Seminário de Investigação

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COMISSÃO ORGANIZADORA José Machado Pais Pedro Abib Marina Bay Frydberg Ana Gonçalves COMISSÃO CIENTÍFICA José Machado Pais Pedro Abib Salwa Castelo-Branco PARTICIPAÇÃO MUSICAL SAMBA Pedrão FADO Helder Moutinho Marco Oliveira Ricardo Parreira Yami SEMINÁRIO DE INVESTIGAÇÃO EXPRESSÕES MUSICAIS POPULARES DE AQUÉM E DE ALÉM-MAR AUDITÓRIO SEDAS NUNES INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA 11 DE NOVEMBRO DE 2009 & b 4 4 Q Q Ú q q H H & b 2 4 Ú H Q Q Ú q q Q Q Ú q H Ó Q Q Ú ENTIDADES CO-ORGANIZADORAS PATROCÍNIO

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COMISSÃO ORGANIZADORA

José Machado Pais Pedro Abib Marina Bay Frydberg Ana Gonçalves

COMISSÃO CIENTÍFICA José Machado Pais Pedro Abib Salwa Castelo-Branco

PARTICIPAÇÃO MUSICAL SAMBA

Pedrão FADO

Helder Moutinho Marco Oliveira Ricardo Parreira Yami

SEMINÁRIO DE INVESTIGAÇÃO

EXPRESSÕES MUSICAIS POPULARES DE AQUÉM E DE ALÉM-MAR

AUDITÓRIO SEDAS NUNES INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA 11 DE NOVEMBRO DE 2009

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ENTIDADES CO-ORGANIZADORAS

PATROCÍNIO

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EXPRESSÕES MUSICAIS POPULARES DE AQUÉM E DE ALÉM-MAR

á çã

11 de Novembro de 2009 Auditório Sedas Nunes Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

PROGRAMA

10:30-10:45 Abertura

José Machado Pais, Pedro Abib e Salwa Castelo-Branco

10:45-12:30 Painel 1

Moderadora: Salwa Castelo-Branco

Com/fusões: a remixar Angola no Brasil Frederick Moehn

Os múltiplos cosmopolitismos da música de Cabo Verde: raça e diáspora no Atlântico crioulo Rui Cidra

O jongo: amarrando e desamarrando sentidos em canto, batuque e dança Paulo Carrano

Exibição parcial do videodocumentário Sou de Jongo, Paulo Carrano, Brasil, 2009, 67’

Debate

Pausa para almoço (livre)

14:30-16:30 Painel 2

Moderador: João Soeiro de Carvalho

Baladeiros de intervenção: segmento de uma canção popular na cultura de massas Maria do Carmo Serén

A recepção do jazz no Portugal colonial e a produção de discursos sobre a alteridade racial negra: alguns estudos de caso Pedro Roxo

Hip hop is dead (resistência e mainstreaming): das inner cities para o mundo Nuno Santos/Chullage

Prendam aquele vadio com o violão às costas!: samba e marginalidade no início do século XX no Brasil e suas semelhanças com o fado de Lisboa * Pedro Abib

* Com participação musical do sambista Pedrão

Debate

Pausa para café

16:45-18:15 Painel 3

Moderadora: Sara Pereira

Os sons das cidades: jovens músicos a (re)descobrir a(s) cidade(s) através do samba, do choro e do fado Marina Bay Frydberg

De estirpe fadista: fadofilia e [e]vocações familiares Ana Gonçalves

Tertúlia fadista com Helder Moutinho, Marco Oliveira, Ricardo Parreira e Yami

Debate

18:15-18h30 Encerramento

Marina Bay Frydberg e Ana Gonçalves

Convívio

COMISSÃO ORGANIZADORA

José Machado Pais, Pedro Abib, Marina Bay Frydberg e Ana Gonçalves

COMISSÃO CIENTÍFICA

José Machado Pais, Pedro Abib e Salwa Castelo-Branco

ENTIDADES CO-ORGANIZADORAS

PATROCÍNIO

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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES E NOTAS BIOGRÁFICAS DOS PARTICIPANTES

