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Universidade do MinhoInstituto de Educao e Psicologia

Sandra Daniela Ferreira Barbosa

Servios Educativos Online nos Museus: Anlise das Actividades

Outubro de 2006

Universidade do MinhoInstituto de Educao e Psicologia

Sandra Daniela Ferreira Barbosa

Servios Educativos Online nos Museus: Anlise das Actividades

Tese de Mestrado em Educao rea Tecnologia Educativa

Trabalho efectuado sob a orientao de Doutora Ana Amlia Amorim Carvalho

Outubro de 2006II

DECLARAO

Nome: Sandra Daniela Ferreira Barbosa Endereo electrnico: [email protected]

Servios Educativos Online nos Museus: Anlise das Actividades

Orientadora: Doutora Ana Amlia Amorim Carvalho

Ano de Concluso: 2006

Dissertao de Mestrado em Educao

rea de Especializao em Tecnologia Educativa autorizada a reproduo integral desta dissertao, apenas para efeitos de

investigao (mediante declarao escrita do interessado, que a tal se compromete).

Universidade do Minho, 25 de Outubro de 2006 Assinatura:

III

minha Av!

IV

Agradecimentos

Gostaria de agradecer de uma forma muito especial a um conjunto de pessoas que, das mais variadas maneiras contriburam para a realizao deste trabalho. Doutora Ana Amlia, pelo profissionalismo, pela dedicao e pelo empenho com que sempre me recebeu; Aos Professores Doutores Jos Lus Ramos da Universidade de vora, Antnio Moreira da Universidade de Aveiro, Fernando Costa da Universidade de Lisboa, pela colaborao prestada na validao do instrumento de recolha de dados; Aos colegas do Curso de Mestrado pela amizade e pela ajuda que me concederam: Carina, ao Joo Paulo e ao Alcino; Aos colegas das escolas onde trabalhei pela compreenso e pela disponibilidade; Aos meus pais, pela sua contnua presena; Aos meus tios, pelo afecto, pelo carinho e pelo amor com que sempre me acolheram; minha irm, pela amizade genuna, pela pacincia e pela compreenso;

Agradeo carinhosamente ao meu marido Andr por tudo, pelo amor, pela serenidade, pela companhia, por fazer com que tudo seja possvel.

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Resumo

Servios Educativos Online nos Museus: Anlise das Actividades

O presente trabalho de investigao teve como objectivo analisar as actividades dos servios educativos nos sites dos museus portugueses. Estas actividades podem funcionar como uma vertente educacional, uma forma ldica ou informal de aprendizagem dos contedos do museu, uma forma de preparao da visita ao museu ou, posteriormente, na sala de aula como prolongamento da actividade iniciada na visita ao museu in loco. Para a anlise dos sites foi concebida uma Grelha de Anlise das Actividades Online dos Servios Educativos nos Museus. Esta grelha integra seis dimenses: Identificao do Museu, Informao Geral, Tipos de Actividades, Funcionalidades, Descrio Temtica e Grfica das Actividades e Apoio ao Utilizador. Cada uma das dimenses inclui subdimenses, totalizando 73 itens. Este instrumento foi avaliado por especialistas. A amostra integrou 115 sites de museus. Da anlise realizada, verificmos que pouca informao disponibilizada, no se tirando partido das potencialidades do museu online, limitando-se o site informao bsica de apresentao institucional. Constatou-se que s surgem Actividades em cinco museus online. As Funcionalidades disponveis nos servios educativos so poucas, incidindo sobre a anlise de peas e sobre a apresentao de documentao informativa para professores/educadores. excepo de um caso, todas as actividades online esto directamente ligadas com a temtica do Museu em anlise. As temticas inserem-se nas artes decorativas, histria religiosa, metrologia (instrumentos de medio) e astronomia. No que concerne ao aspecto Grfico dos sites analisados (n=115) verificou-se que a grande maioria dos sites apresenta fundo com cor (97%) em detrimento de padro, 74% dos sites usa caracteres sem serifa e 42% dos sites apresenta o espaamento entre os pargrafos superior ao das linhas, o que facilita a leitura. O Apoio ao Utilizador s apareceu em 17% dos sites.

VI

Abstract

Education Online at Museums: Analysis of Activities

Museums around the world offer online activities with several purposes such as educational, entertainment, edutainment or they can be used to prepare the visit to the museum. This research analyses the educational activities in the Portuguese museums Websites. To analyse those activities, a checklist was developed based on literature review. This checklist integrates six dimensions: Museum Identification, General Information, Type of Activities, Functionalities, thematic and Interface Description of the Activities, and Support to Users. Each dimension includes several subdimensions, in a total of 73 items. This checklist was validated by experts. The sample integrates 115 museums websites. Results indicated that only 5 museums have online activities. The functionalities available in the education online are very few. Some give information about museum contents and about activities to be developed by teachers and educators with their students.With the exception of one case, all the online activities are connected with the contents of the museum.

Those contents include decorative arts, religion, metric system, and astronomy. Concerning to the interface (n=115) we verified that the majority of the Websites prefer background colour (97%) instead of a background pattern, 74% of the websites have sans-serif fonts and 42% present a larger space between paragraphs than lines, which makes the reading easier. Only 17% of the Websites includes support to users.

VII

ndice

Captulo 1. Introduo .........................................................................1 1.1. Contextualizao ......................................................................2 1.2. Apresentao do problema ........................................................7 1.3. Objectivos do estudo ................................................................8 1.4. Importncia do estudo ..............................................................8 1.5. Limitaes do estudo ............................................................... 10 1.6. Estrutura da dissertao ........................................................... 10 Captulo 2. O museu: in loco e o museu online ...................................12 2.1. Breve histria do aparecimento do museu .................................. 13 2.2. Histria do museu em Portugal ................................................. 21 2.3. Funo educativa dos museus ................................................... 28 2.3.1. Museum Experience ....................................................... 35 2.4. Informatizao do museu ......................................................... 41 2.5. Museus e Internet ................................................................... 44 2.6. Aparecimento do museu virtual ................................................. 47 2.7. Podcasts no museu .................................................................. 50 2.8. Componentes do museu online ................................................. 53 2.8.1. Homepage .................................................................... 53 2.8.2. Aspecto da interface ...................................................... 55 2.8.3. Interactividade .............................................................. 56 2.8.4. Actividades ................................................................... 57 2.8.5. Usabilidade ................................................................... 58 2.8.6. Acessibilidade ............................................................... 58 Captulo 3. Metodologia ......................................................................60 3.1. Descrio do estudo ................................................................. 61 3.2. Seleco da populao e amostra .............................................. 61VIII

3.3. Seleco da tcnica de recolha de dados .................................... 63 3.4. Elaborao e avaliao da grelha ............................................... 64 3.4.1. Identificao ................................................................. 64 3.4.2. Informao gera ...........................................................65l 3.4.2.1. Contactos ........................................................... 65 3.4.2.2. Informao e pesquisa ......................................... 65 3.4.2.3 Acessibilidade ...................................................... 67 3.4.3. Tipos de actividades ...................................................... 68 3.4.4. Funcionalidades ............................................................ 69 3.4.5. Descrio temtica e grfica das actividades .................... 70 3.4.6. Apoio ao utilizador ......................................................... 73 3.4.6.1. Ajuda ................................................................. 73 3.4.6.2 Feedback ao utilizador .......................................... 74 3.5. Recolha de dados .................................................................... 74 3.6. Tratamento de dados ............................................................... 75 Captulo 4. Apresentao e anlise de dados .....................................76 4.1. Localizao dos museus no pas ................................................ 77 4.2. Informao geral ..................................................................... 78 4.2.1. Data de criao e data de actualizao ............................ 78 4.2.2. Contactos ..................................................................... 79 4.2.3. Informao e pesquisa ................................................... 81 4.3. Interface ................................................................................ 82 4.3.1. Fundo .......................................................................... 83 4.3.2. Caracteres .................................................................... 84 4.3.3. Espaamento entre linhas e pargrafos 8 ...........................4 4.4. Formatos usados nos sites ........................................................ 84 4.5. Menu ...................................................................................... 85 4.6. Contedos .............................................................................. 86 4.6.1. Funcionalidades relativas obra ..................................... 86 4.7. Tipos de actividades ................................................................ 88 4.7.1. Informao temtica das actividades ............................... 88

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4.7.2. Descrio das actividades ............................................... 89 4.7.2.1. Casa-Museu Dr. Anastcio Gonalves .................... 90 4.7.2.2. Museu Nacional Soares dos Reis ........................... 94 4.7.2.3. Museu de So Roque ........................................... 96 4.7.2.4 Ncleo Museolgico-Metrologia Casa da Balana ..... 100 4.7.2.5. Centro de Cincia Viva de Constncia ................... 103 4.7.3. Interactividade nas actividades ...................................... 106 4.8. Apoio ao utilizador .................................................................. 106 4.8.1. Ajudas ........................................................................ 107 4.8.2. Feedback ..................................................................... 107 4.9. Acessibilidade ........................................................................ 107 Captulo 5. Concluso ........................................................................108 5.1. Introduo ............................................................................. 109 5.1.1. Resultados do estudo .................................................... 109 5.2. Implicaes do estudo ............................................................. 111 5.3. Sugestes de investigao ....................................................... 112 6. Referncias Bibliogrficas .............................................................115 7. Anexos Anexo A - Mensagem para os Avaliadores da Grelha ................................. 123

Anexo B - Grelha de anlise das actividades online dos servios educativosnos museus ......................................................................................... 126 Anexo C - Mensagem aos museus para verificao da utilizao do email ... 130 Anexo D - Lista dos museus analisados ................................................... 132

