Amarelo e a Folkmídia

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Literatura Oral na Indústria de Massas – Uma Abordagem Folkmidiática d’O Sítio do Picapau Amarelo Márcia Gomes Marques – UFMS Andriolli de Brites da Costa - UFMS

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Literatura Oral na Indústria de Massas - Uma Abordagem Folkmidiática d’O Sítio do Picapau Amarelo. Trabalho apresentado no GT de Folkcomunicação do Intercom 2010 em Caxias do Sul

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Literatura Oral na Indústria de Massas

– Uma Abordagem Folkmidiática d’O Sítio do

Picapau Amarelo 

Márcia Gomes Marques – UFMSAndriolli de Brites da Costa - UFMS

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-Desde o seu surgimento, a indústria cultural buscou em outras manifestações artístico-culturais a inspiração para o surgimento de novos produtos.

-Uma dessas fontes, recentemente bastante revisitada, são as tradições orais. Mitos, Lendas, Fábulas e outros elementos da chamada literatura oral são atualizados e deslocados de suas histórias originais para dialogarem com um novo público.

- EX: Roberto de Souza Causo, J.M Modesto, André Vianco, Douglas MCT, Flávio Collin.

- No Brasil, o Folclore só se tornaria inspiração para as artes a partir do Modernismo (1922) * Lajolo.

- Mas em 1921, Monteiro Lobato já utilizava o folclore como base para os dois primeiros livros que iriam compor a série do Sítio do Picapau Amarelo.

Indústria Cultural e Literatura OralIndústria Cultural e Literatura Oral

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FolkmídiaFolkmídia- Entendendo Folkcomunicação como o modo como o povo se apropria dos meios massivos para se comunicar, temos nestas obras entre as quais o Sítio faz parte o contrário: os meios massivos se apropriando da cultura popular para gerar conteúdo, num processo Folkmidiático.

- Esse processo apropriativo não flui em uma única direção. Se é verdade que, com essa prática, os meios de comunicação massivos conseguem produzir novos conteúdos fundados nas narrativas populares, por outro o processo folkmidiático permite a perpetuação dessas histórias tradicionais que de outra forma ficariam restritas a seus ambientes. Assim, como propõe Beltrão:

- “Para a sociedade de massa, exige-se a comunicação maciça e coletiva que, utilizando diferentes instrumentos e técnicas, fornece mensagens de acordo com a identidade de valores dos grupos. (BELTRÃO, 2001, p. 54).”

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Monteiro Lobato – Agente FolkmidiáticoMonteiro Lobato – Agente Folkmidiático

- “Monteiro Lobato, como contador de histórias, traz os elementos populares como processo folkcomunicacional e os reflete através de seus livros, tornando-se um agente folkmidiático, responsável pela disseminação das narrativas em forma de obra literária”. (MARÇOLLA, 2009, p. 1).

- Filhos de Lobato: Através de sua obra que muitos conheceram os personagens folclóricos.

- Forma Simples X Forma ArtísticaConceito de Jolles (1976). A literatura oral pertence a forma simples, pois “apresenta uma linguagem que permanece fluída, aberta, dotada de mobilidade e de capacidade de renovação constante” (p. 195). Ela se opõe a forma Artística, que cristaliza a narrativa na versão literária de Lobato. Porém, assim, ela pode ser facilmente replicada, distribuída e consumida. Principalmente quando é transmediada para o audiovisual.

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Extensão do Contador de HistóriasExtensão do Contador de Histórias

- Os meios massivos vão promover a “morte da narrativa”? Não. Eles contribuem para sua propagação.

- Assim, é possível salvaguardar o conhecimento transmitido pela Literatura Oral (seu papel documental e educador), que de outra forma poderia ser perdido permanentemente com o passar do tempo.

- Se contar histórias era a forma de transmitir esse conhecimento, os meios passam a ser utilizados como substitutos da interação face a face e como forma de adquirir conhecimento sobre uma pluralidade de aspectos da vida social.

-Com o processo folkmidiático, os media de massa assumem o papel do contador de histórias, como uma extensão do narrador – em diálogo com a proposta de McLuhan (1995).

- O signo escrito no papel da página, pintado na tela dos quadros, gravado na pedra dos monumentos ou digitalizados sobre a tela líquida do computador ou sobre o intangível ciberespaço do presente midiático, parece ser entendido como memória mesma. Daqui, a história oficial e o arquivo, a biblioteca e o museu nacional, real ou virtual; dali, todas as outras formas de sacralização e armazenamento da memória ritualizada pelo poder que os seres humanos têm idealizado. (ACHUGAR, 2006. p.180)

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- O Saci: Furo nas mãos, enrola novelos de lã, gostava muito do número sete, tinha uma coruja como escrava e chupava sangue dos cavalos. Quando morria, virava orelha de pau.

- Lobisomem: No original, a fera é descrita como tendo o corpo do avesso: a carne para fora, e os pelos para dentro. Fora isso, era “um perfeito lobo”.

- A Mula Sem Cabeça: Tem sua versão alterada para a versão católica. O sofrimento da mula é tão grande que enlouquece todos que cruzarem com ela. O medo do Saci.

Adaptação e TransmediaçãoAdaptação e Transmediação

- Mitos Folclórico: jurupari, boi tatá, negrinho do pastoreio, porca dos sete leitões e o caipora. Excluídos.

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Considerações FinaisConsiderações Finais

- Ainda que por vezes considerados como os responsáveis pela morte da narrativa e pela aniquilação da cultura popular oral – componente das características identitárias de determinada região ou comunidade - percebe-se que, em uma visão menos apocalíptica, os meios de comunicação de massa exercem um papel fundamental na preservação das histórias da tradição oral. Esse papel se manifesta seja ao atuar como extensão da figura do contador de histórias, promovendo a disseminação social do conhecimento para um número muito maior de pessoas do que o texto original teria possibilidade de atingir, seja ao promover o arquivamento de mitos e lendas, salvaguardando – dentro do recorte escolhido - sua função educadora/reguladora.