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SEQUÊNCIA DIDÁTICA: UMA PROPOSTA PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES

ADELINA SALETE F. KHALBAUM 1

ALESSANDRA BALSAN 1 IRA POZZEBON BONATTO 1 MICHELE ADRIANA PECH 1 NATÃ DA COSTA DUARTE 1

STER MARIA SOKOLOWSKI 1 TANIA MARIA RIPP MAFFINI 1 RUTH CECCON BARREIROS2

RESUMO: Sabemos que o período de alfabetização representa um momento de ensino de fundamental importância para a formação leitora. Para que o educador possa despertar no aluno o gosto pelo ato de ler e o hábito de leitura é preciso que ele seja também um leitor, que faça da prática de leitura uma rotina, oferecendo as condições necessárias para que seus alunos também realizem uma formação em leitura mais eficiente. Nesta perspectiva, o presente artigo pretende expor em forma de relatos as experiências e vivências de alunos do quarto ano de Pedagogia, do período noturno, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Extensão de Santa Helena na disciplina de Prática de Ensino II. Pautados na proposta sócio-interacionista de ensino, nosso projeto foi concebido com o intuito de que os alunos do Curso Normal do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco, pudessem em suas práticas, como futuros professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, apropriarem-se dos conhecimentos sobre gêneros textuais e seqüências didáticas, percebendo-os como recursos pedagógicos importantes e atrativos para a condução de atividades de leitura e produção textual em sala de aula visando o desenvolvimento das habilidades básicas de falar/ouvir e ler/escrever previstas nos PCNs como sendo as principais habilidades a serem desenvolvidas no período de formação das séries iniciais. As atividades foram encaminhadas por meio de oficinas, deste modo, proporcionamos aos alunos conhecimentos e reflexões sobre as seqüências didáticas como metodologia de ensino bem como momentos para a realização de atividades que possibilitaram o desenvolvimento de algumas seqüências didáticas com vistas à formação em leitura e produção de textual, tendo como recursos alguns gêneros textuais previamente selecionados. Os gêneros textuais eleitos para o desenvolvimento das oficinas foram: as Cantigas de Roda; Fábulas, Histórias em Quadrinhos e Lendas. Ao compartilhar esse desafio com os futuros professores (alunos do Curso Normal), pudemos ampliar nossos

1 Acadêmica (o) do 4° ano Curso Pedagogia – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Extensão de Santa Helena / [email protected] 2 Professora da Disciplina de Prática de Ensino II – Ms. Em Lingüística aplicada ao Ensino da Língua Materna – Universidade Estadual de Maringá – UEM / [email protected]

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conhecimentos e aprimoramento para elaboração de novos projetos, motivando-os, também, a aceitarem os desafios de buscarem alternativas para um ensino melhor. PALAVRAS-CHAVE: Leitura, Gêneros discursivos, Seqüência Didática.

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SEQUÊNCIA DIDÁTICA: UMA PROPOSTA PARA A FORMAÇÃO DE

LEITORES

O presente artigo pretende expor, em forma de relato de experiências, a prática

docente dos alunos do quarto ano de Pedagogia, do período noturno, da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná - Extensão de Santa Helena, na disciplina de Prática de

Ensino II. A atividade docente foi desenvolvida, em forma de oficinas, por meio do

projeto intitulado “Seqüência didática: uma proposta para a formação de leitores”.

As oficinas estiveram voltadas aos alunos do Curso Normal do Colégio

Humberto de Alencar Castelo Branco, de 1º, 2º e 3º anos, da cidade de Santa Helena –

PR, para uma turma de 35 estudantes e foram realizadas em contra-turno, depois da

seleção dos alunos feita pela direção e coordenação pedagógica do Colégio, mediante

autorização dos pais. Os encontros aconteceram de maio a agosto de dois mil e oito,

semanalmente, com três horas de duração cada uma delas.

