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Hebreus Silvio Dutra NOV/2015

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Hebreus

Silvio Dutra

NOV/2015

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A474 Alves, Silvio Dutra Hebreus./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 167p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Epístola. 3. Comentário Bíblico. I. Título.

CDD 230.226

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Sumário

Hebreus 1................................................................

4

Hebreus 2................................................................

12

Hebreus 3................................................................

22

Hebreus 4................................................................

31

Hebreus 5................................................................

43

Hebreus 6................................................................

53

Hebreus 7................................................................

82

Hebreus 8................................................................

92

Hebreus 9................................................................

98

Hebreus 10...............................................................

107

Hebreus 11................................................................

122

Hebreus 12................................................................

140

Hebreus 13................................................................

155

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Hebreus 1

A Superioridade de Jesus

Toda a vontade de Deus, relativamente à

humanidade, foi revelada de forma final e

completa pela manifestação de Cristo ao mundo.

Se antes, toda revelação divina foi feita através

de instrumentos humanos, em Cristo a revelação foi feita pelo próprio Criador de todas

as coisas, porque conforme diz o autor da epístola, tal como João no início do seu

evangelho, que o Pai não somente constituiu Jesus o herdeiro de todas as coisas, como

também foi por meio de quem Ele criou o mundo (v. 2); sendo o próprio Jesus quem

sustenta todas as coisas criadas pela palavra do seu poder, porque Ele é Deus, e o resplendor da

glória e a expressa imagem da pessoa do Pai (v. 3).

É somente por meio de Jesus Cristo que se pode

ter um verdadeiro conhecimento pessoal de Deus, em espírito.

Esta revelação é feita pela manifestação da sua

vida ressurreta em nós, pelo poder do Espírito Santo.

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Tentar se aperfeiçoar espiritualmente, sem estar ligado pela fé a Cristo, é de nenhum

proveito, conforme o autor de Hebreus se esforçou para demonstrá-lo em sua epístola.

A purificação dos nossos pecados foi feita por Jesus quando morreu na cruz, para que

pudéssemos ser vistos pelo Pai crucificados juntamente com Ele, para que fôssemos

também considerados mortos para o pecado e para a condenação do pecado, de maneira que

pudéssemos ser reconciliados a Deus.

Esta é a principal revelação da Palavra, e cumprimento do que havia sido profetizado

desde o Antigo Testamento acerca desta verdade relativa ao propósito da encarnação,

humilhação e morte do próprio Filho de Deus por nós (v. 3).

A grande prova de que Jesus fez tudo o que seria necessário para a purificação dos nossos pecados foi revelada no fato de ele ter

ressuscitado e subido aos céus, onde se encontra assentado à destra de Deus Pai, em seu

trono (v. 3).

Todo o poder tanto no céu quanto na terra foi dado pelo Pai a Cristo; e foi a Ele que foi dado o

poder de julgar a todos, tanto a homens quanto a anjos (Mt 28.18).

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Nenhum anjo, nenhum profeta do Velho Testamento, ninguém além do próprio Jesus

poderia efetuar o trabalho de redenção de um mundo que se encontra debaixo da ira e da

maldição de Deus.

Somente Ele poderia fazer tal trabalho e está efetivamente restaurando todas as coisas até à restauração final que será efetuada na sua volta.

Ninguém seria suficiente para recriar o que havia se estragado, trazendo um novo nascimento, uma nova criação, a seres decaídos

no pecado.

É dito que Ele se tornou quanto ao propósito eterno divino em relação aos homens, muito

mais excelente e superior do que todos os anjos, porque estes são apenas ministros a serviço dos

que herdarão a salvação.

Os profetas e pastores ungidos com o fogo do Espírito são apenas instrumentos de Cristo, sem o qual nenhum cristão existiria, nenhuma

Igreja, nenhuma nova vida transformada, porque isto somente pode ser feito pelo trabalho

de expiação que Ele efetuou na cruz com o derramamento do seu sangue.

Deus Pai não poderia dizer de nenhum dos anjos

aquilo que Ele disse em relação ao Filho pela boca dos profetas.

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No Salmo 2.7 é dito pelo Pai que Ele é o seu Filho que foi gerado por Ele no ventre de uma virgem,

porque o seu corpo foi gerado pelo poder do Espírito, para ser Senhor e Rei de todas as

nações (v. 6, 8, 9 do mesmo Salmo).

De Cristo é dado também o testemunho no Salmo 97.7 que todos os anjos o adorem.

A palavra no original hebraico para anjos é Elohim, que significa pluralidade de majestades, a mesma palavra para indicar a

trindade divina, e que também é aplicada para indicar todos os seres angelicais que possuem

posição de soberania.

O significado desta passagem é que a Majestade de Cristo é de tal ordem de grandeza, que é

ordenado que todas as demais majestades O adorem (v.6).

Cristo é chamado pelo autor de Hebreus, quando Ele foi manifestado em carne ao mundo,

como sendo o primogênito. Ele é assim chamado não por ter sido o primeiro a ser

criado, mas por ser o primeiro, a cabeça da nova criação, de muitos filhos semelhantes a Ele, que

estão sendo trazidos à existência pelo trabalho de conversão do Espírito.

Dos anjos que são espíritos ministradores

daqueles que herdarão a salvação, e dos ministros que são usados como labaredas de

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fogo pelo poder do Espírito (Sl 104.4), é somente isto o que pode ser dito deles, mas de Jesus é dito

que o seu trono subsiste pelos séculos dos séculos, isto é, por toda a eternidade, e que o

cetro do seu reino é de equidade, isto é, Ele reinará eternamente em perfeita justiça (v. 8).

As palavras dos versos 8 e 9 foram extraídas do Salmo 45.6,7.

O reino do Senhor é de justiça e a alegria da unção que Lhe foi dada sem medida pelo Espírito em seu ministério terreno foi

decorrente do fato de Ele ter amado a justiça e odiado a iniquidade de modo completamente

perfeito.

Nenhum participante do Reino de Cristo pode possuir a mesma unção de alegria e reinar com

Ele em glória, caso não ame também a justiça e odeie a iniquidade, tal como o Senhor deles.

Era principalmente esta verdade que o autor de Hebreus desejava colocar em perspectiva, para

que todo cristão saiba que temos um Salvador e Senhor que ama a justiça e odeia o pecado, de

maneira que sigamos os seus passos.

Somente o Criador deve ser adorado. Por isso somente Jesus é digno de adoração porque a

terra foi fundada por Ele e os céus são obra das suas mãos (v. 10).

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Todas estas coisas criadas estão destinadas a perecer por causa do pecado original, mas Jesus

permanecerá o mesmo. Tudo envelhece e morre no universo. E Deus tudo desfará pelo

fogo do juízo final para criar um novo céu e uma nova terra; mas nada mudará em relação ao

Senhor e às coisas que são celestiais, espirituais e eternas (v. 10 a 12).

É por isso que não é um anjo que está assentado à direita de Deus Pai no céu, mas o Senhor Jesus,

entronizado em glória, pela adoração e honra que Lhe é devida não somente como Criador da

criação natural, como da nova criação espiritual pela conversão dos pecadores para estarem

para sempre com Ele (v. 13).

Tudo e todos Lhe ficarão sujeitados, e todos os seus inimigos virão a serem colocados debaixo

dos seus pés.

A qual dos anjos poderia ser proferida tão elevada honra, senão somente ao Criador,

Redentor e Senhor da humanidade?

Os anjos são importantes no auxílio que prestam aos cristãos, nas lutas que têm que empreender

contra os poderes das trevas, mas são apenas servos de Cristo, e se encontram debaixo das

suas ordens, de maneira que tudo o que fazem por nós lhes é ordenado pelo Senhor (v. 14).

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O que podemos concluir deste primeiro capítulo é que não pode haver vida eterna fora de Cristo.

Ela não será achada em nenhum outro e em nenhum lugar.

Heb 1:1 Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos

profetas,

Heb 1:2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho,

a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo.

Heb 1:3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as

coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à

direita da Majestade, nas alturas,

Heb 1:4 tendo-se tornado tão superior aos anjos

quanto herdou mais excelente nome do que eles.

Heb 1:5 Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe

serei Pai, e ele me será Filho?

Heb 1:6 E, novamente, ao introduzir o

Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.

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Heb 1:7 Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros,

labareda de fogo;

Heb 1:8 mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino.

Heb 1:9 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo

de alegria como a nenhum dos teus companheiros.

Heb 1:10 Ainda: No princípio, Senhor, lançaste

os fundamentos da terra, e os céus são obra das tuas mãos;

Heb 1:11 eles perecerão; tu, porém, permaneces; sim, todos eles envelhecerão qual veste;

Heb 1:12 também, qual manto, os enrolarás, e, como vestes, serão igualmente mudados; tu,

porém, és o mesmo, e os teus anos jamais terão fim.

Heb 1:13 Ora, a qual dos anjos jamais disse: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os

teus inimigos por estrado dos teus pés?

Heb 1:14 Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos

que hão de herdar a salvação?

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Hebreus 2

A Suprema Autoridade de Cristo

A exortação inicial deste capítulo, constante

dos versos 1 a 4, traz no original grego a palavra “dei” para “convém-nos” no primeiro versículo,

que significa é necessário, importa. E a palavra para “atentar” é “prosecho” que significa

apegar-se, aplicar-se, devotar-se.

A palavra para “com mais diligência” é “perissoteros”, que significa num grau cada vez

maior; mais abundantemente; com maior firmeza.

Esta é a maneira que todo cristão deve agir em relação à Palavra de Deus: não apenas crer nela,

mas aplicar-se com toda determinação e diligência, na busca de um grau cada vez maior

de aplicação das verdades espirituais constantes desta Palavra à própria vida, pela

consagração ao trabalho do Espírito Santo.

O autor de Hebreus alerta logo no primeiro versículo deste capítulo que se não nos

apegarmos com diligência às verdades ouvidas nós nos desviaremos delas.

O melhor antídoto contra a apostasia é

permanecer na prática constante da Palavra, no poder do Espírito.

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O autor desta epístola argumenta que a certeza de que Deus não aprova um viver na

incredulidade e no pecado, foi revelado por Ele na maneira como tratou os apóstatas de Israel

no Velho Testamento. (v. 2)

Se não escaparam do juízo de Deus os que não deram ouvido à palavra que Ele lhes deu por meio de anjos, de quanto maior castigo, não

estarão sujeitos, portanto, aqueles que negligenciarem e rejeitarem a grande salvação

que nos foi proclamada pelo próprio Cristo e pelos seus apóstolos, que confirmaram a

Palavra pregada e ensinada por Ele, através do poder do Espírito? (v. 2 a 4).

A ninguém está o Senhor condenando durante esta dispensação da graça, mas isto não significa que Ele deixou de ser o Juiz de toda a terra.

Tão somente está abrindo este tempo de oportunidade aos pecadores para que se arrependam e recorram a Ele para serem

perdoados e redimidos.

Por isso, o evangelho não é pregado por anjos, mas pelos próprios pecadores redimidos, para

que se comprove que Deus está sendo de fato longânimo e gracioso para com todos desde que

Jesus morreu carregando os nossos pecados na cruz. (v. 5)

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Jesus foi feito um pouco menor do que os próprios anjos (v, 7, 9), durante a humilhação do

seu ministério terreno para que pudesse fazer o trabalho de substituição se tornando homem e

se colocando no nosso lugar para não somente cumprir perfeitamente toda a Lei, e também

para que morresse no nosso lugar, e nos colocasse depois de justificados na posição de

honra e glória que Ele tem na presença do Pai.

Mas, ainda que feito por um pouco menor do que os anjos, em seu ministério terreno, foi,

servido, honrado e glorificado pelos anjos que O assistiram, porque nunca perdeu diante deles, a

posição de glória e honra que Lhe foi conferida pelo Pai como tendo autoridade sobre todas as

coisas criadas (v. 7; Salmo 8.4-6).

Todas as coisas foram sujeitadas a Cristo, pelo desígnio de Deus Pai.

Ainda que não vejamos tudo ainda sujeito a Ele, porque o pecado, a morte e demônios permanecem operando no mundo, entretanto,

a vitória final de Cristo sobre todos os seus inimigos já foi estabelecida e confirmada, e

apenas aguarda pelo desfecho do seu cumprimento (v. 8).

Como os cristãos são trazidos à participação da glória de Deus por meio de Cristo, então Ele

próprio participou das aflições pelas quais passam todos os cristãos, para que em tudo se

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identificasse com eles, exceto em relação ao pecado (v. 9, 10).

É na própria divindade que todas as coisas são sustentadas, quer as da terra, quer as do céu.

A vida não pode ser achada fora de Deus. Tudo que não estiver ligado a Jesus perecerá.

Veremos adiante que o modo de se alcançar a vida que permanece é perdendo a vida que é

passageira (fazendo morrer a natureza terrena – Col 3.5), em clara demonstração de se abrir mão

de viver pelo governo da nossa própria vontade, para vivermos pelo governo da vontade de Deus.

Se o Senhor não tivesse dado a sua vida inteiramente ao Pai, pelas aflições que suportou

por amor dele e de nós, jamais poderíamos ser salvos da nossa condição pecaminosa de

inimizade com Deus e oposição à sua santa vontade, porque o princípio da vida eterna opera

por este ato de completa consagração de nossa vida a Deus.

Como Jesus se identificou em todas as coisas

relativas à nossa humanidade, então não se envergonha de nos ter na conta de irmãos, como

lemos nos versos 11 e 12, como Ele havia chamado aos seus discípulos em seu ministério

terreno, como consta por exemplo em Mt 12.49; 25.40; 28.10 e Jo 20.17.

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Jesus é o irmão primogênito que nos santifica, para que sendo tornados verdadeiros filhos de

Deus, possamos ser de fato irmãos de Jesus.

Para que pudéssemos nos tornar filhos de Deus por adoção e justificação, regeneração e

santificação, Jesus Cristo nos foi dado para ser, Ele próprio, a nossa redenção, sabedoria,

justificação e santificação, como vemos em I Cor 1.30.

É por isso que o autor de Hebreus afirma nos versos 13 a 18, a identificação do Senhor com aqueles que lhes foram dados pelo Pai, e a obra

que Ele realizou por eles, destruindo o domínio da morte e do diabo sobre eles, e à escravidão ao

pecado.

A prova desta salvação reside no fato de Jesus não ter tomado a natureza dos anjos, mas a

natureza humana, se colocando debaixo da descendência de Abraão, para ser o Salvador

daqueles que têm a mesma fé e obediência do patriarca do verdadeiro Israel de Deus, que são

contados como descendentes de Abraão por terem a mesma fé do patriarca e para

praticarem as mesmas obras de justiça que ele praticou.

Jesus foi tentado pelo diabo e exposto às mesmas dificuldades e tribulações pelas quais

passam todos os homens, para ser fiel sumo sacerdote daqueles pelos quais Ele intercede dia

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e noite, para que sejam aperfeiçoados na fé e na graça.

Ele venceu todas as tentações e tribulações, para que tenhamos ânimo nas aflições, sabendo que ajudados pelo seu poder e graça, também

permaneceremos fiéis e perseverantes em meio a toda e qualquer circunstância difícil,

porque Ele mesmo as vencerá por nós.

Debaixo da bandeira do nosso capitão que é Cristo, temos que aprender a suportar os

mesmos sofrimentos que Ele suportou.

John Owen observa que Jesus Cristo tendo sido consagrado e aperfeiçoado por meio dos

sofrimentos, consagrou também o modo de sofrimentos de todos os seguidores até que

cheguem à perfeição da glória; uma vez que por meio destes sofrimentos são aperfeiçoados para

serem úteis e honrarem o nome de Deus.

Por meio destes sofrimentos somos também

identificados com Cristo, assim como Ele se identificou conosco, e isto estabelece laços de

amizade e de afinidade amorosa com Ele, porque comprovamos o quanto o amamos por

não negarmos o seu nome e Palavra, a par de tudo o que possamos vir a padecer por causa do

evangelho.

No verso 13 é dito em relação tanto ao Senhor quanto aos que estão unidos a Ele pela fé: “Porei

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nele a minha confiança”. Isto significa que estes que sofrem devem também confiar em Deus,

que os livrará de todas as suas tribulações, caso eles andem como verdadeiros filhos que são de

fato no Senhor.

A citação da parte “b” do verso 13: “Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu.” foi

retirada de Isaías 8.18, que é uma escritura profética relativa à mesma natureza que haveria

em Cristo e naqueles que lhes foram dados pelo Pai.

Heb 2:1 Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades

ouvidas, para que delas jamais nos desviemos.

Heb 2:2 Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou

desobediência recebeu justo castigo,

Heb 2:3 como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual,

tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram;

Heb 2:4 dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres

e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade.

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Heb 2:5 Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos

falando;

Heb 2:6 antes, alguém, em certo lugar, deu

pleno testemunho, dizendo: Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que

o visites?

Heb 2:7 Fizeste-o, por um pouco, menor que os

anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos.

Heb 2:8 Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as

coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele

sujeitas;

Heb 2:9 vemos, todavia, aquele que, por um

pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi

coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo

homem.

Heb 2:10 Porque convinha que aquele, por cuja

causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória,

aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles.

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Heb 2:11 Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é

que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos,

Heb 2:12 dizendo: A meus irmãos declararei o

teu nome, cantar-te-ei louvores no meio da congregação.

Heb 2:13 E outra vez: Eu porei nele a minha confiança. E ainda: Eis aqui estou eu e os filhos

que Deus me deu.

Heb 2:14 Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes

também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o

poder da morte, a saber, o diabo,

Heb 2:15 e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a

vida.

Heb 2:16 Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão.

Heb 2:17 Por isso mesmo, convinha que, em

todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo

sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo.

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Heb 2:18 Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os

que são tentados.

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Hebreus 3

A Fé em Jesus Conduz ao Descanso de Deus – Parte 1

Os cristãos são chamados a considerarem a

honra e glória que devem dar a Jesus Cristo, como apóstolo e sumo sacerdote da Nova

Aliança.

Honra que deve ser maior à que os israelitas davam a Moisés por ter sido o mediador da

Antiga Aliança, uma vez que Moisés era um homem que foi apenas servo na casa de Deus,

mas Jesus é o Senhor desta casa, e foi Aquele que a edificou.

Sendo Deus, Jesus edificou todas as coisas.

A casa que Jesus tem edificado são

principalmente os próprios cristãos.

Todo cristão genuíno será, portanto, identificado pelo fato de não endurecer o seu

coração quando ouvir a voz do Senhor, pelo Espírito Santo, conforme se afirma nos versos 7

e 8.

Os israelitas cujos corpos ficaram prostrados no deserto, durante a jornada de 40 anos rumo a

Canaã, nos dias de Moisés, provaram que eram incrédulos pelo comportamento deles

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provocando e tentando o Senhor, colocando-o à prova por diversas vezes, para que mostrasse

que Ele estava de fato no meio deles, porque consideravam que Ele estivesse ausente em

razão das dificuldades que estavam enfrentando.

Por esta razão é afirmado no capítulo anterior que aqueles que são de Cristo estão identificados com os seus sofrimentos e não

duvidarão do seu amor e bondade para com eles, por causa das aflições que experimentam neste

mundo por amor ao seu nome e ao evangelho.

Estes que se rebelam contra o Senhor por causa dos seus sofrimentos, e que vivem sempre à

busca de que seja feita a sua própria vontade, segundo os seus interesses egoístas, nunca

poderão conhecer os caminhos de Deus, como se vê no verso 10, e ficam sujeitados aos seus

juízos quanto a não conhecerem o descanso que há nele para as suas almas (verso 11).