Painel 1 COM/FUSÕES: A REMIXAR ANGOLA NO BRASIL

Após o fim da guerra civil angolana em 2002, a música deste país tem conhecido maior divulgação na cena internacional. Esta palestra centrar-se-á na análise de um disco de remixagens, feito por brasileiros, de canções angolanas das décadas de 60 e 70. O produtor Maurício Pacheco realizou pesquisas nos Arquivos da Rádio Nacional em Luanda, onde escolheu fitas master, que posteriormente encaminhou a produtores brasileiros que as trabalharam dentro dos seus próprios estilos. É marcante a disjunção entre o contexto original das canções, a violenta guerra civil num país tardiamente independente, e o das remixagens, as fitas antigas mandadas a alguns dos mais ativos personagens na actual cena musical do Brasil. Analiso, assim, este disco e estas disjunções.

Frederick Moehn

Formou-se em produção e gravação de música no Berklee College of Music em Boston (bacharelado em 1988), onde também estudou voz. Atuou como músico de jazz e música popular em Nova Iorque (guitarra e voz), antes de começar seus estudos em etnomusicologia na New York University em 1993. Fez pesquisas sobre produção de música popular brasileira no Rio de Janeiro em 1998-99 como bolsista Fulbright e terminou sua tese de doutorado Mixing MPB: Cannibals and Cosmopolitans in Brazilian Popular Music em 2001, com Gage Averill, George Yúdice e Donna Buchanan no comité de orientação. Deu classes na NYU, Columbia University e Stony Brook University (Universidade Estadual de Nova Iorque). Entre suas publicações encontram-se artigos em jornais e revistas (como Revista de Música Latinoamericana; Ethnomusicology Forum; Ethnomusicology; Studies in Latin American Popular Culture) e capítulos nos livros Wired for Sound: Engineering and Technologies in Sonic Cultures, Brazilian Popular Music and Globalization e Popular Music, Citizenship, and Democracy in Brazil (que será editado em breve). Durante 2008-9 foi bolsista da Fundação Howard (Brown University) e pesquisador visitante do Centro de Estudos de Etnicidade e Raça na Columbia University. Atualmente é investigador auxiliar do Instituto de Etnomusicologia-Música e Dança da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa.

OS MÚLTIPLOS COSMOPOLITISMOS DA MÚSICA DE CABO VERDE: RAÇA E DIÁSPORA NO ATLÂNTICO CRIOULO

Os géneros expressivos associados ao arquipélago de Cabo Verde emergiram historicamente e sofreram renovadas dinâmicas a partir de um conjunto de diálogos interculturais envolvendo rotas distintivas no Atlântico. Sendo um território de intersecção de movimentos populacionais, incluindo aqueles da diáspora cabo-verdiana, as suas práticas expressivas dialogaram continuadamente com géneros e estilos da Costa Ocidental Africana (nomeadamente da região da Senegâmbia), da Europa (nomeadamente de Portugal), do Brasil e das Antilhas. Na primeira metade do século XX, marinheiros brasileiros em travessias transatlânticas e migrantes transportando fonogramas e instrumentos musicais, desencadearam a interpretação de géneros como o samba, o chorinho e o baião, marcaram os estilos interpretativos do “viol~o” em Cabo Verde, bem como, de um modo geral, din}micas expressivas de géneros localmente formados como a morna e a coladera. Géneros musicais da América do Sul como a cumbia e bolero (nas décadas de 50 e 60) e das Caraíbas, como cadence e zouk, (70, 80 e 90), entre outros, conheceram igualmente apropriações crioulas na segunda metade do século, sobretudo através dos consumos musicais de migrantes de retorno à terra. Mais recentemente, jovens músicos inspirados no movimento pós Independência que transformou práticas expressivas subalternas no período colonial como o batuko e o funaná em géneros nacionais de música popular, têm criado estilos musicais que reconfiguram elos imaginados ao continente africano. A presente comunicação procura enquadrar os diálogos transatlânticos que configura(ra)m as práticas expressivas associadas à experiência e identidades dos cabo-verdianos, as suas estéticas de diáspora e os seus múltiplos cosmopolitismos. Defende a necessidade de produzir histórias e etnografias em torno dos diálogos interculturais que envolvem a cultura expressiva, salvaguardando rotas alternativas, condições de mobilidade espacial, bem como construções de raça, pertença ilhéu e nação, não contempladas em noções dominantes do Atlântico Negro.

