SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE EMAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS CURSO DE AGRONOMIA

SISTEMAS DE PRODUO DE EMAS (Rhea americana) NOS CRIATRIOS COMERCIAIS DA REGIO SUL DO BRASIL

FILIPE DE SOUZA PEREIRA

Florianpolis/SC Junho de 2008.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS CURSO DE AGRONOMIA

SISTEMAS DE PRODUO DE EMAS (Rhea americana) NOS CRIATRIOS COMERCIAIS DA REGIO SUL DO BRASIL

Relatrio de estgio de concluso apresentado Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para obteno do ttulo de Engenheiro Agrnomo.

Acadmico: Orientador/Supervisor:

Filipe de Souza Pereira Prof. Antnio Carlos Machado da Rosa Laboratrio de zootecnia UFSC/CCA Florianpolis

Florianpolis/SC Junho de 2008. 2

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Raquel e Hlio, pelo incentivo, pacincia, compreenso, doao dedicados durante todo o curso e toda minha vida, por seus ensinamentos e pela ajuda na busca dos meus ideais. E tambm a confiana depositada em mim durante todos estes anos de faculdade. A Deus, que me deu sempre fora e sade para continuar. Ao meu orientador e supervisor Professor Antnio Carlos Machado da Rosa, que mesmo com todas as suas atribuies aceitou me orientar. A Universidade Federal de Santa Catarina. Ao presidente da Associao Brasileira de Criadores de Emas ABRACE, Sr. Jacir Antnio Dalla Veccia por todo auxilio nas visitas e entrevistas realizadas durante o estgio Aos meus grandes amigos, Alisson, Aline, Ediane, Ednise e Vanessa que intensamente fizeram parte da minha vida nestes ltimos anos, sempre me dando fora para no desistir. Aos meus colegas de turma que compartilharam comigo momentos to divertidos durante esses anos. A todos os professores e funcionrios que tive a oportunidade de conhecer nesta Universidade, j que foi a minha segunda casa durante 5 anos da minha vida, onde muito aprendi e cresci profissionalmente.

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SUMRIO

LISTA DE FIGURAS.......................................................................................... v LISTA DE TABELAS ........................................................................................ vi APRESENTAO ........................................................................................... vii RESUMO......................................................................................................... viii INTRODUO ................................................................................................... 9 1. OBJETIVOS................................................................................................. 11 1.1 Objetivo Geral......................................................................................... 11 1.2 Objetivos especficos .............................................................................. 11 2. A CRIAO DE EMAS................................................................................ 12 2.1 Origem e distribuio da espcie............................................................ 12 2.2 Caractersticas da espcie...................................................................... 14 2.3 Legislao............................................................................................... 16 2.4 Criatrios comerciais .............................................................................. 18 3. CARACTERSTICAS DE MANEJO ............................................................. 21 3.1 Manejo .................................................................................................... 21 3.1.1 Manejo intensivo .............................................................................. 23 3.1.2 Manejo extensivo e semi-extensivo.................................................. 24 3.1.3 Modalidades de manejo aplicadas em criatrios comerciais............ 25 3.1.4 Consrcio com outros animais ......................................................... 26 3.2 Principais enfermidades.......................................................................... 26 3.3 Caractersticas Reprodutivas.................................................................. 29 3.4 Manejo dos filhotes ................................................................................. 31 3.4.1 Prtica: Manejo reprodutivo nos criatrios comerciais consultados . 32 3.5 Alimentao ............................................................................................ 35 3.5.1 Prtica: Alimentao nos criatrios comerciais consultados ............ 39 3.6 Distribuio de gua ............................................................................... 41 3.6.1 Prtica: Distribuio de gua nos criatrios comerciais consultados41 4. ESCOAMENTO DA PRODUO................................................................ 42 4.1 Produtos e Subprodutos ......................................................................... 42 4.1.1 Carne ............................................................................................... 42 4.1.2 Gordura ............................................................................................ 44 iii

4.1.3 Couro ............................................................................................... 45 4.1.4 Penas ............................................................................................... 46 4.1.5 Ovos................................................................................................. 46 4.1.6 Outros subprodutos.......................................................................... 47 4.2 Aspectos mercadolgicos ....................................................................... 47 4.2.1 Comercializao dos produtos de ema nos criatrios comerciais visitados .................................................................................................... 49 5. DISCUSSO ................................................................................................ 51 6. CONSIDERAES FINAIS ......................................................................... 53 REFERNCIAS................................................................................................ 55 ANEXOS .......................................................................................................... 56 1- Tabela de sugesto de preos, para animais de diferentes idades, disponibilizada pela ABRACE:...................................................................... 56 2- Entrevista realizada com os criadores. ..................................................... 57

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Piquete de reprodutoras da COOPEREMA.....................................20 Figura 2 Plantel de reprodutoras da Fazenda Dalla Veccia...........................21 Figura 3 Plantel de capivaras.........................................................................26 Figura 4 Convvio entre as espcies..............................................................26 Figura 5 Animais com rotao tibiotrsica.....................................................27 Figura 6 Macho ama com filhotes de um ms de idade................................34 Figura 7 Aquecimento atravs de lmpada incandescente...........................35 Figura 8 Cocho de rao na Fazenda Dalla Veccia......................................39 Figura 9 Local onde lanada a rao.........................................................40 Figura 10 Bebedouro no piquete de animais prontos para o abate..............42

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Nmero de criatrios comerciais por estado...................................18 Tabela 2 Comparao de produtividade e rentabilidade entre ema, ovino e bovino da regio do Rio Negro, Argentina.........................................................51

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APRESENTAO O presente relatrio, fruto do Estgio de Concluso do Curso de Agronomia do CCA/UFSC, foi realizado no Laboratrio de Zootecnia, no Centro de Cincias Agrrias CCA, da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. O estgio foi realizado no perodo de 31 de Maro a 15 de Junho de 2008. As atividades desenvolvidas foram supervisionadas e orientadas pelo Prof. Antnio Carlos da Rosa. O objetivo do estgio de concluso de curso aprofundar os conhecimentos adquiridos durante o curso de Agronomia, bem como promover o amadurecimento e responsabilidade profissional necessrios para exercer a carreira de Engenheiro Agrnomo. A criao de aves silvestres no Brasil tem avanado muito nos ltimos anos, porm muitos aspectos, principalmente de manejo, ainda necessitam de estudos mais aprofundados, pois esta uma atividade relativamente nova sem muitos trabalhos desenvolvidos na rea, o que dificulta o seu desenvolvimento e divulgao.

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RESUMO

PEREIRA, Filipe de Souza. Florianpolis, 2008. Sistemas de produo de ema (Rhea americana) nos criatrios comerciais da regio Sul do Brasil 60p. Relatrio de estgio de concluso Curso de Agronomia, Universidade Federal de Santa Catarina.

O objetivo da seguinte pesquisa foi apresentar um levantamento da situao atual dos criatrios comerciais de emas (Rhea americana) na regio Sul do Brasil, com enfoque no manejo da criao, caractersticas do plantel e aspectos mercadolgicos, baseado em visitas e entrevistas a algumas propriedades, e na literatura disponvel. Buscou-se avaliar os mtodos de criao de emas recomendados pela literatura comparados a realidade empregada nas fazendas entrevistadas. Durante as visitas e entrevistas foram abordados assuntos como: mtodos de manejo, principais dificuldades, comercializao e perspectivas para o futuro. O estgio foi realizado no Laboratrio de Zootecnia do Centro de Cincias Agrrias da Universidade Federal de Santa Catarina no perodo de 31 de abril a 15 de junho de 2008. Concluiu-se, atravs do presente estudo, que existe demanda para os produtos e subprodutos de emas, mas a quantidade de produtos oriundos de criatrios comerciais ainda no supre as necessidades do mercado, e a falta de incentivo dos rgos pblicos e de assistncia tcnica especializada retardam o desenvolvimento da atividade.

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INTRODUO O interesse pela criao de animais silvestres vem crescendo consideravelmente nos ltimos anos, com finalidade comercial e conservacionista, tanto no Brasil como em vrios outros pases. A ema (Rhea americana) est entre os mais cotados devido ao seu grande potencial reprodutivo em cativeiro, adaptabilidade, e produtos e subprodutos de excelente qualidade como carne, couro, penas, ovos e gordura (GIANNONI, 1996; SILVA, 2001; ALMEIDA 2003). Produzem em pouco tempo carne saborosa, com baixa quantidade de gordura e colesterol, e alto teor de protena, alm de apresentar maior rendimento econmico que bovinos e sunos. A extrao das penas pode ser realizada a partir dos 10 meses de idade e comercializada com bom preo para varias modalidades industriais. O couro de excelente qualidade, muito utilizado na produo roupas e bolsas. Alimenta-se de diversas plantas invasoras, insetos em geral e at mesmo alguns rpteis, controlando assim pragas nos campos e pastagens, alm de ajudar no reflorestamento, dispersando sementes de arvores nativas (DANI et al., 1993; ABRACE, 2008). Por ser uma alternativa que proporciona produtos de excelente qualidade em pouco tempo utilizando menor rea em relao a outras atividades agrcolas como a bovinocultura, a criao de emas pode ser um grande negcio para o pequeno produtor rural que deseja diversificar as atividades de sua propriedade. Estas aves tm grande capacidade de transformar alimentos de qualidade inferior, em carne com teor elevado de protenas de alta qualidade e mais saudvel que as tradicionais (ALMEIDA, 2003). Alm de suas utilidades comerciais, a criao em cativeiro tambm auxilia na conservao da espcie, que vem sofrendo grande extermnio em seu habitat natural, devido destruio de suas regies de ocorrncia. Apesar de seu grande potencial zootcnico, existem poucos estudos realizados para a criao de emas. A ema natural da Amrica do Sul, mas a maioria dos trabalhos realizados nesta rea so desenvolvidos nos Estados Unidos, responsveis pela maior quantidade de animais criados em cativeiro.

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Este trabalho tem como objetivo apresentar um levantamento da situao atual dos criatrios comerciais de emas no Brasil, com enfoque no manejo da criao, caractersticas do plantel e aspectos mercadolgicos, baseado em visitas e entrevistas a algumas propriedades, e na literatura disponvel. A apresentao do trabalho est estruturada da seguinte maneira: primeiro exposta uma breve apresentao sobre a ema, origem, distribuio e suas principais caractersticas. Em seguida mostrada a legislao sobre a criao de animais silvestres no Brasil. Logo so apresentados alguns criatrios comerciais que tive o prazer de visitar e conhecer os mtodos de manejo, comercializao de animais e outras caractersticas da propriedade. Na segunda parte so abordadas as modalidades de manejo, principais enfermidades, caractersticas reprodutivas e alimentao, bem como a forma que estes fatores ocorrem nos criatrios comerciais. Cada tpico seguido da experincia prtica vivenciada nas fazendas visitadas. Finalmente so expostos os principais produtos e sua comercializao, juntamente com os aspectos mercadolgicos. Em seguida feita a discusso final.

