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Sistema Nervoso Observação quanto à nomenclatura : Sistema X Aparelho : Na Anatomia, o termo “sistema” é utilizado apenas para o sistema nervoso, devido à constituição de suas estruturas ser em cerca de 90% tecido nervoso. O termo “aparelho” é utilizado, assim, para todos os outros conjuntos de estruturas relacionadas a um função comum, mas que têm em sua constituição diversos tipos de tecidos diferentes. É o caso, por exemplo, do aparelho locomotor, que conta com grande parte de suas estruturas constituídas por tecido ósseo, muscular, conjuntivo, etc. O sistema nervoso é constituído pelos neurônios, as células responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, e pelas células da glia (ou neuróglia), que desempenham funções diversas relacionadas ao sistema nervoso, como por exemplo a defesa contra elementos estranhos, formação da barreira hemato-encefálica, formação da bainha de mielina que envolve os neurônios relacionados ao sistema nervoso central, etc. Apesar da existência de diversos tipos celulares constituindo a neuróglia, estas células representam apenas cerca de 10% dos componentes do sistema nervoso, sendo os outros aproximadamente 90% constituídos pelos neurônios. Os neurônios são células constituídas por um corpo celular denominado pericário, onde está contido o núcleo e a maioria das organelas citoplasmáticas. Possui dendritos, que são receptores de estímulos, muito ramificados, e um axônio, prolongamento que constitui o eixo principal do neurônio e tem a função de transmitir os impulsos nervosos.

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Sistema Nervoso

Observação quanto à nomenclatura: Sistema X Aparelho: Na Anatomia, o termo “sistema” é utilizado apenas para o sistema nervoso, devido à constituição de suas estruturas ser em cerca de 90% tecido nervoso. O termo “aparelho” é utilizado, assim, para todos os outros conjuntos de estruturas relacionadas a um função comum, mas que têm em sua constituição diversos tipos de tecidos diferentes. É o caso, por exemplo, do aparelho locomotor, que conta com grande parte de suas estruturas constituídas por tecido ósseo, muscular, conjuntivo, etc.

O sistema nervoso é constituído pelos neurônios, as células responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, e pelas células da glia (ou neuróglia), que desempenham funções diversas relacionadas ao sistema nervoso, como por exemplo a defesa contra elementos estranhos, formação da barreira hemato-encefálica, formação da bainha de mielina que envolve os neurônios relacionados ao sistema nervoso central, etc. Apesar da existência de diversos tipos celulares constituindo a neuróglia, estas células representam apenas cerca de 10% dos componentes do sistema nervoso, sendo os outros aproximadamente 90% constituídos pelos neurônios.

Os neurônios são células constituídas por um corpo celular denominado pericário, onde está contido o núcleo e a maioria das organelas citoplasmáticas. Possui dendritos, que são receptores de estímulos, muito ramificados, e um axônio, prolongamento que constitui o eixo principal do neurônio e tem a função de transmitir os impulsos nervosos.

Quanto à sua forma, os neurônios podem ser classificados em:- Multipolar: é o tipo de neurônio mais comum e encontrado em maior

quantidade nos organismos. Possui um corpo celular, um axônio e diversos dendritos.- Bipolar: possui um corpo celular, um axônio e apenas um dendrito, que

posteriormente se ramifica.- Pseudo-unipolar: possui um corpo celular de onde sai, de um único polo,

uma ramificação que depois divide-se em ramificações para dendritos e para o axônio.

- Unipolar verdadeiro: possui o corpo celular e dendritos, sem axônio. É encontrado na retina, e só tem a capacidade de receber estímulos. Por ser um tipo de neurônio muito pouco comum, às vezes sua existência nem é considerada a título de classificação.

Quanto à função, os neurônios são classificados em:- Aferentes: são aqueles neurônios que levam os impulsos da periferia ( meio

externo, órgãos do corpo, etc.) ao centro (sistema nervoso central).

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- Eferentes: levam os estímulos do centro à periferia. Neste caso, têm sua terminação sempre em tecido muscular ou glandular.