X

ndice de Grficos, Tabelas Quadros e Figuras

ndice de Grficos Grfico 4.1 - Distribuio dos museus por distrito (N=115) ................. 77 Grfico 4.2 - Data de criao e Data de actualizao dos sites dos museus (N=115) ....................................................................................... 78 Grfico 4.3 - Contactos (N= 115) ..................................................... 80 Grfico 4.4 Informao e facilidade de pesquisa (N=115) .................... 81 Grfico 4.5 - Informao sobre as actividades (N=115) ...................... 82 Grfico 4.6 - Fundo (N=115) ........................................................... 83 Grfico 4.7 - Cores predominantes (N=115) ..................................... 83 Grfico 4.8 - Aspectos da interface (N=115) ..................................... 84 Grfico 4.9 - Formatos usados (N=115) ........................................... 85 Grfico 4.10 - Representao grfica do menu (N=115) ..................... 85 Grfico 4.11 - A pea e o seu contexto (N=115) ................................ 86 Grfico 4.12 - Funcionalidades relativas obra (N=115) ................... 87 Grfico 4.13 - Informao sobre as actividades (N=115) .................... 87 Grfico 4.14 - Tipos de actividades (N=115) ..................................... 88 Grfico 4.15 - Interactividade nas Actividades (N=115) ..................... 106 Grfico 4.16 - Apoio ao Utilizador (N=115) ...................................... 106 Grfico 4.17 - Acessibilidade (N=115) ............................................. 107 ndice de Tabelas Tabela 4.1 - Ano de criao dos sites dos Museus (N=115) ................. 79 Tabela 4.2 - Nmero de Respostas Mensagem de Correio Electrnico (N=114) ....................................................................................... 80

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ndice de Quadros

Quadro 2.1 Nveis de interactividade de uma pgina Web ................... 56 Quadro 4.1 - Temticas das actividades online nos Museus ................. 89 ndice de Figuras Figura 2.1 Relao tecnologia, aprendizagem, escola e museus ........... 51 Figura 4.1 Homepage da Casa-Museu Dr. Anastcio Gonalves ........... 90 Figura 4.2 Pgina das actividades online ........................................... 91 Figura 4.3 Actividade online: jogo da memria .................................. 92 Figura 4.4 Actividade online: puzzle ................................................. 92 Figura 4.5 Pgina de ajuda da actividade online ................................ 93 Figura 4.6 Homepage do Museu Nacional Soares dos Reis .................. 94 Figura 4.7 Pgina da actividade online: labirinto ................................ 95 Figura 4.8 Homepage do Museu de So Roque .................................. 96 Figura 4.9 Actividade online: jogo da memria/associao de sons e palavras ........................................................................................ 97 Figura 4.10 Actividade online: palavras cruzadas ............................... 98 Figura 4.11 Actividade online: jogo da memria ................................ 98 Figura 4.12 Actividade online: composio livre/pintura ..................... 99 Figura 4.13 Homepage do Ncleo Museolgico Metrologia-Casa da Balana .................................................................................................... 100 Figura 4.14 Pgina de entrada para actividade online ........................ 101 Figura 4.15 Pgina de actividade online do Ncleo Museolgico Metrologia-Casa da Balana ........................................................... 102 Figura 4.16 Actividade online: jogo da glria .................................... 102 Figura 4.17 Regras do jogo ............................................................ 103 Figura 4.18 Homepage do Centro de Cincia Viva de Constncia ........ 104 Figura 4.19 Pgina de identificao do jogador ................................. 104 Figura 4.20 Actividade online: questionrio de escolha mltipla .......... 105 Figura 4.21 Pginas de Feedback actividade online ......................... 105

XII

Captulo 1

Introduo

O presente captulo enquadra o estudo realizado, comeando por contextualizar a temtica da investigao (1.1), apresentar o problema (1.2), indicar os objectivos do estudo (1.3), mencionar a importncia do estudo (1.4) e as limitaes do estudo (1.5) e finalmente apresentar a estrutura da dissertao (1.6).

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1. Introduo

1.1. Contextualizao A funo educativa sempre se adequou aos padres sociais dominantes de cada poca. Assim nas sociedades pr industriais a educao servia o propsito de preparao da reduzida elite reinante facultando-lhe os instrumentos necessrios a uma governao lcida e inspirada na arte poltica. J nas sociedades industriais o modelo educativo foi profundamente determinado pela necessidade de servir as exigncias do desenvolvimento econmico, atravs do fornecimento dos recursos humanos qualificados, e de criar uma infraestrutura humana apetrechada para viabilizar o funcionamento do EstadoNao. Nas ltimas dcadas assistimos ao surgimento de um novo paradigma dominante de sociedade a Sociedade da Informao construdo sob o ritmo frentico das novas tecnologias da informao e da comunicao que vm alterando radicalmente modos de produo, estilos de vida, estruturas de valores e equilbrios de poder no mundo.

A Sociedade da Informao exige uma contnua consolidao e actualizao dos conhecimentos dos cidados. O conceito de educao ao longo da vida deve ser encarado como uma construo contnua da pessoa humana, dos seus saberes, aptides e da sua capacidade de discernir e agir. A escola desempenha um papel fundamental em todo o processo de formao de cidados aptos para a sociedade da informao e dever ser um dos principais focos de interveno para se garantir um caminho seguro e slido para o futuro (MSI, 1997: 43).

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1. Introduo

As novas tecnologias de comunicao tm evoludo extraordinariamente nos ltimos anos. Comunicar hoje, podemos dizer, mais fcil, mais verstil, mais rpido e mais eficaz do que nunca. O ensino no pode, pois, ficar indiferente s portas que so abertas por essas tecnologias de comunicao e informao. O acesso cultura e informao transmitida por estas novas tecnologias requer duas condies bsicas: em primeiro lugar, ter os recursos econmicos para compr-las, em segundo lugar, preciso possuir conhecimentos necessrios para utilizar as novas tecnologias de uma maneira inteligente. E isso constitui um novo desafio educativo.

Na sociedade moderna o conhecimento um bem de valor inestimvel, pelo que necessrio promover a criao de mecanismos que contribuam para a sua consolidao e difuso. Aceder informao disponvel constituir uma necessidade bsica para os cidados e compete s diversas entidades garantir que esse acesso se efectue de forma rpida e eficaz e numa base equitativa. A Sociedade da Informao uma sociedade do primado do saber (MSI,1997: 37).

A formao dos utilizadores das novas tecnologias um problema no mbito do conhecimento, isto , obriga-nos a rever os conceitos tradicionais de pessoa culta e alfabetizada. At hoje, uma pessoa culta era aquela que dominava os cdigos de acesso cultura escrita ou impressa (saber ler) e que, por sua vez, possua as capacidades para expressar-se atravs da linguagem textual (saber escrever). No entanto, hoje em dia, estes conhecimentos parecem insuficientes, pois s permitem ter acesso a uma parte da informao: aquela que est acessvel atravs dos livros. Uma pessoa analfabeta tecnologicamente fica margem da rede de comunicao que as novas tecnologias oferecem.

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1. Introduo

Por outro lado, uma pessoa verdadeiramente culta e alfabetizada em relao ao acesso informao atravs das novas tecnologias precisa, necessariamente, de ter um conjunto de conhecimentos e habilidades especficas que lhe permitam procurar, seleccionar, analisar, compreender e recriar a enorme quantidade de informao a que se tem acesso atravs dos novos meios. Mas precisa tambm, alm disso, de desenvolver valores e atitudes perante a tecnologia de modo a que no caia nem num posicionamento tecnofbico, nem numa atitude de aceitao acrtica e submissa de tudo o que oferecido pelas novas tecnologias. Parece ento que necessrio defender a mudana do significado e sentido da educao relativamente qualificao e formao no domnio da tecnologia. Isso deve implicar o desenvolvimento de processos formativos orientados para que os cidados apreendam, saibam lidar com a informao (procurar, seleccionar, elaborar e difundir), se qualifiquem profissionalmente para saberem usar as novas tecnologias da informao e tomem conscincia das suas implicaes na nossa sociedade. O discurso actual volta das novas tecnologias (redes de computadores, satlites, televiso por cabo, multimdia, videoconferncia) no deixa dvidas que a sua presena em qualquer actividade humana na economia, na cultura, nas organizaes, na comunicao, na administrao central, etc. imparvel, e afirma que a sua utilizao est a provocar a mudana da sociedade e a melhoria da qualidade de vida dos cidados. O impacto das tecnologias da informao na sociedade to poderoso que j se afirma que estamos dentro de um novo perodo ou etapa da civilizao humana: a chamada Sociedade da Informao ou do Conhecimento. O discurso de aceitao e de entusiasmo sobre as bondades sociais, culturais e educativas das novas tecnologias, tambm tm influenciado o nosso discurso pedaggico dos ltimos tempos, e de uma maneira particular a parte didctica. Descobrimos que as novas tecnologias da informao facilitam de forma espectacular a aprendizagem humana e consequentemente incrementam a eficcia dos processos de ensino.

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1. Introduo

O acesso cultura e informao transmitida por estas novas tecnologias requer duas condies bsicas. Em primeiro lugar, ter os recursos econmicos para compr-las. Porm, nos dias de hoje, o investimento elevado para um rendimento de nvel mdio, pois envolve a aquisio de hardware e software, subscrio a um Internet provider, linha telefnica, etc. Em segundo lugar, preciso possuir conhecimentos necessrios para utilizar as novas tecnologias de uma maneira inteligente. E isso constitui num novo desafio educativo. A planificao de programas especficos para grupos organizados tem vindo a aumentar consideravelmente, tornando mais evidente e estreita a relao entre o papel educativo dos museus (a sua misso pedaggica) e a formao cultural de cada indivduo. Os museus na sua busca incessante de encontrar o elixir ideal na conquista de novos pblicos, tm vindo a sentir a necessidade de buscar nas novas tecnologias um complemento dinmico, mas sempre educativo, de simbiose com os visitantes. Ainda no h muitos anos, o visitante do Museu percorria os espaos museolgicos e deleitava-se com as peas. Para ajud-lo a interpret-las, havia e h legendas que fornecem elementos informativos e, em muitos casos um guia que, atravs da palavra e de modo mais ou menos cativante, ajuda a descodificar a obra de arte sobre a qual repousavam os olhos do pblico. Visitado o Museu, quem se quisesse deleitar em casa com o que tinha visto poderia sempre comprar o roteiro das coleces, no qual as peas principais aparecem fotografadas e descritas. Nalguns museus, com servios educativos actuantes, havia e h visitas especficas para os mais jovens e mesmo publicaes apropriadas a dar a conhecer as coleces: roteiros pedaggicos, roteiros temticos, puzzles, folhetos, livros de colorir, etc. O Museu um lugar especial, extraordinrio, um lugar diferente, demarcado e separado da vida quotidiana. Ele um lugar de tesouros, espao que nos leva a reconstruir, a imaginar e a construir novas vises do mundo, narraes da vida, discursos sobre o passado.