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1. OBJETIVOS

1.1 Objetivo Geral Identificar a situao atual dos criatrios comerciais de emas na regio Sul do Brasil.

1.2 Objetivos especficos

Apresentar um diagnstico da criao de emas junto a ABRACE; Identificar e avaliar os mtodos de criao nas fazendas visitadas; Apontar os principais problemas enfrentados pelos criadores e suas possveis causas; Apresentar o escoamento da produo e suas principais dificuldades.

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2. A CRIAO DE EMAS

2.1 Origem e distribuio da espcie

Apesar da grande semelhana entre emas e avestruzes, as duas espcies esto classificadas em ordens diferentes. A avestruz da ordem dos Struthioniformes, j a ema, dos Rheiformes, que apresenta distribuio geogrfica restrita ao continente sul-americano (SILVA, 2001). A ema (Rhea americana) conhecida tambm regionalmente como nhandu, and (que significa a corredora em guarani), maa, congo e avestruz. Na Bolvia chamada de piyo e os ndios pampas denominavam-na choique. Nos pases da Amrica do Norte e Europa tambm chamada de avestruz sul-americano (SILVA, 2001). A avestruz, natural das savanas africanas, tem o dobro do tamanho e altura da ema, que natural da Amrica do Sul, mas os mesmos subprodutos so retidos das duas aves (QUINTELA, apud TONETO, 2007). Sendo a maior ave da Amrica do Sul, a ema esta entre as aves mais antigas deste continente, j foram encontrados fsseis com mais de 40 milhes de anos, com a primeira descrio oficial feita entre 1637 e 1644. Era abundante no Brasil principalmente antes da chegada dos colonizadores europeus. Atualmente nosso pas detm a maior populao nativa desta espcie, representando um patrimnio gentico, recurso da fauna a ser preservado e utilizado de forma racional, uma ave associada ecologia brasileira que ainda habita as regies abertas dos campos, cerrados e caatingas (DANI et al., 1993). A reduo drstica das populaes de emas em seu local de origem, j era alertada desde o final do sculo IX por ornitlogos da poca, pois a vegetao nativa estava sendo substituda por outras culturas ou pastos e os fazendeiros abatiam grande quantidade de aves por caa ou por serem consideradas pragas (GIANNONI, 1996). No Brasil, assim como na Argentina, as populaes selvagens de emas so restritas a algumas reservas florestais e propriedades rurais extensivas de gado, em alguns casos protegidas pelos proprietrios (CARMAN, 1973, apud BRESSAN, 2005).

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Segundo Dani et al. (1993) apesar de no includa oficialmente lista de animais ameaados de extino, a presena desses animais no seu habitat natural vem reduzindo consideravelmente. Em regies onde era abundante, a ema praticamente j desapareceu. Muitos agricultores acreditam que a presena de emas em suas plantaes pode acarretar prejuzos s culturas devido voracidade das aves. J alguns pecuaristas e fazendeiros mais esclarecidos, vem a presena dos animais de uma forma benfica, afirmam que ela uma aliada importante no controle de pragas. Os animais invadem as plantaes devido a falta de alimento no seu habitat que na verdade foi invadido pelas plantaes. Para o CITES (Comit Internacional de Trfico de Espcies Ameaadas de Extino), a ema est classificada na lista vermelha, como animal de baixo risco de extino (CITES, 2003, apud BRESSAN, 2005). Acredita-se que as semelhanas morfolgicas, bioqumicas, genticas e comportamentais entre ema e avestruz fazem supor que tenham um ancestral comum, originado no mega-continente Gondwana, a cerca de 80 milhes de anos, e que com a separao dos continentes evoluram para avestruz, no continente Africano e ema, na Amrica do Sul (DANI et al., 1993). De acordo com Gianonni (1997), as emas podem ser divididas em trs subespcies, ou tambm chamadas raas geogrficas, so elas: a Rhea americana-americana, encontrada nas regies brasileiras do Nordeste, Sudoeste, Centro-Oeste e Norte do Paran; a Rhea americana intermediria, nativa dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Sul do Paran, Argentina, Uruguai e Paraguai; e a Rhea americana albascens, do sul da Bolvia, Paraguai, Argentina e Sudoeste do Mato Grosso do Sul. De acordo com o mesmo autor as principais formas de diferenciao entre essas subespcies so o tamanho e o peso das aves, mas hoje a identificao de cada uma torna-se difcil, pois essas subespcies possuem nmero diplide de 2n = 80 cromossomos podendo haver cruzamento entre si gerando descendentes frteis, e, alm disto, h sobreposio de suas zonas geogrficas. As emas vivem nos pampas, campos, cerrados e em floresta aberta da Amrica do Sul, evitam a pradaria aberta. Preferem viver em reas com alguma vegetao alta, e em fase de reproduo buscam por reas prximas a rios e lagos (SCHOMMER, 1999, apud BRESSAN, 2005). 13

2.2 Caractersticas da espcie

A ave pertencente ao grupo das ratitas, aves corredoras, que apresentam caractersticas anatmicas e fisiolgicas que as diferem do grupo das carinadas (aves que voam) pela ausncia de quilha no osso esterno, do msculo peitoral, msculo das asas atrofiado e glndula uropigiana o que s impede de voar. Outra diferena a separao de fezes e urina na cloaca (SICK, 1985, apud MORATA, 2005). Seu corpo ovide, com regio posterior cnica (DANI et al., 1993). Normalmente o macho maior que a fmea, e tem colorao negra mais acentuada (SANTOS, 1990, apud BRESSAN, 2005). A classificao cientfica da ema mostrada a abaixo: Reino: Animalia Filo: Chordata Classe: Aves Ordem: Struthioniformes Famlia: Rheidae Gnero: Rhea Espcie: Rhea americana Segundo Silva (2001), as principais diferenas entre emas e avestruzes so: o nmero de dedos, que so trs nas emas, e apenas dois nas avestruzes; a altura das aves, uma avestruz tem em mdia 2,50m, enquanto que a ema 1,50m; o peso que pode ser, em mdia, de 150kg para avestruzes e apenas 40 kg para as emas; o choco, que feito pelo macho nas emas e pela fmea nas avestruzes; e a principal delas, a avestruz uma ave adaptada para o deserto, que vive muito bem em ambientes ridos, com carga de microorganismos patognicos1 muito baixa, isto torna muito suscetvel a patgenos quando exposta a ambientes com maior umidade como comum na Amrica do Sul, o que no ocorre com as emas, j adaptadas ao clima mido por serem originrias deste continente.

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Patognico diz-se do organismo capaz de desenvolver doenas.

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A ema vive normalmente em grupos com aproximadamente 40 indivduos, apresenta hbitos diurnos (BRUNING, 1974, apud TONETO, 2005). Pela grande maioria dos autores considerada onvora, pois sua alimentao composta basicamente de vegetais, insetos e pequenos invertebrados, e realiza tambm a coprofagia (alimenta-se de suas prprias fezes). Atravs de anlises de contedos estomacais em quatro exemplares capturados na natureza, foram encontrados insetos hempteros, folhas, galhos pequenos de vegetao herbcea, sementes grandes (quatro cm de comprimento), sementes pequenas (um cm de comprimento), restos vegetais de plantas de brejo, frutos de palmeira e de macaba e razes de gramneas (REINHARDT, 1870, apud DANI et al., 1993). A altura dos animais adultos pode variar de 1,20 a 1,50m e o peso de 22 a 37 kg (GEGNER, 2001, apud BRESSAN, 2005). Uma das caractersticas que as diferencia da maioria das aves a separao de urina e fezes na cloaca, que formada por trs compartimentos. O primeiro onde o colo termina, no compartimento mdio desembocam na fmea a uretra e o oviduto, ou no macho o tubo seminal, e o ultimo aloja o pnis do macho (SILVA, 2001). Ainda de acordo com o mesmo autor, estas aves possuem regresso para vo, apesar de possurem asas bastante grandes, mas essa limitao compensada pela grande capacidade para correr podendo alcanar at 60 km/h. Suas grandes asas so usadas para manter o contrapeso durante a corrida, no ato do acasalamento, para a proteo dos filhotes, e como objeto de exibicionismo na conquista da fmea. As emas so normalmente mansas e curiosas, porm, quando assustadas, correm com passadas longas, em ziguezagues, mostrando assim a utilidade de asas longas para uma ave que no voa (SICK, 1985, apud BRESSAN, 2005). Ao contrrio dos membros dianteiros menos desenvolvidos, suas pernas so muito fortes permitindo agilidade e rapidez (SARASQUETA, 1990, apud BRESSAN, 2005). Por sua beleza, carter extico e comportamento curioso, a ema oferece a possibilidade de ser criada como um animal de estimao e ornamental. capaz de ajudar no controle de pragas em pastagens e tem facilidade de 15

adaptao a presena de outros animais como bovinos, ovinos e caprinos ou at mesmo outros animais silvestres como capivara, pacas e veados, essas so caractersticas interessantes para a criao em fazendas (GIANNONI, 1996).

2.3 Legislao

Para iniciar uma criao comercial de qualquer espcie da fauna brasileira deve-se primeiramente verificar junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais IBAMA, as condies tcnicas de manejo na propriedade destinado criao, para depois se preocupar em adquirir as matrizes ou filhotes de outros criatrios comerciais j estabelecidos e devidamente regularizados. A partir de 1993, a criao de animais silvestres no Brasil comeou a ser ordenada pelo IBAMA atravs da publicao de portarias e instrues normativas, foi quando surgiram os chamados criadouros de animais silvestres. A existncia desses criadouros prevista no Artigo 6, Lei de Proteo a Fauna-Lei n 5197/67 de 3 de janeiro de 1967, na Lei de Crimes Ambientais Lei n9605/98 e no Decreto que regulamentou essa Lei, o Decreto n 3179/99. A portaria 132/88 de 5 de maio de 1988 uma portaria geral que diz respeito a criao de animais que no tem um plano de manejo estabelecido. As principais espcies criadas de acordo com essa portaria so: ema, capivara cateto, jacar-tinga, paca, perdiz, perdigo, queixada, rato do banhado, serpentes, psitacdeos, papagaios, periquitos e araras entre outras. Na dcada de 1990, o Brasil iniciou a explorao comercial de emas, mais intensamente a partir de 1997 com a criao da Portaria N117-N que regulamenta a comercializao de animais vivos e abatidos, da fauna silvestre brasileira, provenientes de criadouros, com finalidade econmica e industrial, e da Portaria N188-N, que regulamenta a implantao de criadouros de espcimes de fauna brasileira e extica para fins comerciais (IBAMA, 2008).

