sitientibus 16 · 2006-12-18 · No entanto, deixo ficar no retrato ... Tomou um banho demorado e,...

29
131 Sitientibus , Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./jun. 1997 Entre esses homens sem grande apetite pela poesia, que não conhecem a necessidade dela e que não a teriam inventado, quer o infortúnio que figure uma quantidade desses cuja tarefa ou destino é julgá-la, discorrer sobre ela, estimulá-la ou cultivar o gosto por ela; e, em suma, distribuir o que eles não têm. A isso dedicam, com fre- qüência, toda a sua inteligência e todo o seu zelo: e disso podem resultar conseqüências temíveis. - Paul Valéry -

Transcript of sitientibus 16 · 2006-12-18 · No entanto, deixo ficar no retrato ... Tomou um banho demorado e,...

131

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

Entre esses homens sem grande apetite pela poesia, quenão conhecem a necessidade dela e que não a teriaminventado, quer o infortúnio que figure uma quantidadedesses cuja tarefa ou destino é julgá-la, discorrer sobreela, estimulá-la ou cultivar o gosto por ela; e, em suma,distribuir o que eles não têm. A isso dedicam, com fre-qüência, toda a sua inteligência e todo o seu zelo: edisso podem resultar conseqüências temíveis.

- Paul Valéry -

132

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

ÂNGELA VILMA *

E T E R N O

Sei em ti tempos antigos

quando me trazias, entre os dedos

os sonhos di luídos de tua voz.

Sei em ti muito mais que isso.

Sei a imensidade do teu sorriso

e a dimensão desse saber.

* Nasceu em Andaraí (BA), 1967. Estudante do Curso de Letras e Artes(UEFS). Publicou Beira-Vida (1990) e Poemas Escritos na Pedra (1994). Tem trabalhosnas revistas Hera, Olho D’Água e Sit ientibus n.10.

133

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

S O L I L Ó Q U I O

estou vazia como quem abre a porta e a janela só.e abre a janela e a porta qualquer.janela e porta devagar.como quem não quer acordar os cães.como quem não quer acordar os pais.como quem não quer acordar os cães e os pais.nem os pais nem os cães.e os bebês assustam com os grasnidos.

e os homens com soltos gemidos.as mães consultam seus corações.são sensações febris e aniquiladas.vozes somadas diminuídas multiplicadas.mãos desenhadas com emes perfeitos

é o jeito fechar a porta e a janela só.e fechar a janela e a porta assim.janela e porta, devagar.sem um choro de cães e crianças perdidas.como quem não quer acordar o mundocomo quem não quer acordar a i lusãocomo quem não quer acordar o mundo e a i lusão.este casal de cargas elétr icas.este casal de camas concil iadas.este casal incompatível, sei não.

estou vazia e abro e fecho portas e janelas só.uma ressonância qualquer um som tr ivial.o meu carnaval é esta assimilaçãode verbos e perdição.

minha alma no batente da portaaçoita um vento moribundo e sensatoque bate com força a porta e a janela.

134

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

ANNE CERQUEIRA*

BALADA DE INVERNO

Surpreende-me o tom cinzento

e espesso

sobre mim, os móveis, sobre os sonhos,

soçobrando no sono já escasso.

E por onde passo só ele me acompanha

(companheiro mudo)

em uma aquiescência impenetrável

ao meu cansaço de tudo.

* Nasceu em Feira de Santana(BA). Formada em Letras pela UEFS, atua naárea de jornal ismo. Publicou o l ivro Rua dos espelhos . Tem trabalhos em jornais erevistas da cidade. Part icipou de Sit ientibus n. 10.

135

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

PELO AMOR DE UM DEUS

O prato está vazio, porém a fome

também é de pratos vazios e borda

estranhas e frágeis alegorias.

Mas essa fome alegórica não é f lor

ou pão.

carne. Centúria. Frases. É chama

e consome

inflamáveis serafins.

136

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

FRANKLIN MAXADO*

ZUMBI DOS PALMARES.. . DOS ÍNDIOS(para os 300 anos do herói)

um salto para o exemplona afl ição do tempouma morte para a vida da raça.o navio negreiro no oceanode terra da serra da barriga.o negro no país-quilombolibertado, soberanojunto aos brancos,colonos explorados,ao lado dos índios das palmeirasque guiaram e seguiramos negros pelas selvasdo novo mundo.

zumbi é herói!Traidores, invejosos e covardes,sempre havê-los-áe a história aí também nãose desmente...

zumbi é mártir!zumbi é alma atormentadorapara gananciosos e desumanos.é Vodum que ainda assombra.

zumbi é deus!

