setorexterno

7
Capítulo 10: GREMAUD, TONETO JR. E VASCONCELLOS (2002) Setor Externo BALANÇO DE PAGAMENTOS: É o registro sistemático das transações entre residentes e não-residentes de um país durante determinado período de tempo. Residentes: Possuem o centro de interesse no país. Nascidos no país morando fora ou den- tro do país e nascidos no exterior morando no país. Não-residentes: nascidos no exterior morando fora do país. REGISTRO: PARTIDAS DOBRADAS (i)Contas Operacionais : fatos geradores de recebimentos ou transferências. Ex.: Exporta- ções de mercadorias. •Entrada (crédito) e saída (débito). (ii) Contas de Caixa ou Haveres e Obrigações no Exterior (HOE) : movimento de meios de pagamento à disposição do país: (a) Divisas (moedas estrangeiras); (b) Ouro monetário (aceito como Meio de Pagamento (MP) no comércio internacional); (c) Direitos Especiais de Saque (DES) - MP ou moeda em que cada país tem uma cota proporcional a seu capital junto ao FMI. É uma espécie de “cheque especial” que os pa- íses têm junto ao FMI. (d) Reservas no FMI. • Aumento (débito) e diminuição (crédito). Haveres e Obrigações no Exterior (HOE) : funciona como uma conta Caixa na Con- tabilidade privada. o Contabilidade privada: quando há ingresso de dinheiro, debita-se na conta Caixa. o Contabilização do BP: quando há ingresso de dólares no país, debita-se na con- ta HOE. Quando há saída, credita-se na conta HOE. o Variação das reservas internacionais: é dada pela conta HOE (divisas, ouro e DES em poder do BACEN ou depositados no FMI). MÉTODO DE PARTIDAS DOBRADAS CRÉDITOS: toda entrada de divisas Exportações de bens e serviços; Recebimentos de doações e indenizações de estrangeiros; Recebimentos de empréstimos de estrangeiros; Recebimentos de reembolsos de capital do estrangeiro; Vendas de ativos para estrangeiros etc. DÉBITOS: toda saída de divisas Importações de bens e serviços; Pagamentos de doações e indenizações a estrangeiros; Pagamentos de capital emprestado por estrangeiros; Reembolsos de capital a estrangeiros; Compras de ativos de estrangeiros etc.

description

Resumo economia internacional

Transcript of setorexterno

Page 1: setorexterno

Capítulo 10: GREMAUD, TONETO JR. E VASCONCELLOS (2002) Setor Externo

BALANÇO DE PAGAMENTOS: É o registro sistemático das transações entre residentes e não-residentes de um país durante determinado período de tempo. •Residentes: Possuem o centro de interesse no país. Nascidos no país morando fora ou den-tro do país e nascidos no exterior morando no país. •Não-residentes: nascidos no exterior morando fora do país. REGISTRO: PARTIDAS DOBRADAS (i)Contas Operacionais: fatos geradores de recebimentos ou transferências. Ex.: Exporta-ções de mercadorias. •Entrada (crédito) e saída (débito). (ii) Contas de Caixa ou Haveres e Obrigações no Exterior (HOE): movimento de meios de pagamento à disposição do país: (a) Divisas (moedas estrangeiras); (b) Ouro monetário (aceito como Meio de Pagamento (MP) no comércio internacional); (c) Direitos Especiais de Saque (DES) - MP ou moeda em que cada país tem uma cota

proporcional a seu capital junto ao FMI. É uma espécie de “cheque especial” que os pa-íses têm junto ao FMI.

(d) Reservas no FMI. • Aumento (débito) e diminuição (crédito). • Haveres e Obrigações no Exterior (HOE): funciona como uma conta Caixa na Con-

tabilidade privada. o Contabilidade privada: quando há ingresso de dinheiro, debita-se na conta

Caixa. o Contabilização do BP: quando há ingresso de dólares no país, debita-se na con-

ta HOE. Quando há saída, credita-se na conta HOE. o Variação das reservas internacionais: é dada pela conta HOE (divisas, ouro e

DES em poder do BACEN ou depositados no FMI). MÉTODO DE PARTIDAS DOBRADAS

CRÉDITOS: toda entrada de divisas Exportações de bens e serviços; Recebimentos de doações e indenizações de estrangeiros; Recebimentos de empréstimos de estrangeiros; Recebimentos de reembolsos de capital do estrangeiro; Vendas de ativos para estrangeiros etc. DÉBITOS: toda saída de divisas Importações de bens e serviços; Pagamentos de doações e indenizações a estrangeiros; Pagamentos de capital emprestado por estrangeiros; Reembolsos de capital a estrangeiros; Compras de ativos de estrangeiros etc.