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Desde o incio de 2003, criar emas com finalidade comercial uma alternativa pecuria agora reconhecida oficialmente pelo MAPA (Ministrio da Agricultura Pecuria e Abastecimento). Existem vrios instrumentos legais que regularizam o registro e o funcionamento dos criadouros de animais silvestres, e a comercializao desses animais nascidos em cativeiro. De acordo com o IBAMA, estes criadouros podem ser divididos em trs diferentes categorias: conservacionistas, cientficos e comerciais. Os criadouros conservacionistas tm a responsabilidade de auxiliar o IBAMA e os demais rgos envolvidos na conservao de espcies silvestres pela iniciativa pblica e privada. Ajudam no desenvolvimento de estudos da biologia e reproduo e na manuteno e proteo de animais originrios de apreenses e/ou excedentes de Centros de Triagem criados em cativeiro com assistncia adequada garantindo um plantel em condies ideais para possveis programas de reintegrao natureza. Existem cerca de 40 criadores desse tipo registrados no IBAMA. Os criadores cientficos existem com a finalidade de regulamentao de atividades de pesquisas cientificas com animais silvestres. Este registro obtido apenas por Universidades e Centros de Pesquisa devidamente reconhecidos pelo Poder Pblico. Existem atualmente cerca de 80 criadouros registrados no IBAMA com base nessas portarias. Os criadouros comerciais tm como objetivo principal criao para a comercializao dos animais ou de seus produtos e subprodutos. A recomendao dada pelo IBAMA que o plantel inicial dever ser preferencialmente adquirido de outros criadouros registrados ou provenientes de apreenses por rgos fiscalizadores. A captura de animais na natureza poder ser autorizada em locais onde os animais estiverem comprovadamente causando danos agricultura ou onde estiverem em grande nmero, obedecendo a sua distribuio familiar adequada e com autorizao devida do IBAMA cedida atravs de informaes sobre a captura e levantamento da espcie. Depois de estabelecido um plano de manejo de uma determinada espcie silvestre, elaborada uma portaria especfica que passa a normatizar a criao. Com base na portaria 132/88, o Brasil possui atualmente cerca de

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100 criadouros comerciais registrados, destes, 44% so de capivaras e a maioria se encontra no estado de So Paulo. A Tabela 1 mostra o nmero de criatrios comerciais de emas registrados no IBAMA em cada estado brasileiro. Os estados que no aparecem na tabela, no possuem criatrios registrados. Mais de 60% dos criatrios registrados esto no Rio Grande do Sul.

Estados Rio Grande do Sul Gois Bahia Distrito Federal Mato Grosso do Sul Paraba Santa Catarina Alagoas Tocantins Esprito Santo

Nmero de criatrios registrados 64 9 4 4 4 4 4 2 2 1

Tabela 1 Nmero de criatrios comerciais por estado.

2.4 Criatrios comerciais

A criao comercial de emas no Brasil iniciou em 1997. Atualmente este setor vem apresentando um alto crescimento devido s perspectivas positivas de colocao desta atividade no mercado nacional e internacional, e tambm s vantagens que a criao deste animal oferece em relao s demais atividades agropecurias. Apesar da imagem da ema ter uma ligao muito forte com os cerrados, mais de 60% dos criadores comerciais registrados no IBAMA situam-se no Rio Grande do Sul, onde tambm ainda so encontrados muitos animais soltos na natureza. No Brasil, o pioneiro na domesticao de emas foi o zootecnista Jos 18

Bonifcio Giorgio da Silva, que iniciou a criao procurando diversificar a produo da Fazenda Queimada, em Uruguaiana, RS. Sendo o primeiro a obter licena do IBAMA para colher ovos da ave na natureza e realizar a incubao artificial. Em seguida, foi criada a Associao Gacha de Criadores de Emas AGCE, que mais tarde evoluiu para Associao Brasileira de Criadores de Emas ABRACE, com sua sede por alguns anos na cidade de Bag, no Rio Grande do Sul. Hoje est situada na capital do estado Porto Alegre, presidida pelo Sr. Jacir Antonio Dalla Veccia e conta com cerca de 15 produtores de emas com criatrios destinados produo comercial. Essa iniciativa do estado surgiu provavelmente pela proximidade com o Uruguai, pas pioneiro na criao de emas, que mantm atualmente grandes fazendas destinadas produo desta ave. O atual presidente e scio fundador da associao iniciou a atividade em 1999, quando adquiriu a Fazenda Dalla Veccia, onde se desenvolveu parte do trabalho. A Fazenda est situada na cidade de Arroio dos Ratos, a 60 km de porto Alegre, onde o Sr. Jacir reside com sua famlia. Atualmente o produtor conta com um plantel de 150 animais, destes, 50 so reprodutores, 46 animais jovens e 54 em fase de terminao, prontos para o abate. Sua propriedade dispe de 22 hectares, dos quais apenas quatro so destinados criao de emas. A rea dividida em lotes de aproximadamente um hectare, todos com bebedouro e cocho de rao apropriados, bem como pastagem de boa qualidade para os animais. Alm disto, a fazenda conta com toda a estrutura necessria para incubao artificial dos ovos e manejo dos filhotes. A criao dos animais realizada pelo caseiro e sua esposa, e acompanhada nos fins de semana pelo proprietrio. A Figura 1 tem a finalidade de ilustrar o plantel de reprodutoras da Fazenda Dalla Veccia.

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Figura 1 Plantel de reprodutoras da Fazenda Dalla Veccia. Atravs de entrevistas, pude constatar que as demais fazendas associadas a ABRACE no Rio Grande do Sul contam com um nmero menor de animais, mas esto investindo para o crescimento do plantel. Em Santa Catarina, pela iniciativa de um grupo de empresrios de Lages, foi criada em 2000 a Cooperativa Catarinense de Criadores de Emas COOPEREMA, que est em ascenso, sendo um dos grupos com melhores perspectivas de crescimento no estado. A cooperativa composta de um criatrio de 5 hectares com cerca de 35 investidores que colaboram com a manuteno do mesmo. Teve sua sede em Lages at 2007, mas devido ao frio ocasionado pela elevada altitude de aproximadamente 1200m, h um ano mudou-se para a cidade de Rio Rufino, com altitude prxima de 850m, onde as emas obtiveram melhores desempenhos de produo. Por entrevista realizada em maio de 2008, pude constatar que hoje a COOPEREMA tem um plantel de 140 animais, sendo que 22 esto prontos para o abate e 50 so animais de sete meses nascidos no ultimo perodo reprodutivo e 68 so reprodutores. A fazenda administrada pelo associado Sr Vanildo Borguesan e sua famlia, que vivem na fazenda e so responsveis

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pela criao dos animais. Alm da criao de emas, tambm so cultivados fumo e vime como atividades complementares, pois as emas ainda no so criadas em escala comercial. Para serem comercializadas necessria uma quantidade anual estvel de animais prontos para o abate maior que a disponvel atualmente na fazenda. A Figura 2 ilustra o piquete de reprodutoras da COOPEREMA.

Figura 2 Piquete de reprodutoras da COOPEREMA.

3. CARACTERSTICAS DE MANEJO

3.1 Manejo

Em criadouros comerciais, a criao das emas dividida em quatro fases, a primeira o Berrio, para onde os animais so levados logo aps o nascimento, e permanecem l por, no mximo, dois dias. Permanecem em caixas plsticas, com piso antiderrapante, e so aquecidos atravs de aquecedores adequados (SILVA, 2001). Neste perodo, ainda no recebem comida nem gua, pois uma grande preocupao nesta fase a absoro

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rpida do saco vitelino, entre 7 a 10 dias de idade, evitando-se assim, a morte dos animais por infeco, um dos maiores problemas nos primeiros 20 dias de vida dos animais (MORATA, 2005). A segunda fase chamada de Internato, onde permanecem nos primeiros 30 dias de vida, at adquirirem o peso de, no mnimo, 1 kg. So alojadas em um galpo com piso coberto de palha, que deve ser trocado diariamente pela forte concentrao de amnia na urina dos filhotes. O galpo deve ser dividido em mdulos com sada para uma rea externa de 25 m/animal e com pastagem disponvel. O aquecimento deve ser feito atravs de aquecedores a uma temperatura de 30 C, no sendo aconselhvel o uso de lmpadas como aquecedor, pois os animais devem permanecer no escuro durante a noite. A alimentao ideal nesta fase forragem verde picada e rao inicial, que deve ser fornecida trs vezes ao dia (SILVA, 2001). A terceira fase a Recria, os animais permanecem em piquetes, dos trinta aos noventa dias de vida onde se inicia o processo de adaptao s condies ambientais. Deve-se construir um abrigo de aproximadamente 20m/animal, onde os animais possam abrigar-se em noites muito frias (SILVA, 2001). A quarta e ltima fase chama-se terminao, quando os animais j no precisam mais de cuidados especiais, podendo permanecer a campo com uma rea aproximada de 200m/animal. Quando atingem de 12 15 meses de idade j se encontram com peso de abate, entre vinte e cinco e trinta quilos (SILVA, 2001). Em relao s instalaes para animais adultos, no existe a principio um local adequado para a criao de emas. So animais muito rsticos, com facilidade de adaptao, podendo ser criados em lugares muito frios como o sul da Argentina e Uruguai, ou at mesmo no serto nordestino. Podem ser criadas tanto em plancies como em locais com terreno acidentado, mas no aconselhada a criao em montanhas e florestas. O local estabelecido para a criao deve ser muito parecido com o ambiente natural, ao ar livre, em piquetes e com lotao adequada s idades ou fases de crescimento, pois as emas sentem-se muito bem em bando, desde que o espao onde so criadas no seja muito pequeno (SILVA, 2001).

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As instalaes fsicas necessrias (cercas, comedouros, bebedouros) e a formao de pastagens so relativamente baratas, pois a ema por sua rusticidade no exige manejo sofisticado, mas preparo e treinamento adequados da mo-de-obra so essenciais. Sendo talvez o investimento mais significativo para o sucesso da criao, a dedicao e o zelo do criador. Este talvez seja um dos principais problemas enfrentados, pois no existe mo-deobra especializada na rea e a maioria dos criadores vem a criao de emas como uma atividade complementar, tendo muitas vezes que acompanhar a criao distncia. As emas, principalmente os filhotes, so consideradas frgeis se o manejo no for adequado, um pequeno descuido ocasionado por erro humano pode causar problemas em um lote inteiro de animais, causando muitas vezes perda total. Dani et al. (1993) descreveu as modalidades de manejo atravs de alguns dados referentes produo e planejamentos fsico e financeiro.

3.1.1 Manejo intensivo

A rea destinada ao manejo intensivo dever ser totalmente cercada para impedir o acesso de predadores. Animais adultos so distribudos em bandos de um macho para trs a cinco fmeas, em piquetes isolados para postura, que deve dispor de cobertura vegetal de gramneas e leguminosas, dispostos em mdulos. A quantidade de mdulos varia de acordo com o tamanho do plantel (DANI et al., 1993). Existem duas formas de sistema intensivo, o clssico e o misto. No sistema intensivo clssico os ovos so coletados nos piquetes e levados s chocadeiras. O perodo de incubao normalmente de 37 a 41 dias. Quando nascem, os filhotes permanecem por dois a trs dias no Berrio. Logo aps a sexagem, so soltos nos piquetes de crescimento I, onde permanecem at os 30 primeiros dias de vida. Em seguida so levados aos piquetes de crescimento II com cobertura vegetal abundante, onde permanecem at serem abatidos (DANI et al., 1993).

