Sempre Em Frente - Roberto Shinyashiki

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R Q B E R T O SHINYASHIKI SEMPRE

Transcript of Sempre Em Frente - Roberto Shinyashiki

  • R Q B E R T O

    SHINYASHIKI

    SEMPRE

  • R O B E R T O

    SHINYASHIKI

    SEMPRE EM FRENTE

    f g g g a

  • Sempre em frente. No temos tempo a perder.

    Renato Russo

  • Dedico este livro

    aos meus filhos Ricardo e Arthu

    jovens caminhantes

    em suas jornadas de heris.

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Quero agradecer de todo o corao aos meus filhos Ri-

    cardo e Arthur por compartilharem comigo as suas jornadas de

    heris. As nossas conversas influenciaram cada uma das palavras

    deste texto.

    Minha gratido minha esposa, Claudia, por sua inestim-

    vel colaborao, to grande que, se ela no fosse to humilde,

    teria aceitado colocar seu nome como co-autora deste livro.

    Um especial agradecimento a Camilo Vannuchi e Gilberto

    Cabeggi, dois fiis colaboradores que contriburam muito para que

    a viagem de escrever este livro se tornasse possvel e prazerosa.

    Minha gratido a Fernando Leal Fernandes Jr., Rosely Boschini,

    Anderson Cavalcante e a todo o pessoal da Editora Gente e do Ins-

    tituto Gente que, como sempre, formam os principais pilares para

    que eu possa desenvolver o meu trabalho.

    Agradeo s pessoas que leram os originais deste livro, es-

    pecialmente Renata Carraro e Keila Mrcia Teixeira lvares, que,

    com seus comentrios, ajudaram a deixar minhas idias mais

    claras e tornar este trabalho mais prximo dos leitores.

    Um obrigado carinhoso aos meus mentores e anjos da

    guarda por me mostrarem a luz, me acompanharem e me orien-

    tarem em minhas jornadas de heri.

    Que eu consiga retribuir todas as bnos que recebo da

    Existncia!

    Roberto Shinyashiki

    7

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Sumrio

    Introduo 11

    Captulo 1 D TRABALHO, MAS LEGAL 21

    No meio do caminho tem desafios 23

    Hora de avanar 25

    Crise um aviso de que a vida chegou

    sua porta 28

    Captulo 2 FAA A VIAGEM VALER A PENA 33

    Destrua a velha home page e construa

    seu novo site 34

    O verdadeiro milagre 36

    As fases da travessia 39

    No tenha medo de caminhar no escuro

    gostoso demais ser voc mesmo 49

    Captulo 3 OS INIMIGOS DA TRAVESSIA 53

    No tenha medo de bicho-papo 54

    Atolados no meio do caminho 58

    Os tipos atolados 60

    8

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Captulo 4 UM MARCO NA JORNADA DO HERI

    91

    83

    Captulo 5 OS SEUS PODERES INTERIORES

    Integridade 93

    Capacidade de explorar o mundo interior

    Assuma as suas escolhas 105

    Conserte os seus erros 109

    Acredite sempre 113

    Construa a sua vida com equilbrio 116

    Habilidade de suportar presses 119

    Capacidade de aprender rapidamente 122

    Consistncia e regularidade 125

    Capacidade para celebrar 129

    Captulo 6 OS ANJOS DA GUARDA 133

    Amizades 134

    Os relacionamentos 138

    Os familiares 144

    Os mentores 145

    101

    Concluso V COM DEUS 151

    9

  • introduo

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Fui um jovem muito complicado.

    To complicado que, s vezes, nem eu mesmo acredito como

    a minha vida mudou tanto. Para ser sincero, muitas vezes me per-

    gunto como foi que sobrevivi a todas as loucuras da juventude.

    Eu era um rapaz normal, pode-se dizer. Com todas aquelas

    dvidas e incertezas de quem ainda no sabe o que quer da vida,

    com as manias de achar que era dono do meu nariz, que tudo o

    que era ruim s acontecia com os outros e por causa dos outros...

    Enfim, como a maioria dos jovens, eu arriscava mais do que

    convinha, porque me sentia imune a todos os riscos, no direito de

    fazer o que quisesse, da forma que me agradasse.

    Mas tudo era s fachada, um modo de esconder a minha in-

    certeza quanto ao futuro e os meus medos com relao ao que

    ainda teria de enfrentar.

    Eu era lder de uma comunidade de jovens cristos e isso me

    acalmava um pouco. Mas a verdade que tinha o corao cheio

    de angstia e insegurana. No fundo, eu no queria crescer, por-

    que nada do que via na vida dos adultos me dava vontade de

    tornar-me um deles. Alm do mais, eu tinha muito medo de no

    dar certo na vida.

    Ento, eu arrumava desculpas para mim o tempo todo. Achava

    a escola extremamente chata e as profisses de que as pessoas

    me falavam no me despertavam o interesse. Repetia para mim

    mesmo que as coisas que meus pais diziam sobre a vida no fa-

    ziam sentido, portanto no via razo para escut-los. Costumava

    gozar dos meus amigos que comeavam a dar certo na vida,

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    quando na verdade, muitas vezes, desejava ter as certezas deles.

    Vivia frustrado, decepcionado comigo mesmo, sentindo muito

    medo de fracassar.

    Como para muitos jovens rebeldes da minha poca, a msica

    parecia ser a nica alternativa razovel. Ter uma banda, tocar em

    um conjunto, era uma forma de mostrar ao mundo meu modo de

    ser, sem ter de dar explicaes a quem quer que fosse - pelo me-

    nos era assim que eu imaginava. Decidi ser msico.

    Depois de muito eu insistir, minha me me deu um violo e

    logo depois uma guitarra. Da a tocar em uma banda de rock foi

    um pulo. Talvez uns seis ou sete meses, no mximo. Em seguida,

    comecei a tocar em conjuntos de baile e, passado um ano, fui to-

    car na noite, nos bares de Santos, cidade onde cresci.

    claro que, uma vez que eu no achava que estudar era im-

    portante, abandonei de vez a preocupao com a escola. No pres-

    tava ateno s aulas e muito menos estudava em casa. Tinha a

    iluso de que, apesar de no fazer nada, as coisas dariam certo.

    Mas o meu rendimento nos estudos foi piorando de forma dra-

    mtica. Fui reprovado vrias vezes, sem me importar com isso.

    A verdade que eu no conseguia dar um jeito na minha

    vida. Queria ser diferente e acabava fazendo apenas as coisas que

    eu pensava que eram certas. S que, no final, acabava causando

    dor s pessoas que eu amava, alm de machucar-me muito.

    No pense que fcil ser aquele que s causa problemas. A

    sensao, nessas horas, de que nossa vida est atolada. Voc

    no consegue ser o filho que seus pais gostariam de ter, nem

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    consegue ser o adulto que voc gostaria de ser. As crises tornam-

    se inevitveis.

    Diversas vezes me perguntei: ser que melhor desistir de

    tudo? Minha angstia chegou ao ponto de eu no agentar mais

    viver. Os pensamentos depressivos passeavam pela minha cabea

    como gaivotas no final da tarde nas praias de Santos.

    Nessa poca, os amigos foram fundamentais para eu encontrar

    o meu caminho. Nossas conversas me mostraram que eu no estava

    sozinho no atoleiro. Suas reflexes apontaram novas possibilida-

    des e, principalmente, sua lealdade ajudou a me sentir amado.

    Alguns adultos tambm foram muito importantes naquela

    poca. Jamais vou esquecer o senhor Edsio Del Santoro, diretor

    do Colgio Canad, onde estudei. Ele foi uma das poucas pessoas

    que acreditaram em mim. Sempre que nos encontrvamos pelo

    corredor da escola, ele me perguntava sobre meus projetos. Seu

    olhar de curiosidade em nossas conversas indicava que eu tinha

    algo de interessante a mostrar a uma das poucas pessoas que ad-

    mirava naquela poca.

    Certo ano, eu dependia apenas de uma avaliao positiva de

    minha professora de Matemtica para no ser reprovado. 0 diretor

    Edsio marcou uma reunio com a professora e eu. Dona Rosinha

    comeou falando mal do meu comportamento e desenrolou uma

    lista dos meus problemas. Ele a escutou pacientemente e final-

    mente disse:

    O Roberto um rapaz muito inteligente, que tem muitos

    talentos. Ele compete pela escola no time de futebol, participa de

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    teatro e, alm disso, toca em um conjunto musical. Ele pode no

    ser um aluno comportado como os outros, mas tem muitas habi-

    lidades. Estou certo de que vai ser um homem que far muita coisa

    boa para as pessoas e de que um dia a senhora ainda vai sentir

    orgulho de ter sido professora dele.

    Dona Rosinha simplesmente fez um sinal com a cabea, mas

    no o escutou. Acho que ela preferiu optar pelo orgulho de me

    reprovar.

    Mais importante que tudo, os elogios do professor Edsio fo-

    ram um blsamo para a minha alma. No meio de uma multido de

    pessoas que me criticavam e me apontavam como exemplo de um

    jovem perdido, ele sempre destacou minhas qualidades.

    H bem pouco tempo, fui dar uma palestra em Santos. Antes

    da palestra, os organizadores fizeram-me uma homenagem. Exibi-

    ram um filme sobre a minha vida e falaram de minhas conquistas.

    Convidaram pessoas que participaram da minha formao, in-

    cluindo o pessoal do Colgio Canad. O senhor Edsio era um dos

    presentes. Quando o abracei, lgrimas de gratido correram pelo

    meu rosto. Ele foi uma bno de Deus no meu caminho.

    Eu imagino que voc esteja pensando se naquela homena-

    gem apareceu algum dos professores que me detonavam e diziam

    que eu iria dar em nada. Apareceram, sim. E me abraaram com

    alegria sincera, da mesma forma como os abracei com gratido.

    Eles fizeram parte de um passado que me construiu do jeito que

    sou hoje.

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    No caminho de volta para So Paulo, pensei com meus bo-

    tes: ainda bem que dei mais valor ao que o seu Edsio dizia do

    que ao que a dona Rosinha pensava de mim!

    Houve tambm outra pessoa muito especial naquela poca:

    minha psicoterapeuta, a doutora Isabel. Ela foi sensacional como

    orientadora, mas o que mais lembro o seu olhar de confiana em

    meu futuro. Minha admirao por ela era to grande que comecei

    a pensar em fazer para outras pessoas todo o bem que ela me fa-

    zia. Foi ela a principal responsvel por eu decidir cursar Medicina

    e me tornar um psiquiatra.

    Em seis meses minha vida se transformou radicalmente. Lar-

    guei a "carreira" de msico na noite e entrei na faculdade de Me-

    dicina. As pessoas ficavam surpresas quando me encontravam e

    descobriam que eu estava estudando para ser mdico. De msico

    rebelde para mdico! Ningum acreditava que o "China" tinha re-

    solvido levar a vida a srio. Minha sensao era de que meus ami-

    gos de Santos se perguntavam em quantos meses eu voltaria

    vida desregrada de antes. Mas, em vez disso, preferi assumir o curso

    de Medicina com responsabilidade e, em pouco tempo, especiali-

    zei-me em Psiquiatria.

