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520 SITE DE DIDÁTICA: O ENSINO EM QUESTÃO 1 Maria Eliza Brefere ARNONI 2 Lívia Carolina Miranda FARIA 3 Denis da Silva MONTEIRO 4 Jéferson Gomes Moriel JÚNIOR 5 Resumo: Estabelecendo-se a interação Universidade, Escola e Comunidade, o Site <http://www.ibilce.unesp.br/institucional/departamentos/edu/didatica/index.htm > de Didática, disponibiliza espaços destinados à divulgação de trabalhos acadêmicos (ou não), informações, idéias, eventos, tudo com referência à Educação. Vinculado ao site da UNESP – IBILCE, o Site publica, ainda, assuntos do campus e entrevistas com seus docentes. Dando expressão à sua funcionalidade, duas situações de ensino, uma referente à Língua Portuguesa e outra à Matemática, foram elaboradas e exibidas no Site, a fim de ampliar a discussão sobre o processo de ensino-aprendizagem. Palavras-chave: educação; conteúdo de ensino; mediação dialética; didática. 1. O ENSINO, A DIDÁTICA E O SITE Tendo como objetivo principal demonstrar a professores e a futuros professores como se trabalhar um conteúdo de ensino (o que ensinar), e partindo-se do princípio de que, independente do conteúdo, é de extrema relevância considerar uma metodologia de ensino capaz de promover a aprendizagem (como ensinar), a Profa. Dra. Maria Eliza Brefere Arnoni, docente do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE – UNESP 6 ), ministra a disciplina Didática 7 em cursos de licenciatura e pós-graduação. A especialidade da Didática é tornar compreensível ao aluno aquilo que o professor pretende explicar, pois seu objeto é o ensino. Portanto, ela tem a função de contribuir para a redução do fracasso escolar, por meio da instrumentalização dos professores, no sentido de estes buscarem incessantemente em sua prática pedagógica uma ação transformadora de ensinar-aprender 8 . 1 Projeto do Núcleo de Ensino (2003), financiado pela PROGRAD/FUNDUNESP. 2 Docente do Departamento de Educação do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP – São José do Rio Preto. 3 Aluna do Curso de licenciatura em Letras, bolsista do Projeto do Núcleo de Ensino. 4 Aluno do Curso de licenciatura em Matemática. 5 Aluno do Curso de bacharelado em Matemática, bolsista do Projeto do Núcleo de Ensino. *Revisora deste artigo – Profa. Ms. Maria Sueli R. Silva. 6 Universidade Estadual Paulista (Campus de São José do Rio Preto). 7 A Didática é uma disciplina pedagógica de natureza teórico-prática voltada para a compreensão do ensino. Ela não se reduz ao mero domínio das técnicas de orientações didáticas mas também aos aspectos teóricos fornecendo à teoria os problemas e desafios da prática. VEIGA, I. P. A. A construção da didática numa perspectiva histórico-crítica de educação – estudo introdutório. Coleção: Magistério: formação e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1993. 8 LOPES, A. O. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Didática: o ensino e suas relações. Campinas, SP: Papirus, 1996.

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SITE DE DIDÁTICA: O ENSINO EM QUESTÃO1

Maria Eliza Brefere ARNONI2 Lívia Carolina Miranda FARIA3

Denis da Silva MONTEIRO4 Jéferson Gomes Moriel JÚNIOR5

Resumo: Estabelecendo-se a interação Universidade, Escola e Comunidade, o Site <http://www.ibilce.unesp.br/institucional/departamentos/edu/didatica/index.htm> de Didática, disponibiliza espaços destinados à divulgação de trabalhos acadêmicos (ou não), informações, idéias, eventos, tudo com referência à Educação. Vinculado ao site da UNESP – IBILCE, o Site publica, ainda, assuntos do campus e entrevistas com seus docentes. Dando expressão à sua funcionalidade, duas situações de ensino, uma referente à Língua Portuguesa e outra à Matemática, foram elaboradas e exibidas no Site, a fim de ampliar a discussão sobre o processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: educação; conteúdo de ensino; mediação dialética; didática.

1. O ENSINO, A DIDÁTICA E O SITE

Tendo como objetivo principal demonstrar a professores e a futuros professores

como se trabalhar um conteúdo de ensino (o que ensinar), e partindo-se do princípio de que,

independente do conteúdo, é de extrema relevância considerar uma metodologia de ensino

capaz de promover a aprendizagem (como ensinar), a Profa. Dra. Maria Eliza Brefere Arnoni,

docente do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (IBILCE – UNESP6), ministra a

disciplina Didática7 em cursos de licenciatura e pós-graduação.

