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22 psique ciência&vida www.portalespacodosaber.com.br neurociência por Marco Callegaro IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL SEXO no casamento MAIOR FREQUÊNCIA DE SEXO NO CASAMENTO ESTÁ ASSOCIADA AO BEM-ESTAR CONJUGAL mede essa variável. Certas medidas são voltadas a relatos explícitos, de- clarações conscientes dos membros do casal. Outras formas de mensu- ração estão focadas nas respostas automáticas ou implícitas, que são de natureza inconsciente. Os pesquisadores Hicks, McNulty, Meltzer e Olson, em um estudo de 2016, analisaram ligações entre frequência sexual e qualidade de relacionamento em casais casa- A lgumas investigações têm apontado que existe uma relação positiva entre a frequência das relações sexuais em um casal e medidas de bem-estar conjugal. Pesquisas têm demonstrado que se tratando de sexo e bem-estar, mais é melhor, pelo menos até a frequência de uma vez por semana. Provavelmente, esse ponto de corte da frequência sexual obtida a partir de amostras norte-americanas é bem conserva- dor para a nossa exuberante reali- dade brasileira, e se tivéssemos da- dos nacionais estes apontariam para uma frequência maior. No entanto, as conclusões sobre como o nível da atividade sexual influencia o bem-estar se tornam complicadas por pesquisas que su- gerem que a frequência sexual pode ter diferentes associações com o bem-estar, dependendo de como se neuro.indd 22 26/07/2019 01:28

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SEXO no casamentoMAIOR FREQUÊNCIA DE SEXO NO CASAMENTO ESTÁ ASSOCIADA AO BEM-ESTAR CONJUGAL

mede essa variável. Certas medidas são voltadas a relatos explícitos, de-clarações conscientes dos membros do casal. Outras formas de mensu-ração estão focadas nas respostas automáticas ou implícitas, que são de natureza inconsciente.

Os pesquisadores Hicks, McNulty, Meltzer e Olson, em um estudo de 2016, analisaram ligações entre frequência sexual e qualidade de relacionamento em casais casa-

Algumas investigações têm apontado que existe uma relação positiva entre a frequência das relações

sexuais em um casal e medidas de bem-estar conjugal. Pesquisas têm demonstrado que se tratando de sexo e bem-estar, mais é melhor, pelo menos até a frequência de uma vez por semana. Provavelmente, esse ponto de corte da frequência sexual obtida a partir de amostras

norte-americanas é bem conserva-dor para a nossa exuberante reali-dade brasi leira, e se tivéssemos da-dos nacionais estes apontariam para uma frequência maior.

No entanto, as conclusões sobre como o nível da atividade sexual inf luencia o bem-estar se tornam complicadas por pesquisas que su-gerem que a frequência sexual pode ter diferentes associações com o bem-estar, dependendo de como se

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positiva), as pessoas responderão mais rapidamente. Se a imagem for diferente da palavra (imagem posi-tiva, palavra negativa), as pessoas demoram mais para responder. Ao comparar o tempo de reação das res-postas às palavras positivas e negati-vas depois de ver a foto, os pesquisa-dores podem ter uma ideia de como as pessoas se sentem em relação ao cônjuge. Para garantir que o efeito seja exclusivo de seus sentimentos em relação ao cônjuge, os pesquisa-dores também testam os sujeitos em resposta a seus próprios rostos e fa-ces de estranhos atraentes.

Os resultados desses estudos apontaram que os relatos das pes-

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SOMENTE O INCONSCIENTE É AFETADO POSITIVAMENTE PELO AUMENTO DA ATIVIDADE SEXUAL

Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).

Referências: Hicks, L. L.; McNulty, J. K.; Meltzer, A. L.; Olson, M. A. Capturing the interpersonal implications of evolved preferences? Frequency of sex shapes automatic, but not explicit, partner evaluations. Psychological Science, v. 27, n. 6, p. 836-847, 2016.

Callegaro, M. M. O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2011.

dos. Em duas amostras de casais casados que foram investigados, esses pesquisadores descobriram que os relatos das pessoas sobre a frequência com que tiveram rela-ções sexuais nos últimos meses não previam suas respostas explícitas sobre a qualidade de seu relacio-namento (como satisfeitos eles de-claravam que eram), mas o nível de atividade sexual previa seus senti-mentos mais automáticos e implíci-tos sobre seu relacionamento.

A forma adotada nesse estudo para obter medidas dos sentimentos implícitos dos sujeitos foi engenho-sa. Os pesquisadores f izeram com que os participantes concluíssem uma tarefa em computador que foi projetada para avaliar como eles realmente se sentem sobre seus re-lacionamentos, focando nos senti-mentos dos quais não têm consciên-cia. Os participantes visualizavam fotos de sua esposa, com as ima-gens aparecendo uma de cada vez, muito rapidamente, na tela do com-putador. Depois de cada foto, eles visualizavam uma palavra positiva ou negativa. Sua tarefa era indicar o mais rápido possível se a palavra era positiva ou negativa, usando co-mandos de computador específ icos.

O mais interessante dessa tarefa é que, em estudos anteriores, foi de-monstrado que as imagens podem in-terferir nas respostas das pessoas às palavras. Se a imagem corresponder à palavra (imagem positiva, palavra

soas sobre sua frequência sexual não previam o quanto estavam sa-tisfeitas com seus relacionamentos, mas, no entanto, mais sexo estava de fato associado a sentimentos in-conscientes mais positivos. Um dos estudos mapeou os sentimentos das pessoas ao longo de vários anos e descobriu que as pessoas que rela-taram ter maior atividade sexual tinham crescimento no bem-estar, demonstrando ter sentimentos im-plícitos ainda mais positivos em re-lação ao parceiro ao longo do tem-po. Portanto, sexo no casamento de fato aumenta o bem-estar, mas te-mos que ouvir o inconsciente para constatar seu efeito.

MEDINDO O INCONSCIENTE

Atualmente, a pesquisa em psicologia social tem desenvolvido uma série de métodos de investigação das avaliações inconscientes implicadas

em uma variedade de tópicos, sendo que os mais estudados são atitudes, autoestima ou estereótipos. O teste mais conhecido para examinar associa-ções inconscientes em relação a categorias de pessoas (geralmente grupos étnicos), objetos ou o próprio self é o Implicit Association Test, desen-volvido pelo pioneiro da pesquisa do inconsciente, o psicólogo Anthony Greenwald e seus colegas Brian Nosek e Mahzarin Banaji. A apresentação dos conceitos no IAT é explícita, mas as associações implícitas em relação a esses conceitos, que são o principal foco do instrumento, não recebem atenção consciente do sujeito, pois são medidas pelo tempo despendido na resposta a cada par de palavras. Isso demonstra que temos atitudes em dois níveis, aquelas que ostentamos conscientemente, refletindo nosso co-nhecimento explícito e valores sobre o mundo, e as atitudes implícitas, que revelam correntes subterrâneas compostas pela somatória de informações coletadas e armazenadas em nosso cérebro.

para saber mais

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