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1. Introduo

Este espao delimitado procurado por pessoas como lugar de visita, um lugar pblico que no pertence a ningum, por ser patrimnio de todos. Um Museu d lugar curiosidade, porque nele se encontra o tpico e o diferente, o significativo por ser comum e o especial por ser nico. Au dbut du XXe sicle, quelques directeurs de muse avaient compris quen ouvrant ses portes au public le muse assumait des responsabilits ducatives. Ils cherchaient dj des moyens de faciliter la dmarche des visiteurs. Cest ainsi que des muses organisrent des confrences publiques et des visites destines aux groupes scolaires (Allard & Boucher: 22). Mas os tempos evoluram e, hoje, em cada lar ponteia uma ou mais televises, consola de jogos e, claro, o computador ligado Internet. Cientes desta apetncia dos mais jovens pelas novas tecnologias, ou seja, pelos meios interactivos onde a imagem em movimento e o som so reis, os museus comearam a sentir a necessidade de utilizar as imagens e o som para despertar nos jovens o interesse pela histria, pelas estrias das obras de arte que tm sua guarda. De facto vrios so os museus que utilizam os seus sites para fazer chegar a um pblico mais numeroso as suas coleces. Conscientes do facto que este pode ser um meio eficaz de cativar e fidelizar o(s) pblico(s), acreditamos que a aposta na utilizao das novas tecnologias da informao para as suas aces educativas facilitar a aproximao do museu comunidade. As inovaes virtuais sero, assim o esperamos, num futuro prximo, aproveitadas para expor as suas peas, mas tambm para criar actividades para o pblico mais pequeno. Com a inteno de atender diversidade de necessidades e expectativas dos visitantes, os museus no podem deixar de apostar na concepo de programas para o pblico mais jovem.

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1. Introduo

Por estas e por outras razes, achamos que o museu no deve ser um espao observado, mas tambm vivido por quem o visita in loco ou via ciberespao. Consideramos que a visita ao site pode funcionar como uma pr-visita ao museu ou como uma forma de aprender sobre as peas existentes no mesmo. Hoje em dia, j possvel a partir do computador da escola ou de casa, o professor ou os pais prepararem uma visita a este espao cultural. Pois os servios educativos dos museus j disponibilizam material pedaggico para antes, durante e depois da ida ao museu. Podendo assim actuar como uma preparao para a visita in loco, dando a conhecer o que l podemos encontrar. Virtual museums and exhibits-electronic

representations of art and artifacts-offer children a new kind of learning experience. Visits or tours can take place wherever there's a computer connected to the Internet. The sites are educational, informative, and entertaining. Many sites have interactive activities for children as well as connections to other museums around the world. Children and their families can virtually travel the world exploring and learning together (Greene, 1998: 3).

1.2. Apresentao do problema Hoje em dia sabemos que aos museus no compete apenas expor as suas peas, seu dever e sua obrigao divulg-las da melhor forma fazendo-as chegar a um pblico mais alargado. Acreditamos que as tecnologias da informao so uma realidade inquestionvel e oferecem importantes e variados benefcios a quem as utiliza. Quando bem usadas, estas podero funcionar como um bom instrumento de auxlio dentro e fora do museu, podero melhorar o nvel de comunicao

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1. Introduo

entre o museu e os seus pblicos mas tambm ao nvel pedaggico e ldico fomentar a aprendizagem informal dos mais jovens. de importncia vital que a preparao das actividades educativas na Web seja feita de um modo inovador e criativo como forma de sensibilizao e encantamento para a criao e captao de novos e assduos pblicos. Tornou-se prioritrio uma investigao sobre o nmero de museus que a nvel nacional dispe de site online. Em particular, pretendemos analisar os servios educativos identificando o tipo de actividades que os museus nos oferecem online. Proporcionaro as actividades a descoberta da arte de uma forma divertida atravs do aprender jogando? No contexto da investigao, considerou-se site analisvel todo aquele que apresentava informao relativa aos museus, contendo, ou no, actividades para crianas online.

1.3. Objectivos do estudo Este estudo pretende estudar os sites disponibilizados pelas instituies museolgicas portuguesas. nosso propsito: 1. Identificar e caracterizar globalmente os sites dos museus portugueses 2. Analisar os servios educativos online

1.4. Importncia do estudo Em 1455, a humanidade assistiu ao dealbar da primeira revoluo do conhecimento. A inveno da imprensa, por Johann Gutenberg, tornou a informao mais disponvel do que nunca. Cerca de 500 anos depois, fomos atingidos pela segunda, quando a rdio e a televiso

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1. Introduo

comearam a dominar a nossa vida. O incio dos anos 90 marcou indelevelmente o comeo da terceira. Como foi recentemente publicado na revista Times, em vez de 500 canais de TV, agora temos milhes de websites.1 (Nordstrm & Ridderstrle,2005: 29).

As tecnologias de informao esto presentes no nosso dia-a-dia, da forma mais formal ou informal, elas esto em qualquer recanto proporcionando uma maior facilidade de acesso ao universo do conhecimento. A funo primria de qualquer Website a de publicar informao para que esta possa ser acedida a partir do exterior, pela comunidade de indivduos interessados em tais contedos. (Oliveira, 2003:12). Actualmente, a maioria dos organismos pblicos contribu para a Sociedade da Informao quando disponibiliza online contedos relevantes para toda a sociedade, em que a misso servir os cidados com um servio de qualidade. Tal como referimos na definio de museu (cf. Cap. 2), este, uma instituio que est ao servio do pblico e, por conseguinte, enquanto instituio pblica tem o dever de partilhar os conhecimentos com o maior nmero de pessoas. Para ir ao encontro deste pressuposto e semelhana de outras instituies os museus tm vindo a aderir construo de websites por forma a aproveitar a qualidade do servio que esta tecnologia cidado. Conforme se sugere no ttulo da dissertao Servios Educativos Online nos Museus: Anlise das Actividades, pretendemos dar a conhecer dos museus portugueses, os que disponibilizam site na Internet com contedos relativos s actividades online para crianas. Lembramos que estamos a reflectir sobre uma temtica recente que nunca foi estudada e investigada, cujos resultados aqui apresentados podem servir de auxlio e estmulo a futuras investigaes da mesma rea de estudo.1

presta ao

In Time Magazine, edio do milnio. 9

1. Introduo

Foi portanto nosso objectivo comear a levantar o vu e tentar perceber at que ponto as entidades museolgicas usavam as tecnologias da informao em seu proveito e em proveito dos seus pblicos.

1.5. Limitaes do estudo Como qualquer projecto de investigao, tambm este encontrou algumas limitaes e condicionantes motivadas por factores diversos. Desde logo, a dificuldade sentida no levantamento do nmero de museus com pgina online. A esta primeira dificuldade seguiu-se o nmero diminuto de sites com actividades online. No entanto, este trabalho pode vir a despoletar o empenho dos museus pela necessidade de disponibilizarem actividades educativas online.

1.6. Estrutura da dissertao A dissertao encontra-se dividida em cinco captulos. O primeiro captulo contextualiza o estudo, apresenta o problema, os objectivos do estudo, referindo a sua importncia e as suas limitaes, terminando com a apresentao da estrutura da dissertao. O segundo captulo, intitulado O museu in loco e o museu online, inicia com uma breve histria do aparecimento do museu (2.1), apresentando de seguida, uma resenha histrica sobre o museu em Portugal (2.2). Refere-se a funo educativa dos museus (2.3) e explicita-se a museum experience. Enquadra-se a informatizao do museu (2.4), o acesso ao museu atravs da internet (2.5) e o aparecimento do museu virtual (2.6). De seguida, descrevese a insero dos podcasts no museu (2.7), terminando o segundo captulo com as componentes do museu online (2.8). No terceiro captulo, o da Metodologia, explicita-se a metodologia utilizada ao longo do estudo, iniciando com a descrio do estudo (3.1), seleco da

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1. Introduo

populao e amostra (3.2), seleco da tcnica de recolha de dados (3.3) e elaborao e avaliao da grelha (3.4). O captulo quarto dedicado Apresentao e anlise de dados. Iniciamos com a localizao dos museus no pas (4.1), apresentamos a informao geral (4.2) que enquadra a data de criao e data de actualizao, os contactos e a pesquisa. De seguida, analisa-se a interface (4.3) que enquadra aspectos como: fundo, caracteres e espaamento entre linhas e pargrafos, caracterizam-se os formatos usados nos sites (4.4), o menu (4.5) e os contedos (4.6). Seguidamente, analisaram-se os tipos de actividades (4.7), que aborda a informao temtica das actividades, a descrio das actividades e a interactividade nas actividades. Caracterizamos o apoio ao utilizador (4.8), entre os quais as ajudas e o feedback, finalmente, analisamos a acessibilidade (4.9). O quinto captulo apresenta a Concluso da investigao (5.1), as implicaes do estudo (5.2) e sugestes para prximas investigaes (5.3).

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Captulo 2

O museu in loco e o museu online

"Notre relation avec

lart, depuis plus dun sicle, na

cess de sintelectualiser. Le muse impose une mise en question de chacune des expressions du monde quil rassemble, une interrogation sur ce qui les rassemble. Au plaisir de lil la sucession, lapparente contradition des coles ont ajout la conscience dune queste passione, dune recration de lunivers en face de la cration. Aprs tout, le muse est un des lieux qui donnent la plus haute ide de lhomme" (Malraux, 1965: 13). Ao longo do captulo que agora iniciamos, O museu in loco e o museu online, vamos abordar o aparecimento do museu no mundo (2.1) e em Portugal (2.2), explicitamos a funo educativa do museu (2.3) para, de seguida, abarcarmos o conceito de "museum experience". Refere-se a informatizao do museu (2.4), abordamos a relao dos museus e Internet (2.5), o aparecimento do museu virtual (2.6) e os podcasts no museu (2.7). Finalmente, referimos as componentes que um site de museu deve apresentar online.

