SEXUALIDADE E AUMENTO DO VIH EM ADULTOS MAIS VELHOS

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Sexualidade e aumento do VIH em adultos mais velhos:

A literacia no caminho da melhor prevenção.

Vaz de Almeida, Cristina

[email protected]

Os casos de VIH em Portugal em populações acima dos 55 anos têm aumentado

nos últimos anos. Entre 1985 e 2012 foram registados 3767 casos de VIH em

Portugal, dos quais 1066 mulheres e 2701 homens nestas faixas etárias. As

relações heterossexuais estão entre as causas mais evidentes deste acréscimo, mas

não responsáveis por todos os resultados. A prevenção da doença e a promoção da

saúde também estão na base de um maior controlo e contenção destes números. As

consequências de uma baixa literacia resultam num menor compromisso na

protecção e num aumento dos fatores do risco.

O desconhecimento por parte desta população dos fatores de risco, a falta de

acessos ao sistema de saúde para avaliação e aconselhamento nestas questões, as

campanhas de educação e informação ainda não totalmente direccionadas a estes

públicos mais velhos, a resistência à mudança (uso de preservativo) e a

acessibilidade a uma actividade sexual mais frequente através de medicamentos

específicos (tipo Viagra) poderão estar entre os fatores que propiciam o

incremento dos números de pessoas infetadas pelo VIH.

O aumento da literacia em saúde destas populações mais velhas que desejam

manter a sua atividade sexual por muitos e longos anos, vem permitir capacitar

estes indivíduos ou os seus influentes, para comportamentos de vida mais

saudáveis, maior compromisso com os fatores de protecção e menores

comportamentos de risco. Uma vida sexual mais satisfatória, mais longa, com mais

capacidade para aceder, usar e compreender as decisões em saúde.

Literacia em Saúde e comportamentos

A literacia em saúde permite aos indivíduos aceder, compreender e tomar decisões

para uma maior prevenção da doença e promoção da saúde. É essa capacidade

para tomar decisões em saúde fundamentadas, no decurso da vida do dia-a-dia

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– em casa, na comunidade, no local de trabalho, no mercado, na utilização do

sistema de saúde e no contexto político e possibilita o aumento do controlo das

pessoas sobre a sua saúde, a sua capacidade para procurar informação e para

assumir responsabilidades, como cidadão, pleno de direitos e responsável

também pela sua saúde (Constituição da Republica Portuguesa, artº 12 e PNS

2016.

A Organização Mundial da Saúde define Literacia em Saúde como o conjunto de

“competências cognitivas e sociais e a capacidade dos indivíduos para acederem,

compreenderem e a usarem informação de forma que promovam e mantenham

boa saúde (WHO, 1998) .

Conforme sublinhado por Ana Paula Garcia na defesa da sua tese: «A inexistência de

um tratamento ou de uma vacina para o HIV/SIDA faz com que a alteração de

comportamentos de risco seja ainda o único meio disponível e universal de prevenir a

doença, independentemente da faixa etária considerada». Face a esta evidência, a

necessária alteração de comportamentos de risco tem de ser apoiada com meios

que sejam acessíveis, compreensíveis e fáceis de assimilar pelos públicos-alvo,

destinatários esses que irão necessitar de um grau suficiente de motivação,

informação e conhecimento para adotarem os comportamentos saudáveis que lhes

permitam vidas sexuais ativas com riscos reduzidos ou inexistentes para a saúde.

Autoeficácia e importância dada ao tema

Se combinarmos a relação entre a auto eficácia, entendida como a capacidade

consciente de tomar uma decisão e ter uma ação conducente a proteção de risco e,

por outro, á importância atribuída a essa temática, verificamos que nem sempre

existe equilíbrio entre estes dois fatores. Pode haver autoeficácia para o individuo

saber e usar um preservativo e esse mesmo individuo ou quem o possa influenciar,

não dar importância ao tema, podendo cair em comportamentos de risco e de falta

de proteção.