A especialidade da Didática é tornar compreensível ao aluno aquilo que o

professor pretende explicar, pois seu objeto é o ensino. Portanto, ela tem a função de contribuir

para a redução do fracasso escolar, por meio da instrumentalização dos professores, no sentido

de estes buscarem incessantemente em sua prática pedagógica uma ação transformadora de

ensinar-aprender8.

1Projeto do Núcleo de Ensino (2003), financiado pela PROGRAD/FUNDUNESP. 2Docente do Departamento de Educação do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP – São José do Rio Preto. 3Aluna do Curso de licenciatura em Letras, bolsista do Projeto do Núcleo de Ensino. 4Aluno do Curso de licenciatura em Matemática. 5Aluno do Curso de bacharelado em Matemática, bolsista do Projeto do Núcleo de Ensino. *Revisora deste artigo – Profa. Ms. Maria Sueli R. Silva. 6 Universidade Estadual Paulista (Campus de São José do Rio Preto). 7A Didática é uma disciplina pedagógica de natureza teórico-prática voltada para a compreensão do ensino. Ela não se reduz ao mero domínio das técnicas de orientações didáticas mas também aos aspectos teóricos fornecendo à teoria os problemas e desafios da prática. VEIGA, I. P. A. A construção da didática numa perspectiva histórico-crítica de educação – estudo introdutório. Coleção: Magistério: formação e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1993. 8LOPES, A. O. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Didática: o ensino e suas relações. Campinas, SP: Papirus, 1996.

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No entanto, a Didática, por diversas razões, como, por exemplo, não ter sido

assimilada à formação do professor, muitas vezes é deixada de lado para predominar na sala

de aula um instrumento bastante difundido, por razões políticas e econômicas9, e bastante

utilizado na Escola atualmente: o livro didático.

O livro didático na medida em que compila e armazena os conteúdos de ensino,

pode contribuir ao exercício do professor. Graças a sua portabilidade, ele permite ao aluno

recuperar, nos mais diferentes lugares, o fruto do trabalho docente. No entanto, o livro didático

não substitui o trabalho docente de: selecionar o conteúdo de ensino, conforme parâmetros

tradicionais, apropriados e recomendados a cada série escolar (PCN10); organizar o conteúdo

de ensino, segundo um modo que corresponda à realidade e necessidade de seus alunos;

transmitir o conteúdo de ensino, mediante uma metodologia ajustada à concepção de ensino do

professor e, finalmente, avaliar tanto o produto (a aprendizagem desse conteúdo) como o

processo (o desenvolvimento desse conteúdo).

Por esse prisma, o livro didático por si só não cumpre o papel da Didática na

construção da identidade do aluno. Para Pimenta (1997)11, a construção da identidade é um

processo de construção do sujeito historicamente situado. Nesse sentido, Duarte (1999)12 vem

somar ressaltando que, tratando-se da ação educativa, esta se dirige sempre de um ser

humano singular (o educando), é dirigida por outro ser humano singular (o professor) e se

realiza sempre em condições singulares (o contexto em que ambos estão inseridos). No

entanto, essa singularidade não existe independente da história social e, por conseguinte, a

formação de todo ser humano sintetiza todo um conjunto de elementos produzidos pela história

humana.

Ou seja, o professor, consciente dos fundamentos teóricos da sua área de

formação (específicos e pedagógicos), elabora sua prática, a fim de transformar o aluno em um

sujeito que responda às exigências contemporâneas, tais como: analisar, interpretar, avaliar,

sintetizar, comunicar, usar diferentes linguagens, estabelecer relações, propor soluções

inovadoras para as situações com as quais defronta etc. Essa ação transformadora é

fundamental ao trabalho docente.

