seminário LTIJ - O Séc. XIX - Romantismo e Realismo

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UEMS – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL LETRAS/ESPANHOL SEMINÁRIO: PANORÂMA HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO- JUVENIL O SÉCULO XIX: ROMANTISMO E REALISMO DOURADOS-MS

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UEMS – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

LETRAS/ESPANHOL

SEMINÁRIO: PANORÂMA HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO-

JUVENIL

O SÉCULO XIX: ROMANTISMO E REALISMO

DOURADOS-MS

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UEMS – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

LETRAS/ESPANHOL

SEMINÁRIO: PANORÂMA HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO-

JUVENIL

O SÉCULO XIX: ROMANTISMO E REALISMO Texto elaborado para apresentação do seminário apresentado pelas

acadêmicas NUNES, Dilma Silva, SANTOS, Nayara Paredes e

SILVA, Rosângela B.A. Matoso. Seminário apresentado no dia 05

de julho de 2012, para os alunos do primeiro ano de

Letras/Espanhol, sob a orientação da Professora Josilene.

DOURADOS-MS

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A DESCOBERTA DA CRIANÇA

DA NOVELÍSTICA DE AVENTURAS À LITERATURA SATÍRICA

XIX – O SÉCULO DE OURO DO ROMANCE

O Romantismo plebeu vinha se forjando lentamente desde a Era Clássica, por sua

simplicidade e seu mundo fantasioso, este estilo ia conquistando pouco a pouco até mesmo os

gostos mais refinados.

A consolidação da sociedade burguesa foi fundamental para o apogeu do

Romantismo, em sua primeira fase vemos em toda a Europa a multiplicação de autores e

obras de Tradição.

No século XIX, conhecido como século de ouro do romance e da novela, mescla-

se o culto e o popular onde se cria espelhos da sociedade, se tornando a fonte mais importante

de entretenimento para o grande público.

O mundo e as mentalidades mudavam, o Humanismo tomou espaço e criava-se

uma nova representação de mundo, e em meio a esse processo de descobertas, a criança é

vista como um ser diferente, que precisava e cuidados específicos, ela não era mais um adulto

em miniatura, agora era mais compreendida como um ser em formação. “...é nesse momento

que a criança entra como um valor a ser levado em consideração no processo social e no

contexto humano.” (pg. 108)

Criou-se então o mito da infância, onde ela seria a idade de ouro do ser humano, e

a adolescência seria a idade da pureza aonde a criança iria se corromper ao se tornar adulta.

Seguindo esta tendência, a literatura voltou sua preocupação também para este

novo público. Os textos não mais serviam apenas para informações, mas se preocupavam com

a formação da mente e da personalidade infantil.

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AS LEITURAS INFANTIS NO SÉCULO XIX

A maioria das literaturas do período nasceram para os adultos, porém sua

linguagem simples e seu conteúdo fantasioso agradaram ao público infanto-juvenil. As obras

então foram traduzidas e adaptadas especificamente para este público.

As naturezas destas estórias eram de narrativas do fantástico-maravilhoso; as

novelísticas de aventuras; as narrativas do realismo maravilhoso; as novelísticas do realismo

humanitário e a literatura jocosa ou satírica.

As que vamos tratar neste seminário são as NARRATIVAS DO FANTÁSTICO-

MARAVILHOSO: de fundo folclórico popular, ocorrem no mundo da fantasia bem diferente

do mundo real. Os principais representantes são os Irmãos Grimm e Hans Andersen.

IRMÃOS GRIMM

JACOB (1778-1863) E WILHELM (1786-1959) GRIMM

Os irmãos eram filólogos, folcloristas, estudiosos da mitologia germânica e da

história do direito alemão. Recolhem diretamente da memória dos contos populares as sagas

germânicas, tradicionalmente mantidas através dos contos orais.

Os objetivos básicos dos Grimm era fazer um levantamento de elementos

linguísticos para fundamentos de estudos filológicos da língua alemã e a fixação dos folclores,

tudo sempre cientificamente. Ao buscarem um “mundo real”, os irmãos acabaram por se

deparar com a fantasia, o mistério, o mítico. As obras daí resultantes foram traduzidas pra

diversos idiomas e se tornaram obras-primas da literatura infanto-juvenil. Este material foi

publicado entre 1812 e 1822, resultando no volume Contos de fadas para crianças e adultos,

onde se percebe um fundo de estórias originalmente comum: o europeu. Prova disto são

histórias de Perrault (Séc. XVII, na França) incorporadas na obra. São ao todo 41 estórias,

destas 12 são de comprovada origem germânica.