A prática de ensino ou estágio supervisionado é um requisito da grade curricular

do curso de Pedagogia, e para nós, configurou-se em um momento especial para a nossa

formação docente. Neste sentido compartilhamos do pensamento de Barreiro quando

comenta:

(...) deve-se atribuir valor e significado ao estágio supervisionado, considerado não um simples cumprimento de horas formais exigidas pela legislação, e sim um lugar por excelência para que o futuro professor faça a reflexão sobre sua formação e sua ação, e dessa forma possa aprofundar conhecimentos e compreender o seu verdadeiro papel e o papel da escola na sociedade. (2006, p.91)

Dessa forma, a vivência da prática pedagógica possibilitou-nos momentos de

resgate da teoria até então estudada, a qual procuramos inserir, da melhor forma

possível, nas experiências de sala de aula. Foi possível compreender que a atividade da

prática se faz necessária e exige comprometimento, no sentido de se assegurar a

transmissão e compreensão do saber, ainda que, a prática de ensino seja apenas o

estágio inicial do processo de formação docente. Neste sentido, Barreiro assevera,

A identidade do professor é construída no decorrer do exercício da sua profissão, porém, é durante a formação inicial que serão sedimentados os pressupostos e as diretrizes presentes no curso formador, decisivos na construção da identidade docente. (2006, p.20)

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Destarte, como todas as outras profissões, a profissão de professor também

necessita da vivência prática. Essa vivência deve ser acompanhada de aprofundamento

teórico-metodológico, considerando-se que as atividades práticas complementam a

formação profissional dos educadores, na expectativa de melhorar os processos de

formação dos futuros profissionais, os quais devem estar preparados para enfrentar com

criatividade os problemas e desafios da docência.

Entendemos que uma prática de ensino-aprendizagem pertinente deve partir de

uma fundamentação teórica sólida. Nesta perspectiva, procuramos elencar, como base

para o nosso fazer docente, estudos que versaram sobre a linguagem e a leitura em uma

concepção sociointeracionista de ensino, tendo em vista que o tema ensino da leitura e

formação de leitores norteou as oficinas preparadas para o estágio supervisionado.

Sabemos que muitas metodologias de ensino-aprendizagem de leitura, ainda

presentes em sala de aula, já não são tão adequadas. No processo de formação leitora a

escola, bem como os educadores, tem grande responsabilidade na promoção do aluno a

leitor proficiente.

Nesta perspectiva, para que o educador possa despertar no aluno o gosto pelo ato

de ler e o hábito de leitura é preciso que ele seja também um leitor, que faça da prática

de leitura uma rotina, assim, se sentirá mais seguro, oferecendo as condições necessárias

para que seus alunos realizem uma formação em leitura mais eficiente.

Sabemos que o período de alfabetização representa um momento de ensino de

fundamental importância para a formação leitora. Contudo, na prática há alfabetizadores

que tomam por base o método das cartilhas puramente mecânico e sem sentido, em

detrimento das novas teorias, as quais sugerem um ensino que vise a conscientização

dos alunos nos procedimentos da decifração da escrita e conhecedores do uso da língua

em cada situação de comunicação. A busca pela renovação, na prática, suscita a

elaboração de novas propostas de trabalho para que se possa atingir melhores resultados

no processo de ensino-aprendizagem de formação leitora.

Diferente do processo do ensino mecânico está à proposta sócio-interacionista de

ensino. A concepção sócio-interacionista entende o homem como ser ativo, que age

sobre o mundo por meio das relações sociais; entende que a linguagem é produto de

uma necessidade histórica do homem, um modo de organizar-se socialmente, de trocar

experiências com outros indivíduos e de produzir conhecimentos. Neste sentido, uma

formação leitora proficientes, que entenda a linguagem e saiba utilizá-la com

competência, nas diversas situações de comunicação, possibilitará aos alunos

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compreenderem melhor a si mesmos e, por conseqüência, o contexto social em que

estão inseridos, podendo com isso atuar sobre ele, tornando-o mais justo. Tomando por

referência Baumgärtner e Costa-Hübes, no Caderno Pedagógico 02 da AMOP

encontramos:

Na concepção de linguagem como elemento constitutivo do homem, as condutas humanas compreendem redes de atividades desenvolvidas num quadro de interações diversas, materializadas através de ações de linguagem que se concretizam discursivamente em práticas sociais. O fluxo na produção dos discursos sedimenta historicamente um conjunto de gêneros mais apropriados aos lugares e as relações sociais, produzindo regularidades. Essas regularidades nas práticas sociais não tornam os discursos repetíveis. Ao contrário, as situações de enunciação, com configurações várias, em diferentes tempos e lugares histórico-sociais, tornam os discursos irrepetíveis, traduzindo, em cada enunciado, seu caráter original. (2007, p. 14)

Dessa forma, quando se trata do ensino de leitura, nosso foco neste caso, faz-se

necessário considerar a natureza social da linguagem e o caráter dialógico interacional

da língua, o que significa reconhecer os gêneros discursivos como materialização da

interação entre os sujeitos que, pelo uso da língua(gem), elaboram modos de discursos

que revelam a esfera social à qual pertencem. Cada esfera social seja familiar, literária,

jornalística etc. tem um discurso que lhe é peculiar e que a representa nas diferentes

situações discursivas. Para Bakhtin,

Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras, pressentir-lhe o gênero [...] Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível. (1992, p. 302)

Neste sentido, os gêneros discursivos são textos que circulam em nosso contexto

social com o objetivo de informar e ensinar, dentre outras funções. Cada gênero

apresenta peculiaridades sócio-comunicativas expressas por conteúdos, propriedades

funcionais, estilo e composição própria.