Rui Cidra

É antropólogo e investigador no Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos de Música e Dança, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Desenvolveu investigação sobre o hip-hop na Área Metropolitana de Lisboa e conclui uma tese de doutoramento sobre as práticas expressivas da Ilha de Santiago, Cabo Verde, baseada em pesquisa etnográfica realizada no arquipélago e em Portugal. É co-coordenador da Enciclopédia de Música em Portugal no Século XX e lecciona a cadeira de Cultura Expressiva e Identidade (Mestrado e Pós-graduação Migrações, Inter-etnicidades e Transnacionalismo, FCSH-UNL).

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O JONGO: AMARRANDO E DESAMARRANDO SENTIDOS EM CANTO, BATUQUE E DANÇA

Eu pisei na pedra, pedra balanceou O mundo tava torto rainha endireitou...

O jongo, também conhecido como caxambu, tambú ou tambor, é característico de algumas comunidades negras do sudeste do Brasil. A prática foi registrada ao longo da extensa região do Vale do Rio Paraíba para aonde foram escravizados homens e mulheres pertencentes ao grupo lingüístico originário Bantu para o trabalho nas lavouras de café e cana-de-açúcar. É comum que recaia sobre o jongo o estigma que o vincula { macumba ou “feitiço de negro”. O jongo possui características próprias, ainda que existam variações nas formas de dançar, bater o tambor e se “colocar o ponto” — os versos cantados — segundo as comunidades nas quais é praticado. Em seus “fundamentos” encontra-se a presença de dois ou mais tambores, de uma roda de dançarinos e cantadores e de casais que se revezam dançando em “quase umbigada” ao centro da roda. A roda de jongo opera como coro que repete versos daqueles que “colocam pontos”, estes podem narrar o cotidiano, a religiosidade ou a política; os pontos louvam santos e divindades africanas, lembram a libertação dos escravos, fazem gracejos, criticam ou provocam outros jongueiros. Os pontos não são lineares, mas ambíguos e metafóricos e articulam ludicidade, religiosidade e relações agonistas que se estabelecem no delimitado grande mundo que é a roda jongueira. É comum que desafios à decifração de enigmas sejam lançados e repetidos pelo coro até que alguém os decifre. Na simbologia jongueira, acredita-se que um mestre espiritualmente vinculado aos antepassados africanos seja capaz de “amarrar” — enfeitiçar — alguém pela força da palavra; da bala ou da flecha que fere (o jongo). Inicialmente restrito aos “pretos velhos”, o jongo é hoje praticado por pessoas de todas as idades, em áreas rurais e urbanas, como diálogo intergeracional — não sem conflitos — que atualiza sentidos culturais e fortalece laços territoriais e comunitários.

Paulo Carrano

Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Educação (1999). Pós-doutorado na Faculdade de Educação da USP (2009), sob a supervisão da Professora Doutora Marilia Pontes Spósito. Realiza estágio de pós-doutorado no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (2009-2010), sob a supervisão do Professor Doutor José Machado Pais. Coordenou o Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF, Mestrado e Doutorado (2006-2008); Coordena o Grupo de Pesquisa Observatório Jovem/UFF. Autor dos livros Juventudes e Cidades Educadoras (2003) e Os Jovens e a Cidade (2002). Dirigiu e produziu os vídeos documentários: Jovens no Centro (2005), Sementes da Memória (2005), Se Eles Soubessem (2006); Bracuí: Velhas Lutas, Jovens Histórias (2007) e Sou de Jongo (2009).

SOU DE JONGO Paulo Carrano, Brasil, 2009, 67’

Homens e mulheres participantes de diferentes comunidades do sudeste brasileiro, praticantes da dança do jongo, entrelaçam depoimentos sobre suas vidas e esta cultura que tem sua origem nas práticas de trabalho, festa, religiosidade e resistência de seus antepassados africanos escravizados no Brasil. Os narradores contam e cantam a cultura jongueira — seus pontos, os tambores, a dança na roda — revelando também histórias pessoais de iniciação, envolvimento, superação de preconceitos — de gênero, raça e idade — e produção cultural.