Page 2: setorexterno

TIPOS DE TRANSAÇÕES • Transações autônomas - acontecem por si mesmas, são motivadas pelos interesses dos

agentes (empresas, consumidores, governo). • Transações compensatórias - destinadas a financiar o saldo final das transações autô-

nomas. As transações compensatórias “zeram” o saldo do Balanço de Pagamento. ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS •Dois grandes grupos: (i) Transações Correntes: movimentação de bens e serviços (ii) Movimento de Capitais: deslocamentos de moeda, créditos e títulos representativos de investimento TRANSAÇÕES CORRENTES Superavitária: •País recebe recursos para: 1) pagamento de compromissos assumidos anteriormente; 2) investimento do país no exterior e 3) aumentar reservas. Deficitária: •País possui necessidade de: 1) investimentos estrangeiros; 2) contrair empréstimos no ex-terior e 3) diminuir reservas. TRANSAÇÕES CORRENTES: 3 GRUPOS (i) Balança comercial: –Exportações FOB(+). FOB: Free On Board (Posto a Bordo)– isento de fretes e seguros. –Importações FOB(-). CIF: Cost, Insurance and Freight – Custo, Seguro e Frete. (ii) Balança de serviços: –Não-fatores: viagens, fretes, seguros etc. –Fatores: lucros, dividendos, juros etc. (iii) Transferências unilaterais: não existe contrapartida (doações, remessa de imigrantes, reparações de guerra etc.). BALANÇA COMERCIAL Principais fatores determinantes do saldo comercial EXPORTAÇÕES

• Preços externos em US$: se aumentarem, elevam X. • Preços internos em R$: se aumentarem, desestimula X e incentiva venda no merca-

do interno. • Taxa de câmbio (R$/US$): Desvalorização cambial estimula X (exportador nacional

ganha mais R$ e importador do exterior com mesma quantia em US$ compra mais produtos).

• Renda mundial: se aumentar, estimula comércio internacional e aumenta X. • Subsídios e incentivos às X: na ordem fiscal (isenções de impostos) e na ordem fi-

nanceira (taxas de juros subsidiadas, financiamento, etc.) aumentam X.

Page 3: setorexterno

IMPORTAÇÕES • Preços externos em US$: se aumentarem, diminuem M. • Preços internos em R$: se aumentarem, incentiva compra de M. • Taxa de câmbio (R$/US$): Desvalorização cambial desestimula M (importador na-

cional paga mais R$ para comprar mesma quantidade de produtos). • Renda e produto nacional: se aumentar, país aumenta M. • Tarifas e barreiras às M: Barreiras quantitativas (elevação das tarifas sobre M) e

barreiras qualitativas (proibição da M de certos produtos, entraves burocráticos e es-tabelecimento de quotas).

BALANÇA DE SERVIÇOS Subdividida em 4 subcontas: 1.Transportes e seguros: fretes e prêmios de seguros; 2.Viagens internacionais e turismo; 3.Rendas de capital: juros e lucros; 4.Diversos: gastos com representações diplomáticas, royalties, patentes, assistência técnica, comissões, aluguel de equipamentos, filmes, etc. TRANSFERÊNCIAS UNILATERAIS: Pagamentos sem contrapartida de um país para outro. 1.Remessas de migrantes para suas famílias no país de origem – enviadas (débito) e recebi-das (crédito). 2.Doações feitas por um governo para outro – receptor (crédito) e doador (débito). CAPITAIS •Movimento de Capitais: deve-se distinguir entre o que representa transação operacional e o que corresponde à fonte de financiamento do saldo do BP. •Agrupa as contas que representam modificações nos direitos e obrigações de residentes no país para com não-residentes. •Capitais Autônomos: voluntários (investimento direto, empréstimos, amortizações). •Capitais Compensatórios: contas de caixa, empréstimos de regularização e atrasados. CAPITAIS AUTÔNOMOS •Investimentos: K de residentes aplicados no exterior e K de não-residentes no país. •Investimentos diretos (aquisição de direitos de propriedade e controle de ativos) e de car-teira (títulos, ações sem controle efetivo da empresa, etc.); •Empréstimos e financiamentos de longo (+ de 10 anos) e médio (1 a 5 anos) prazos; •Empréstimos de curto prazo (menos de 1 ano): empréstimos recebidos de ou concedi-dos para outros países e financiamentos para M ou X; •Amortizações: pagamentos do principal referentes a empréstimos e financiamentos toma-dos no ou recebidos do exterior. CAPITAIS COMPENSATÓRIOS •Variações de reservas: haveres em moeda estrangeira e ouro possuídos em reserva pelo país; •Operações de regularização: operações realizadas com instituições internacionais (FMI).

