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Visões da prática docente por um professor de Física Igor Matheus de Sena Lemos* [email protected] Thomas Kauam Gomes de Andrade* [email protected] Alécia Lucélia Gomes Pereira (Orientadora)** [email protected] Resumo A prática docente envolve vários quesitos de grande importância para uma boa aprendizagem do aluno, nesse trabalho é discutido alguns temas que são considerados fundamentais. No ensino de física, o professor é um agente intrínseco no que diz respeito à aprendizagem, tem a função de promover os estímulos necessários para que o aluno possa intervir na sociedade. E, para isso é necessária uma boa formação na graduação, apoiados a teorias pedagógicas utilizadas na concepção dos conteúdos e métodos de ensino. Diante dessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é analisar a concepção de currículo a partir de pressupostos elencados em sala e dentre outros fatores como a interdisciplinaridade, o método de elaboração do plano de aula e ensino, concepções sobre o modelo do livro didático, intervenção dos PCN’s, e ainda quais abordagens de ensino *Graduandos em Licenciatura em Física pela (UEPB). **Professora da UEPB. Mestre em letras (UFPB). Especialista em Linguística Aplicada (UFCG). Graduada em Letras - Língua Portuguesa (UEPB).

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Este pequeno artigo foi construido a parti da disciplina de currículo do curso de física, onde foi feita uma entrevista com um professor o intuito de verificar a sua prática docente.

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Visões da prática docente por um professor de Física

Igor Matheus de Sena Lemos*[email protected]

Thomas Kauam Gomes de Andrade*[email protected]

Alécia Lucélia Gomes Pereira (Orientadora)**[email protected]

Resumo

A prática docente envolve vários quesitos de grande importância para uma boa

aprendizagem do aluno, nesse trabalho é discutido alguns temas que são considerados

fundamentais. No ensino de física, o professor é um agente intrínseco no que diz

respeito à aprendizagem, tem a função de promover os estímulos necessários para que o

aluno possa intervir na sociedade. E, para isso é necessária uma boa formação na

graduação, apoiados a teorias pedagógicas utilizadas na concepção dos conteúdos e

métodos de ensino. Diante dessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é analisar a

concepção de currículo a partir de pressupostos elencados em sala e dentre outros

fatores como a interdisciplinaridade, o método de elaboração do plano de aula e ensino,

concepções sobre o modelo do livro didático, intervenção dos PCN’s, e ainda quais

abordagens de ensino são utilizadas pelo professor de física. Esta entrevista também

salienta a práxis do professor, nos reiterando sobre como está à situação dos docentes,

mesmo que de forma geral. E, sem dúvidas, ampliar o nosso entendimento em relação à

sala de aula e o desafio que é ser professor. A pesquisa bibliográfica teve por base os

documentos oficiais (PCNEM, 2000; LDB, 1996) e literatura acadêmica (Coimbra,

2007; Moreira, 2010; Moreira, 2013; Rosa, 2007 e Souza, 2013). A metodologia

utilizada foi uma entrevista realizada com um professor a partir de questionamentos

trabalhados em sala com o intuito de fazer um levantamento e análise da prática dentro

e fora de sala desse professor atuante na região. Ao longo da entrevista pudemos notar

que o ensino da física, apesar do grande avanço, ainda é unificado ao método tradicional

e voltado para o vestibular, ENEM, muito por causa da pressão imposta de maneira

silenciosa pelas instituições, e isso vem a empobrecer a formação acadêmica e social do

*Graduandos em Licenciatura em Física pela (UEPB).**Professora da UEPB. Mestre em letras (UFPB). Especialista em Linguística Aplicada (UFCG). Graduada em Letras - Língua Portuguesa (UEPB).

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aluno trazendo consequências para o decorrer da vida, pois sabemos que o ensino e

capaz de construir e transformar a realidade.

Palavras-chave: Currículo; Documentos oficiais; Ensino de Física.

1. Introdução

No Ensino Médio brasileiro, atual, a proposta é a formação geral, em oposição à

formação específica, ou seja, o desenvolvimento de capacidades de pesquisar, buscar

informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar, formular, ao

invés do simples exercício de memorização.