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No sistema intensivo misto os ovos so chocados pelos machos, que tambm cuidam dos filhotes, em piquetes com o fundo falso2, (que permitem que o filhote tenha uma rea livre longe do adulto e evitam a desnutrio dos filhotes por excesso de alimento roubado pelo macho). Neste sistema, as fmeas so levadas a um segundo macho quando j tiverem botado de 20 a 25 ovos no ninho do primeiro, e assim sucessivamente, at o fim do perodo de postura (DANI et al., 1993). Nesses locais de manejo intensivo, os piquetes tm dimenses reduzidas, portanto materiais estranhos, alimento no consumido e penas devem ser removidos para evitar crescimento bacteriano e de ectoparasitos. Deve ser feita regularmente rotao, onde os animais trocam de piquetes, deixando o anterior em vedao. Em sistemas intensivos, devem ser feitas observaes constantes aos esquemas de manejo, nutrio dos animais, crescimento, desenvolvimento, higiene, condio imunolgica, tratamento precoce de infeces e infestaes, estado psquico e relaes com o meio (DANI et al., 1993).

3.1.2 Manejo extensivo e semi-extensivo

Esta forma de manejo utiliza uma rea muito maior do que no manejo intensivo, sendo ideal para reas naturais de campo ou cerrado coberto com vegetao natural. Uma alternativa a utilizao de pastagens exticas comumente utilizadas para criao de outros animais (preferencialmente leguminosas e gramneas), inclusive pode ser feito o consrcio com bovinos e caprinos, ou at mesmo outros animais silvestres como capivaras e pacas (DANI et al., 1993). A rea deve ser cercada com cercas de arame liso ovalado de no mximo 1,3 m de altura. No sistema extensivo recomendado at 10 emas adultas por hectare e no sistema semi-extensivo so criadas de 50 a 70 emas por hectare, que um nmero de animais considerado ideal para a criao.

Piquetes com o fundo falso local onde so criados os filhotes com seus pais. O pai fica em uma rea menor com uma abertura de 20 30 cm de altura em um dos lados da cerca, rente ao cho, permitindo que os filhotes caminhem livremente longe do pai.

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Para estas modalidades podem ser facilmente utilizadas fazendas j existentes de bovinos, ovinos e caprinos (DANI et al., 1993).

3.1.3 Modalidades de manejo aplicadas em criatrios comerciais

Na maioria dos criatrios comerciais normalmente os animais so criados na forma semi-extensiva, a distribuio feita em piquetes de aproximadamente 50 animais por hectare, onde passam o dia pastejando, com gua e rao disponveis. notria a grande diferena no espaamento delimitado pelos sistemas de criao intensivo e extensivo. Em nenhum momento citada na literatura a questo do bem estar animal. Por ser um animal ainda silvestre no totalmente domesticado, as emas tm maiores dificuldades de adaptao a mudanas bruscas no ambiente onde vivem. Apesar de sua rusticidade, tm pouca tolerncia a situaes de estresse. Em experimento realizado na Fazenda Dalla veccia, foram realizados testes com 50 animais confinados em uma rea coberta, de 50 metros quadrados, com espaamento de um animal/m. O experimento durou quatro meses e utilizaram-se apenas animais em fase de engorda para o abate. No final foram avaliados: ganho de peso, mortalidade, uniformidade do plantel e viabilidade do sistema. Segundo o proprietrio da fazenda o sistema vivel. Mesmo com o alto preo de implantao, o retorno considerado mais rpido e seguro, pois os resultados apresentados mostram animais com maior peso de carcaa e tamanho mais uniforme comparados aos criados a campo. Mas a mortalidade foi maior, pois por conseqncia do estresse muitos animais adoeceram e morreram. Alm disto, tendo em vista que todo o pasto era distribudo em cochos, foi necessria maior mo-de-obra. Em nenhum momento foi citada a questo do bem estar animal. Este experimento no foi publicado.

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3.1.4 Consrcio com outros animais

Por sua rusticidade e adaptabilidade, as emas tm facilidade de convivncia com animais de outras espcies como bovinos, ovinos e outros animais silvestres como a capivara e a queixada. Uma forma de criao adotada na Fazenda Dalla Veccia o sistema de consrcio entre capivaras e emas. A criao de capivaras ainda no comercial, mas a fazenda conta com um plantel de mais de 80 animais que se reproduzem naturalmente e convivem junto com as emas. A fazenda dispe de um aude onde as capivaras podem banhar-se e tomar gua. As Figuras 3 e 4 mostram o plantel de capivaras na Fazenda Dalla Veccia, bem como sua convivncia em harmonia com emas prontas para o abate.

Figura 3 Plantel de capivaras

Figura 4 Convvio entre as espcies

A COOPEREMA tem interesse em diversificar a criao de emas criando pacas, mas esta no uma das prioridades no momento, os associados pretendem primeiro entrar no mercado com os produtos de ema.

3.2 Principais enfermidades

As emas so bastante resistentes aps os trs meses de idade, mas quando filhotes so frgeis e muito susceptveis a doenas que geralmente levam a morte. Quanto mais intensiva a criao, maior a probabilidade destas

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se manifestarem. As mais comuns nesta fase de crescimento so impactao e rotao tibiotrsica (GIANNONI, 1996). A impactao ou paralisia gstrica ocorre principalmente quando os animais, filhotes ou adultos esto estressados, perturbados ou frustrados, tendem a ingerir materiais estranhos (areia, pedras, feno, longos ramos de grama, gravetos) que bloqueiam a entrada da moela, com isso nenhum alimento pode passar, a moela interrompe as contraes (paralisia gstrica), e a ave morre por inanio. Para evitar a ingesto desses objetos, devem-se manter os piquetes limpos destes materiais, bem como evitar mudanas sbitas, rudos, presena de ces ou qualquer ato que cause estresse (SILVA, 2001). A rotao tibiotrsica, ou tambm chamada de entortamento de pernas, ocorre normalmente em filhotes com mais de 10 dias de idade. Os ps ficam virados para fora impedindo que o animal fique de p e possa se alimentar, diminuindo seu crescimento e com o tempo podendo causar a morte. causada principalmente pela falta de exerccio do filhote ligado ao fornecimento de rao em excesso. Para evitar este tipo de leso deve-se fornecer nutrio balanceada e um ambiente amplo que no cause leses (SILVA, 2001). A Figura 5 mostra filhotes de dois meses de idade, com problema de rotao tibiotrsica na Fazenda Dalla Veccia em maro de 2008.

Figura 5 Animais com rotao tibiotrsica 27

Existem formas de evitar estas enfermidades, pois esto ligadas diretamente ao manejo dos animais, sendo assim, Silva (2001) sugere algumas regras bsicas a serem seguidas para diminuir a incidncia de problemas com os filhotes: - A utilizao de machos como pais adotivos a melhor forma de criar os filhotes, pois ajuda a evitar a maioria das doenas, alm de gerar economia na mo-de-obra e consumo de rao; - Frutas e legumes nunca devem ser dados aos filhotes sem antes saber a procedncia, pois essas culturas, geralmente recebem muitos agrotxicos durante o cultivo, que so fatais aos mesmos; - Os filhotes devem ser mantidos em situao mais natural possvel em relao a sua condio ambiental; - Os nveis de vitamina E devem ser mantidos em torno de 400 U.I. por kg de rao, isto ajudar no controle do estresse nos animais. Uma das preocupaes da criao em cativeiro o controle das doenas parasitrias como os piolhos (na ema so comuns Struthiolipeurus rheae, S. renshi, S. nandu, S. stresemanni e Meinertzhageniella) e os endoparasitas (mais comuns Ascaridoidea e Strongiloidea). Os piolhos no sugam sangue, apenas se alimentam das plumas, mas podem causar muita irritao e estresse (GIANNONI, 1996). As principais doenas nos adultos so: Rinites (provavelmente causadas por Haemophilus gallinarium), Candidase, Salmonelose, Coccidiose, Tuberculose, e Influenza Aviria (GIANNONI, 1996). Mas dificilmente um animal em fase adulta contrai alguma destas enfermidades. Com um bom manejo sanitrio e nutricional, e sem situaes causadoras de extresse animais adultos e de boa gentica raramente adoecem. Vale lembrar que, por trs de qualquer doena sempre existe uma falha de manejo (SILVA, 2001). recomendado adequar o manejo dos animais preservando o mnimo do bem estar, diminuindo o fator estresse e conseqentemente as doenas.

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3.3 Caractersticas Reprodutivas

A ema polignica ou polindrica, ou seja, o macho copula com vrias fmeas assim como a fmea copula com vrios machos (TONETO, 2005). De acordo com Silva (2001) a atividade reprodutiva das emas varivel segundo a regio geogrfica. Esta variao observada no Brasil devido a grande extenso territorial, onde, a reproduo comea na primavera e vai at meados de Janeiro nas regies sudeste e sul, enquanto que Bahia e Mato Grosso (regio do Pantanal) entre os meses de julho e setembro. No Rio Grande do Norte a ema se reproduz durante todo o ano. Segundo Giannoni (1996), a ema pode atingir a maturidade sexual entre 10 e 24 meses de idade, sendo mais recomendado que o primeiro acasalamento ocorra a partir do segundo ano. Na poca de acasalamento ocorre uma mudana de comportamento nas emas, principalmente os machos, uns trs meses antes do incio da postura se tornam bastante agressivos. Neste perodo iniciam-se as lutas pela dominncia do grupo. Estas lutas ocorrem apenas entre machos e so muito importantes, pois atravs delas so geradas cargas hormonais que influenciam na fertilidade. Famlias onde existe apenas um macho podem ter a fertilidade afetada por falta das brigas (SILVA, 2001). Segundo Almeida (2003), em um criadouro comercial, a incubao dos ovos e criao dos filhotes podem ser feitos de forma natural ou artificial. O sistema natural permite que o macho choque os ovos no seu prprio ninho, quando os filhotes nascem so levados junto com o macho para um outro recinto, onde o pai os cria at atingirem maturidade para serem separados. No sistema artificial, os ovos so retirados diariamente dos ninhos logo aps a postura e chocados por incubadoras. Quando nascem, os filhotes so levados para outro recinto e criados por pessoas especializadas. Em estudos realizados pelo mesmo autor, constatou-se que os sistemas de criao e incubao no influenciam na porcentagem de ovos frteis, contaminao e peso do filhote no nascimento. Mas, concluiu-se que, o sistema natural propicia melhores resultados na porcentagem de ovos eclodidos e de filhotes vivos at os trs meses de idade. No sistema artificial, a porcentagem de morte embrionria maior, tambm a de filhotes mortos por 29