Aqueles que se recusam a tomar o jugo de Jesus não podem experimentar o descanso que Ele pode e quer nos dar quando estamos

sobrecarregados e cansados pelas circunstâncias difíceis desta vida, conforme sua

promessa em Mt 11.28-30.

Não é dado a nenhum cristão, pela vontade de

Deus, que venha a apostatar da fé, a ter um coração mau e infiel, porque Ele é digno de

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receber honra, glória, louvor e paciência e perseverança em todos os nossos sofrimentos

por amor a Ele.

Não fazê-lo é imputar-lhe uma grande desonra, porque afirmamos por nosso comportamento infiel que Ele não é poderoso, bondoso e fiel para

nos guardar e consolar.

Daí se exigir que nos exortemos mutuamente, ou seja, que nos incentivemos, todos os dias,

para que não sejamos endurecidos pelo pecado. Não pela falta de poder em Deus para nos firmar,

mas por causa da nossa própria fraqueza e da perversidade da natureza terrena da qual

devemos nos despojar, que nos inclina a nos afastarmos do Deus vivo.

Por isso, somos exortados a fazer o que se diz no

verso 14, lembrando sempre daqueles israelitas que não entraram no repouso do Senhor por

causa de um viver na incredulidade.

Faziam parte do povo de Deus, mas eram incrédulos.

Não deram a devida honra e glória a Ele, por demonstrações práticas de fé em suas vidas,

especialmente por obedecerem toda a sua vontade, dispondo-se principalmente a

entrarem em Canaã e lutarem para conquistar aquilo que lhes havia sido dado por promessa.

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Por isso, o autor de Hebreus diz no verso 14 do terceiro capítulo da referida epístola:

“Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a

confiança que desde o princípio tivemos”.

Jesus não nos chamou simplesmente para nos livrar da condenação eterna no fogo do inferno,

mas para efetuarmos conquistas sobre o reino das trevas, sobretudo resgatando almas das

garras do diabo.

Provamos para nós mesmos que somos de fato pertencentes a Cristo e participantes da sua natureza divina, por permanecermos firmes na

fé até ao fim da nossa jornada neste mundo.

É por isso que se diz que confirmamos que somos participantes da vida ressurreta de

Cristo, pela ação do seu poder e graça em nossas vidas, todos os dias, até o fim, e desde o início da

confiança que depositamos nele desde o dia da nossa conversão.

Se a justificação é a base e a causa da salvação, a

santificação é a evidência da mesma.

A justificação é o meio e a santificação é o fim para o qual fomos salvos.

É por isso que lemos em Hb 6.1-3, uma exortação para a busca do amadurecimento espiritual,

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rumo à perfeição, porque a tendência natural da maioria dos cristãos é a de se acomodarem,

depois de terem sido salvos.

Mas, a vida cristã é uma jornada no caminho da perseverança e da santificação.

A vida cristã é uma carreira e não uma mera expectativa contemplativa do cumprimento da

promessa da glória do céu.

Não é suficiente, conforme a vontade de Deus, sabermos que Cristo é nosso Salvador e que por meio dele fomos justificados, é necessário ter

permanente e vital união com Ele, conforme o próprio Jesus nos ordenou dizendo que

deveríamos permanecer nele e na sua Palavra.

O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6, corresponde no original grego à palavra

“parapipto”, que significa “desviar-se” ou “apostatar”.

É o mesmo verbo usado em Heb 3.12, onde está

traduzido como “afastar-se”. E este afastamento referido, é o afastamento de Deus.

A Palavra afirma em Pv 24.16, que “sete vezes cairá o justo, e se levantará”.

A experiência tem revelado esta verdade;

porque muitos são os que se desviam, mas se reconciliam posteriormente com o Senhor,

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porque a bondade e misericórdia do Senhor vão em busca da ovelha desgarrada e perdida, para

trazê-la de volta ao aprisco.

Quando os ossos do cristão são quebrados, o Senhor os restaura novamente.

Um cristão verdadeiro pode cair, mas não numa queda definitiva, que seja para a perda da vida

eterna, que recebeu pela graça.

O próprio Noé, campeão da justiça, depois que se embriagou, arrependeu-se certamente, e permaneceu salvo pela soberana graça.

Noé caiu, mas não numa queda final para a

morte eterna, que ocorrerá somente com aqueles que não têm a Cristo, no dia do grande

juízo de Deus.

Daí o convite que seu autor faz aos hebreus para se aproximarem, com confiança, do trono da graça, para acharem misericórdia em ocasião

oportuna, e para entrarem no Santo dos Santos, depois de terem se purificado de toda má

consciência. Ele os chama a se santificarem, porque sem isto, não é possível estar

efetivamente em comunhão com Deus no Santo dos Santos celestial.

Desta forma, está claro que, se um cristão não

pode perder a salvação, no entanto, pode se desviar do caminho da verdade.

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O fato de Deus tolerar e suportar que o erro caminhe ao lado da verdade, que o joio cresça ao

lado do trigo, não significa de modo algum que Ele seja indiferente ao erro. Muito ao contrário,

tem determinado um dia em que cada um dará contas de Si mesmo perante Ele.

Heb 3:1 Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão,

Jesus,

Heb 3:2 o qual é fiel àquele que o constituiu, como também o era Moisés em toda a casa de Deus.

Heb 3:3 Jesus, todavia, tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés,

quanto maior honra do que a casa tem aquele que a estabeleceu.

Heb 3:4 Pois toda casa é estabelecida por alguém, mas aquele que estabeleceu todas as coisas é Deus.

Heb 3:5 E Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas

que haviam de ser anunciadas;

Heb 3:6 Cristo, porém, como Filho, em sua casa;

a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança.

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Heb 3:7 Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz,

Heb 3:8 não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto,

Heb 3:9 onde os vossos pais me tentaram, pondo-me à prova, e viram as minhas obras por quarenta anos.

Heb 3:10 Por isso, me indignei contra essa geração e disse: Estes sempre erram no coração;

eles também não conheceram os meus caminhos.

Heb 3:11 Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso.

Heb 3:12 Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso

coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo;

Heb 3:13 pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se

chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado.

Heb 3:14 Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos

firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos.

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Heb 3:15 Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na

provocação.

Heb 3:16 Ora, quais os que, tendo ouvido, se rebelaram? Não foram, de fato, todos os que

saíram do Egito por intermédio de Moisés?

Heb 3:17 E contra quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram,

cujos cadáveres caíram no deserto?

Heb 3:18 E contra quem jurou que não entrariam no seu descanso, senão contra os que

foram desobedientes?

Heb 3:19 Vemos, pois, que não puderam entrar por causa da incredulidade.

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Hebreus 4

A Fé em Jesus Conduz ao Descanso de Deus – Parte 2

É somente pela operação da Palavra de Deus

em nossas vidas, gerando fé e a separação de alma e espírito (v. 12), para que possamos viver e

andar no Espírito, por não mais sermos governados pela nossa alma, mas pelo nosso

espírito, que podemos entrar e permanecer no descanso de Deus, que não é um lugar, mas a

condição de estado de espírito em comunhão com o Senhor, uma posição espiritual,

alcançada e mantida, que nos faz experimentar este descanso de uma forma experiencial da

santidade, bondade, paz, alegria, cuidado e amor do Senhor em nós.

Tal é possível porque Jesus é o nosso grande sumo sacerdote, que penetrou os céus para que

possamos reter firmemente a nossa confiança, porque sem a ajuda da força da sua graça

operando em nós, não seria possível participarmos da natureza e da santidade de

Deus (v. 14).

No entanto, soa uma séria advertência neste

capítulo quanto ao perigo de não se entrar no descanso por causa da incredulidade, e também

pela necessidade de diligência para que se possa permanecer no descanso e se ter a certeza de

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que se entrará no descanso completo, absoluto e eterno no céu, porque apesar de Jesus ser um

sumo sacerdote fiel que se compadece de nós e que dá graça aos que se aproximam do trono da

graça, também é aquele ao qual todos terão que prestar contas no seu tribunal de juízo, porque

tudo está diante dele e nada escapa do seu perfeito conhecimento, até mesmo de nossos

pensamentos e intenções, além de nossas ações.

Todavia, não é por causa das nossas fraquezas que estamos impedidos de entrar no descanso do Senhor, senão por causa da incredulidade,

porque o Senhor conhece a nossa natural inabilidade para participarmos por nós mesmos

das realidades espirituais celestiais e divinas.

Por isso, necessitamos nos achegarmos com fé ao trono da graça celestial para acharmos

misericórdia e graça, de maneira que possamos ser ajudados nos tempos de nossas

necessidades para receber o fortalecimento e capacidade de Deus que nos permite entrar e

permanecer no seu descanso (v. 16).

Somos chamados a nos aproximarmos do trono da graça, porque é no próprio Cristo que somos

fortalecidos pela graça.

É a sua vida em nós que vence o pecado e todas as forças que lutam contra a nova criatura.

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A representação de que somos chamados a participar do descanso do Senhor se encontra

no relato da própria criação, quando se diz em Gên 2.3 que “Abençoou Deus o sétimo dia, e o

santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que criara e fizera.”

Este descanso do povo de Deus não consistiu na

mera conquista de Canaã nos dias de Josué, porque, como vimos antes, não se trata de um

lugar, mas de uma condição, de um estado de espírito santificado e abençoado que podemos

encontrar somente em Jesus Cristo, na plena comunhão com Ele.

Todo cristão verdadeiro tem entrado no

descanso do Senhor conforme lhe é facultado pela operação da sua graça e pela regeneração

do Espírito Santo (v.3); mas é necessário manter-se no descanso de Deus pela mesma graça,

andando no Espírito, e não resistindo à obra do Espírito por causa de uma cerviz endurecida.

O apóstolo fala do temor de que alguém falhe

diante da promessa que foi deixada de entrarmos no descanso de Deus.

A Bíblia nunca encoraja qualquer pessoa a se

sentir segura e em paz, quando anda contrariamente com Deus. Ao contrário,

adverte quanto aos terríveis juízos a que tais pessoas estão sujeitas.

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Este é o alvo do autor de Hebreus neste capítulo. Ele quis advertir quanto ao perigo que há em não

se estar no descanso do Senhor pela santificação da vida.

Os destinatários originais da epístola aos Hebreus estavam passando por sérias

tribulações, perseguições e dificuldades quando lhes escreveu.

Por isso, lhes advertiu do perigo que há especialmente nestas ocasiões para se apostatar da fé. Isto serve de advertência para qualquer

pessoa que se sentir tentada a recuar na fé por causa do perigo que há nestas horas de aflições

para fazê-lo.

Quando nosso Senhor nos faz o convite no evangelho a buscarmos paz e descanso nele para

nossas almas sobrecarregadas, o que está em foco, não é simples alívio psicológico, mas a

busca desta condição de santificação pela nossa união real e atual com Ele, de modo que

alcancemos aquele estado de alma que foi projetado por Deus para todos os seus filhos,

desde antes da criação do mundo.

Os crentes hebreus haviam abandonado o caminho da santificação e por isso estavam

sendo alertados quando ao dever de retornar a ele.

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É a fé que misturada com a boa nova (palavra do evangelho) produz os efeitos esperados por

Deus na transformação do nosso viver (v. 2).

Portanto, estas duas coisas devem caminhar juntas, a saber: a fé e a Palavra, porque se ajudam mutuamente, porque não há fé sem ouvir a

pregação da Palavra, e não há verdadeira pregação da Palavra que não seja acompanhada

pela fé.

Esta mistura de fé com Palavra mistura-se também com a alma do cristão transformando-

se em graça e poder que santificam a sua vida.

Devemos ter em consideração que uma fé que aumente em graus destruirá o pecado na

mesma proporção do tamanho progressivo que esta fé alcance, e daí entendermos que à medida

que avance o tamanho da fé, maior é a intensidade da comunhão com Deus e da

santificação da vida.

À medida que ocorre o despojamento progressivo do velho homem, pelo aumento da fé, aumenta também a manifestação da vida da

nova criatura, e isto se traduz em aumento da plenitude de Deus no nosso próprio ser.

Permanecer vivendo na carne, segundo o

homem natural, impossibilita, portanto, o aumento da fé e da santificação.

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Logo, este descanso de Deus é alcançado pela fé e pela Palavra que nos unem a Ele.

Se Deus é o descanso do seu povo, no qual eles

acham descanso e paz para suas almas, então este Deus é um Deus de amor, porque se não

fosse, não haveria nenhum descanso nele, senão somente cargas.

Ele julga o pecado porque impede a entrada em tal descanso com Ele, ao qual tanto almeja para

nós.

Fomos criados para este descanso espiritual que se traduz em paz, amor, amizade e comunhão

com Deus.

Nós lemos no verso 3 deste capítulo:

“Porque nós, os que temos crido, entramos no repouso, tal como disse: Assim jurei na minha

ira que não entrarão no meu descanso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a

fundação do mundo.”

A primeira parte deste versículo comprova que a ameaça de não entrar no descanso espiritual

eterno do Senhor depois da morte, não se aplica a cristãos, porque como vimos anteriormente,

estes foram livrados da condenação eterna por causa da sua união com Cristo.

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Assim autor de Hebreus afirma expressamente que os que têm crido já entraram no descanso.

O próprio Jesus é o descanso dos cristãos.

Por isso, ele convida os homens a virem a Ele para acharem descanso para as suas almas.

É nele, e somente nele, que nosso espírito pode estar em paz e em conformidade com tudo o que

foi planejado por Deus para que seja o nosso espírito, assim como tudo o que ele deve ter e

fazer.

Por isso se diz que fora de Cristo o espírito do homem está morto, e sujeito ao pleno domínio

de delitos e pecados.

A Igreja não guarda mais o sábado da Lei, nos termos do Antigo Testamento, porque Cristo se tornou o nosso sábado, em quem somos

chamados a descansar e adorar, obrigatoriamente, não mais apenas num dia de

descanso dentre seis de trabalho, mas durante todos os dias de nossas vidas, porque é dito que

temos entrado no descanso de Deus, que é Cristo.

Este descanso se projeta no futuro porque assim como Deus descansou depois de ter concluído a

obra da criação nos seis dias citados em Gênesis, os cristãos também entrarão no descanso deles

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depois de terem trabalhado para o Senhor aqui na terra.

Não haveria do que descansarmos se não tivéssemos feito nenhum trabalho e se não sofrêssemos nenhuma aflição e tribulação

neste mundo.

O céu é o refúgio e pousada final onde poderemos encontrar repouso para as nossas

canseiras e diligência em prol do evangelho.

Para tal diligência é absolutamente essencial a separação de alma e espírito, juntas e medulas,

que é operada pela Palavra de Deus, a qual é também apta para discernir os pensamentos e

intenções do coração (verso 12).

Desta maneira, a própria Palavra sempre

colocará a descoberto aos olhos do Senhor qual é a nossa verdadeira condição perante Ele,

porque separa não somente alma e espírito, como é apta para discernir os pensamentos e

intenções do coração; de modo que nenhuma criatura pode se esconder dos olhos do Senhor,

que pela sua onisciência e onipresença conhece todas as coisas de modo patente e nu, para que

todos compareçamos perante Ele no dia do juízo para julgar com perfeição todas as nossas

intenções e obras (v. 12,13).

A espada aqui referida no texto de Hb 4.12 é uma alusão à que era usada pelo sumo sacerdote para

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dividir o holocausto em partes. Esta espada representa a Palavra que é usada por Cristo

através do trabalho do Espírito Santo para separar espírito e alma nos cristãos, de maneira

que possam ser verdadeiramente espirituais.

Esta passagem notável em Hebreus 4.12 apresenta a clara distinção entre alma e espírito,

a necessidade da separação de um do outro de forma que, como dissemos antes e voltamos a

repetir, o cristão possa se tornar um homem verdadeiramente espiritual, enquanto andando

de acordo com Deus no espírito (I Pedro 4.6).

Ninguém e nenhum poder conseguirão fazer este trabalho de separação entre alma e espírito,

senão a Palavra de Deus e o Espírito Santo, de maneira que o homem possa discernir e ficar

livre do governo da alma que deve ser trocado pelo do espírito.

A Palavra de Deus é a espada de dois gumes, que

mata tudo o que é da velha criatura, mas deve ter um agente que a utilize, e este é o Espírito Santo.

Ao citar também a separação entre juntas e

medulas, o autor de Hebreus marca que este trabalho de separação também ajuda a discernir

as operações dos sentidos do corpo, para distingui-las como sendo ou não propriamente

o resultado das operações produzidas pelo espírito debaixo da influência do Espírito Santo.

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Heb 4:1 Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de

Deus, suceda parecer que algum de vós tenha falhado.

Heb 4:2 Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a

palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que

a ouviram.

Heb 4:3 Nós, porém, que cremos, entramos no descanso, conforme Deus tem dito: Assim, jurei

na minha ira: Não entrarão no meu descanso. Embora, certamente, as obras estivessem

concluídas desde a fundação do mundo.

Heb 4:4 Porque, em certo lugar, assim disse, no tocante ao sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as obras que fizera.

Heb 4:5 E novamente, no mesmo lugar: Não

entrarão no meu descanso.

Heb 4:6 Visto, portanto, que resta entrarem alguns nele e que, por causa da desobediência, não entraram aqueles aos quais anteriormente

foram anunciadas as boas-novas,

Heb 4:7 de novo, determina certo dia, Hoje, falando por Davi, muito tempo depois, segundo

antes fora declarado: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração.

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Heb 4:8 Ora, se Josué lhes houvesse dado descanso, não falaria, posteriormente, a

respeito de outro dia.

Heb 4:9 Portanto, resta um repouso para o povo de Deus.

Heb 4:10 Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas

obras, como Deus das suas.

Heb 4:11 Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência.

Heb 4:12 Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir

alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do

coração.

Heb 4:13 E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas

as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.

Heb 4:14 Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os

céus, conservemos firmes a nossa confissão.

Heb 4:15 Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas;

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antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado.

Heb 4:16 Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de

recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.

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Hebreus 5

Jesus é Sumo Sacerdote Eterno

A força do argumento apresentado no capítulo

anterior é reforçada e confirmada neste capítulo pela verdade de que nenhum sacerdote

é chamado por Deus para interceder por pessoas perfeitas, mas por aqueles que são

tentados e que se encontram rodeados de fraqueza inclusive em si mesmos.

De maneira que o próprio Jesus foi aperfeiçoado para o seu ministério sumo sacerdotal, pelas coisas que Ele experimentou tanto em tentações

quanto em fraquezas relativas à sua natureza humana, para que pudesse interceder

eficazmente pelos homens, cuja condição natural é de fragilidade diante de Deus.

A força de Jesus em seu ministério terreno, estava no Espírito Santo, porque Ele se esvaziou

a Si mesmo e tudo fez pelo poder e eficácia do Espírito.

Deste modo, todo cristão negligente não poderá agradar a Deus quanto ao seu comportamento,

ainda que não possa ser mais reprovado de uma maneira final, que seja para condenação eterna,

por causa de ter sido, remido, justificado e regenerado em Cristo Jesus.

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Um grande encorajamento para qualquer cristão que esteja passando por aflições é o fato

de saber que o próprio Cristo passou por estas aflições e foi ouvido pelo Pai em seus clamores e

lágrimas, por causa das coisas que sofreu, para obter livramento, como se vê no verso 7 deste

quinto capítulo de Hebreus.

“O qual, nos dias da sua carne, oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao

que o podia livrar da morte, foi ouvido quanto ao que temia.” (v. 7).

Do mesmo modo o cristão que ora e confia em Deus será ouvido em suas aflições, imitando o exemplo que o seu Mestre lhe deixou em seu

ministério terreno.

Os cristãos judeus queriam se poupar, não se exporem por amor a Cristo, e assim não estavam

fazendo progresso na fé, e por isso foram repreendidos pelo autor de Hebreus quanto à

negligência com que estavam vivendo em relação ao evangelho.