    Apaixonei-me pelo trabalho. Minha realidade mudou da gua

    para o vinho. Passei a valorizar a importncia de ter um motivo

    para lutar. Ajudar as pessoas a encontrar seu caminho tornou-se a

    razo do meu trabalho.

    Depois de tantos anos atolado (minha vida realmente estava

    bastante travada naquela poca), como um motorista em deses-

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    pero que acelera o carro e gasta gasolina sem sair do lugar, des-

    perdiando energia sem ir para a frente nem para trs, consegui

    enfrentar os desafios que me ajudaram a chegar aonde estou hoje.

    Nessa poca o "China" se tornou o Roberto.

    Quando decidi ser eu mesmo, percebi que a jornada no se-

    ria fcil. Mas, exatamente por isso, cada vitria se tornou ainda

    mais saborosa.

    O mundo de hoje est de cabea para baixo. O mercado de tra-

    balho est mais louco que nunca. Os relacionamentos afetivos esto

    em uma transformao absurda. No me surpreende que muitos jo-

    vens se sintam muito inseguros em relao a seu futuro. O que no

    pode se deixar ficar atolado sem conseguir realizar seus sonhos.

    No possvel que uma pessoa honesta, linda e dedicada

    como voc no consiga seguir adiante em seu caminho.

    Se voc estiver vivendo um momento de indefinio em re-

    lao sua vida, chegada a hora de fazer a mochila e comear

    sua caminhada. Sua vida construda com o seu movimento.

    Avance! Mesmo que voc no tenha certeza do seu futuro. Avance!

    Mesmo com medo, siga adiante. No deixe que o passado o im-

    pea de realizar seus sonhos.

    Lembro-me de que, quando fui estudar em So Paulo, tive de

    reunir todas as foras e controlar-me para no voltar para a vida

    noturna, porque eu sabia do fascnio que sentia pela vida irres-

    ponsvel que havia levado nos bares das noites de Santos. Foi im-

    portante dar adeus ao passado e comear a construir o meu futuro.

    A princpio eu achava que estava me privando de muitas coisas,

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    como um alcolatra que se controla para no beber mas sente

    falta do lcool. Depois, no entanto, aprendi a sentir prazer em

    coisas muito mais fascinantes.

    De nada adianta adiar os nossos projetos por medo de mu-

    dar. Mais cedo ou mais tarde, a vida nos cobrar essa conta. Mudar

    um dos desafios mais fascinantes que a vida nos apresenta. Mu-

    dar sinnimo de crescer. Mudar uma viagem que fazemos, em

    que no temos certeza de quase nada.

    Lembro-me do meu primeiro dia de cursinho para Medicina.

    Fiquei pensando no que eu estava fazendo ali. Logo eu, que tinha

    sido o estudante mais preguioso das escolas de Santos, estava

    em uma sala com mais de 500 alunos, muitos com cara de "cdf" e

    tantos outros que estavam fazendo cursinho pelo terceiro ano con-

    secutivo, sem terem obtido sucesso no vestibular.

    No comeo, a cada dia que entrava na imensa sala com aquela

    multido de alunos era como se eu estivesse entrando em um

    campo de batalha para uma luta de morte. Eu tinha muitas dvi-

    das sobre se teria sucesso e o que iria conseguir no meu futuro.

    Talvez a nica certeza fosse aquela sensao de que a minha vida

    no poderia ficar do jeito que estava.

    Quando lembro do mundo em que comecei a minha vida e

    comparo-o ao mundo que meus filhos tm de enfrentar para rea-

    lizar seus objetivos, eu me dou conta de que os desafios deles so

    muito maiores do que foram os meus.

    Um exemplo bem simples acontece na sala de aula. Quando

    eu era aluno, o problema dos professores era um aluno que no

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    aprendia. Hoje os professores tm de enfrentar violncia, drogas,

    e principalmente crianas afetivamente carentes por causa da au-

    sncia dos pais.

    provvel que voc tambm esteja com muitas dvidas so-

    bre o seu futuro, mas a nica maneira de resolver essas questes

    caminhar, seguir em frente. Mergulhe com confiana no prop-

    sito de buscar a sua razo de viver. Acredite em voc, acredite em

    uma vida melhor e avance sempre.

    Tenho certeza de que os seus desafios so maiores do que a

    humanidade j enfrentou, mas tambm tenho f na sua capaci-

    dade de superar todos os obstculos que aparecero na sua vida.

    Enfrente-os, um dia voc ficar surpreso ao perceber que a mu-

    dana j ocorreu. Ento, vai olhar-se no espelho e sentir orgulho

    de si mesmo.

    A vitria vir, com certeza. Mas vir antes para aqueles que

    decidirem agir e souberem persistir na empreitada.

    Agora com voc!

    Mas vamos juntos, sempre em frente.

    Com muito carinho,

    Roberto Shinyashiki.

    19

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    p " 1 mas legal

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Um rio cristalino atravessava a floresta em direo ao

    mar, orgulhoso da beleza de suas guas. Havia cruzado morros

    e campos sem se contaminar, imune poluio e sujeira.

    Ao se aproximar do final do trajeto, porm, viu um imenso

    mangue sua frente.

    Revoltado, o rio chamou por Deus:

    No justo, Senhor.

    0 que no justo? quis saber o Todo-poderoso.

    Durante todo o meu trajeto, alimentei plantaes s

    minhas margens, matei a sede de homens e bichos, dei lazer e

    descanso a muitas pessoas.

    Sim, e o que h de errado agora?

    O Senhor no v? J to prximo de meu destino, terei

    de misturar-me ao mangue. Minhas guas ficaro turvas e f-

    tidas. Vou ficar aqui parado sem nada da alegria que carreguei

    at aqui!

    Deus ento respondeu:

    Tudo vai depender da maneira pela qual voc enfren-

    tar esse desafio. Se voc entrar no mangue com medo, suas

    guas se misturaro ao barro e voc vai carregar esse mau

    cheiro pela vida afora. Mas, se entrar com coragem e determi-

    nao, voc se esparramar sobre o mangue e suas guas vo

    evaporar-se, transformar-se em nuvens e o vento vai lev-las

    at o mar. Quando se tornar chuva, cair sobre o mar e se tor-

    nar parte dele.

    22

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    NO MEIO DO CAMINHO TEM DESAFIOS

    Na sua vida tudo vai depender da maneira como voc vai en-

    frentar os seus desafios. Quem entrar com medo vai se transformar

    em mangue, quem tiver coragem e determinao vai virar mar.

    Hoje, principalmente com as dificuldades impostas pela vida,

    em que o excesso de competio est presente em tudo, seja no

    mercado de trabalho, seja nas relaes amorosas, seja no dia-a-dia

    com os amigos, viver enfrentar uma seqncia de desafios. Eles

    surgem a toda hora, no caminho do nosso crescimento. Quando

    queremos alcanar alguma coisa importante na vida, sempre te-

    mos de batalhar para realizar uma conquista.

    Voc j imaginou o jogador de futebol Ronaldo, o Fenmeno,

    na sala de Fisioterapia, aps mais um problema fsico, fazendo o

    mesmo exerccio por horas a fio? Tenho certeza de que em alguns

    momentos surgiram na mente dele perguntas complicadas, como:

    para que tanto esforo? Ser que vale a pena tanto sofrimento?

    Ser que todo esse sacrifcio vai dar resultado? Ser que eu no

    deveria parar de jogar agora que ainda sou jovem, tenho dinheiro

    e posso aproveitar a minha vida, j que conquistei tudo o que po-

    deria sonhar?

    Hoje, o seu impasse pode ser tornar-se a pessoa que voc de-

    seja ser e realizar seus projetos de vida. Mas, com toda a certeza,

    outros tantos desafios vo aparecer em seu caminho. Quer alguns

    exemplos? Que tal:

    23

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Ser que devo me casar?

    Ser que devo ter filhos?

    Ser que devo montar a minha empresa?

    No incio, esses impasses sero apenas questionamentos que

    voc poder responder com um sim ou com um no. Voc pode

    perceber que no tem vocao para ser um empresrio, mas sim

    um pesquisador e decidir trabalhar em uma universidade. Voc

    pode decidir que no quer se casar, ou que no quer ter filhos.

    Mas quando o impasse que voc est vivendo "ser que eu

    consigo ser a pessoa que quero ser?" s existe uma resposta

    aceitvel:

    SIM! VAMOS EM FRENTE.

    Esse mangue tem de ser enfrentado como voc j enfrentou

    outros tantos desafios em sua vida.

    O primeiro provavelmente aconteceu na sala de parto.

    Embora no se lembre, posso imaginar o berreiro que voc

    abriu ao respirar sozinho pela primeira vez.

    Depois vieram outros atoleiros:

    0 primeiro dia de aula (Quem so esses desconhecidos,

    neste lugar estranho?).

    A primeira noite fora de casa (Ser que no melhor ficar

    quieto em casa, onde j conheo tudo?).

    Para alguns, a dor de ver os pais se separando.

    24

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    O primeiro namoro, a primeira transa, o primeiro emprego.

    E tantos outros desafios que voc precisou enfrentar al-

    guns com mais prazer e menos sofrimento que outros, mas, sem

    dvida alguma, todos despertaram em voc o medo da mudana,

    a insegurana de quem vai dar um passo rumo ao desconhecido

    e o alvio e a alegria por ter avanado.

    As coisas que j no lhe servem comeam a fazer parte do

    seu passado, tornando-se apenas lembranas de um momento de

    mudanas.

    HORA DE AVANAR

    Um dia voc acorda e percebe que muitas coisas que achava

    normal comeam a deix-lo chateado, como escutar reclamaes

    dos seus colegas de empresa porque no fez o combinado, ou to-

    mar uma dura do chefe porque seu trabalho est ruim.

    Voc fica sem jeito de pedir um dinheiro extra a seus pais.

    Esperar pelo namorado que voc ama, mas que nem lhe d satis-

    fao pelo atraso, comea a incomodar demais. Voc liga para sua

    amiga, convida-a para sair, e ela diz que no pode, pois foi promo-

    vida no emprego e est muito ocupada estudando para o novo

    cargo. O seu amigo de infncia liga e convida-o para tomar um

    chope, porque quer comemorar a compra do apartamento novo,

    e voc se sente inferiorizado.

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    , parece que alguma coisa no est indo muito bem!

    Voc fica sem graa ao ver seus amigos falando sobre suas

    vitrias, por no ter as suas histrias para contar. Voc ainda tenta

    justificar para si mesmo que s uma questo de tempo para suas

    vitrias acontecerem, mas comea a ouvir a voz da sua conscincia

    lhe dizendo que alguma coisa est errada, que no deveria ser as-

    sim. O mais forte a sensao de que voc nasceu para uma feli-

    cidade que ainda no encontrou. a impresso de que existe algo

    melhor sua espera, que precisa ser alcanado com urgncia.