Com base nesta referência teórica, aqui apresentada não de forma exaustiva,

elegemos alguns gêneros discursivos como as cantigas de roda, as fábulas, as histórias

em quadrinhos e as lendas para o desenvolvimento da formação leitora em sala de aula,

nas atividades da prática de ensino. Um outro aporte teórico utilizado, nesta vivência de

docência, foi das seqüências didáticas proposta por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004).

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Conforme os autores a seqüência didática trata de um conjunto de atividades escolares

organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual (oral ou escrito).

Com base nestas propostas teóricas as oficinas foram empreendidas, visando um ensino-

aprendizagem de leitura mais produtivo.

A teoria das seqüências didáticas propõe um encaminhamento metodológico que

procura contemplar tanto a formação em leitura quanto em escrita e sugerem algumas

etapas para o encaminhamento pedagógico. São elas: a) Apresentação da situação que

consiste em explicitar para o aluno uma necessidade de leitura ou escrita; b) A seleção

do gênero textual considerando-se o que se quer dizer, para quem se quer dizer,

anunciando previamente o contexto de circulação da produção; c) Reconhecimento do

gênero selecionado: nesta etapa deve-se realizar um estudo profundo do gênero

escolhido tanto na perspectiva contextual quanto lingüística. As etapas subseqüentes

sugerem a produção do texto a partir do conhecimento adquiridos e a reescrita do texto,

visando aproximá-lo dos modelos que circulam na sociedade. Nestas últimas etapas a

proficiência leitora também se revela, considerando-se que o leitor proficiente apresenta

melhores condições de produzir um bom texto.

Dessa forma, a escolha pelas vertentes teóricas deu-se por acreditamos que o

trabalho com os gêneros discursivos e as seqüências didáticas contribui para a formação

de leitores e produtores textuais competentes. Além de, neste processo de preparação

para docência, termos conhecido novas teorias que, por certo, contribuíram para a nossa

formação como professores das séries iniciais. Este conhecimento adquirido foi

repassado por nós, nas oficinas, aos alunos do Curso Normal que tiveram, assim, uma

oportunidade de conhecer e refletir sobre uma nova proposta metodológica de ensino-

aprendizagem.

O trabalho com gêneros discursivos em sala de aula mostra-se um instrumento

eficaz para aquisição de saberes tanto de leitura quanto de escrita. Sabemos que a leitura

proficiente é uma atividade complexa que envolve muitas competências e habilidades,

exigindo uma aprendizagem progressiva. Neste sentido, o professor deve possibilitar

aos alunos o contato freqüente com diferentes gêneros textuais. Isso só será possível por

meio de um ensino sistemático, que pode acontecer por meio das seqüências didáticas,

uma vez que procura, em suas atividades, contemplar os instrumentos comunicativos e

lingüísticos condutores de aquisição de novos saberes e da apropriação das habilidades

indispensáveis para uma leitura proficiente.

Assim, acreditamos que os trabalhos realizados em sala de aula com gêneros

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discursivos e seqüências didáticas, a partir da concepção sociointeracionista de ensino,

podem formar melhores leitores bem como produtores de textos mais capazes. Nesta

tarefa cabe a escola ou mais especificamente ao professor, instrumentalizar os alunos

para o ato e o hábito de ler e escrever, visando uma educação que se pretenda

libertadora, transformadora e humanizante. Neste sentido, o Currículo Básico propõe

que na fase inicial de formação,

É necessário enfatizar a importância da [Leitura e da] escrita na sociedade, para então, por meio das práticas da leitura e produção, ampliar a participação do aluno nesse universo, trabalhando com os gêneros em suas mais diferentes funções sociais, dentre as quais: organização da sociedade, comunicação entre as pessoas, registro da história dos homens, bem como, de proporcionar lazer, expressando convenções das mais diferentes formas.(2007, p.147)

Nesta perspectiva, e pautados na proposta socio-interacionista de ensino, nosso

projeto teve como objetivo capacitar os alunos do Curso Normal para formação de

leitores proficientes, futuramente, quando estes estiverem no exercício da docência.