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2.1. Breve histria do aparecimento dos museus A palavra museu teve diferentes significados ao longo dos sculos. Na antiguidade clssica a palavra mouseion significava templo dedicado s musas. Estas eram as deusas da inspirao e da aprendizagem e protectoras das artes em Atenas. Etimologicamente derivado do grego mouseion, o termo museu referia-se ao templo das Musas, e, por extenso, pequena colina de Atenas consagrada tambm as Musas (Coelho, 1996: 365). Para a histria da museologia, foi em Alexandria que apareceu o primeiro museu organizado. Na concepo alexandrina (Egipto, sc. III a. C., perodo em que esta cidade era a mais preeminente na rea do conhecimento, no mediterrneo) o museu desempenhou funes de biblioteca, academia, centro de investigao e retiro contemplativo centro cientfico e universal do saber. O museu de Alexandria constitua uma comunidade de sbios subsidiados pelo mecenato real, isto , (dispensados dos trabalhos de subsistncia para se consagrarem ao estudo). Uma boa parte dos eruditos e dos sbios que fizeram de Alexandria o principal centro do perodo helenstico, eram matemticos, astrnomos, gegrafos, filsofos ou poetas e tinham laos com esta instituio. Pode dizer-se que a famosa biblioteca foi, ao mesmo tempo que os jardins botnicos e zoolgicos, o observatrio astronmico ou o laboratrio de anatomia, um real instrumento de trabalho disposio dos elementos internos do museu. Aquella gran biblioteca, de la ms vasta, clebre y ejemplar, reuni a una comunidad de estudiosos cuyo propsito era la tesaurizacin de todos los libros del mundo, la posesin material de todo el patrimnio escrito

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universal. Almacenados en palacio, el medio milln de rollos de papiro que lleg a reunir, aportaba al reino de los Ptolomeos la dimensin universal que haba alimentado el sueo de Alejandro Magno: la ambicin de dominar toda la memoria del mundo, griega y no griega. De ah, la advocacin del centro alejandrino bajo la proteccin de las Musas, su consideracin como un mouseion (Bolans, 2002: 11).

A seguir a esta primeira ideia de museu, atravessou-se um longo perodo de inactividade museolgica. Apesar da variedade de objectos reunidos em diversas partes do mundo, a maioria das coleces era guardada pelo seu valor monetrio ou coleces de curiosidades acumuladas pelo seu valor nico. Em nenhum dos casos o motivo principal para as reunir era o enriquecimento humano. O perodo seguinte no desenvolvimento dos museus est associado ao perodo renascentista. No sculo XV Florena era o centro do desenvolvimento intelectual que apoiava as artes e as cincias. com o pensamento renascentista que se desenvolve o interesse pelo estudo da natureza, da inveno e do talento artstico. Foi nessa cidade que a palavra museu foi usada pela primeira vez para descrever a coleco dos Mdicis. Loureno de Mdicis foi um dos que enriqueceu as suas reservas com peas de ourivesaria antigas. O prestgio que se passa a dar s antiguidades leva paixo de coleccionar, no s os eruditos, mas tambm personalidades ricas. Era prtica corrente dos eruditos coleccionar o que hoje designamos de pequenas antiguidades, aqui esto includas as inscries, fragmentos de escultura, medalhas e pedras gravadas. Estes objectos eram considerados pelos humanistas como ilustraes originais de textos, que do figura s personagens, aos ambientes e a acontecimentos que evocavam os manuscritos.

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De 1537 a 1543 o historiador Paolo Giovio manda construir, prximo de Cmo (Itlia), uma casa destinada a abrigar coleces formadas por antiguidades e medalhas. Por amor antiguidade, ele consagra diferentes salas s divindades romanas, uma delas s dedicada s Musas e a Apolo, qual ele d o nome de muse. O nome j tinha sido usado pelos humanistas em lembrana de Alexandria, para designar um lugar consagrado ao estudo e s discusses dos sbios. El Renacimiento registro una fuerte intensificacin de la actividad coleccionista. Las cmaras artsticas, sobre todo la de algunos prncipes renacentistas, fueran las precursoras de nuestros modernos museos. Es, con todo, cierto que el modo como aquellos grandes amantes del arte mezclaban sus pinturas y esculturas con objetos de la historia natural y todo o tipo de objetos raros y curiosos, y las apilaban unas sobre otras hasta el techo, hace que a estas colecciones se les aplique merecidamente, desde la perspectiva de las exigencias actuales, las denominacin de cuartos trasteros (Bolaos, 2002: 46). Durante o sculo XVI, Itlia congrega grandes coleces privadas e edifcios-museu que albergam amostras botnicas e zoolgicas, objectos histricos, restos de esqueletos, curiosidades, conchas, moedas, bronzes, esculturas e pinturas. Tambm existia um grande interesse por coleces que descrevessem toda a variedade de habitats e culturas, que mais tarde, no sculo XVIII, passaram a ser conhecidos como os gabinetes de curiosidades. A partir destas primeiras coleces, desenvolveram-se outras, de mbito enciclopdico, que actualmente se conservam nos grandes museus internacionais como Louvre, British Museum, Hermitage e Prado entre outros. Do conceito renascentista e barroco de museu coleco, chega-se concepo ilustrada e moderna de museu pblico, do sc. XVIII.

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Na Europa, as grandes coleces foram constitudas por reis e nobres, instituies eclesisticas e, mais tarde, por comerciantes abastados. Situadas, geralmente, em palcios e grandes residncias privadas, apenas acessveis a um pblico seleccionado, de elite. As coleces de cincia e de histria natural estavam ao alcance dos estudantes e dos investigadores, mas no ao pblico em geral. O primeiro museu universitrio surge no sculo XVII, 1683, na Universidade de Oxford e a documentao da altura identifica-o como o museu mais antigo, construdo com tal propsito. Elias Ashmole, homem apaixonado pela histria, pela genealogia, pela botnica, pela astrologia, decidiu fazer a sua coleco na antiga Universidade de Oxford. Nas clusulas da sua doao punha como condio que a Universidade construsse um edifcio especial para abrigar as suas raridades. Esta exigncia vinha ao encontro dos interesses da Universidade nos finais do sculo XVII. A difuso do saber aparece nesta poca como uma responsabilidade pblica. Para que o povo veja e aprenda, os soberanos alinham neste movimento, persuadidos que a comunicao dos conhecimentos a condio do progresso. Em 1719 oficialmente inaugurado em S. Petersburgo o museu como um lugar pblico. uma iniciativa de Pedro o Grande, ele mesmo um coleccionador. Por sua conta, quis que o seu povo visse e se instrusse. Para isso comprou na Holanda e na Alemanha, vrias coleces de histria natural. O czar mandou fazer um memorando preconizando que estes espaos no servem s para satisfazer a curiosidade, mas so um meio de aperfeioar as artes e as cincias. Em Inglaterra, o Parlamento que decide em 1753, proceder compra da coleco e da biblioteca do doutor Hans Sloane, mdico da famlia real. Seis anos mais tarde o British Museum aberto ao pblico. Nestes museus, pouco a pouco, a natureza e a organizao das coleces transformou-se entrando em ruptura com a tradio da curiosidade. Passou a haver uma maior especializao no se valorizando apenas as raridades, mas tambm, os objectos comuns.

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Em 1750, o Rei Lus XV faz uma concesso, abrindo ao pblico uma galeria do Palcio do Luxemburgo. Esta dispunha de uma centena de quadros da coleco real, italianos, flamengos e franceses, apresentados de uma maneira eclctica. Durante a subida ao trono de Lus XVI, este resolveu arranjar o Louvre no s para satisfazer as reivindicaes dos artistas, mas tambm para erguer um templo aos grandes homens da nao e monarquia francesa. Enriqueceu a coleco real de obras de mestres flamengos e franceses. The development of public museums was a gradual process. The concept of private collections being made available to the public is generally considered to be a European concept of museum evolution (Edson & Dean, 1994: 4). Em Frana, nos anos de 1770 formaram-se museus pblicos a partir de coleces particulares, este conceito, acabaria por se multiplicar por toda a Europa nas dcadas que se seguiram. Com a Revoluo Francesa, o museu pblico tornou-se uma instituio necessria. Despus de la Revolucin Francesa, Napolen ampli el Palais du People para permitir que todos los ciudadanos tuvieran acceso tanto a los tesoros nacionales, ante reservados a la aristocracia, como a los botines de las conquistas militares Nochlim (1971 apud Goodman, 2000: 11).

Depois de 1789 posto em movimento um processo de apropriao dos bens nacionais. Porm, nem tudo vai correr da melhor maneira, uma vez que nem todos conseguem resistir tentao de destruir tudo o que consideravam

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pertencer ao Antigo Regime. Para assegurar a salvaguarda destas riquezas, foi criado um espao onde os objectos estivessem protegidos do seu significado religioso, monrquico ou feudal, este espao ser o museu. Durante os sculos XVIII e XIX, com o aparecimento de novos museus, surge o dilema se estes deveriam estar abertos exclusivamente aos estudiosos, investigadores e eruditos, ou, pelo contrrio, fomentar a aprendizagem do pblico em geral. De qualquer modo e, apesar do dilema, verificamos que os museus evoluram no sentido de se tornarem instituies de um maior alcance e com uma orientao pblica. No perodo de transio, os museus, muitas vezes, optaram por estar abertos ao pblico em geral, em determinados dias do ano, ou pocas. Em 1851, quando a Inglaterra realizou a primeira Exposio Universal, com as peas que foram expostas, foi criado um museu que abriu em 1856 no seu novo edifcio com uma arquitectura de ferro e de vidro. Outra das inovaes deste museu era o de estar aberto s horas de fim de tarde que mais convinham s classes trabalhadoras. Com as suas mltiplas coleces, a sua escola de arte, o seu anfiteatro e a sua biblioteca, o South Kensingthon Museum ir ser dotado de um novo edifcio na viragem do sculo e rebaptizado de Victoria and Albert Museum. Entre 1860 e 1880, Viena, Hamburgo, Estocolmo, Budapeste e Berlim seguiram o exemplo ingls e criaram museus de artes decorativas. Ao longo do ltimo quartel do sculo, atravs de inmeras iniciativas os museus fazem esforos de instruir e de se vulgarizarem. En las dcadas de 1870 y 1880 se crearon varios museos importantes en los Estados Unidos, incluyendo el Metropolitan Museum of Art, el Boston Museum of Art, el Philadelphia Museum of Art y el Chicago Art Institute. Estas instituciones estableceran firmemente el concepto del museo como institucin para la educacin pblica (Rawlins) acabando con la vieja nocin de gabinete de curiosidades (Goodman, 2000: 12).