    Sente que, de alguma forma, voc est ficando para trs e desper-

    diando as oportunidades da sua vida.

    Ao mesmo tempo em que o desconforto aumenta, a voz do

    medo comea a martelar a sua conscincia:"Para que largar as mi-

    nhas coisas?""Para que me matar no trabalho se eles no valori-

    zam ningum?" "Quando for promovido, vou mostrar a minha

    competncia.""Para que me preocupar com minha namorada se

    tem tanta gente querendo sair comigo?'!

    A cabea da gente comea a ficar confusa escutando duas

    vozes ao mesmo tempo.

    Uma diz para avanar e pagar o preo:"V em frente!'!

    A outra diz: "Voc no precisa disso! Relaxe que ainda no

    chegou a hora. Deixe as coisas como esto!"

    Essas vozes vo se repetindo em nossa cabea, exatamente

    como aquela cena em que a gente perde um pnalti no final do

    campeonato da escola voc lembra? A gente fecha os olhos e

    a cena aparece. Liga a TV e a cena aparece de novo.

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Isso comea a gerar uma angstia to grande que as pessoas

    que no tm coragem de avanar de verdade na vida comeam a

    tentar calar essas vozes. E fazem isso, muitas vezes, apelando para

    o lcool, o exagero na comida e at mesmo passando a usar dro-

    gas mais pesadas.

    Tudo isso so coisas que s calam as vozes por alguns mo-

    mentos. No dia seguinte, elas voltam com mais cobranas: por que

    voc bebeu desse jeito? Voc no v que est gordo de dar d?

    Meteu-se com drogas de novo, no ? Como voc pensa que vai

    sair dessa?

    Voc percebe que nada acalma a sua ansiedade. Nada disso

    soluo.

    O nico caminho escutar a voz do corao e seguir em

    frente.

    CRISE UM AViSO DE QUE A VSDA CHEGOU SUA PORTA

    Toda mudana importante precedida por uma situao

    de crise.

    As coisas que voc valorizava j no o satisfazem, mas voc

    hesita em se desfazer delas com medo de sentir falta um dia. Isso

    natural, agora, voc quer outras coisas da vida. Quer vencer na

    vida, ser importante, ser feliz. Seus anseios aumentaram, mas ao

    mesmo tempo as chances de conseguir um lugar ao sol so res-

    tritas, a competio intensa e os desafios so imensos.

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  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    A travessia de um mangue, por sua vez, no l coisa muito

    simples. H momentos repletos de contradies e dvidas.

    Essa situao lembra at certos filmes de aventura, como

    Matrix, Indiana Jones, 0 Senhor dos Anis, nos quais o personagem

    principal vive uma rotina vazia at receber um chamado que o faz

    arrumar as malas e partir com uma importante misso a cumprir.

    Ento, o protagonista submetido a uma srie de provaes, que

    o mitlogo Joseph Campbell chama de jornada do heri.

    No final, para quem batalha o prmio sempre uma grande

    descoberta pessoal, com a elevao de sua vida para um patamar

    de maior satisfao e realizao.

    Se voc est recebendo um chamado da sua conscincia para

    ser tudo o que tem potencial de ser, a nica soluo fazer as ma-

    las, como um Indiana Jones de verdade, e embarcar na aventura

    da sua vida.

    Jorge filho de um grande amigo meu. De vez em quando,

    ele vem conversar comigo. Durante muito tempo, teve uma vida

    desregrada. Apesar das cobranas dos pais, Jorge levava tudo na

    flauta. Trabalhava com o pai, praticamente sem compromisso de

    horrio ou metas. Baladas e cervejas eram a sua rotina, arru-

    mava programas com os amigos todos os dias, enfim, levava

    uma vida sem responsabilidades.

    Quando precisava de mais dinheiro, sua nica preocupa-

    o era como convencer o pai a aumentar sua mesada. Fazer

    algum trabalho extra para ganhar mais, nem pensar.

    28

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Um dia ele me confessou que a velha rotina j no lhe pa-

    recia suficiente. Aos poucos, deu-se conta de que aquela boa vida

    havia perdido a graa.

    No sentia mais satisfao em ficar no bar com os amigos

    conversando as mesmas coisas de sempre, as baladas tinham se

    tornado repetitivas e nem mesmo ficar paquerando garotas di-

    ferentes o tempo todo parecia to fascinante.

    Jorge sabia que deveria fazer algo quanto a isso, mas seu

    medo de no dar certo na vida era muito grande. Sabia que pre-

    cisava mudar, mas tinha muito medo de fracassar. Cada vez que

    algum lhe dizia algo como "fulano um perdedor", ele sentia

    um aumento nos batimentos cardacos. No queria tornar-se um

    fracassado.

    Embora soubesse que precisava mudar, o medo de fracas-

    sar na vida fazia que ele hesitasse em avanar.

    Em certo momento, com o rosto vermelho de vergonha,

    Jorge desabafou: "Eu me sinto um perdedor porque tenho medo

    de ser um perdedor".

    Sorri e disse: "Esse um bom comeo. Voc reconhecer o

    medo e abrir o corao para algum o primeiro passo para

    vencer".

    Existem milhes de Jorges por a. Pessoas insatisfeitas, com

    medo de enfrentar seus fantasmas e resolver os dilemas da vida.

    Toda mudana um desafio.Toda mudana envolve a lguma

    dor. Mas chega um ponto em determinadas situaes no qual no

    29

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    mudar di ainda mais. E a gente s decide mudar quando a dor

    de permanecer na situao em que est maior do que o medo

    da transformao.

    preciso sentir-se mal o suficiente com a atual situao para

    ter coragem de avanar em busca de algo melhor. preciso per-

    ceber os avisos de insatisfao da sua alma para escutar a voz da

    sua conscincia dizendo: vamos l! Agora com voc!

    Um dia voc interrompe uma briga com sua me porque

    percebe o quanto infantil querer mud-la em vez de cuidar da

    sua vida.

    Ou voc percebe a infantilidade de ficar discutindo com o seu

    marido sempre pelas mesmas coisas e resolve cuidar de ser feliz.

    Um dia, nas conversas com os amigos, voc se sente ridculo por

    ficar criticando seu chefe, como se ele fosse o responsvel por seus

    problemas na empresa, e resolve cuidar melhor da sua carreira.

    Quando o desconforto da situao aumenta, surge a coragem

    de dizer para si mesmo: agora ou nunca!

    Nesse momento, voc decide fazer o que realmente tem de

    ser feito e ento comea a sua jornada de heri.

    30

  • 2 faa a viagem valer a pena

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Se voc observar o mar,

    vai ver que a vida mutante como a cidade.

    Ningum pode nos rotular.

    Perder, ganhar, deixar rolar

    intensidade agora em algo novo.

    A vida tem que se renovar.

    Trecho da msica O universo a nosso favor, composta por Nicolas, Danilo, Rodrigo, Vitor e Choro, do Charlie Brown Jr.

    DESTRUA A V E L H A HOME PAGE E CONSTRUA

    O SEU NOVO SITE

    "Intensidade agora em algo novo""A vida tem que se reno-

    var" Os versos cantados por Choro, vocalista da banda Charlie

    Brown Jr., servem de incentivo para aqueles que esto dispostos

    a avanar.

    Solte as amarras, liberte-se das grades, jogue fora ncoras e

    apegos. Largue para trs a mochila velha, abarrotada de coisas

    que j no servem para nada.

    H uma histria circulando na internet que ilustra bem essa

    idia:

    Um urso faminto procurava alimento na floresta. Chegou a

    um acampamento de pescadores, atrado pelo cheiro de comida

    vindo de um enorme caldeiro colocado sobre uma fogueira.

    34

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    0 local estava vazio naquele momento, por isso o urso se

    aproximou e, enfeitiado pelo cheiro, abraou o caldeiro e o

    retirou do fogo.

    Logo seu peito e suas patas comearam a queimar em

    razo do contato prolongado com o ferro em brasa. Como des-

    conhecia aquela sensao, o urso pensou que algum outro ani-

    mal tentava feri-lo para se apoderar da comida.

    Assim, em vez de largar o caldeiro, ele o prendia ainda

    mais contra o peito.

    Quanto mais lhe doam as queimaduras, mais fortemente

    o urso apertava o caldeiro. E urrava de dor e de raiva por-

    que tentavam roubar-lhe o alimento.

    Ainda agarrado ao caldeiro, o urso afinal morreu, vencido

    por aquele estranho animal que ousara desafi-lo.

    Ns, muitas vezes, nos agarramos s coisas do passado como

    se no pudssemos viver sem elas. Outras vezes, os desafios colo-

    cados diante de ns so imensos e ficamos com medo de encarar

    a mudana. No percebemos que a dor vem exatamente de aper-

    tar o caldeiro do apego contra o peito, em vez de larg-lo.

    Talvez voc fique triste de sair de casa para estudar fora, mas

    depois de um tempo descobrir novas alegrias em sua vida.Talvez

    voc fique com uma sensao de ser vtima da perseguio do seu

    chefe quando tiver de pagar o MBA com o prprio dinheiro, sem

    ajuda da empresa, mas a elevao do seu currculo profissional

    ser a sua vitria.Talvez voc se sinta um tanto arrependida de ter

    35

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    dispensado o seu namorado e ter de comear tudo de novo com

    outra pessoa, mas muito melhor enfrentar mais uma batalha di-

    fcil do que ter uma derrota permanente.

    Portanto, quando perceber que o passado frustrante ou o pre-

    sente insatisfatrio esto pesando em sua vida, no v fazer como

    o urso da nossa histria. Largue logo o seu caldeiro e parta em

    busca de novas possibilidades na sua vida.

    Esse caso aconteceu h quase trinta anos: uma amiga, filha

    de pessoas riqussimas, com vrias empregadas disposio, me

    contou sobre a alegria que sentiu ao se mudar para uma rep-

    blica de estudantes, na poca da faculdade.

    Ela e suas novas amigas dividiam um quarto pequeno,

    tinham de controlar os gastos com comida e limpar, elas mes-

    mas, o apartamento.

    Mas minha amiga dizia que era timo respirar o ar da pr-

    pria casa, cuidar do prprio canto.

    Isso a fazia muito feliz.

    Que bom que minha amiga largou o conforto do passado e

    criou a prpria histria.

    O VERDADEIRO MILAGRE

    Quando somos crianas, os adultos nos lem contos de fada

    e algumas dessas histrias influenciam a nossa maneira de pensar.

    36

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Por exemplo, o poder da varinha mgica, com que a fada nos toca

    plim! e muda tudo instantaneamente em nossas vidas, acaba

    criando iluses. Muita gente se convence de que, na vida real, tam-

    bm vai surgir uma fada que, em um piscar de olhos, transformar

    a gata borralheira em uma rica princesa.