Page 4: setorexterno

•MK = KA + KC Como: TC = - MK = - (KA + KC) ⇒ TC + KA = - KC ERROS E OMISSÕES •Imperfeições nas estatísticas fazem com que TC + KA ≠ - KC •Como KC é medido de forma precisa, introduz-se essa conta na parte de cima do BP. •TC + KA + Erros e omissões = - KC

ESTRUTURA DO BP (I) Balança comercial (II) Balanço de serviços (III) Transferências unilaterais (IV) Saldo do BP em TC (I + II + III) (V) Capitais autônomos (VI) Erros e omissões (VII) Saldo do BP (VIII) Capitais compensatórios

SALDO EM TC: significa quanto o país importa ou exporta de poupança para financiar a formação de capital. •TC > 0 ⇒ S > I ⇒ envia poupança para financiar I no resto do mundo (C + I < Y). •TC < 0 ⇒ S < I ⇒ recebe poupança externa para financiar I (C + I > Y). BALANÇO DE SERVIÇOS: FATORES E NÃO-FATORES •Transferência Líquida de Recursos ao Exterior: saldo das exportações e importações de bens e serviços não-fatores. •Renda Líquida Enviada ao Exterior: é o saldo dos serviços fatores mais as transferên-cias unilaterais. •TC = TLRE - RLEE INDICADORES DA SITUAÇÃO EXTERNA •Índice ou coeficiente de vulnerabilidade: relação dívida externa líquida/exportações, mostra-nos quantos anos de exportação são necessários para pagar a dívida externa. •Juros/Exportações: parcela das exportações comprometida com o pagamento de juros da dívida externa. •Reservas/Importações: quanto de importações está garantido pelas reservas do país caso não entre nenhuma divisa no país. •Grau de abertura: (exportações + importações) / PIB

Page 5: setorexterno

US$ Bilhões

Ano Exportações ImportaçõesSaldo da Balança

Comercial

Saldo da Balança de

Serviços

Saldo de Transações Correntes

Conta de Capitais

Saldo do Balanço de

Pagamentos1978 12,70 13,70 -1,00 -5,00 -5,90 9,40 3,901979 15,20 18,10 -2,90 -7,90 -10,70 7,70 -3,201980 20,10 22,90 -2,80 -10,20 -12,80 9,70 -3,501981 23,30 22,10 1,20 -13,10 -11,70 12,80 0,601982 20,20 19,40 0,80 -17,10 -16,30 7,80 -8,801983 21,90 15,40 6,50 -13,40 -6,80 2,10 -5,401984 27,00 13,90 13,10 -13,20 0,04 0,20 0,701985 25,70 13,20 12,50 -12,90 -0,20 -2,50 -3,201986 22,30 14,00 8,30 -13,70 -5,30 -7,10 -12,401987 26,20 15,00 11,20 -12,70 -1,40 -0,70 -3,001988 33,80 14,60 19,20 -15,10 4,20 3,60 7,001989 34,40 18,30 16,10 -15,30 1,00 -3,60 -3,401990 31,40 20,70 10,70 -15,40 -3,80 -4,70 -8,801991 31,60 21,00 10,60 -13,50 -1,40 -4,10 -4,701992 35,90 20,60 15,30 -11,30 6,10 25,30 30,001993 38,60 25,50 13,10 -15,40 -0,60 9,90 8,401994 43,50 33,10 10,40 -14,70 -1,70 14,20 12,901995 46,50 49,80 -3,30 -18,60 -17,90 29,30 13,501996 47,70 53,20 -5,50 -21,70 -24,30 33,00 8,701997 52,99 61,38 -8,39 -26,89 -33,05 25,86 -7,861998 51,12 57,59 -6,47 -28,80 -33,61 29,73 -7,971999 48,01 49,27 -1,26 -25,21 -25,40 17,38 -7,822000 55,09 55,78 -0,69 -25,46 -24,64 19,33 -2,26

Fonte: Conjuntura Econômica, Junho/2001

TAXA DE CÂMBIO: Transações entre países requerem compatibilização entre diferentes moedas. Relação entre moedas de diferentes países (preço da moeda nacional em termos de moeda estrangeira). Exemplo: EBR/USA = R$/US$. MERCADO CAMBIAL •Mercado cambial: mercado em que as moedas dos diferentes países são transacionadas. •Quem demanda moeda estrangeira: importadores, pessoas que possuem dívida com o exterior, multinacionais situadas no Brasil, turistas que viajam para o exterior etc. •Quem oferta moeda estrangeira: exportadores brasileiros; estrangeiros que querem in-vestir no Brasil, tomadores de empréstimo no exterior; turistas estrangeiros no Brasil etc. •Desvalorização: moeda nacional passa a valer menos em moeda estrangeira. •Valorização: moeda nacional passa a valer mais em moeda estrangeira.