- Internunciais (interneurônios, neurônios de associação): têm a função de fazer comunicações entre diversos neurônios, formando complexas redes e espalhando as informações. Só existem no sistema nervoso central, estando envolvidos no arco reflexo composto (descrito a seguir).

Arco reflexo:O nome arco reflexo refere-se a todo o processo que ocorre desde a recepção

de um determinado impulso até sua interpretação e resposta pelo sistema nervoso central. De acordo com o número de sinapses (contatos entre um neurônio e outro para a transmissão de informações) envolvidas neste processo, o arco reflexo pode ser classificado como simples (ou monossináptico), quando envolve apenas uma sinapse, e composto (polissináptico, multissináptico), quando envolve várias sinapses.

Sendo assim, o reflexo patelar é um exemplo de arco reflexo simples: uma leve pancada sobre o ligamento patelar, continuação funcional do músculo quadríceps da coxa, estira o músculo, de forma que um impulso é gerado e conduzido por fibras aferentes do nervo femoral até a medula espinal. Na medula, o impulso é projetado sobre neurônios eferentes, que retornam pelo nervo femoral e estimulam a contração do músculo quadríceps, o que resulta na extensão abrupta da articulação.

O arco reflexo composto pode ser exemplificado por um animal, em estação, que sofre uma picada de inseto. O membro picado é movido pela ação simultânea dos diversos músculos flexores de suas articulações, em contraposição ao relaxamento dos músculos extensores antagonistas, antes ativos. Diversos segmentos da medula estão envolvidos nos processos de excitar ou inibir a ação desses músculos. Ao mesmo tempo em que o animal retirou uma de suas bases de sustentação, tem que se adaptar à redistribuição do peso pelos outros membros. Com isto, estão envolvidas vias que distribuem-se por extensões consideráveis da medula. Além disso, para que o animal mantenha-se em equilíbrio, informações devem ascender pela medula até o encéfalo. A informação não passará despercebida pelo córtex cerebral, que será responsável por uma avaliação, por parte do animal, se deverá permanecer naquele lugar, fugir ou atacar o agressor, por exemplo.

Desta forma, a maioria dos reflexos apresentados são do tipo composto, e este é um dos motivos pelo qual o estudo do sistema nervoso reserva, ainda nos dias de hoje, tantas dúvidas quanto ao seu complexo funcionamento.

Desenvolvimento do sistema nervoso central:Na formação do embrião, ocorrem dobramentos no tubo neural (o primórdio

do encéfalo e da medula espinal), que recebem o nome de vesículas encefálicas. Primeiramente ocorrem três desses dobramentos, formando assim as vesículas encefálicas primárias: prosencéfalo (mais rostral), mesencéfalo e rombencéfalo. As vesículas encefálicas secundárias são provenientes de novos dobramentos sofridos

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pelas vesículas primárias. Assim, o prosencéfalo divide-se em telencéfalo (mais rostral) e diencéfalo; o mesencéfalo permanece como mesencéfalo; e o rombencéfalo divide-se em metencéfalo (mais rostral) e mielencéfalo que, devido à sua localização mais caudal, faz contato direto com a medula espinal, esta sendo derivada do tubo neural em sua extensão que permaneceu livre dos dobramentos.

A tabela abaixo resume as derivações do tubo neural:

Vesículas encefálicas primárias

Vesículas encefálicas secundárias Principais Estruturas derivadas

Prosencéfalo Telencéfalo Hemisférios cerebrais, corpo caloso e núcleos da base

Diencéfalo Epitálamo, tálamo e hipotálamoMesencéfalo Mesencéfalo Colículos e pedúnculos do cérebro

Rombencéfalo Metencéfalo Cerebelo e ponteMielencéfalo Medula oblonga (bulbo)

Obs: No organismo humano, o metatálamo e o subtálamo também são derivados do diencéfalo, além do epitálamo, tálamo e hipotálamo. Estas duas estruturas são inexistentes nos animais domésticos.

