Simplificar

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(/) Crônica - é hora de começarmos a simplificar.

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Nós, humanos,somos complicados, sem dúvida.

Tipos variadíssimos que se expressampor centenas de diferentes linguagens,

cada qual com a capacidade própriade entender a realidade como se

a inventasse ou a criasse.

Isso, de fato, no inícioficou a cargo dos nossos religiosos:

homens místicos fenomenais, intérpretes das mentes de seus variados deuses criadores.

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E nestes últimos temposatendemos a este novo impulso:

dominar a realidade... Daí, indiretamente, nos sentimos induzidos a recriar (desta feita

por nós mesmos) a própria Vida — paraexercermos sobre ela total controle.

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Agora, em suma, queremos seros criadores e os nossos próprios senhores.

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Na realidade para o homemnada até hoje se mostrou simples,

a começar por ele próprio.

Por isso, em especial ao longodos últimos séculos, ele se utiliza

da inteligência ― basicamente ― parase afastar de si mesmo ou de seu interior,

onde toda a complexidade ressoa deuma maneira muito íntima...,

insuportavelmenteíntima

...

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Assim o homem tentase afastar de si mesmo para se livrar

ou se libertar da natureza primária daquelacriatura humana pré-histórica que o gerou:

uma criatura consciente, mas ignorantee, então, extremamente supersticiosa,complexada — ou tornada complexa

sintetizada pelas fibrilas do medo.

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Mesmo assimou de qualquer modo,

eu mesmo preciso reconhecerque foi pela sua própria inteligência

que o homem evoluiu..., tecnicamente.

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Mas logo aqui, analisando melhor,eu me corrijo para dizer que a nossa evolução

se deu graças a alguns poucos homens, chamados gênios

— com os seus espíritos inventores e mesmo “criativos” —,

pois nós, os povos, estes homens comuns, fomos e aindasomos apenas manipuladores e consumidores

de suas descobertas e invenções.

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E os gênios,eles propriamente evoluíram

projetando-se para fora de si mesmosatravés de suas poderosas inteligências.

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(( Em “A Razão entre o Medo e a Coragem” escrevi sobre o medo, para destacarseus valores ― que, claramente, não se mostrarão nesta crônica. ))

De fato eles conseguiram “funcionar”,não levando em conta suas complexidades

interiores ou íntimas, quando puderam tambémdesprezar o medo intrínseco, congênito,

impedindo-o, então, de manifestarsua natureza — esta que tem

um conteúdo emocionalinegavelmente

inibidor.

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Mas também foram aqueles mesmosgênios que abriram o caminho que a meu ver

tornou-se perigoso..., porque de maneira definitiva― e como um todo ―

pode nos tirar de dentro de nós mesmos,afastando-nos da nossa natureza íntima

de criaturas vivas..., humanas...,legitimamente filhas da Terra.

Isto, seguindo ainda minhas convicções,fatalmente romperia o elo entre nós e o céu...,

tanto em sua concepção espiritual quanto material(...)

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(...!...)

E aqui eu esclareço quefoi voluntariamente que escrevi desta

maneira prolixa..., dando asas às informaçõesque me assediaram ao pensar sobre o assuntopara que ficasse “clara” a sua complexidade,

esta que é nossa própria... e que, então,precisa ser... simplificada!

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Antes disso, porém, e deste modome parece fácil reconhecer que a inteligência humana

— elevada à condição aleatória de regente suprema do nosso ser —torna-se desumana, porque não se limita aos limites humanos

e às suas razões. Ela segue apenas o ímpeto de estarsempre ocupada, funcionando, avançando

...

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E de fato, como já dizíamos,ela nos tira de dentro de nós mesmos,

afastando-nos da nossa natureza mais íntima,

de onde se manifestam não somente aquelesfatores primários ― como o medo e a superstição ―,

mas também alguns dos nossos mais importantes fatoresde “humanidade”: sentido ético ou moral, senso de justiça

junto ao sentimento de indignação...; pudor, vergonha,constrangimento..., estas sensações que nos levam

a perceber quando estamos agindo erradamenteferindo os nossos sentimentos mais nobres

tais como o amor e a solidariedade,

estes, sem os quais, não se dáuma evolução real

!

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E são esses os sentimentos que eu não vejonaquele gênio dotado de extraordinário espírito científico

que, entretanto, não se importa com as aplicaçõesdos resultados de seus trabalhos..., mesmo

que sejam aplicações contrárias à pazou à Vida.

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E escrevo sobre isso porque,a despeito dos poderes de nossos líderes políticos,

somente os cientistas ― e apenas eles, se quiserem ―poderão deter a criação ou o desenvolvimento dequalquer tipo de instrumento que violente a vida

ou se transforme em artefato de destruição.

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Para enfatizar,do modo como é, a inteligência humana

cumpriu o seu primeiro papel ou o seu papel primáriona longa e conturbada história da nossa evolução.