    Hoje, a fada madrinha possui diferentes disfarces. Muitas mo-

    as bonitas sonham com a chegada de um olheiro de uma agn-

    cia de modelos, que as descobrir e mudar sua vida em um toque

    de mgica. Elas no entendem que, na maioria das vezes, o olheiro

    no vai reparar nelas. Muito menos escolh-las. Para algumas mo-

    as que forem escolhidas, ser o incio de uma vida de muito tra-

    balho, dedicao e sacrifcios. No final, bem poucas conseguiro

    dar certo na carreira. O sucesso acontecer apenas para algumas

    delas? Sim, mas essas moas tero de se sacrificar muito para isso.

    As revistas de celebridades mostraro apenas o glamour da car-

    reira de modelo, mas no citaro as interminveis dietas, nem os

    incontveis testes, as noites mal-dormidas, a necessidade de acor-

    dar cedo para fotografar, entre outras coisas.

    Tem marido que imagina que as brigas com a esposa vo ter-

    minar no dia em que ela fizer a primeira sesso de terapia. Ele

    pensa que se sua mulher mudar o modo de agir tudo se resolver

    na relao do casal, como em um passe de mgica. O marido nem

    mesmo sonha em fazer uma autocrtica e verificar qual a sua

    parcela na responsabilidade pelas encrencas do casal. Ele ignora

    completamente que um bom casamento construdo com con-

    quistas dirias realizadas a dois.

    37

  • Roberto Shinyashiki s e m p r e e m f r e n t e

    A garota que fala em se submeter a um processo seletivo de

    trainee, pensando que rapidamente vai se tornar presidenta de uma

    multinacional, nem imagina a dificuldade que enfrentar para ser

    aprovada nesse concurso e ser realmente contratada. Depois, as

    promoes no acontecero num passe de mgica. Entre tantos

    funcionrios, alguns vo chegar a gerentes. Poucos sero promo-

    vidos a diretores e raros os que tero a possibilidade de se candi-

    datar ao cargo de presidente.

    E voc me perguntar:"IVlas, Roberto, ento no possvel rea-

    lizar um sonho?"

    Sempre possvel realizar o seu sonho. preciso ter muito

    claro que os sonhos so construdos diariamente. Colocando-se

    um tijolo em cima do outro, com pacincia e determinao.

    Eu no acredito em "passes de mgica" mas acredito em

    milagres.

    Um milagre acontece no momento em que a pessoa adquire

    conscincia de que merece uma vida melhor. Um milagre acontece

    quando se tem prazer em fazer coisas que, para a maioria das pes-

    soas, so muito chatas de encarar.

    Um milagre acontece quando um jovem pra de fazer a per-

    gunta: "Como eu fao para o meu pai me dar mais dinheiro?" e

    comea a fazer a pergunta:"Como eu fao para ganhar o meu di-

    nheiro?"

    Um milagre acontece quando a pessoa tem prazer em cons-

    truir sua obra com comprometimento e seriedade.

    38

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Escrever livros, para mim, envolve algumas atividades que

    muitas pessoas consideram chatas. Mas eu consigo ter muito pra-

    zer em faz-las. Esse o meu milagre dirio. Adoro acordar s 4

    horas da manh para escrever. 0 silncio de casa, a paz da madru-

    gada, o prazer de ver o dia chegando, tudo isso aumenta a sensa-

    o de que estou fazendo algo que vai ajudar outras pessoas a

    encontrar seu caminho. Adoro reescrever um texto muitas vezes,

    vendo-o evoluir e imaginando o efeito que ter na vida do leitor.

    No momento em que voc decidir tomar a frente de sua vida,

    no vai aparecer uma fada que, com um toque de varinha mgica,

    transformar a sua vida instantaneamente. Voc no se tornar o

    maior publicitrio do planeta de uma hora para outra. Nem vai se

    descobrir vivendo com o amor da sua vida em uma casa cinema-

    togrfica.

    Mas pode acontecer um milagre: em uma frao de segundo,

    voc pode despertar para a sua vida e sentir prazer em realizar,

    todos os dias, algo que a faa ter sentido.

    AS FASES DA TRAVESSIA

    Na maioria das vezes, a viagem por meio de um atoleiro

    marcada por quatro diferentes etapas. Acontece comigo e, prova-

    velmente, tambm acontece com voc, no importa nossa idade

    nem a situao que vivemos. A histria de Marly nos ajudar a en-

    tender que etapas so essas e o que fazer para super-las.

    39

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Marly era uma jovem que adorava reclamar dos pais. Vivia

    brigando com eles, exigindo coisas e querendo tudo do seu jeito.

    Tudo era motivo para explodir com a cozinheira. Dizia que a ra-

    zo de ela viver angustiada era morar com a famlia. Quando

    voltava do trabalho para casa, trancava-se no quarto para no

    ter de falar com ningum.

    A nica pessoa que ela ouvia era Marco, o namorado.

    Viviam fazendo planos e Marly acreditava que tudo seria dife-

    rente a partir do momento em que fossem morar juntos.

    Quando finalmente passaram a morar sob o mesmo teto,

    comearam a se sentir incomodados com a quantidade de pro-

    blemas que tinham de resolver.

    Marly ficava chateada porque Marco no participava das

    atividades com ela. Para piorar, ele tinha de trabalhar at tarde

    todos os dias, porque fora promovido a gerente em uma empresa

    que estava em fase de reestruturao.

    O sonho de Marly de ter uma vida cheia de romance ficou

    reduzido a esperar Marco chegar em casa, tarde da noite, inevi-

    tavelmente exausto.

    Depois de algum tempo, as brigas e reclamaes comea-

    ram, to constantes quanto no tempo em que Marly vivia na

    casa dos pais.

    Ela sentia-se trada por Marco e continuava com suas

    angstias e insatisfaes. A vontade de acabar com o relacio-

    40

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    namento e voltar para a sua antiga casa aumentava todos

    os dias.

    A princpio, ela at acreditou que essa sensao passaria

    e que Marco voltaria a ser carinhoso como no tempo de na-

    moro. Mas isso no aconteceu. Ento, logo comeou a pensar

    em se separar.

    0 que ser que aconteceu? Marly se enganou ao mudar sua

    vida? Provavelmente no. Ela deu o primeiro passo, encarou o de-

    safio de comear uma vida a dois, mas parou na primeira adversi-

    dade. O que ainda estava faltando para ela era a conscincia de

    que morar com o namorado era somente um pequeno passo na

    longa caminhada de aprender a conviver com outra pessoa. Se

    quisesse construir um verdadeiro relacionamento de amor, algo

    teria de mudar em suas atitudes.

    Aos poucos, Marly foi percebendo que tinha o hbito de ar-

    rumar brigas com todo mundo. No havia aprendido a resolver as

    dificuldades por meio de conversa e entendimento com as pes-

    soas. E percebeu que isso era algo que precisava mudar com ur-

    gncia em sua vida.

    Com alguma dificuldade, Marly domou seu gnio e continuou

    a vida ao lado de Marco. Ele tambm teve de aprender a dividir

    melhor seu tempo entre a nova posio na empresa e a esposa.

    A histria de Marly tem as quatro etapas que j mencionamos:

    4:11

  • Roberto Shinyashiki s e m p r e e m f r e n t e

    A primeira etapa a do impulso de deixar aquilo que nos in-

    comoda.

    Nessa etapa, Marly se sentiu muito frustrada e pensou em

    deixar a casa dos pais o mais rpido possvel. Tudo o que queria

    era se livrar de um problema.

    Ela mergulhou o p no atoleiro,decidida a atravess-lo, mesmo

    sem ter muita noo do que isso significava. Sentiu uma vontade

    irresistvel de sair de uma situao incmoda e se lanar de cabea

    na aventura de construir seu caminho rumo ao oceano. A necessi-

    dade de se afastar do problema familiar deu-lhe a confiana e a

    fora para iniciar sua jornada.

    Assim como Marly, muitas outras pessoas agem impulsiva-

    mente para tentar se livrar de uma dificuldade. Os problemas po-

    dem ser diferentes: um namoro com uma pessoa que voc no

    ama, mas tem dificuldade em terminar; a deciso de recomear

    uma faculdade depois de algum tempo; a necessidade de arrumar

    um emprego e deixar de ser mais um dependente na casa dos pais,

    entre outros.

    O importante nesse momento ter conscincia de que, aps

    a deciso de mudar o que deve ser mudado, preciso manter-se

    firme para conseguir transformar a sua vida.

    A segunda etapa a da frustrao.

    Quando Marly saiu da casa dos pais, sua iluso era de que

    tudo iria ser um mar de rosas. Na verdade, o incio dessa aventura

    42

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    foi fascinante, at que ela comeasse a perceber que envolvia mais

    trabalho do que imaginava.

    Quando o prncipe encantado se revelou um homem de ver-

    dade, cheio de compromissos, as frustraes reapareceram. Ela se

    sentiu em um conto de fadas ao inverso, em que o prncipe en-

    cantado se transformou em um sapo cheio de obrigaes. O sonho

    de nossa princesa se transformou, na verdade, em um pesadelo de

    frustraes.

    Nessa etapa, a vontade de voltar atrs se tornou quase irre-

    sistvel. As imagens das mordomias que Marly tinha na casa dos

    pais passaram por sua mente como em um filme de Hollywood. A

    vida em famlia, que lhe parecia um inferno, passou a ser o paraso.

    Tudo parecia mais gostoso do que antes. Ela esqueceu os incmo-

    dos da situao em que vivia e teve vontade de voltar no tempo.

    Marly comeou a sentir saudade da geladeira farta, da tran-

    qilidade de ter as roupas sempre limpinhas, da certeza de ter seu

    quarto sempre arrumado e, principalmente, da segurana de po-

    der pagar tudo com o carto de crdito dos velhos.

    Ela se esqueceu da sensao incmoda de viver sob o rgido

    controle da me, dos discursos interminveis do pai, da obrigao

    de ter de dar satisfao de tudo o que fazia.

    A dvida apareceu com mais fora ainda: ser que devo con-

    tinuar?

    Muita gente, infelizmente, desiste de seu projeto de vida nessa

    fase e regressa para a situao anterior, mais confortvel. Mas

    43

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    recuar nesse momento, sem enfrentar a situao, pedir para vi-

    ver muito frustrado.

    Entramos ento na terceira etapa: o luto.

    Em nossa caminhada, depois de ter dado os primeiros passos e

    experimentado o sentimento de frustrao, vem a sensao de luto.

    Luto aquela tristeza que sentimos quando morre algum

    querido. No caso de Marly, no morreu ningum de forma real, mas

    de forma figurativa: sua vida anterior.

    Aqueles que decidem continuar a caminhada so, ento, sur-

    preendidos por um profundo sentimento de luto.

    Quando voc olha para trs e se d conta de que no existe

    mais caminho de volta, surge a sensao de perda. Vem a tristeza

    de ter de terminar um namoro de tantos anos com um rapaz super-

    legal que, infelizmente, no desperta mais amor no seu corao.