9FARIA, L. C. M. A linguagem do livro didático no ensino da língua materna: um estudo introdutório. São José do Rio Preto, SP: UNESP – IBILCE, 2002. Esse texto trata-se de um projeto de Iniciação Científica desenvolvido sob orientação da Profa. Dra. Maria Eliza Brefere Arnoni. O texto referente ao mesmo encontra-se no Site de Didática <http://www.ibilce.unesp.br/institucional/departamentos/edu/didatica/index.htm>, objeto de que trata este artigo. 10Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC (Ministério da Educação e do Desporto) / SEF (Secretaria da Educação Fundamental), 1998. 11PIMENTA, S. G. A didática como mediação na construção da identidade do professor: uma experiência de ensino e pesquisa na licenciatura. In: ANDRÉ, M. E. D. A. de & OLIVEIRA, M. R. N. S. (Orgs.). Alternativas no ensino de didática. 4 ed. São Paulo: Papirus, 1997. 12DUARTE, N. A. A individualidade para si: contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo. Coleção: Contemporânea. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.

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Como um instrumento uniformizador do conhecimento e condensador das

mesmas informações (textos, conteúdos, atividades etc), e como um meio destinado ao ensino,

indistintamente, de todos os alunos, o livro didático pode até mesmo corroborar para a ideologia

liberal que responsabiliza o indivíduo por sua própria aprendizagem que é, na verdade, a

essência da prática pedagógica em si.

Embora a prática seja o grande ponto de referência do professor, muitos ainda

atuam sem conhecer os fundamentos teóricos que embasam a sua prática. Praticar sem pensar

a prática é empobrecer a própria prática naquilo que ela possui de mais importante: o poder de

transformar a realidade por meio do questionamento da mesma. Com certeza, caminhará

melhor o professor que refletir criticamente sobre sua ação, que for capaz de ajuizar a sua

prática e tomar consciência dos fundamentos teóricos que sustentam e informam a sua

atuação.

Desse modo, considerando que a dinâmica ensino-aprendizagem requer muito

mais do que a mera transmissão de conhecimentos e tendo em vista ressignificar a Didática

para a atividade do professor, Arnoni trabalha, junto a seus alunos universitários, o livro didático

como alvo de discussão e estudo sobre questões importantes à formação deles, do tipo: saber

científico, saber de ensino, saber cotidiano, ensino, pesquisa, aprendizagem, metodologia etc.

O saber científico, produzido em instâncias universitárias e institucionais de

pesquisa, é vinculado à área acadêmica e veiculado em textos técnicos por uma linguagem

formalmente codificada.

O saber escolar representa, no contexto educacional, o conjunto dos conteúdos

previstos na estrutura curricular das várias disciplinas, mas, geralmente, esse, no livro didático,

configura-se como recortes ou resumos simplificados do saber científico, visto que não é

trabalhado metodologicamente para ser transformado em saber de ensino.

Para apresentar o saber escolar e propô-lo como o saber criado na elaboração

do conteúdo de ensino e para dar conta não só da relação de interdependência entre ensino e

aprendizagem, mas de grande parte das relações que envolvem as situações de ensino, a

Didática é, teórico-praticamente, aqui concebida com base em fundamentos filosóficos na

perspectiva da mediação.

Segundo Almeida13 (2001), a mediação é uma relação dialética que tem por

referência a diferença, a heterogeneidade, a repulsão e o desequilíbrio entre seus termos: o

13 ALMEIDA, J. L. V. Tá na rua: representações dos educadores de rua. São Paulo: Xamã, 2001.

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imediato e o mediato. Arnoni14 (2003) considera que esses termos divergentes da mediação

(imediato e mediato) geram a contradição entre ambos e provocam a superação do imediato

(saber cotidiano) no mediato (saber científico), possibilitando a aprendizagem, ou seja, a

elaboração da síntese, definida aqui como o aprendido. Conforme a autora, os conteúdos de

ensino são a síntese entre os saberes científicos (os da área de conhecimentos específicos e

os pedagógicos) e os saberes cotidianos.

Espera-se que a licenciatura (Pimenta, ibidem) desenvolva nos alunos

conhecimentos e habilidades, atitudes e valores, que lhes possibilitem permanentemente ir

construindo seus saberes-fazeres docentes, a partir das necessidades e desafios que o ensino,

como prática social, lhes coloca no cotidiano.

Com esse propósito, a Didática (UNESP – IBILCE) discute o livro didático, um

produto que visa atender a dois pólos: mercado e educação. Para tanto, os alunos dessa

disciplina, além de estudarem os fundamentos filosóficos da mediação, realizam a aplicação

desses estudos na investigação da proposta de ensino apresentada pelo livro didático e na

organização de um conteúdo de ensino para uma proposta de aula.