Topografia:Quanto á topografia, o sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central,

referente às fibras nervosas protegidas pelo esqueleto axial, e sistema nervoso periférico, que compreende as fibras nervosas que distribuem-se pelo restante do corpo. Sendo assim:

CérebroEncéfalo Cerebelo

Sistema nervoso central Tronco encefálicoMedula espinal

NervosSistema nervoso periférico

Gânglios

Obs: Para evitar confusões posteriores quanto à nomenclatura, estão relacionados aqui alguns termos usuais no estudo do sistema nervoso:

Nervos: são compostos por milhares de prolongamentos de neurônios unidos, além de suas bainhas protetoras. Referem-se ao sistema nervoso periférico.

Gânglios: são aglomerados de corpos de neurônios, fora do sistema nervoso central.

Tratos ou fascículos: são conjuntos de prolongamentos de neurônios dentro do sistema nervoso central (região branca da medula espinal).

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Núcleos: são aglomerados de corpos de neurônios no sistema nervoso central (substância branca).

Plexos: Aglomerados de corpos de neurônios localizados nas paredes das vísceras.

Os nervos podem ser divididos em cranianos, para aqueles que têm suas origens no encéfalo, ou espinais, cujas origens dão-se na medula espinal. As diferenças básicas apresentadas entre eles devem-se à existência obrigatória de fibras nervosas aferentes e eferentes compondo os nervos espinais, que são conseqüentemente mistos, ao passo que os nervos cranianos podem ser exclusivamente sensitivos, exclusivamente motores ou mistos. Além disso, os nervos espinais têm sempre um gânglio sensitivo associado, fato que não ocorre necessariamente aos nervos cranianos.

A formação de um nervo espinal dá-se pela união da raiz dorsal, que possui um gânglio sensitivo a ela associado, sendo assim sensitiva, com a raiz ventral, motora. A cada espaço intervertebral sai um par de nervos espinais (direito e esquerdo). Os nervos cranianos serão estudados mais detalhadamente no final deste capítulo, não sendo então descritos aqui.

Os gânglios podem ser divididos em sensitivos, para aqueles relacionados aos nervos espinais, ou autônomos, quando relacionam-se com o sistema nervoso autônomo.

Classificação funcional do sistema nervoso:Geral

Somático EspecialSistema nervoso aferente

Visceral GeralEspecial

SomáticoSistema nervoso eferente Simpático

Visceral (SN Autônomo) Parassimpático

A parte do sistema nervoso dita aferente é aquela responsável pelos estímulos vindos do meio externo (sensitiva), enquanto a parte eferente conduz impulsos que dirigem-se à musculatura ou epitélio glandular (motora).

O termo somático refere-se à relação do sistema nervoso com o meio externo, enquanto o termo visceral é utilizado para relacionar o sistema nervoso com o meio interno (vísceras e glândulas).

O termo especial refere-se aos sentidos relacionados à cabeça, sendo o termo geral empregado para aqueles relacionados ao restante do corpo. Sendo assim, o sistema nervoso aferente somático especial está relacionado com a visão, audição e o

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equilíbrio, ao passo que o sistema nervoso aferente visceral especial refere-se ao olfato e à gustação.

Sistema Nervoso Central:O sistema nervoso central é completamente recoberto por meninges, que são

envoltórios de tecido conjuntivo que o protegem. Existem três meninges, que são denominadas dura máter, aracnóide e pia máter.

A dura máter é a meninge mais externa, sendo considerada uma paquimeninge devido à sua grande espessura, causada pela grande quantidade de fibras colágenas que possui. Acompanha toda a medula, e na região da cabeça divide-se em dois folhetos. O folheto externo encontra-se aderido à face interna dos ossos do crânio, que nesta região não possuem periósteo. Isto se deve à sensibilidade característica do sistema nervoso, de forma que a falta do periósteo evita, em caso de fraturas, a formação de um calo ósseo proeminente que poderia vir a danificar o sistema nervoso. Apesar disso, como este folheto externo da dura máter não possui as características osteogênicas do periósteo, a reparação óssea em caso de fraturas fica prejudicada. O folheto interno da dura máter, que envolve tanto o encéfalo como se continua ao longo de toda a extensão da medula espinal, forma septos na região da cabeça, dividindo o encéfalo:

Foice do cérebro: septo longitudinal que divide os hemisférios cerebrais direito e esquerdo.