Eles já deveriam ser, pelo tempo decorrido de convertidos, mestres exemplares de uma vida

espiritual madura com Deus, mas ainda se encontravam no estágio de infância da fé, e não

podiam dar tal testemunho.

Eles não haviam se aplicado a darem ouvidos e a praticarem a Palavra que lhes havia sido

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pregada, e esta era a razão de não estarem fazendo progresso na sua santificação.

Logo, a fraqueza deles não era uma fraqueza natural, mas uma fraqueza pecaminosa, porque consistia em serem negligentes e

desobedientes para com a verdade revelada por Deus por meio de Jesus Cristo, cujo sacerdócio

não era da ordem arônica, mas segundo a ordem de Melquisedeque, isto é, com uma nova lei

sacerdotal que eles deveriam aprender e se aplicar à mesma, porque é sumo sacerdote de

uma Nova Aliança inaugurada no seu sangue.

Abandonar a graça de Cristo e tentar ser aperfeiçoado pelo próprio esforço em

meramente cumprir a Lei, é na verdade um esforço para aperfeiçoar o velho homem, que

não pode de maneira alguma agradar ou fazer a vontade de Deus, porque a carne não está sujeita

nem a Deus, nem à sua lei.

Trata-se, portanto, de um engodo, de uma farsa espiritual, tentar fazer a vontade de Deus sem

estar sujeito ao trabalho do Espírito Santo.

Se Cristo foi chamado pelo Pai para ser sumo

sacerdote, então aqueles que estão afiliados a Ele são também sacerdotes, e devem cumprir o

seu ofício em favor de todos os homens.

Os trajes do sumo sacerdote e os seus ofícios eram mais elevados do que o dos demais

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sacerdotes, e somente Ele podia entrar no Santo dos Santos para fazer expiação por todo o povo.

Nisto temos também uma ilustração do sumo sacerdócio de Cristo, porque seria mais elevado

do que o dos demais sacerdotes, a, saber os cristãos, e somente Ele poderia fazer expiação

pelo pecado de todos aqueles pelos quais intercede à direita do Pai.

Nós vemos, portanto, que aquele sacerdócio do Antigo Testamento era apenas uma sombra e figura do sacerdócio de Cristo e dos cristãos na

dispensação da graça.

É dito nos três primeiros versículos deste quinto capítulo de Hebreus que o sumo sacerdote é

elevado dentre os homens para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados, e para se compadecer

dos ignorantes e errados, e também para interceder pelos pecadores e fazer oferta pelos

pecados.

Caso não houvesse pecado, não haveria necessidade de um sumo sacerdote.

A Lei ensinava isto em figura com o sumo sacerdócio arônico, só que aqueles estavam

rodeados de fraquezas e ofereciam dons e intercessões por si mesmos, mas tal não é o caso

de Cristo que não tem nenhuma fraqueza ou pecado.

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Assim, os dons que Cristo ofereceu para a nossa aceitação, dentre tantos, contam-se

principalmente, o seu próprio sacrifício na cruz, e o dom do Espírito Santo, para que pudéssemos

ser justificados, regenerados e santificados, de maneira que sendo aperfeiçoados possamos nos

aproximar de Deus.

Então, a oferta dos dons e intercessões, sumo sacerdotais, têm em vista o nosso

aperfeiçoamento espiritual em santidade, de maneira a sermos aceitos, e não são somente

meios de expiação do pecado, e pedidos em favor dos pecadores, mas sobretudo meios

eficazes para a transformação deles nas pessoas santas que devem ser para que possam ter

comunhão com Deus.

A súmula disto é que não conseguiríamos atingir tal santidade se Deus não nos tivesse

provido de um sumo sacerdote como Cristo.

Por isso, o autor de Hebreus diz que nos convinha um tal sumo sacerdote como Ele,

porque pelo ofício sumo sacerdotal da Lei no Antigo Testamento, ninguém podia ser

aperfeiçoado em santidade.

Por isso, nosso Senhor não foi contado como sendo da ordem de Arão, mas de

Melquisedeque, que era sumo sacerdote de Deus, e não o era por sucessão arônica, mas do

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qual não se tem sequer referência de sua descendência terrena.

Ninguém além de Jesus poderia ter a paciência necessária para suportar nossas falhas e pecados, enquanto executa o seu trabalho da

nossa santificação. Sem esta capacitação e paciência do Senhor, não seria possível tal

trabalho porque falhamos em muitas coisas, e o pecado nos assedia sempre de muito perto.

Se nosso sumo sacerdote não contivesse sua ira contra o pecado, nós seríamos reduzidos a cinzas, mas esta sua completa longanimidade

não permite que haja excesso na sua indignação contra as nossas fraquezas, de maneira que não

somos rejeitados, se o temos por nosso intercessor.

Assim, como o nosso sumo sacerdote, Jesus, não leva tão alto a provocação relativa ao pecado e à ignorância do seu povo, de igual maneira todos

os seus ministros são chamados a serem longânimos para com todos, em razão da

fragilidade da natureza humana, porque Cristo não morreu por justos, mas por injustos que

estão sendo aperfeiçoados na justiça.

Nosso zelo exagerado pode não apagar a

manifestação do Espírito Santo na Igreja, mas pode produzir muitas feridas naqueles que já se

encontram feridos e necessitam não de serem ainda mais feridos, mas ajudados.

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Por isso, era exigido dos sumos sacerdotes terrenos, na antiga aliança, que estivessem

conscientes de suas próprias fraquezas, de maneira que tivessem compaixão dos pecadores

pelos quais intercederiam.

Esta qualificação é exigida dos ministros de Cristo, dos quais aqueles sacerdotes do Antigo

Testamento eram um tipo neste particular do trabalho que devem fazer para aproximarem de

Deus as pessoas que se encontram rodeadas de fraquezas.

Por isso é necessário que sejamos aperfeiçoados nas coisas que sofreremos, assim como o próprio Cristo foi aperfeiçoado em sofrimentos

para que pudesse se compadecer de nossas fraquezas.

Este aperfeiçoamento tem a ver com a nossa maturidade, que é o que faz com que nos aproximemos cada vez mais do padrão de vida

do próprio Deus.

A indolência em ouvir e reter a Palavra pregada,

para ser praticada fez com que os cristãos hebreus tivessem grande dificuldade para

entenderem as coisas sobre as quais o apóstolo estava lhes recordando acerca do ministério

sumo sacerdotal de Cristo e do descanso que Ele próprio se tornou para o seu povo, e sobre o

modo de como entrar e permanecer neste descanso pela fé.

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Como quase suspirando em desalento diante do endurecimento a que seus leitores haviam

chegado, o autor desta epístola desabafou nos versos 11 a 14, e, lamentou a presente condição

deles de falta de progresso na fé.

Então, o autor de Hebreus disse aos seus leitores que pelo tempo decorrido no evangelho eles deveriam ser mestres, isto é, instrutores de

ignorantes da vontade de Deus, e não serem eles próprios tais pessoas ignorantes de tal vontade.

Além disso, já deveriam ser cristãos maduros que se alimentam de coisas sólidas relativas à verdade, e não meramente de leite, porque era

o que podiam suportar por serem como meninos na fé, cristãos carnais, sem o devido

crescimento no conhecimento de Deus, por experiência pessoal com Ele, no aumento das

graças e da fé na própria vida deles.

As coisas que ferem facilmente um bebê não podem ferir quem seja adulto.

Melindres operados por amor ao ego impedirão facilmente qualquer cristão de cumprir o seu

ministério.

Pequenas coisas podem aborrecer e imobilizarem uma criança a ponto de não

poderem obedecer e procederem adequadamente.

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O mesmo sucede no mundo espiritual em relação aos cristãos que são bebês na fé, apesar

de serem velhos na igreja.

Heb 5:1 Porque todo sumo sacerdote, sendo tomado dentre os homens, é constituído nas coisas concernentes a Deus, a favor dos

homens, para oferecer tanto dons como sacrifícios pelos pecados,

Heb 5:2 e é capaz de condoer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele mesmo está rodeado de fraquezas.

Heb 5:3 E, por esta razão, deve oferecer sacrifícios pelos pecados, tanto do povo como de

si mesmo.

Heb 5:4 Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como

aconteceu com Arão.

Heb 5:5 Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar sumo sacerdote,

mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei;

Heb 5:6 como em outro lugar também diz: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de

Melquisedeque.

Heb 5:7 Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações

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e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade,

Heb 5:8 embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu

Heb 5:9 e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe

obedecem,

Heb 5:10 tendo sido nomeado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.

Heb 5:11 A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos

tendes tornado tardios em ouvir.

Heb 5:12 Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que

vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos

tornastes como necessitados de leite e não d

Heb 5:13 Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança.

Heb 5:14 Mas o alimento sólido é para os

adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não

somente o bem, mas também o mal.

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Hebreus 6

A Segurança da Salvação e o Perigo da Apostasia

Este sexto capítulo é introduzido com a

partícula conclusiva dió, que no original grego

significa, “por isso”, “em razão disso”, “desta maneira”, ou seja, ele iria passar a descrever

verdades que se apoiavam em tudo quanto havia sido dito anteriormente.

Como a dizer: “Bem, já que Cristo é tudo o que acabamos de afirmar, sendo Ele próprio a razão,

o princípio, o fundamento e tudo o mais que se refere ao cumprimento do propósito de Deus

nos cristãos, então, o que podemos concluir é o seguinte:”

Vocês não fizeram progresso rumo à maturidade espiritual em Cristo, de modo que

estão até mesmo necessitando que os rudimentos da fé (doutrinas relacionadas nos

versos 1 e 2) sejam de novo ensinados a vocês, mas não farei isto agora, mas em outra ocasião

caso Deus permita.

Não é o caso de concentrarmos nossa atenção nos rudimentos da fé, neste momento, lhes

convocando a um novo arrependimento para a conversão, para a regeneração, para impor-lhes

as mãos para receberem os dons e o poder do Espírito Santo, lhes ministrar acerca do juízo

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vindouro e da ressurreição dos mortos, porque não é o caso, e não é isto o de que têm

necessidade nesta hora, em razão da condição em que vocês se encontram.

Confiando na carne e se aperfeiçoando na carne, como poderão estar aptos a recepcionarem tudo aquilo que se refere à nova

vida no Espírito Santo?

Tudo quanto necessitam é despertarem primeiro para a necessidade de se voltarem

mais uma vez para Cristo, e se unirem a Ele em espírito, não para nascerem de novo e serem

purificados, porque isto já ocorreu no passado e vocês foram lavados pela Palavra que lhes foi

pregada.

Vocês precisam de crescimento espiritual.

Precisam olhar mais uma vez para o Cristo

crucificado, e se verem também crucificados com Ele, para viverem ressuscitados em

novidade de vida.”

É por isso que na primeira parte deste sexto capítulo, o autor afirma a sua determinação de

se aprofundar neste momento em tratar do assunto da apostasia deles, e não se ater aos

rudimentos da fé que ele lhes havia ensinado, e que por ora, deixaria de lado por um tempo para

poder se concentrar no tratamento que eles estavam necessitando.

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Este “deixemo-nos levar para o que é perfeito” do verso 1, se refere à vocação imposta por Deus

a todos os cristãos de crescerem na graça e no conhecimento de Jesus Cristo, até a estatura de

varão perfeito.

Não que eles chegarão ao estado de perfeição

moral absoluta sem pecado enquanto estiverem neste mundo, mas que devem chegar à

perfeição espiritual, à plenitude do desenvolvimento das suas faculdades, para

poderem discernir tanto o bem quanto o mal, o que é possível somente para aqueles que

chegaram à plenitude do seu amadurecimento espiritual, de modo a estarem aptos a darem um

correto e adequado testemunho da verdade, no poder do Espírito (Pv 4.18; I Cor 2.6; II Cor 13.11; Ef

4.13; Fp 3.15; Col 1.28; 2.6; 4.12; II Tim 3.16,17; Hb 5.12-14; Tg 1.4).

Esta perfeição é atingida se aperfeiçoando a santidade no crescimento da graça e do

conhecimento de Jesus Cristo (II Cor 7.1; Ef 4.12; Hb 13.21; I Pe 5.10).

Do mesmo modo que há uma perfeição a ser esperada no porvir que é total e absoluta, sem

qualquer pecado, há também uma perfeição que é para ser buscada e atingida enquanto ainda

estamos neste mundo e que se refere ao nosso amadurecimento espiritual pelo crescimento

progressivo em santificação até atingir tal medida de perfeição que foi proposta por Deus

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aos cristãos, e conforme foi exigida ao próprio Abraão: “Anda na minha presença e sê

perfeito.” (Gên 17.1).

Na parte final do capítulo anterior, o autor de Hebreus afirma que tinha muitas coisas a dizer

aos seus leitores, que eram difíceis de serem explicadas, não propriamente pela natureza da

dificuldade delas, mas porque eles não haviam crescido espiritualmente, de modo a poderem

entendê-las.

Pelo tempo que eles tinham de cristãos, caso estivessem se aplicando à prática da Palavra,

eles teriam suas faculdades exercitadas de modo a poderem discernir o significado da vida

cristã (v. 14).

Seria necessário demonstrar àqueles cristãos judeus que o sacerdócio e sacrifício de Jesus

configuravam o fundamento da salvação deles, mas havia uma grande dificuldade para

entenderem que o sacerdócio e os sacrifícios arônicos passariam, conforme lhes diria o autor

de Hebreus, porque o templo ainda devia estar de pé por ocasião da escrita da epístola, com

todos os seus serviços ativados.

No entendimento deles, como poderia ser possível agradar a Deus sem oferecer os

sacrifícios de animais que Ele mesmo havia ordenado em sua Lei?

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Como deixar a guarda do dia de sábado, substituindo-o pelo domingo?

Como deixar todas as demais prescrições cerimoniais da Lei de lado?

Parece que até antes da escrita desta epístola, os hebreus não haviam sido convencidos suficientemente que havia sido dado um fim

absoluto a todas as instituições de culto mosaicas, desde que a Nova Aliança entrou em

vigor, apesar do fato de o templo ainda estar de pé e a quase totalidade dos judeus ter rejeitado a

Cristo, permanecendo debaixo das tradições do judaísmo.

Os cristãos hebreus tinham muito do que se

arrepender, porque estavam colocando a confiança deles, para a salvação de suas almas,

em muitas coisas, até no próprio arrependimento em relação ao pecado, mas só

que fora de Cristo.

Eles não conseguiam ainda entender de que modo absoluto o perdão dos nossos pecados é dependente de Cristo e da obra que ele realizou

em nosso favor como Sacrifício e Sacerdote.

A palavra de alerta em sequência a Hb 6.4-6, nos versos 7 e 8 é também muito interessante para

descrever o estado em que se encontrava a quase totalidade dos destinatários da epístola.

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Eles eram qual terra que havia recebido e absorvido a chuva da graça de Deus sobre suas

vidas, só que em vez de crescerem, e darem bons frutos, estavam produzindo espinhos e

abrolhos.

É isto o que acontece quando o cristão para de se santificar.

Ele vai produzir as obras da carne em vez do fruto do Espírito.

Os espinhos amargosos e venenosos das práticas do mundo. E esta não é uma condição

para ser abençoada por Deus. Ao contrário é uma posição para ser sujeitado à sua correção e

disciplina.

A sequência imediata no verso 9, é muito

elucidativa, como o “Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das

coisas que são melhores e pertencentes à salvação,” - isto porque em sendo eles

verdadeiros cristãos, certamente poderiam dar frutos para Deus em Jesus Cristo, conforme o

seu santo propósito determinado antes da fundação do mundo, porque fomos criados em

Cristo Jesus para as boas obras que Deus preparou de antemão.

Os cristãos hebreus, num certo sentido, haviam

apostatado da fé. Eles estavam virando as costas a Cristo e estavam renunciando à graça que lhes

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havia salvado por um retorno ao cerimonialismo da lei de Moisés, e às tradições

do judaísmo desviadas da verdade.

No entanto, nós vemos o Espírito Santo estendendo a mão a eles, chamando-lhes a um renovado arrependimento, não para a

justificação e regeneração, mas pelos seus pecados presentes, de modo a que pudessem

retomar à carreira espiritual em que estavam inscritos.

Isto não é uma clara demonstração da possibilidade de reconciliação de cristãos desviados?

A misericórdia de Deus nunca se apartará

daqueles aos quais recebeu como filhos, por meio da fé em Cristo Jesus.

Por isso o autor de Hebreus estava procurando incitá-los a despertar do sono espiritual, e a

abrirem os seus olhos que se encontravam fechados pelas trevas do legalismo, a

comprarem ouro espiritual refinado no Senhor para serem santificados e enriquecidos pela

verdade da sua Palavra revelada aos apóstolos.

É por isso que nós encontramos exortações ao longo de toda a epístola para que eles se

apegassem à verdade que havia sido dada aos santos de uma vez por todas.

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O doreas = dom, presente; epouraniou = celestial, de Hb 6.4, se refere ao Espírito Santo,

porque Ele é o dom da Nova Aliança, prometido por Cristo aos cristãos.

O autor de Hebreus afirma que seria impossível renovar para arrependimento aqueles que

receberam o Espírito Santo como um dom e que se tornaram participantes dele, e que caíram

definitivamente, numa queda final, tal como Judas.

Eles já haviam estado sob a influência do

Espírito Santo, mas não permitiram serem transformados por Ele em novas criaturas. Não

haviam entrado no descanso de Deus por causa da incredulidade, ou seja, porque não eram

possuidores da fé que salva.

Como seria possível então renovar aquilo que nunca havia sido tornado novo e que permaneceu sendo como o vinho velho no odre

velho?

Como reavivar o que nunca foi avivado?

Se quando aparentavam estar ligados a Cristo já se encontravam em perdição, como então poderiam ser salvos depois de terem profanado

e calcado sob os seus pés o sangue da aliança?

O verbo renovar usado em Hebreus 6.6, é oriundo da palavra composta grega, anakaínos,

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onde aná, é a preposição outra vez, e kainós, o adjetivo novo. Significando literalmente “tornar

novo outra vez”.

Vale lembrar que tal adjetivo kainós é usado em várias passagens do Novo Testamento, inclusive

no uso que nosso Senhor fez da mesma no evangelho quando se referiu a vinho novo e

odres novos.

O substantivo arrependimento na mesma passagem, é oriundo da palavra grega metanoia, a qual é sempre usada no Novo Testamento para

arrependimento, e que significa literalmente transformação de mente.

Assim, não há aqui uma referência a perda de salvação, mas a indicação de uma impossibilidade de tornar novo outra vez para

uma transformação de mente.

Ou seja, a de regenerar, de produzir o novo nascimento do Espírito, ou seja, de que alguém

se converta de fato a Deus.

Quem são estes dos quais se diz que seria impossível que se convertessem a Deus?

São os que são designados pelo verbo grego

parapípto, que significa os que se afastaram, que apostataram.

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É dito que eles, ao caírem, ou seja, ao apostatarem, estavam crucificando mais uma

vez o Senhor e o expondo à ignomínia, ou seja, eles já o haviam feito anteriormente com a falsa

profissão de fé deles, e agora, com a sua apostasia consumada.

Ao dizer que eles estavam crucificando o Senhor mais uma vez para si mesmos, o sentido aqui é o

de que como afirmassem que de nada serviu para eles ter nosso Senhor morrido na cruz, e

estariam como que exigindo dele um novo sacrifício.

Paulo falou relativamente aos cristãos gálatas, de um decaimento da graça por estarem

confiando na Lei para serem justificados. Mas de modo nenhum, se tratava de uma queda para

uma perdição final. Eles seriam restaurados à comunhão com o Senhor pela Palavra de

exortação que lhes fora dirigida pelo apóstolo a permanecerem na fé e na graça.