    Vem a dor de saber que voc no vai mais ver seus pais e irmos

    quando voltar para casa todos os dias, depois do trabalho.

    Isso significa que o mundo que deixou para trs jamais vol-

    tar. Significa tambm que, ao optar por determinado trajeto, voc

    deixou de lado todas as outras possibilidades, todas as outras es-

    tradas. quando voc sente alvio por ter superado as etapas an-

    teriores, de indeciso e dvida, mas experimenta muita dor por

    renunciar a todas as demais.

    Algumas tribos do Xingu levam isso muito a srio. Para ser

    aceito no mundo dos adultos, o menino, depois de um longo

    44

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    perodo recluso, recebe um novo nome. Isso, para eles, marca que

    aquela criana morreu e nasceu em seu lugar um homem.

    No caso de Marly, foi na terceira etapa, a do luto, que ela

    aprendeu a ver os aspectos bons de sua famlia que haviam ficado

    para trs. Foi tambm nessa etapa que ela adquiriu conscincia de

    que seu desejo de construir um lar era slido.

    A saudade que teve nos momentos de lembranas comeou

    a mostrar-lhe que ela no saiu de casa para se livrar dos pais, mas

    para construir uma nova famlia. O amor por Marco e a vontade

    de ser feliz com ele mostraram que a volta para a casa dos pais

    era impossvel. Sua deciso foi um caminho sem volta.

    Esse um luto autntico pelas coisas que vo ficar, ou j fi-

    caram, para trs.

    Infelizmente, algumas pessoas no conseguem ter a fora in-

    terior necessria para enfrentar e superar a dor de uma perda e

    acabam voltando atrs na deciso de seguir a prpria vida.

    Chega, finalmente, a quarta etapa: a da certeza.

    quando voc se conscientiza de que sua deciso est to-

    mada e que vai continuar em frente, rumo ao mar imenso que o

    espera do outro lado do mangue.

    Para Marly, isso aconteceu quando ela percebeu que seu ca-

    minho era amar Marco e construir seu casamento. Afinal, isso no

    implicava deixar de amar seus pais. Muito pelo contrrio, nesse

    momento seu amor pela famlia que estava se formando era fruto

    45

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    do amor que Marly aprendeu na casa dos pais. Uma continuao

    desse amor em outro lar.

    Ela entendeu, tambm, que sua realizao pessoal dependia

    de coragem e determinao: a coragem de aprender a se relacio-

    nar de um jeito novo e de construir um casamento de verdade.

    Quando essa certeza se transformou na deciso de avanar,

    Marly percebeu que tinha pela frente o compromisso dirio de

    aprender a escutar Marco e resolver seus impasses com dilogo e

    cumplicidade.

    Voc tambm vai perceber que esse compromisso com o seu

    crescimento tem de acontecer sempre que tomar a deciso de

    prosseguir nas mudanas que quiser fazer em sua vida.

    Esse um contrato assinado consigo em que consta que no

    desistir e sim continuar rumo ao oceano de sua vida.

    NO TENHA MEDO DE CAMINHAR NO ESCURO

    Navegar preciso,

    Viver no preciso. Fernando Pessoa

    Voc j viu algum mangue com mapa de acesso ou manual

    de instrues?

    Voc j viu casamento com escritura definitiva?

    claro que no!

    46

  • Roberto Shinyashiki s e m p r e e m f r e n t e

    Os argonautas, navegadores da Grcia antiga que cunharam

    os versos de Fernando Pessoa recuperados por Caetano Veloso,

    sabiam das coisas: viver no tem preciso! Viver no uma cincia

    exata! Temos de colocar o nosso barco para navegar e estar pron-

    tos para as surpresas.

    Tentamos minimizar todos os percalos, as dificuldades, faze-

    mos um bom suprimento para agentar o mar aberto, mas surpre-

    sas sempre acontecem em nossa viagem.

    Muitas vezes vai ser preciso ter a mesma pacincia de um

    morador que teve a sua casa, construda beira do rio, destruda

    por uma enchente: olhar o estrago, chorar alguns minutos e come-

    ar a construir tudo de novo, agora com mais alicerces, para que,

    quando as guas voltarem a subir, a casa no seja mais atingida.

    Os objetivos da caminhada da vida tm de ser claros, mas

    ningum capaz de prever com exatido os obstculos que po-

    dem surgir ao longo do percurso.

    Eu entrei na faculdade de Medicina para ser psiquiatra. No

    segundo ano, conheci um professor de Psiquiatria que me adotou

    como seu aluno predileto. Ele me deu chances incrveis de apren-

    der muito. O nico problema era que ele era um psiquiatra cls-

    sico, que prescrevia muitos remdios e indicava internaes e

    eletrochoques a seus pacientes. Mas, como eu no sabia muita

    coisa de Psiquiatria, fui absorvendo tudo o que ele me ensinava.

    Depois de algum tempo ele me colocou como monitor de

    alunos e prometeu contratar-me como seu assistente depois que

    47

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    me formasse. Depois de alguns semestres, disse que queria que eu

    fosse seu scio em seu hospital.

    Todo o meu futuro estava desenhado. At que um dia, quando

    voltava da praia nas minhas frias, encontrei minha me, que veio

    correndo me dizer:"Filho, voc tem de ir para So Paulo agora! Seu

    professor de Psiquiatria morreu"

    Enquanto dirigia meu carro para o enterro, lgrimas escorriam

    pelo meu rosto. Algumas eram de dor pela morte de um amigo.

    Outras, de frustrao porque meu futuro acabava de desmoronar.

    Algum tempo depois, matriculei-me em um curso de especia-

    lizao em Psicoterapia e encontrei outro jeito de fazer o meu tra-

    balho. Hoje, tenho convico de que esse, sim, era meu caminho

    de verdade. E nunca precisei dar eletrochoque em ningum! Deus

    escreve certo por linhas tortas.

    A radialista Miriam Morato sempre diz: "Deus nunca erra. O

    que falha a nossa compreenso do amor de Deus!"

    As surpresas so inevitveis, mas elas sempre mostram no-

    vos caminhos a serem seguidos. O que importa chegar ao seu

    destino.

    Se em algum momento voc se sentir perdido, escute a voz

    da sua conscincia. Converse consigo. Como dizem os ndios

    norte-americanos, escute a mensagem do silncio. o que eu cos-

    tumo fazer.

    48

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Quando surgirem momentos de indeciso, analise suas op-

    es, escolha e avance. Lembre-se de que pedra que no rola en-

    che-se de limo. gua parada "apodrece"

    Quando hesitamos beira do atoleiro, nossa vida deixa

    de fluir.

    O avano causa insegurana? evidente que sim. O desco-

    nhecido sempre d medo. Mas o que seria da borboleta se a la-

    garta se recusasse a sair do casulo? O que seria da rosa se o boto

    se recusasse a abrir? O que seria do homem se o beb se recusasse

    a deixar o tero materno?

    Avanar d trabalho? evidente que sim. Mas esse esforo

    sempre construtivo. Com o tempo, voc perceber que teria

    muito mais trabalho se optasse em nadar contra a corrente da

    evoluo.

    O desafio diante do desconhecido fascinante.Traz tambm

    muito prazer e nos premia com resultados muito alm do que po-

    deramos imaginar.

    GOSTOSO DEMAIS SER VOC MESMO

    Opa! Estamos falando de obstculos no meio do caminho, mas

    essa caminhada no traz somente incertezas. H coisas muito gos-

    tosas tambm.

    Ela traz a sensao agradvel de saber que o pequeno

    apartamento que voc est dividindo com uma amiga pago

    49

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    com o dinheiro que voc mesma ganhou batalhando no seu

    emprego.

    Traz a felicidade de saber que a pizza que voc est sa-

    boreando com os amigos na viagem de frias foi uma escolha de

    vocs.

    Traz a satisfao de sentir que voc est construindo seu

    destino.

    Tenho um amigo que com o primeiro dinheiro que recebeu,

    trabalhando em uma festa infantil em um final de semana, com-

    prou uma camiseta preta na qual estava escrito rock'n'roll, que ele

    namorava havia muito tempo, mas que seus pais nunca compra-

    riam para ele.

    Passados muitos anos, ele ainda conserva a camiseta. seu

    amuleto da sorte. Meu amigo costuma dizer que, toda vez que est

    inseguro com alguma coisa, olha sua velha camiseta e tem certeza

    de que vai conseguir vencer seu desafio.

    Esses exemplos mostram o quo satisfatrio sentir-se cons-

    truindo seu destino.

    Voc estudar com muito mais prazer no curso de especia-

    lizao que decidiu fazer.

    Algumas horas a menos de sono sero compensadas com

    muito mais retorno sua dedicao.

    Voc passar a enxergar com mais clareza o que quer da vida.

    Cada vez mais, voc escolher o que fazer, aonde ir e o que

    comer.

    50

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Tenho certeza de que, daqui a alguns anos, voc olhar para

    essa etapa da sua vida com muito orgulho por ter tido a coragem

    de perseguir seus objetivos e seus sonhos.

    51

  • 3 os inimigos da travessia

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    NO TENHA MEDO DE BICHO-PAPO

    Bicho-papo existe?

    Lgico que no, mas tem muita gente que morria de medo

    dele quando era criana.

    Infelizmente, muitas pessoas no avanam na vida por causa

    da ansiedade e dos medos imaginrios. Resumindo: deixam de vi-

    ver com medo do bicho-papo que pega gente grande.

    O medo imaginrio envolve a pessoa e a convida a parar. A

    ansiedade faz que ela perca o foco e comece a andar desconso-

    ladamente em crculos, sem chegar a lugar nenhum.

    Imagine o que aconteceria se voc mergulhasse em um rio

    com o objetivo de alcanar a outra margem e, na metade do per-

    curso, desse de cara com os olhos esbugalhados de um jacar

    vindo na direo oposta. O que faria?

    Suas braadas, antes provavelmente fortes e confiantes, se-

    riam interrompidas de repente, assim como sua respirao. No

    meio do rio, seus olhos encontrariam os do jacar e ficariam assim,

    por segundos interminveis, espera de um instante de distrao

    do inimigo.

    Nada o convenceria a seguir em frente enquanto aquele

    monstro de dentes pontiagudos permanecesse ali.

    Assim o medo. Ele nos convida a parar e at mesmo voltar

    atrs.

    Mas de onde vem esse medo?

    54

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    So as vozes na sua cabea, dizendo para voc que as coisas

    no vo dar certo.

    Muitos familiares e professores vivem repetindo para a criana

    que as coisas so difceis e, indiretamente, que ela no vai conse-

    guir realizar seus desejos. Quando essa criana cresce e se torna

    um adulto, essas mensagens vo para seu inconsciente e conti-

    nuam a pression-la. A pessoa no tem conscincia dessas vozes,

    mas elas ficam criando fantasmas no caminho de seus projetos.

    Esse jacar que voc pode estar vendo nada mais que um

    pedao de tronco ligeiramente apodrecido pelo contato prolon-

    gado com a gua. O medo imaginrio apenas um tronco pare-

    cido com um jacar. Por isso mesmo, voc no deve dar-lhe o

    poder de faz-lo desistir de seus sonhos.