*Feirense, autor de vários trabalhos (ensaios, poemas e folhetos de cordel).Diretor do Museu Casa do Sertão e Centro de Estudos Feirenses da UEFS. Vice-pre-sidente da Academia de Letras de Feira de Santana. Os poemas aqui publicados foramextraídos do l ivro Negramafricamente.

137

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

maja, mágica!maga, magna!imagemimagnética!imaginomulher de fogo,carne solarada,cabrocha caboclada,crioula caldeada.

sonho, delirodade a ibéria,atavidealista.

(maga!Magna!mágica!MAJA ENCARNADA!)

pulsa tudo:arianusitanidade.sionarabismo.asiafrindiada.mistifantasiana ginefagiada maja encarnada.

mania de misturadum povo adoradorda aven(m)preturaque no brasilabrazou-seaportugalando

na mulata!

138

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

GEORGE LUIZ GOMES LOPES *

E N I G M A

A manhã sangrenta

brota entre meus dedos

aos olhos do tempo.

Um breve regresso?

Uma dádiva?

Uma solidão?

O instante que perdura

um crepúsculo de ouro

soturno.

*Nasceu em Salvador (BA), em 13/7/70. Estudante do Curso de Letras e

Artes(UEFS).

139

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

S A U D A D E

Entre os olhos baixos

enterro que passa enfeita

os versos de um dia morto.

As f lores murcham num dia

de adeus

na palavra uma lágrima

pranto de quem se perdeu.

140

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

JECILMA ALVES *

ÀS SEIS DA TARDE

Ardem em mim

os sonhos todos de perfeição

os desígnios e o dedo de deus

que aponta o meu nariz.

Ofereço com mãos úmidas

o si lêncio quebrado que invade

a certeza do medo

a saia de bailar rasgada.

Trezentas mães chorariam se vissem

meus trezentos corações dilacerados.

*Nasceu em Feira de Santana (BA). Ex-aluna da UEFS. Professora deTeoria da Literatura (UEFS). Tem trabalhos publicados nas revistas Bocapio I e II e OlhoD’Água.

141

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

DAS RELAÇÕES

Porque me pediu um rio

e eu o f iz f luir,

não esquece.

No entanto, deixo f icar

no retrato

seus olhos de bri lho d’água

sua garganta de areia.

142

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

JOSÉ JERÔNIMO DE MORAIS *

R E T R A T O S

Como calam

os retratos

o que diziam

no instante

a luz e a sombra

e como escalam

por dentro

as cordilheiras

dos sentimentos

que ainda pulsam

quasares de saudades

ou de sonhadas premonições

*Nasceu em Itamaracá (PE), em 14/4/31. Professor de Latim, do Dep.deLetras e Artes (UEFS). Tem trabalhos publicados em Sit ientibus . Os poemas publi-cados, neste número, foram extraídos de Parlendas.

143

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

R O S A S

Brancas:

botões de neve

nas morenas mãos

de uma bem mais menina

que entre-aberta rosa

perfume de uma manhã

mais de leite-nuvens e pétalas

que maçãs ruborizadas

de sóis que ‘ inda pernoitam

em recônditos mares

do outro lado, do lado de dentro

abaixo, na l inha do horizonte

que de si a consciência

ainda não tomara...

Tomara que tarde

o instante instinto dos espinhos

que do prazer alheio

ferem e desfazem o riso

da alegria parti lhada

somaticamente,

oh psiqué!

144

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

LUIZ DE LA ORDEN *

CANÇÃO DE AMOR APLACADO

Há longo as vistas são cegas

e o coração, duro

auscultado pelos cupins

demônios que nos devoram.

Se ao longe contemplo a vinda

se aos poucos esqueço aberta

a janela gotejante de teus olhos

são teus olhos, pequena, não os meus.

Pois há longo endureceu-se às vistas

e há muito o coração é cego.

*Nasceu em Salvador (BA), em 9/9/73. Reside atualmente em Feira deSantana (BA). Estudante do Curso de Letras e Artes (UEFS), tem trabalhos publicadosnas Revistas HERA e Olho D’Água .

145

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

MINUTO DE PRAZER

Um poço profundo: umbigo

flutuante entre brumas de chumbo

desfazendo-se no l imbo, na língua

e o mundo desdobra-se, sossobra

em suspiros e lágrimas

e ninguém nota que estamos rindo.

146

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

MAÍSA BISPO *

A GRANDE NOITE

Quem conhecia Nadir não conseguia entender o motivo de sua mudançarepentina, justamente na festa de São João.