Para realização de tais objetivos o aluno deve contar sempre com o professor que

é o sujeito mediador que age na busca pela concretização dos objetivos propostos. No

entanto, a forma que o professor age é de fundamental importância, seus métodos e

modelos de ensino devem se adequar ao método de aprendizagem do aluno.

Sabemos que o ensino de Física, na educação básica, tem o papel principal na

formação de uma cultura científica, de modo que o estudante se aproprie do discurso

científico e do entendimento das potencialidades e limitações das ciências, tudo isso

voltado à vida em sociedade, a fim de se inserir de forma ativa e critica no meio social.

É evidente a importância da física em todas as instâncias do conhecimento e como ela

deve ser tratada pelos professores, se apresentada como um desafio.

Porém, o ensino de física é considerado pelos alunos o de maior dificuldade de

compreensão, tendo em vista isso, o professor de física deve adequar à sua forma de

ensino de maneira que torne o conteúdo mais compreensível possível.

O fato é que o atual modelo de ensino, adotado na maioria das instituições

educacionais, tem-se mostrado inadequado, diante das necessidades de um

conhecimento acerca das questões científicas e filosóficas que permeiam a humanidade.

Os dias atuais, com o avanço da globalização, exigem um perfil diferenciado de ensino,

portanto, não basta o professor ensinar de forma tradicional, por mera memorização,

pois tais modelos são insuficientes, até no que diz respeito à motivação dos alunos.

Este trabalho tem como principal objetivo mostrar a forma com a qual o professor

prepara sua aula, em quais documentos ele se baseia, se ele está consultando o PCN

(Programa Curricular Nacional) que é o documento oficial do ensino que devera ser

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seguido. Qual o objetivo da aula para o aluno, se ele está preparando o aluno para a

vida, ou simplesmente, para realização de uma prova como a do ENEM (Exame

nacional do Ensino Médio), por exemplo, evidenciando sua função de construtor e

professor receptor, ou seja, aquele que provem meios para o aprendizado do aluno.

É analisada a metodologia utilizada pelo professor para ministrar a sua aula, quais

abordagens ele usa na aplicação do conteúdo, se houve um relacionamento com o

cotidiano do aluno, com as tecnologias e com a história da ciência. A dimensão política

da ação educativa, que deve estar presente mesmo antes do professor vir ministrar sua

aula. É feita também uma análise do uso dos materiais, pelos professores de física, todos

os aparatos que cercam as aulas e o fazer pedagógico.

Embora o artigo tenha caráter informativo, foi de grande importância no que diz

respeito às perspectivas dos alunos de físicas da graduação no campus VIII da UEPB,

pois até o momento só estamos vivenciando a teoria, e essa aproximação com o campo

de trabalho por meio deste trabalho trará uma visão ampla e realista dos desafios e

êxitos que iremos nos deparar.

A metodologia utilizada para análise dos dados foi um questionário produzido na

disciplina de OTEC (Organização do Trabalho e Currículo na Escola) baseado em

estudos acerca dos conteúdos trabalhados onde envolvemos aspectos que são de

extrema importância para a prática docente.

Tomamos como base, nesse estudo, vários artigos e documentos relacionados à

educação do Ensino Médio, focando mais na parte de Ciências da Natureza e suas

Tecnologias, trabalhados na disciplina de OTEC, ministrada pela Professora Dra.

Lenilda Cordeiro de Macêdo na instituição UEPB (Universidade Estadual da Paraíba)

para uma melhor análise da pesquisa.

Foi realizado também um estudo aprofundado sobre o tema Currículo, onde

estudamos o livro de Tomaz Tadeu da Silva, chamado de Documentos de Identidade,

para uma análise melhor das questões que envolvem o tema currículo.

A entrevista foi efetuada com um professor atuante do ensino médio particular e

público na disciplina de física, com mais de 10 anos em salas de aulas, com frequência

em cursos preparatórios (cursinho) e prestador no Estado da Paraíba dede 2009,

Em prol desses objetivos, examinaremos um pouco da realidade do ensino de

Física na região, analisando e discutindo a partir do questionário realizado.