Assim também poderá acontecer o inverso. Uma pessoa pode efetivamente dar

importância ao tema, como por exemplo, ter consciência e dar relevância à sua

saúde sexual, como prolongamento de uma vida em felicidade e com segurança,

saber que é importante ter proteção e comportamentos que controlem o risco, mas

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depois não ter a autoeficácia para implementar esses comportamentos de

proteção: desconhecimento do tema, falta de acesso, falta de compreensão sobre a

ação, gratificação instantânea do momento sexual.

Consideramos também, como alguns autores referem que, quanto maior for a

perceção da autoeficácia, maior é o comportamento de proteção, e quanto

mais importância o individuo dá ao tema, mais alertas e mais potencial de

comportamentos de proteção assumirá.

Face a um enquadramento complexo em que o individuo se desenvolve, temos de

atribuir um peso significativo aos contextos onde ele se move e que influenciam

decisivamente o comportamento individual e do grupo.

Concordamos com a importância dos efeitos de toda a envolvência social,

económica, cultural, ambiental, onde os determinantes sociais da saúde vêm

reforçar a sua influência nos diferentes níveis de mudança de comportamento

individual. Os contextos em que o individuo se move são, por si fortes

determinantes, e mais responsáveis do que a atitude individual por ele assumida.

Os investigadores das áreas da saúde vêm considerando que, mais do que

sobrecarregar o individuo com uma ação individualizada, este deve ter condições

de mudança no seu contexto, sendo este que o ajuda a modificar os seus

comportamentos e a torna-lo mais saudável.

A visão sobre o ser humano que precisa de ter comportamentos saudáveis deve ser

mais alargada, mais holística e estruturante e não apenas individualizada e

conjuntural.

A Técnica ACP

ASSERTIVIDADE, CLAREZA, POSITIVIDADE

No processo de mudança de comportamento para um caminho de promoção da

saúde, proteção dos fatores de risco e a assunção de comportamentos mais

conscientes e mais seguros na área da sexualidade, existem um conjunto de ações

válidas e que têm evidência prática e científica.

A literacia em saúde vem realçar a capacidade da pessoa para tomar decisões

fundamentadas em saúde, a necessidade do aumento do controlo das pessoas

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sobre a sua saúde e as responsabilidades inerentes a esta situação de

cidadão. Ora, para conseguir isto tudo, aceder, usar e compreender as

informações em saúde, o individuo tem de estar habilitado, capacitado para

compreender as mensagens e poder agir em conformidade.

Ana Paula Garcia, citando Chaves (Chaves, 2005:122) sublinha que «torna-se

imperiosa a implementação de medidas preventivas e de educação para a saúde uma

vez os estudos revelam que só um sexto dos indivíduos com comportamentos de risco

utiliza protecção” .

Sabemos que existem vários componentes influentes na mudança de

comportamentos (saudáveis), que passam por exemplo, por campanhas de

educação em saúde, intervenções diretas com os intervenientes (face a face),

alertas de prevenção ao nível dos cuidados de saúde primários ou secundários,

informação e intervenção ao nível do individuo, família e comunidade (ao nível

micro, meso e macro), a influencia da legislação. Todas estas ações têm em si a

componente de prevenção e educação para a saúde. A forma como se constroem e

são apresentadas aos destinatários é que pode fazer a diferença entre os maiores e

os menores resultados, entre a maior e a baixa eficácia das ações propostas e

implementadas.

ÁREAS DE INTERVENÇÃO PARA AUMENTAR O CONHECIMENTO,

COMPORTAMENTOS DE PROTEÇÃO E COMPROMISSO COM VISTA À MAIOR

PROMOÇÃO DA SAÚDE

Educação/Formação Legislação Informação Intervenção direta individuo, grupo, comunidade Media Desenvolvimento de Parcerias Associativismo

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ALGUMAS FERRAMENTAS DE IMPLEMENTAÇÃO

Intervenção direta (profissionais – utente/paciente) Utilização das novas tecnologias – verificamos o incremente positivo do uso

dos telemóveis (para ações via sms), e a utilização das redes digitais Ações directas na comunidade Alertas de profissionais nas áreas de saúde e social (Centros de saúde,

Hospitais, centros de Dia, residências/Lares) Campanhas Reuniões, Debates, roleplaying, etc Técnica ACP (outras….)