Nesta fase poderão tomar por base a teoria dos gêneros textuais e das seqüências

didáticas. Para isso, proporcionamos aos alunos conhecimentos e reflexões sobre as

seqüências didáticas como metodologia de ensino bem como momentos para a

realização de atividades que possibilitaram o desenvolvimento de algumas seqüências

didáticas com vistas à formação em leitura e produção de textual, tendo como recursos

alguns gêneros textuais previamente selecionados.

Em outras palavras, o projeto “Seqüência didática: uma proposta para formação

de leitores” foi concebido com o intuito de que os alunos do Curso Normal do Colégio

Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco, pudessem em suas práticas, como

futuros professores das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, se apropriar dos

conhecimentos sobre gêneros textuais e seqüências didáticas, percebendo-os como

recursos pedagógicos importantes e atrativos para a condução de atividades de leitura e

produção textual em sala de aula visando o desenvolvimento das habilidades básicas de

falar/ouvir e ler/escrever previstas nos PCNs como sendo as principais habilidades a

serem desenvolvidas no período de formação das séries iniciais.

Como material de apoio, para o encaminhamento das atividades, utilizamos os

Cadernos I e II de Seqüências Didáticas da AMOP, dentre outros. Como já

mencionamos, os gêneros textuais eleitos para o desenvolvimento das oficinas foram: as

Cantigas de Roda; Fábulas, Histórias em Quadrinhos e Lendas.

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No primeiro contato que tivemos com os alunos do Curso Normal coletamos,

por meio de um questionário com perguntas abertas e fechadas, algumas informações

sobre os alunos que participariam do projeto. Essa investigação preliminar teve como

objetivo conhecer melhor o público com o qual trabalharíamos em uma perspectiva

sócio-econômico-cultural, tendo em vista que o desenvolvimento leitor, em geral, está

diretamente relacionado a estes aspectos. Aproveitamos para sondar quais os

conhecimentos que os alunos tinham sobre gêneros textuais e seqüência didática.

A análise da grade curricular, as perguntas respondidas no questionário e as

observações feitas em sala de aula, durante as oficinas foram de grande valia para a

elaboração e o desenvolvimento do projeto proposto. Os dados possibilitaram alguns

ajustes teóricos e práticos dos conteúdos, que não teriam sido feitos caso não tivéssemos

coletado estas informações.

As atividades do projeto foram realizadas em nove encontros, contemplando três

etapas: apresentação, desenvolvimento das seqüências didáticas e avaliação dos

trabalhos realizados.

Os encontros do projeto aconteceram nas dependências do Colégio. Em um

primeiro momento o grupo de prática, acompanhado da professora orientadora, realizou

a apresentação do projeto para os alunos participantes. Nesse momento pudemos, além

de apresentar aos alunos o projeto, conhecer melhor a turma. Para isso, realizamos

dinâmicas de interação, nas quais os alunos apresentaram-se e falaram de suas

expectativas ante o projeto e as oficinas a serem realizadas.

Concomitante à apresentação do projeto fizemos algumas perguntas sobre os

conceitos de seqüência didática, gênero textual e sócio-interacionismo, buscando, a

princípio, saber como os alunos compreendiam tais conceitos, e aproveitando para dar

algumas explicações preliminares. Na seqüência, mostramos o cronograma das

atividades com suas respectivas datas e temas a serem abordados, contemplando estudos

sobre como construir seqüências didáticas com os gêneros textuais: cantigas de roda,

fábulas, histórias em quadrinhos e lendas.

As informações a respeito dos conceitos tanto das seqüências didáticas quanto

dos gêneros textuais foram retomadas no segundo encontro com explicações mais

aprofundadas, pois estes conceitos, para a maioria da turma, eram ainda desconhecidos.

Por meio de exposições orais com auxílio do recurso multimídia, levamo-os a refletirem

sobre como desenvolver nas crianças, das séries iniciais, as habilidades de falar/ouvir e

ler/escrever, tendo por base uma seqüência didática.

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Procuramos deixar clara a idéia de que todo texto seja ele oral ou escrito,

pertence a um determinado gênero, e pode ser definido a partir das características que

apresenta.

Deste modo, após termos realizado estas etapas de definições e esclarecimento

sobre os conceitos que foram de suma importância para o bom desenvolvimento da

etapa subseqüente, ou seja, o desenvolvimento da seqüência didática. O primeiro gênero

trabalhado foi Cantigas de Roda.