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A pesquisa tem como fundamento a análise de um professor atuante na região,

perante a formação, uso dos documentos oficiais, disponibilidade de aparatos no meio

de atuação, inovação, uso da interdisciplinaridade e relação com a vivência do aluno

para que se faça um levantamento sobre as causas que leva um aluno a não dá a devida

importância a sua aula, ou pensar que mais especificamente a física é de difícil

compreensão.

2. Concepção de currículo

A educação atual passa por inúmeros entraves. Vários aspectos são pensados e

analisados em prol da qualidade de ensino, porém o que se identifica como elemento

chave nesta complexidade são as características curriculares e o seu funcionamento.

O currículo é um instrumento de função socializador, um elemento imprescindível

à prática pedagógica, pois ele está diretamente ligado às variações dos conteúdos, a

sociedade e na profissionalização dos docentes. Sem falar que, o currículo é, sobretudo

um meio idealizador com maior poder de difusão da sociedade, pois se constitui desde o

início do desenvolvimento do ser humano capaz de molda-lo.

A educação tem poder ímpar na sociedade, através dela é que o conhecimento é

distribuído e o currículo passa a ser considerado como um veículo de interesses sociais

que concordam com valores e crenças dos grupos dominantes. Segundo Silva:

O currículo é, definitivamente, um espaço de poder. O conhecimento corporificado no currículo carrega as marcas indeléveis das relações sociais de poder. O currículo é capitalista. O currículo reproduz as estruturas sociais. (SILVA, 2007. p. 147).

E ainda que “O currículo contribui para reproduzir a sociedade capitalista. O

currículo atua ideologicamente para manter a crença de que a forma capitalista de

organização é boa e desejável” (SILVA 2007. p. 148).

O currículo é uma relação entre o que é observado e a realidade. Isso nos leva a

perceber que ele é uma representação de uma realidade. O currículo é um objeto que

precederia a teoria que está implicada na produção da realidade. Tomando uma

perspectiva dos pós-estruturalistas, o discurso se diferencia, pois, produz seu próprio

objetivo. A descrição de currículo como ele realmente é, produz uma noção particular

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de currículo. Desse ponto de vista pós-estruturalista, a teoria descreve como uma

descoberta de algo que ela própria criou. Em um caso concreto, podemos observar que o

currículo aparece como objeto de pesquisa e estudo, após a massificação da

escolaridade, depois foi racionalizado o processo de construção e desenvolvimento de

currículos.

As teorias de currículo estão cheias de afirmações de como as coisas deveriam ser.

Da perspectiva de discurso, as supostas asserções sobre como a realidade se tornam

asserções, de como a realidade deveria ser, entretanto, nas duas concepções o currículo

se torna um processo industrial e administrativo, perdendo o seu valor como

instrumento capaz de delinear a formação social.

O aprendizado se faz presente ao observar essas perspectivas apresentadas sobre

currículo, pois sua importância é a grande transformação na educação. É comum os

professores ficarem assustados quando se veem frente ao novo pensar e a

Interdisciplinaridade é uma proposta de um rever atitudes e posturas para melhorar a

Educação nas escolas de todos os níveis.

O campo da teoria curricular é, sem dúvida, um campo aberto ao

desenvolvimento. Por esse motivo é sempre tão importante unir pesquisadores para

traçar a história do conhecimento curricular e nessa perspectiva enumero também a

importância da Interdisciplinaridade mencionada por Fazenda que veremos a seguir.

 

2.1 Interdisciplinaridade e sua influência na prática docente

Diante de um mundo complexo onde o conhecimento especificamente disciplinar

mostra-se insuficiente para o tratamento de problemas tanto de ordem social, quanto

natural, a interdisciplinaridade parece ser uma vertente a se desenvolver. A difusão de

ideias e o debate, no Brasil, tiveram início em meados da década de 70, principalmente

a partir das ideias apresentadas por Japiassú e Ivani Fazenda (ALVES; BRASILEIRO;

BRITO, 2004). O termo logo ganhou grande popularidade e foi incorporado ao

vocabulário educacional. A interdisciplinaridade ganhou força com as Propostas

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, consistentemente nos PCN+ com

orientações um pouco mais claras de como os professores podem desenvolver trabalhos

interdisciplinares.