Sendo assim, o livro didático é selecionado como corpus de um exercício de

análise da Didática por representar o reflexo das condições de ensino do país e por

desempenhar, na maioria das vezes, o papel de especialista de educação da escola brasileira,

ao fazer a articulação entre forma e conteúdo.

A relevância dessas produções motivou que se elaborasse e que se mantivesse

um site, em desenvolvimento e manutenção a partir de 2001, vinculado ao site da UNESP –

IBILCE, para a divulgação das análises de livros didáticos e das propostas de aula produzidas

pelos alunos da Didática.

Com esse objetivo, foram formados grupos de trabalho multidisciplinares para

ingressarem a projetos do Site, desde então intitulados: Programando um design para um site

de didática (2001); A multimídia, a didática e o saber escolar na formação do professor: um

desafio acadêmico (2002); e, finalmente, Site de didática: o ensino em questão (2003), de que

trata este artigo. Na ocasião presente, é válido observar que os projetos de 2002 e 2003

integraram o projeto do Núcleo de Ensino, sendo ambos financiados pela

PROGRAD/FUNDUNESP e apresentados, entre outros eventos regionais e nacionais, nas

Jornadas do Núcleo de Ensino, em datas respectivas.

14 ARNONI, M. E. B. Cuestiones de enseñanza: la dialéctica del trabajo educativo. In: Congresso Internacional “Pedagogia 2003 - Encuentro por la unidad de los educadores”, Cuba, 2003, Havana. Palácio de Convenção de Havana. CD-ROM Softcal Empresa de Desarollo y Producción de Software de Qualidad, ISBN 959-7164-37-X. Tradução da própria autora.

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Os licenciandos da Didática são originários de diferentes cursos; assim, a cada

projeto sob orientação de Arnoni, professora que ministra a disciplina (UNESP – IBILCE), surge

o desafio de lidar com linguagens e saberes diferentes daqueles dos campos específicos de

cada orientando. Na medida em que contribui para a formação de um futuro professor

comprometido com os vários tipos de conhecimento, esse trabalho é muito produtivo para

todos.

Com o intuito de ampliar a idéia original que almejava um arquivo de dados para

divulgação dos trabalhos resultantes da disciplina de Didática, foi formado, para participar do

último projeto, um grupo de estagiários composto por dois graduandos de Matemática (sendo

um do bacharelado, responsável pelo design e recursos tecnológicos do Site, e um da

licenciatura, responsável pela manutenção do espaço disponibilizado à Matemática a partir de

2003, pois, no período anterior a esse ano, a orientadora do projeto não lecionava na

Licenciatura em Matemática) e uma graduanda de Letras (responsável pelo espaço

disponibilizado à Letras e pela “linguagem interativa” do Site, que proporciona aos seus

usuários dinamicidade, modernidade e rapidez no acesso à informação).

Em relação à Matemática, o site divulga trabalhos (ANEXO 01)15,

predominantemente, sobre os assuntos “Álgebra” e “Trigonometria”, demonstrando, com isso, a

preocupação dos licenciandos em melhorarem o processo ensino-aprendizagem relativo a

conteúdos considerados difíceis.

Desse modo, o projeto Site de didática: o ensino em questão, além da

atualização do site http://www.ibilce.unesp.br/institucional/departamentos/edu/didatica/index.htm, propõe-

se a dar voz não só a trabalhos dos alunos da disciplina de Didática, mas também a estudos

produzidos por alunos da pós-graduação, professores e doutores da UNESP – IBILCE,

tornando-se, assim, propícia a participação de especialistas e a divulgação de pesquisas que

colaborem com a formação inicial e continuada do professor.

Pelos links, notícias, entrevistas, idéias, comentários e estudos exibidos, o Site

possibilita a interação: Universidade, Escola e Comunidade. Graças aos espaços para

discussão e publicação de trabalhos na Internet, o Site oferece grandes perspectivas para que

os internautas sejam, além de receptores, incentivados a produzirem conhecimentos.

De acordo com a Metodologia da Mediação Dialética16, que realiza a síntese

entre os saberes para promover a aprendizagem, os estagiários do projeto, utilizando recursos

da multimídia, além da conservação do Site, ainda elaboraram duas situações de ensino: uma

15 O anexo, tabela 01, contém: autores, temas e bibliografias referentes às análises dos livros didáticos de Matemática. 16 Arnoni, ibidem.