Page 6: setorexterno

TAXA DE CÂMBIO REAL: Relativo de preço entre o produto estrangeiro e o produto nacional.

e = (E x P*)/P e = taxa de câmbio real. E = taxa de câmbio nominal. P* = preço do produto estrangeiro em moeda estrangeira. P = preço do produto nacional em moeda nacional. DETERMINANTES DA TAXA DE CÂMBIO •Longo prazo: competitividade •Lei do Preço Único: na ausência de barreiras, produtos homogêneos devem ter o mesmo preço em diferentes países quando medidos na mesma moeda •Ajustamento via mercado: concorrência perfeita EXEMPLO: Big Mac Preço do Big Mac em Nova York = US$ 3.00 Preço do Big Mac em São Paulo = R$ 6,00 E x US$ 3.00 = R$ 6,00 E = 2,00 R$/US$ PARIDADE DO PODER DE COMPRA: E = P/ P* onde: P = nível geral de preços internos; P* = nível geral de preços no exterior COMPORTAMENTO DA TAXA DE CÂMBIO •∆ E = p - p* •Comportamento da taxa de câmbio segue o diferencial entre a inflação interna e a inflação externa •Desvalorização real: ∆E > p - p* (aumenta a competitividade) •Valorização real: ∆E < p - p* (diminui a competitividade) DETERMINAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO •Curto prazo: Arbitragem. •Arbitragem: mecanismo pelo qual o retorno dos diferentes ativos se igualam. •Taxa de câmbio no curto prazo reflete o movimento de capitais. EXEMPLO: Considere 2 alternativas de aplicação:

1. Brasil t

R$ 1,00 2. Exterior

t R$ 1,00

↓ R$ 1,00

E

t + 1

R$ 1,00 (1 + i)

t + 1 [R$ 1,00 (1 + i*)]. EF/E

↑ R$ 1,00 x (1 + i*)

E

ARBITRAGEM •Retorno de aplicar no Brasil = i •Retorno de aplicar no exterior = i* + ∆E •Arbitragem: i = i* + ∆E Se i > i* + ∆E : entrada de recursos

Page 7: setorexterno

Se i < i* + ∆E : saída de recursos •EF = valor esperado para taxa de câmbio no futuro Dado EF : i = i* + [(EF - E)/E] •Se i > i* + ∆E ⇒ entrada de capital ⇒ valoriza taxa de câmbio hoje até que expectativa de desvalorização iguale o retorno. •Se i < i* + ∆E ⇒ saída de recursos ⇒ desvaloriza taxa de câmbio até que a nova desvalo-rização esperada iguale o retorno. REGIMES CAMBIAIS •Taxa de Câmbio Fixa: Banco Central se compromete a comprar e vender moeda estran-geira à taxa estipulada. –Ajustamento do mercado via quantidade: BACEN deve ter reservas suficientes e “com-promete” controle monetário. •Taxa de Câmbio Flutuante: taxa se ajusta para igualar oferta e demanda –Não existe desequilíbrio no BP –Isola política monetária (Fixa X Flutuante: Volatilidade) •Bandas cambiais: oscilação da taxa de câmbio em torno de uma taxa de referência até certos limites. •Flutuação suja (dirty floating): taxas flexíveis administradas ou controladas. •Currency board: regime de câmbio fixo em que a oferta de moeda está ancorada no vo-lume de reservas cambiais. •Taxa de câmbio flutuante, com livre mobilidade de capital: –Política fiscal ineficaz –Política monetária eficaz •Taxa de câmbio fixa: –Política fiscal eficaz –Política monetária ineficaz QUADRO: REGIMES CAMBIAIS Câmbio Fixo Câmbio Flutuante (Flexível) Características • BACEN fixa a taxa de câmbio.

• BACEN é obrigado a disponibili-zar as reservas cambiais.

• O mercado (oferta e demanda de divisas) determina a taxa de câmbio.

• BACEN não é obrigado a disponibi-lizar as reservas cambiais.

Vantagens • Maior controle da inflação (custo das importações estáveis).

• Política monetária mais independente do câmbio.

• Reservas cambiais mais protegidas de ataques especulativos.

Desvantagens • Reservas cambiais vulneráveis a ataques especulativos.

• A política monetária (taxa de juros) fica dependente do volume de reservas cambiais.

• A taxa de câmbio fica muito depen-dente da volatilidade do mercado fi-nanceiro nacional e internacional.

• Maior dificuldade de controle das pressões inflacionárias, devido às desvalorizações cambiais (pass-through)