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Epistemologia: compreendendo as bases teóricas do fazer epistemológico Tauana Jeffman Darciele Marques

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Trabalho apresentado no V Sipecom, em 2013.

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Epistemologia: compreendendo as bases

teóricas do fazer epistemológico

Tauana Jeffman

Darciele Marques

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O intuito deste trabalho é, de uma forma simples, compreender a

epistemologia e as ideias de alguns teóricos consagrados em seus estudos.

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Epistemologia

Segundo Japiassu (1979, p. 24-38, grifo do autor), epistemologia “significa,

etimologicamente, discurso (logos) sobre a ciência (episteme)”.

Para este autor, a epistemologia se trata dos estudos e reflexões dos

métodos científicos, realizando um “estudo crítico dos princípios, das

hipóteses e dos resultados das diversas ciências”.

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Epistemologia é um conceito flexível, que objetiva a uma “teoria geral do

conhecimento [...] interrogando-se sobre a gênese e a estrutura das

ciências”, visando a uma “análise lógica da linguagem científica”, aliada ao

“exame das condições reais de produção dos conhecimentos científicos”.

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Além de se configurar como um discurso sobre a ciência, a epistemologia

também é a história desta, pois “uma teoria das ciências só é epistemologia

porque a epistemologia é histórica.

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Autores

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Desenvolveu uma epistemologia genética, onde averiguou o

“desenvolvimento das funções mentais”, para compreender que este

fornece uma “explicação, ou, pelo menos, um complemento de informação

quanto aos mecanismos dessas funções mentais em seu estado acabado”.

Piaget modifica a problematização do conhecimento. A questão deixa de ser

“como o conhecimento é possível?” (Kant) e passa a ser “como crescem os

conhecimentos?”

Jean Piaget

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Apesar de focar em uma epistemologia puramente científica, Piaget percebeu

uma “interconexão cíclica entre as ciências”, fato que o levou a propor um

“sistema cíclico das ciências”. Assim, a psicologia necessita recorrer às

concepções da lógica e da matemática para o seu fazer epistemológico.

É convicto de que os conhecimentos são o resultado de uma construção.

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Afirmava que a ciência necessita tanto da força e dos poderes da razão, quanto

da criatividade e da poesia.

O teórico dedica-se ao desenvolvimento e a valorização do campo do

imaginário, pois para ele, “o homem é ao mesmo tempo Razão e Imaginação”.

Contudo, estes dois âmbitos, apesar de complementares, não podem ser

confundidos: a razão é o homem diurno e a poesia, o homem noturno.

Gaston Bachelard

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Na epistemologia bachelardiana, não há verdades absolutas. Não há uma

verdade correta e outras verdades erradas: há várias verdades.

Também não há um saber universal, mas a necessidade de “compreender a

relação do homem com o seu saber”.

Objetivou acordar as filosofias de seus sonos dogmáticos, destacando que o

homem comum também possui seus saberes e suas verdades.

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Apresenta o conceito de “triedro dos saberes”, noção que “lhe permite

definir uma espécie de espaço epistemológico da constituição das ciências

humanas de caráter racional e científico”.

O triedro é formado pelo seguintes eixos: “1º) o eixo das Matemáticas e

Psicomatemáticas, ciências exatas e protótipos da cientificidade; 2º) o eixo das

Ciências da Vida, da Produção e da Linguagem”, e “3º) o eixo da Reflexão

Filosófica”.

Michel Foucault

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É em uma epistemologia arqueológica que o teórico se esmera, que

“não visa a descoberta da origem do homem, mas o fundamento das

ciências humanas”.

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Acreditava que a filosofia não seria uma doutrina ou um conjunto de saberes,

mas uma atividade que auxiliaria a corrigir a linguagem, ou seja, o pensamento.

Sobre a lógica, Wittgenstein se opõe à Kant, ao negar “que a característica da

proposição lógica deva ser sua generalidade ou validade geral”.

Ludwig Wittgenstein

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Sobre as proposições empíricas, Wittgenstein acredita que estas só ocorrem

“quando se sabe e/ou quando se pode afirmar o que a faz verdadeira, ou a faria

verdadeira”.

Por exemplo, quando acreditamos que uma determinada superfície é branca,

devemos, primeiramente, saber o que é o branco. Deste modo, “o problema

do significado das frases” – aquela mesa é branca – “torna-se o tema

central de uma teoria do conhecimento empírico e deve ser diferenciado do

problema de confirmar que uma frase é verdadeira ou falsa”.

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Em suma, Wittgenstein afirma que a filosofia não é uma teoria, mas “uma

análise e descoberta da estrutura superficial e profunda da

linguagem”, ou seja, crê que a verdadeira função da filosofia “não é criar

uma nova linguagem ideal, mas clarificar o uso de nossa linguagem,

aquela existente”.

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Preocupava-se, epistemologicamente, com a “elucidação do ‘valor’ das teorias

científicas, ou seja, ao grau de confiança que podemos depositar nelas, em

função dos dados empíricos que podemos dispor”.

Karl Popper

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O autor acredita que não há teorias explicativas universais detentoras

de verdades absolutas, o que há, são hipóteses e conjecturais.

Para o teórico, as teorias científicas tornam-se válidas se forem “falsificáveis”

e o papel do cientista/pesquisador não é demonstrar ou verificar suas teorias,

mas sim, “testá-las, tentando infirmá-las ou falsificá-las”.