Painel 2 BALADEIROS DE INTERVENÇÃO: SEGMENTO DE UMA CANÇÃO POPULAR NA CULTURA DE MASSAS

Será legítimo incluir as baladas de intervenção político-social na expressão musical popular? Se na globalização a oposição campo/cidade industrializada, centrada na busca das origens da identidade, útil ao nacionalismo, deixa de ter sentido, porque não? Nas vésperas da sociedade e cultura de massas, o Modernismo j| o antevia com o seu “poetismo” que substituía a poesia e procurava paradoxalmente fragilizar-se, inspirando-se e enriquecendo-se na cultura popular do seu meio urbano, o music-hall, as variedades, o jazz-band, o circo, o cinema, (Charlot que até inspira Maiakovski, Harold Lloyd…), Mistinguett… tudo o que esclarecia, banalizava, popularizava a “saúde de nervos” do século XX antes da II Guerra. É a cultura de massas que determina e devolve a cultura popular, nomeadamente a nova expressão musical que tanto vive do quotidiano das palavras e dos actos. Os baladeiros escolhem a canção; surgem, nesse século, como “estudantes enguitarrados” que provam que para abalar o sistema é preciso estar dentro dele. E a solitária guitarra ou viola portuguesa é a fonte dos acordes que habitam o recurso fácil e útil a uma cultura popular de reconhecíveis apports, seja a nova cançó catalã, a misantropia urbana de baladeiros como Leonard Cohen, Jacques Brel e Vinicius de Moraes, a desterritorialização dos emigrantes em Serrat ou Manuel Freire ou a chamada libertadora da terra e do homem de Vitorino, Fausto ou José Afonso. Os baladeiros portugueses que se organizam em luta de intervenção só são efeito da cultura de massas quando em 1969 são convidados para o programa televisivo Zip-Zip: é o ano de Woodstock, quando Joan Baez cantava “Simple song of Freedom”.

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Maria do Carmo Serén

Nasceu no Porto, é historiadora e crítica de arte e fotografia, integrando com frequência cursos, colóquios ou encontros, tendo publicado textos, nomeadamente sobre análise fotográfica, em revistas, antologias, ou dicionários de especialidade, no país, em Espanha, França, Grã-Bretanha, Brasil e Estados Unidos. Tem ainda publicado para diversas instituições e editoras obras de análise de fotografia, pintura e história. Neste último ano de 2009 publicou a biografia Uma Espada de Brilhantes para o General Silveira, Câmara Municipal de Vila Real/Faculdade de Letras do Porto, incluída na colecção de Arte Portuguesa, A Fotografia em Portugal, nº 17, Fubu Ed; teve ainda participação nas entradas para a publicação da Colecção de Arte BES e no Espólio Fotográfico Português, direc. Fernando de Sousa, Cepes. Foi directora da revista Ersatz do Centro Português de Fotografia.

A RECEPÇÃO DO JAZZ NO PORTUGAL COLONIAL E A PRODUÇÃO DE DISCURSOS SOBRE A ALTERIDADE RACIAL NEGRA: ALGUNS ESTUDOS DE CASO

A recepção do jazz em Portugal entre as décadas 20 e 70 do século passado espoletou e foi mediada por uma série de discursos sobre a natureza do “negro” e da condiç~o racial negra. Através da an|lise de alguns estudos de caso, esta comunicação procurará examinar a forma como alguns desses modos de produção discursiva, obedecendo a agendas políticas, sociais, religiosas, artísticas e pessoais específicas, frequentemente antagónicas entre si, evocam e associam, directa ou indirectamente, o discurso sobre jazz e sobre as (ent~o denominadas) “danças modernas” { tem|tica da alteridade racial. Ser| também realçado o modo como as figurações sobre o “outro” foram constituídas nesses discursos através de representações mais ou menos arbitrárias e estereotipadas, tanto por via da circulação de representações mass-mediatizadas do ”negro”, como também pelas próprias percepções e representações associadas { experiência colonial portuguesa em África. Por fim, será destacada a importância das práticas expressivas de origem africano-americana para a imaginação e performação da modernidade em Portugal, contribuindo assim para uma reconsideração das relações raciais, mas também políticas, sociais e de género.