Se fosse possível um genuíno eleito justificado e

regenerado cair definitivamente da graça, perdendo a condição de filho de Deus, que havia

recebido anteriormente, então não seria realmente possível trazê-lo de novo a esta

condição porque isto demandaria uma nova justificação e regeneração, e estes são atos

únicos que ocorrem uma só vez e para sempre na vida daqueles que alcançaram a salvação.

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Quanto aos apóstatas, nada foi dito pelo autor de Hebreus quanto a terem nascido de novo, não

da vontade do homem nem da carne, senão o que se lê nos versos 7 e 8 que eles são como um

tipo de solo que absorve a chuva frequentemente, não para produzir erva útil,

mas para produzir espinhos e abrolhos, e por isso é rejeitado e perto está da maldição, e o seu

fim é o de ser queimado.

Como tais palavras poderiam ser aplicadas a verdadeiros cristãos?

É por isso que o autor de Hebreus prossegue o seu discurso fazendo uma distinção clara entre estes apóstatas que tinham tido apenas uma

experiência com os dons sobrenaturais do Espírito Santo, e que são adventícios e não

ligados de modo permanente pela graça à nova natureza, e os verdadeiros cristãos, dos quais

somente se pode esperar as coisas melhores relativas à salvação, pois possuem o fruto do

Espírito e não apenas os seus dons extraordinários, como os haviam possuído Saul,

Judas e tantos outros, que vieram por fim, a apostarem definitivamente do Senhor para uma

perdição final.

Deus fez uma aliança eterna com os cristãos, e prometeu isto desde os dias dos profetas, e o

prometeu especialmente a Davi.

Sendo eterna não pode ser anulada.

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Como aliança em seu caráter matrimonial onde Ele é o esposo, e a Igreja a noiva, o que se requer

então dos aliançados é que eles sejam fiéis.

Deus sempre será fiel porque não pode se negar a si mesmo.

Todavia, os cristãos, por causa do resquício de corrupções que permanecem na natureza

terrena, são exortados a serem fiéis em tudo durante a sua peregrinação, porque, tal

casamento, do Criador com a criatura, requer isto.

Deus continuará amando seus filhos adúlteros, mas os sujeitará à disciplina da aliança.

Ele não os repudiará porque tem prometido manter o compromisso por toda a eternidade.

Diante de tal caráter imutável da promessa que Ele fez, não resta aos aliançados senão a alternativa de serem também fiéis, de modo que

se viva de modo agradável Àquele com os quais se aliançaram numa união de amor indissolúvel

e eterno.

O que o autor de Hebreus desejava de fato expor àqueles cristãos que estavam abandonando o

seu primeiro amor é o que lemos nos versos 11 e 12:

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“11 Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para

a plena certeza da esperança;

12 para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas.”.

Ele marcou portanto, a necessidade de

diligência em santificação para o crescimento na graça e no conhecimento de Jesus, porque

esta é a única maneira de se ter a plena certeza da esperança da salvação.

Veja: a certeza da salvação, e não a salvação propriamente dita (v. 11).

E tal diligência não tem em vista somente a

certeza da salvação, mas também e principalmente conduzir a um modo de vida

digno da vocação a que o cristão foi chamado por Deus, que é pela fé e longanimidade (v. 12).

Por conseguinte, ele reforçou estes argumentos detalhando em qual base segura se alicerça a

salvação dos cristãos, nos versos 13 a 20.

A esperança da nossa salvação é referida pelo autor de Hebreus como sendo uma âncora da

nossa alma, que a manterá segura e firme por toda a eternidade, porque esta âncora está

firmada no Santo dos Santos, além do véu, onde Jesus entrou, e nos mantém ancorados como o

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grande sumo sacerdote da nossa fé, de maneira que não podemos ser movidos da nossa união

com Ele.

A nossa salvação não é baseada num pacto ou aliança da Lei ou obras, mas num pacto, ou seja,

numa aliança de pura graça, do Espírito Santo.

É bom lembrarmos sempre que neste sexto capítulo de Hebreus é afirmada a imutabilidade

da promessa da salvação, que Deus fez a Abraão quando lhe preanunciou o evangelho, dizendo

que no seu descendente que é Cristo seriam abençoadas todas as nações da terra, e para

confirmar tal imutabilidade do seu propósito de salvar com segurança eterna os aliançados com

Cristo pela fé, o fez jurando por Si mesmo.

Reparem que ele quase se retrata no verso 9: “ainda que falamos desta maneira”, isto é,

falando de uma ameaça de inferno para quem cai definitivamente da graça. Mas para reparar

qualquer mal-entendido da parte dos seus destinatários, pensando que poderia estar se

dirigindo a autênticos filhos de Deus, disse no mesmo verso que estava persuadido em relação

a eles das coisas que são melhores e pertencentes à salvação.

Ele disse que estava persuadido quanto à

segurança da salvação deles. Ele sabia que eles eram filhos de Deus, e que, portanto, a condição

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de apostasia final a que havia se referido não era aplicável a eles.

E acrescentou um argumento para esta sua

persuasão: eles haviam dado mostras anteriormente da genuinidade da sua fé através

das boas obras, e Deus estava amarrado ao compromisso de dar-lhes a recompensa

prometida ao fruto da fé deles, e certamente, isto não poderia ser feito de modo algum no

inferno.

Israel, apesar de ser o povo da aliança com Deus no Velho Testamento, tinha um grande contingente de apóstatas.

Eles haviam desperdiçado toda a disponibilidade da graça de Deus que caía sobre eles como a chuva que cai do céu.

Os israelitas negligenciaram a fé, o amor e a misericórdia, e como poderiam dar os frutos esperados por Deus?

A palavra de Deus e o derramar do Espírito Santo são comparados à chuva que desce do céu para amolecer e fertilizar os corações dos homens.

O que se pode esperar que seja feito por Deus ao

solo do coração que recebendo continuamente esta chuva, nunca chega a produzir bons frutos?

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O coração deve ser preparado para a recepção da graça do evangelho.

Um coração endurecido não permitirá ser penetrado por esta doutrina celestial que é apropriada para corações de carne, e não para

corações de pedra.

Mas todos os crentes em Jesus alcançaram um novo coração, porque na promessa da Nova

Aliança Deus disse que trocaria o coração de pedra por um novo coração de carne.

Daí a importância do arrependimento, do quebrantamento, da humilhação perante Deus, para que ele opere no nosso novo coração

recebido dele pela fé em Cristo.

De nos apresentarmos diante dele como aquilo

que somos de fato, a saber, pobres de espírito, e inteiramente necessitados da sua graça, e

reconhecermos que somos pecadores necessitados do seu perdão, e assim, vazios de

nós mesmos, a chuva celestial poderá encharcar a nossa terra e torná-la apta a gerar e

a sustentar o crescimento de todas as plantas espirituais relativas à graça de Deus.

Os israelitas estiveram debaixo da boa doutrina,

Deus lhes deu a lei por meio de Moisés, e lhes enviou a sua Palavra pelos profetas. A chuva que

caiu sobre eles era boa chuva. Não era chuva sulfúrica. Mas o solo infértil dos seus corações

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endurecidos não fez um bom uso daquela chuva que Deus enviou sobre eles.

Na consideração da terra que seria amaldiçoada e queimada e rejeitada, como citado em Hb 6.8, deve-se também ter em conta que é dito que

continuamente ela recebeu a chuva que Deus enviou sobre ela, e, no entanto, não permitiu

que aquela chuva a tornasse útil para os propósitos do Senhor.

Nós vemos aqui esta longanimidade e graça divinas sendo aplicadas antes do juízo de

destruição.

É isto o que acontece na prática em relação às

pessoas que não permitem o trabalho da graça em seus corações endurecidos.

Elas poderiam permitir serem penetradas pela graça, tal como a água da chuva que penetra nos solos permeáveis, mas, no entanto, não

permitem este trabalho, e permanecem no endurecimento que por fim ocasionará a

destruição delas.

A prova disto está no fato de Deus afirmar que não tem prazer na morte do ímpio, antes que ele se converta e viva (Ez 18.23; 33.11).

O que é reafirmado pelo apóstolo Paulo quando diz em I Tim 2.4 que Deus “quer que todos os

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homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.”

Os dias do evangelho, a dispensação da graça, são o tempo do reino da paciência ou

perseverança (hipomoné) em Jesus Cristo (Apo 1.9; 3.10; 13.10).

Porque este momento não é apenas o tempo do reinado do Senhor como também o tempo da sua paciência. Deus está sendo paciente e

longânimo para com todos os pecadores na presente dispensação da graça, e os seus filhos

devem seguir os seus passos.

Abraão é fixado como exemplo e marco da fé. E por isso é citado neste sexto capítulo. Quantas

vezes o povo de Deus fracassou no Antigo Testamento, e quantas vezes a Igreja parecia

definhar no mundo ao longo da sua história de dois milênios, entretanto ela prosseguirá

adiante porque as portas do inferno não poderão prevalecer contra ela, porque Deus fez

promessas relativas aos cristãos desde Abraão, e elas serão cabalmente cumpridas, a par de toda

forma de oposição e dificuldades, e isto deve servir para animar a fé dos cristãos a

perseverarem e nunca desfalecerem.

Nenhuma promessa de Deus falhará, e não deixará de ter o devido efeito.

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E para mostrar a imutabilidade da promessa e de que não a revogaria de modo algum, e isto se

aplica especialmente à adoção dos eleitos como seus filhos, pois prometeu a Abraão que no seu

descendente que é Cristo, seriam benditas todas as nações da terra, isto é, todos estes que estão

em Cristo são abençoados, porque são resgatados da maldição para serem adotados na

família de Deus como seus filhos, a promessa foi feita com a interposição de um juramento

divino, tendo Deus jurado por Si mesmo, mostrando que jurou no grau mais elevado que

existe, porque não há nada mais elevado do que Ele próprio.

Então o sentido aqui é que Ele deixaria de ser Deus (caso isto fosse possível) se deixasse de cumprir o que prometeu a Abraão em relação à

descendência que formaria a partir dele, tanto a natural (a nação israelita contada na

descendência de Jacó, neto de Abraão) quanto a espiritual (os eleitos que são justificados e

regenerados por causa da fé em Cristo) (Gên 22.15-18).

E se Deus fez a promessa isto não é para ser discutido, mas recebido pela fé. Se entre os

homens o juramento põe fim à discussão sobre qualquer demanda, muito mais temos razão

para entender que o juramento que Deus fez quando fez a promessa a Abraão, põe um ponto

final logo de início em toda a discussão possível se a salvação é pela graça ou pelas obras, porque

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se é pela promessa, é evidente que é por pura graça.

Também que é segura, porque Deus jurou que a daria aos que estivessem ligados pela fé a Cristo. O próprio Deus então é quem assegura esta

salvação e não os nossos méritos e capacidade (Rom 9.8; Gál 3.18).

Foi exatamente para mostrar aos herdeiros da promessa da salvação (os cristãos) de que eles seriam realmente salvos em Cristo, e que

deveriam descansar quanto a esta verdade, Deus, para mostrar a imutabilidade deste seu

propósito se interpôs com um juramento.

Se Deus jurou fazer é porque Ele de fato não voltará atrás no propósito sobre o qual jurou, em

nenhum tempo. Então não serão as perplexidades, as fraquezas, as tristezas, os

sofrimentos e tudo o mais que os cristãos possam experimentar em sua caminhada

terrena, que poderá lhes tirar esta salvação que foi prometida por juramento e que eles

alcançaram pela fé em Jesus.

A imutabilidade deste propósito divino foi

evidenciada por duas coisas imutáveis, a saber: a promessa (primeira coisa) e o juramento que

Ele fez (segunda coisa). A promessa já seria suficiente, mas foi reforçada com um

juramento para que não houvesse nenhuma dúvida quanto à segurança de recebermos e

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mantermos para sempre aquilo que Deus nos prometeu, a saber, sermos herdeiros

juntamente com Cristo.

O autor de Hebreus afirma que na condição de eleitos, que já haviam corrido para o refúgio que

nos livra da condenação vindoura, que é Cristo, tenhamos um forte alento (consolo) em face de

todas as perseguições e oposições que possamos sofrer neste mundo, ou em face de todas as

nossas próprias fraquezas, porque é impossível que Deus minta quanto ao que prometeu e nem

quanto ao que jurou.

Deus nos propôs esta salvação por pura graça, por promessa, e pela fé os cristãos lançaram

mão dela, isto é, se apropriaram da promessa e da graça que lhes foi oferecida em Cristo pela

esperança de serem santos assim como Ele é santo, e de serem co-herdeiros com Ele no céu.

A natureza desta firmeza é comparada a uma âncora, que nos segura firmemente. E a segurança e firmeza não são propriamente

nossas, nem da nossa fé, mas desta âncora que é a promessa e o juramento feito por Deus.

É nisto que somos ancorados. É isto que nos garante o céu, porque esta promessa e

juramento penetraram o véu não propriamente por nossos esforços, mas juntamente com

Cristo, que é o Sumo Sacerdote da nossa fé que entrou no Santo dos Santos para fazer uma

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eterna propiciação pelos nossos pecados com o seu próprio sangue.

Assim, a promessa e o juramento estão ancorados no sacerdócio e no sacrifício de Jesus e não em nós mesmos, de maneira que não

vacilemos ou duvidemos do seu cumprimento, porque não estão firmadas em nós que estamos

rodeados de muitas fraquezas, mas no próprio Cristo que não tem qualquer fraqueza, antes é

Todo Poderoso.

Os cristãos podem também penetrar além do véu porque Jesus, o precursor deles está lá

intercedendo por eles.

Quanto à certeza da esperança da salvação é dito no verso 19 (“a qual” = esperança proposta) que

ela é como uma âncora firme e segura da alma, porque entra até o interior do véu, onde Jesus

penetrou como precursor.

A esperança proposta referida pelo autor de

Hebreus nada tem a ver com a noção comum de esperança que está relacionada a algo duvidoso,

incerto, que flutua na expectativa do que será ou não o futuro, pois a esperança referida no texto

conforme se verifica no contexto da epístola, tem a ver com confiança e não com incerteza.

Embora possam ser incluídas tais expectativas

de todos os tipos na noção geral de esperança, contudo elas são totalmente excluídas da

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natureza daquela graça da esperança que é recomendada a nós na Bíblia.

Porque uma confiança firme em Deus para o

desfrutar das coisas boas contidas nas suas promessas, à época designada, eleva na alma

um desejo sincero por elas e pela expectativa delas, com uma grande alegria por saber que são

coisas prometidas, mas que são certas e seguras porque têm sido garantidas e prometidas não

pelo homem, mas pelo próprio Deus, e com a confirmação de um juramento dele.

A esperança é uma das graças da fé evangélica,

que é infundida em nossos corações pelo Espírito Santo, e esta graça é tanto maior quanto

mais crescemos na perseverança e na experiência da bondade de Deus para conosco

em Cristo Jesus, como se vê em Romanos 5.4,5.

É dito que esta esperança é âncora da alma porque isto insinua que nossas almas estarão

muitas vezes expostas às tempestades, e tensão de perigos espirituais, perseguições, aflições,

tentações, temores, pecados e morte, que batem frequentemente nelas, e então necessitamos de

uma âncora que nos mantenha firmes em nossa posição a par de todas estas tempestades que

sobrevêm a nós.

Por causa da violência destas tempestades há graus nelas que são mais urgentes do que

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outros, e assim elas tendem na própria natureza delas a trazer ruína e destruição.

É esta âncora o segredo da segurança das almas dos cristãos. E se é esta âncora que nos segura

firmemente, e se esta âncora não somos propriamente nós mesmos, devemos

abandonar por completo a ideia de que somos os próprios agentes da firmeza e segurança da

nossa salvação, senão a promessa de Deus que se cumpre em Cristo Jesus.

Esta âncora não está fixada no fundo do mar, mas no céu, onde Jesus penetrou como

precursor. Ela penetrou além do véu, e o que é este véu? É o que fazia separação entre o Lugar

Santo e o Santo dos Santos. E o que estava além do véu era o Santo dos Santos no qual somente

era admitida a presença do sumo sacerdote para fazer expiação por toda a nação de Israel, uma

vez por ano.

Então isto indicava que este trabalho de expiação, não por mais um ano, mas por toda a

eternidade deveria ser feito por um Sumo Sacerdote celestial, porque o trabalho dele seria

feito não no tabernáculo terreno, mas no celestial. E como se diz que Jesus foi feito

sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque (v. 20), então isto pressupõe que

a nossa salvação é também eterna, assim como o sacerdócio dele é eterno.

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É, portanto, uma salvação para durar para sempre, e quando isto começa a acontecer? No

momento mesmo em que somos justificados e regenerados pela fé em Jesus no dia da nossa

conversão, porque se diz que passamos desde então a ter uma firme e segura esperança,

porque ela está ancorada no céu na pessoa do Sumo Sacerdote que garante a eternidade da

nossa salvação.

O que está dentro deste véu? Não uma arca com tábuas de pedra, nem querubins entalhados em madeira e ouro, mas o próprio Deus em seu

trono de graça e o Senhor Jesus Cristo à sua destra em seu trono, como Sumo Sacerdote da

Igreja. É aqui que reside a segurança da esperança da alma que é firme em todas as

tempestades que possam nos sobrevir.

A esperança dos cristãos não está firmada nas coisas abaláveis da Antiga Aliança e que se encontravam no tabernáculo terreno, e que

sendo apenas figura das coisas celestiais estavam prestes a desaparecer, como de fato

desapareceram.

Todas aquelas coisas desapareceram porque agora podemos nos aproximar diretamente do

Pai e do Filho no tabernáculo celestial, sem a necessidade de cumprir as prescrições de uma

ordem de culto terreno que havia na Antiga Aliança.

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Se Cristo não tivesse penetrado o céu depois de ter morrido e ressuscitado por nós, não haveria

nenhum trono de graça e misericórdia no céu, porque isto não poderia ser dado aos pecadores

sem uma obra de expiação do pecado.

O nome Jesus significa Salvador porque Ele foi dado para salvar o seu povo dos pecados deles.

Jesus salva os eleitos do poder do pecado, de Satanás, da morte e da condenação da lei.

Como Jesus entrou no céu como nosso precursor, então é nosso dever seguir os seus passos quanto ao modo como Ele lá entrou, pois,

no seu caso, esta entrada foi antecedida pela santidade e pela cruz, e estas duas partes

essenciais do modo com que nosso precursor entrou na glória também se aplicam a nós.

Heb 6:1 Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de

novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus,

Heb 6:2 o ensino de batismos e da imposição de mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno.

Heb 6:3 Isso faremos, se Deus permitir.

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Heb 6:4 É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom

celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo,

Heb 6:5 e provaram a boa palavra de Deus e os

poderes do mundo vindouro,

Heb 6:6 e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho

de Deus e expondo-o à ignomínia.

Heb 6:7 Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil

para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus;

Heb 6:8 mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada.

Heb 6:9 Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que

falamos desta maneira.

Heb 6:10 Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e do amor que

evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos.

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Heb 6:11 Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma

diligência para a plena certeza da esperança;

Heb 6:12 para que não vos torneis indolentes,

mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas.

Heb 6:13 Pois, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo,

Heb 6:14 dizendo: Certamente, te abençoarei e te multiplicarei.

Heb 6:15 E assim, depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa.

Heb 6:16 Pois os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia,

para eles, é o fim de toda contenda.

Heb 6:17 Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com

juramento,

Heb 6:18 para que, mediante duas coisas

imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já

corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta;

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Heb 6:19 a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu,

Heb 6:20 onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para

sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.