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Apesar de a época continuar agressiva e violenta, são outras formas do homem

compreender o próprio homem, o mundo e os objetivos da vida. O Romantismo trouxe para o

mundo um sentido humanitário enorme, uma renovação de mentalidades.

O sentido maravilhoso da vida, a esperança e a confiança passam a imperar nos

novos contos de fadas. Os Grimm então lançam outras obras: Pensamento, Mito, Poesia e

História – 1813 e Mitologia Alemã – 1835.

Após uma polêmica com o escritor Von Arnim, os Grimm passaram a “suavizar o

rigor doutrinal e levaram em conta as exigências da mentalidade infantil” (pg 111). Situações

de violência e agressividade muito fortes, e o erotismo muito explícito foi sendo retirado dos

contos.

A NATUREZA DOS CONTOS DE GRIMM E SEUS ELEMENTOS

ESTRUTURAIS

A natureza dos contos é das narrativas do fantástico-maravilhoso, pois pertencem

ao mundo do imaginário ou da fantasia.

Não há propriamente contos de fadas, posto que não há fadas nos contos, mas sim

há um encantamento de metamorfoses, ou o maravilhoso onde o mágico e o sobrenatural se

integram naturalmente nos contos. Há também algumas fábulas, lendas, contos de enigmas ou

mistério e contos jocosos.

A estrutura da narrativa é simples, com apenas um núcleo dramático. Narrativas

complexas são raras nos contos populares. A característica básica destes contos é apresentar

uma problemática simples, desenvolvidas em unidades narrativas que se sucedem

praticamente iguais entre si, girando em torno de um só núcleo dramático.

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TÉCNICAS DE REPETIÇÃO

A repetição, juntamente com a simplicidade do problema e a estrutura narrativa, é

outro elemento básico dos contos populares.

A simplicidade da mente infantil repudia estruturas complexas, e detestam alterar

a continuidade de uma estória. Crianças sentem um prazer sempre renovado de ouvirem

repetidas vezes a mesma estória.

Nos contos populares há a apreciação do conhecer por antecipação o que vai

ocorrer. Dominando a marcha dos acontecimentos, o leitor se sente seguro, crendo poder

dominar os rumos das coisas que lhe são postas.

AS CONSTANTES DOS CONTOS MARAVILHOSO

Os mesmos elementos que se repetem nos CONTOS DE GRIMM, em geral, são

os que se repetem em outras narrativas da mesma espécie.

A ONIPRESENÇA DA METAMORFOSE

Quando “encantados”, príncipes e princesas transformam-se, vias de regra, em

animais como leão, sapo, peixe, etc. Em menor escala, há metamorfoses em prego, roseira,

igreja...

A transformação dos seres e das coisas remontam as mais antigas fontes de

narrativas que se conhecem. Normalmente são as mulheres que conseguem “desencantar” os

“encantados”.

O USO DOS TALISMÃS

Rara são as estórias em que não é feito o uso de talismãs ou objetos mágicos:

como a “luz azul” (quando acesa fazia aparecer um anão); “três nozes” (que, abertas faziam

surgir vestidos maravilhosos); “vara de condão”, etc. Há seres prodigiosos, que, assim como

os talismãs interferem com a sorte dos personagens: anões, gnomos, velhas misteriosas...

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A FORÇA DO DESTINO

O destino, no qual tudo parece determinado a acontecer como uma fatalidade a

quem ninguém pode escapar, é uma constante nos contos maravilhosos. Muitos são os

aspectos que esta fatalidade pode assumir: o de uma bruxa, anjo do céu...

O DESAFIO DO MISTÉRIO OU INTERDITO

Sempre há um mistério ou enigma a ser decifrado ou, um interdito forte para ser

superado pelo herói.

A REITERAÇÃO DOS NÚMEROS

A repetição dos números 3 e 7 é algo notável nas estórias maravilhosas.

Obviamente estarão ligados à simbologia esotérica dos números.