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No âmbito educacional, a interdisciplinaridade vem sendo apontada como uma

alternativa ao ensino disciplinar capaz de possibilitar um maior significado aos

conteúdos escolares, a superação do modelo propedêutico de educação e a contribuição

para a formação do cidadão (PIETROCOLA; ALVES FILHO; PINHEIRO, 2003).

Entretanto, não deveremos deixar de lado o ensino disciplinar, pelo contrário, a

interdisciplinaridade vem estabelecer, ou recuperar, as ligações e solidariedades entre os

objetos das diferentes disciplinas, buscando assim não negligenciar as ligações e

solidariedades destes objetos com o universo do qual ele faz parte e deve ser objeto de

estudo nas nossas escolas.

A interdisciplinaridade segundo Zimmermann e Carlos (2005), possibilita a

construção do conhecimento em física de forma mais integrada, uma vez que o

conteúdo é organizado a partir de uma mesma problemática geral com possibilidade de

inclusão dos aspectos sociais ligados ao tema durante a transposição didática do

conteúdo que, se realizada de maneira criteriosa, provavelmente tornará o ensino muito

mais rico e global, podendo ser ponto de partida para uma ênfase curricular em CTS. É

a partir dessa perspectiva que os PCNs + de ciências da natureza, matemática e suas

tecnologias orientam a ação pedagógica.

A partir dos PCNs, o termo interdisciplinaridade, apesar de não ser bem

compreendido, começou a ganhar força no campo educacional. Segundo Lück (1995),

isso ocorre porque os educadores muitas vezes evitam pôr em prática os novos

conceitos e ideias que aprendem, dessa forma enriquecendo apenas seu vocabulário e

discurso, e empobrecendo sua vivência. Contudo, é desafio de todos nos superar essa

atitude, e é com essa perspectiva que procuramos compreender os diferentes

significados e usos atribuídos ao termo, visando a clarificá-lo e desmistificá-lo,

principalmente, quanto ao seu potencial e sua prática em aulas de Física.

2.2 Plano de aula e Currículo

É importante o professor preparar sua aula buscando os melhores objetivos para

elas é o fator principal para uma elaboração de aula é o plano de aula. Para montar um

plano de aula, o professor deve ir ao encontro do interesse de seus alunos, além dos

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conteúdos abordados nas séries, exigidos dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais,

os PCNEM.

As diretrizes curriculares organizam as áreas de conhecimento e orientam a

educação à promoção de valores como a sensibilidade e a solidariedade, atributos da

cidadania, apontam de que forma o aprendizado de Ciências e de Matemática, já

iniciado no Ensino Fundamental, deve encontrar complementação e aprofundamento no

Ensino Médio.

Com base em documentos do PCNEM, ao se denominar a área como sendo não só

de Ciências e Matemática, mas também de suas Tecnologias, sinaliza-se claramente

que, em cada uma de suas disciplinas, pretende-se promover competências e habilidades

que sirvam para o exercício de intervenções e julgamentos práticos.

O aprendizado deve contribuir não só para o conhecimento técnico, mas também

para uma cultura mais ampla, desenvolvendo meios para a interpretação de fatos

naturais, a compreensão de procedimentos e equipamentos do cotidiano social e

profissional, assim como para a articulação de uma visão do mundo natural e social.

Deve propiciar a construção de compreensão dinâmica da nossa vivência material,

de convívio harmônico com o mundo da informação, de entendimento histórico da vida

social e produtiva, de percepção evolutiva da vida, do planeta e do cosmos, enfim, um

aprendizado com caráter prático e crítico e uma participação no romance da cultura

científica, ingrediente essencial da aventura humana.

Segundo Brunieira (2014. p. 1) “É fundamental, valorizar o contexto local na elaboração dos objetos de estudo. Além de se tratar de uma iniciativa importante para engajar os alunos nos projetos, essa perspectiva pode referenciar o contexto local na cultura contemporânea, possibilitando a compreensão do caráter das relações sociais locais, mediado por condições sociais e históricas de caráter mais amplo”.

As modalidades exclusivamente pré-universitárias e exclusivamente

profissionalizantes do Ensino Médio precisam ser superadas, de forma a garantir a

pretendida universalidade desse nível de ensino, que igualmente contemple quem

encerre no Ensino Médio sua formação escolar e quem se dirija a outras etapas de

escolarização.