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Hebreus 7

Jesus Inaugurou uma Melhor Aliança

Se não houvesse pecado no mundo, não

haveria necessidade de sacerdote.

Porque o sacerdócio foi instituído por Deus para interceder em favor da aceitação dos pecadores

por Ele.

De igual modo, não haveria também necessidade de sacrifício com derramamento de sangue, porque sem o sangue, o sacerdote

não teria o que oferecer a Deus para que fosse coberto o pecado daqueles em favor dos quais

ele deveria interceder.

Efetivamente, permanece culpado diante de Deus, todo aquele que não tiver a cobertura do

seu pecado pelo sangue de Jesus, e que não esteja, portanto, debaixo da eficácia da sua

intercessão sacerdotal, porque todos são pecadores, e somente podem ser resgatados da

condenação eterna por meio da fé em Jesus Cristo.

Assim, foram dados a Israel tanto um sistema

sacerdotal, quanto sacrificial, para servir de testemunho a todo o mundo, em todas as

épocas, que a expiação do pecado demandaria tanto o exercício do sacerdócio, quanto da

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apresentação de sacrifícios cruentos como oferta pelo pecado.

Isto tinha o propósito pedagógico, na lei, de nos conduzir à aceitação de Cristo, como o sacerdote e o sacrifício que efetivamente pode

remover o pecado.

É sobre esta questão que o autor de Hebreus trata em toda a sua epístola, e especialmente neste capítulo e nos dois

seguintes ao mesmo.

Ele havia demonstrado no capítulo anterior que

Jesus não era sacerdote num tabernáculo terreno, mas que realiza o seu ofício sacerdotal

eterno no tabernáculo celestial, no qual penetrou como precursor de todos os cristãos,

aos quais tornou também sacerdócio real para Deus.

O sacerdócio arônico, ou seja, segundo a descendência de Arão, era uma sombra, uma figura deste sacerdócio eterno de Cristo com os

cristãos.

Melquisedeque era rei e sacerdote e nisto era um tipo do reinado e do ofício sacerdotal eterno de Cristo.

Era rei da cidade de Salém, que significa paz, indicando que Jesus seria o Príncipe da paz.

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O nome Melquisedeque, significa no hebraico, rei de justiça, indicando que o reino de Jesus é

de justiça.

Como houve mudança de sacerdócio com a Nova Aliança, então este novo sacerdócio de

Cristo deveria estar debaixo de uma nova administração e regulamentação, com regras

próprias para o seu funcionamento.

Daí se afirmar no verso 12 que quando se muda a ordem do sacerdócio, há necessariamente

também mudança de Lei.

Ou seja, as bases da ministração deste sumo-sacerdote eterno que é Cristo, não são as

constantes para os sacerdotes que oficiavam debaixo da Antiga Aliança, segundo as

prescrições para os sacerdotes previstas na Lei de Moisés, que deveriam apresentar sacrifícios

de animais, para a expiação do pecado.

O ensino deste sumo sacerdote da Nova Aliança

requer uma justiça dos aliançados que exceda em muito a que era requerida no Velho

Testamento.

Por isso, eles devem ser justificados pela graça, mediante a fé, para receberem a nova vida e

natureza do Espírito Santo, de tal modo que vivam debaixo da direção, instrução e poder do

Espírito, para que vivam em amor tanto em relação a Deus, quanto aos seus irmãos na fé.

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Eles devem permanecer ligados em espírito ao seu sumo sacerdote, que é Cristo, por se

autonegarem, por crucificarem o ego pelo carregar diário da cruz, e por uma estrita

obediência e submissão a Cristo, seguindo-o em toda e qualquer circunstância.

Quando se diz que o sacerdócio de nosso Senhor é da ordem de Melquisedeque, não quer isto

significar que Jesus é da descendência de Melquisedeque, mas que o seu sumo sacerdócio

seria do mesmo tipo de Melquisedeque, que não era transmitido por descendência carnal, como

era o caso dos sacerdotes segundo a ordem de Arão, da tribo de Levi.

Esta mudança estava prevista nos planos de Deus porque o sacerdócio da primeira aliança

não podia garantir a salvação e o aperfeiçoamento em santidade de ninguém,

mas Cristo, como Sumo Sacerdote, opera e garante tanto uma coisa quanto outra, para

aqueles em favor dos quais intercede.

A sua intercessão é operante e eficaz na

transformação e confirmação das vidas daqueles que lhes dirigem suas petições, porque

Ele não foi chamado para ocupar este ofício pelo Pai, através de direito de descendência natural,

conforme ocorria com os sacerdotes da Antiga Aliança, mas segundo a virtude da sua vida

incorruptível, a saber, que é eterna, e que não pode passar, o que não ocorria com os

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sacerdotes do antigo pacto que eram impedidos de permanecerem no seu ofício por causa da

morte.

Aqueles sacerdotes deveriam ser em grande número em razão de serem apenas homens mortais.

Mas Jesus é o fiador de uma melhor aliança com

melhores promessas porque permanece para sempre e tem um sacerdócio eterno.

Desta forma ele pode salvar perfeitamente aqueles que se achegam a Deus, e vive

eternamente para interceder por eles.

Além disso ele não era pecador como os demais sacerdotes. Ele era santo, inocente, imaculado,

e mais sublime do que os próprios céus, que é também criação de Deus Pai, de Cristo e do

Espírito Santo, de maneira que não foi gerado dentre os pecadores.

Não necessitava como os sumos sacerdotes do antigo pacto oferecer sacrifícios pelos seus

próprios pecados, como era o caso deles, porque Ele não tinha qualquer pecado.

E ainda, não necessitou apresentar várias

ofertas continuamente como eles estavam obrigados a fazer, porque apresentou a Si

mesmo como sacrifício uma única vez, para ser tanto o Sacrifício como o Sacerdote pelos quais

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podemos ser perdoados de nossos pecados e nos tornarmos aceitáveis a Deus.

Os sacerdotes do Antigo Pacto eram homens fracos, imperfeitos, e eram constituídos em seus ofícios pela Lei de Moisés, mas Jesus foi

constituído sumo sacerdote por uma palavra de juramento feita pelo Pai de que seria sacerdote

para sempre (Sl 110.4).

Por causa de Cristo, a dispensação da graça é mais espiritual e eficaz que a dispensação da Lei,

porque ninguém poderia ser salvo e aperfeiçoado pelos sacerdotes do Antigo Pacto,

mas Cristo é poderoso tanto para salvar quanto para santificar o seu povo.

Além disso, se aquela aliança foi temporária e revogada, a Nova Aliança que temos com Cristo é segura e eterna.

Em face destes argumentos, os cristãos hebreus não tinham porque continuarem dando maior

valor aos sacerdotes da Antiga Aliança, do que a Cristo como sumo sacerdote eterno deles.

Todavia, para se ter a Cristo como sacerdote, é

necessário ter fé nele, de modo que nenhum israelita jamais foi ou poderá ser justificado, por

meio da Lei de Moisés, e isto se aplica a qualquer pessoa, de qualquer nação, porque a salvação é

operada somente pela fé em Cristo, em nossa associação com Ele, e por nada mais.

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Heb 7:1 Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao

encontro de Abraão, quando voltava da matança dos reis, e o abençoou,

Heb 7:2 para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo (primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também é rei de Salém, ou

seja, rei de paz;

Heb 7:3 sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência, entretanto, feito semelhante ao

Filho de Deus ), permanece sacerdote perpetuamente.

Heb 7:4 Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo

tirado dos melhores despojos.

Heb 7:5 Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm mandamento de

recolher, de acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora tenham

estes descendido de Abraão;

Heb 7:6 entretanto, aquele cuja genealogia não se inclui entre eles recebeu dízimos de Abraão e abençoou o que tinha as promessas.

Heb 7:7 Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior.

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Heb 7:8 Aliás, aqui são homens mortais os que recebem dízimos, porém ali, aquele de quem se

testifica que vive.

Heb 7:9 E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão.

Heb 7:10 Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu

ao encontro deste.

Heb 7:11 Se, portanto, a perfeição houvera sido mediante o sacerdócio levítico ( pois nele baseado o povo recebeu a lei ), que necessidade

haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque,

e que não fosse contado segundo a ordem de Arão?

Heb 7:12 Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei.

Heb 7:13 Porque aquele de quem são ditas estas coisas pertence a outra tribo, da qual ninguém

prestou serviço ao altar;

Heb 7:14 pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes.

Heb 7:15 E isto é ainda muito mais evidente,

quando, à semelhança de Melquisedeque, se levanta outro sacerdote,

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Heb 7:16 constituído não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder de

vida indissolúvel.

Heb 7:17 Porquanto se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de

Melquisedeque.

Heb 7:18 Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e

inutilidade

Heb 7:19 (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz

esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus.

Heb 7:20 E, visto que não é sem prestar juramento (porque aqueles, sem juramento, são feitos sacerdotes,

Heb 7:21 mas este, com juramento, por aquele que lhe disse: O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre);

Heb 7:22 por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança.

Heb 7:23 Ora, aqueles são feitos sacerdotes em

maior número, porque são impedidos pela morte de continuar;

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Heb 7:24 este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável.

Heb 7:25 Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus,

vivendo sempre para interceder por eles.

Heb 7:26 Com efeito, nos convinha um sumo

sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais

alto do que os céus,

Heb 7:27 que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados,

depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu.

Heb 7:28 Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraqueza, mas a

palavra do juramento, que foi posterior à lei, constitui o Filho, perfeito para sempre.

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Hebreus 8

Só Há Perfeição Espiritual Pela Nova Aliança –

Parte 1)

Este capítulo é um prosseguimento dos

argumentos apresentados no capítulo anterior quanto à evidente superioridade da Nova

Aliança em relação à Antiga, por causa da excelência e superioridade da mediação de

Cristo, conforme havia sido prometido por Deus desde o Antigo Testamento.

A razão de ser da Antiga Aliança era a Nova, porque se afirma que o fim da Lei é Cristo para a

justiça de todo aquele que crê.

A Antiga Aliança foi instituída para nos conduzir a Cristo. Para que fôssemos instruídos acerca das coisas relativas ao Cristo prometido, que

esmagaria a cabeça da serpente.

Quando esta epístola foi escrita os sacerdotes de Israel ainda oficiavam no templo de Jerusalém,

motivo pelo qual o autor de Hebreus afirmou que se Jesus estivesse na terra certamente não

estaria no exercício do sumo sacerdócio, porque Ele havia sido rejeitado pelos judeus,

especialmente pelos sacerdotes de Israel, em razão do endurecimento deles no pecado, e

também porque não havia sido designado como eles, para ser sacerdote segundo a ordem de

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Arão, conforme haviam sido constituídos pela Lei dada a Moisés.

Jesus não havia sido designado para exercer seu ofício sumo sacerdotal na terra, mas no céu, porque não é sacerdote de um templo terreno,

mas do tabernáculo celestial.

Ele é o Rei e Sacerdote eterno da graça e da verdade, é o Rei de um reino que é sobretudo

espiritual e invisível, e não de um ofício temporal que estava destinado por Deus a

desaparecer, uma vez tendo sido cumprido o propósito para o qual Ele o havia instituído, até

que Cristo viesse, e inaugurasse a aliança prometida desde o Velho Testamento, e que

estava sendo aguardada por sucessivas gerações de pessoas piedosas, especialmente de Israel.

Nunca foi do propósito de Deus manter a Antiga Aliança em vigência para sempre até a volta de Cristo.

Ao contrário, Ele havia falado pela boca dos profetas do Velho Testamento que faria uma

Nova Aliança para vigorar no lugar da Antiga, por meio de Jesus Cristo.

Tal promessa é citada em Jeremias 31.31-35; e o

autor de Hebreus transcreveu os termos usados pelo profeta nos versos finais deste capítulo de

sua epístola para demonstrar aos cristãos Hebreus que era por causa desta aliança que os

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seus pecados passados eram inteiramente perdoados e esquecidos por Deus, e que nesta

aliança não haveria nenhum incrédulo, mas somente cristãos, que conheceriam a Deus pela

habitação do Espírito.

Ainda que os judeus tivessem recusado a reconhecer a revogação da Antiga Aliança, o

culto deles no templo estava prestes a desaparecer, conforme efetivamente ocorreu

em 70 d.C., quando os romanos expulsaram os judeus da Palestina e destruíram o templo,

deixando apenas de pé o que conhecemos hoje por Muro das Lamentações.

A destruição do templo, e a expulsão dos judeus comprovaram para todos, que de fato uma Nova Aliança foi inaugurada no lugar da Antiga,

conforme prometido desde os profetas.

Assim, este oitavo capítulo começa a descrever quais eram as bases diferentes do sumo

sacerdócio de Cristo da ordem de Melquisedeque, em relação ao sacerdócio dos

levitas no Antigo Pacto, que vigorou no período do Antigo Testamento.

Este sumo sacerdócio do Senhor foi designado pelo Pai para que os pecados das pessoas que

constituiriam o seu povo fossem efetivamente perdoados, de forma a se dotar todos os

aliançados de um novo coração criado e habitado pelo Espírito Santo.

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Isto jamais poderia ser feito mediante as bases da Antiga Aliança, ou Lei, como também é

chamada, e por isso é declarada a sua fraqueza e inutilidade para o cumprimento deste propósito

eterno de Deus, de dar vida eterna por meio da graça e mediante a fé.

Heb 8:1 Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se

assentou à destra do trono da Majestade nos céus,

Heb 8:2 como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu,

não o homem.

Heb 8:3 Pois todo sumo sacerdote é constituído

para oferecer tanto dons como sacrifícios; por isso, era necessário que também esse sumo

sacerdote tivesse o que oferecer.

Heb 8:4 Ora, se ele estivesse na terra, nem

mesmo sacerdote seria, visto existirem aqueles que oferecem os dons segundo a lei,

Heb 8:5 os quais ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como foi Moisés

divinamente instruído, quando estava para construir o tabernáculo; pois diz ele: Vê que

faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi mostrado no monte.

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Heb 8:6 Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele

também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas.

Heb 8:7 Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma

estaria sendo buscado lugar para uma segunda.

Heb 8:8 E, de fato, repreendendo-os, diz: Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança

com a casa de Israel e com a casa de Judá,

Heb 8:9 não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não

continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor.

Heb 8:10 Porque esta é a aliança que firmarei

com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas

leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.

Heb 8:11 E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo:

Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior.

Heb 8:12 Pois, para com as suas iniquidades,

usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei.

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Heb 8:13 Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e

envelhecido está prestes a desaparecer.

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Hebreus 9

Só Há Perfeição Espiritual Pela Nova Aliança – Parte 2

De Nosso Senhor Jesus Cristo é afirmado no

verso 11 que Ele é “sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito

tabernáculo, não feito por mãos”, ou seja, os benefícios eternos para os aliançados já foram

consumados por Ele em seu ministério, morte e ressurreição.

Todo o trabalho sacerdotal no Antigo Testamento, devia ser realizado com a contínua

apresentação de sacrifícios de animais, porque tal ministério apontava para Aquele grande

ministério de Cristo no qual poderia ser consumada toda a vontade de Deus para a

libertação dos pecadores das trevas e do diabo.

A remissão dos pecados que o sangue de

animais oferecidos em sacrifício no antigo pacto, não podia cobrir, agora é efetivamente

realizada pela morte de Jesus no lugar do pecador, primeiro porque Ele se ofereceu por

amor ao Pai e aos pecadores, e isto não poderia ser feito por um animal sacrificado; segundo,

porque Deus derramou a sua ira contra o pecado, em seu próprio Filho Jesus Cristo, como

se o estivesse fazendo sobre nós pecadores, e certamente, Deus não derramou qualquer ira

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justificadora sobre qualquer animal que tivesse sido sacrificado, até mesmo porque não haveria

qualquer eficácia nisto, porque nenhum animal poderia ter morrido a nossa morte, e nenhum

animal poderia carregar sobre Si a nossa culpa.

Quanto aos sacerdotes do antigo pacto, é preciso ter sempre em vista que há somente um

Mediador entre Deus e o pecador, e, portanto, nenhum sacerdote terreno, nem mesmo a

Igreja são mediadores, porque o trabalho do mediador demandava que carregasse sobre si os

pecados de toda a humanidade, que fosse poderoso e capaz para despojar a velha natureza

e implantar uma nova natureza naqueles pelos quais faz mediação para que sejam aceitáveis a

Deus.

Assim, como tal trabalho poderia ser feito por homens sujeitos ao pecado, num tabernáculo

terreno?

Por isso não admira que todos os utensílios do tabernáculo e até mesmo os sacerdotes

tivessem sido consagrados com a aspersão de sangue de animais, porque aquele ministério

era apenas figura do grande, real e permanente ministério de nosso Senhor Jesus Cristo.

A mediação do velho pacto, que era figura do grande Mediador que haveria de se manifestar

na plenitude dos tempos, a ninguém podia livrar da morte espiritual e eterna, porque isto é

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possível somente de ser realizado pelo único Mediador que há entre Deus e os homens, Jesus

Cristo que se fez homem para poder libertar o homem do pecado e do poder do diabo.

Daí se afirmar no verso 15 o seguinte:

“Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a

primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados.”

A descrição dos utensílios que existiam no tabernáculo terrestre é citada não de maneira a se fazer uma descrição ampla dos serviços que

eram realizados no mesmo, mas para ilustrar e comprovar que aquela forma de culto era

limitada quanto ao propósito eterno de Deus de realizar uma purificação completa de seu povo.

Porque isto não poderia ser feito efetivamente pela simples apresentação do sangue de

animais como sacrifício, mas que isto fora estabelecido por Deus para servir de figura do

sangue do Cordeiro imaculado que seria oferecido e apresentado no tabernáculo do céu,

de uma vez para sempre, para purificar o povo do Senhor dos seus pecados, de maneira que

não sejam condenados eternamente por um juízo de destruição relativo à natureza decaída

no pecado, ou como é chamada na Bíblia de a carne ou velho homem.

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Sem o sacrifício e o sacerdócio de Jesus não poderia haver nenhuma justificação de um

único pecador. De modo que houve grande expectativa no céu para que o Senhor Jesus

consumasse a sua obra no Calvário.

Os serviços do tabernáculo terreno na antiga aliança podiam trazer alguma paz de

consciência aos que prestavam culto, em razão de terem obedecido as prescrições cerimoniais

determinadas por Deus para serem cumpridas quando eles pecassem, mas o trabalho já

consumado de nosso Senhor Jesus Cristo, é eficaz não somente para gerar uma boa

consciência, como também uma nova vida, habilitando os cristãos a viverem e a andarem na

verdade, porque é somente nele que há graça para a realização de tal trabalho.

É no sangue do Senhor, e não com sangue de animais, que somos consagrados para oficiar no serviço do tabernáculo celestial.

Ninguém se iluda pensando que há possibilidade de salvação em algum outro, ou mesmo depois da nossa morte, porque o juízo de

Deus sucede à morte, e não há nenhum outro nome ou ocasião pelos quais importa que

sejamos salvos, senão sob o nome de Jesus, e enquanto vivemos neste mundo.

Jesus se ofereceu uma única vez para tirar os pecados de muitos, e voltará uma segunda vez a

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este mundo para aqueles que o aguardam para a salvação, que será consumada de uma vez por

todas com a ressurreição e glorificação dos santos que amam a sua vinda.

Heb 9:1 Ora, a primeira aliança também tinha preceitos de serviço sagrado e o seu santuário terrestre.