Pedro Roxo

Investigador do Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa, tem pesquisas recentes centradas nas práticas expressivas de populações migrantes (nomeadamente entre os indianos hindu-gujarati em Lisboa e em Londres), nalgumas práticas indianas de popular culture (Bollywood, garbá, British Asian music), e na recepção do jazz em Portugal no século XX.

HIP HOP IS DEAD (RESISTÊNCIA E MAINSTREAMING): DAS INNER CITIES PARA O MUNDO

O Rap é só mais um dos afluentes do enorme rio da oralidade africana. Tambores e vozes marcaram a cadência dos rituais do oeste africano e esse 4/4 é hoje a marca dos sons urbanos do ocidente. Nascido no Bronx, o Rap é um descendente directo do Toasting da Jamaica e do Spoken Word dos EUA, meio-irmão das Finaçons de Cabo Verde, sobrinho do Speech dos oradores das igrejas afro-americanas ou das mesquitas da NOI, um primo dos Dozens e do Signifying, e por ai além. Originalmente os MC’s começaram por comentar as escolhas do DJ de serviço, apelar ao divertimento e dar boas vindas às celebridades que estavam “in the house”. No entanto cedo se aperceberam da força das suas palavras e tornaram-se os griots do século XX, dando voz { luta do “Black and the Brown” das inner cities americanas. O poder dessas palavras no ritmo cru e simples com uma colagem de samples, sintetizadores e por vezes sons acústicos, levou o Rap a todo o mundo como uma das formas de expressão privilegiada dos jovens mais desfavorecidos das urbes de todo o mundo. Mas o século XXI trouxe o mainstreaming do Rap e das restantes vertentes do Hip Hop. O Graffiti, o Break-Dance, o Djiyng e o Rap foram da rua para as galerias, ginásios de fitness, discotecas e séries juvenis. De sons polidos e palavras higienizadas se faz o rap actual? “Hip Hop is Dead” disse Nas, mas o número de mix-tapes e street CDs provam o contrário. O Rap está vivo e cada vez mais independente.

Nuno Santos/Chullage

Nasceu em Portugal, filho de imigrantes cabo-verdianos, iniciou-se no Rap muito cedo por influências da Zulu Nation e da Margem Sul. Mudou-se do Monte da Caparica para a Arrentela onde co-fundou o colectivo Red Eyez Gang e o grupo 187 Squad. Mais tarde fez parte Maff Sul e da Resistência. Participou em várias mix-tapes e concertos e em 2001 lançou o Represálias: Sangue, Lágrimas e Suor que é considerado um clássico do rap de Portugal. Em 2004 lançou Rapensar: Passado, presente e futuro. Entretanto ajudou a fundar a Khapaz – associação cultural de afro-descendentes e tornou-se num activista pelos direitos dos descendentes de africanos. Actualmente está a preparar o terceiro disco e mantém o projecto de spoken word intitulado Unspoken Worlds. Licenciado em Sociologia do Trabalho pelo ISCSP está a coordenar a implementação do projecto do Centro de Inclusão pela Arte na Câmara Municipal do Seixal.

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PRENDAM AQUELE VADIO COM O VIOLÃO ÀS COSTAS!: SAMBA E MARGINALIDADE NO INÍCIO DO SÉCULO XX NO BRASIL E SUAS SEMELHANÇAS COM O FADO DE LISBOA *

O samba, expressão musical mais fortemente ligada à identidade cultural do Brasil, assim como toda manifestação de influência afro-brasileira, sofreu uma perseguição e uma discriminação muito grande por parte das elites e do poder constituído, principalmente no início do século XX, constituindo-se como uma cultura marginal durante algumas décadas. Essa comunicação busca trazer alguns elementos de análise desse contexto, a partir de fatos históricos e também relatos de situações presentes nas letras de alguns sambas escritos nesse período, que serão executados durante a apresentação da comunicação. Buscar-se-á também alguns elementos comparativos com o fado e a perseguição de que também foi vítima em Portugal no mesmo período.