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referente ao conteúdo de Matemática (Teorema de Pitágoras) e outra que relaciona conteúdos

de Língua Portuguesa (Substantivos e Adjetivos) Na perspectiva da mediação dialética, tais

atividades centram-se num exercício metodológico e na conversão do saber científico (saber

validado pelos paradigmas da área científica) em saber escolar (saber representado pela

síntese da relação dialética do conteúdo científico a ser ensinado). São etapas da metodologia

mediadora:

1º Resgatando – resgatar as representações primeiras e primárias do sujeito

em relação ao conteúdo em estudo. Nesse contexto, o sujeito entra em

contato com o objeto de estudo, registra suas interpretações e explicita o

campo de significação em relação ao assunto trabalhado. As elaborações

geradas nessa etapa caracterizam aspectos do saber imediato, considerado

como ponto de partida do processo de ensino.

2º Problematizando – provocar o questionamento dos aspectos do saber

imediato das representações, na perspectiva do saber mediato pretendido.

Pela problematização, explicita-se a contradição entre o saber atual do sujeito

(imediato) e o saber objetivo pretendido pelo trabalho educativo (mediato). As

contradições geram rupturas no saber atual e suscitam a necessidade de o

sujeito buscar novos elementos conceituais (saber científico) que provoquem a

superação do imediato no mediato. Assim, a problematização, por articular a

negação recíproca dos dois pólos da relação pedagógica de mediação,

possibilita que o mediato se reflita no imediato, indicando a necessidade da

superação. Por outro lado, a problematização, por refletir o mediato no

imediato, já aponta para imediato, a sua superação.

3º Sistematizando – incorporar elementos do saber científico, uma ação

propiciada pela problematização que gera a superação dialética e permite,

pela negação, que o imediato seja superado no mediato, sem que o primeiro

seja anulado ou suprimido pelo segundo; ao contrário, o imediato está

presente no mediato.

4º Produzindo – expressar a síntese do trabalho educativo. Essa síntese

representa o ponto de chegada do trabalho educativo e constitui a expressão

do saber mediato em relação ao ponto de partida da ação ensinativa,

constituindo, também, em um novo ponto de partida. Por ter propriedades

diferentes e antagônicas do ponto de partida (Resgatando), o ciclo não se

fecha, e, por permanecer aberto, cria possibilidade para que novos ciclos se

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iniciem na perspectiva da mediação. É o ponto de chegada, provisório, que

torna-se, imediatamente, em um novo ponto de partida.

O ensino, por esse prisma, tem como eixo a problematização, uma situação

capaz de gerar contradições entre o ponto de partida (saber cotidiano ou imediato) e o de

chegada (saber científico ou mediato) do conteúdo de ensino (saber de ensino) e de provocar a

superação do imediato no mediato (saber aprendido).

2. TEORIA DA MEDIAÇÃO NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM: UM EXERCÍCIO METODOLÓGICO COM OS CONTEÚDOS SUBSTANTIVO E ADJETIVO

A atividade relativa à Língua Portuguesa (ANEXO O2)17, sob tal ponto de vista,

tem como objetivo questionar a forma como certos conteúdos são apresentados em textos

didáticos. Esses manuais, de maneira simplista, geralmente, abordam os conteúdos de ensino

por meio de definições que quase nada (ou nada) explicam o funcionamento da língua.

Como sabemos, o objetivo do ensino de Língua Materna é tornar o aluno um

usuário competente da linguagem. Isso implica conhecer as peculiaridades da língua nos

diferentes níveis: estrutural, sintático, semântico, estilístico, pragmático. Logo, seu ensino supõe

evidenciar sua dinamicidade, mobilidade, flexibilidade. Pois, a língua possui estratégias e

mecanismos que possibilitam a movimentação de seus elementos e, conseqüentemente, que

as palavras mudem de classe gramatical conforme o lugar que ocupem nas sentenças.

Ao estudante, deve ficar claro que é nesse contexto de sua multiplicidade que se

processa o ensino e a aprendizagem da linguagem. Tomando-se isso como princípio, a

atividade referente aos conteúdos “Substantivo e Adjetivo” foi pensada para comprovar que,

dependendo da ordem ou de sua posição no sintagma nominal, um mesmo elemento poderá

exercer papel ou de substantivo, ou de adjetivo.

Para esclarecer tal procedimento, os conteúdos de ensino que a atividade

abrange (Substantivo e Adjetivo) foram postos em relação. Por se tratar de software educativo,

o desenvolvimento das atividades, tanto de Língua Portuguesa como de Matemática, processa-

se por meio de “clics”, uma facilidade oferecida ao usuário, graças à tecnologia utilizada.