Heb 9:2 Com efeito, foi preparado o tabernáculo, cuja parte anterior, onde estavam

o candeeiro, e a mesa, e a exposição dos pães, se chama o Santo Lugar;

Heb 9:3 por trás do segundo véu, se encontrava o tabernáculo que se chama o Santo dos Santos,

Heb 9:4 ao qual pertencia um altar de ouro para o incenso e a arca da aliança totalmente coberta de ouro, na qual estava uma urna de ouro

contendo o maná, o bordão de Arão, que floresceu, e as tábuas da aliança;

Heb 9:5 e sobre ela, os querubins de glória, que, com a sua sombra, cobriam o propiciatório.

Dessas coisas, todavia, não falaremos, agora, pormenorizadamente.

Heb 9:6 Ora, depois de tudo isto assim preparado, continuamente entram no primeiro

tabernáculo os sacerdotes, para realizar os serviços sagrados;

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Heb 9:7 mas, no segundo, o sumo sacerdote, ele sozinho, uma vez por ano, não sem sangue, que

oferece por si e pelos pecados de ignorância do povo,

Heb 9:8 querendo com isto dar a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do Santo

Lugar não se manifestou, enquanto o primeiro tabernáculo continua erguido.

Heb 9:9 É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto

dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar

aquele que presta culto,

Heb 9:10 os quais não passam de ordenanças da

carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao

tempo oportuno de reforma.

Heb 9:11 Quando, porém, veio Cristo como

sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo,

não feito por mãos, quer dizer, não desta criação,

Heb 9:12 não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou

no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção.

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Heb 9:13 Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a cinza de uma novilha, aspergidos

sobre os contaminados, os santificam, quanto à purificação da carne,

Heb 9:14 muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu

sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao

Deus vivo!

Heb 9:15 Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que, intervindo a morte

para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna

herança aqueles que têm sido chamados.

Heb 9:16 Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador;

Heb 9:17 pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma

tem força de lei enquanto vive o testador.

Heb 9:18 Pelo que nem a primeira aliança foi sancionada sem sangue;

Heb 9:19 porque, havendo Moisés proclamado todos os mandamentos segundo a lei a todo o

povo, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, e lã tinta de escarlate, e hissopo e

aspergiu não só o próprio livro, como também sobre todo o povo,

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Heb 9:20 dizendo: Este é o sangue da aliança, a qual Deus prescreveu para vós outros.

Heb 9:21 Igualmente também aspergiu com sangue o tabernáculo e todos os utensílios do serviço sagrado.

Heb 9:22 Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem

derramamento de sangue, não há remissão.

Heb 9:23 Era necessário, portanto, que as

figuras das coisas que se acham nos céus se purificassem com tais sacrifícios, mas as

próprias coisas celestiais, com sacrifícios a eles superiores.

Heb 9:24 Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós,

diante de Deus;

Heb 9:25 nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio.

Heb 9:26 Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a

fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez

por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado.

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Heb 9:27 E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois

disto, o juízo,

Heb 9:28 assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os

pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação.

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Hebreus 10

A Necessidade de Diligência para a Maturidade Espiritual

Jesus não somente fez muitas coisas por nós no

seu trabalho de expiação, mediação e

sacerdócio, como também continua operando em favor dos eleitos, salvando-os

perfeitamente, e aperfeiçoando a santidade deles através de suas contínuas intercessões em

favor deles, para que sejam operadas neles a transformação e capacitação necessárias, pelo

poder do Espírito Santo.

Lembremos que logo depois deste capítulo o autor de Hebreus iria falar acerca das pessoas

que haviam alcançado bom testemunho de terem agradado a Deus nos dias do Velho

Testamento, antes que Cristo se manifestasse.

O propósito da citação daquela galeria de homens e mulheres de Deus do passado seria o

de confirmar que eles não haviam obtido tal testemunho da parte de Deus por causa de

terem guardado com perfeição os mandamentos cerimoniais da Lei de Moisés, e

nem mesmo pela perfeição deles, mas por causa da sua fé em Deus, e pelo fato de terem

demonstrado esta fé nas perseguições e tribulações que haviam sofrido.

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Foi pela sua fé que tiveram os seus pecados perdoados por Deus, e não por qualquer obra da

Lei que tivessem feito, porque, na verdade, a Lei não foi dada por Deus com este propósito de

cobrir pecados, porque, na verdade, ela não possui o referido poder, senão somente a graça

do Senhor, que sempre opera pela fé.

A Lei nada mais era do que uma sombra destes bens espirituais que se revelariam no futuro quando Cristo se manifestasse (v. 1).

Se fosse possível justificar alguém do pecado através dos sacrifícios de animais, não haveria

necessidade de que eles fossem oferecidos anualmente; e este oferecimento anual

lembrava a todos que o pecado não havia sido removido e havia necessidade de serem feitas

novas expiações pelos ofertantes, especialmente no chamado Dia da Expiação

Nacional, quando o sumo sacerdote entrava no Santos dos Santos terreno, uma vez por ano,

para aspergir o sangue de animais sobre a tampa da arca da aliança, para garantir o perdão de

Deus dos pecados do seu povo por um ano mais.

A apresentação contínua de sacrifícios de animais no Velho Testamento, ensinava em

figura que o problema do pecado não estaria resolvido até que Cristo se manifestasse para

realizar o único e perfeito sacrifício, do qual aqueles eram apenas uma sombra e figura.

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Nos versos 5 a 8 é dito que os sacrifícios e ofertas do Velho Testamento, apesar de terem sido

instituídos pelo próprio Deus, não poderiam agradá-lo quanto à remoção do pecado porque

eram apenas uma figura do sangue precioso de seu Filho, que seria derramado em favor das

pessoas do seu povo escolhido, e que aboliria de uma vez para sempre a necessidade de

apresentação daqueles sacrifícios e ofertas que eram apresentados na presença dos sacerdotes

de Israel nos dias do Velho Testamento.

Para que isto fosse feito havia necessidade de se remover o primeiro pacto para que fosse estabelecido o segundo, que é permanente e

eterno, como se vê no v. 9.

A santificação de qualquer cristão é decorrente da oferta do próprio corpo de Jesus como

sacrifício na cruz, como se afirma no v.10.

Com um só sacrifício Jesus aperfeiçoou para sempre os que estão sendo santificados (v. 14);

isto é, eles foram objeto de uma redenção, de uma salvação, perfeitas, porque tudo quanto é

necessário à salvação deles foi completamente consumado por Jesus em sua morte na cruz.

A prova da eficácia da salvação por meio da fé

em Cristo é a santificação dos cristãos, porque afinal foi para tal propósito que foram salvos.

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Não ficou nada para os cristãos fazerem quanto à salvação deles, senão apenas se deixarem

conduzir para a perfeição que já foi conquistada para eles, e que lhes é infundida pela graça

mediante operação do Espírito Santo.

Os dons espirituais, o aumento da fé, o crescimento na graça, tudo isto se encontra em

Cristo, e está disponível para aqueles que foram salvos, e eles terão estas coisas à medida que as

buscarem no Senhor, através do grau da fome e sede da justiça evangélica de cada um deles.

A Lei de Deus (sua vontade) é escrita na Nova Aliança, nas tábuas do coração do próprio cristão, e na sua mente (v. 16); e ele não estará

mais debaixo da maldição da Lei caso venha a transgredir eventualmente algum

mandamento, porque Jesus se fez maldição no seu lugar, de maneira que lhe é prometido nos

termos da aliança que Deus jamais se lembrará dos seus pecados e das suas iniquidades (v. 17).

Deus não deixará de amar e não lançará fora a qualquer daqueles que tenham sido justificados pela fé.

Esta promessa de esquecimento dos pecados, que indica o caráter completo do perdão do

pecado concedido por Deus aos que creem, comprova que não há mais necessidade da

apresentação de sacrifícios de animais para cobertura dos pecados, porque se houvesse

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lembrança haveria necessidade de que novos sacrifícios fossem oferecidos.

Todavia, isto já não é mais necessário por causa do sacrifício perfeito de Jesus, que tem validade eterna, assim como Ele é eterno. Por isso nos

convinha um sumo sacerdote e um sacrifício como Ele, porque deveria ter esta marca da

eternidade que se encontra somente no próprio Deus.

Então nenhum anjo, ou homem, por melhor que fosse, poderia morrer no lugar dos pecadores, senão somente o Filho do Altíssimo, que

também é Deus com o Pai e o Espírito Santo.

É por causa da oferta do corpo de Jesus como sacrifício por nós que podemos entrar no Santo

dos Santos celestial para ali termos comunhão com Deus.

É preciso então fazer valer a eficácia do sangue de Jesus por um viver condigno com a

santificação que Ele pode e deve operar em nossas vidas.

É agindo com um coração sincero, com uma fé

verdadeira, tendo nossos corações purificados da má consciência, e santificados em espírito,

alma e corpo, que podemos nos aproximar do Santo dos Santos, com a certeza de que seremos

bem recebidos por Deus, porque há grande eficácia em Jesus para nos preparar nestas

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condições citadas que possibilitam a nossa aproximação do Deus santo que é um fogo

consumidor (v. 19 a 22).

Ninguém pode se assentar com Cristo nas regiões celestiais, sem levar em conta tal

necessidade de purificação apontada nos versos citados anteriormente, e sem uma fé sincera.

A confissão desta esperança que temos em Cristo deve ser retida firmemente por causa da fidelidade de Deus, que nos fez a promessa de

uma Nova Aliança (v. 23).

Muito nos ajudará para manter esta constância em fidelidade de nos santificarmos e buscarmos

a Deus, o ato de nos exortarmos mutuamente para uma vivência no amor e na prática das boas

obras (v. 24).

Daí a importância de os cristãos se reunirem

regularmente para a oração, adoração públicas, para a admoestação mútua, a qual deve ser

intensificada à medida que o tempo da volta de Jesus se aproxima, porque importa

comparecermos perante Ele, santos, inculpáveis e irrepreensíveis, e além disto, à

medida que o tempo se aproxima, os dias serão cada vez mais difíceis, para se manter um

testemunho cristão de santidade de vida (v. 25).

Se a negligência e transgressão da Lei de Moisés, levavam uma pessoa a ser morta sem

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misericórdia, somente pela palavra de duas ou três testemunhas, então quanto não será maior

o castigo daqueles que pisam em Jesus e que têm por profano o sangue precioso que Ele

derramou para que fôssemos por ele santificados (v. 29)?

Como Deus deixaria de punir os que agem de tal forma?

Os cristãos hebreus haviam andado de maneira ordeira no passado, fazendo progresso na fé,

como convém a todos os santos; eles haviam suportado grande combate e aflições depois que

foram iluminados pelo Espírito para se converterem a Cristo (v. 32).

Eles deveriam trazer estas coisas em memória para retornarem ao bom e velho caminho em que andavam, voltando à prática do primeiro

amor e das primeiras obras, porque pela fé, e pela força da graça de Jesus eles haviam

suportado com paciência o fato de terem se tornado em parte espetáculo para o mundo com

os seus vitupérios e tribulações, sendo também participantes em parte com os que foram assim

tratados, isto é, eles haviam simpatizado com os seus sofrimentos por causa da misericórdia e do

amor que haviam sido derramados em seus corações pelo Espírito (v. 33).

Por esta mesma razão eles haviam se compadecido no passado dos seus irmãos que

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haviam sido encarcerados por causa do seu amor ao evangelho, e permitiram que fossem

espoliados os seus bens, por terem a plena convicção de terem uma possessão melhor e

permanente nos céus (v. 34; Mt 25.37-40).

Eles não deveriam recuar na confiança que haviam demonstrado no passado, uma vez que

esta tem grande galardão (v. 35).

Se estão determinadas aflições e tribulações para todos os que seguirem verdadeiramente a

Cristo, então é necessário ter paciência, e sermos perseverantes em nossa caminhada,

para que possamos ter a plena certeza da esperança do que nos foi prometido, depois de

termos feito a vontade de Deus (v. 36).

O Espírito Santo ajudará e capacitará a sermos perseverantes se permanecermos na fé, e com

isto nunca duvidaremos da nossa salvação, porque somente por meio da perseverança

podemos manter, não a salvação propriamente dita, que é por pura fé, mas a certeza de que

somos salvos.

Jesus prometeu que voltaria, e está cada vez

mais próximo o dia da sua volta (v. 37).

Isto é algo para ser também lembrado para que não desanimemos em nossa caminhada cristã,

especialmente em face das coisas que temos que sofrer por amor a Cristo e ao evangelho.

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Porque está determinado por Deus que toda a vida que tivermos e progresso em santificação

será sempre pela fé no seu Filho. De maneira que se o cristão recuar Deus não pode se agradar

dele, ainda que não o rejeite como filho (v. 38).

Mas, ainda que algum cristão venha a recuar na fé por algum período de sua vida, ele não o fará

para uma perdição eterna, porque por meio de Cristo, a fé genuína que o levou a ser justificado

e regenerado, fará com que o seu espírito seja conservado para todo o sempre (v. 39).

Portanto, deveria ser evitado o modo de pensar errôneo de que pelo fato de se estar debaixo da graça de Jesus que não há mais com que se

importar quanto ao modo de se caminhar diante de Deus.

Ao contrário, o rigor exigido para uma vida de santidade aumentou muito com a manifestação da Nova Aliança; porque se numa dispensação

antiga, que era figura das realidades espirituais que se revelaram em Cristo, se exigia um modo

de vida santo perante Deus, então de quão maior santidade não se espera daqueles que vivem na

dispensação da graça?

Que palavra vigorosa é então esta proferida pelo

Espírito através do autor de Hebreus no verso 38: Deus afirma primeiro que o seu justo viverá

da fé, mas se ele recuar na fé, a sua alma não tem prazer nele.

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Veja que o autor de Hebreus se apressou em explicar logo no verso seguinte, a saber, no 39,

que este recuar na fé, e este desprazer de Deus em relação ao cristão não significam a perda da

sua salvação, porque o recuo do cristão não é para perdição eterna, porque ele é do número

dos que creram em Cristo e foram justificados pela graça mediante a fé.

Assim, estes não perderão a sua salvação, mas o Senhor afirma explicitamente que não tem se agradado deles, e eles sofrerão dano, conforme

afirma a Palavra, na perda de galardões, na vergonha eterna do peso da infidelidade que

tiveram para com o Senhor, pelo constante desapontamento da sua vontade, e tudo o mais

que possa ser o resultado da manifestação do desagrado de Deus em relação a eles.

Quando não recuamos na fé Deus derrama o seu Espírito sobre nós e nos faz viver a vida da fé, que é abundante e cheia de regozijo e glória e é isto

que nos dá poder para seguir em frente e fazer a obra de Deus com alegria.

Heb 10:1 Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os

ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.

Heb 10:2 Doutra sorte, não teriam cessado de ser oferecidos, porquanto os que prestam culto,

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tendo sido purificados uma vez por todas, não mais teriam consciência de pecados?

Heb 10:3 Entretanto, nesses sacrifícios faz-se

recordação de pecados todos os anos,

Heb 10:4 porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.

Heb 10:5 Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo me formaste;

Heb 10:6 não te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado.

Heb 10:7 Então, eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a meu respeito), para fazer,

ó Deus, a tua vontade.

Heb 10:8 Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem

holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste coisas que se oferecem

segundo a lei ,

Heb 10:9 então, acrescentou: Eis aqui estou para

fazer, ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo.

Heb 10:10 Nessa vontade é que temos sido

santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.

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Heb 10:11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer

muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados;

Heb 10:12 Jesus, porém, tendo oferecido, para

sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus,

Heb 10:13 aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés.

Heb 10:14 Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados.

Heb 10:15 E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo; porquanto, após ter dito:

Heb 10:16 Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu

coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei,

Heb 10:17 acrescenta: Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das suas

iniquidades, para sempre.

Heb 10:18 Ora, onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado.

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Heb 10:19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de

Jesus,

Heb 10:20 pelo novo e vivo caminho que ele nos

consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,

Heb 10:21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,

Heb 10:22 aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração

purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura.

Heb 10:23 Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a

promessa é fiel.

Heb 10:24 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras.

Heb 10:25 Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos

admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.

Heb 10:26 Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno

conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados;

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Heb 10:27 pelo contrário, certa expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a

consumir os adversários.

Heb 10:28 Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas quem tiver rejeitado a lei de Moisés.

Heb 10:29 De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da

aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?

Heb 10:30 Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu

retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo.

Heb 10:31 Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.

Heb 10:32 Lembrai-vos, porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados,

sustentastes grande luta e sofrimentos;

Heb 10:33 ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto de tribulações, ora vos tornando coparticipantes com aqueles que

desse modo foram tratados.

Heb 10:34 Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como

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também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós

mesmos patrimônio superior e durável.

Heb 10:35 Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande galardão.

Heb 10:36 Com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa.

Heb 10:37 Porque, ainda dentro de pouco tempo,

aquele que vem virá e não tardará;

Heb 10:38 todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a minha alma.

Heb 10:39 Nós, porém, não somos dos que

retrocedem para a perdição; somos, entretanto, da fé, para a conservação da alma.

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Hebreus 11

A Necessidade da Fé Para Agradar a Deus

O autor de Hebreus introduziu este capítulo

com uma rápida conceituação relativa ao que

seja a fé, sem, no entanto, pretender definir totalmente algo tão precioso e profundo com

estas suas poucas palavras:

“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” (v. 1).

Com esta citação ele simplesmente introduziu o seu assunto, destacando que a fé não é algo

vacilante, mas que descansa com plena firmeza em tudo aquilo em que se encontra a esperança

do cristão, conforme Deus tem prometido em sua Palavra; e também o modo de se ter a certeza

acerca da existência das realidades espirituais que não são visíveis.

Agora, é impressionante o poder do pecado para enganar, especialmente aqueles que buscam o poder de Deus para propósitos errados e com a

motivação errada.

Eles tomam esta citação de que a fé e a certeza e

a convicção de coisas que se esperam e de fatos que não se veem, como uma chamada a se

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aplicarem a exercitar a fé para obterem coisas materiais e temporais de Deus.

Afirmam que a fé deve ser materializada, ou seja, que deve trazer à existência no mundo material as coisas que a pessoa espera ter e que

ainda não são vistas.

Todavia, não é este o ensino de Deus nesta epístola, e muito menos nesta parte em que se

discorre sobre a fé, como o agente pelo qual se obtém testemunho de se agradar a Deus, por

uma vida verdadeiramente convertida e santificada.

A esperança e as coisas invisíveis que aqui são citadas, se referem à salvação, ao fruto e os dons do Espírito Santo, à vida da nova natureza obtida

pela fé, sendo gerada e desenvolvida no cristão.

As coisas que se esperam são sobretudo aquelas

que são relativas à nossa esperança em Cristo da vida eterna, de uma vida transformada e

santificada pelo Espírito, e também da glória que há de se manifestar em nós em plenitude na

sua volta. Esta esperança é certa, e por isso se afirma que é uma certeza daquilo que se espera.

E quanto às coisas invisíveis é dito que a fé gera quanto às mesmas uma convicção, uma prova,

ou seja, é pela fé que se comprova que a nossa comunhão com o Deus invisível é real, e ficamos

completamente convencidos acerca de tudo o que se refere ao reino de Deus que é invisível.

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Está designado aos cristãos que eles não devem andar por vista, mas por fé.

Não por uma fé crédula que se apoie em sua própria imaginação, sentimentos ou emoções,

mas na Palavra de Deus.

Especialmente no que se refere à pessoa e obra de nosso Senhor Jesus Cristo, autor e

consumador da fé, e em quem, portanto, a nossa fé deve estar radicada e fundamentada,

particularmente para a nossa salvação pela graça.

Não fé nas obras da Lei para a nossa justificação, mas no próprio Jesus Cristo.

Então, os cristãos Hebreus estavam se apoiando num fundamento muito fraco, a saber, nas

obras da Lei, para tentarem agradar a Deus.