Pedro Abib

Possui graduação em Educação Física pela Universidade de Mogi das Cruzes (1982), mestrado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (1997) e doutorado em Ciências Sociais aplicadas à Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2004). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Identidade e Cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: capoeira, cultura popular, cultura, identidade e educação não-formal, além de também atuar nas áreas de música e cinema. É autor dos livros Capoeira Angola: Cultura Popular e o Jogo dos Saberes na Roda (CMU-UNICAMP, 2005) e Mestres e Capoeira Famosos da Bahia (EDUFBA, 2009), enquanto músico e compositor, do CD Samba de Botequim (Brasil, 2009) e, enquanto cineasta, dos videodocumentários O Velho Capoeirista (1999) e Batatinha e o Samba Oculto da Bahia (2007).

* Com participação musical do sambista Pedrão

Painel 3 OS SONS DAS CIDADES: JOVENS MÚSICOS A (RE)DESCOBRIR A(S) CIDADE(S) ATRAVÉS DO SAMBA, DO CHORO E DO FADO

O samba, o choro e o fado são considerados gêneros musicais tradicionais, elementos formadores da identidade nacional e estão vinculados com todo um imaginário sobre o que é o Brasil e a música popular brasileira, no caso do samba e do choro, e o que é Portugal e a música portuguesa, no caso do fado. Nestes últimos dez anos, jovens músicos estão a (re)criar gêneros musicais tradicionais como o samba, o choro e o fado. A partir da (re)criação destes gêneros musicais e da inserção nas suas tradições, esses jovens músicos alteram as suas trajetórias musicais e sociais e, dessa forma, atualizam todo o imaginário e a identidade vinculada a esses gêneros musicais. Estas (re)criações fizeram com que estes gêneros musicais tradicionais ganhassem nova vitalidade e junto com eles territórios na cidade que são/estão diretamente vinculados às suas memórias. O samba e o choro carioca reencontram a Lapa e fazem esta parte histórica da cidade do Rio de Janeiro reencontrar-se através deles. O fado de Lisboa renasce nos mesmos bairros da Lisboa histórica e fadista. A cidade que está sendo desvelada não é a cidade do cotidiano apressado da grande metrópole, é a cidade da noite e da boemia, com seu tempo e espaço particular. Esta descoberta de uma cidade vinculada a um gênero musical específico acontece a partir de práticas musicais cotidianas que exigem um trânsito por essas cidades e por seu tempo e espaço específico, a boemia sambista, chorona ou fadista. A revitalização de bairros tradicionais da cidade, seja ela o Rio de Janeiro ou Lisboa, faz com que estes jovens músicos (re)descubram outra(s) cidade(s) a partir de gêneros musicais que tão bem a cantaram.

Marina Bay Frydberg

Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais (2003), Especialista em Patrimônio Cultural em Centros Urbanos (2005), Mestre em Antropologia Social (2006) e Doutoranda em Antropologia Social (formação realizada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Atualmente está realizando o estágio de doutoramento no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Estuda a música e suas relações com identidade, sociabilidade, modernidade e tradição. Tem atuado principalmente nos seguintes temas: antropologia, antropologia urbana, identidade, música, patrimônio cultural, sociabilidade, lazer, juventude e performance.

DE ESTIRPE FADISTA: FADOFILIA E [E]VOCAÇÕES FAMILIARES

Variados e importantes colectivos têm sido convocados para a compreensão do fenómeno sociocultural que é o fado: a nação, a cidade, os bairros, os espaços onde se canta, toca e escuta, as fracções sociais. Há um outro conjunto que surge talvez mais fortuitamente relacionado com este género musical: a família. Poder-se-á dizer que a(s) história(s) do fado se faz(em) também de indivíduos que compartilham mais do que apelidos? Qual o relevo das ligações familiares na transmissão cultural e na organização social do fado? O que encoraja o seu corrente realce nas narrativas (auto)biográficas de fadistas, instrumentistas, guitarreiros?