Para tanto, o ponto de partida é identificar, num grupo de palavras apresentado,

as que se classificam como substantivos (propositalmente, as palavras estão

descontextualizadas, ao acaso na tela do computador, ou seja, não estão inseridas em

sentenças ou sintagmas). Em seguida, o mesmo grupo de palavras aparece para que sejam

17 As páginas para a visualização da atividade encontram-se anexadas.

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clicadas naquelas que se identifica como adjetivo. Posteriormente, deve-se formar pares de

palavras, combinado: substantivo e adjetivo. Depois, clicando-se num local determinado, os

pares escolhidos mudam a ordem das palavras, e, com isso, percebe-se que, dependendo da

posição, uma mesma palavra pode funcionar como substantivo ou adjetivo. Na etapa seguinte,

a fim de verificar sua própria aprendizagem, o usuário deverá assinalar, dos pares de palavras

apresentados, aqueles que, a inversão na ordem das palavras, ocasiona mudança na classe

gramatical das mesmas. Em momentos oportunos, ao longo da atividade, o usuário conta com

explicações lingüísticas referentes a etapas da atividade.

Finalmente, pelo expediente dos “clics”, um diagrama é trabalhado, com o

objetivo de vincular a atividade e a metodologia. Para estabelecer a correspondência entre

conteúdo (o que foi ensinado) e forma (como foi ensinado), o usuário deverá relacionar as

etapas referentes à atividade com os momentos específicos da metodologia, que são: os

conteúdos de ensino abordados, nessa atividade, são “Substantivo e Adjetivo” (Saberes de

Ensino, designados pela Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de selecionar

substantivos compreende o ponto de partida, o conhecimento cotidiano ou o Resgatando

(conforme a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de selecionar adjetivos, de uma

mesma lista atribuída anteriormente para a seleção dos substantivos, compreende um conflito

cognitivo, um estranhamento ou o Problematizando (segundo a Metodologia da Mediação

Dialética); a etapa da inversão das palavras e, conseqüentemente, da mudança na classe

gramatical das mesmas, compreende o momento de amarrar as idéias, de explicar o conteúdo

ou do Sistematizando (de acordo com a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa para

escolher os pares de palavras, cuja inversão causa mudança na classe gramatical, compreende

o ponto de chegada, a verificação da aprendizagem ou o Produzindo (para a Metodologia da

Mediação Dialética).

3. DIDÁTICA E A CONVERSÃO DO SABER CIENTÍFICO EM SABER DE ENSINO: UM EXERCÍCIO METODOLÓGICO COM O SABER MATEMÁTICO

A atividade relativa à Matemática (ANEXO 03)18 foi elaborada visando a

questionar como determinados conteúdos da área são apresentados em livros didáticos. Estes

costumam trazer determinados conteúdos de ensino de forma instantânea, sendo que os

algoritmos de suas definições podem até mesmo prejudicar o entendimento dos alunos,

confundindo-os. Assim, ao estabelecer a relação entre o “o que” e “o como” ensinar, uma das

metas dessa atividade é auxiliar o professor no planejamento de suas aulas.

18 As páginas para a visualização da atividade encontram-se anexadas.

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Desse modo, para o exercício metodológico que vincula conteúdo (o quê) e

forma (como), foi escolhido o “Teorema de Pitágoras”, a título de exemplo de como um

conteúdo matemático pode, quando explicado meramente por definição, complicar (ao invés de

simplificar) o processo de ensino-aprendizagem.

Para o proposto exercício metodológico, foram selecionadas quantidades de

quadradinhos tais que, o tamanho do lado de cada um dos três quadrados montados com os

quadradinhos, posteriormente, fosse de (a) três, (b) quatro e (c) cinco quadradinhos.