MAGIA E DIVINDADE

Nos contos dos Grimm, é possível notar que a intervenção mágica as vezes se

confunde com a “providencia divina”, pois é a oscilação da Antiguidade paga para a

Modernidade crista.

OS VALORES IDEOLÓGICOS

Dentre os valores ideológicos dos Contos dos Grimm podemos destacar:

a) Atmosfera geral é “aberta”, tendente ao bom humor como atitude aconselhável

para o viver o cotidiano.

b) Predomínio de valores humanistas: preocupação fundamental com a

sobrevivência e as necessidades básicas do individuo.

c) Premio para o bem, castigo para o mau.

d) A esperteza/astucia inteligentes vencem a prepotência e a força bruta.

e) A insaciabilidade humana.

f) A ordem natural dos seres e das coisas não devem ser alteradas.

g) Em geral os mais velhos são os que detém o Poder e, os mais novos, são os

preferidos ou predestinados.

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h) Os indivíduos que consegue “vencer” as provas, é sempre alguém com dons

especiais.

i) A passagem de nível social é mediada pela Mulher, geralmente pelo casamento

do individuo com a filha de um rei ou nobre abastado. As qualidades exigidas à Mulher são a

beleza, a modéstia, a submissão, a pureza e o recato.

HANS CHRISTIAN ANDERSEN (1805-18759)

Celebre poeta e novelista dinamarquês. Escritor que se preocupou essencialmente

com a sensibilidade exaltada pelo Romantismo, e em suas estórias, tratou-as de maneira terna

e nostálgica, transformando-se em um dos mais famosos escritores para crianças em todo o

mundo. Entre os títulos mais divulgados de suas obras estão: O Patinho Feio, O Soldadinho

de Chumbo, Os Cisnes Selvagens, A Sereiazinha, João e Maria, A Roupa Nova do Imperador,

etc. Embora muitas de suas estórias desenrolaram-se no mundo fantástico da imaginação, a

maioria esta presa ao cotidiano.

Andersen começou adaptando contos populares como “A Princesa e grão de

Ervilha” e o “Companheiro de Viagem”. A partir de 1843, começa a publicar contos

inventados por ele mesmo e que tem, por heróis, objetos familiares...

Os elementos constitutivos de sua obra são próprios de sua época e não de tempos

primitivos. E o caso de muitos objetos que vivem em seus contos, como o “soldadinho de

chumbo”, a “janela com vidraça” de onde ele caiu, a “beira da calçada” por onde correu a

enxurrada que o levou.

Andersen foi a primeira voz autenticamente romântica a contar estórias para as

crianças e sugerir-lhe padrões de comportamento a serem adotados pela nova sociedade que

se organizava nessa época. Entre os vários valores ideológicos românticos, facilmente

identificáveis em sua obra apontamos:

• Defesa dos direitos iguais, pela anulação das diferenças de classe (A

Pastora e o Limpador de Chaminés)

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• Valorização do indivíduo por suas qualidades intrínsecas e não por seus

privilégios ou atributos exteriores (O Patinho Feio, A Pequena Vendedora

de Fósforos)

• Atração pelo diferente, pelo incomum, pela aventura (A Pequena Sereia, O

Soldadinho de Chumbo)

• Consciência da precariedade de vida, eventualidade de situações(O

Soldadinho de Chumbo , O Homem da Neve)

• Crença na superioridade das coisas naturais em relação às artificiais (O

rouxinol)

• Condenação da arrogância, orgulho, maldade contra os fracos e com os

animais e ambição de riqueza e poder (João Grande e João Pequeno, Os

Cisnes Selvagens)

• Obediência, pureza, paciência ,recato ,submissão, religiosidade( virtudes

da mulher da época).Era a visão da mulher como ser dual: do plano ideal,

era o ser dependente do Homem; do plano real, era um ser-objeto

submisso ao Homem.

CONTOS DE HANS CHRISTIAN ANDERSEN

COMO A VIDA DOS AUTORES INFLUENCIAM OU SE REFLETEM EM SUAS

OBRAS. QUEM FOI ANDERSEN?

Nasceu no seio de uma família cristã dinamarquesa muito pobre. Filho de um

sapateiro de 22 anos( instruído, mas de saúde muito fraca) e de uma lavadeira vários anos

mais velha.