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A aprendizagem da área de Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias não deve ser centradas nos materiais instrucionais, muito menos resumir-se ao discurso professoral, mas sim, deve ser ativa e participativa em uma prática de elaboração cultural. No entanto, isso exigirá uma atualização de conteúdos ainda mais ágil e direcionada à realidade de cada aluno. (OLIVEIRA, 2014. p. 1).

Sabe-se que o recurso mais utilizado pelo professor para ministrar uma aula é o

livro didático. O livro didático tem exercido um papel fundamental na aprendizagem do

aluno. E para a análise e avaliação dos livros presentes na escola foi criado o PNLD

(Plano Nacional do Livro Didático).

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) tem como principal objetivo

subsidiar o trabalho pedagógico dos professores por meio da distribuição de coleções de

livros didáticos aos alunos da educação básica.  Após a avaliação das obras, o

Ministério da Educação (MEC) publica o Guia de Livros Didáticos com resenhas das

coleções consideradas aprovadas. O guia é encaminhado às escolas, que escolhem, entre

os títulos disponíveis, aqueles que melhor atendem ao seu projeto político pedagógico.

O programa é executado de três em três anos. Assim, a cada ano o MEC adquire e

distribui livros para todos os alunos de um segmento, que pode ser: anos iniciais do

ensino fundamental, anos finais do ensino fundamental ou ensino médio. À exceção dos

livros consumíveis, os livros distribuídos deverão ser conservados e devolvidos para

utilização por outros alunos nos anos subsequentes.

Com base nesses conhecimentos analisaremos as respostas obtidas com a

entrevista sobre prática docente para uma discussão em relação ao assunto.

3. Análise e discussão dos dados

A entrevista foi concedida por um professor com Graduação em Física que atua

no ensino médio público e privado em diversos municípios com experiência em sala de

aula desde o ano de 2005. As respostas obtidas foram fielmente reproduzidas para se

trazer de forma clara a concepção do mesmo para com as questões em pauta.

As questões da pesquisa foram elaboradas baseadas em estudos realizados na

disciplina de OTEC ministrada pela professora Dra. Lenilda Cordeiro de Macêdo na

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instituição UEPB. As nove questões foram objetivas e de caráter fechado, todas voltadas

para as concepções de ensino do professor de Física.

No momento da entrevista primeiramente foi feito uma indagação sobre o

conceito/compreensão do que é currículo. É fundamental que o professor tenha um

conceito do que venha a ser currículo para a elaboração de suas aulas. O entrevistado

deu a seguinte resposta:

“Conjunto de diretrizes a serem seguidas na disciplina, conteúdo, metas a serem

atingido, tipo de conhecimento, na forma mais dinâmica para a ocorrência do

aprendizado”.

Como já havíamos citado, Segundo Silva

O currículo é, definitivamente, um espaço de poder. O conhecimento corporificado no currículo carrega as marcas indeléveis das relações sociais de poder. O currículo é capitalista. O currículo reproduz as estruturas sociais. (SILVA, 2007. p. 147).

A partir disso, podemos notar uma visão mais maleável e crítica voltada para o

aprendizado do aluno, no entanto, ainda seguindo os moldes tradicionais de que o

currículo é um caminho a ser seguido.

Procuramos saber quais os documentos que o professor utiliza para elaboração de

sua aula. É importante que o professor tenha uma fonte segura e apropriada para

consultar os conteúdos a serem ministrados em sua aula e como o professor interage

com os outros professores da área relacionada à Física, uma vez que é necessário um

entendimento dessas outras disciplinas para realizar suas aulas.

Em relação ao uso de documentos ou materiais na elaboração do plano de ensino

o professor colocou que:

“Consulto o plano de curso e o currículo da disciplina, baseando neles para a

elaboração”.

Podemos observar que apesar de se nortear com dois documentos importantes

nessa construção, documentos como o PCNEM não foi citado, que é de suma

importância para essa elaboração. Já, em contrapartida, no que se diz respeito à

interdisciplinaridade com outras disciplinas, vemos a seguinte colocação:

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“Sempre! Sempre busco a interação com as disciplinas da natureza, sempre

fazendo o paralelo com a química, e quando possível entre a biologia tentando mostrar

para o aluno que as três disciplinas trabalham com a natureza e quando possível trago

material de ciências sociais para tentar mostrar que o conhecimento é abrangente e o

aluno não deve se limitar a parte do conhecimento, mas nele como um todo”.