A atividade é iniciada com a separação dos quadradinhos (amarelos e

vermelhos) pela metade, sabendo-se que há 18 quadradinhos vermelhos e 32 amarelos. Com

isso, o ponto de partida é, com o auxílio de conceitos previstos pela Matemática de “área” e de

“quadrado”, formar três quadrados maiores com os quadradinhos: um quadrado vermelho

(formado pela metade dos quadradinhos vermelhos), um amarelo (formado pela metade dos

quadradinhos amarelos) e outro vermelho e amarelo (formado pela junção das metades

restantes dos quadradinhos vermelhos e amarelos). Em seguida, propõe-se, com os lados dos

quadrados formados, a construção de um triângulo retângulo; novamente é indispensável à

atividade a noção de um conceito prévio, nesse caso o de “triângulo retângulo”. Construído o

triângulo retângulo por meio dos lados dos quadrados, verifica-se a validade do “Teorema de

Pitágoras”, pois se observa que a soma da área dos lados dos catetos, que no caso são os

lados do triângulo formados pelos lados dos quadrados vermelho (a = 3) e amarelo (b = 4), é

igual a soma da área da hipotenusa, que no caso é o lado do triângulo formado pelo quadrado

vermelho e amarelo juntos (c = 5). Ou seja, a soma dos catetos ao quadrado equivale à

hipotenusa ao quadrado: três ao quadrado (cateto “a” = 9) mais quatro ao quadrado (cateto “b”

= 16) é igual a cinco ao quadrado (hipotenusa “c” = 25).

Por fim, a Metodologia da Mediação Dialética é abordada por meio do diagrama

que relaciona conteúdo / forma: o conteúdo de ensino abordado é o “Teorema de Pitágoras”

(Saber de Ensino, designado pela Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de construir três

quadrados com os quadrados menores compreende o ponto de partida, o conhecimento

cotidiano ou o Resgatando (conforme a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa de

construir, com os quadrados, o triângulo retângulo compreende um conflito cognitivo, um

estranhamento ou o Problematizando (segundo a Metodologia da Mediação Dialética); a etapa

na qual se depreende a regra do “Teorema de Pitágoras” a partir da atividade com os

quadrados, compreende o momento de amarrar as idéias, de explicar o conteúdo ou do

Sistematizando (de acordo com a Metodologia da Mediação Dialética); e, finalmente, a etapa de

se elaborar, por meio dos lados dos quadrados, o triângulo retângulo e de se relacionar com a

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regra do “Teorema de Pitágoras”, compreende o ponto de chegada, a verificação da

aprendizagem ou o Produzindo (para a Metodologia da Mediação Dialética).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto atual, em que grande parte dos educadores não dispõe de privilégios

como cursos de formação profissional, o Site, valendo-se da Internet, socializa situações de

ensino consideradas bem sucedidas.

Para tanto, tais situações de ensino: análises de livros didáticos, propostas de

aula, software educativos etc, compõem a proposta de oferecer uma alternativa que acrescente

os fundamentos filosóficos da mediação à formação de professores e futuros professores.

Por esse prisma, nas experiências pedagógicas do Site transparece a

Metodologia da Mediação Dialética. Essa metodologia supõe a Problematização, ocasião capaz

de gerar contradições entre o ponto de partida (saber cotidiano ou imediato) e o de chegada

(saber científico ou mediato) do conteúdo de ensino (saber de ensino) e de provocar a

superação do imediato no mediato (saber aprendido). Ou seja, realizar a síntese entre os

saberes e, com isso, promover a aprendizagem.

As atividades elaboradas sob essa perspectiva, como as referentes aos

“Substantivo e Adjetivo” e ao “Teorema de Pitágoras”, conteúdos de Língua Portuguesa e

Matemática, respectivamente, estabelecem a relação conteúdo – forma, por meio de exercícios

metodológicos proporcionados para o Site.

Por fim, o Site, apresentado em diversos eventos e locais, como: II Jornada do

Núcleo de Ensino (UNESP/FFC/Marília – SP); XXX Colóquio de Incentivo à Pesquisa (UNESP/

IBILCE/São José do Rio Preto – SP); XV Semana de Letras (UNESP/IBILCE, São José do Rio

Preto – SP); XV Semana da Matemática (UNESP/IBILCE/São José do Rio Preto – SP); I

Educando (SESC, São José do Rio Preto – SP); ALARME (São José do Rio Preto – SP),

abrange assuntos variados (saber científico, saber de ensino, saber cotidiano, ensino, pesquisa,

aprendizagem, metodologia etc), motivando e sustentando discussões produtivas, a respeito do

processo de ensino-aprendizagem.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, J. L. V. Tá na rua: representações dos educadores de rua. São Paulo: Xamã, 2001.