reteno do saco vitelino, rotao tbio-trsica e paralisia gstrica, mas tem melhores resultados no ganho de peso dirio dos filhotes at os trs meses e maior peso no final dos trs meses. No momento do acasalamento os machos cortejam varias fmeas simultaneamente, para tanto abrem suas asas com as plumas eriadas, principalmente as do pescoo e dorso. So formados harns com um ou dois machos dominantes para cada cinco a oito fmeas. O mais interessante do comportamento reprodutivo das emas o papel desempenhado pelo macho, pois ele faz a corte, constri o ninho, choca os ovos e cuida dos filhotes, enquanto a fmea apenas realiza a cpula e pe os ovos (DANI et al., 1993). Aps o acasalamento, os machos constroem o ninho, que so buracos rasos de 80 cm de dimetro, para onde transportam folhas secas e penas (SILVA, 2001). A vegetao ao redor do ninho cortada pelo bico, mantendo limpa uma rea de dois a trs metros de raio. Esta rea sem vegetao parece funcionar como um aceiro contra incndios, pois j foram encontrados muitos ninhos de emas intactos aps incndios no Parque Nacional das Emas, em Gois (ANDRADE, 1992, apud DANI et al., 1993). As fmeas iniciam a postura 25 dias aps a cpula, pe os ovos em volta do ninho e o macho que se encarrega de arrast-los para dentro at que seja atingida uma quantidade satisfatria. Aps dois ou trs dias do incio da postura os machos iniciam a incubao, podendo chocar de 10 a 60, sendo em mdia dezoito ovos por ninho (AGUIAR E MAURO, 2004, apud BRESSAN, 2005). Uma fmea capaz de botar de 10 a 18 ovos em um perodo, com um intervalo de dois a trs dias entre as posturas (SICK, 1985, citado por DANI et al., 1993) e realizam vrias posturas para vrios machos em uma mesma estao, botando em mdia de 25 a 40 no total (SILVA, 2001). Depois de completar seu ninho, o macho deixa de cortejar as fmeas e desfaz-se do grupo dedicando-se exclusivamente choca. Ento, as fmeas se juntam a outros machos e reiniciam o ritual (SILVA, 2001). Em criatrios comerciais, os ovos so coletados assim que so postos pelas fmeas e chocados em incubadoras, o que no impede que os machos fiquem chocos, isto somente retarda o processo (SILVA, 2001). Os fatores mais importantes na incubao dos ovos so umidade e temperatura. A incubao realizada pelos machos atinge temperaturas em 30

torno de 36 e 36,7 graus centgrados, portanto, a temperatura em uma incubadora artificial deve ser em torno destes valores. J a umidade relativa deve variar em torno de 60 e 87%. A incubao dura de 37 a 41 dias em mdia (DANI et al., 1993).

3.4 Manejo dos filhotes

A ecloso dos ovos ocorre sincronicamente, todos os filhotes nascem no mesmo dia, com apenas algumas horas de diferena. As cascas dos ovos j eclodidos exalam um cheiro forte que atrai muitas moscas, servindo de primeiro alimento para os recm nascidos nas primeiras horas de vida (BRITO, 1949, apud DANI et al., 1993). Quando a incubao feita pelo macho, aps o nascimento, o pai cuidadosamente protege os filhotes de predadores e os aquece, pois os filhotes necessitam de um grupo social estvel que inclui uma forte figura paternal (STEWART, 1994, apud ALMEIDA, 2003), mas em relao alimentao, estes so bastante independentes desde o momento do nascimento. Os machos cuidam dos filhotes at atingirem 12 meses de idade, quando se juntam ao grupo das emas adultas (DANI et al., 1993). Logo que nascem, os filhotes so extremamente dependentes de estimulao paterna. Quando saem do ninho pela primeira vez caminham muito perto do macho e comeam a se exercitar, estimulando assim o seu apetite. No cativeiro, principalmente quando criados separados do macho, podem ocorrer alteraes em seu comportamento. O mais temvel o canibalismo, que tem relao com o estado psquico dos filhotes criados longe do pai (DANI et al., 1993). Para filhotes incubados em chocadeira, aps o nascimento, devem permanecer por algumas horas em estufa ou incubadora para que se sequem, e em seguida so conduzidos para local com aquecedor artificial. Nunca devem ser utilizadas lmpadas no aquecimento, pois estas alteram o ritmo circadiano das emazinhas e podem provocar o surgimento de canibalismo (DANI et al., 1993).

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Uma alternativa para a alimentao dos filhotes sugerida pela Fazenda Queimada a utilizao dos ovos infrteis cozidos misturados com azeite extrado da gordura da ema como alimento, ajuda a reduzir a mortalidade para quase zero nos primeiros 15 dias de vida, sendo que normal a perda de 20% dos filhotes nesta primeira fase. Como conseqncia do stress causado pelo cativeiro, eles absorvem a energia com que nascem mais rapidamente que a gordura contida nos alimentos, isto provoca a chamada "sndrome do filhote enfraquecido", que os levam a morte por raquitismo nesses primeiros dias. O tratamento deve ser acompanhado de um protetor heptico. Para o aquecimento dos filhotes, uma outra sugesto da agropecuria o uso de um equipamento novo, que envia gua quente para cabos circulantes com controle de temperatura no ambiente, que mantm o piso aquecido proporcionando mais conforto e segurana, evitando que os filhotes morram pisoteados quando se agrupam em busca de calor. Outra alternativa para o aquecimento dos filhotes, que funciona at mesmo em sistema intensivo, a utilizao dos chamados machos amas. Geralmente so machos criadores mais velhos, que podem trazer muitos benefcios, pois so capazes de reunir os filhotes com apenas um sinal sonoro permitindo que eles prprios decidam quando devem ser aquecidos, possibilitando economia de energia por no utilizar sistemas de aquecimento artificial (DANI et al., 1993).

3.4.1 Prtica: Manejo reprodutivo nos criatrios comerciais consultados

Na maioria das fazendas de criao comercial no sul do Brasil, a incubao dos ovos feita de forma artificial, atravs de chocadeiras. O processo realizado est de acordo com o descrito na literatura, mas em muitos casos os resultados no so satisfatrios. A mortalidade dos filhotes nos primeiros dias de vida muito grande, assim como a porcentagem de ovos no eclodidos. Na ultima temporada de reproduo, na COOPEREMA, o nmero de ovos coletados durante a postura foi de 1380, uma mdia de 35 ovos por fmea, considerado normal para a espcie. Porm, nasceram apenas 80

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filhotes, e destes, 50 atingiram os seis meses de idade. Segundo o responsvel pelo manejo dos animais, isto ocorreu pelo excesso de clcio na rao de postura dada aos machos, que ocasionou esta esterilidade momentnea. Na prxima temporada no ser utilizada esta rao de postura, mas sim a rao normal dada a todos os animais. Na fazenda De Bortolli, na cidade de General Cmara RS, que possui atualmente 42 reprodutores, a incubao feita de forma natural pelo macho, mas assim mesmo, no ltimo perodo reprodutivo, todos os filhotes morreram at os dois meses de idade. Apesar de todos os cuidados dos criadores, os relatos so de que os filhotes paravam de comer e morriam em, no mximo, dois dias. possvel que tenha ocorrido paralisia gstrica, ocasionada por algum ato causador de estresse nos animais. Na fazenda Dalla Veccia, a incubao tambm ocorre de forma artificial, os ovos so coletados a campo nos ninhos e levados at a chocadeira no menor intervalo de tempo possvel. Apesar de haver um ndice de mortalidade muito alto, a criao considerada estvel. A cada perodo reprodutivo, em mdia 50 filhotes conseguem atingir seis meses de idade. Este ano nasceram cerca de 120 filhotes, e apenas 46 atingiram os quatro meses, mais de 60% de mortalidade. Na fase de internato os filhotes recebem o apoio do pai adotivo, que geralmente um macho mais velho e experiente em reproduo, permanecendo junto ao filhote at os trs meses de idade. Segundo relatos do proprietrio, o mtodo de proteo utilizando o macho realmente funciona, diminuindo a mortalidade e o estresse, bem como os gastos no aquecimento dos animais. A Figura 6 mostra o macho ama com seus filhotes de um ms de idade.

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Figura 6 macho ama com filhotes de um ms de idade. Muitas vezes, as razes de tanta mortalidade so problemas de manejo simples, que podem ser facilmente resolvidos atravs pequenas modificaes no local de criao. Um exemplo na Fazenda Dalla Veccia a presena de machos reprodutores muito prximos do local destinado a recria. Apenas uma cerca separa os reprodutores dos filhotes, deixando-os lado a lado. Mesmo com a presena do pai adotivo, que d segurana aos animais, este um fator muito alto de estresse. Animais estressados tm forte tendncia a desenvolver problemas como paralisia gstrica e raquitismo hipofosfatmico, que, na maioria dos casos, levam a morte. Outro fator causador de estresse que poucas vezes considerado o aquecimento dos animais, que na Fazenda, assim como em muitos locais, feito atravs de lmpadas incandescentes durante a noite. A luminosidade d a falsa impresso de ser dia estimulando os animais a comerem por muito mais tempo. Sem se exercitarem o suficiente, os filhotes ficam mais pesados causando problemas de pernas abertas e rotao tibiotrsica, problemas que normalmente, tambm levam a morte. Alm destes problemas, o excesso de luminosidade tambm causa estresse por evitar que as aves durmam. Reala o brilho natural de olhos e penas, encorajando os filhotes a bicarem uns aos

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outros, o que estimula o canibalismo. A Figura 7 ilustra animais de dois meses de idade, na Fazenda Dalla Veccia, sendo aquecidos durante a noite por uma lmpada incandescente.

Figura 7 Aquecimento atravs de lmpada incandescente. Na fazenda da Sra Ireny Rodrigues de Almeida, em Cachoeira do Sul RS, segundo os caseiros responsveis pela criao no perodo de reproduo, no houve postura. A proprietria desconfia que houve postura, mas os ovos foram comercializados sem o seu consentimento, pois ela vive em outra cidade e faz visitas espordicas a sua fazenda, o que facilita a ao de funcionrios de m f que vendem os ovos sem o consentimento dos proprietrios.