Face a uma variedade de estratégias e ações conducentes a uma maior promoção

da saúde, vem a autora propor o desenvolvimento de uma técnica que denominou -

Tecnica ACP – Assertividade, Clareza e Positividade - centrada num trabalho

agregador com os profissionais de saúde e da área social, que são grandes

estímulos e promotores da promoção da saúde dos adultos mais velhos,

nomeadamente nas questões da sexualidade dos adultos mais velhos e na

promoção de comportamentos saudáveis e de protecção.

Consideramos que os profissionais de saúde e da área do social, ao aplicarem a

Técnica ACP influenciam diretamente os seus destinatários, de forma positiva,

contribuindo para um reforço na mudança dos comportamentos e assunção e

desenvolvimento de hábitos saudáveis. Conseguem ainda obter, por parte dos

destinatários, uma maior compreensão dos conteúdos das mensagens, porque

estas estão mais adaptadas ao seu perfil, características e nível de linguagem. Os

resultados dos esforços realizados pelos profissionais, organizações ou pelo

investimento público na prevenção, na promoção e educação para saúde, acabam

por ser mais efectivos.

A Técnica ACP permite aos profissionais que lidam com os adultos mais velhos, o

desenvolvimento de competências das áreas da psicologia social e que podem ser

trabalhadas em grupos e com efeitos muito positivos.

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Esta Técnica ACP tem sido trabalhada ao longo dos últimos anos, de forma

intensiva, com centenas de profissionais das áreas da saúde e do social pela autora.

Para além da aplicação direta aos destinatários da sua ação, a Tecnica ACP quando

conscientemente e repetidamente aplicada, vem beneficiar também a relação entre

os profissionais de saúde, amenizando o nível de conflitualidade, proporcionando

melhores níveis de entendimento e de capacitação das várias profissões ligadas à

saúde.

A Assertividade

A assertividade consiste no primeiro passo para se mudar comportamentos de

forma positiva. O processo de comportamento assertivo passa pelo

desenvolvimento de competências técnicas e de uma perceção mais humanizada

do ambiente envolvente. Consiste em sistematizar os passos necessários para uma

mudança de postura em relação às atitudes e aos comportamentos que devem ser

adotados junto dos clientes/utentes/pacientes, ou outros profissionais.

Na realidade, é o esforço de aumento de competências relacionais, da linguagem

verbal e não verbal, de uma atitude empática e de técnicas linguísticas assentes na

positividade e na clareza do profissional, que vão permitir aumentar a literacia do

destinatário da intervenção e a sua melhor compreensão para a mudança e melhor

entendimento das mensagens.

Num primeiro passo é necessário que o profissional faça uma avaliação da sua

forma de agir /intervir junto dos seus utentes/clientes e desenvolva, de uma forma

progressiva e consciente, uma capacidade e perfil «assertivo».

A assertividade parte de um determinado comportamento que é desenvolvido a

partir do interior do individuo. É nesta atitude individual que o profissional se

deve concentrar, numa primeira fase, e colocar algumas questões perguntando, por

exemplo, que tipo de comportamentos e atitudes tem para com o outro?

Não é assertivo quem é passivo, agressivo ou manipulador.

Sabemos que durante o dia, o nosso comportamentos pode passar por fases mais

ou menos passivas, agressivas, manipuladoras ou assertivas. O objectivo é

desenvolver cada vez mais o lado assertivo, que trará benefícios acrescidos à

relação com o outro.

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É necessário assim, que num primeiro passo, a pessoa se consciencialize sobre o

que deve mudar em relação ao exterior, ajustando o seu comportamentos com

algumas técnicas, que não são muito difíceis de interiorizar, apesar de requererem

uma prática e atenção constante.