    Quando os jacars aparecerem em seu caminho, resista ten-

    tao de desistir da sua travessia. Olhe bem para eles e ver que

    so troncos velhos e inofensivos, incapazes de fazer estrago em

    sua vida.

    Ento, voc me pergunta: "E a ansiedade, Roberto?"

    A ansiedade uma agitao provocada pelo medo, que faz a

    pessoa agir impulsivamente, sem organizao e disciplina.

    Uma pessoa ansiosa costuma lidar com as coisas de maneira

    precipitada, movimentando-se freneticamente quando deveria

    manter a calma.

    Os filmes de faroeste de antigamente com freqncia tinham

    um episdio no qual um dos personagens, mocinho ou bandido,

    55

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    entrava em um trecho de areia movedia. 0 bandido se debatia

    desesperadamente e acabava morrendo. O mocinho, quando era

    jogado na areia movedia, parava uns minutos para pensar, encon-

    trava uma soluo objetiva e escapava.

    Ao cair na areia movedia, o pior erro da vtima o desespero.

    Quanto mais ela se debater, mais seu corpo afundar. O segredo

    controlar a ansiedade e se movimentar o mnimo possvel, at

    que encontre a sada.

    Se um trecho de areia movedia aparecer durante sua traves-

    sia do mangue, lembre-se de manter a calma e contar at dez. Te-

    nha claro o seu objetivo e mantenha a sua estratgia, que os

    resultados viro no momento certo.

    Nos momentos de presso, precisamos manter a calma e a

    determinao.

    O medo e a ansiedade so os grandes inimigos da transfor-

    mao. Causam estagnao ou desvios perigosos e, de uma forma

    ou de outra, impedem o fluxo natural da vida, afastando voc da

    sua capacidade de crescimento pessoal.

    Mariana no conseguia passar no concurso para promo-

    tora pblica. Havia tentado durante trs anos consecutivos, sem

    resultado, e j estava perdendo as esperanas. Sabia quase de

    cor as aulas do cursinho, dormia e acordava estudando. No fa-

    zia outra coisa na vida, mas nada de ser aprovada.

    Na hora da prova, sentia tanto medo de fracassar de novo

    que sua mente ficava travada. O medo virava um jacar gigante.

    56

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Em vez de dizer a si mesma que o fato de ter estudado durante

    trs anos lhe dava segurana para fazer uma boa prova, ela ape-

    nas repetia: "E se eu falhar mais uma vez?".

    As mos ficavam geladas, o estmago rgido e as respostas

    sumiam de sua mente.

    Mariana vivia assombrada pelo medo e pela ansiedade de

    tal maneira que parecia estar sempre andando em crculos, sem

    chegar a lugar nenhum. Parecia viver como se tivesse formigas

    sob a pele, tamanha sua agitao.

    Quando veio conversar comigo, seus nervos estavam arre-

    bentados.

    Sugeri que arrumasse um emprego e continuasse estu-

    dando. Pedi que comeasse a ouvir as vozes em sua mente e que

    fosse fazer algumas sesses de psicoterapia para se conhecer

    melhor.

    Aos poucos ela aprendeu a lidar com suas emoes. Arru-

    mou um emprego que lhe diminua a tenso e, algum tempo de-

    pois, conseguiu assumir uma postura mais leve e tranqila,

    tornando suas horas de estudo mais produtivas. No ano seguinte,

    finalmente passou no concurso para promotora.

    0 problema de Mariana no era falta de conhecimento,

    mas de autoconfiana.

    O medo imaginrio no um inimigo que se apresenta de

    maneira clara.

    57

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    s vezes, ele vem disfarado de brigas com o irmo; ou de ir-

    ritao com o chefe. Aparece camuflado como aquela preguia,

    aquela vontade de deixar tudo para amanh, aquele desejo de

    adiar as coisas.

    Nem sempre fcil perceber o domnio do medo. Voc no

    sente o estmago revirado, nem passa noites sem dormir. Tudo

    parece normal.

    Muitas vezes o medo se disfara em vontade de fazer algo

    que nada tem que ver com o seu objetivo de vida. Como aquele

    rapaz que estava se preparando para o vestibular de Medicina e

    resolveu se dedicar a um curso de ator.

    Voc quer ser um ator? perguntei.

    No! ele respondeu.

    Ento por que fazer um curso de ator justamente no mo-

    mento em que ele tem de se concentrar nas provas? Ele pode fa-

    zer o curso depois que entrar na faculdade.

    Ser que esses no so sinais de que o medo est espreita?

    ATOLADOS NO MEIO DO CAMINHO

    Todos os seres humanos tm a fora interior para se realizar

    como pessoas, mas alguns no utilizam esse potencial e se tornam

    muito menos do que poderiam.

    58

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Os aprendizados da infncia acabam influenciando forte-

    mente a maneira como a pessoa se posiciona na vida. Uma infn-

    cia com pais muito crticos e controladores pode prejudicar a

    autoconfiana do indivduo. Entretanto, pais que mimam demais

    os filhos matam sua necessidade de buscar seus caminhos por ini-

    ciativa prpria.

    O potencial de crescimento uma fora que sempre vai im-

    pulsionar o ser humano na sua vontade de se realizar. O problema

    que, muitas vezes, as pessoas no percebem que esto atoladas.

    Superficialmente, esto fazendo muitas coisas, mas todas elas s

    levam a mais dependncia.

    Existem trs maneiras de as pessoas ficarem atoladas na vida:

    A primeira agir como um Peter Pari adulto, que mantm o

    estilo de vida de quando ainda era criana.

    Outra maneira tornar-se um Rebelde Sem Causa, que briga

    com todos na iluso de que fazer loucuras um atalho para

    se tornar um adulto poderoso.

    A ltima maneira a do Faz-tudo, aquela pessoa que faz

    muitas coisas ao mesmo tempo, mas no completa nada do

    que comea e vive sempre na dependncia dos pais.

    Se voc sente que sua vida no est evoluindo do jeito que

    quer, vamos conhecer melhor esses trs tipos de pessoas:

    59

  • Roberto Shinyashiki

    sempreemfrente

    OS TIPOS ATOLADOS

    A armadilha de Peter Pari

    claro que voc conhece a histria de Peter Pan. Provavel-

    mente, ouviu-a muitas vezes na infncia. Torceu para que o Capi-

    to Gancho recebesse a devida lio e para que Wendy vivesse

    feliz para sempre ao lado do heri, Peter Pan.

    Peter Pan era um garoto que se recusava a crescer e, por isso,

    vivia em um mundo fantstico, em que ningum jamais envelhe-

    cia. Esse lugar era a Terra do Nunca. Ali, as pessoas no eram obri-

    gadas a lidar com as responsabilidades da idade adulta. A vida

    delas se resumia s brincadeiras e aventuras tpicas do universo

    de faz-de-conta ao qual elas pertenciam.

    assim que muita gente age no mundo real.

    Mas alguma vez voc j se perguntou o que teria levado Peter

    Pan Terra do Nunca?

    Para no assumir compromissos, o Peter Pan da vida real se

    recusa a crescer. Mesmo que beire os 30 anos, ele tem a respon-

    sabilidade de um garolo de 10: se esquece de pagar as contas,

    precisa que as pessoas lhe avisem dos compromissos, o chefe no

    agenta mais cobrar o que ele promete, a namorada no agenta

    mais ter de lembr-lo de estudar para os exames.

    O Peter Pan de hoje entra em uma faculdade de segunda li-

    nha, empurra os trabalhos com a barriga e vai passando de ano

    aos trancos e barrancos (isso quando no se enrosca em um monte

    60

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    de recuperaes). Considera-se bom aluno, mas continua espe-

    rando a fada Sininho aparecer para quebrar seu galho.

    O Peter Pan moderno , tambm, a jovem me que deixa a

    obrigao de criar o seu filho para a av e continua levando a vida

    como se, com o nascimento da criana, no tivesse selado um

    pacto para toda a vida.

    Esse mesmo Peter Pan o jovem de famlia pobre que mora

    na periferia e, em vez de procurar vencer na vida estudando, fica

    o dia todo sentado na calada com os amigos que nada lhe acres-

    centam.

    O Peter Pan, atualmente, pode ser o profissional que v os

    colegas se matando para entregar um projeto e nem liga para os

    esforos deles.

    O Peter Pan contemporneo o jovem que conversa com os

    amigos sobre conquistas imaginrias, na esperana de que acon-

    team sem que tenha de batalhar por elas.

    "Como seria bom se eu tivesse a minha empresa!"

    "Como seria bom se eu perdesse alguns quilos!"

    "Como seria bom se o meu marido fosse promovido!"

    Ele at pensa em realizar as coisas que deseja, mas o medo

    de levar um "no" de fracassar ou de ser ridicularizado o faz desis-

    tir antes mesmo de arriscar.

    Voc j viu um grupo de "habitantes" da Terra do Nunca?

    Quase sempre, Peter Pan vive cercado por outros personagens

    que tambm decidiram no crescer. Teme ser tachado de fracas-

    61

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    sado e, por isso, apia-se nos amigos de sempre. Forma com seus

    iguais uma confraria, em que todos se protegem mutuamente das

    ameaas. Juntos, repetem as mesmas brincadeiras, debocham dos

    amigos como sempre fizeram, contam velhas piadas e pregam as

    mesmas peas que j tiveram graa no passado, mas que, hoje, pa-

    recem infantis e inadequadas. Levam a vida tomando cerveja en-

    quanto o tempo passa.

    Se um deles comea a realizar seus sonhos e a crescer na vida,

    logo afastado do grupo.

    Peter Pan no pra em empregos. Vive falando de uma idia

    genial que nunca vai acontecer porque, no fundo, nem ele nem

    seus amigos esto dispostos a se sacrificar por ela. Se algum se

    aproxima com a inteno de ajud-lo a crescer, Peter Pan finge que

    no com ele.

    Critica tudo e todos, vive reclamando do companheiro, dos

    colegas e do chefe, mas no consegue realizar nada por conta

    prpria.

    Geralmente, os Peter Pan foram crianas que tiveram pais su-

    perprotetores, que tinham pena deles e os mimaram muito. bas-

    tante comum que seus pais continuem a cham-los pelos apelidos

    da infncia, mesmo na vida adulta. No fundo, eles no se do conta

    de que os filhos cresceram.

    Esse jeito de viver at pode dar certo se Peter Pan arrumar

    uma esposa rica que banque suas vontades ou se os pais o prote-

    gerem para sempre. De qualquer modo, mesmo que tenha muita

    62

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    sorte, perder a oportunidade de tocar a prpria vida de modo in-

    dependente. Desperdiar a prpria vida.

    Mesmo depois de adulto, Peter Pan continua a pedir as coisas

    para seus pais. Quando quer reformar o apartamento, de onde vem

    o dinheiro? E para trocar de carro?