Acordou cedo e em si lêncio serviu o café.Os fi lhos e o marido não entendiam a razão do seu silêncio. E até tentaram

tirá-la do seu mutismo, com uma conversa animada sobre São João. Mas elaestava irredutível. Quando não t inha mais como evitar uma resposta, apelavapara os monossílabos. E era como se estivesse fazendo um esforço sobre-huma-no para responder aquelas meias palavras.

Nadir arquitetava seu plano, independentemente da preocupação de suafamíl ia. Quando os f i lhos saíram, ela aproveitou para contar e recontar seudinheiro escondido (e bem escondido) embaixo do colchão. Com um sorrisoenigmático, concluiu que seu plano era perfeito. Olhou para o relógio: 17:00horas. Tomou um banho demorado e, enquanto se ensaboava, ia pensando que,depois de tantos anos, estava perto de realizar um velho sonho. Pegou umasacola e, sem que ninguém percebesse, saiu. Entrou na primeira venda queencontrou aberta e, para não perder tempo, exigiu:

— Quero uma caixa de foguetes.— Do grande ou do pequeno? — perguntou o vendedor meio aturdido com

aquela voz autoritária.— Do grande — foi a resposta decidida de Nadir.Pegou a caixa de foguete, colocou dentro da sacola e saiu com a felicidade

estampada no seu rosto cansado pela idade. Chegou em casa, pegou sua pol-trona preferida, colocou-a perto da televisão e começou a esperar o grande

*Nasceu em Andaraí (BA), em 1966. Estudante do Curso de Letras e Artes(UEFS). Autora de contos e crônicas ( inéditos).

147

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

momento.Sempre quis soltar um foguete. Quando criança, implorou para seu pai

deixá-la soltar um. Mas o máximo que conseguiu foi uma caixa de bombinhaspara crianças. Depois de casada, descobriu que seu marido t inha pavor defogos de art i f ício. Tentou até falar com ele sobre seu desejo reprimido, mas foidesencorajada com uma resposta mal-humorada.

Mas eis que era chegado o momento, e resolveu arquitetar este planoinfalível.

Esperou que todos dormissem. E foi uma longa espera, porque, o sono,naquele dia, fugiu completamente de sua casa. As crianças, que sempre dormiamcedo, estavam completamente ativas, mesmo depois de serem obrigadas a tomarum copo duplo de suco de maracujá. Seu marido ficou até meio desconfiado comsua insônia repentina. Depois de vinte anos de casamento, era a primeira vezque Nadir dormia tão tarde.

Quando, por f im, todos resolveram dormir, ela pegou seu tesouro e saiupé ante pé. Abriu a caixa, t irou um foguete e f icou por alguns minutos a admiraraquela obra-prima. E, com um sorriso misterioso, aprovou seu grande plano.

Pegou o fósforo, colocou o foguete do lado contrário e ergueu o braço numgesto vitorioso. E depois disso não enxergou mais nada.

A rua toda acordou. Sua família, sobressaltada com o estrondo do foguetee com os gritos, correu para a rua.

Lá estava Nadir, toda ensangüentada, estirada no chão e com um cheiro

insuportável de pólvora.

148

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

NORMA GOMES DE MELO *

PAISAGEM 15

Lágrimas vermelhas no rosto do outro rolam.

Vi a dor na vitr ine, ela me olhou:

sou pássaro preso em mim. Lapso

armado de amor.

*Nasceu em Feira de Santana(BA), em 1968. Estudante do Curso de Letras

e Artes (UEFS). Tem poemas publicados nas Revistas Hera, Olho D’Água e Usina.

149

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

C A N Ç Ã O

Aprisiono em mim um pássaro breve.

Gestos devoram meu ser.

Calei às margens de t i ,

e o si lêncio, meu inimigo,

nunca mais quis me ver.

150

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

OUTRAN BORGES*

P E R F I L

ah! poesia louca,de um poeta

rouco,de falar de sonhos,de sonhar sem tréguas,de viver sem bri lho,de cantar sem voz...

ah! poesia farta,de um poeta pouco,que fala de amores— que ama conciso —

que de tanto amar,se perdeu na festa.

ah! poesia mestra,que me ensina a vida— me desassossega —

que me tira o sono,que — doce acalanto —

me põe prá dormir.

Ah! poesia tonta,de um poeta louco...

*Natural de Baixa Grande(BA). Médico Pediatra. Tem vários trabalhos pu-bl icados (contos: O Protonauta; poesia: Cabeça de Frade, Os Quatro Caminhos doVento) . Part icipou de Sit ientibus 3 e 8 .

151

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

A NOITE

I

era uma noite tão absurda que os

vaga-lumes

bri lhavam mais que as estrelas,

e a brisa

sequer

conduzia o pólen

(e os gerânios se autocondenavam

à extinção!).