O Comportamento e linguagem assertiva – positiva pode ser definida como

aquela que envolve a expressão direta, pela pessoa, das suas necessidades ou

preferências, emoções e opiniões sem que, ao fazê-lo, ela experiencie

ansiedade indevida ou excessiva, e sem ser hostil para o interlocutor. (in

Assert yourself, M.D. Galassi e J.P. Galassi, Human Sciences Press, traduzido e adaptado por

Catarina Dias e Guiomar Gabriel, GAPSI, FCUL).

No comportamento assertivo diz-se o que se tem a dizer, sem medo, sem conflito,

sem agressividade.

É também necessário verificar se os outros estão a entender a mesma informação.

Tornamos o nosso pensamento e palavras mais transparentes aos outros e

cingirmo-nos aos fatos e não às emoções.

É preciso ainda ter abertura para trocar feedback sempre que for necessário:

conversar abertamente com o interlocutor ou o grupo quando surgem dúvidas, e

esclarecer quando se verifica que há mau ou deficiente entendimento;

Para alcançar uma comunicação eficiente, o desenvolvimento de algumas

habilidades é útil e permite que esse caminho seja mais facilmente atingível.

CONGRUÊNCIA: Significa que, ao falar, as suas palavras, seu corpo, seu tom

de voz e suas ações transmitem a mesma mensagem. Se transmitir uma

ideia «falsa» ao comunicar, comprometerá a sua credibilidade.

EMPATIA OU ‘RAPPORT’: Para desenvolver empatia com o seu interlocutor,

respeite seu ponto de vista. Não significa que tenha de concordar com ele.

Criará empatia ao transmitir respeito nessa comunicação, através das

palavras, gestos e tom de voz.

DESCREVER O CONFLITO: Descreva os fatos de forma simples, objetiva,

usando palavras que denotem respeito pelo seu interlocutor e que não

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deem margem a ambiguidades, evitando rotular seu interlocutor e usar

palavras ofensivas.

EXPRIMIR SEUS SENTIMENTOS: Deve também exprimir eficazmente como

se sente diante dos fatos, assumir a responsabilidade pelas suas opiniões e

sentimentos.

ACORDO: É necessário especificar as mudanças desejadas ou os padrões de

qualidade esperados de maneira clara. E verificar se o acordo é possível,

tendo em conta os impedimentos (Estrategia WIN-WIN).

As pesquisas de laboratório de psicologia da UCLA (Universidade da Califórnia) do

professor Albert Mehrabian indicam que a composição da comunicação humana

face a face é a seguinte: 55% são mensagens não verbais, 38% acontecem pelo tom

de voz e 7% são verbais.

Clareza

A capacidade das pessoas compreenderem informações de saúde está relacionada

com a clareza da comunicação

O que é uma linguagem acessível e clara? Uma linguagem acessível, é a

comunicação que os utilizadores entendem à primeira.

Em 2013 – um estudo da comissão europeia, resulta no guia da linguagem clara

«Escrever Claro» onde existem várias indicações para se escrever de forma clara e

acessível. Entre outras, as indicações apontam para a utilização de palavras

simples, da substituição dos substantivos por verbos.

Também os suportes físicos e digitais deverá ser claros e orientadores. As pessoas

preferem ter orientações por etapas claras do que linguagem confusa, difícil de

compreender e não enquadrada.

O exemplo a seguir apresentado, distribuído por vários locais em Outubro de 2015

faz referencia a problemática do HIV em idosos. (in Jornal do Dia do Idoso,

apoiado/patrocinado pela SPMI – Sociedade Portuguesa de Medicina Interna,

APECS – Associação Portuguesa para o Estudo Clinico da SIDA, Labco, Gilead, Just

News, saúde e Bem Estar).