    H, nesse caso, uma doena hereditria rarssima em que a

    pessoa no sente nenhum tipo de dor. Voc pode queim-la, cort-

    la, arrancar um brao e ela no sentir nada. No primeiro momento,

    voc deve pensar que essa pessoa feliz, pois no sofre com a dor.

    Mas no esse o caso. Ela tambm no sente nenhum prazer: um

    toque, um beijo, um abrao para ela nada. Recusando-se a cres-

    cer, o Peter Pan evita as dores da jornada, mas tambm abre mo

    de todo prazer que ela pode lhe dar.

    Uma pessoa de 30 anos que vive como se fosse adolescente,

    depende dos pais para tudo e nunca parou para pensar no futuro,

    deixa de experimentar muita coisa boa. E, certamente, deixa de

    expressar o que existe de melhor dentro dela.

    Voc j ouviu falar em "gerao-canguru"? assim que os es-

    pecialistas batizaram os jovens que se aproximam dos 30 anos sem

    deixar a casa dos pais. Algumas pesquisas mostram que, hoje em

    dia, aproximadamente 30% deles ainda moram com os pais. Mesmo

    depois de formados, com um emprego razovel e condies finan-

    ceiras de manter o prprio espao, eles no vem motivo para abrir

    mo da mordomia e permanecem na casa paterna (ou materna)

    por tempo indeterminado.

    63

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Na hora de criar vnculos amorosos, o Peter Pan de hoje pro-

    cura uma pessoa que cuide dele como seus pais fizeram. Procura

    sempre no companheiro uma me que o mime ou um pai que sa-

    tisfaa todas as suas vontades.

    Quando no tem seus desejos satisfeitos, acusa o outro de

    egosmo; mas ele mesmo no se preocupa em amar o outro. De-

    siste do namoro ao primeiro sinal de problema. Chora, bate o p,

    diz que est sofrendo, mas no faz nada para mudar.

    O Peter Pan da vida real reclama por no conseguir um est-

    gio ou um emprego depois de formado. Ele no percebe que sua

    expresso de incapacidade durante as entrevistas denuncia sua

    falta de iniciativa e revela aos entrevistadores que contrat-lo no

    vai ajudar a empresa em coisa alguma.

    Depois de algumas tentativas mal-sucedidas, Peter Pan desiste

    de trabalhar e volta para o seu grupo de amigos, onde estar livre

    para fazer as velhas brincadeiras de sempre e falar mal da huma-

    nidade.

    Marcos um desses rapazes que esto com o p preso no

    lodo. A gente costuma cham-lo de "estudante profissional". J

    abandonou duas faculdades e se prepara para entrar na terceira.

    Comea sempre empolgado e, quando est prestes a concluir o

    curso, inventa sempre uma desculpa para desistir. Uma vez a

    falta de vocao, outra a profisso que no d futuro.

    64

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Parece que o nico futuro de Marcos continuar estu-

    dando para sempre. Quando conseguir um diploma, provavel-

    mente vai engatar uma especializao aps a outra, adiando

    ainda mais o ingresso no mercado de trabalho. Ele faz qualquer

    coisa para no ter de trabalhar. No fundo, est mesmo com

    medo de encarar as responsabilidades da vida adulta.

    O comportamento de Marcos no privilgio dos jovens.

    Existe muita gente madura que, quando se trata de operar mudan-

    as em sua vida, age exatamente como um adolescente mimado,

    um autntico Peter Pan da vida real. No assume responsabilidades

    e prefere ficar reclamando de tudo o que acontece, seja no em-

    prego, na escola, no casamento ou em qualquer outra situao.

    Voc conhece algum que esteja deixando a vida passar dessa

    maneira?

    Ser que voc tambm est atolado como um Peter Pan?

    Se for esse o seu caso, est na hora de aprender a trabalhar

    para realizar seus projetos. A jornada do Peter Pan comea quando

    ele decide bancar sua vida sem esperar presentes de ningum.

    Voc no imagina o prazer que vai sentir ao andar com as

    prprias pernas. Passear no colo dos pais pode ser muito confor-

    tvel, mas so eles que vo sempre decidir o seu destino.

    O mais importante para se desvencilhar da armadilha de Pe-

    ter Pan assumir responsabilidades, ter persistncia para ir at o

    fim em direo aos seus objetivos e disposio para superar as di-

    ficuldades que surgirem ao longo do caminho.

    65

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    A armadilha do Rebelde Sem Causa

    Com os ps atolados na lama, o Rebelde Sem Causa agita os

    braos o mais que pode para mostrar que ainda est vivo, que

    mangue nenhum capaz de derrot-lo. Na sua concepo, esbo-

    fetear o vento e esbravejar contra tudo e todos a melhor forma

    de mostrar-se forte, independente, dono do prprio nariz.

    Para esse tipo de pessoa, brigar sinnimo de ter autonomia,

    armar confuso o mesmo que ser autntico e mostrar rebeldia

    requisito para tornar-se adulto. Como se gritar mais alto as tor-

    nasse mais poderosas, diminuir os outros as fizesse maior e pro-

    vocar medo fosse o antdoto para a prpria insegurana.

    Quem age dessa maneira continua sendo criana, fingindo

    que virou gente grande.

    Certas pessoas confundem rebeldia com maturidade: dirigem

    em alta velocidade para mostrar que nada capaz de det-las, no

    admitem cobranas quando erram porque pensam que so mais

    poderosas do que os outros, brigam o tempo todo na esperana

    de ser ouvidas e no percebem que fazem tanto barulho apenas

    porque as prprias idias no esto claras.

    O Rebelde Sem Causa parece forte e superior, mas vive mais

    perdido do que cego em tiroteio. Ele adora bancar o todo-pode-

    roso, mas, quando cai em si, descobre que tantas encrencas s fa-

    zem que os outros queiram se vingar dele. Ao humilhar uma

    pessoa, essa pessoa fica magoada e quando tiver oportunidade vai

    se vingar. O encrenqueiro sabe que os outros vo querer descon-

    tar os maus-tratos recebidos, por isso vive sempre preocupado.

    66

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Essa rebeldia talvez at d uma sensao de poder, ou talvez

    faa a pessoa se sentir forte, mas no passa de um grande engano.

    Uma pessoa forte de verdade no precisa humilhar o outro para

    se sentir superior.

    O interessante que tentando se mostrar crescido o Rebelde

    Sem Causa tem o comportamento mais infantil possvel. O beb,

    por no saber falar e no ter outra forma de expresso, s tem uma

    forma de se comunicar: berrar e gritar. Quando ele quer mostrar

    que sua situao no a mais confortvel, ou porque a fralda est

    molhada, ou porque est com fome, ou porque est com clica,

    ele grita. O Rebelde Sem Causa, apesar de adulto, ainda no apren-

    deu a dialogar com o mundo, e quando est incomodado o que

    ele faz? Age como um beb: briga e grita.

    Um dia a mscara vai cair e o Rebelde no agentar nem se

    olhar no espelho.Tudo o que consegue com isso fugir da voz da

    sua conscincia.

    Suas encrencas acabam sendo um caminho para a autodes-

    truio. Eles esquecem que para tudo h limite e desafi-lo pode

    ser bem mais arriscado do que parece. A maioria dos acidentes

    automobilsticos, por exemplo, mata jovens entre 18 e 29 anos, sem

    contar que em geral motoristas que abusam da sorte acabam atin-

    gindo pessoas inocentes.

    Essa compulso de se sentir poderoso a todo custo tambm

    leva muita gente promiscuidade sexual. Sem falso moralismo,

    acredito que somos livres para lidar com nossa sexualidade como

    quisermos. Mas no acho que valha a pena desrespeitar nosso

    67

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    corpo e nossa conscincia apenas para tentar provar a ns mes-

    mos que somos fortes. Transar sem preservativos, por exemplo,

    pode levar ao final dessa viagem de desprezo pela prpria vida.

    O maior problema do Rebelde Sem Causa administrar o sen-

    timento de impotncia. Em vez de construir a prpria capacitao

    e batalhar por seus objetivos, ele inventa formas artificiais de

    convencer os outros de que dispe de um poder que, na verdade,

    no existe.

    Essa postura intrpida e aparentemente segura serve para dis-

    farar a ausncia de coragem que caracteriza seu universo interior.

    Muitos Rebeldes Sem Causa buscam a autoconfiana tambm

    no consumo de drogas e nas bebidas. comum identificar pessoas

    tmidas e inseguras entre aqueles que adotam as drogas, como se

    elas fossem a resposta para todos os seus problemas: a poo m-

    gica que as tornar invencveis.

    A timidez anestesiada, a sensao de incompetncia se eva-

    pora, o problema do casal esquecido, o medo de ser demitido se

    vai, a insegurana desaparece e eles se sentem capazes de ousar,

    de arriscar, de buscar o sucesso. Mas, em vez de levar adiante esse

    desejo de superao e empreender mudanas efetivas em sua vida,

    o que eles fazem apenas arrumar mais brigas.

    Os Rebeldes Sem Causa no sabem que as drogas e o lcool

    so muito mais prejudiciais do que podem imaginar. Destroem o

    crebro e tiram do sujeito a vontade de batalhar por seus objeti-

    vos. A maconha vai prejudicando aos poucos a capacidade de cres-

    cer e superar seus desafios.

    68

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Alguns desses Rebeldes Sem Causa se enganam dizendo a si

    mesmos que no so viciados e podero parar na hora em que

    quiserem, at o dia em que descobrem que as drogas ficaram mais

    fortes do que eles.

    E no me refiro apenas s drogas ilcitas. 0 lcool provoca o

    mesmo sentimento de fuga e invencibilidade e est cada vez mais

    presente no dia-a-dia dos jovens. Nunca foi to grande o nmero

    de jovens alcolatras e nunca o incio do consumo ocorreu to

    cedo quanto hoje. Chama a ateno, sobretudo, a quantidade cres-

    cente de meninas que incorporam o consumo de lcool e drogas

    a seus hbitos atitude predominantemente masculina at a ge-

    rao anterior.

    Embora pense que est agredindo o mundo, o Rebelde Sem

    Causa, na verdade, sempre agride a si mesmo. Suas atitudes so

    marcadas pelo desdm a quase todas as coisas. Enquanto defende

    a postura de que "os outros que se danem" no faz mais do que

    confirmar a idia de que "sou eu mesmo que me dano"

    A infncia do Rebelde Sem Causa foi marcada por pais ausen-

    tes e omissos. A criana no tinha com quem conversar e compar-

    tilhar seus sentimentos, de modo que guardava para si todas as

    mgoas e frustraes. Como no podia contar com os pais, tinha

    de se virar sozinha e se tornava extremamente sensvel, por se sen-

    tir abandonada.

    A criana vai percebendo que no tem com quem comparti-

    lhar a dor da solido e comea esconder sua tristeza brigando

    com os outros. J que os pais no lhe do carinho, arruma proble-

    69

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    mas para ver se consegue um pouco de ateno. E sai pela vida

    afora brigando e afastando as pessoas, quando na verdade o que

    precisa de amor.