Diante do exposto, vimos que o professor tem essa preocupação de trazer as

outras disciplinas para a interação e, assim, melhorar a assimilação, pois elas não são

isoladas. Vale a pena lembrar que, lado a lado com uma demarcação disciplinar, é

preciso desenvolver uma articulação interdisciplinar, de forma a conduzir

organicamente o aprendizado pretendido. A interdisciplinaridade tem uma variedade de

sentidos e de dimensões que podem se confundir, mas são todos importantes.

Sobre os livros didáticos tão criticados por uns e vangloriados por outros.

Também foram colocados em questão, até pela discordância das partes que são

responsáveis e a maioria dos professores de Física. Qual sua opinião sobre os atuais

livros didáticos que estão à disposição na escola para os alunos, o professor expos sua

opinião sobre o livro didático:

“São ‘engessados’, são livros que são muito voltados aos vestibulares

tradicionais. Apesar das tentativas de contextualização, ainda há uma deficiência muito

grande para os moldes da prova do ENEM, que traz questões elaboradas com textos

mais longos, contextualizando, fazendo um plano de interdisciplinaridade facilitando o

aprofundamento no aprendizado. Porém, a maior deficiência é a de não trazer o

conhecimento “pro” cotidiano, os que fazem é de forma bem rasa, há uma falta de

contextualizar de forma mais concreta e da ênfase nela”.

Ao mesmo tempo cita uma experiência interessante no EJA:

“Deparei-me com uma situação assim no EJA, onde eles tentam ao máximo

contextualizar, mas em contrapartida perdem o foco”.

Vemos que ele cita que as questões são desatualizadas de acordo com os modelos

de ensinos atuais, e na mesma linha critica a falta de relação com o cotidiano

evidenciando o que foi visto nas análises.

Nos estudos realizados observamos que um bom livro de física é aquele que faz

uma interação intensa com o aluno. Nos livros didáticos é importante ter as abordagens

da Física com a história da Ciência mostrando ao aluno que aquele conhecimento não

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surgiu do nada, houve acontecimentos importantes que influenciaram o surgimento

daquele conhecimento.

Outra abordagem interessante que deve haver nos livros de Física é a relação da

Ciência com a tecnologia, já que no mundo atual a tecnologia é bastante presente no

cotidiano do aluno.

O processo empírico, que é a realização dos experimentos, deve ter para uma

melhor interação do aluno com o conteúdo, isso também pode ajudar na aprendizagem

do aluno já que não deixa o conteúdo apenas de forma teórica, mas também de forma

prática.

Os exercícios teóricos propostos no livro são importantes desde que haja uma

interação das abordagens acima citadas. Diferente do que foi observado na análise feita

por COIMBRA (2007) onde pode se observar que os livros didáticos traziam exercícios

realizados em vestibulares apenas para “treinar” o aluno para o vestibular. Pode se

observar também um número muito alto de exercícios se comparados ao número de

abordagens de HFC (História e Ciência da Tecnologia) e CTS (Ciência Tecnologia e

Sociedade).

Em seguida, no sexto questionamento, procuramos saber se ele usa algum outro

tipo de material além do livro didático para a elaboração da sua aula, uma vez que não é

necessário que o professor siga apenas os livros didáticos fielmente.

No sétimo questionamento é perguntado ao professor se ele segue o PCN (módulo

de Ciências da Natureza e suas Tecnologias) proposto pelo governo para o ensino

médio.

Ao ser indagado sobre o PCNEM o professor foi claro:

“Na verdade, não. Pegamos a base dele, as diretrizes e os conteúdos a serem

ministrados, mas voltando o pensamento no aluno”.

Mesmo depois de visto, no decorrer da entrevista, alguns pontos contidos no

documento, após a nossa leitura, o professor não utiliza este meio para orientar seu

ensino de acordo com as perspectivas oficiais, esse é um problema muito evidente e que

traz consequências como uma má aprendizagem do aluno, ou até mesmo em uma forma

de ensino equivocada adotada pelo professor no que diz respeito à busca de propiciar

melhores condições de aprendizagem para o aluno.