Tenda (ou tentório) do cerebelo: septo transversal que separa o cérebro do cerebelo.

Diafragma da sela: localizado na região do infundíbulo, fica entre o hipotálamo e a hipófise.

Na região da medula, entre a dura máter e as vértebras existe a formação do espaço epidural, que contém gordura e o plexo venoso vertebral, de onde partem veias para todas as regiões do corpo. Outro espaço formado na região da medula é o espaço subdural. Este espaço localiza-se entre o folheto interno da dura máter e a aracnóide, e só pode ser percebido com o auxílio de um microscópio. Por ele circula uma pequena quantidade de fluido, que tem a função de evitar uma aderência excessiva entre as duas meninges que o limitam. Outro espaço é percebido logo após o término da medula espinal. Neste ponto, a dura máter se fecha pouco depois do fim da medula, sendo a parte posterior ao fim da medula denominada filamento terminal da dura máter.

A aracnóide é uma meninge extremamente delgada, quase transparente no animal vivo. Apesar de ser contínua, é dividida no estudo da anatomia em duas camadas: uma que está localizada junto à dura máter, e feixes de fibras colágenas que se aderem à pia máter, denominados trabéculas aracnóideas (que, em conjunto, têm uma aparência semelhante a uma teia de aranha, o que confere o nome à meninge). Permeando as trabéculas aracnóideas existe a formação de espaços por onde circula o

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líquor (descrito mais especificamente a seguir). Esta área recebe o nome de espaço sub-aracnóideo.

A aracnóide encontra-se em contato íntimo com a dura máter, mas entre elas e a pia máter existe, na região do encéfalo, um grande espaço, denominado cisterna cerebelo-medular, ou cisterna magna (por localizar-se na região do forame magno do osso occipital). Esta cisterna encontra-se preenchida pelo líquor. No espaço formado após o término do cone medular também encontra-se grande quantidade de líquor.

Em alguns pontos ocorrem evaginações da aracnóide em direção aos seios da dura máter (que contêm sangue), e desta forma o líquor é drenado para o sangue. Estas evaginações são denominadas granulações aracnóideas.

A pia máter é a meninge mais interna, e fica em contato íntimo com o tecido nervoso, acompanhando cada reentrância por ele formada. Sendo assim, confere ao sistema nervoso central proteção imediata. Os vasos que chegam até o sistema nervoso central são completamente envolvidos pela pia máter, de forma que alterações sofridas no calibre das artérias e arteríolas, devido ao bombeamento sangüíneo, sejam minimizadas e não prejudiquem o tecido nervoso.

Líquor:O líquor tem a função básica de ajudar na proteção do sistema nervoso central,

servindo como uma barreira hídrica contra forças externas, além de diminuir o peso do sistema nervoso, por este encontrar-se completamente envolto em meio líquido. A nutrição do sistema nervoso não é dada pelo líquor, que não é um filtrado direto do sangue, e sim pela artéria carótida interna (na região da cabeça) e artéria vertebral (região da medula espinal), principalmente. Em felinos e bovinos, porém, a artéria carótida interna pode regredir, sendo sua função suprida pela artéria occipital.

O líquor é produzido pelo plexo corióide e pelo epêndima. Sendo assim, o primeiro local para sua deposição são os ventrículos laterais do cérebro (direito e esquerdo), de onde passa através de um forame interventricular ao terceiro ventrículo (que circunda a aderência intertalâmica). Através do aqueduto do mesencéfalo, o líquor passa do terceiro ao quarto ventrículo. A partir de então, deixa o quarto ventrículo por meio dos forames laterais, chegando assim ao espaço sub-aracnóideo. Sua drenagem para o sangue é dada através das granulações aracnóideas.