3.5 Alimentao

O fator mais importante para a sade de qualquer animal a alimentao, influencia tambm diretamente na reproduo e crescimento de todos os seres. A nutrio uma ferramenta de extrema importncia para a diminuio dos custos e aumento dos ndices zootcnicos. Em cativeiro, os animais geralmente realizam menos atividades fsicas do que na natureza, e o 35

alimento fornecido constantemente em excesso podendo causar problemas reprodutivos, de obesidade, entre outros (HOSKEN et al., 2003). De acordo com Silva (2001), por possurem dois cecos e colo, as ratitas so herbvoras. J em estudos realizados na Universidade Nacional de Crdoba, Argentina, por Martella (1996) em relao dieta das emas, foi comprovado que a ema onvora, mas a maior parte de sua alimentao composta de vegetais. As ratitas, principalmente os filhotes, tm o hbito de comer muitas moscas, gafanhotos, e outros insetos, que so compostos basicamente de gordura e protenas. A gordura presente nesses insetos bem diferente da existente nos gros. Nas raes predomina gordura no-saturada, j nos insetos a gordura composta exclusivamente de cidos saturados, de cadeia longa, muito estvel, que no oxidam com facilidade para serem absorvidos pelo organismo. Essa habilidade dos filhotes em utilizar essas gorduras de insetos evoluiu em funo da mesma que estava disponvel para sua alimentao (SILVA, 2001). Dependendo da estao, de 39 e 63% das plantas preferidas pelas emas so cultivadas, sendo a principal, a alfafa, que possui um alto potencial de digestibilidade e grande valor nutritivo, mais elevado que a maioria das gramneas, podendo suprir grande parte da necessidade nutritiva das emas. A ingesto de insetos e animais vertebrados (ou os seus ossos) coincide com o perodo do ano em que estes animais esto mais disponveis, e igualmente coincide com a estao de criao das emas, pois a fase onde a demanda de protena, energia, e outros nutrientes aumenta (MARTELLA et al., 1996). Os alimentos ricos em protenas podem constituir uma fonte importante de reservas do corpo para o esforo fsico que a produo de ovos nas fmeas e para a privao prolongada de alimento no perodo de incubao nos machos (MARTELLA et al., 1996). Animais alimentados apenas com rao tm problemas de crescimento, alm de apresentarem muita sensibilidade ao frio, acredita-se que sentem muito frio pela falta de calor que seria produzido durante a fermentao das fibras no intestino (LAUFER E KUNIN, 2003, apud BRESSAN, 2005). As ratitas quase no possuem paladar e o seu poder digestivo muito alto, isto permite a digesto de praticamente tudo que come (GIANNONI, 1996), mas isto tambm faz com que s vezes ingira objetos indesejados, 36

principalmente os brilhosos que chamam a ateno do animal, e isto pode trazer problemas a seu trato digestivo, podendo levar o animal a morte (SILVA, 2001). Os filhotes comem pequenos insetos e vegetais a partir do momento que comeam a seguir o macho. As emas adultas passam o dia pastejando, de preferncia leguminosas macias e tenras como trevo branco (Trifolium repens), cornicho (Lotus corniculatus), pega-pega (Desmodium tortuosum)e brotos novos de gramneas, alm de comerem pequenos invertebrados como lagartixas, rs, pres e ratos (GIANNONI, 1996). Segundo Santos, citado por Dani et al. (1993) at mesmo restos de uma serpente j foram encontrados no estmago de uma ema. Segundo Silva (2001), por obter um trato digestivo altamente especializado, as ratitas so capazes de sobreviver em locais onde ocorram muitas secas e com alimentos de baixo valor nutricional, como os existentes na regio do Nordeste do Brasil. Ainda de acordo com o mesmo autor, a formulao de dietas para emas baseia-se em conhecimentos de experimentos com outras espcies, como avestruz, emu, frangos e poedeiras. A metabolizao da energia e a digestibilidade dos nutrientes nas emas so diferentes quando comparadas com valores determinados para estes animais. O desconhecimento das informaes pode acarretar em sub ou supernutrio dos animais e ter uma eficincia negativa na produo e reproduo, conseqentemente, na rentabilidade da atividade. Alm disto, a quantidade de rao fornecida tambm muito importante, uma boa alimentao projetada para promover certo nvel de nutrientes, se a ave consumir a quantia exata de rao. Alimentando mais ou menos que a quantia recomendada pode conduzir a desequilbrios nutricionais. Outra preocupao dos nutricionistas formular dietas para que as aves melhorem seu desempenho de forma econmica. O conhecimento da composio qumica dos alimentos, do seu contedo energtico, nutrientes e a digestibilidade de cada nutriente garante aos animais a ingesto de quantidades adequadas de todos os nutrientes necessrios para uma alimentao balanceada como carboidratos, protena, lipdios, vitaminas e minerais que atendam s suas necessidades nutricionais. Alm disto, de

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extrema importncia para a formulao de dietas de custo mnimo (MORATA, 2005). Estudos realizados por Morata (2005) comprovam que as diferenas observadas entre o tamanho e a proporo do intestino delgado, ceco e clon das ratitas e dos frangos demonstram o potencial das emas e das avestruzes em aproveitar a energia dos alimentos com altos teores de fibra, j que estes compartimentos so locais de intensa fermentao microbiana, resultando na produo de cidos graxos volteis (AGV). De acordo com o mesmo autor, a maior preocupao com a alimentao de emas fmeas adultas em reproduo est no fornecimento correto de clcio (2 3,5%) e fsforo (1 1,2%) uma vez que estas necessitam de grandes quantidades para a formao da casca dos ovos. bom tambm garantir um bom escore corporal de animais nesta fase, pois animais obesos tendem a apresentar baixos ndices reprodutivos. A quantidade de rao a ser fornecida, diretamente relacionada quantidade e qualidade da pastagem disponvel. Mas, se tivermos uma rao de boa qualidade, pode-se seguir este roteiro: na primeira semana de vida rao vontade; da segunda semana aos dois meses, 8% do peso dos animais, duas vezes ao dia; do 2 ao 5 ms, em torno de 5% do peso; do 5 ms at o abate 4% e na manuteno e postura 2%, uma vez ao dia. Para produtores que pretendem formular a prpria rao, deve fazer com muito cuidado, pois as emas no tm tanta tolerncia a ms formulaes e erros de mistura quanto bovinos e sunos (SILVA, 2001). aconselhvel que sejam fornecidas pequenas pedras, tambm denominadas gastrlitos, que so engolidas pelas emas e permanecem no ventrculo (moela), com a funo de moer os alimentos, ajudando as contraes das grossas paredes desse rgo. Estas pedras dificilmente so excretadas, mas por desgastarem com o processo devem ser repostas continuamente (SILVA, 2001).

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3.5.1 Prtica: Alimentao nos criatrios comerciais consultados

Nas fazendas destinadas a criao de emas do sul do Brasil a alimentao dos animais est baseada nos dados disponveis na literatura, com poucas modificaes. A ABRACE disponibiliza aos associados, a formulao de uma rao com os nutrientes necessrios para o desenvolvimento dos animais. A rao composta de 40% de farelo de trigo, 35% de farelo de milho, 20% de farelo de soja e 5% de premix. Para os filhotes recomendada a utilizao de rao comprada pronta, pois por serem muito sensveis no toleram desequilbrios nutricionais ocasionados por um pequeno erro na mistura da rao. Na Fazenda Dalla Veccia os animais adultos em fase de terminao e reprodutores recebem 0,5 kg/dia de rao por animal disponvel em cochos de madeira, no perodo da manh. Os animais se alimentam durante todo o dia de pastagem natural da regio juntamente com trevo branco (Trifolium repens) semeado. J os filhotes at trs meses de idade recebem rao vontade inclusive durante a noite. Alm da rao, tambm so alimentados com capim (Panicuns maxium) e couve (Brassica oleracea) picados pela manh, complementados, nos primeiros dias de vida, com ovos de galinha cozidos.

Figura 8 Cocho de rao onde a rao disponibilizada para os animais na Fazenda Dalla Veccia.

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Na COOPEREMA a rao utilizada comprada pronta, segundo o responsvel um pouco mais caro que a preparada na fazenda, mas gera menos problemas de formulaes erradas, o que evita disfunes nutricionais. Para os reprodutores no utilizado cocho, a rao lanada ao solo onde os animais se alimentam. realizado desta forma para que junto com a rao os animais possam ingerir pequenas pedras, que auxiliam na moagem dos alimentos. A pastagem composta basicamente de nabo forrageiro (Raphanus sativus), ervilhaca (Vicia sativa) e trevo branco (Trifolium repens) semeada nos piquetes. A Figura 9 tem a finalidade de ilustrar o local no solo onde a rao lanada para a alimentao dos animais.

Figura 9 Local onde lanada a rao. Uma forma alternativa de alimentao realizada na Fazenda De Bortolli em General Cmara RS, alm da pastagem, os animais recebem uma mistura de aipim, capim e abbora picados e misturados na rao comprada. Segundo o proprietrio Mauro, os resultados so animais mais fortes, com menor incidncia de doenas e diminuio da mortalidade.

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3.6 Distribuio de gua

A gua de beber deve ser de excelente qualidade e estar sempre fresca e disponvel para os animais. So consideradas apropriadas para consumo as seguintes guas: mineral; clorada da rede de abastecimento; fervida no mnimo 2 minutos; principalmente de poos, nascentes e rios; filtrada e clorada no mnimo 1,5mg/litro, e no mximo 2,5 mg/litro de Hipoclorito de Sdio, prprio para esta finalidade. O armazenamento deve ser feito em caixa dgua ou reservatrio sempre tampados, e requer limpeza peridica a cada seis meses (HOSKEN et al., 2003). Uma ema consome grande quantidade de gua, em mdia de 3 a 4 litros por dia, e esto sempre levando seus bicos com resduos de rao ao bebedouro. A fermentao desta rao pode contaminar a gua, por isto os bebedouros devem ser limpos periodicamente (SILVA, 2001). importante manter isolados audes, tanques ou sangas, ou at mesmo poas dgua, pois as emas, mesmo com bebedouros de gua limpa, tomam a gua suja que encontram no cho, isso pode acarretar em infestaes diversas (HOSKEN et al., 2003).

3.6.1 Prtica: Distribuio de gua nos criatrios comerciais consultados

Uma grande fonte de infeces e problemas fisiolgicos nos animais so os bebedouros, que muitas vezes por descuido do tratador no so limpos periodicamente, isto pode ocasionar problemas muitos srios em todo o plantel. A limpeza do bebedouro e a troca da gua na Fazenda Dalla Veccia so realizadas diariamente, mas a gua utilizada nem sempre de qualidade adequada. O piquete dos reprodutores est localizado em um local muito acima do poo artesiano de onde retirada a gua para os animais. Muitas vezes a bomba no consegue levar a gua ao nvel do bebedouro mais alto, ento utilizada a gua do aude que est totalmente fora do ideal para o consumo, o que pode ocasionar doenas e, at mesmo, desidratao, pois o animal muitas vezes rejeita a gua do aude com sabor e cor diferentes. A Figura 10 ilustra o

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bebedouro no piquete de animais em fase de terminaao. Este local est no mesmo nvel do poo artesiano, no passando por problemas de falta de gua.

Figura 10 Bebedouro no piquete de animais em fase de terminao.

4. ESCOAMENTO DA PRODUO

4.1 Produtos e Subprodutos

A variedade de derivados que a ema oferece reduz o risco do monoproduto, tornando-a uma importante alternativa para a gerao de renda. Quase todas as partes de uma ema podem ser comercializadas. Os principais produtos obtidos da ema so: carne, gordura, couro, penas e ovos.