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Na concepção de Popper (1975, p. 110-113, grifo do autor), uma teoria

confirmada é uma teoria que ainda não foi infirmada, ou seja, as verdades

existem, mas possuem prazo de validade.

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Antes de Kuhn, acreditava-se que a ciência evoluía continuamente, de forma

horizontal; mas o pesquisador mostrou que não era bem assim. Para este, a

ciência modificava-se através de revoluções.

Para Kuhn (2001), o desenvolvimento de uma disciplina científica se dá nas

seguintes fases: fase pré-paradigmática > ciência normal > crise > revolução

científica > nova ciência normal > nova crise > nova revolução, e assim por

diante.

Thomas Kuhn

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As crises podem despertar revoluções, que também atuam como uma forma

para a ciência evoluir.

Após a revolução científica, tem-se uma nova teoria, surgindo “somente após

um fracasso caracterizado na atividade normal de resolução de problemas”

(KUHN, 2001, p. 103).

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Dedica-se à compreensão de uma “racionalidade comunicativa”, ou uma

“filosofia discursiva”, que, segundo este, é “uma outra saída da filosofia do

sujeito”.

Com isto, Habermas (1998, p. 276) sugere que “o paradigma do conhecimento

de objetos tem de ser substituído pelo paradigma da compreensão mútua

entre sujeitos capazes de falar e de agir”, pois, em sua concepção, “o

paradigma da filosofia da consciência” está esgotado.

Jürgen Habermas

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Habermas (1998, pp. 285-286) fala sobre uma “razão bipartida”, que nada

mais é do que uma razão relacionada “à praxis social solidária como o lugar de

uma razão historicamente situada, no qual se juntam os fios da natureza

externa, da natureza interna e da sociedade”.

A razão se relaciona com a subjetividade que, entendida como “autorreferência

do sujeito que conhece e que age, está representada no caráter binário da

relação autorreflexiva”.

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Habermas (1998, pp. 285-286) fala sobre uma “razão bipartida”, que nada

mais é do que uma razão relacionada “à praxis social solidária como o lugar de

uma razão historicamente situada, no qual se juntam os fios da natureza

externa, da natureza interna e da sociedade”.

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Critica a razão centrada no sujeito, pois acredita que a construção de uma

racionalidade se faz mediante a argumentação, ou seja, é necessário que

os sujeitos exponham suas argumentações, para assim se estabelecerem o

discurso, e por conseguinte, alcançarem uma “racionalidade

comunicativa”, onde o que predomina é uma “vontade geral” e esta é posta

em prática.

Sendo assim, os sujeitos não chegam à razão isolados, mas unidos por meio de

uma conversação que objetiva a “compreensão coletiva do mundo”.

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Propõe-se a pensar o simbólico/mitológico/mágico com o

empírico/técnico/racional, acreditando que estes dois âmbitos se articulam

e “estão imbricados em uma trama complexa”, onde “há uma necessidade

permanente um do outro”.

Edgar Morin

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Para o autor, foi necessário pensar criticamente o mito, para não compreendê-

lo como sinônimo de ilusão, de fábula, de magia, de superstição ou mentira,

como este era compreendido pela racionalidade. Após esse pensamento crítico,

percebeu-se, então, “um sentido mais profundo do pensamento mitológico”.

O símbolo, por sua vez, é evocativo concreto, imprimindo um “modo de

participação subjetiva na concretude e no mistério deste mundo”, o que é

diferente do signo, que, de acordo com o autor, é “indicativo instrumental”.

A magia, por sua vez, é a praxis do pensamento, onde, apesar de mágica,

também obedece a uma certa racionalidade, abrangendo práticas técnicas e

obedecendo a determinadas regras.

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Morin (1986, p. 164) defende um “pensamento duplo”, ou seja, a articulação

entre um pensamento simbólico/mitológico/mágico e um pensamento

empírico/técnico/racional, pois para este, o primeiro pensamento “é carenciado

se não for capaz de aceder à objetividade”, enquanto o último, “é carenciado se

for cego para o concreto e a subjetividade”.

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O presente estudo é um esboço inicial para a compreensão da epistemologia,

pois abarcar amplamente a percepção dos teóricos aqui apresentados,

demandaria uma pesquisa grandiosa, que apenas um artigo não contemplaria.

Obviamente, não se encontram nesta reflexão todos os autores e preceitos que o

estudo da epistemologia abarca, mas sim, o início de uma investigação

epistemológica, alicerçada pelas teorias e autores que compõem o eixo central

de tal investigação.

Considerações

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DURAND, Gilbert. As Estruturas Antropológicas do Imaginário. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

HABERMAS, Jügen. O discurso filosófico da modernidade. 2ª ed. Lisboa: Edições Dom Quixote, 1998.

HALLER, Rudolf. Wittgenstein e a Filosofia Austríaca: questões. São Paulo: Edusp, 1990.

JAPIASSU, Hilton Ferreira. Introdução ao pensamento epistemológico. 3ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves Editora, 1979.

KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2001.

LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. Uma aventura epistemológica: entrevista com Jesús Martín-Barbero. Marizes, nº 2, agosto de 2009, p. 143-162.

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MORIN, Edgar. O método 3: o conhecimento do conhecimento. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina, 1986.

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POPPER, Karl R. Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1975.

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<http://migre.me/fA5Ha>. Acesso em: 10 jul. 2013.

WALLERSTEIN, Immanuel. Para abrir as ciências sociais. São Paulo: Cortez Editora, 1996.

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Referências