ARNONI, M. E. B. Cuestiones de enseñanza: la dialéctica del trabajo educativo. In: Congresso Internacional “Pedagogia 2003 - Encuentro por la unidad de los educadores”, Cuba, 2003, Havana. Palácio de Convenção de Havana. CD-ROM Softcal Empresa de Desarollo y Producción de Software de Qualidad, ISBN 959-7164-37-X. Tradução da própria autora.

ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Teoria da Metodologia no processo ensino/aprendizagem: um exercício metodológico com os conteúdos Substantivo e Adjetivo (minicurso). In: XV Semana de Letras: Linguagem e Interação, São José do Rio Preto, 2003.

ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Didática e a conversão do saber científico em saber de ensino: um exercício metodológico com o saber matemático (minicurso). In: XV Semana de Matemática, São José do Rio Preto, 2003.

ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Didática e a conversão do saber científico em saber de ensino: um exercício metodológico com o saber matemático (minicurso). In: II Jornada do Núcleo de Ensino – Vygotsky e a escola atual: implicações no fazer pedagógico, Marília, 2003.

ARNONI, M. E. B., FARIA, L. C. M., MONTEIRO, D. S., MORIEL JÚNIOR, J. G. Site de Didática: o ensino em questão. In: XXX CIP – Colóquio de Incentivo à Pesquisa: Direitos Humanos: em busca da humanidade, São José do Rio Preto, 2003.

DUARTE, N. A. A individualidade para si: contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo. Coleção: Contemporânea. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.

FARIA, L. C. M. A linguagem do livro didático no ensino da língua materna: um estudo introdutório. São José do Rio Preto, SP: UNESP – IBILCE, 2002.

LOPES, A. O. Relação de interdependência entre ensino e aprendizagem. In: VEIGA, I. P. A. (Org.) Didática: o ensino e suas relações. Campinas, SP: Papirus, 1996.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Brasília: MEC (Ministério da Educação e do Desporto) / SEF (Secretaria da Educação Fundamental), 1998.

PIMENTA, S. G. A didática como mediação na construção da identidade do professor: uma experiência de ensino e pesquisa na licenciatura. In: ANDRÉ, M. E. D. A. de; OLIVEIRA, M. R. N. S. (Orgs.). Alternativas no ensino de didática. 4. ed. São Paulo: Papirus, 1997.

531

ANEXO 01

Tabela das análises de livros didáticos da área de Matemática, 2003

Aluno(s) autor(es) da análise Assunto Livro analisado

Dênis da Silva Monteiro Luis Tadeu Zanqueta Philipe T. L. F. Albuquerque

Ordenação e Representação dos Números Inteiros

Matemática uma aventura do pensamento, Oscar Guelli, 6ª série, Editora Ática, 2002.

Adriana de Oliveira Dias Janaina Cibineli Scarpeto Marcela Lopes de Santana

Regra de Três

Matemática, conceitos e história, S. D. Neto, 6ª série, Editora Scipione, 1997.

Analucia C. P. de Souza Márcia M. S. da Rocha

Equação do 1º grau

Matemática & Vida, V. Bongiovanni, O. R. Vissoto e J. L. T. Laureano, 6ª série, 12. ed., Editora Ática, 1998.

Cristiane Ribeiro dos Santos Danilo Elias de Oliveira Ivanice Cristina Peres da Silva

Equação do 2º grau Matemática: Idéias e Desafios, I. Mori e D. Sático, 8ª série, 10. Ed., Editora Saraiva, 1942.

Marcela Cristiani Ferreira Equação do 2º grau

Matemática Interativa, Reis e Trovon, 8ª série, Editora Saraiva, 1942.

Adriano Kamimura Suzuki

Função Quadrática

Matemática – série: Novo Ensino Médio, Carlos Alberto Marcondes dos Santos e Nelson Gentil, Volume único, 6. ed., Editora Ática.

Rodrigo Boschette Trigo Números Complexos

Matemática para o Ensino Médio, Benigno Barreto Filho e Cláudio Xavier da Silva, Editora FTD, 2000.

Evandro Luis Bonjovani Teorema de Pitágoras

Matemática 2º grau, José Ruy Giovanni, José Roberto Bonjorno e José Ruy Giovanni Júnior, Editora FTD.

532

ANEXO 02

Teoria da Metodologia no processo ensino/aprendizagem um exercício metodológico com os conteúdos: Substantivo e Adjetivo (minicurso)

533

534

535

ANEXO 03 Didática e a conversão do saber científico em saber de ensino: um exercício

metodológico com o saber matemático (minicurso)

536

537