4.1.1 Carne

Segundo Dani et al. (1993), existem muitas pessoas que dizem que no se come carne de ema, este um pensamento errneo, um preconceito de

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natureza puramente cultural, pois a carne de ema muito saborosa e com um elevado teor de protenas. O gosto e a textura so muito parecidos com a carne bovina, mas tem aproximadamente a metade do teor de gordura e calorias. A ema apresenta uma excelente converso alimentar, que possibilita uma viabilidade de custo na produo da carne. Com o aumento da incidncia de doenas cardiovasculares, que acompanha o desenvolvimento recente da civilizao ocidental, existe uma grande procura por carne vermelha mais saudvel, sobretudo com baixos nveis de colesterol, calorias e gorduras, sem o risco da febre aftosa, este mercado est aberto e precisa ser atendido. O consumo de alimentos mais saudveis deixou de ser privilgio das classes mais abastadas e passou a ser uma necessidade para todos. Uma caracterstica nica da carne de ema, no encontrada em outras espcies de abate, o fato de conter menos de 1% de lipdios (SILVA, 2001). Levando em considerao estes fatos, a carne de ema considerada uma alternativa superior s demais, passando a compor o cardpio das pessoas que almejam uma alimentao sadia (DANI et al., 1993). A carne da ema tambm rica em cidos graxos polissaturados do tipo Omega 3, que diminui a presso arterial, melhora a elasticidade das artrias e influi positivamente na preveno e na reduo de tumores (SILVA, 2001). Por meio de um trabalho sobre rendimentos do abate e composio da carne de ema, Pereira et al. (2006) constatou que a ema apresenta baixo contedo de colgeno, o que proporciona uma carne mais macia e com teor baixo de colesterol. A literatura muito escassa nessa rea, existe a necessidade de mais estudos sobre os ndices zootcnicos de criao comercial de ema, caracterizao da carne e cuidados no abate, que pode influenciar na qualidade da carne. Uma ema pode produzir de 10 a 13 quilos de carne vermelha. A partir de um casal de emas possvel produzir at 500 kg lquidos de carne, em 24 meses, contra 200 kg lquidos produzidos por um casal de bovinos, no mesmo perodo. Filhotes criados intensivamente poderiam ser abatidos, em criadouros industriais, quando atingem 2-3 meses de idade, pesando, em mdia, 4,6 kg. Outra alternativa seria o abate aos 6 meses, pesando 9,5 kg, ou com um ano de idade, pesando 20 kg (DANI et al., 1993). 43

De acordo com Silva (2001) sua capacidade de correr faz com que seus msculos, j adaptados a essa atividade h mais de 80 milhes de anos, gerem grande quantidade de ATP (Trifosfato de Adenosina), nossa fonte de energia. Nos EUA, j existe a produo de um concentrado protico feito base de estrato de carne de ema, utilizado como integrador alimentcio para pessoas que necessitam complementos energticos ou vitamnicos (atletas e jovens em desenvolvimento). Segundo pesquisas realizadas nesse pas, este mesmo produto atuaria resolvendo desordens imunolgicas como alergias, artrites, asma, etc. Uma outra utilizao da carne de ema na fabricao de salame tipo italiano. Em estudos feitos por Campagnol et al. (2007) constatou-se que a carne de ema tem as mesmas caractersticas microbiolgicas e fsico-qumicas que as matrias primas utilizadas na elaborao do salame. A fabricao feita segundo procedimento usual para preparao do salame constitudo de carne bovina e suna. A anlise sensorial, aprovou o novo produto, considerando que o salame elaborado com carne de ema atende integralmente legislao em vigor para o salame tipo italiano.

4.1.2 Gordura

A gordura o principal subproduto de ema discutido recentemente, pois o leo extrado da gordura de ratitas grandemente utilizado na indstria farmacutica por possuir importantes propriedades medicinais. Apesar de j estar em condies de industrializao e exportao, este ramo da produo ainda pouco explorado pelos produtores de emas do Brasil. Uma ema adulta de 43kg pode produzir cerca de 6,5 kg de gordura, ou seja , 19,11% do seu peso corporal (GIANNONI, 1996). O leo de ema rico em vitamina E, muito utilizado em produtos para hidratao. Possui propriedades anti-inflamatrias, antialrgicas, antireumticas, cicatrizantes (muito utilizado em queimaduras), com grande importncia para a indstria farmacutica e cosmetolgica (ABRACE, 2008). Alm disto, pode ser usado como complemento na alimentao de bebs, por ser muito semelhante ao leite humano (GIANNONI, 1996).

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A extrao feita da gordura da ema, e posteriormente purificado. constitudo de uma das menores molculas conhecidas pela cincia, tendo assim, grande facilidade de penetrao na pele humana. muito utilizado como veculo para vacinas e insulina (ABRACE, 2008). Segundo Silva (2001), por ser sintetizado muito rapidamente, este leo diferencia-se de outros animais, no contendo resduos de metais e outros contaminantes. Foi comprovado, por estudos feitos com ratitas, que estes leos so triglicerdeos, indo desde o cido lurico ao lignocrico e aos cidos graxos. Os triglicerdeos so o componente mais abundante nos lipdeos da pele humana, e os cidos graxos extrados da ema so muito semelhantes ao extrato crneo (camada externa) da nossa pele. De acordo com o mesmo autor, os mesmos estudos comprovam que o leo de ema contm cido linolnico, utilizado para aliviar temporariamente dores musculares. O cido arachidnico, encontrado recentemente no leo de ema, desempenha um papel importante no processo inflamatrio, atualmente objeto de pesquisas. O cido olico o mais abundante, conhecido por sua capacidade de transportar compostos bioativos atravs da pele. Existem muitos estudos sobre a capacidade dos mesmos transportarem outros compostos no presentes no leo (vitaminas, peptdeos naturais ativos e protenas que regeneram a pele) para o interior da epiderme. Foi comprovado que o leo capaz de transportar at mesmo protenas com alto peso de massa molecular por haver uma relao especial de cidos graxos no-saturados e uma composio natural deste leo com um transportador biolgico. Combinando esta habilidade do leo com Aloe Vera possvel que alcalides biologicamente ativos desta planta penetrem na pele. Sendo assim, as propriedades antialrgicas, antiinflamatrias e cicatrizantes podem ser multiplicadas muitas vezes e usadas no tratamento de acne, psorase e outras.

4.1.3 Couro

considerado um dos mais atrativos, resistentes e distintos do mercado, semelhante pele de filhote de avestruz. Para o curtimento, a tecnologia barata e j dominada em alguns lugares no Brasil e no exterior (DANI, 1993).

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Um animal adulto pode produzir cerca de 0,46 0,65 m de couro durvel, flexvel e de bom caimento, ideal para a industria de calados, bolsas, cintos e roupas em geral (GIANNONI, 1996).

4.1.4 Penas

Muito utilizada na indstria do vesturio, decorao e utenslios domsticos (DANI, 1993). No passado eram largamente usadas na confeco de fantasias de carnaval e espanadores. Nos dias atuais os carnavalescos tm substitudo por penas de avestruzes importadas por no existir oferta suficiente dos criatrios comerciais brasileiros (GIANNONI, 1996). Ultimamente tem sido utilizadas tambm na indstria de automveis para limpar carrocerias antes da pintura, e na informtica para a limpeza de microchips e circuitos integrados, por no transportarem cargas eltricas (SILVA, 2001).

4.1.5 Ovos

Os ovos de ema atingem em mdia 600 gramas e podem ser consumidos de forma semelhante aos de galinha. Esto em muitas receitas do nordeste do Brasil, cozidos, fritos, na forma de omelete e outros, mas devem ser consumidos moderadamente, pois um ovo de ema equivale a at quinze ovos de galinha (DANI et al., 1993). A casca pode ser utilizada para o artesanato ou triturada serve tambm como componente de raes (DANI et al., 1993). Pode ser usado tambm na indstria de shampoos e preparo de vacinas (GIANNONI, 1996), alm disto, rica em clcio (98,5%), tem demonstrado grande potencial para utilizaes mdicas, e o p da casca tambm considerado um poderoso afrodisaco (SILVA, 2001).

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4.1.6 Outros subprodutos

O fgado muito utilizado na produo de pats, o maior produtor a Frana, j existem alguns fazendeiros franceses produzindo em Portugal (GIANNONI, 1996). Unhas, clios e bico so utilizados na produo de artesanato. O couro da canela semelhante ao dos rpteis, podem ser fabricadas pulseiras, cintos e outros itens decorativos (SILVA, 2001). Uma alternativa para os programas de recomposio ambiental seria o uso de emas como disseminadoras de sementes em reas degradadas, pois as sementes de tegumento rgido que so ingeridas pela ave so escarificadas em seu poderoso trato digestivo, pela ao de enzimas e da musculatura, sendo liberadas em perfeito estado para a germinao, no a toa que a ema chamada de plantadora de rvores. Alm disto, alimentando-se de insetos, aranhas, pequenos roedores e rpteis, ajuda no equilbrio ecolgico e no controle biolgico de pragas (DANI et al., 1991). Martella, (1996), comprovou atravs de estudos que em um lote de alfafa infestado de lagartas, as emas se alimentavam primeiramente das lagartas e adultos do inseto, isto ajudou a reduzir os danos gerados ao lote.

4.2 Aspectos mercadolgicos

A fauna silvestre tem sido considerada uma importante opo de fonte protica na alimentao humana no Brasil, e em muitos pases da Amrica Latina, frica e sia. Alm da carne, outros subprodutos como penas e couro apresentam um alto potencial de mercado (NEGRINI, apud TONETO, 2007). Segundo Giannoni (1996), na Europa, existe um mercado j estabelecido para a comercializao de avestruzes, isto possibilita a introduo da carne de ema nestes lugares pela semelhana de seus produtos, e estimula a abertura de novos mercados em outros lugares como os pases NorteAmericanos e Japo (DANI, et al., 1993).

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Segundo Giannoni (1996), muitas fazendas de emas j fazem sucesso em pases como Inglaterra, Sucia, Holanda, Blgica, Frana e Portugal. A explorao desta atividade ainda relativamente nova, mas o nmero de fazendeiros que aderiram a Rheacultura produzindo carnes, couro e outros produtos tm aumentado ano aps ano em todo o mundo. A criao de ratitas como fonte de lucro esta desenvolvendo uma cadeia de negcios. Em alguns paises j surgem criatrios com mais tecnologia para a seleo de reprodutores de melhor padro gentico. Ainda de acordo com o mesmo autor, os Estados Unidos so responsveis pelo maior nmero de pesquisas com emas, e possui atualmente a maior quantidade de animais em cativeiro. No Brasil, a ema considerada um animal silvestre, sua explorao controlada pelo IBAMA, que probe sua caa e regulariza a produo comercial. Segundo Giannoni (1996), os principais problemas para o desenvolvimento da explorao comercial de emas e outros animais silvestres so: a legislao e burocracia; a escassez de pesquisas, tcnicos e bibliografia acessvel; e a falta de esprito cooperativista. A criao de emas tem uma rentabilidade 44% maior que a criao de gado (LOPES, apud TONETO, 2007). A demanda dos produtos de ema est crescendo, novas parcerias firmadas entre distribuidores varejistas, indstrias e outras instituies vm aumentando significativamente, por isto existe um enorme potencial de crescimento nesta atividade. A colaborao dos criadores com os rgos pblicos essencial para a definio da portaria que regulamenta a criao de ratitas no Brasil, que abrir condies s exportaes, pois existe interesse dos pases europeus tanto na carne de ema, quanto no couro e no leo (ALMEIDA, 2003).