    O Rebelde Sem Causa adora arrumar encrencas e desabafar

    sobre os outros. Grita com os irmos menores, bate a porta quando

    discute com a me, desafia o pai, chuta o cachorro no quintal. No

    percebe que as pessoas ficam com medo dele e se afastam mais

    ainda, aumentando a sua gigantesca solido. Ele no sabe pedir a

    ateno que precisa e briga para dizer que est sentindo falta de

    carinho. Explodir com os outros apenas aumenta o vazio que sente

    internamente.

    O Rebelde Sem Causa, quando tem um problema de relacio-

    namento com a namorada, briga com ela por qualquer motivo o

    tempo todo. Alis, quando est chateado, ele tende a distribuir

    pancadas em quem estiver por perto. Geralmente se relaciona com

    uma pessoa submissa, que aprendeu a ser o saco de pancadas dos

    pais uma pessoa que tem o amor-prprio destrudo e aceita ser

    maltratada.

    Depois de desabafar e humilhar a namorada, o Rebelde Sem

    Causa sai com todas as mulheres que encontra, como que para se

    vingar dela. No percebe que viver agredindo a quem ama nunca

    resolve seus problemas.

    O Rebelde Sem Causa se d o direito de transar com todo

    mundo como se isso fosse a sua maior expresso de grandeza. No

    entende que ir para a cama com o maior nmero possvel de parcei-

    ros apenas reafirma a prpria incapacidade de amar de verdade.

    70

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    0 Rebelde Sem Causa pensa que ningum vai impedi-lo de

    fazer o que deseja, ningum vai lhe dizer que no deve ser proms-

    cuo, ningum vai obrig-lo a usar camisinha, e sente enorme orgu-

    lho de agir dessa maneira. Mais cedo ou mais tarde, descobrir que

    machucou desnecessariamente a si prprio e aos que ama.

    O Rebelde Sem Causa um ser parecido com um porco-espi-

    nho. Agressivo por fora, mas frgil por dentro. Cheio de espinhos,

    que servem apenas para proteger a sua verdadeira fraqueza. Mui-

    tos so os jovens que, quando esto com vontade de chorar, ficam

    brigando com os outros.

    Quando no sabe fazer algo, o Rebelde Sem Causa no con-

    segue pedir ajuda. Tenta se virar sozinho e acaba fazendo boba-

    gens. Depois, em vez de reconhecer os prprios erros, acusa os

    outros por seus problemas. Acaba quase sempre sendo mais um

    causador de problemas do que parte da soluo.

    Seu carter explosivo e sua dificuldade de trabalhar em equipe

    geralmente criam muitos problemas no trabalho. Por isso, o Re-

    belde Sem Causa vive trocando de emprego, ou, se fica na mesma

    empresa, tem sua carreira limitada, uma vez que seus superiores

    sabem que ele no agenta presso.

    Eduardo era um sujeito que estava sempre metido em en-

    crencas. Levava a vida como se disputasse uma interminvel

    queda-de-brao. Brigava com todo mundo e machucava a maio-

    ria das pessoas que viviam com ele.

    71

  • Roberto Shinyashiki s e m p r e e m f r e n t e

    Sua namorada estava sempre com os olhos vermelhos de

    tanto chorar por causa de suas exploses. Seus amigos viviam

    com medo de suas brigas. Jogar futebol com ele era um passa-

    porte para o mal-estar. Ou as pessoas se conformavam em ser

    maltratadas o tempo todo, ou acabavam entrando em conflito

    para no serem responsabilizadas pelos problemas dele.

    Ele era um sujeito muito bom enquanto as coisas davam

    certo; mas, ao menor problema, ele estourava.

    Como era filho de um grande empresrio do ramo de re-

    venda de automveis, vivia sempre dando broncas nos emprega-

    dos. Por qualquer coisa, estourava tambm com os clientes. Ou

    seja, arrumava problemas para o pai o tempo todo.

    No final de uma palestra que dei em sua empresa, seu pai

    me procurou e pediu que eu orientasse o filho.

    Comecei a conversar com Eduardo e o que vi foi um rapaz

    muito frgil, que no aprendeu a pedir ajuda. Na infncia, tinha

    sentido muito a falta do pai, que vivia sempre trabalhando.

    Quando assumiu sua tristeza, abandonou a mscara de

    todo-poderoso e falou de sua insegurana em cuidar da prpria

    vida. Isso o ajudou a se sentir mais leve.

    Disse a ele que precisava aprender a escutar as pessoas e

    aceitar as frustraes da vida.

    Demorou um pouco para que Eduardo percebesse que po-

    deria ser mais feliz se aceitasse o carinho de quem estava dis-

    posto a ajud-lo. Mas, aos poucos, aprendeu a lidar com suas

    emoes.

    72

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Hoje, ele vive mais em paz com a vida e segue em busca

    de suas realizaes. Ainda est aprendendo a respeitar as pes-

    soas e especialmente a se respeitar. J deixou de ser um Rebelde

    Sem Causa.

    Para sair desse conflito, o primeiro passo que o Rebelde Sem

    Causa precisa dar olhar o prprio ntimo e verificar se sua pos-

    tura condiz com seus propsitos, seus sonhos, seus projetos.

    A pergunta mais importante : o que eu quero da vida?

    A resposta a essa questo requer algum tempo. Mas a busca

    do contato com sua essncia far que voc desenvolva as condi-

    es necessrias para evitar atitudes que apenas escondam suas

    inseguranas. 0 contato com os prprios sentimentos vai ensin-

    lo a se relacionar melhor com as pessoas.

    Crescer tomar conscincia do prprio potencial, entender

    que os objetivos podem ser realizados com trabalho consistente

    e aprender a reconhecer as qualidades dos outros.

    Para abandonar esse estigma de Rebelde Sem Causa pre-

    ciso comear a respeitar os prprios sentimentos, os sentimentos

    alheios e a se relacionar.

    Por isso, o melhor a fazer sempre buscar em conjunto a vi-

    tria de todos.

    olhar alm do prprio umbigo e descobrir um mundo novo

    a ser desbravado.

    Sem egosmo, que s serve para atrapalhar.

    Sem inveja, que s pesa na mochila e atrasa a caminhada.

    73

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Sem revolta, que s torna as coisas mais difceis.

    Aprendendo a abrir seu corao e dividindo sua vida com as

    pessoas que ama.

    A armadilha do Faz-tudo

    O Faz-tudo comea muitas coisas, mas no termina quase

    nada. Ele vive agitado, brigando contra o relgio, sem perceber

    que muitas de suas aes nascem da impulsividade e no de de-

    cises claras.

    Os mais ansiosos, de modo geral, correm de um lado para ou-

    tro, sem descanso, e fazem mil coisas ao mesmo tempo, certos de

    que isso os ajudar a chegar mais depressa a algum lugar, mesmo

    que eles no saibam que lugar esse.

    Eles no querem perder nada. Vivem sempre atrasados, ten-

    tando ser pontuais. Esto sempre lotados de aulas de ingls, espa-

    nhol e alemo. Fazem cursos de todos os tipos. Participam de todo

    e qualquer congresso profissional. Querem ser includos em todos

    os projetos da empresa.

    Minha me diria que eles "correm feito barata tonta'! Ou feito

    cachorro atrs do prprio rabo. Comem muito, mas no digerem

    nada. Pode-se dizer que vomitam quase tudo. Aproveitam muito

    pouco do que lem porque no refletem sobre suas leituras. No

    tiram proveito dos cursos que fazem porque sempre esto pen-

    sando em outras coisas a fazer.

    Em vez de parar, pensar e decidir por um caminho que faci-

    lite seu crescimento, o Faz-tudo se debate e aponta para todas as

    74

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    direes, sem conseguir decidir por uma delas. Fica eternamente

    cansado porque no tem foco em suas escolhas.

    Quanto mais energia gasta, mais afunda.

    As pessoas que fazem muitas coisas ao mesmo tempo geral-

    mente adotam essa postura por medo do fracasso. Por ironia do

    destino, no entanto, justamente esse comportamento disperso

    que acaba criando derrotas magnficas.

    Eles no sabem assumir suas escolhas e, enquanto no deci-

    dem, colocam os ps em dois barcos diferentes. Fazem duas facul-

    dades porque no sabem qual realmente lhes interessa. Querem

    estar cada dia em um departamento da empresa. Namoram duas

    pessoas ao mesmo tempo porque no sabem qual delas escolher.

    Por alguma razo, criaram a idia de que somente muita ao

    resolve seus problemas. Querem solues imediatas e custam a

    perceber que, no fundo, nunca saem do mesmo lugar.

    Quando algum simplesmente corre de um lado para outro,

    o nico resultado de seus esforos a exausto.

    Na infncia do Faz-tudo, seus pais, querendo que ele fosse

    perfeito, o matriculavam em todos os cursos e aulas particulares.

    Quando viam o filho parado, assustavam-se com a possibilidade

    de ele se tornar um vagabundo. Ento, exigiam que a criana es-

    tivesse sempre imersa em alguma atividade.

    Esses pais no conseguiam conversar com os filhos, ajud-los

    a pensar sobre seus projetos, elaborar planos para resolver suas

    dificuldades. O que importava para eles era agir. Mas ao fora de

    contexto nada mais do que tentar fugir dos problemas.

    75

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    Muitas vezes, as pessoas agitadas pensam que esto fazendo

    algo para superar seus obstculos quando, na verdade, esto com

    dificuldade para pensar, refletir e tomar uma deciso consistente.

    Ao condicionar os filhos a agir mais por impulso do que por

    convico, esses pais perderam a oportunidade de ensin-los a

    pensar e decidir. Seus filhos ficaram viciados em "ao sem ela-

    borao"

    Geralmente os pais admiram seu filho Faz-tudo porque per-

    cebem os esforos dele para conseguir sucesso na vida. Mas no

    percebem que o filho vive estressado, com medo de no conseguir

    realizar seus projetos.

    A angstia maior comea quando eles vem que os filhos no

    completam nada do que iniciam. A surgem os discursos de cen-

    sura, tpicos dos pais que precisam convencer os filhos a irem at

    o fim em qualquer coisa. Nessa poca, sempre que os pais dizem

    "precisamos conversarmos filhos j entendem como uma cobrana

    para que concluam algo na vida.

    Geralmente, o Faz-tudo vive trocando de parceiro, porque

    busca o relacionamento perfeito, sem desentendimentos nem frus-

    traes^ no tem pacincia para construir uma relao a dois.

    Enquanto o Peter Pan procura algum que cuide dele e o Re-

    belde Sem Causa massacra o parceiro at ver atendidos todos os

    seus desejos, o Faz-tudo costuma ter vrios relacionamentos por

    duas razes: no sabe escolher o parceiro e no quer perder tempo

    com ningum.

    76

  • Roberto Shinyashiki sempreemfrente

    O Faz-tudo vive atazanand