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Em seguida é perguntado ao professor se ele prepara o aluno apenas para o

ENEM, que é o principal objetivo das escolas atualmente, e qual a opinião que ele tem

sobre a prova do ENEM. É questionado, também, sobre qual opinião ele tem sobre o

sucesso do aluno no ENEM e na sociedade. O professor explana:

“Sim, o foco sempre e a prova do ENEM, trabalho com o aluno do ensino médio

pensando a esse acesso ao ensino superior”.

De antemão vemos uma resposta fechada, a qual nos deixa claro a importância

que é dada ao exame, a realização da prova, mais especificamente. Ultimamente, e com

o advento do ENEM como principal porta de acesso para o ensino superior, que é o que

a maioria dos jovens buscam, o ensino como um todo se voltou para a prova, em

decorrência disso está sendo esquecido que as matérias devem se voltar para o

desenvolvimento do aluno com um conhecimento efetivo, onde os aspectos e conteúdos

tecnológicos associados ao aprendizado científico e matemático sejam parte essencial da

formação cidadã, de sentido universal e, não somente preparar o aluno para passar em

uma prova, é necessário uma reflexão sobre o que a educação se propõe, ou seja,

preparar o aluno não só para a vida acadêmica mas para portar na sociedade como

cidadão atuante e conhecedor do fenômenos físicos.

Ainda voltado para o ENEM, agora, sobre o que o professor pensa acerca do

exame:

“A prova do ENEM é de fundamental importância pelo peso de ser a principal

alternativa para se entrar ao ensino superior. Vejo com bons olhos no aspecto da

contextualização, conhecimento relacionado com o cotidiano, questões bem

elaboradas, algumas se contradizem, há leves erros, mas de forma irrelevantes. Ela

também traz uma característica de ser uma prova classificatória, a longevidade da

prova demonstra esse caráter. Comparando-a com, por exemplo, o vestibular da

paraíba, antigo PSS que era eliminatório. Coloco-a mais como uma maratona do que

uma prova de conhecimentos direto”.

Vemos que a visão do professor dá enorme importância para o quesito de uma

porta de entrada para ensino superior, apesar de ver detalhes que trazem consigo os

ideais do PCNEM de fazer o contexto o aluno para dentro de sala, fazendo melhor a

relação com o assunto abordado, além da interdisciplinaridade que é uma ferramenta

importante para a busca do aprendizado geral. Ao mesmo tempo elenca que ela é mais

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uma espécie de prova onde os mais aptos sobrevivem o que nos traz à tona que o ENEM

é para poucos conseguirem, ou seja, excludente.

Foi questionado sobre a metodologia utilizada pelo professor para ministrar suas

aulas, quais abordagens são usadas e como são trabalhados os conteúdos de Física, a fim

de estimular o interesse do aluno na aprendizagem:

“Tomo por base o livro texto adotado pela instituição, fazendo pesquisas para

complementar tanto na internet como em matérias disponíveis. Sempre que possível

adiciono recursos midiáticos (audiovisuais meramente ilustrativos). Também utilizo os

recursos tradicionais, para manter uma figura mais concreta para transcrição como

forma de fixar”.

Vemos que o professor não cita nenhuma abordagem, no entanto, faz o uso,

evidentemente, das TIC’s nas suas aulas, a qual o recurso tradicional ainda é bastante

utilizado, isso nos mostra que há a falta de renovação dos estudos, o que traria uma

releitura de sua prática, destacando que o ensino mecânico ainda é muito utilizado pelo

professor.

Ao fim das questões mais específicas sobre os temas elencados, no início do nosso

trabalho, pedimos sua sugestão para o melhoramento do ensino:

“Deveria haver uma adesão de aulas de física laboratoriais, ou seja,

obrigatoriedade também nas outras áreas de ciências da natureza. Além disso, trazer a

prática para o cotidiano e tentar tornar mais palpável o conteúdo, por exemplo, trazer

o universo adolescente para o contexto sem perder a cientificidade”.

