Sensacionismo

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Sensacionismo 1. Como surge o sensacionismo? O Sensacionismo surge da ruptura com o lirismo tradicional Português e deriva de tendências europeias: do futurismo de Marinetti e de Kipling e da admiração destes escritores pela vida, pela matéria e pela força. É um termo criado por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro e explicado pelo primeiro ao longo de vários ensaios, apontamentos e escritos. O sensacionismo assume-se como princípio psicológico e estético e considera a sensação, a realidade da vida e a base da Arte. O sensacionismo deriva de três movimentos: do simbolismo francês do panteísmo transcendentalista português e "da baralhada de coisas sem sentido e contraditórias de que o futurismo, o cubismo e outros quejandos são expressões ocasionais, embora, para sermos exactos, descendamos mais do seu espírito do que da sua letra" (PESSOA, Fernando - Páginas Íntimas e de Auto- Interpretação, Lisboa, Ática, pp. 134-138). Este movimento artístico apresenta-se como uma procura de totalizações de todas as possibilidades dadas pelas sensações ou percepções de toda a humanidade, qualquer que seja o tempo ou o espaço. De um modo geral, o sensacionismo afirma o princípio da primordialidade da sensação - que a sensação é a única realidade para nós. Partindo daí, o sensacionismo nota as duas espécies de sensações que podemos ter: as sensações aparentemente vindas do exterior: as sensações aparentemente vindas do interior;

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Sensacionismo

1. Como surge o sensacionismo?

O Sensacionismo surge da ruptura com o lirismo tradicional Português e deriva de tendências europeias: do futurismo de Marinetti e de Kipling e da admiração destes escritores pela vida, pela matéria e pela força.

É um termo criado por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro e explicado pelo primeiro ao longo de vários ensaios, apontamentos e escritos. O sensacionismo assume-se como princípio psicológico e estético e considera a sensação, a realidade da vida e a base da Arte.

O sensacionismo deriva de três movimentos:

do simbolismo francês do panteísmo transcendentalista português e "da baralhada de coisas sem sentido e contraditórias de que o futurismo, o cubismo e

outros quejandos são expressões ocasionais, embora, para sermos exactos, descendamos mais do seu espírito do que da sua letra" (PESSOA, Fernando - Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Lisboa, Ática, pp. 134-138).

Este movimento artístico apresenta-se como uma procura de totalizações de todas as possibilidades dadas pelas sensações ou percepções de toda a humanidade, qualquer que seja o tempo ou o espaço.

De um modo geral, o sensacionismo afirma o princípio da primordialidade da sensação - que a sensação é a única realidade para nós.

Partindo daí, o sensacionismo nota as duas espécies de sensações que podemos ter:

as sensações aparentemente vindas do exterior: as sensações aparentemente vindas do interior; Constata que há uma terceira ordem de sensações resultantes do trabalho mental - as

sensações do abstracto.

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Sensacionismo na arte

A arte, devendo reunir as três qualidades de Abstracção, Realidade e Emoção, não pode deixar de tomar consciência de si como sendo a concretização abstracta da emoção.

A arte deve obedecer a condições de Realidade, isto é, deve produzir coisas que tenham, quanto possível, um ar concreto. A arte deve também obedecer a condições de Emoção porque deve produzir a impressão que os sentimentos exclusivamente interiores produzem, que é emocionar sem provocar à acção.

O sensacionismo constata que a arte:

não pode ser a organização das sensações do exterior, porque esse é o fim da ciência; não pode ser a organização das sensações vindas do interior, porque esse é o fim da

filosofia; é a organização das sensações do abstracto. A arte é uma tentativa de criar uma

realidade inteiramente diferente daquela que as sensações aparentemente do exterior e as sensações aparentemente do interior nos sugerem.

Assim, a arte tem por assunto, não a realidade, não a emoção, mas a abstracção. Não a abstracção pura, que gera a metafísica, mas a abstracção criadora, a abstracção em movimento.

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Sensacionismo e Fernando Pessoa

Segundo Fernando Pessoa, são três os princípios do Sensacionalismo:

o objecto é uma sensação nossa; a arte é uma conversão duma sensação em objecto; a arte é a conversão duma sensação numa outra sensação;

Pessoa evolui do saudosismo para o paulismo e daí para o interseccionismo e sensacionalismo, graças ao culto exacerbado ao “vago”, ao “subtil” e ao “complexo” e a influência simultânea do cubismo e do futurismo. Na base da arte estaria, portanto, a sensação.

Representado pela poesia de Álvaro de Campos, o Sensacionismo parte do primado filosófico e estético segundo o qual "a única realidade da vida é a sensação. A única realidade em arte é a consciência da sensação".

Caeiro torna-se o sensacionista mestre de Álvaro de Campos e de Ricardo Reis, mas enquanto este último leva o paganismo à sua expressão mais ortodoxa (grega, filosófica, epicurista...), Campos , pelo contrário, desenvolve um sistema totalmente oposto, baseado inteiramente nas sensações.

Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações ou percepções de toda a humanidade.. Para Álvaro de Campos a sensação é tudo. O seu sensacionismo distingue-se do de Alberto Caeiro, na medida em que este heterónimo considera a sensação captada pelos sentidos como a única realidade, mas rejeita o pensamento. Campos busca, na linguagem poética, exprimir a energia ou a força que se manifesta na vida. Daí o surgimento de versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções.

A poesia desta fase de Álvaro de Campos expressa um entusiasmo por uma poesia que espelhasse a civilização industrial da época. A intenção inicial de Pessoa era criar um poeta das sensações modernas, do prazer sensual da imaginação, da energia explosiva. Pessoa considerou as sensações como elemento fundamental, último e inderivável de todo o exercício artístico.

Excerto de Álvaro de Campos onde predomina o sensacionismo:

A melhor maneira de viajar é sentir (powerpoint)

“Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras. Sentir tudo excessivamente, Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas E toda a realidade é um excesso, uma violência, Uma alucinação extraordinariamente nítida Que vivemos todos em comum com a fúria das almas, O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.”

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A "Ode triunfal" de Álvaro de Campos que deu início a esta nova tendência por volta de 1916.

Poemas sensacionistas: São sensacionistas (e Futuristas) os poemas:

"Acordar a cidade de Lisboa" "Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir" "Mestre,meu mestre querido" "Minha alma partiu-se como um vaso vazio" "Lisboa revisited"

Álvaro de Campos