Como meio de levar os alunos ao entendimento, na prática, apresentamos uma

seqüência didática de cantigas de roda, preparada para alunos da primeira série do

ensino fundamental. Esta foi mostrada e explicada aos alunos do Curso Normal, para

que estes pudessem observar o desenvolvimento, as etapas, e por fim como aplicar uma

seqüência didática.

As explanações teóricas da primeira etapa, sobre gêneros discursivos, bem como

o desenvolvimento das seqüências didáticas da segunda foram seguidas de reflexões

suscitadas por nós estagiários, tecendo comentários, sanando dúvidas sobre como o

trabalho de construção da seqüência didática poderia ser realizado. Ressaltando que

cada atividade proposta, na seqüência didática, deveria estar voltada para o

desenvolvimento de algumas das habilidade falar/ouvir ou ler/escrever.

Deste modo, os alunos tiveram um maior contato com os gêneros discursivos

selecionados, aprofundando conhecimento sobre suas características contextuais e

lingüísticas, percebendo novos modos de incentivar a leitura, tendo estes gêneros como

recurso. Confeccionaram, em grupo, material pedagógico como: dominós e alfabetos de

sucatas, para trabalharem os aspectos lingüísticos das cantigas. O material construído

por cada grupo foi, posteriormente, apresentado ao grande grupo com explicações de

como poderia ser trabalhado com as crianças e quais habilidades desenvolveriam em

cada uma das etapas propostas.

A atividade de circulação do gênero, etapa que motiva o aluno a escrever,

inspirou-nos a propor um festival de cantigas para o fechamento do encontro, a

atividade envolveu os alunos na preparação e apresentação, na qual a equipe que mais

se destacou recebeu um mimo.

O começo de cada encontro era momento para relembrar conteúdos,

conhecimentos adquiridos e experiências dos encontros passados. Os alunos eram

instigados a falarem sobre os conteúdos vistos o que aprenderam, relacionando-os com

o que já conheciam.

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Assim, partimos para proposta de atividade prática, isto é, elaborar uma

seqüência didática, agora, com o gênero fábula. Fornecemos os materiais necessários

como textos de fábulas, alguns modelos de seqüências como sugestões e o

acompanhamento dos alunos no desenvolvimento das atividades o qual era feito pelos

estagiários. Neste mesmo encontro achamos por bem, realizar, antes de os alunos

iniciarem os trabalhos, uma revisão dos cinco tópicos que compõem a seqüência

didática. Como exemplo, utilizamos uma seqüência didática elaborada para a segunda

série do Ensino Fundamental.

A primeira seqüência didática elaborada pelos alunos não apresentava as etapas

necessárias como esperávamos, aproximava-se muito de um plano de aula, o que nos

pareceu, também, plausível, tendo em vista que esta relação era possível considerando-

se o conhecimento de mundo destes alunos. Ao nos depararmos com essa realidade,

percebemos que todas as explicações dadas não tinham sido suficientes para entender

como elaborar uma seqüência didática. Este fato fez com que, nós do grupo de

estagiários, nos reuníssemos para refletir sobre esse resultado e na necessidade de

buscar alternativas para nos fazer entendido.

Em nossas reflexões, percebemos as dificuldades que os alunos do curso Normal

e, nós mesmos, estávamos encontrando para primeiro compreender os conteúdos e

transpô-los, depois, para prática. Embora, tenhamos aceitado o desafio, feito pela

orientadora do estágio, de trabalharmos no estágio de docência um conteúdo que era,

para nós, novo, acreditamos que o conhecimento que seria adquirido nos encontros de

preparação das oficinas, seria suficiente para apresentá-lo em sala de aula, contudo isso

não se configurou em verdade.

Em função disso, foi necessário, mudarmos os encaminhamentos metodológicos

das oficinas. A necessidade de retomarmos as concepções metodológicas, várias vezes,

tornou os encontros mais cansativos. Nesta tarefa, percebemos que deveríamos ter

selecionado outros gêneros discursivos. Neste exercício de docência compreendemos

que a metodologia para o desenvolvimento das oficinas precisava ser repensada e

reorganizada e assim foi feito.

A partir da quinta oficina mudamos os encaminhamentos metodológicos que

consistiu no seguinte: corrigimos as seqüências elaboradas nos encontros anteriores e,

em encontro subseqüente, apontamos os equívocos, mostrávamos em power-point o que

previa cada etapa da seqüência didática e levávamos a refletirem sobre as suas

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produções. Com esta nova forma de abordagem a apreensão da proposta foi mais bem

entendida e com isso alcançamos resultados mais positivos.