A fé genuína não recua diante das provações, tribulações e aflições, como se destaca nas vitórias da fé obtidas pelos personagens bíblicos

destacados neste 11º capítulo de Hebreus.

Uma fé que vence o fascínio do mundo e as investidas dos espíritos das trevas.

Uma fé que leva o cristão a mortificar seus

pecados, e a buscar o revestimento de poder do Espírito, na comunhão dos santos.

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Enfim, uma fé que leve o cristão a cumprir todo o propósito de Deus quanto ao modo de vida que

tem estabelecido para o seu povo.

Enquanto o cientista incrédulo continua investigando acerca do modo como o mundo visível veio à existência e tudo o que há no

universo, a fé do cristão descansa na verdade de que tudo foi criado a partir do nada por Deus.

Pela mesma fé pode entender como foi que a morte entrou no mundo por causa do pecado original, e como Cristo tem resgatado os que

creem, desta maldição de morte.

Esta fé que é um dom de Deus para aqueles que O temem e que andam humildemente em sua

presença é a mesma fé que habitou nos seus servos da antiguidade, até mesmo antes

dos dias do Novo Testamento, ou seja, da antiga aliança, e pela qual, conforme se pode ver por

exemplo nos registros da Bíblia, que eles alcançaram o testemunho de terem agradado a

Deus por serem tais pessoas de fé; isto é, nas quais habitava a fé verdadeira.

Foi a fé de Abel que lhe permitiu oferecer

melhor sacrifício do que Caim, provando que era justo, porque o próprio Deus deu

testemunho dos seus dons, de que havia procedido corretamente diante dele.

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De igual modo foi ordenado a Moisés que registrasse o arrebatamento de Enoque, para

que todos saibam que os que andam na presença do Senhor e vivem de modo que Lhe seja

agradável, serão arrebatados, tal como Enoque, para estarem para sempre diante dele.

A fé é absolutamente necessária para que se possa agradar a Deus. Porque é por meio dela que somos unidos a Ele, e damos testemunho de

que Ele é digno de ser temido, honrado e amado por nós, não de um modo carnal, mas espiritual,

conforme nos é possibilitado pela fé.

É pela fé que sabemos não apenas sobre a realidade da existência de Deus, e que nos leva a

ter um real conhecimento dele e da sua bondade para com os que O buscam, porque

abençoa de forma recompensadora todos os que Lhe obedecem.

Foi por causa da fé que Noé permaneceu construindo fielmente uma arca para a sua própria salvação e da sua família, porque não

descreu no aviso que Deus lhe dera sobre a condenação que traria ao mundo antigo com as

águas do dilúvio.

Desta forma, o nome de Noé se encontra

arrolado entre os nomes daqueles que são herdeiros da justiça que é segundo a fé, isto é, a

justificação que se recebe de Deus por causa da fé em Cristo.

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A qualidade da fé de Abraão era de tal ordem que ele obedeceu a Deus indo para um lugar que

havia sido prometido como herança à sua descendência, lugar este que ele não conhecia,

mas que lhe seria mostrado por Deus.

Ele peregrinou na terra da promessa sabendo que a herança de tomada da posse da terra por

seus descendentes se daria somente quatrocentos anos depois, conforme Deus lhe

havia revelado.

Ele próprio não teve nenhum certificado de propriedade em Canaã, mas obedeceu a Deus

porque visava a uma cidade que tem fundamentos e da qual o arquiteto e construtor

é o próprio Deus.

Por causa da fé do patriarca Sara concebeu de um ventre já amortecido, e de Isaque, seu filho,

Deus trouxe à existência uma multidão inumerável como a areia que está na praia do

mar.

Esta capacidade não estava naturalmente em

Abraão. Não era propriamente dele, mas lhe foi concedido como dons por meio da fé que

recebeu da parte de Deus.

Abraão e Noé eram justos porque eram homens de fé, e por causa da fé eram justos, porque se diz

que o justo viverá pela fé; isto é, por meio e por causa da fé.

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Os dons espirituais que recebemos pela fé não são nossos, mas do Espírito.

Esta vida que agrada a Deus não é tanto natural, mas sobrenatural.

Deus tem chamado alguns de maneira especial e lhes dotado com uma fé que se torna muito grande, tal como foi o caso de Abraão, que se

dispôs a oferecer o próprio filho em holocausto quando isto lhe foi ordenado por Deus.

Ele não somente tinha fé para obedecer contra o seu próprio desejo de preservar o seu filho, pelo grande amor que lhe devotava, mas estava certo

de que caso ele viesse a morrer Deus o ressuscitaria, porque era afinal o filho da

promessa através do qual o Senhor havia dito a Abraão, que seria a partir dele que formaria a

sua descendência.

Não era por contemplarem o que era natural que estes homens e mulheres de Deus

receberam testemunho de tê-lo agradado, mas por andarem como quem contempla o invisível,

e discerne a vontade de Deus em meio às maiores fraquezas e provações, de maneira que

sabiam que eram apenas estrangeiros e peregrinos na terra, e pelo seu procedimento

demonstraram que aspiravam por uma pátria superior que está no céu.

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Como eles tributaram honra e glória ao Senhor, buscando o que era celestial e não o que é

terreno, Deus não se envergonha deles, de se chamar o seu Deus, porque de fato pertencem a

Ele, e já lhes preparou uma cidade como herança eterna.

Sendo um homem de fé, Isaque abençoou Jacó e Esaú com bênçãos proféticas relativas às coisas que se cumpririam através de ambos no futuro.

De igual modo Jacó, foi fortalecido pela fé quando estava à porta da morte, e pôde assim também abençoar profeticamente cada um dos

seus filhos, e particularmente os filhos de José, Efraim e Manassés, que vieram ter com ele

quando pela providência de Deus, souberam que se encontrava gravemente enfermo.

Pela mesma fé, José recebeu sonhos e a capacidade de interpretar sonhos e visões, e pôde mencionar a saída dos filhos de Israel do

Egito, tendo dado ordem acerca de seus próprios ossos, para que fossem levados do Egito

com eles para Canaã.

Foi por serem pessoas de fé que os pais de

Moisés o esconderam por três meses, não temendo o mandado de faraó.

Foi por causa da fé que o próprio Moisés

recusou a honra de ser chamado de filho da filha de Faraó, e escolheu ser maltratado com o povo

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de Deus, do que experimentar por um período as glórias e honras terrenas, sendo um príncipe do

Egito.

Foi a fé que o levou a escolher o vitupério de Cristo como sendo uma riqueza muito maior do

que os tesouros do Egito, porque aspirava a uma recompensa maior e melhor.

O que a fé considera grandioso não é o mesmo que o mundo e a carne reputam como coisas

elevadas. Porque assim como a bússola sempre aponta para o Norte, a fé sempre aponta para

Cristo.

Moisés deixou o Egito pela fé sem temer a ira de faraó, porque pela fé pôde ficar firme como

quem vê o invisível.

Tendo retornado ao Egito mandou celebrar a páscoa tendo fé que por causa do sangue do

cordeiro passado nas portas os primogênitos de Israel seriam livrados da morte que viria sobre o

Egito pelo anjo destruidor.

Foi também por ficar firme na fé que puderam

atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto, e verem os egípcios serem afogados pelas mesmas águas

por entre as quais eles haviam atravessado para o outro lado.

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Foi por causa da fé de Josué e dos israelitas que as muralhas de Jericó ruíram, depois de terem

sido rodeadas por sete dias.

A fé de Raabe a manteve firme sendo a única pessoa piedosa no meio de todas as pessoas

ímpias que viviam em Jericó.

Ela não temeu receber os espias e escondê-los a par do perigo que correu se fosse descoberta

pelo rei da cidade agindo contra os interesses do seu próprio povo. Ela deu testemunho da certeza

que tinha que o Deus de Israel daria todas as nações de Canaã nas mãos deles. Ela creu no

Senhor e foi a única pessoa poupada da destruição em Jericó, juntamente com seus

familiares, pelos quais ela intercedeu.

A fé pôde fazer muitas maravilhas, livramentos, transformações e conquistas no passado,

conforme estes exemplos destacados pelo autor de Hebreus.

É pela mesma fé que Deus continua operando na dispensação da graça, e realizando obras ainda

maiores do que as que fez no passado, porque aqui, tem operado em todo o mundo

convertendo milhões a Cristo.

A fé é vitoriosa sobre os poderes que se lhe opõem, quer destruindo-os, quer dando aos

cristãos a força necessária para suportarem todo tipo de provações; as quais lhes sobrevêm

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com a permissão de Deus exatamente para o propósito de darem testemunho da fé que eles

possuem.

Os destinatários da epístola aos Hebreus deveriam permanecer firmes na fé, seguindo o

exemplo dos heróis da fé do passado.

Eles deveriam lembrar que a fé tudo vence, e por meio dela, tal como os seus antepassados,

poderiam também alcançar o testemunho de terem agradado a Deus.

Os cristãos da dispensação da graça sabem com precisão acerca das promessas que se cumprem em Cristo, e eles têm vivido num tempo depois

do qual Cristo já se manifestou.

Então mais será exigido deles em termos de

fidelidade a Deus, porque os que viveram no Velho Testamento contemplavam de longe as

promessas que ainda viriam a se cumprir em Cristo, e das quais todos os cristãos da Nova

Aliança já têm se tornado participantes.

Cabe tão somente destacar ainda que a promessa que os antigos não alcançaram (v. 39)

não se refere à vida que eles teriam na glória com Deus depois de saírem deste mundo, mas

ao fato de não terem visto o cumprimento da promessa da vinda do Messias ao mundo para o

estabelecimento da Nova Aliança que foi inaugurada e confirmada com o seu sangue; e

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da qual o autor de Hebreus se referiu abundantemente nos capítulos anteriores.

Os que tiveram o privilégio de receberem a fé

salvadora depois da manifestação de Jesus neste mundo têm uma maior responsabilidade diante

de Deus em se manterem firmes na fé que os salvou.

Heb 11:1 Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.

Heb 11:2 Pois, pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho.

Heb 11:3 Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o

visível veio a existir das coisas que não aparecem.

Heb 11:4 Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a

aprovação de Deus quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto,

ainda fala.

Heb 11:5 Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, porque Deus o

trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho de haver agradado a Deus.

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Heb 11:6 De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se

aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam.

Heb 11:7 Pela fé, Noé, divinamente instruído acerca de acontecimentos que ainda não se

viam e sendo temente a Deus, aparelhou uma arca para a salvação de sua casa; pela qual

condenou o mundo e se tornou herdeiro da justiça que vem da fé.

Heb 11:8 Pela fé, Abraão, quando chamado,

obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde

ia.

Heb 11:9 Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da

mesma promessa;

Heb 11:10 porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e

edificador.

Heb 11:11 Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele

que lhe havia feito a promessa.

Heb 11:12 Por isso, também de um, aliás já amortecido, saiu uma posteridade tão

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numerosa como as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na praia do mar.

Heb 11:13 Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe,

e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra.

Heb 11:14 Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria.

Heb 11:15 E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar.

Heb 11:16 Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se

envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade.

Heb 11:17 Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o

seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas,

Heb 11:18 a quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência;

Heb 11:19 porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os

mortos, de onde também, figuradamente, o recobrou.

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Heb 11:20 Pela fé, igualmente Isaque abençoou a Jacó e a Esaú, acerca de coisas que ainda

estavam para vir.

Heb 11:21 Pela fé, Jacó, quando estava para morrer, abençoou cada um dos filhos de José e, apoiado sobre a extremidade do seu bordão,

adorou.

Heb 11:22 Pela fé, José, próximo do seu fim, fez menção do êxodo dos filhos de Israel, bem como

deu ordens quanto aos seus próprios ossos.

Heb 11:23 Pela fé, Moisés, apenas nascido, foi ocultado por seus pais, durante três meses, porque viram que a criança era formosa;

também não ficaram amedrontados pelo decreto do rei.

Heb 11:24 Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó,

Heb 11:25 preferindo ser maltratado junto com o

povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado;

Heb 11:26 porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros

do Egito, porque contemplava o galardão.

Heb 11:27 Pela fé, ele abandonou o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes,

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permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível.

Heb 11:28 Pela fé, celebrou a Páscoa e o derramamento do sangue, para que o

exterminador não tocasse nos primogênitos dos israelitas.

Heb 11:29 Pela fé, atravessaram o mar Vermelho como por terra seca; tentando-o os egípcios, foram tragados de todo.

Heb 11:30 Pela fé, ruíram as muralhas de Jericó, depois de rodeadas por sete dias.

Heb 11:31 Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque

acolheu com paz aos espias.

Heb 11:32 E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de

Jefté, de Davi, de Samuel e dos profetas,

Heb 11:33 os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões,

Heb 11:34 extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram

força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.

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Heb 11:35 Mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram

torturados, não aceitando seu resgate, para obterem superior ressurreição;

Heb 11:36 outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas

e prisões.

Heb 11:37 Foram apedrejados, provados,

serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de

ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados

Heb 11:38 ( homens dos quais o mundo não era digno ), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.

Heb 11:39 Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo,

a concretização da promessa,

Heb 11:40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.

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Hebreus 12

A Necessidade de Disciplina para a Maturidade Espiritual

Não foram somente os heróis da fé que

suportaram grandes provações, conforme mencionado no capítulo anterior, porque o

próprio Jesus também padeceu aflições em seu ministério terreno resistindo até ao sangue,

porque foi morto na cruz pelas oposições que sofreu da parte dos pecadores.

Todo cristão deve se armar em seu pensamento que a fidelidade a Cristo e ao verdadeiro evangelho sempre trará consigo cruzes que

devem ser carregadas com paciência e perseverança na fé.

O próprio Jesus se tornou para nós, da parte de Deus, o maior modelo e exemplo das aflições que devemos suportar por causa da nossa fé.

Os que são da fé terão esta marca na

identificação com os sofrimentos de Cristo pela causa do evangelho.

Eles pisarão na cabeça da Serpente, mas esta

lhes ferirá o calcanhar.

Entretanto, temos uma grande nuvem de testemunhas de pessoas que viveram pela fé e

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triunfaram em meio às maiores provações tanto no Velho Testamento, quanto ao longo da

história da Igreja; nos incentivando a seguir o seu exemplo, deixando toda forma de embaraço

e pecado que nos assediam tão de perto, para que possamos correr com perseverança a

carreira que nos está proposta por Deus.

A palavra apotitemi, no grego, para “desembaraço” de todo peso, significa colocar

de lado, tirar do caminho, remover.

Dentre os pesos aos quais o autor de Hebreus se refere se incluem as riquezas deste mundo que

nos perseguem tão de perto, e o amor a elas é um obstáculo estranho para a constância na

profissão do evangelho, porque o amor ao dinheiro é um fardo, enquanto nos impede de

correr a carreira que nos foi proposta por Deus.

Para correr uma carreira é necessário força, esforço e diligência em se exercitar, para não se

parar no meio do caminho por causa das canseiras que serão impostas pela corrida.

É dito que esta carreira deve ser feita com paciência, isto é, com perseverança para nunca

a abandonarmos, desistindo no meio do caminho do prêmio que está reservado aos

vencedores.

A perseverança é ordenada porque muitas coisas exigirão que sejamos pacientes

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constantes enquanto corremos; e que a carreira é longa, e demora todo o curso de nossas vidas

neste mundo.

Como isto nos tentará a abandonar a carreira, então o Espírito nos ordena a sermos

perseverantes.

O modo de se correr esta carreira não é olhando para nós mesmos, para nossas habilidades,

méritos ou capacidade, porque nenhuma destas coisas nos habilitará para a vida de fé

sobrenatural que é exigida pelo evangelho, mas olhando para Cristo, que, sendo, o autor e o

consumador da fé, é quem nos dá a graça necessária para que possamos ser e fazer o que

é conforme a sua vontade.

O fato de Jesus ser o autor e o consumador da fé significa que a nossa fé do princípio ao fim

depende inteiramente dele.

Nós devemos mirar principalmente o exemplo

da sua paciência suportando a morte de cruz, não se deixando intimidar pelas afrontas que

sofreu, de forma que se encontra à destra do trono de Deus, em glória.

É contemplando os sofrimentos de Cristo nas

perseguições que sofreu dos pecadores que seremos encorajados em não nos deixarmos

enfraquecer e ficar desanimados por causa das coisas que sofremos por causa do evangelho.

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Dor e vergonha (ignomínia) são as duas partes constituintes de todos os sofrimentos externos.

E Jesus suportou a ambos pela alegria que lhe estava proposta.

Ambos foram eminentes na morte da cruz. Nenhuma morte era mais prolongada, dolorosa

e cruel; e tão vergonhosa, porque expunha aquele que a sofria publicamente ao desprezo e

injúrias dos homens.

Lembremos sempre que nos está imposto por

Deus o dever de carregarmos diariamente a nossa cruz, tal como nosso Senhor carregou a

sua.

Se for da vontade de Deus é necessário resistir

até ao sangue, isto é, não negar a fé mesmo diante da morte; porque aos que têm a honra de

serem chamados para serem mártires está reservada também uma maior honra no céu.

Além disso, a potente mão do Senhor se encontra em todas as coisas que nos sucedem,

por sermos seus filhos. Ele nos corrigirá e disciplinará de maneira que não devemos ficar

desmaiados quando somos por Ele disciplinados.

Como Pai perfeito que é corrigirá por amor a todos os seus filhos.

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“porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe.” (Hb 12.6).

O verbo açoitar, no texto, é vertido do original

grego do Novo Testamento, mastigaw, que significa literalmente, flagelar, fustigar com

açoite.

Ao usar tal palavra, o apóstolo reportou ao texto de Provérbios 23.13,14, no qual lemos o seguinte:

Prv 23:13: Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá.

Prv 23:14: Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno.

No original hebraico, o verbo nakáu (fustigar) significa flagelar com vara, com acoite.

É, portanto, a Palavra de Deus, o próprio Deus

que o expressa. Rejeitar tal palavra não é rejeitar ao homem, mas a Deus que o afirma.

Todavia, não se tem notícia que os apóstolos, os

profetas, os genuínos servos de Deus, eram espancadores de seus filhos, e por conseguinte,

muito menos o próprio Deus que usa uma linguagem tão forte para expressar o rigor da

disciplina que Ele aplica a seus filhos para aperfeiçoá-los na justiça e na santidade.

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Como pais amorosos, que são aqueles que seguem na mesma pegada do seu Pai celestial

de amor, aplicariam repreensões e disciplina sem serem governados pelo mesmo amor que

há em seus corações?

Como cometeriam tão grave pecado?

Daí ordenar o apóstolo Paulo em uma de suas epístolas, especialmente aos pais cristãos:

Col 3:20: Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante do Senhor.

Col 3:21: Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados.

Quem ama, corrige e disciplina.

Deste modo, a correção de Deus prova o seu

amor.

Pais que não corrigem seus filhos dão prova de

falta de amor por eles, mas todo pai que ame de fato seus filhos não os deixarão sem correção e

disciplina, para o próprio bem deles.

A correção divina não é para motivo de tristeza,

mas de alegria, porque por ela se comprova que somos de fato filhos de Deus.

Não há nenhum filho de Deus que esteja sem cruzes ou correções neste mundo.

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É um ato de sabedoria espiritual, descobrir e discernir os açoites paternos divinos, em todas

nossas dificuldades; sem os quais nós nunca nos comportaríamos bem debaixo delas, nem

obteríamos alguma vantagem por meio delas.

É dever de todos os ministros fiéis do evangelho considerarem diligentemente a que

fracassos ou tentações os seus respectivos rebanhos estão expostos, para aplicarem meios

satisfatórios para a sua preservação.