Toda a família dormia num único quarto. O pai adorava-o e fomentava lhe a

imaginação e a criatividade deixando-o aprender a ler, contava-lhe histórias e, fabricando-lhe

um teatrinho de marionetes. Hans apresentava em seu teatro peças clássicas, tendo chegado a

memorizar peças de Shakespeare, que encenava com seus brinquedos.

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Em 1816, seu pai morreu e ele, com apenas 11 anos, precisou abandonar a escola,

mas já demonstrava aptidão para o teatro e a literatura. Tornou-se poeta, escritor, bailarino,

cantor e ator.

CARACTERÍSTICAS DE SUAS OBRAS

A carreira de escritor reflete uma vida de esforços ininterruptos para impor-se

como artista numa sociedade rigidamente organizada em classes. Seu primeiro livro,

“Tentativas juvenis” vendeu 17 cópias. As 283 restantes foram usadas como papel de

embrulho.Em 1829 escreveu sua primeira obra literária, foi sucesso imediato e em 1835 veio

a consagração com “ O improvisador”.

Ainda em 1835 lança seus primeiros Contos de Fadas para crianças, inovando

ao retomar antigas histórias populares na linguagem do cotidiano, com frases curtas e ritmo

sincopado, e ao substituir os vilões tradicionais (ogros e feiticeiras) por sentimentos humanos

como a vaidade, a inveja e ambição, a resignação.

Percebemos nas obras de Andersen a ternura quando fala dos pequenos infelizes e

desvalidos, o confronto entre o forte e o fraco, a generosidade humanista e o espírito de

caridade próprios do estilo Romântico.

Existe algo de peculiar em seus contos. Todos tem um final que não costuma

agradar o leitor. Não terminam no “e viveram felizes para sempre”, mas em um final real e

muitas vezes triste para o seus protagonistas.

Vários motivos podem ser apontados para justificar esta atitude nada

convencional:

• O jovem escritor era cristão e acreditava que na vida teríamos grandes

provações e que a recompensa seria dada por Deus no Céu, como, por

exemplo, em A pequena vendedora de fósforos, onde as pessoas boas tem

seu final feliz morrendo e indo para o céu.

• Nasceu em uma sociedade cheia de contrastes. Era de uma família simples

e havia convivido com a divisão entre o forte e o fraco, o rico e o pobre, o

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belo e o feio (Ex. O patinho feio). Ele buscava demonstrar que todos os

homens deveriam ter direitos iguais.

CONTROVÉRSIAS SOBRE A SEXUALIDADE DE HANS:

a. Amores não correspondidos devido à timidez.

b. Apaixonava-se frequentemente por mulheres impossíveis de serem

conquistadas e muitas das suas histórias podem ser interpretadas como

referência as suas desilusões amorosas.

c. Segundo Jackie Wullschlager teria tido também amores não

correspondidos por homens.

O MARAVILHOSO X REALISMO

TERNURA X VIOLÊNCIA

O Maravilhoso nos contos de Andersen está intimamente ligado ao Realismo.

Suas temáticas, os problemas, os personagens e lugares são retirados do dia-a-dia e a magia

para Andersen também está presente em tudo deste mundo. O Maravilhoso é tão naturalmente

presente que as coisas passam a acontecer em um espaço onde não existem fronteiras entre o

Real e a Fantasia. O universo à sua volta era algo extremamente maravilhoso, tanto quanto o

mundo sobrenatural existente nas lendas, mitos, fábulas, sagas, novelas, etc. Na sua magia

não existem fadas, seres tão comuns em contos de fadas, a presença delas só existe em uma

pequena novela de origem popular germânica chamada “ Os cisnes Selvagens”.