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No sculo XIX, os valores artsticos comearam a ganhar fora, o museu comeou a adquirir, pouco a pouco, uma nova funo, a de consagrar os artistas vivos. Depois de 1818, o Estado Francs estabeleceu no Palcio do Luxemburgo, um museu de artes vivas, uma espcie de antecmara do Louvre, suportado pela administrao das Belas Artes. O desejo de ser conhecido conduziu numerosos artistas a assegurar, por legados e doaes, que as suas obras entrassem no Museu. Mas ao mesmo tempo, depois dos anos de 1870, a maior parte dos Museus Pblicos, especialmente em Frana, passavam ao lado das obras dos artistas mais novos. Manet, os impressionistas ou os psimpressionistas, fizeram muitas iniciativas exteriores, doaes, para que mais tarde fossem reconhecidos. Foi neste contexto que nasceu, nos anos de 1920, a ideia do museu de arte moderna. j no sculo XX, ps Segunda Guerra Mundial, que surge o primeiro organismo internacional exclusivamente vocacionado para a realidade museolgica ICOM Conselho Internacional dos Museus, dependente da Unesco. criado em Paris, em 1946 e este mesmo organismo que declara que: The word museums includes all collections open to the public, of artistic, technical, scientific, historical or archaeological material, including zoos and botanical gardens, but excluding libraries, except in so far as they maintain permanent exhibition rooms (ICOM, 1946). Entre 1946 e 1974 o objectivo da aco do museu variou, tal como a sua caracterizao e funes, passou de coleces de objectos a testemunhos materiais da natureza e do Homem. No entanto, em Maio de 1972, na Mesa Redonda organizada pela Unesco em Santiago do Chile, falou-se j em testemunhos representativos da evoluo da natureza e do Homem. Contudo, somente no ps segunda guerra mundial que os museus, pela primeira vez, dirigem a sua ateno para o seu pblico e o papel que deveriam

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ter junto dele. Nas concepes mais recentes, o museu surge ento como uma entidade dinmica, dialogante com o meio, um centro difusor de cultura em que o pblico est presente como parte integrante. Desde qualquer ponto de vista que se considere, a actividade museolgica s pode justificar-se, social e culturalmente, em funo do seu destinatrio o pblico. O director geral da Unesco, Federico Mayor, na inaugurao da X V Conferncia Geral do ICOM, 1972, resumiu este esforo de adequao das estruturas museolgicas s condies da sociedade contempornea da seguinte forma: A instituio distante, aristocrtica, olmpica, obcecada em apropriar-se dos objectos com fins taxonmicos vai dando lugar cada vez mais a uma entidade aberta ao meio, consciente da sua relao orgnica com o seu prprio contexto social. A revoluo museolgica do nosso tempo, que se manifesta no aparecimento de museus comunitrios, de museus sem muros, de eco-museus, de museus itinerantes ou museus que exploram as possibilidades aparentemente infinitas da comunicao moderna, tem as suas razes nesta nova tomada de conscincia orgnica e filosfica.

nesta mesma reunio que se aborda a necessidade de mudana de mentalidade dos conservadores dos museus: A transformao das actividades do museu exige uma mudana progressiva da mentalidade dos conservadores e dos responsveis dos museus, assim como das estruturas de que eles dependem. Mas em 1981, que as directrizes estabelecidas pelo ICOM definem os museus como instituies, sem fins lucrativos que, estando ao servio da sociedade, adquirem, conservam, comunicam, estudam, investigam e expem testemunhos materiais do Homem e do meio que o rodeia, para o desenvolvimento da educao e deleite dos pblicos.

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O museu torna-se assim um verdadeiro recurso educacional pblico e, sem perder qualquer uma das suas outras funes essenciais, torna-se tambm um agente cultural e recreativo. assim uma instituio multifuncional que pode servir a comunidade de vrias formas e em diversos nveis intelectuais. Como reflecte Fernndez (2002:15) pode-se falar de uma concepo prpria do sculo XX, em que o museu uma instituio organizada, viva e didctica. Esta concepo s foi possvel a partir do momento em que se superou a ideia de museu armazm, museu banco de dados ou ainda de museu laboratrio. A museum is a non-profit making, permanent institution in the service of society and of its development, and open to the public, which acquires, conserves, researches, communicates and exhibits, for purposes of study, education and enjoyment, material evidence of people and their environment. (ICOM, 2001)

2.2. Histria do museu em Portugal A histria dos museus em Portugal acompanha a evoluo da prpria sociedade e cultura portuguesa. Deste modo, teremos de recuar at ao sculo XVIII perodo que, adequadamente, tem sido designado como primeira fase da museologia portuguesa, RPM (2001). Porm, e, mesmo antes de chegar ideia de museu, temos que nos deter sobre a questo do coleccionismo. A constituio de coleces so fruto de uma moda, de uma prtica eminentemente social que aparece com o esprito enciclopedista e a cultura de salo. Ainda assim, uma coleco de objectos ou peas de arte no pode ser considerado um museu.

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O museu surge quando o objecto individualizado, singular, se dilui num todo novo, no qual adquire uma outra dimenso cultural e educativa. Esta nova dimenso realada na sua apresentao destacando aspectos da sua evoluo e funes, bem como relaes possveis com outros fenmenos. Na realidade, o museu distancia-se tambm da coleco pelo seu carcter de permanncia (Moreira, 1989: 31). No entanto, foi o acto ou prtica de coleccionar que esteve na base do surgimento de alguns ncleos museolgicos portugueses. Estes primeiros ncleos, que podemos enquadrar por finais do sculo XVIII, eram espaos privados - gabinetes e galerias acessveis a uma pequena elite, constituda por eruditos, cientistas e viajantes. A museologia portuguesa setecentista foi trilhando o seu prprio caminho em articulao com o que se fazia na Europa da altura, nomeadamente, no que respeita aos museus da cincia e da histria natural. Podemos referenciar para este perodo um pequeno grupo de museus: como refere Moreira (1989) os que advm das novas concepes pedaggicas e instalados no seio da Universidade de Coimbra Museu de Histria Natural da Universidade de Coimbra, o seu Gabinete de Fsica e Jardim Botnico; os criados junto corte Real Museu da Ajuda; os pertencentes a particulares Museu Lisbonense, Museu do Marqus de Angeja e Museu Allen; os pertencentes s sociedades eruditas Museu da Academia das Cincias que vem incorporar o Museu Maynense. somente a partir deste pequeno ncleo que podemos, com propriedade, anunciar a existncia de museus em Portugal. Estas primeiras instituies reuniam todo um conjunto de objectos ora ligados histria natural onde se acumulavam espcimes de botnica, zoologia e geologia, ora ligados cincia onde estavam guardados documentos relativos a pesquisas cientficas, relatrios de viagens, cartografia, equipamentos para a realizao de experincias e de pesquisa.

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O aparecimento dos museus pblicos em meados do sculo XIX, vai marcar o incio do segundo perodo da museologia portuguesa. tambm esta a altura a partir da qual o museu se afirma como um espao pblico e pedaggico. Lembramos que fruto da instabilidade politica e cultural do pas resultante da crise do final do Antigo Regime, este momento da nossa histria no ter sido o mais generoso para a afirmao dos museus em Portugal. Todavia, criado em 1833 e aberto ao pblico em 1840, o Museu Portuense a par do projecto de criao do Museu Naval Portugus, a criao do Panteo Nacional e das Academias de Belas Artes de Lisboa e Porto (1836) e, ainda, a criao do Museu da Artilharia (1842), podem ser consideradas como as principais instituies pblicas da museologia portuguesa oitocentista. J no incio do sculo XX, Portugal estava longe de poder acompanhar o dinamismo cultural vivido na maior parte da Europa. A instaurao da Repblica em 1910, trouxe uma nova esperana s escassas elites culturais, nomeadamente no que concerne ao investimento que era necessrio fazer pela educao e pela cultura do pas. Apesar de, j desde 1907 estar em preparao legislao relativa aos museus, somente com o Decreto n.1 de 26 de Maio de 1911 tal intuito se concretiza. Este determinava a institucionalizao de trs circunscries artsticas, em Lisboa, Porto e Coimbra, dirigidas por Conselhos de Arte e Arqueologia com a responsabilidade da guarda dos monumentos e a direco dos respectivos museus. Considerando o nmero insuficiente destes, decidiase, em Lisboa, a Diviso do Museu Nacional de Belas Artes e Arqueologia em dois museus, o Museu Nacional de Arte Antiga e o Museu Nacional de Arte Contempornea que acolheria as coleces posteriores a 1850. Alm destes, a lista dos museus da capital contemplava ainda o Museu Etnolgico Portugus e o Museu Nacional dos Coches. No Porto, determinava-se a criao do Museu Nacional de Soares dos Reis, que recebia a maior parte das coleces do velho Museu Portuense, e, em, Coimbra era fundado o Museu de Machado de Castro. Para alm da reestruturao de uns e da criao de novos museus, o decreto acima referido assinalava tambm a importncia da criao dos museus regionais. Assim, no perodo que decorre de 1912 a 1924, foram

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sendo publicados os diplomas fundadores, como aponta, Gouveia (1985 apud Silva, 2002: 75) de 13 museus regionais: os de Aveiro, vora, Faro, Bragana, Viseu, Tomar e Lamego, estes, financiados pela administrao central; os de Leiria, Braga, Abrantes e Chaves, pelas Cmaras Municipais e os de Beja e Vila Real, pelas Juntas Gerais do Distrito. Toda esta organizao do panorama museolgico advinha tambm da consequente aplicao de A Lei de Separao do Estado da Igreja (1911). A aplicao desta lei vai resultar na apropriao, por parte do Estado, de todo um conjunto de edifcios, mas sobretudo de importantes acervos que a partir desta altura passam a integrar as coleces nacionais. Olhando para a tipologia de museus criados nesta poca, constatamos que estes so museus que acolhem coleces ligadas s artes decorativas, pintura, escultura e arqueologia. Avanando no tempo, chegamos ao perodo do Estado Novo. Como j havamos referido, a histria os museus portugueses acompanha as mutaes da sociedade portuguesa. Com efeito, a ideologia do Estado Novo vai ter impacto sobre a museologia da altura. Logo em 1932, o Decreto n 20985 extingue os Conselhos de Arte e Arqueologia, ficando as suas funes sob a alada do Conselho Superior de Belas Artes, na dependncia do Ministrio da Instruo Pblica. Para Silva (2002) esta medida, fortemente centralizadora, era acompanhada por uma classificao de museus, segundo trs categorias: museus nacionais (todos em Lisboa: Arte Antiga, Arte Contempornea e Coches); museus regionais (Machado de Castro em Coimbra; Gro Vasco em Viseu; Aveiro; vora; Bragana; Lamego); museus municipais, tesouros de arte sacra e outras mais coleces, oferecendo valor artstico, histrico e arqueolgico. At ao final da dcada de 50, o regime do Estado Novo vai criar trs novos museus. Desde logo, em 1940, criado no Porto, o Museu Nacional Soares dos Reis, cujo acervo resulta da coleco do Museu Portuense e de um depsito da Cmara Municipal do Porto. Em 1948, nasce nas Caldas da Rainha, o primeiro museu com edifcio construdo de raz o Museu de Jos Malhoa e, finalmente, o Museu de Arte Popular em Belm.