Importa do mesmo modo que obedecemos e honramos nossos pais terrenos, que também

obedeçamos e honremos muito mais ao nosso Pai celestial; porque nossos pais nos corrigiram

por um certo tempo conforme bem lhes parecia, mas Deus sempre nos corrigirá, até à velhice, e

para um propósito elevado proveitoso, a saber, o de podermos ser participantes da sua santidade.

Na verdade, todo arrependimento, toda tristeza segundo Deus, por causa de suas correções, não produz alegria, enquanto os experimentamos,

mas a finalidade não é entristecer nem envergonhar, mas gerar a verdadeira alegria,

depois de termos sido corrigidos.

Nós devemos sustentar um bom testemunho de

fé para que sejamos modelo e exemplo para os que estão fraquejando pelas coisas que estão

sofrendo, de maneira que eles possam ser sarados pela demonstração de um

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comportamento sadio segundo a doutrina do evangelho.

Para isto é necessário seguir a paz com todos, e

a santificação, sabendo que sem ela ninguém pode ver o Senhor.

Os que não foram santificados nesse mundo não verão a Jesus na glória celestial; porque é

preciso ter andado com Jesus em espírito aqui na terra, para que possamos ter a certeza de que

andaremos com Ele no céu.

Os cristãos devem se esforçar para manterem a unidade do Espírito no vínculo da paz, porque

Deus trabalha na unidade do seu povo.

Assim, quando alguma raiz de amargura não é tratada, e muitos são contaminados por ela, com

isto ficamos privados da graça de Deus.

Todavia, a amargura referida no texto de Hebreus 12.15 reporta à passagem de Deut

29.18, onde se afirma o seguinte:

Deu 29:18 para que, entre vós, não haja homem, nem mulher, nem família, nem tribo cujo

coração, hoje, se desvie do SENHOR, nosso Deus, e vá servir aos deuses destas nações; para

que não haja entre vós raiz que produza erva venenosa e amarga,

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Então, não se trata prioritariamente do estado de alma abatida, entristecida e endurecida que

designamos por amargura de alma, mas, o veneno amargo da idolatria e da desobediência

ao Senhor, que existindo em alguns cristãos pode vir a contaminar a muitos outros na

congregação dos santos.

Deus requer uma estrita santificação por parte de todos os que pertencem ao seu povo, pois se

afirma no verso anterior, a saber, no 14 que: sem santificação, ninguém verá o Senhor.

Daí se afirmar no verso 15 que não somente os

cristãos evitem ser esta erva amarga venenosa que contamine seus demais irmãos na fé, em

prejuízo da santificação de todos, como também nenhum cristão deve ser faltoso em relação à

graça de Deus, ou seja: eles nunca devem viver de tal modo que venha a faltar a graça de Jesus

em suas vidas, porque é somente por ela, e por graus cada vez maiores de graça, que poderão

ser santificados e progredir na santificação.

Por isso, quando, nos dias de Moisés, foi celebrada a Antiga Aliança até o próprio Moisés

tremeu ao pé do Monte Sinai, diante do modo assombroso pelo qual Deus se manifestou a eles.

Ao povo foi ordenado ficar observando de longe

sem ultrapassarem os limites que foram demarcados ao redor do monte.

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O monte ao qual os cristãos da Nova Aliança têm se aproximado é o monte Sião, e eles são

convocados a se aproximarem mais e mais, diferentemente dos israelitas nos dias de

Moisés.

Não nos achegamos por meio de Cristo e da aliança que Ele inaugurou no seu sangue, não

somente ao monte Sião espiritual, mas à Jerusalém celestial, aos muitos milhares de

anjos, à Igreja universal dos primogênitos cujos nomes estão escritos nos céus, no Livro da Vida,

e ao próprio Deus que é o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e também a

Jesus que é o mediador desta Nova Aliança, e ao seu sangue que fala cousas melhores do que o

de Abel; porque o sangue de Abel derramado na terra deu testemunho da sua fidelidade ao

Senhor, mas a ninguém pode justificar como o sangue de Jesus.

No entanto, todos estes nossos privilégios na

dispensação da graça, aumentam a nossa responsabilidade, porque mais se pede a quem

muito é dado.

Não nos é dado rejeitar a Jesus que nos fala das coisas que Ele viu no céu.

Deus tem prometido abalar ainda mais uma vez

a terra pelo fogo do juízo final, de maneira que tudo o que hoje existe será desfeito pelo fogo.

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Mas, o reino que temos recebido de Jesus é um reino inabalável que jamais passará.

Se somos súditos de um tal reino inabalável e eterno, devemos também ser inabaláveis e

constantes em todo o nosso procedimento, nas coisas relativas à vontade de Deus, e isto

faremos por reter a graça, por meio da qual poderemos servir a Deus de maneira agradável

com reverência e piedade.

O autor de Hebreus fechou o seu discurso neste capítulo dizendo que devemos reter a graça, isto

é, devemos não somente ter a graça de Jesus, mas mantê-la, porque é por meio dela

que podemos servir a Deus de maneira aceitável com reverência e temor.

Isto requer uma santificação interna e uma preparação adequada, com temor e reverência

em todas as nossas aproximações do Senhor, na sua adoração.

Deus deve ser servido e adorado com temor

porque Ele é um fogo consumidor; e não permitirá que impurezas de um coração impuro

prevaleçam na sua presença.

Heb 12:1 Portanto, também nós, visto que temos

a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo

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peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos

está proposta,

Heb 12:2 olhando firmemente para o Autor e

Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz,

não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.

Heb 12:3 Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores

contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma.

Heb 12:4 Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue

Heb 12:5 e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu,

não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és

reprovado;

Heb 12:6 porque o Senhor corrige a quem ama e

açoita a todo filho a quem recebe.

Heb 12:7 É para disciplina que perseverais (Deus

vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?

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Heb 12:8 Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois

bastardos e não filhos.

Heb 12:9 Além disso, tínhamos os nossos pais segundo a carne, que nos corrigiam, e os respeitávamos; não havemos de estar em muito

maior submissão ao Pai espiritual e, então, viveremos?

Heb 12:10 Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a

fim de sermos participantes da sua santidade.

Heb 12:11 Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto

pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça.

Heb 12:12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos;

Heb 12:13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes,

seja curado.

Heb 12:14 Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,

Heb 12:15 atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de

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Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos

sejam contaminados;

Heb 12:16 nem haja algum impuro ou profano,

como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura.

Heb 12:17 Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de

arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado.

Heb 12:18 Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à

tempestade,

Heb 12:19 e ao clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse mais,

Heb 12:20 pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será

apedrejado.

Heb 12:21 Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo!

Heb 12:22 Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a

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incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia

Heb 12:23 e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados,

Heb 12:24 e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão que fala coisas

superiores ao que fala o próprio Abel.

Heb 12:25 Tende cuidado, não recuseis ao que

fala. Pois, se não escaparam aqueles que recusaram ouvir quem, divinamente, os

advertia sobre a terra, muito menos nós, os que nos desviamos daquele que dos céus nos

adverte,

Heb 12:26 aquele, cuja voz abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma

vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu.

Heb 12:27 Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significa a remoção dessas coisas

abaladas, como tinham sido feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam.

Heb 12:28 Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual

sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor;

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Heb 12:29 porque o nosso Deus é fogo consumidor.

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Hebreus 13

A Conduta de Cristãos Amadurecidos

Espiritualmente

Em face de todas as exortações ao crescimento

em santidade e exposições doutrinárias acerca da Pessoa e do ministério de Cristo, que fizera

nos capítulos anteriores, o autor de Hebreus caminhou para o fechamento da epístola com

exortações de caráter prático relativas a vários assuntos, para confirmar que não basta o cristão

ter fé nas boas promessas do Senhor, como também demonstrar que possui esta fé por um

procedimento condizente com a sua vocação.

Como Paulo costumava fazer em suas epístolas, o autor de Hebreus usa o mesmo método de Paulo, deixando as exortações práticas para o

final, como vemos neste capítulo.

Seria improdutivo falar dos deveres práticos dos cristãos sem lhes apresentar antes os fundamentos em que a fé deles está apoiada, e

sem exortá-los também antes a uma plena diligência para a sua consagração e santificação.

Assim, o autor de Hebreus, depois de lhes ter

feito uma exposição doutrinária sobre o fundamento da fé deles, a saber: Cristo, e de

exortá-los à diligência em santificação, lhes lembrou da necessidade de constância no amor

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fraternal, isto é, entre os irmãos na Igreja (v. 1), inclusive se necessário, com a prática da

hospitalidade (v. 2).

Os cristãos são membros de uma mesma família que foi adotada por Deus por causa da fé deles

em Cristo.

Eles devem viver no amor ágape para que o nome de Deus seja glorificado e para que o mundo saiba que são seus discípulos (Jo 13.35).

Este amor não deve ser manifestado somente no exercício da misericórdia e serviço mútuos,

como também em gastar a vida em prol destas pedras vivas da Igreja que são os nossos irmãos

em Cristo.

É dito que deve ser constante a permanência neste amor ágape de uns pelos outros.

Tal ordenança é feita porque há muitas coisas que lutam para que este amor fraternal não seja

constante, como a carne, o diabo e o mundo, por exemplo.

Quanto aos cristãos que se encontravam presos por causa do evangelho (v.3), tal como Timóteo

se encontrava pouco antes da escrita desta epístola (v. 23), os tais não deveriam ser

esquecidos, mas, lembrados para serem motivo especialmente de intercessões e de visitas.

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Tanto em relação aos presos quanto aos que estavam sofrendo maus tratos por causa da fé,

eles deveriam simpatizar com os seus sofrimentos como se estivessem presos e

sofrendo estes maus tratos em seus próprios corpos.

Isto porque o amor cristão demanda se alegrar com os que se alegram, e chorar com os que

choram, por causa dos sofrimentos que eles padecem pelo evangelho.

O matrimônio sobre o qual o Espírito profetizou que seria conduzido a descrédito e desonra nos

últimos dias, por causa da multiplicação da iniquidade na terra, deveria continuar

recebendo a honra que lhe é devida, porque Deus mesmo foi o criador da família, e para que

os cônjuges vivessem em fidelidade até que fossem separados pela morte; de maneira que

aqueles que se prostituem e adulteram serão julgados por Deus, porque Ele determinou

somente um lugar para o sexo, a saber, no casamento.

Dentre os deveres ordenados neste último

capítulo de Hebreus há também o de os cristãos serem generosos na comunicação com as

necessidades do seu próximo, especialmente em relação aos irmãos na fé, de maneira que

devem fugir de toda forma de avareza, e viverem contentes com o que possuem, uma vez que têm

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recebido da parte de Deus a promessa de que Ele nunca os deixaria e desampararia.

Nós devemos aprender a estarmos contentes em qualquer condição que estejamos, seja de

pobreza, aflição ou perseguição (Fp 4.11).

Tendo, pois, ao próprio Senhor como nosso ajudador, não devemos temer os males que

possam nos causar.

Deus nos dará força e alegria em nossas lutas espirituais, e Ele mesmo lutará por nós em honra da nossa fé no seu grande nome.

Os pastores fiéis devem ser ouvidos quanto à Palavra de Deus que pregaram, e devem ser imitados na sua fé e forma de viver.

O que deveria ser trazido em memória pelos

cristãos hebreus era a Palavra que os líderes deles lhes pregaram.

Desta forma, a melhor maneira de se honrar a Deus é não se deixar levar em redor por várias

doutrinas e estranhas que sejam contrárias a única sã doutrina revelada por Cristo e pelos

seus apóstolos.

Na consideração que deveriam dar à Palavra que lhes foi pregada deveriam levar em conta a

imutabilidade de Cristo, e, portanto, de seu desígnio, vontade e Palavra.

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Esta Palavra é eterna assim como o Senhor é eterno e é não somente digna de inteira

aceitação como também deve ser mantida inalterada, assim como o seu Autor não muda.

Os cristãos possuem um altar espiritual que lhes foi provido por Cristo, no qual lhes é oferecido

um banquete espiritual, do qual não podem participar aqueles que confiam no

cerimonialismo da Lei para serem santificados, porque este altar é acessível apenas aos que

creem e têm o Espírito Santo, por pertencerem a Cristo.

O próprio Jesus é o nosso altar no qual oferecemos nossos sacrifícios de louvor.

Jesus, nossa oferta pelo pecado já apresentou a Si mesmo como expiação por nós de uma vez

para sempre. Não precisamos de nenhuma oferta pelo pecado e pela culpa, senão somente

apresentar os sacrifícios de gratidão e de paz com os nossos louvores.

É por ele, como nosso altar, que podemos oferecer nossos sacrifícios a Deus, verso 15.

A finalidade de um altar é a de santificar as pessoas que dele se aproximam, e temos

somente em Cristo, o altar em que somos santificados (v. 12).

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Não há no Novo Testamento um altar material como o que havia no Velho Testamento e que

era uma figura de Cristo, em quem somos santificados.

Jesus foi humilhado sendo crucificado fora dos

portões da cidade de Jerusalém porque foi considerado indigno pelos principais

sacerdotes, escribas e fariseus de morrer em Jerusalém. Mas, disto a própria Lei falava em

figura porque o sangue dos animais, que eram oferecidos para fazer expiação pelo pecado, era

trazido para o interior do santuário, mas os seus corpos eram queimados fora do arraial.

De igual maneira, os cristãos hebreus não

deveriam procurar a honra de serem participantes do culto do templo e das

sinagogas, e nem se sentirem desonrados de serem expulsos do mesmo pelos sacerdotes de

Israel, por causa da fé deles em Cristo. Ao contrário, deveriam suportar com alegria esta

humilhação tal como o próprio Jesus a havia suportado.

Jesus havia sofrido fora da cidade, e assim os

cristãos hebreus eram também chamados a renunciarem a todos os privilégios do

acampamento e cidade por Ele.

Eles deveriam se dispor a sair mundo a fora sem se envergonharem de carregar a cruz.

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Afinal, não é aqui neste mundo que temos uma cidade permanente. Não é a Jerusalém terrena a

cidade santa na qual os cristãos são santificados e habitarão para sempre, mas a que descerá do

céu como noiva ataviada para o seu noivo.

Eles não deveriam mais se preocupar em oferecer sacrifícios de animais no templo, mas

sacrifício de louvor como o fruto dos lábios que confessam o nome de Jesus.

Além disso, se há algum outro sacrifício que os cristãos devem oferecer é o relativo à sua própria consagração ao Senhor, entregando-se

à prática das boas obras e à mútua cooperação, pela comunhão em amor; porque é deste tipo de

sacrifício que Deus se agrada.

Não deveriam esquecer a obediência e sujeição que lhes convinham não apenas por motivo de

consciência, mas por causa da ordenação de Deus aos pastores que foram constituídos por

Ele sobre as suas almas, para que no dia do juízo tenham motivo de se alegrar pelo bom

testemunho de suas ovelhas, e não terem que dar conta do seu ministério gemendo de tristeza

por falta de obediência e sujeição das mesmas.

O pastor fiel de um rebanho rebelde não sofrerá

dano, mas certamente terá motivo para se entristecer, mas neste caso, o dano será do

próprio rebanho, por causa da sua rebelião à verdade que lhe foi pregada.

Page 162: Silvio Dutra · Comentário Bíblico. I. Título. CDD 230.226 . 3 ... 12 Hebreus 2 A Suprema Autoridade de Cristo A ... O autor de Hebreus alerta logo no primeiro

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O autor de Hebreus pediu que os cristãos orassem por ele, porque estava convicto de que

tinha boa consciência, como todos os que querem se portar honestamente, e lhes pediu

que o fizessem com instância, para que mais depressa lhes fosse restituído; do que se pode

inferir que poderia se encontrar preso por ocasião da escrita da epístola.

Ele estava orando para que Jesus, o grande pastor das ovelhas, e que o Deus de paz lhes

aperfeiçoasse em toda boa obra para poderem fazer a sua vontade, operando neles o que

perante Ele é agradável por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória para todo o sempre.

Ele estava lhes lembrando mais uma vez sobre o dever de se orar para que o Senhor possa nos

santificar, porque não somos nós que nos santificamos a nós mesmos, senão o próprio

Senhor. Somos apenas cooperadores de Deus neste trabalho pela diligência em obedecermos

à sua vontade, e pelo cumprimento dos deveres que nos são ordenados na Palavra.

O autor de Hebreus rogou, no mesmo estilo do apóstolo Paulo, em vez de ordenar, que os

cristãos suportassem a palavra de exortação desta epístola, porque não lhes havia escrito em

detalhes sobre as coisas que estavam erradas naquela congregação, mas escreveu de forma

abreviada, na expectativa de que se arrependessem da sua falta de progresso

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espiritual e que retomassem a caminhada cristã com toda a diligência que ela exige.

Ele mencionou a sua intenção de ir ter com eles tão depressa quanto lhe fosse possível, assim

que Timóteo viesse ter com ele, porque soubera que havia sido libertado.

Solicitando que saudassem todos os seus líderes e a todos os santos daquela congregação, ele se despediu dizendo que os cristãos da Itália

também lhes estavam saudando.

Então, esta epístola foi escrita provavelmente de Roma.

A epístola é encerrada ao modo do apóstolo Paulo, desejando que a graça fosse com todos eles.

Paulo sempre mencionou a importância da graça em suas epístolas, porque sem ela não há

nenhuma vida cristã verdadeira e nenhuma possibilidade de crescimento espiritual, porque

é pelo aumento das graças do evangelho que somos amadurecidos em Cristo Jesus.

Heb 13:1 Seja constante o amor fraternal.

Heb 13:2 Não negligencieis a hospitalidade, pois

alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos.

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Heb 13:3 Lembrai-vos dos encarcerados, como se presos com eles; dos que sofrem maus tratos,

como se, com efeito, vós mesmos em pessoa fôsseis os maltratados.

Heb 13:4 Digno de honra entre todos seja o

matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros.

Heb 13:5 Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque

ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.

Heb 13:6 Assim, afirmemos confiantemente: O Senhor é o meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?

Heb 13:7 Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida,

imitai a fé que tiveram.

Heb 13:8 Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.

Heb 13:9 Não vos deixeis envolver por doutrinas

várias e estranhas, porquanto o que vale é estar o coração confirmado com graça e não com

alimentos, pois nunca tiveram proveito os que com isto se preocuparam.

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Heb 13:10 Possuímos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no

tabernáculo.

Heb 13:11 Pois aqueles animais cujo sangue é

trazido para dentro do Santo dos Santos, pelo sumo sacerdote, como oblação pelo pecado, têm

o corpo queimado fora do acampamento.

Heb 13:12 Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue,

sofreu fora da porta.

Heb 13:13 Saiamos, pois, a ele, fora do arraial, levando o seu vitupério.

Heb 13:14 Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir.

Heb 13:15 Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome.

Heb 13:16 Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com

tais sacrifícios, Deus se compraz.

Heb 13:17 Obedecei aos vossos guias e sede

submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que

façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.

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Heb 13:18 Orai por nós, pois estamos persuadidos de termos boa consciência,

desejando em todas as coisas viver condignamente.

Heb 13:19 Rogo-vos, com muito empenho, que

assim façais, a fim de que eu vos seja restituído mais depressa.

Heb 13:20 Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da

eterna aliança,

Heb 13:21 vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o

que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!

Heb 13:22 Rogo-vos ainda, irmãos, que suporteis a presente palavra de exortação; tanto mais quanto vos escrevi resumidamente.

Heb 13:23 Notifico-vos que o irmão Timóteo foi posto em liberdade; com ele, caso venha logo, vos verei.

Heb 13:24 Saudai todos os vossos guias, bem como todos os santos. Os da Itália vos saúdam.

Heb 13:25 A graça seja com todos vós.

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Louvado seja o nome do Senhor Jesus

para todo o sempre. Amém!

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