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A linguagem utilizada, tendo em conta a baixa literacia em saúde de quase 60 % da

população portuguesa, em particular o crescente aumento de baixa literacia á

medida que a idade aumenta (de acordo com o Estudo Europeu de Literacia

apresentado na Primavera de 2015 na Fundação Calouste Gulbenkian, antecedido

pela apresentação na Escola Nacional de Saúde Publica em Setembro de 2014) é

difícil de entender dada a sua complexidade e tecnicidade e pouco acessível aos

segmentos de população mais idosa.

Analisemos um dos textos destacados, que nos pareceu ter sido extraído de

um relatório técnico, mas não para ser distribuído e entendido pela

população idosa em geral:

Estigma com o VIH /Sida ainda existe

«Há algumas preocupações do ponto de vista social com os idosos com VIH,

nomeadamente, a desinserção, relativamente frequente, pois, muitos destes doentes

cortaram relações com as suas famílias.

Adicionalmente, apesar de haver uma cada vez maior abertura, continua a existir

resistência por parte de algumas instituições para receber estes doentes. Estando

estabilizados, não precisam de unidades específicas para a infecção por VIH, podendo

estar integrados nas unidades para o resto da população.» Jornal do Dia do Idoso,

Out 2015

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Quais as palavras de difícil compreensão neste texto para um público com

literacia baixa?

Estigma, Nomeadamente; desinserção, relativamente frequente,

Adicionalmente, Estabilizados; unidades específicas

Os advérbios terminados em «mente»- Nomeadamente; relativamente;

Adicionalmente, são muito extensos e de difícil compreensão para pessoas com

baixa literacia.

As palavras mais técnicas tais como: estigma, desinserção; Estabilizados; unidades

específicas deveriam ser substituídas por outras mais simples.

Ver um exemplo com uma mesma ideia expressa por outras palavras mais

simples:

Falta de compreensão do VIH/SIDA pela sociedade

Existem algumas preocupações com idosos com HIV/Sida.

Muitas vezes o HIV/Sida separa-os das suas famílias e da comunidade, e acaba por

afastá-los da vida em sociedade.

Algumas instituições também levantam problemas em receber estes idosos, pois têm

medo da doença. Os especialistas dizem que se os idosos com HIV/Sida estiverem com

a doença controlada, podem estar integrados nas instituições que recebem o resto da

população.É preciso que as pessoas e as instituições compreendam que é uma doença

controlada, e que estas pessoas precisam de ser acolhidas como cidadãos e

continuem a fazer a sua vida na comunidade e sociedade onde vivem.

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Juntamos assim, algumas regras para se criarem documentos claros e

orientados para os destinatários:

Esta capa do «Jornal do Dia do Idoso» onde estava

contido o pequeno artigo analisado está, de uma forma

geral, bem construída em termos de imagem (embora

pudesse ter uma imagem de um casal idosos mais perto

da realidade portuguesa), titulo e destaque. No entanto,

a linguagem utilizada é de fato quase inacessível a

pessoas com baixa literacia, pela sua complexidade e

tecnicidade.

O equilíbrio entre as imagens congruentes e os

conteúdos deve ser sempre ponderado.

Saber para quem comunicamos é outro dos pontos fundamentais quando

elaboramos algum documento para orientação de segmentos específicos da

população. E é necessário adaptar sempre o conteúdo aos destinatários específicos.

Referem Doak e Rooter (1996) que as pessoas que têm baixa literacia

geralmente saltam as palavras que não entendem, não fazem categorias e não

conseguem assim entender o contexto.

Quase sempre assumem alguma «vergonha» em perguntar o seu significado, e,

mesmo que tenham conseguido decifrar as letras (descodificação) e ler as palavras,

não têm a inferência para compreender o sentido do texto (lecturabilidade).

Começar pelo princípio:

Antes de fazer alguma ação para ir criar algum documento de divulgação,

orientação ou de influência, avalie quem são os seus destinatários,

e o que pretendem ou precisam de ver esclarecido.