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Os museus vo vivendo da sua prpria energia e do empenho daqueles que os dirigem. Aqui destacamos o papel preponderante do Museu Nacional de Arte Antiga, como modelo e dinamizador da actividade museolgica. Ainda assim, e aps uma observao mais detalhada, podemos concluir que relativamente a este perodo, no se sentiu por parte do Estado grande empenho para com este domnio da cultura. A museologia portuguesa vai na dcada de 60, a par das mutaes a que assistimos na sociedade, tambm ser alvo de grandes mudanas. O grande ponto de viragem d-se com o aparecimento da Fundao Calouste Gulbenkian e do Museu Calouste Gulbenkian, este, dotado de meios absolutamente inditos para a escala nacional. Esta instituio que em 2006 est a comemorar 50 anos de existncia, marcou, como salienta Silva (2002), pela sua capacidade econmica, a diversidade das suas iniciativas desenvolvimentistas, a clara opo pela modernidade e a sua independncia em relao ideologia do regime. Para instalar as extraordinrias coleces pertencentes ao Senhor Gulbenkian, o Conselho de Administrao vai construir um edifcio de raz. Para levar a cabo este projecto, vai reunir uma equipa multidisciplinar, constituda por arquitectos, arquitectos paisagistas, consultores, muselogos, conservadores, etc. Como refere Silva (2001), em relao ao museu, tanto no delineamento das suas diversas componentes (espaos expositivos, acolhimento, reservas, laboratrios, oficinas e servios) e respectiva articulao funcional como nas solues museogrficas adoptadas e respectivo percurso, ele beneficiava dos notveis progressos da museologia internacional entretanto ocorridos que, em geral, proclamavam o Museu como lugar de cultura visual, de forte marcao esttica, onde os vrios conjuntos de peas, mas tambm cada uma delas, deveria ser capaz de entrar em dilogo silencioso com o visitante. Com o Decreto-Lei n 46 758 de 18 de Dezembro de 1965 publicado o Regulamento Geral dos Museus de Arte, Histria e Arqueologia. Este Regulamento vai trazer algumas inovaes demonstrando, at, certo ponto, alguma maturidade e actualizao do pensamento museolgico da poca. Esta nova legislao trs consigo novas responsabilidades e exigncias, desde logo,

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foi elaborada uma lista de 21 museus dependentes do Ministrio da Educao Nacional, onde foi sistematizado o mbito das coleces dos respectivos museus, os seus objectivos, o seu papel educativo e social. Foi tambm este diploma que criou o curso de conservador de museu e definiu as competncias e sistema de recrutamento de conservadores. Ser durante a dcada de 60 que vo ser fundados algumas instituies museolgicas fundamentais para a preservao do patrimnio nacional. Em 1962, inaugurado o Museu Monogrfico de Conmbriga, que sofrer uma remodelao na dcada de 70 e ser reaberto ao pblico em 1985. O elevado conhecimento dos seus directores e o seu grau de exigncia fizeram deste museu uma escola exigente para conservadores e arquelogos de todo o pas. Como aponta Silva (2002), sob o impulso da Fundao Calouste Gulbenkian, outro museu foi ento fundado: o Museu do Azulejo, instalado no Belo Mosteiro da Madre de Deus. Este novo museu tornou-se numa referncia para o estudo, conservao e restauro do azulejo. Aps vrias vicissitudes, o Museu de Etnologia, instalado desde 1976 num edifcio construdo para o efeito, no Restelo, vai apresentar algumas inovaes, inditas no seio da comunidade museolgica, como o caso das reservas. Estas, e, como sugere Silva (2002) eram entendidas como componente essencial de um projecto que no queria congelar as coleces mas faz-las circular em exposies temporrias de longa durao, coerentes e diversificadas, temtica e geograficamente. Esta vontade de fazer do museu um espao dinmico, ia claramente ao encontro das novas concepes museolgicas internacionais. A Revoluo do 25 de Abril de 1974 e, na sua sequncia, as profundas transformaes polticas, sociais e culturais que foram moldando um pas libertado, tiveram, naturalmente, profundo impacto, positivo e transformador, na evoluo dos museus portugueses, embora seja tambm verdade que alguns dos seus mais graves constrangimentos se mantm, nos dias de hoje, como herana de incipientes

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polticas, ou ausncia delas, impedindo o seu pleno desempenho social e cultural (Silva, 2002: 97). A par da renovao arquitectnica e museolgica que se verificou nalguns museus de arte, etnologia e arqueologia, tambm foram sendo criados novos museus, como o caso do Museu Nacional do traje (1976) e do Museu nacional do Teatro (1982), os dois sediados no Parque do Monteiro-Mor, em Lisboa. Em 1983 foi inaugurado o Centro de Arte Moderna Dr. Jos de Azeredo Perdigo pertencente Fundao Calouste Gulbenkian. Este novo espao vai proporcionar a todos os que o visitam, um novo olhar sobre as artes plsticas portuguesas mas tambm, mostrar o que de melhor se produz l fora, atravs das excelentes exposies temporrias nacionais e internacionais. Lembremos ainda o papel que desempenham na promoo da arte contempornea os museus: Museu do Chiado, Museu Amadeo de Sousa Cardoso, em Amarante, a Fundao Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, o Museu de Arte Moderna de Sintra e finalmente o Museu de Arte Contempornea de Serralves, inaugurado em 1999. A dcada de noventa assiste a uma consolidao das funes museolgicas, quer atravs da inaugurao de exposies temporrias, remodelao das exposies permanentes, organizao dos servios educativos, promoo e divulgao de actividades, estudo e inventariao das coleces e produo de catlogos. Os Fundos Estruturais da Comunidade Europeia vm finalmente viabilizar todo um conjunto de intervenes numa srie de museus, h muito necessrias e desejadas. Estes trabalhos levados ao longo das duas ltimas dcadas proporcionaram uma franca melhoria nas condies de trabalho, na conservao e restauro das coleces, na adaptao dos espaos expositivos, no atendimento ao pblico. A este propsito no podemos esquecer o papel desempenhado pela Rede Portuguesa de Museus que muito tem feito para a definio e implementao da poltica museolgica nacional.

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2.3. Funo educativa dos museus O museu, instituio de grande herana cultural, oferece-nos uma realidade histrica atravs de documentos do nosso passado que representam testemunhos nicos da maneira de ser e pensar qual ns como educadores no podemos descurar. Deste modo, faz todo o sentido que haja uma relao estreita entre a escola e o museu. Au dbut du XXe sicle, quelques directeurs de muse avaient compris quen ouvrant ses portes au public le muse assumait des responsabilits ducatives. Ils cherchaient dj des moyens de faciliter la dmarche des visiteurs. Cest ainsi que des muses organisrent des confrences publiques et des visites destines aux groupes scolaires (Allard & Boucher, 1998: 22). Os museus passaram de uma tarefa de conservar e expor para uma actividade de desenvolvimento educativa em favor da comunidade. Caso contrrio tero apenas o papel de objectos do passado em exposio. Como aponta Fernandes (2003: 25) uma exposio sempre o resultado de uma escolha e de uma mensagem com a qual se pretende educar o pblico. Podemos atribuir ao museu a funo de grande agente de recursos educativos e com um elevado potencial didctico. "Perante uma obra de arte, o pensamento e a emoo conjugam-se; e, desse modo, so-nos revelados modos de melhorar o mundo e a vida pessoal" (Gonalves, Fris & Marques, 2002: 13).

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O museu pode ter um papel muito importante na aprendizagem do aluno. Quando este participa nas actividades do museu, pode vivenciar um maior nmero de aprendizagens, interdisciplinaridade de situaes e de experincias. Este espao cultural tem a capacidade de educar de forma ldica. H uma srie de aspectos que podem ser desenvolvidos na criana, desde a imaginao e criatividade ao fomento do crescimento cognitivo, esttico e cultural. Permite-lhe igualmente experimentar, jogar, inventar e assimilar informao, dando-lhe a possibilidade de actualizar ou reformular aquisies que tenham sido feitas anteriormente. A criana acaba por construir o seu conhecimento de uma forma mais completa.

Nous dfinissons lducation musele comme un ensemble de valeurs, de concepts, de savoirs et de pratiques dont le but est le dveloppement du visiteur. La pdagogie musele, quant elle, se dfinit comme un cadre thorique et mthodologique au service de llaboration, de la mise en ouvre et de lvaluation dactivits ducatives en milieu musal, activits dont le but principal est lapprentissage de savoirs (connaissances, habilets et attitudes) chez le visiteur (Allard & Boucher, 1998: 40).

Esta actividade de cooperao com a escola deve ser encarada como um jogo com regras definidas. Estas devem ser suficientemente atractivas, devem mobilizar os visitantes mais jovens para o desejo de fazer, de provocar, de imaginar, de estimular a capacidade e criatividade intelectual. Devemos criar situaes educativas que estabeleam uma interaco entre o contedo dos programas escolares e a herana cultural de um pas. Este ser um dos meios mais eficientes para comearmos a criar no pblico mais jovem uma identidade cultural.

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La potencialidad educativa de los Museos hay que ir actualizndola, desarrollando la relacin dialctica entre esta teora y esa prctica o, lo que puede ser lo mismo, entre las demandas reales y las expectativas utpicas de la sociedad a cuyo servicio est. La oferta del Museo a la sociedad no es algo que est definitivamente establecido. Al contrario, el Museo ha de esforzarse para responder a las nuevas motivaciones de sus usuarios, de modo que ha de estar atento y sensible a los cambios sociales y, por ello, a la evolucin y a los distintos planteamientos educativos Blanco (1998: 35).