A partir de agora, porém, ela deverá ser modificadae humanizada, pois não precisa mais ser tão agressiva,

tão independente de nós mesmos, tão alheia às nossas emoçõese aos nossos limites humanos. Afinal, a despeito de sua importância,

sozinha ela não terá a menor chance..., porque o suporte de suaexistência está exatamente na fragilidade e na delicadeza

da vida que pulsa em nossos corações.

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É neste ponto que surge ou ressurgesobre o gênio da inteligência a importância do sábio,porque para este o pensamento vai para aonde está

o sentimento, ou sai de onde o sentimento está...

E assim, ao sentir angústia, solidão ou medo,ele procura desvendar os mistérios da natureza humana,

projetando-se através da dualidade corpo-mente, matéria-espírito,procurando unificar sua natureza terrestre com sua natureza cósmica

ou... celeste.

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E assim, portanto, enfim,levando em conta esta profusão de conceitos,

onde já não há como nossa complexidade ficar mais clara,o que nós todos precisamos é entrar em uma nova era

—estabelecida pela fase da simplificação.

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Para mim,simplesmente,

o que nós precisamos éevoluir a partir do que recebemos,

integrando-nos harmoniosamente aoselementos originais da Vida neste mundo.

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Infelizmente,também quanto a isto,

precisamos já de início refletir.

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Mas, felizmente,sobre este mesmo assunto

...,

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só se escreve de maneiraobviamente simples.

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Simplificar é tornar claro ― pois se refere à claridade.Diz respeito aos fenomenais conceitos desta natureza:

quanto mais perfeito... mais claramente simples.

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E é o que ainda pode ser visto na natureza, em tudo que nos transmite a idéia de perfeição,

a exemplo da flor, da rosa:

bela, sedosa, perfumada,simplesmente perfeita

!

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E é o que ainda pode ser visto na natureza, em tudo que nos transmite a idéia de perfeição,

a exemplo da flor, da rosa:

bela, sedosa, perfumada,simplesmente perfeita

!― Não há o que acrescentar ou tirar! ―

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Masvamos tentar

direcionar o assuntopara níveis mais humanos.

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Simplificar é eliminar ou diminuir a complexidade,reduzir as variantes, renovar o desgastado,

dissipar o excessivo e, em suma,centralizar no essencial

...!...

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Lembro-me desta minha irmã mais velha,quando ganhou um concurso publicitário em São Paulo

com a frase (de sua autoria, claro, na perfeita beleza de ser):

“Essencialmente simples..., simplesmente essencial.”

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O assunto me lembra também do taoísmo,minha religião ou sistema ascético preferido.

Esta nossa idéia de simplicidade parece corresponderao que os taoistas escreveram sobre “O caminho perfeito”.

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Há mais de dois mil anos, como se soubessem queum dia suas palavras deixariam de ser um mero

vaticínio..., eles assim se expressaram:

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“O caminho perfeito não é oculto. Quando o andarilho-discípulo estápronto (maduro) o caminho aparece. Então o andarilho se

funde com o caminho. Eles se transformam em um:a parte externa e brilhante (consciente) ocupa

a parte escura e profunda (inconsciente).”

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“Mas este andarilho tem uma base mística(base de equilíbrio: que se vê na unidade da Vida!)

em que se ancora ― Deus!... E pouco importa o nomeque Lhe dêem: Brahman, Allah, Ishvara, Cristo, Buda, Tat

...”

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“E após se ancorar em Deus(a Unidade que existe na base da Vida!),

o andarilho percebe que o caminho perfeitopode ter o seu equilíbrio violado e se

estragar ou ser estragado...”

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“E ele então se põe a cuidar do caminho,limpando toda a parte suja, preenchendo a parte vazia,completando o incompleto, renovando o desgastado,aumentando o insuficiente, dissipando o excessivo

...”

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“...E assim em conseqüência, no fim,

o caminho retorna à perfeita integridade...”.

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“...E assim em conseqüência, no fim,

o caminho retorna à perfeita integridade...”.

Íntrego, simplesmente perfeito,onde não há mais o que acrescentar ou tirar!

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Por isso, mesmo para nós,simplificar não significa uma regressão ao estágio de

desenvolvimento humano primitivo — anterior à fala ou à palavra —,

embora, devido ao estágio de confusa complexidade que alcançamosneste tempo, revelado nos milhares de consultórios psiquiátricos

ou nos intermináveis tratados de psiquiatria, talveztenhamos de realizar uma forma de regressão:

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voltar a nós mesmos!, até nos pôr novamente em contatocom a nossa natureza íntima, para, enfim ou em seguida,

evoluirmos harmoniosa e intimamente ligados aoselementos originais desta nossa Terra — então,

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reconciliadoscom as forças do Universo.