Converse com um grupo de destinatários da sua informação antes de

desenhar os seus materiais de comunicação. O ideal seria constituir um

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pequeno grupo de avaliação prévia, para se avaliar o que se pretende lançar. Com

esse Focus Group determine: Que informações precisam de saber? Como é que vai

ser usada? Faça o pre teste das mensagens e serviços para ter o feedback.

Afine e adapte os conteúdos quando for necessário.

Se não conseguir fazer este processo de forma prévia, isto é, antes de publicar ou

fazer a ação, faça depois os pós-testes para avaliar a eficácia da informação (Cloze

test).

Controle a quantidade de informação e use linguagem acessível e simples. As

técnicas de linguagem escrita/digital podem ser aproveitadas das mensagens

verbais, através do usos de palavras comuns, fáceis e acessíveis.

Mesmo as pessoas com maior literacia preferem textos simples e claros (Doak,

Rooter, 1996)

Como fazer?

Use a palavra «deve» e «é necessário» para dar indicação para as ações;

Não use siglas sem explicar conteúdo ou resumo desse significado;

Evite «jargões» técnicos;

Limite o número de mensagens (2 ou 3 mensagens principais);

Divida os textos em pequenos blocos, com vários subtítulos;

Dê espaçamento (arejamento) ao texto;

Não corte palavras entre linhas;

Use «bullets» em vez de letras maiúsculas em todo o texto;

Não use sombras ou padrões confusos debaixo do texto;

Faça um bom contraste entre a fonte e o fundo do suporte;

Evite % (1 em 10 é preferível que 10 %);

Destaque as ideias principais;

Use fonte «sans serif» na fonte de informação em suporte digital;

Se fizer um documento para computador (transformar em pdf e coloca-

lo on line) não divida em colunas pequenas- dificulta leitura;

Evite fazer o scroll;

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Limite o comprimento da linha entre 40 e 50 caracteres;

Garantir que o comprimento do texto na página se ajusta ao tamanho da

janela e da nossa visão;

Deixar bastante espaço em branco ao redor das margens e entre as

sessões;

Tamanho das fontes: Utilize pelo menos fonte de 12 pontos/texto;16 a

18 pontos nos subtítulos; 20 a 24 pontos nos Títulos;

Coloque o texto tipo «Pergunta – Resposta», pois ajuda a leitura e

compreensão;

Pergunta:………

Resposta:………

Use recursos visuais que ajudam a transmitir a sua mensagem –

considere a importância das imagens acessíveis ;

Use imagens familiares ao público-alvo; Qualquer texto pode conter

imagens, desde que estas estejam integradas no sentido do texto e que

sejam coerentes com o texto;

Certifique-se de colocar as imagens no contexto;

Ilustrar bem - Ao ilustrar partes do corpo interno, incluir a parte externa

do corpo.

POSITIVIDADE

A maior parte das crianças até aos seis anos tem na mente uma palavra que

se repete, que lhe repetem os adultos até quase à exaustão: «Não»! Não

faças isso, Não faças aquilo, Não subas a árvore, não grites, não chores, etc,

etc.

O cérebro habituou-se tanto a esta palavra que quando somos adultos,

continuamos o padrão, «Não molhe o braço», «Não coma muito», «Não

fume» «Não seja sedentário», etc. O padrão do «não» continua presente

sistematicamente, e temos constado que as várias mensagens em saúde não

surtem efeito, ou é mínima a retenção.

Numa mente enfastiada e saturada de «nãos» instalada desde a primeira

infância, quando ouvimos alguém a dizer-nos «não faça isso» a mensagem

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evapora-se ou dilui-se num invisível caminho de despejo mental das

palavras são efeito. E a motivação para adotarmos atitudes saudáveis e

comportamentos que promovam a nossa saúde e bem-estar fica como que

desligada dos nossos impulsos para agirmos.

Sem motivação, não acionamos os nosso comportamentos, e os

resultados de tantas campanhas e ações ficam lançadas ao vento, que

as leva sem deixar sementes de mudança.