Medula espinal:A medula espinal (ou espinhal) inicia-se após o término da medula oblonga, e

estende-se por dentro dos canais vertebrais, terminando no cone medular. Seu término ocorre na região das últimas vértebras lombares às primeiras sacrais, variando de acordo com a espécie em questão.

A medula possui duas intumescências (espessamentos): cervical e lombar. A existências dessas intumescências deve-se ao acúmulo, nesta região, dos corpos dos neurônios relacionados aos membros.

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Vias descendentes e ascendentes:Estas vias são o caminho percorrido pelos diferentes estímulos nervosos, no

interior da medula. As vias descendentes são responsáveis pela condução dos impulsos provenientes do encéfalo e que se dirigem à medula, de onde partirão para as diversas regiões do corpo. As vias ascendentes relacionam-se aos impulsos vindos do organismo com destino à medula ou ao encéfalo.

São as vias descendentes:Tratos córtico-espinal lateral e córtico-espinal ventral: trazem informações do

córtex motor aos movimentos voluntários.Trato rubro-espinal: é o mais importante trato motor voluntário dos animais.Tratos vestíbulo-espinal lateral e vestíbulo-espinal ventral: relacionado ao

controle da postura, vêm do sistema vestibular, que recebe informações do cerebelo.Trato tecto-espinal: Também relacionado ao controle da postura.

São as vias ascendentes:Fascículo grácil: relacionado à propriocepção consciente (senso de

posicionamento do corpo), principalmente do membro pélvico.Fascículo cuneiforme: relacionado à propriocepção consciente, principalmente

do membro torácico.Tratos espino-cerebelar dorsal e espino-cerebelar ventral: relacionados ao

controle da postura do corpo pelo cerebelo.Trato espino-cervical: relacionado aos reflexos controlados pela própria

medula.Tratos espino-tectal e espino-olivar: relacionados à propriocepção e, talvez, à

sensibilidade dolorosa.Trato espino-talâmico: relacionado à sensibilidade dolorosa.

Encéfalo:A seguir, serão descritas as principais funções relacionadas aos componentes

do encéfalo.

- Medula oblonga: é o centro respiratório do corpo. Além disso, nela estão localizadas as origens dos nervos cranianos compreendidos do VI ao XII par.

- Ponte: nela e no mesencéfalo está localizado o sistema ativador reticular ascendente (SARA), relacionado à manutenção dos animais em estado de alerta. Também mantém o controle da postura da cabeça, devido à sua comunicação com o cerebelo através do pedúnculo cerebelar médio. Além disso, o nervo trigêmeo (V) tem sua origem na ponte.

- Mesencéfalo: local de origem do III e IV pares de nervos cranianos.- Hipotálamo: grande controlador do sistema nervoso autônomo (vísceras e

glândulas endócrinas).

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- Tálamo: Atuante quanto à sensibilidade dolorosa, além de possuir alguns controles motores. Relata-se que, quanto menos evoluída a espécie, maior o controle do tálamo sobre o corpo.

- Epitálamo (corpo pineal): controle da liberação de hormônios vinculada ao fotoperíodo, além da regulamentação da secreção de melanina devido à liberação do hormônio melatonina.

- Sistema límbico: Relacionado com a memória atual e com as emoções em geral.

- Núcleos da base: Fazem um controle rigoroso dos movimentos voluntários já iniciados. Os principais núcleos da base são os núcleos caudado, putame, globo pálido e corpo amigdalóide. O núcleo caudado localiza-se rostralmente ao tálamo, e o putame e globo pálido localizam-se lateralmente a ele. O corpo amigdalóide posiciona-se lateralmente nos hemisférios cerebrais, rostrais às terminações ventrais do hipocampo.

- Hemisférios cerebrais: são divididos em lobos que possuem funções distintas, e têm seus nomes derivados dos ossos que os recobrem. São eles:

Lobo frontal: é o mais rostral dos lobos, responsável pelo controle da consciência, do intelecto, das associações de idéias e posteriores respostas.