I I

era uma noite tão absurda,

que era noite e as corujas dormiam

mais que os justos,

deixando-os com terrível — e inevitável —

insônia.

e era noite.

II I

era uma noite tão absurda

que, ao longe, os lobos uivavam

a "merselhese"

e as carpideiras

sorriam,

depois ateavam fogo às vestes

e dançavam nuas à lua

cheia.

152

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

RAYMUNDO LUIZ LOPES*

Para Fred, meu f i lho ( in memoriam)

Sonhar nos sonos

onde laços prendem os murmúrios

e deixar-se levar

pelos ermos de um sino mudo.

Qual f lores sem vaso

soltar-se no nada

sem o colo da justa estação.

(Quem haverá de sorrir diante do desconcertante,

de uma pausa sem fim?)

Compor os versos (fugas d'alma?)

como o pássaro compõe o ninho

Arrumá-los como t i jolos

postos num tempo único.

(Escolher o nascimento

como o rio que vem de longe?)

Mas há de se saber (e quem o sabe?):

tudo se desmancha — e porque nasce —

e se desmancha, sim,

qual indefinido bocejo

em sonos em que

os sonhos são laços.

*Prof. Titular do Dep. de Educação. Editor de Sit ientibus.Tem vários traba-lhos l i terários publicados. Membro da Academia de Letras de Feira de Santana.

153

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

Os objetos daquela casa falam por si

e que faculdade, inexoravelmente,vem presa

aos seus desejos e as suas máscaras.

Ninguém escapa da penumbra dos sobrados

que se arrasta por diferentes mãos

entre laçando idé ias inanimadas

num redemoinho de si lêncios côncavos.

Quietos, os objetos guardam a tr isteza

das portas esquecidas

a memória de antigas salas

e o sentimento de cinzentas almofadas.

Mas quem sou, para ter no pensamento pregões

que cortam a minha alma

escadar ia de degraus a fas tados?

Fui peregrino de mim mesmo? Ou

hiato entre cada passo que me levaria ao refúgio do meu destino

a decifrar o mistério da solidão dos vitrais?

Sim, quem sou a me perguntar sobre os segredos da noite,

dos bosques que nunca visitei?

Ah! nesse quase desperto real de sombras,

instante de lucidez, na bebedeira do tempo,

sou como o verniz na poeirenta madeira.

(Entedeada, a governanta não me acha, pois não me visita)

Sou tão pouco. Fecho os olhos

e pressinto que as virtudes não me preenchem.

Estou só

no salão de velhas madeiras, na casa memorial.

154

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

SÉRGIO MATTOS *

E P I T Á F I O

Da umidade

da terra fért i l

tentarei ouvir

o som da trombeta

e o apogeu da humanidade.

Tentarei fertil izar

o solo onde rosas

haverão de f lorescer

para serem dadas

aos casais de namorados

que tentam redescobrir o amor.

*Prof. Adjunto da Faculdade de Comunicação (UFBA). Mestre e Doutor pelaUniversidade do Texas (Austin-EUA). Editor de Municípios e Rural do jornal A Tarde .Tem 18 l ivros publicados (seis de poesia). Lançou, recentemente, Asas para amar(poesia).

155

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

O VENTO SOLUÇOU

Embriagadoteu braço

ao mar tocava.

Em princípio melancólico

encrespavas as ondas do mar

enquanto secas folhas dançavam

Sumiram os pássaros

e o sol também

— a cidade emudeceu —

Comovido,

o vento começou a soluçar...

156

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

SUANI VASCONCELOS*

V I A G E M

Contemplar o mar

de azuis eternos

dos saudosos braços

no porto em mim.

*Nasceu em Feira de Santana (BA), em 1967. Estudante do Curso de Letrase Artes (UEFS). Part icipou da Oficina de Criação Literária (UEFS), em 1995.

157

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

S I N A L

na claridade do teu riso

busco manhãs de outono,

mãos de vento, sonhos de menino.

158

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

TELMA SIQUEIRA ALVES *

OS PEIXES

insisto em existir

escrevendo um verso,

uma conversa qualquer:

al imento os peixes

na transparência do aquário.

*Nasceu em São Felipe, em 1965 .Estudante do Curso de Letras e Artes(UEFS). Tem poemas publicados na revista Olho D’água.

159

Sitientibus, Feira de Santana, n.16, p.131-159, jan./ jun. 1997

AVENTURA ENTRE DOIS PONTOS

Poética sem rumo, rota.

Toleráveis intransigências.

Saio tateando a platéia

aviltada, portuguesa

que admite prosódia

e texto torto

sem freios no f luxo

o alvo da f lecha.