As mais-valias da «linguagem positiva» da voz ativa e do comportamento

assertivo reúnem em si ingredientes estimulantes para que o destinatário,

nos passe a ouvir, tenha uma maior abertura da sua mente para

compreender e adotar comportamos mais saudáveis.

Como primeira regra deveríamos colocar o focus nos comportamentos e

ações, em vez de ser nas teorias do «dever ser».

Isto é, a pergunta interior que devemos fazer quando queremos que o nosso

destinatário mude para uma vida mais saudável é a seguinte: Qual é o

comportamento que desejo que o meu «alvo» tenha?

Qual o comportamento positivo que posso induzir?

Fruto de um trabalho de longos anos, fomos selecionando algumas das

frases que os profissionais dizem habitualmente e trabalhando na forma

como poderíamos voltar a dize-las, de forma assertiva, positiva, clara, com

voz ativa e pelo comportamento positivo.

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Como exemplos poderemos elencar as seguintes frases que dizemos

habitualmente, e a forma como poderíamos passar a dizer/escrever:

COMO É DITO HABITUALMENTE

COMPORTAMENTO POSITIVO

Se não tomar o medicamento vai ficar doente

Se tomar este medicamento a sua tensão vai ficar melhor, e vai começar a sentir-se melhor e mais saudável

Se não fizer os exercícios vai dar mau resultado

Se fizer estes exercícios a sua saúde vai melhorar

Se não fizer esta dieta vai sentir-se mal consigo

Se seguir este programa de alimentação vai começar a sentir-se muito bem e mais elegante

Não pode fumar Se deixar de fumar vai conseguir jogar à bola com o seu filho durante mais tempo

Não pode beber Se deixar de beber esses vómitos matinais desaparecem de certeza

Não pode parar de tomar os medicamentos senão fica pior

Se tomar os medicamentos vai ver que se sente melhor

Se não administrar insulina, pode vir a ficar cego ou sem um pé.

A insulina vai ajudá-lo a sentir-se melhor e a ter mais saúde.

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Não pode molhar o braço Este penso que está a tapar a sua ferida tem de estar sempre seco.

Se fumar vai morrer de cancro

Se deixar de fumar vai ficar mais saudável e a sua pele vai ficar mais brilhante e os seus dentes mais brancos

Se não vier ao serviço fazer o penso vai ficar doente

Para ficar melhor da sua saúde tem de vir ao serviço fazer o penso todos os dias

Não seja sedentário. Se fizer exercício físico todos os dias vai ajudar na sua perda de peso.

Não faça só duas refeições. Se aumentar o número de refeições por dia vai ajudar a controlar a sua diabetes.

Por outro lado e para consubstanciar esta intervenção «ACP» propõem-se ainda,

no caminho já trabalhado pelo Community guide que vem reflectir de uma forma

abrangente e transversal sobre as ações mais eficazes direccionadas a públicos

diversos.

Como Sofia Aboim reflectiu no estudo, ‘Conjugalidades em Mudança’, «no interior

destas mudanças, a conjugalidade permanece, de maneira diferente da do passado

mas igualmente incontornável, um laço social fundador e primordial das relações

familiares e até das relações sociais no seu conjunto». Existe um vasto campo de

reflexão nestas matérias. Uma das fortes e amplas bases onde tudo assenta são as

relações humanas. É a capacidade dos ser humano vivenciar positivamente a sua

vida, em liberdade, mas com consciência e responsabilidade.

Na sexualidade ativa existem relações de base, «conjugalidades» mais ou menos

formais, mas que nem por isso deixam de ser relacionais e sociais.

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O caminho deve ser feito com resiliência e vontade, certos de que as mudanças são

graduais, e por vezes esquivas: ora sucedem como esperávamos e programamos,

ora nos fogem pelos dedos e recuam uns passos largos.

Mas este é o desafio para todos os profissionais: conseguir um mundo melhor, mais

saudável, mais promotor de comportamentos positivos e satisfatórios tanto para a

saúde individual como das populações. A literacia em Saúde estará sempre no

caminho, abrindo portas.

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