Lobo parietal: localizado dorsalmente, possui uma divisão em rostral e caudal. A parte rostral exerce controle sobre os movimentos, enquanto a parte caudal controla a sensibilidade (dor, temperatura) e auxilia no controle da consciência.

Lobo occipital: relacionado à recepção dos impulsos visuais.Lobo temporal: interpreta a audição, além de participar do sistema límbico.Lobo piriforme: interpreta o olfato.

Curiosidade: As principais diferenças apresentadas entre o sistema nervoso animal e o humano referem-se à quantidade muito maior de neurônios de associação na espécie humana, que também possui o lobo pré-frontal, inexistente nos animais. A principal função coordenada por este lobo refere-se ao senso de respeito, que possibilita aos homens a capacidade de conviver em sociedade.

Nervos cranianos:Aos nervos cranianos é possível associar uma origem real, isto é, o local no

encéfalo onde estão localizados os corpos celulares dos neurônios cujos prolongamentos vão formar os nervos cranianos, e uma origem aparente, que refere-se à origem vista macroscopicamente para estes nervos.

Os pericários dos nervos cranianos agrupam-se formando núcleos, que juntos vão compor as colunas, todas localizadas no tronco encefálico. São elas:

Coluna eferente somática: relacionada à inervação de músculos estriados esqueléticos de origem somítica.

Coluna eferente visceral: inervação parassimpática de músculos lisos, glândulas e musculatura estriada cardíaca.

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Coluna eferente visceral especial: inervação de músculos de origem branquiomérica.

Coluna aferente somática geral: relaciona-se à propriocepção dos músculos e sensibilidade da cabeça.

Coluna aferente somática especial: relacionada à visão e audição.Coluna aferente visceral (e aferente visceral especial): relacionada ao olfato,

paladar e sensibilidade das vísceras.

Os nervos olfatório (I) e óptico (II) não possuem núcleos em nenhuma das colunas acima relacionadas, pois têm suas origens, respectivamente, no lobo piriforme e corpo geniculado medial (próximo aos colículos). Apesar disso, podemos considerar para eles a via de condução do impulso nervoso. Sendo assim:

I – Nervo olfatório: via aferente visceral especial.

II – Nervo óptico: via aferente somática especial.

III – Nervo oculomotor: inerva alguns músculos do olho (origem somítica), é responsável pelo controle de propriocepção destes músculos e inerva os músculos ciliar e esfíncter da pupila. Conseqüentemente, possui núcleos nas colunas:* Eferente somática;* Aferente somática geral;* Eferente visceral.

IV – Nervo troclear: movimenta o músculo oblíquo dorsal do olho, e é responsável por sua propriocepção. Assim sendo, possui núcleos nas colunas:* Eferente somática;* Aferente somática geral.

V – Nervo trigêmeo: relacionado à sensibilidade da cabeça, além de inervar músculos da mastigação (origem branquiomérica). Conseqüentemente, possui núcleos nas colunas:* Aferente somática geral;* Eferente visceral especial.

VI – Nervo abducente: movimenta o músculo reto lateral do olho, sendo também responsável por sua propriocepção. Possui núcleos nas seguintes colunas:* Eferente somática;* Aferente somática geral.

VII – Nervo intermédio-facial: inerva a musculatura da mímica facial (de origem branquiomérica), é responsável pela sensibilidade da orelha, manda fibras

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para as glândulas salivares mandibular, sublingual e bucais e é responsável pela sensibilidade destas glândulas. Sendo assim, possui núcleos nas colunas:* Eferente visceral especial;* Aferente somática geral;* Eferente visceral;* Aferente visceral.

VIII – Nervo vestíbulococlear: somente aferente, tem uma parte relacionada à audição e outra ao equilíbrio (e propriocepção). Como conseqüência , possui núcleos nas colunas:* Aferente somática especial;* Aferente somática geral.

IX – Nervo glossofaríngeo: atua quanto à sensibilidade ao paladar, manda fibras aos músculos constritores da faringe e glândula parótida, relacionando-se também à propriocepção. Possui núcleos nas colunas:* Aferente visceral (especial);* Eferente visceral;* Aferente somática geral.