Durante las dcadas de 1930 y 1940, educadores progresistas como John Dewey (1937) recomendaban la inclusin del arte en la educacin general. Otros, como Philip Youtz (1933) sostenan que los museos podan promover un nuevo tipo de educacin alimentando el desarrollo de las capacidades crticas, all donde la educacin de los libros poda suplantarse por experiencias visuales directas. Se podra seguir educando a la gente si la educacin prolongaba la capacidad del desarrollo intelectual durante toda la vida (Goodman, 2000: 11). A nvel internacional, foi na dcada de 60 que os museus comearam a mostrar uma verdadeira abertura escola. No que diz respeito ao nosso pas, s mais tarde se notou esta mudana e ainda hoje estamos a trabalhar para isso.

"A partir da dcada de 60, a educao nos museus converte-se numa matria de reflexo e de estudo. Passa-

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se de uma poltica musestica, centrada no objecto, na sua aquisio e na conservao, para uma poltica centrada nos sujeitos que dele podem usufruir" (Gonalves, Fris & Marques, 2002: 120). Nas ltimas dcadas, tem-se debatido com frequncia a misso educativa que os museus devem proporcionar. Desde a 2 Guerra Mundial que a preocupao pedaggica e a aco cultural tem sido prioritria. Desde a temos assistido a uma ruptura na forma como se trabalhava nestas instituies. Nos ltimos anos, o pblico assumiu um grande protagonismo nas instituies museolgicas.

Depuis les annes soixante, le muse manifeste une vritable ouverture lducation. Le mouvement apparat plus particulirement aux Etats-Unis. Il serait tributaire de la dcennie de lducation (1957-1967), priode o le gouvernement amricain investit des sommes importantes dans lducation (Allard & Boucher, 1998: 23).

Quaisquer que sejam os vrios pontos de vista, desde o contedo actividade museolgica, o museu como instituio s faz sentido social e culturalmente se pensar no seu destinatrio, isto , o pblico. Fernndez (1999:227) defende que h uma srie de condies que so essenciais para que a funo pedaggica do museu se concretize: 1. Respeito absoluto pelo modo e pela forma cultural de qualquer comunidade; 2. Sensibilizao prvia do pblico a quem dirigida a experincia do museu; 3. Possibilitar que seja o pblico mais que os tcnicos e os especialistas - quem decide a forma como o museu pode estar presente na comunidade.

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Como temos constatado, a experincia museolgica importante na educao da criana, neste contexto, deve haver uma estreita relao entre o museu e a escola. Esta relao, no deve simplesmente passar pelas cartas de apresentao do museu dirigidas escola, ou com quem contactar, informao dos horrios de funcionamento, etc. H uma srie de aspectos que o museu deve ter em ateno entre os quais o contedo das visitas, os temas que se podero abordar, como visitar o museu, as explicaes durante as visitas, se h espaos preparados para serem percorridos pelas crianas, se existem locais para se sentarem, se h ou no oferta de oficinas e actividades no espao museolgico, ou seja, explorar os modos de comunicao com o pblico. O museu deve planificar e organizar as actividades educativas de maneira a suscitar a aprendizagem dos alunos que participam na visita. Isto , a fim de melhorar a qualidade dos servios educativos oferecidos s escolas, deve haver um desenvolvimento das actividades tendo em conta as coleces dos museus e os objectivos dos programas escolares. Allard & Boucher (1998) consideram que para se desenvolver modelos de educao museolgica importante que haja uma investigao junto dos alunos que participam na visita ao museu a fim de detectar os elementos mais pertinentes. Os investigadores interessados nas visitas com crianas do outra contribuio para o desenvolvimento da pedagogia museolgica. Estas investigaes permitem identificar estratgias pedaggicas benficas para as crianas visitantes. Mas, h ainda outro modo de fruir e captar as mensagens que o museu pretende transmitir so as visitas guiadas e o conjunto de actividades desenvolvidas em torno das coleces e das exposies permanentes ou temporrias, destinadas aos diversos pblicos do museu: visitas escolares (desde a pr-primria a universitrios), visitas de grupos profissionais, visitas de idosos, visitas de presos, actividades para jovens e menos jovens.

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normalmente esta funo que acabamos de definir a de mostrar aos diversos pblicos o que se pretende que vejam e apreendam dentro de um museu aquela que se atribui aos servios educativos (Fernandes, 2003: 25). Os museus proporcionam oportunidades educativas atravs de exposies e material interpretativo assim como atravs do acesso pesquisa e inveno/descoberta de programas formais e actividades prticas. fundamental que o extenso papel educacional dos museus seja reconhecido, assim como, as actividades educativas para grupos organizados sejam vistas no contexto da educao como a funo central do museu. "O actual campo da educao em museus extravasa extraordinariamente a tradicional e reduzida rea das visitas guiadas e do apoio aos grupos escolares. Colocada a ateno na relao da instituio com as audincias, estas passam a ocupar o lugar central na abordagem educativa do museu. A forma como o museu concebe o visitante, aquilo que sabe dele (as suas motivaes e interesses, as suas aprendizagens, os seus objectivos quando opta por visitar ou no visitar uma instituio museolgica), a forma como o acolhe e as experincias que lhe pode proporcionar tornam-se, todas elas, questes fundamentais para o novo papel desempenhado por estas instituies" (Carneiro, 2001: 113). As polticas educativas so teis para todos os museus, quer para os especialistas em educao quer para os funcionrios. No entanto, cada poltica educativa dever necessariamente ser exclusiva de uma instituio especfica devendo, todavia, reflectir a poltica educativa no museu do seu todo. As polticas educativas num museu ajudam a identificar prioridades, desenvolvem estratgias e estabelecem as linhas orientadoras para que o

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museu evolua e progrida. O programa educativo deve ser claro e traado tendo em linha de conta o pblico-alvo. O museu durante muito tempo foi visto como um mero complemento de aprendizagens escolares, centro de recursos e materiais de apoio que o professor utiliza para ilustrar contedos especficos ou para aprofundar temas que est a leccionar. A construo de planos educativos que permitam visitas aos museus, tratamento de temas de uma forma mais abrangente nas salas de aulas, sero passos importantes para a construo de verdadeiras parcerias nestas duas instituies. O novo conceito do museu assenta no museu interactivo, flexvel e interveniente, onde a aprendizagem se processa de forma dialogante e duradoura, um museu que integra ao debate e a mudana de forma construtiva e participada. O museu como instituio est a ser cada vez mais valorizado como um espao privilegiado de aprendizagem informal. Ao assumir este papel, contribui na aprendizagem atravs do desenvolvimento de competncias ao nvel da interpretao e do pensamento crtico, cumprindo, assim desta forma, uma enriquecida misso educativa capaz de promover o desenvolvimento pessoal e a construo da identidade individual e colectiva, desta forma, o valor educativo do museu foi redimensionado de forma a responder a um conceito muito mais alargado de formao cultural. Quando levamos os nossos alunos ao museu devemos ter a conscincia de que esta visita concerne uma experincia global, com a capacidade de produzir efeitos para alm do tempo que passamos nas salas de exposio, h uma multiplicidade de factores que intervm nesta simples visita. Sendo a aprendizagem um processo aberto, de interaco com o meio, que envolve faculdades intelectuais, sensoriais e emocionais, isto , o sujeito no seu todo, os museus sem meios externos que obriguem os visitantes aprender assentam sobretudo na esfera da motivao, logo toda a preparao que antecede a visita ao museu de uma importncia vital para suscitar predisposies para aprendizagem.

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Com o alargamento da misso educativa do museu, houve um aumento e diversificao do seu pblico-alvo. A par das actividades para o pblico escolar, surgem programas educativos para famlias, para grupos culturalmente minoritrios, para a terceira idade, para indivduos com necessidades educativas especiais. Com o crescente uso das novas tecnologias, alguns museus disponibilizam ao pblico em geral uma visita virtual, ou seja, o visitante virtual aquele que acede ao museu atravs da internet e a pode explorar as coleces e as prprias galerias atravs de casa. 2.3.1. Museum Experience

John H. Falk e Lynn D. Dierking (apud Carneiro, 2001: 114) concebem as aprendizagens como um todo, passveis de ser desenvolvidas no espao museolgico, englobando-as num processo mais amplo, o da experincia museal (da expresso inglesa museum experience). Esta expresso experincia museal compreende o conjunto total de aprendizagens que por si s envolvem emoes, sensaes e vivncias experimentadas como resultado desta interaco com os objectos, com os discursos e espaos dos museus, ou seja, o resultado de uma visita ao museu perdurar muito para alm do momento especfico em que decorreu. Graas ao contributo de autores como Piaget ao nvel da psicologia ou Falk e Dierking no campo da educao em museus, actualmente, as instituies museolgicas tm a necessidade de se orientarem por uma teoria da educao, atravs da qual o museu concebe o conhecimento (isto , aquilo que pode ser aprendido), logo, atravs da forma como os indivduos aprendem que o museu cria a forma como expe as suas obras e organiza os programas educativos capazes de responder ao seu pblico. So vrias as teorias de aprendizagem que afirmam que o sujeito tem um papel activo na construo do saber, por conseguinte, esta perspectiva faz recair sobre o aprendiz a responsabilidade pela sua aprendizagem, passando o educador e a instituio educativa a funo de criar ambientes e condies

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mais apropriadas para ao desenvolvimento e construo de competncias necessrias a essa aprendizagem. Neste sentido, a adopo da aprendizagem do tipo construtiva no processo de aprendizagem, faz com que os visitantes e os educadores participem activamente na construo do saber. Hein (1995) aponta que para qualquer considerao acerca da aprendizagem nos museus, pomos sempre uma questo epistemolgica: "What is the theory of knowledge applied to the content of the exhibitions? We also need to ask a question about learning theory, How do we believe that people learn?"

Nesta perspectiva construtiva, a interpretao tem um papel fundamental no modo como os indivduos criam um sentido para as coisas. um processo mental criado pelo sujeito que corresponde construo de significados de tudo o que o rodeia, implicando que o sujeito desenvolva as suas competncias de anlise, de crtica e de sntese. The lack of predetermined sequence has already been mentioned, as has the use of multiple learning modalities. Howard Gardner had the constructivist museum in mind when he used the museum as a model for education. Another component of the constructivist museum would be the opportunity for the visitor to make connections with familiar concepts and objects. In order to make meaning of our experience, we need to the able to connect it with what we already now. Constructivist exhibits would encourage comparisons between the unfamiliar and the new (Hein, 1995: s/p).