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Ana Gonçalves

Socióloga, investigadora do pólo ISCTE-IUL do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA/ISCTE-IUL) e bolseira de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. No âmbito do Programa de Doutoramento em Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL) desenvolve actualmente uma pesquisa sobre a transmissão intrafamiliar de uma forma musical urbana (o fado de Lisboa). Os seus interesses de pesquisa incluem cidade e cultura urbana.

TERTÚLIA FADISTA

Nesta matiné singular de fados persegue-se um trilho sonoro no interior do vasto repertório tradicional e contemporâneo do fado, a fazer lembrar que este género musical não é de natureza diversa de um qualquer espécime arbóreo que vai sobrepondo em camadas e com vagares cascas novas em tronco de idade incerta.

Helder Moutinho **

Fadista, autor e compositor de temas de fado, agente e produtor musical. Oriundo de uma família de várias gerações ligadas ao fado, Moutinho tem vindo a construir uma carreira nacional e internacional que conta com actuações em quatro continentes. Na sua discografia destacam-se Luz de Lisboa (Ocarina, 2004), Prémio Amália Rodrigues para melhor disco de fado do ano, e Que fado é este que trago (Farol Música, 2008), aclamado pela crítica portuguesa como um dos melhores discos do género da última década.

Marco Oliveira **

É um dos mais notáveis músicos da nova vaga dos violistas de fado da actualidade. Ana Moura, Raquel Tavares, Helder Moutinho, Ricardo Parreira, Carlos do Carmo, entre outros, podem testemunhar as suas qualidades musicais. Com apenas 21 anos de idade, nasceu no seio e no meio do fado. Na sua adolescência estudou guitarra clássica no Conservatório Nacional, mas ao mesmo tempo esteve sempre presente na grande escola de fado de Lisboa, passando pelos cantos e recantos da cidade, ouvindo os mais importantes “fadistas” de todas as gerações, bebendo toda a essência e alma que lhe fosse possível para se tornar num fadista de raiz. Em 2008 editou o seu primeiro álbum, Retrato (HM Música, 2008), e recebeu o Prémio Francisco Carvalhinho atribuído pela Casa da Imprensa.

Ricardo Parreira **

Iniciou os estudos de Guitarra Portuguesa aos 7 anos de idade pela mão de seu pai, António Parreira, um dos guitarristas mais conceituados no panorama musical do Fado. Aos 13 anos acompanhou pela primeira vez a fadista Argentina Santos e logo de seguida foi convidado a participar no Festival Um Porto de Fado, realizado no âmbito do evento Porto 2001, Capital da Cultura. Durante todos estes anos a sua formação musical, desde muito novo até passar pelo Conservatório Nacional, foi em redor dos grandes compositores de guitarra portuguesa, desde Carlos e Artur Paredes, num conceito mais virado para a guitarra de Coimbra, até aos lisboetas: Armandinho, José Nunes, Francisco Carvalhinho e Jaime Santos. Isto para além de tocar com alguns dos fadistas mais importantes do panorama actual: Camané, Mísia, Mafalda Arnauth, Argentina Santos, entre outros. Gravou 2007 Nas Veias de uma Guitarra: Tributo a Fernando Alvim (HM Música, 2007).

Yami **

Nascido em Angola, mas há muitos anos radicado em Portugal, Yami é um dos mais recentes exemplos do caldeirão de culturas — mestiças, híbridas, cruzadas — em que Lisboa se tornou nos últimos anos. Misturando na sua música o semba angolano, o zouk das Antilhas, influências do chorinho e do samba brasileiros, da música moçambicana e cabo-verdiana, do jazz e da pop, Yami — que canta em português e em quimbundo, uma das línguas mais faladas em Angola —, celebra com a sua música, e de uma forma cosmopolita e moderna, o espaço da lusofonia e as suas muitas músicas. Cantor, compositor, guitarrista e baixista, Yami acompanhou grandes nomes da música portuguesa como Carlos do Carmo, Dulce Pontes ou a luso-cabo-verdiana Sara Tavares e editou, a solo, o álbum Aloelela (HM Música, 2007).

** FONTE: HM-Música