X – Nervo vago: inerva as vísceras cervicais, torácicas e abdominais, atua quanto à sua sensibilidade, tem terminações sensitivas ao paladar, inerva determinados músculos de origem branquiomérica e atua quanto à sua propriocepção. Possui núcleos nas seguintes colunas:* Eferente visceral;* Aferente visceral;* Aferente visceral (especial);* Eferente visceral especial;* Aferente somática geral.

XI – Nervo acessório do vago: Inerva os músculos trapézio, esterno-cefálico, músculos da laringe e parte do bráquio-cefálico (todos de origem branquiomérica), sendo responsável por sua propriocepção. Possui núcleos nas colunas:* Eferente visceral especial;* Aferente somática geral.

XII – Nervo hipoglosso: exclusivamente motor, atua nos músculos da língua (origem somítica), sendo também responsável por sua propriocepção. Assim sendo, seus núcleos estão localizados nas colunas:* Eferente somática;* Aferente somática geral.

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Na tabela abaixo, encontram-se resumidas as informações citadas acima referentes à correspondência de cada nervo às devidas colunas. Os nervos olfatório e óptico, apesar de representados, não possuem núcleo em coluna alguma.

Origens reais dos nervos cranianos

NervosColunas

Eferente somática

Eferente visceral

Eferente visceral especial

Aferente somática

geral

Aferente somática especial

Aferente visceral

I Olfatório + (especial)II Óptico +III Oculomotor + + +IV Troclear + +V Trigêmeo + +VI Abducente + +VII Facial + + + +VIII Vestibulococlear + +IX Glossofaríngeo + + + (especial)X Vago + + + + (e especial)XI Acessório + +XII Hipoglosso + +

Origens aparentes dos nervos cranianos:Olfatório (I): bulbo olfatórioÓptico (II): quiasma ópticoOculomotor (III): pedúnculo cerebralTroclear (IV): véu medular rostralTrigêmeo (V): ponteAbducente (VI): medula oblonga (medialmente)Facial (VII): medula oblonga (corpo trapezóide)Vestibulococlear (VIII): medula oblonga (corpo trapezóide)Glossofaríngeo (IX): medula oblonga (lateralmente)Vago (X): medula oblonga (lateralmente)Acessório do vago (XI): medula oblonga (lateralmente)Hipoglosso (XII): medula oblonga (medialmente, junto às pirâmides)

Em seu trajeto, os nervos cranianos têm que passar por orifícios dos ossos da cabeça, para que possam se dirigir aos seus locais de destino. Sendo assim, está associada a cada par de nervo a seguinte estrutura:Olfatório (I): orifícios das lâminas crivosas do osso etmoidalÓptico (II): canal ópticoOculomotor (III): fissura orbitáriaTroclear (IV): fissura orbitáriaTrigêmeo (V) - oftálmico: fissura orbitária

- maxilar: forame redondo

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- mandibular: forame ovalAbducente (VI): fissura orbitáriaFacial (VII): forame estilo-mastóideoVestibulococlear (VIII): meato acústico internoGlossofaríngeo (IX): forame jugularVago (X): forame jugularAcessório do vago (XI): forame jugularHipoglosso (XII): canal do nervo hipoglosso

Sistema nervoso autônomo:O sistema nervoso autônomo faz parte da via eferente visceral. É uma

característica desta via a presença de três neurônios envolvidos no processo de condução do estímulo nervoso, ao contrário da via eferente somática que envolve apenas dois neurônios. Sendo assim. Para a via eferente somática, onde o estímulo chega até um músculo estriado esquelético, observa-se a presença de um neurônio motor superior, no interior da medula, e um neurônio motor inferior, que deixa a medula em direção ao músculo em questão. Já para a via eferente visceral, existe a presença de um neurônio partindo do encéfalo (que corresponderia ao neurônio motor superior da via eferente somática), um neurônio dito pré-sináptico, que possui seu pericário no sistema nervoso central e manda suas fibras até um gânglio, e um neurônio pós-sináptico, que parte do gânglio e dirige-se até a víscera em questão (desta forma, os neurônios pré e pós-sináptico da via eferente visceral corresponderiam ao neurônio motor inferior da via eferente somática).