O professor coloca algo interessante sobre aulas experimentais obrigatórias, de

acordo com nossa visão e por estar estudando de fato uma matéria experimental vemos

que seria uma boa alternativa para a compreensão do aluno. Outro ponto também

importante é que pode ser muito útil para a motivação do alunado adolescente e trazer

suas vivências de faixa etária, em exemplos descontraídos, sem perder o foco científico.

Os documentos estudados articulam que temos que colocar o meio do aluno na

prática docente com o intuito de melhorar a aprendizagem significativa e o conhecer das

abstrações presentes na física, porém, se nos voltarmos demais nesse enfoque podemos

perder a cientificidade do assunto.

Como discentes da licenciatura em física temos o importante papel de, na

formação, buscar a realidade que está a nossa volta no ensino de física, no caso, da

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nossa região, com intuito de trazer os principais problemas e deficiências dos

professores, no que se diz respeito, ao trabalho pedagógico, deste modo, assimilar o que

foi visto, para não continuar os erros, e sim, combate-los, na incessante jornada que é a

procura de uma melhoria no ensino de física.

4. Considerações Finais

Indiscutivelmente, o ensino de Física nas escolas depende de melhores condições

de trabalho para os professores, da valorização dos professores. Essa é uma questão

política a ser enfrentada. No discurso, a educação é sempre prioridade; na prática, os

professores têm carga horária muito elevada e salários muito baixos em relação as suas

responsabilidades, no entanto, não tornando isso um motivo para não se fazer um ensino

de qualidade.

É preciso, também, incorporar, ao ensino da Física, as tecnologias de informação

e comunicação, assim como aspectos epistemológicos, históricos, sociais e culturais.

Ensinar Física é, sem dúvidas, um grande desafio, mas pode ser apaixonante se

conseguirmos melhores condições de trabalho para os professores, livrar-nos do ensino

para a testagem e, metaforicamente, não ficarmos dependendo do quadro e o livro de

texto.

Com base nas discussões, feitas em sala, nos textos incessantemente trabalhados,

onde trouxeram novos horizontes para o ensino da física e auxiliaram no entender de

que podemos, sim, fazer um ensino diferente, sem fugir do que é essencial e conectar

com a realidade dinâmica que vivenciamos, podemos nos desprender da forma mais

tradicional e usual do currículo para ensinar física buscando, com sabedoria e apoiados

a teorias como as de Paulo Freire, a adaptação a um mundo que está em constante

evolução.

As respostas dadas pelo professor foram de suma importância para concentrarmos

nossos esforços a fim de nos tornarmos professores diferentes, críticos com o nosso

trabalho, modo de ver o mundo e, principalmente capazes de mudar a realidade do

ensino local e ver que o ensino de física ainda, por via histórica, é muito tradicional e

metódico fugindo dos ideais de construção grupal e aprendizagem significativa.

Diante das perspectivas de estudos que tivemos e toda a bagagem do fato da

observação e vivência escolar, nesse contexto uma saída, a longo prazo, seria uma

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mudança nos PCN’s, principalmente os do ensino fundamental, especificamente o 2,

com o propósito de proporcionar já nesse período ao aluno uma maior visão sobre a

física, que é ainda muito escassa ou quase nenhuma nas escolas públicas e também em

particulares.

Ao se combater a inicialização do processo de amadurecimento dos alunos perante

as matérias científicas, se faz necessária uma intervenção com professores de física e

não somente de ciências nesse período para não ocorrer mais deformações, além das já

presentes.

No ensino médio, para a execução das aulas, é essencial sempre inovar no quesito

das abordagens, em materiais que atinjam a vida do aluno, se confundam com seu dia-a-

dia contemplando meios de motivação em busca da consolidação da aprendizagem. A

partir desses processos o aluno conseguirá decifrar outras abstrações e situações

palpáveis do que foi estudado afirmando o caráter de educar e possibilitar seu

crescimento pessoal

5. Referências Bibliográficas

ALVES, Railda F.; BRASILEIRO, Maria do Carmo E.; BRITO, Suerde M. de O.. Interdisciplinaridade: um conceito em construção. Episteme, Porto Alegre, n. 19, 2004. p.139-148.

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