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4.2.1 Comercializao dos produtos de ema nos criatrios comerciais visitados

No nosso pas, o mercado consumidor ainda modesto, mas est crescendo. A populao no tem o hbito de consumir carne de ema por ser uma alternativa ainda nova e desconhecida. O trabalho de divulgao das associaes e cooperativas indispensvel para inserir a nova opo no mercado. No Rio Grande do Sul, o abate dos animais j realizado normalmente e sua carne comercializada em supermercados na grande Porto Alegre e serra gacha, e at mesmo no Rio de Janeiro e So Paulo. O volume da produo considerado pequeno, mas j existem pedidos de exportao para o Uruguai, Alemanha e Itlia. Uma utilizao da carne de ema que pode ser explorada comercialmente a fabricao do salame tipo italiano. Segundo relatos do associado COOPEREMA, Sr. Vanildo Borguesan, existem restaurantes interessados na utilizao do salame de ema em suas receitas, mas para tanto seriam necessrios cem quilos de salame por ms, o que significa uma produo de 200 animais abatidos por ano. Atualmente este demanda no pode ser suprida pela associao que conta com apenas uma mdia de 20 animais em fase de terminao por ano. O couro o subproduto de ema mais explorado pelos criadores atualmente. Por ser de alta qualidade muito valorizado e tem facilidade de comercializao na indstria de roupas e calados. A ABRACE repassa o couro das emas abatidas por seus associados para um curtume que destina o produto fbricas de roupas no Brasil e outros paises da Amrica do Sul. J a COOPEREMA, apesar de sua produo ainda ser pequena e instvel, vende o couro produzido na regio de Lages para uma fbrica de sapatos. Os ovos so comercializados pela COOPEREMA por 120 reais a dzia, considerando que um ovo equivale a at 15 ovos de galinha. Apenas as cascas vazias tambm so vendidas pelos produtores da ABRACE para a indstria de artesanato no Rio Grande do Sul, por uma mdia de cinco reais cada. Depois

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de manufaturadas, os artesos chegam a vender uma nica casca por at 700 reais. As penas tambm j so manufaturadas no Rio Grande do Sul, vendidas para o nordeste do Brasil atravs da ABRACE, utilizadas pela indstria carnavalesca. Este um nicho de mercado ainda pouco explorado por falta de produto disponvel e, muitas vezes, falta de informao at mesmo dos produtores. Algumas fazendas descartam as penas logo aps o abate, alegando ter dificuldade de comercializar. Segundo a criadora Ireny Rodrigues de Almeida, associada ABRACE, a comercializao da gordura ainda no ocorre no Brasil em grande escala para fins farmacuticos. A demanda existe, mas o produto disponvel ainda no suficiente para suprir o mercado de forma estvel. No hospital de queimaduras da cidade de Uruguaiana - RS, o leo de ema usado com sucesso em queimaduras de terceiro grau, demonstrando eficincia e rapidez no processo de cicatrizao. Alguns pases da Europa j demonstram interesse na importao do leo de ema, falta apenas um aumento na produo com estabilidade. Outra necessidade a instalao de uma refinaria de leo de ema que ainda no existe no pas. Acredita-se que este ser futuramente o subproduto da ema de maior importncia no mercado internacional. A ABRACE vem se mobilizando nos ltimos anos para estimular produtores rurais a iniciarem a criao de emas, pois aumentando o nmero de criadores, maior ser o volume da produo, com isto, os produtos de emas passam a ser comercializados em grande escala, podendo assim tornar a criao de emas uma atividade economicamente vivel.

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5. DISCUSSO O principal objetivo da criao de emas a obteno de protena animal de qualidade, podendo viabilizar economicamente pequenas propriedades rurais, ou at mesmo ser usada como uma alternativa para a diversificao da produo em propriedades com outras atividades. O espao necessrio para desenvolver uma criao bastante reduzido, apenas 4 hectares j so satisfatrios para uma criao em sistema semiextensivo. Com um plantel de, em mdia 50 matrizes, e condies ideais de manejo, possvel gerar mais de 200 filhotes por ano. Sem a necessidade de grande investimento em infra-estrutura, bastando apenas uma rea com pastagem adequada, podendo ser vegetao nativa, devidamente cercada para a conteno dos animais. Alm disto, ainda pode ser feito o consrcio com outros animais, como por exemplo, bovinos, ovinos, ou outros animais silvestres como, pacas, capivaras, aumentando o rendimento econmico da propriedade. Os gastos com alimentao e manuteno de espcies silvestres nos criatrios so razoavelmente pequenos, o que torna vivel a produo. Uma ema consome em mdia de 20 a 30 centavos por dia de rao. Em uma criao bem conduzida, o rendimento por hectare pode ser muito elevado. A Tabela 2 mostra os resultados de uma pesquisa realizada pela APACA (Asociacin Patagnica de Productores de and) na Argentina, em 1998. Foi estabelecida uma comparao entre a ema (nativa da patagnia) o ovino e o bovino da regio de Rio Negro, sobre a rentabilidade e a produtividade econmica de cada espcie citada. Tabela 2 Comparao de produtividade e rentabilidade entre ema, ovino e bovino da regio do Rio Negro, Argentina. Reprodutores 1 ovelha 1 vaca 1 ema Densidade 1/5 ha 1/25 ha 1/0, 25 ha Produo animal 1 cordeiro 1 bezerro 25 emas Renda Lquida (US$) 9,00 83,00 1.500,00 Renda/ano/fmea Preo Consumidor 42,40 583,60 11.475,00

Adaptado de APACA, 1998. 51

Os resultados mostram que as emas apresentam uma rentabilidade consideravelmente maior que a produo de bovinos e ovinos por fmea. Apesar da grande rentabilidade da atividade, sua explorao ainda limitada, pois os poucos produtores que j iniciaram a comercializao de suas emas enfrentam dificuldades com a divulgao e distribuio dos produtos das mesmas. Atualmente o principal mercado para a criao de emas ainda a comercializao de reprodutores e matrizes para novos criadores, pois os que j existem na regio todavia esto em processo de adaptao nova atividade e aumento do plantel, poucos iniciaram a comercializao de animais para abate. Assim mesmo, os novos produtores tm dificuldade de encontrar matrizes no mercado, precisando muitas vezes fazer encomendas de animais para a formao do plantel. Muitos restaurantes mostram-se interessados na carne de ema e seus subprodutos como, por exemplo, o salame. A indstria farmacolgica demonstra grande interesse no leo extrado da gordura de ema, assim como a indstrias de roupas tem interesse no couro. O mercado para a comercializao j existe, inclusive no exterior, onde a ema muito valorizada pela qualidade de seus produtos, falta apenas o aumento do nmero de produtores, bem como o volume de produto disponvel no mercado para iniciar a comercializao. Em relao ao manejo dos animais, a preocupao com o bem estar ainda muito pequena. Alguns dos produtores mais interessados em aumentar a criao tm planos de, no futuro, desenvolver a criao de animais em confinamento. Todavia, se forem considerados os princpios enfatizados pela etologia pode-se considerar este passo como um retrocesso ao desenvolvimento da criao de animais. Alm disso, o investimento para montar uma fazenda de sistema intensivo de produo bem maior do que no sistema extensivo, sendo que os benefcios no so suficientes. Animais criados em confinamento so mais susceptveis doenas e estresse. Para animais silvestres no totalmente domesticados como a ema, estes so problemas muito graves que causam dificuldades no desenvolvimento do plantel. 52

6. CONSIDERAES FINAIS A criao racional de animais silvestres em cativeiro uma forma de conservao dos recursos naturais, portanto o desenvolvimento da Rheacultura contribui para a proteo dos animais. No existe razo para a criao de animais exticos na Amrica do Sul, como a avestruz, sendo que existem animais similares j adaptados ao ambiente e sem riscos de introduo de doenas. Esta nova fonte de renda pode atrair moradores para reas rurais, pode tambm ajudar na diminuio da migrao para os grandes centros, pois essa atividade gera uma grande fonte de renda. Para promover o crescimento da atividade, importante que os empreendedores, distribuidores, indstrias e os comerciantes, se organizem com objetivos definidos para que haja um desenvolvimento slido da mesma. Desta forma a criao de emas ir se integrar no mercado e ser consolidada como uma atividade rentvel e promissora. indispensvel que universidades e centros de pesquisas apiem o desenvolvimento de trabalhos com animais silvestres, atravs de incentivo pesquisas e desenvolvimento de tecnologias que atendam demanda produtiva da Rheacultura. Existe tambm a necessidade da criao de polticas pblicas que atendam a atividade. Para implantar estas polticas, no so necessrios grandes investimentos, basta apenas um pouco mais de ateno dos rgos pblicos necessidades como a gerao de empregos, renda e bem estar social dos agricultores rurais. Pois a burocracia exigida para manter uma criao de animais silvestres atrasa a conservao e criao desses animais, e a assistncia tcnica praticamente inexistente. Ainda so poucos os tcnicos nesta rea incentivando a criao e aprimorando as tcnicas de manejo, raes e formas de comercializao dos produtos. Segundo relatos da criadora Vera de Bortolli, proprietria da Fazenda De Bortolli, o IBAMA exige um relatrio a cada trimestre sobre o andamento da criao, comercializao e nascimento dos animais. Este relatrio necessita uma aprovao do IBAMA para que a fazenda esteja de acordo com os documentos de regulamentao. Muitas vezes, quando um relatrio enviado 53

pela proprietria, o ltimo de 3 meses atrs, por falta de organizao da entidade, ainda no foi aprovado. Este ato mostra o descaso dos rgos pblicos com os criadores. Os principais produtores brasileiros fazem o possvel para divulgar a atividade e seus benefcios, mas como ainda esto em pequeno nmero, encontram muitas dificuldades. O sucesso da explorao comercial depende da organizao de cooperativas e associaes para um trabalho conjunto. Tambm importante o apoio do Ministrio do Meio Ambiente no incentivo da explorao racional da fauna silvestre, com o apoio de todos os segmentos envolvidos. A ABRACE j est se organizando neste sentido, incentivando a produo e consumo na regio sul do Brasil, e projetando aes para estabelecer quotas de acordo com a disponibilidade dos produtores para um volume mensal de produo que possa atender o mnimo necessrio exportao.

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REFERNCIAS

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