Estando a seqüência didática melhor compreendida, apresentamos os outros

dois gêneros discursivos Histórias em Quadrinhos e Lendas, para a composição de nova

seqüência didática, sempre com vistas à formação em leitura e produção textual nas

séries iniciais, a qual deveria contemplar as habilidades de falar/ouvir e ler/escrever.

Para isso organizamos a turma em oito grupos, os quais elaboraram uma seqüência

didática com os dois últimos gêneros discursivos selecionados, ou seja, Histórias em

Quadrinhos e Lendas.

Para a elaboração desta seqüência didática os alunos tiveram um período de

uma semana, com direito à pesquisa. O trabalho foi socializado em outro encontro

seguinte, para toda a turma, no qual foram analisadas, pelos estagiários, todas as

seqüências elaboradas. Estas seqüências foram transpostas por um representante do

grupo no quadro de giz e discutida e avaliada tanto pelos estagiários quanto pelos

alunos do Curso Normal. Com esse trabalho obtivemos uma maior compreensão sobre

a proposta do nosso projeto e percebemos que a releitura e reescrita é realmente de

suma importância para a formação de bons leitores e escritores.

Ao concluir o projeto na escola tivemos o momento de avaliação, no qual

sugerimos que eles se manifestassem sobre a validade das atividades desenvolvidas.

Neste momento, e com base nos depoimentos dados conseguimos perceber que mesmo

frente a uma proposta nova de trabalho pedagógico, os alunos compreenderam e

atingiram os objetivos esperados. Conforme relato de um dos alunos sobre as atividades

desenvolvidas,

Ótimo. Para nós, futuros professores, será de grande valia, pois a seqüência didática -proposta do projeto- será utilizada dia-a-dia em nossa prática pedagógica; aprendi várias coisas entre elas foi o bom planejamento de uma seqüência didática, e as práticas como ler, ouvir, falar e escrever; o aproveitamento é a organização das diferenciações entre a seqüência didática e planos de aula, precisa ter organização para se obter um bom resultado e usar em sala de aula com os alunos no cotidiano; tenho certeza de que esse projeto me tornará um profissional melhor; foi interessante pois a partir deste aprimoramos nossos conhecimentos, fizemos atividades que valeram para o nosso aprendizado quando atuarmos como professores.

Pelo depoimento coletado é possível perceber que, mesmo o conteúdo

oferecendo algumas dificuldades, nossos objetivos, de apresentar uma nova

metodologia de ensino-aprendizagem de leitura e produção textual para as séries

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iniciais, com vistas ao desenvolvimento das quatro habilidades, foram produtivos tanto

para os alunos do Curso Normal quanto para nós que pudemos vencer dois desafios: o

de adquirir novos conhecimentos e o de terminar o estágio de docência, alcançando os

objetivos inicialmente traçados.

No decorrer das oficinas, realizadas com os alunos do Colégio Estadual

Humberto de Alencar Castelo Branco, percebemos que a metodologia da seqüência

didática pode facilitar o desenvolvimento das atividades pedagógicas proposta pelo

professor para a formação de leitores e escritores mais proficientes. Acreditamos que se

a seqüência didática for bem compreendida e aplicada corretamente em sala de aula o

ganho no resultado de aprendizagem pode ser muito grande. Isso nos motiva a conhecê-

la mais profundamente, e, futuramente, adotá-la em nosso fazer pedagógico.

Assim, concluímos que o desafio de aplicar as atividades previstas no projeto,

para cumprir nosso estágio de docência, proporcionou-nos um novo aprendizado e nos

possibilitou um novo olhar para as metodologias em espaços de ensino-aprendizagem,

principalmente, a escolhida para esta vivência, a seqüência didática. No contato direto

com os alunos pudemos dimensionar a responsabilidade que cabe ao professor no

processo de formação. Percebemos que a prática pedagógica com projetos que visem à

formação em leitura e produção textual, pautada nos gêneros discursivos e seqüência

didática, é possível de ser realizada em todos os graus de ensino. Para isso faz-se

necessário um professor bem formado e informado. Ao compartilhar esse desafio com

os futuros professores (alunos do Curso Normal), pudemos ampliar nossos

conhecimentos e aprimoramento para elaboração de novos projetos, motivando-os,

também, a aceitarem os desafios de buscarem alternativas para um ensino melhor.

REFERÊNCIAS:

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