O sistema nervoso autônomo é amplamente controlado pelo hipotálamo, e é dividido em simpático e parassimpático, que atuam de forma antagônica e independentemente da vontade ou controle consciente do indivíduo. Existem diferenças anatômicas características dos sistemas simpático e parassimpático, sendo elas:

- Região do sistema nervoso central onde localiza-se o pericário do neurônio pré-sináptico: para o sistema nervoso autônomo parassimpático, o pericário do neurônio pré-sináptico encontra-se sempre localizado no tronco encefálico ou na medula sacral, enquanto para o simpático sua localização dá-se nas regiões torácica e lombar da medula espinal, sempre na região de substância cinzenta (H medular).

- Tamanho da fibra do neurônio: No sistema parassimpático, o neurônio pré ganglionar é muito extenso, enquanto o pós ganglionar é extremamente curto, pois os gânglios relacionados ao sistema parassimpático encontram-se situados na parede das vísceras. No caso do sistema simpático ocorre o inverso: o neurônio pré ganglionar é pequeno enquanto o pós ganglionar é mais longo.

- Presença de gânglios visíveis macroscopicamente: No sistema parassimpático os gânglios não são visíveis macroscopicamente, justamente por estarem localizados nas paredes das vísceras. Já no sistema simpático estes gânglios são visíveis.

Page 13: Sistema Nervoso · Web viewO sistema nervoso é constituído pelos neurônios, as células responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, e pelas células da glia (ou neuróglia),

- Estrutura das fibras nervosas: As fibras nervosas parassimpáticas possuem seu revestimento de mielina mais delgado, o que resulta em uma coloração mais amarelada dos nervos. As fibras simpáticas possuem um envoltório muito grande de mielina, ficando assim mais esbranquiçadas.

Além das diferenças anatômicas acima citadas, existem outras peculiaridades relacionadas a estes dois sistemas. Na região das sinapses entre seus neurônios, existem vesículas contendo neurotransmissores; estas vesículas relacionadas ao sistema parassimpático são agranulares, enquanto aquelas do sistema simpático são granulares. Uma diferença farmacológica também é observada quanto a estes dois sistemas: o simpático atua por ação da noradrenalina, de forma que suas fibras são chamadas de adrenérgicas, enquanto o parassimpático tem sua atuação relacionada à acetilcolina, possuindo assim fibras colinérgicas.

Funções do sistema nervoso autônomo:A atuação do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático dá-se

sempre de maneira antagônica. Apesar disso, os efeitos da atuação do simpático são generalizados, enquanto o parassimpático atua localmente.

A tabela abaixo traz alguns exemplos da atuação destes dois sistemas sobre diferentes estruturas do corpo:

Estruturas Sistema nervoso autônomoSimpático Parassimpático

Íris Dilatação Constrição

Glândula lacrimal --- Secreção abundante, pobre em enzimas

Glândulas salivares Secreção pequena, rica em enzimas

Secreção abundante, pobre em enzimas

Vasos Vasoconstrição periférica Vasodilatação periféricaCoração Taquicardia Bradicardia

Brônquios Dilatação Contração

Trato gastrointestinal Diminuição do peristaltismo e contração dos esfíncteres

Estímulo do peristaltismo e relaxamento dos esfíncteres

Glândula adrenal Secreção de adrenalina ---Órgãos genitais Estimula a secreção Inibe a secreção

Pênis --- Estimula o tecido erétil

Bexiga e uretra Contração do esfíncter uretral Relaxamento do esfíncter uretral

Fonte:Aulas proferidas pelo Prof. MSc. Marcelo Fernandes de Souza Castro em 29 de abril, 06 e 13 de maio de 2004 na disciplina Anatomia Sistemática dos Animais Domésticos do curso de Medicina Veterinária da Universidade Paulista, campus São José dos Campos.