O realismo na literatura, de um modo geral, caracteriza-se pelo contraste de ideias

com o subjetivismo. Esse movimento literário surgiu com o intuito de obter uma abordagem

mais objetiva, que refletisse a realidade e o contexto social de uma determinada época. A

partir desse conceito, podemos identificar traços realistas na obra de Andersen. Ao falar de

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literatura infanto-juvenil, logo imaginamos um mundo maravilhoso e fantástico no qual

habitam seres mágicos, princesas, dragões, castelos, fadas e toda uma gama de entidades

mágicas. O leitor depara-se com uma situação conflituosa da personagem principal e

automaticamente espera que este tenha aquele famoso “final feliz” ou então “E viveram

felizes para sempre...”. Este é o diferencial realista do autor. Analisando o contexto da obra

“O Soldadinho de Chumbo” notamos que há por traz da face fantástica de um boneco feito de

chumbo poder andar e até apaixonar-se há simultaneamente na própria vestimenta do soldado,

o modelo de uma sociedade europeia voltada para os valores de uma sociedade patriarcal,

religiosa e, sobretudo com uma diferença nítida de posição social. Ao final do conto, temos o

diferencial de Andersen, quando notamos que o soldadinho de chumbo e a bailarina terminam

incinerados em uma lareira, porém o coração do soldado permanece intacto assim como o

enfeite da tiara da bailarina, mais uma vez o autor mostra que é possível sim contar uma

história maravilhosa sem tirar os pés da realidade terrena e social.

ROMANTISMO

Hans Andersen foi o primeiro autor a usar o estilo romântico para contar histórias

para crianças. Reinventou o conto de fadas para os novos tempos em que a sociedade

aprendeu a valorizar a infância, respeitando as diferenças de cada indivíduo. A infância seria a

idade de ouro do ser humano e a adolescência era o momento de pureza que se corromperia

no mundo adulto. Percebemos nas obras de Andersen, a ternura quando fala dos pequenos,

infelizes e desvalidos, o confronto entre o forte e o fraco, a generosidade humanista e o

espírito de caridade próprio do estilo romântico. O autor transportava então para suas

personagens, características marcantes de sua época. O fato de ele ser do povo permitiu que

ele descrevesse exatamente os desejos da população em seus textos: valorização das raízes de

seu país, celebração de conquistas individuais e busca pela realização de sonhos. Não foi a toa

que ele escolheu personagens frágeis e infelizes para ilustrar suas histórias. Era a exaltação do

individualismo da época: cada pessoa era diferente da outra. Repare que as personagens como

o patinho feio e o soldadinho de chumbo não eram iguais aos outros, assim como a pequena

sereia não podia viver com o humano porque tinha uma cauda de peixe.

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PODER TERAPÊUTICO DOS CONTOS DE FADAS- PSICANÁLISE DA OBRA DE ANDERSEN E SUA

INFLUÊNCIA NA ATUALIDADE

Os contos de fadas exercem uma influência muito benéfica na formação da

personalidade porque, através da assimilação dos conteúdos da estória, as crianças aprendem

que é possível vencer obstáculos e saírem vitoriosas, especialmente quando o herói vence no

final. Isso ocorre porque, durante o desenrolar da trama, a criança se identifica com as

personagens e “vive” o drama que ali é apresentado de uma forma geralmente simples, porém

impactante. Conflitos internos importantes, inerentes ao ser humano, como a inevitabilidade

da morte, o envelhecimento, a luta entre o bem e o mal, a inveja, etc. são tratados nos contos

de fadas de modo a oferecer desfechos otimistas. Desta forma, oferece à criança uma

referência para elaborar os terríveis elementos ansiógenos que habitam seu imaginário, como

seus medos, desejos, amores e ódios, etc., que na sua imatura e concreta perspectiva

apresentam-se amedrontadores e insolúveis. Esse aprendizado é captado pela criança de uma

forma intuitiva (por estarem os elementos sempre carregados de simbolismo) tornando-se

muito mais abrangente do que seria possível se fosse feito pela compreensão meramente

intelectual�. Acredita-se que o efeito integrador que os contos de fadas têm sobre a

personalidade seja o fator responsável pelo fato de terem resistido à passagem do tempo e

terem se universalizado.