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As exposies que os museus acolhem tm a particularidade e o potencial de ampliar, expandir e reestruturar os esquemas conceptuais e mentais dos seus visitantes. Por exemplo, uma interpretao feita a alguns objectos de uma exposio e das relaes estabelecidas com os prprios objectos far com que o visitante seja capaz de criar desafios que o conduzam resoluo de novos problemas e, por conseguinte, que lhe permitam reelaborar os conhecimentos prvios, fazendo assim com que este crie novos significados e novas aprendizagens. Examples of constructivist museums are harder to find, but exhibits that allow visitors to draw their own conclusions about the meaning of the exhibition are based on this constructivist principle. There is also increasing number of exhibitions that are designed so that multiple paths are possible through the exhibit and the learner (visitor) is provided with a range of modalities to acquire information (Hein, 1995: s/p).

Carneiro (2001: 115) tambm considera que uma das principais funes da educao em museus , assim, a de alargar esta noo de interpretao de forma a promover aprendizagens significativas e duradouras. E os museus, enquanto importantes espaos de aprendizagem, podem desempenhar neste campo um papel fundamental. Actualmente, so muitas as instituies museolgicas que disponibilizam aos seus visitantes material sugestivo, de forma que estes possam compreender o que esto a ver. Este tipo de programas educativos facilitados pelos museus funcionam como recursos pedaggicos, so organizados a partir das coleces e das exposies patentes nos museus. Assim, os educadores/professores encontram neste material um conjunto de propostas relativas pedagogia/educao da arte nos museus. Estes destinam-se aos educadores de todos os graus de

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ensino, servem como preparao para a visita do museu, facilitando o contacto com as coleces dos museus. "Para o Centro Galego de Arte Contempornea este Programa significa moito mis que unha oferta didctica porque se est formando s espectadores do presente cunha mirada reflexiva e crtica, s protagonistas dos cambios vindeiros cunha comprensin ampla do fenmeno cultural. Canto mis expandida e rica sexa a sa mirada, mellor e mis tolerante ser a sociedade que constran (Trigo, 2003: 5).

O Programa de Aproximacin Arte Contempornea do Centro Galego de Arte Contempornea d nfase aos benefcios que as crianas tm quando visitam centros de arte (museus, exposies, galerias de arte, etc). Este tipo visa aces que faam com que os alunos expressem as suas ideias, aproveitem as potencialidades da arte como meio de comunicao e ferramenta de conhecimento, ou seja, a explorao do meio atravs de objectos e produtos culturais. Trata-se de permitir as crianas de falarem acerca do que vem, com algum que proporciona a informao e que sirva apenas de moderador da discusso. So as crianas que geram as suas interpretaes, que discutem formando assim a sua opinio, opinio esta fundada no que vem e no no que se lhes conta, assim, ao mesmo tempo que aprendem respeitam o ponto de vista das outras pessoas. Os alunos expressam-se com total liberdade, vo apreendendo uma linguagem prpria e aprendem a valorizar outras vises e opinies. Outro caso com bastante interesse em ser referido o do Museu ThyssenBornemisza, apresenta-nos online o seu programa didctico 2003-2004, atravs do qual o Departamento de Educao nos demonstra uma ampla

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programao de actividades de forma a satisfazer as necessidades de um pblico cada vez mais diverso e mais exigente. "Se trata de un programa de descubrimiento, en que el aprendizage se une a lo ldico y en el que se establecen relaciones entre diversas disciplinas del conocimiento." (Museo Thyssen-Bornemisza - Programa didctico 20032004: 26).

Este programa tem como objectivo assessorar os professores aquando da preparao da sua visita ao museu. Ou seja, so dadas as linhas necessrias para que os alunos tenham informao acerca dos contedos do museu. O museu dispe de uma linha telefnica com informaes acerca dos contedos das coleces do museu; entrega gratuita de materiais de apoio tais como um guia para o professor, o guia do aluno para os mais diversos nveis educativos. precise. O museu com este programa pretende aproximar os mais novos ao mundo da arte atravs de uma perspectiva ldica e criativa. Este projecto, insere-se dentro de uma linha de programas que no so uma mera visita ao museu, antes esto concebidos como um processo educativo em que tanto os alunos como o professor tm um papel dinamizador, o professor e os alunos, descobrem a arte participando, criando e jogando. Os servios pedaggicos do museu Thyssen-Bornemisza organizaram estas actividades para o museu, assim como, do assistncia no museu, tm sesses formativas para professores, como actividades para serem trabalhadas na aula, etc. Para que a visita ao museu fique completa, o professor dispe, como j referimos, de materiais para preparar a sesso de visita ao museu, este material poder sempre ser actualizado atravs de publicaes na Web. O professor tem oportunidade de preparar a visita antecipadamente no prprio museu, com os materiais e com a assessoria que

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A experincia (da visita ao museu) termina com a publicao dos trabalhos realizados pelos alunos na Web. Na pgina do museu Thyssen-Bornemisza www.educathyssen.org, est agrupada toda a informao educativa que o museu nos tem para oferecer. Esta pgina tem o objectivo de se converter numa comunidade de desenvolvimento e experimentao educativa, onde a comunicao e a colaborao tm um papel fundamental.

"educathyssen.org hace que el museo y sus recursos educativos sean accesibles, gracias al apoyo en las nuevas tecnologas, por un pblico ms amplio. Aqu adems, se ampla y actualiza la informacin del departamento" (Museo Thyssen-Bornemisza - Programa didctico, 20032004: 3).

Uma outra caracterstica do educathyssen que o utilizador passe de mero consumidor de contedos a desenvolver ele prprio novos contedos. Este um dos objectivos principais estabelecidos pelo Plano Estratgico de Desenvolvimento Educativo e tem a finalidade de implicar directamente toda a Comunidade Educativa nos processos educativos relacionados com o museu. Educathyssen tambm o reflexo das actividades educativas off line do museu, isto, devido sua faceta informativa e por ser uma janela aberta aos processos educativos e aos resultados conseguidos atravs das vrias actividades no museu. "Finalmente educathyssen quiere ser un lugar de reflexin y experimentacin en torno a la educacin artstica y visual, un laboratorio que nos permita experimentar nuevas vas de Desarrollo Educativo" (Museo

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Thyssen-Bornemisza - Programa didctico, 2003-2004: 30). Tambm da pgina da National Gallery na hiperligao relativa educao no museu, podemos encontrar entre outras actividades, uma particularmente interessante que designada por Take One Picture. Este tem como finalidade auxiliar professores e alunos do 1 Ciclo do Ensino Bsico, fornecendo todo o tipo de informaes aos professores em teachers notes. A perspectiva que atravs de um quadro pertencente ao Museu, se possa explorar as mais variadas componentes curriculares. Desde a aprendizagem da lngua, da matemtica, das novas tecnologias etc.

2.4. Informatizao do museu Actualmente, as novas tecnologias aplicam-se a todas as reas do conhecimento. No que diz respeito s questes patrimoniais e artsticas, estas esto de certo modo a beneficiar de imensas possibilidades tcnicas que as novas linguagens tm para oferecer. Quando pensamos nas vantagens que as novas tecnologias nos podem oferecer a nvel do patrimnio cultural, h dois aspectos fundamentais que no podemos esquecer: a difuso dos bens patrimoniais e as possibilidades didcticas que estes nos oferecem. A introduo das novas tecnologias no mundo da arte, gerou numerosas mudanas traduzindo-se estas numa nova percepo da obra de arte. A Internet, ou softwares vrios, influem directamente na relao do espectador com a obra de arte, permitindo-lhe um grau de interaco e participao nunca antes experimentado. As fortes mudanas operadas na sociedade meditica e o facto de os museus constiturem instituies relacionadas com a sociedade contempornea, trouxeram grandes transformaes ao nvel dos nossos museus. Atravs das novas tecnologias, desenvolveram-se os museus virtuais

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e digitais que devem a sua existncia ao trabalho de museus participativos e interactivos que operam com sistemas multimdia e hipermdia. A dualidade museu/tecnologias est a acelerar o processo de reflexo no s sobre o prprio contedo da instituio, mas sobre os servios que esta pode oferecer comunidade. O ICOM j tinha demonstrado interesse ao nvel da informtica vrias dcadas antes, quando, em 1950 o museu sente necessidade de organizar os seus servios e pass-los para um suporte informtico. Inicialmente os sistemas informticos foram usados para: - gesto e organizao de coleces; - criao de um dicionrio de termos para inventariao das peas; - novas tcnicas de registos de dados para tratamento de informao; - fichas modelo para facilitar a inventariao. Em 1991, o ICOM organizou uma primeira conferncia sobre Hipermdia e Interactividade. Em 1993, na cidade de Cambridge, realizou uma segunda edio volta do mesmo assunto. Voltando em 1997, agora, em Paris, a convocar nova reunio cientfica sobre o mesmo tema. A MDA (Museums Documentation Association), em 1995, realizou em Edimburgo o Congresso Museus e Internet. Neste encontro, potenciou-se o papel da comunicao e difuso dos museus, como forma de expandirem a sua abertura sociedade. Outras edies sobre esta mesma temtica foram realizadas: 1997 em Los Angeles, 1998 no Canad, 2002 em Boston. O interesse pelas solues hipermdia e pela Web, vm tentar ir ao encontro dos novos interesses surgidos dentro da nova museologia, agora, preocupada com a projeco social do museu. A funo difusora do museu teve muito relevo nos ltimos anos, de tal forma que o museu at chegou a desprezar algumas das suas funes principais, tal como, a de conservao e investigao, em favor da difuso e do

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servio aos visitantes. A utilizao das novas tecnologias como veculo de difuso do museu foi fundamental para: - dar a conhecer o museu, - os seus servios, - a sua coleco escala mundial. "Una buena poltica de difusin debe alcanzar los siguientes objetivos: la democratizacin del acceso a la cultura como factor que contribuye al avance social y a la elevacin del nivel de libertad e igualdad. Al mismo tiempo debe procurar rentabilizar el patrimonio cultural de esa comunidad y por ltimo la educacin de los diversos sectores sociales y edades en el conocimiento y la estima de unas instituciones que son parte esencial de una identidad comn. La finalidad ltima de la difusin del patrimonio es conseguir que sea estimado por la sociedad actual y se constituya en hito reconocible dentro de su existencia cotidiana" (Gant, 2002: s/p). Quando fala