Cada vez mais surgem evidências de que os sistemas de crenças produzem

efeito decisivo sobre o funcionamento do ser humano, tanto psíquico quanto fisiológico, de

modo que crenças que nos infundem esperança de vitória são de grande ajuda na superação

de dificuldades, mesmo na vida adulta. Alguns autores vão mais além ao afirmar que se, por

qualquer razão, uma criança for incapaz de imaginar seu futuro de modo otimista, ocorrerá

uma parada no seu desenvolvimento geral. E trazer mensagens da vitória do bem sobre o mal

é o que os contos de fadas fazem com maestria. Evocam sempre uma verdade atemporal. A

criança, internamente, fará a transposição para a sua realidade atual. E em função de suas

necessidades psíquicas momentâneas, irão reelaborando seus conteúdos internos através da

repetição da estória. É por isso que tão comumente vemos as crianças pedirem a seus pais que

repitam a mesma estória inúmeras vezes (ou desejam ver o mesmo filme repetidamente), que

a contem novamente sem nenhuma modificação: trata-se da referência que ela está usando

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para compreender-se, para elaborar suas angústias ainda não resolvidas. Além disso, a

repetição lhe dá uma confirmação do conteúdo que ela está processando. Ela precisará dessa

confirmação até que o conflito interno esteja solucionado. Só então deixará de solicitar aquela

estória.

Outra função importante dos contos de fadas é a de resgatar o “tempo da alma”,

pois a vida infantil precisa cumprir cada etapa do seu desenvolvimento para que uma estrutura

psíquica equilibrada possa ser elaborada. A alma tem um tempo próprio, característico, ainda

ditado pelos ritmos da natureza, que não costuma ter pressa. O “tempo da alma” é que regula

o passo das fases do amadurecimento humano, em oposição a ansiedade e acúmulo de

demandas, cobranças e pressões de toda sorte que a sociedade moderna exerce sobre os

indivíduos, mesmo sobre as crianças.

A prática do compartilhamento dos contos de fadas (pais lendo ou contando para

os filhos, professores para os alunos, etc. com posteriores conversas sobre a estória) deve ser

estimulada porque nessa atividade fica mais fácil para as crianças falarem sobre suas

angústias, partilhar suas dúvidas e ansiedades sem se expor pessoalmente.

Isso é possível, pois, ao comentar uma estória, estarão falando dos seus

sentimentos, mas não diretamente de si próprias, já que estarão utilizando o recurso das

personagens e de uma situação fictícia como apoio. Deve-se, preferentemente, escolher

estórias que apresentem um final feliz. Vale lembrar que, em meio a esse tipo de atividade,

não cabe qualquer espécie de julgamento moral ou censura. O que importa aqui não é ensinar

às crianças como se comportar (o que, por sinal, a própria estória já faz, de uma maneira

muito mais rica e ilustrativa, ao mostrar as consequências dos atos de cada um), mas oferecer

às crianças a oportunidade de expressarem suas dificuldades emocionais de uma maneira

protegida. Sintetizando, os contos de fadas passam às crianças a mensagem de que na vida é

inevitável ter que se deparar com dificuldades, mas que se lutarem com firmeza será possível

vencer os obstáculos e alcançar a vitória.

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CRÍTICAS OU COMENTÁRIOS

Para a escritora Ana Maria Machado, os contos de fadas pertencem ao gênero

literário mais rico do imaginário popular. “essas histórias funcionam como válvulas de escape

e permitem que a criança vivencie seus problemas psicológicos de modo simbólico, saindo

mais feliz dessa experiência”

Para Marisa Lajolo, professora da Universidade de Campinas, o mais

importante é que pais e professores se sintam confortáveis ao contar uma história. “Todos os

estudiosos do assunto afirmam que as crianças gostam de violência. Aliás, um dos prazeres da

arte, para crianças e adultos, parece ser exatamente a sensação de viver por empréstimo

grandes aventuras, grandes amores e... grandes crueldades também!”

Especialistas afirmam que a tendência de retirar o mal, o medo e o castigo das

narrativas são forte atualmente. “As mudanças de enredo apaziguam as emoções que precisam

ser vividas. Não é saudável evitar que as crianças enfrentem os conflitos”, lembra Katia

Canton.

Assim, é possível usar e abusar de filmes que recontam A Bela e a Fera e O

Patinho Feio, por ex., mas é preciso apresentar primeiro as obras que mais se aproximam dos

originais. Um critério é escolher livros traduzidos por um escritor conhecido. Fazer paródias,

promover uma visão crítica dos temas tratados e indicar a época em que as novas versões

foram escritas ajuda a garotada a refletir.

REFERÊNCIAS:

- COELHO, Nelly Novaes. Panorama Histórico da Literatura Infanto/juvenil (Das

Origens Indo-europeias ao Brasil Contemporâneo). 3ª ed. São Paulo: Edições Quiron,

1985.