Sementes da liberdade, independência na vida e no cultivar

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SEMENTES DA LIBERDADE, INDEPENDÊNCIA NA VIDA E NO CULTIVAR Ano 7- nº 1243 No sertão sergipano, no assentamento Lagoa das Areias, município de Monte Alegre de Sergipe, funciona um dos bancos de SEMENTES DA LIBERDADE do nosso Semiárido. Que não dá lucros financeiros, no entanto, comprovadamente provoca uma favorável multiplicação de tesouros de vantagens culturais, sociais e ambientais. A frente da organização desse banco está Carlos Soares de Menezes de 60 anos, mais conhecido na região como Seu Carlinhos (um caboclo caipira, assim auto intitula-se). Sendo ele um dos primeiros colaboradores no inicio dos processos da ASA no Sergipe, e por varias vezes “pedreiro animador de comunidade”, agricultor agroecológico. Seu Carlinhos nos relata que ao participar de um encontro alguns anos atrás na cidade de Juazeiro-BA, teve uma “abertura da mente”, onde brotou um sentimento, uma grande vontade de resgatar antigas tradições de cultivo, de estar atento as ações da Mãe Natureza, aprender com ela como fazer as coisas certas, no tempo e na forma, seja no plantar, cuidar da roça, bichos e matas nativas, fortalecendo assim a esperança de melhora de vida, na certeza que realizando essas ações iria melhorar a sua vida pessoal, familiar e comunitária. Certo dia refletindo sobre o que já viveu, os trabalhos que realizou, percebeu que já tinha provocado um grande desmatamento, afirma que já derrubou mais de um milhão de plantas por onde andou, onde firmou consigo mesmo um compromisso, que no mínimo iria plantar uma muda de planta nativa por mês, durante todo resto de sua vida, como também, nos espaços que viesse a participar, dar o seu testemunho e provocar debates sobre o cuidado com a Mãe Terra. No ano de 2009 na cidade de PICUÍ- PB foi participar do II encontro nacional de agricultores/as experimentadores, onde numa palestra sobre Sementes, houve diversas falas sobre a importância do resgatar os costumes tradicionais populares de cultivar, selecionar, armazenar, no cuidado geral com as sementes, os seus diversos nomes, a exemplo: sementes da paixão, crioula, da tradição, da resistência. De volta a sua comunidade, estava ele a matutar(refletir)“- Todo mundo colocou apelido nas suas sementes, vou colocar nas minhas também, porque se eu chamar as minhas com os mesmos nomes das outras,“os donos” das outras pode não gostar, então resolvi da o nome para as nossa, então resolvi chamar de Sementes da Liberdade, diz Seu Carlinhos”.

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SEMENTES DA LIBERDADE, INDEPENDÊNCIA NA VIDA E NO CULTIVAR

Ano 7- nº 1243

No sertão sergipano, no assentamento Lagoa das Areias, município de

Monte Alegre de Sergipe, funciona um dos bancos de SEMENTES DA

LIBERDADE do nosso Semiárido. Que não dá lucros financeiros, no entanto,

comprovadamente provoca uma favorável multiplicação de tesouros de

vantagens culturais, sociais e ambientais. A frente da organização desse

banco está Carlos Soares de Menezes de 60 anos, mais conhecido na região

como Seu Carlinhos (um caboclo caipira, assim auto intitula-se). Sendo ele

um dos primeiros colaboradores no inicio dos processos da ASA no Sergipe,

e por varias vezes “pedreiro animador de comunidade”, agricultor

agroecológico.

Seu Carlinhos nos relata que ao participar de um encontro alguns anos atrás na cidade de

Juazeiro-BA, teve uma “abertura da mente”, onde brotou um sentimento, uma grande vontade de resgatar

antigas tradições de cultivo, de estar atento as ações da Mãe Natureza, aprender com ela como fazer as

coisas certas, no tempo e na forma, seja no plantar, cuidar da roça, bichos e matas nativas, fortalecendo

assim a esperança de melhora de vida, na certeza que realizando essas ações iria melhorar a sua vida

pessoal, familiar e comunitária.

Certo dia refletindo sobre o que já viveu, os trabalhos que realizou, percebeu que já tinha

provocado um grande desmatamento, afirma que já derrubou mais de um milhão de plantas por onde

andou, onde firmou consigo mesmo um compromisso, que no mínimo iria plantar uma muda de planta

nativa por mês, durante todo resto de sua vida, como também, nos espaços que viesse a participar, dar o

seu testemunho e provocar debates sobre o cuidado com a Mãe Terra. No ano de 2009 na cidade de PICUÍ- PB foi participar do II encontro nacional de agricultores/as

experimentadores, onde numa palestra sobre Sementes, houve diversas falas sobre a importância do

resgatar os costumes tradicionais populares de cultivar, selecionar, armazenar, no cuidado geral com as

sementes, os seus diversos nomes, a exemplo: sementes da paixão, crioula, da tradição, da resistência.

D e vo l t a a s u a c o m u n i d a d e, e s t ava e l e a

matutar(refletir)“- Todo mundo colocou apelido nas suas

sementes, vou colocar nas minhas também, porque se eu

chamar as minhas com os mesmos nomes das outras, “os donos”

das outras pode não gostar, então resolvi da o nome para as

nossa, então resolvi chamar de Sementes da Liberdade, diz Seu

Carlinhos”.

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Perguntado sobre o porque desse nome, ele diz:- “Veja bem, quando agente tem nossa própria

semente, agente não fica dependente de ninguém, nem de governo, nem de projeto. A gente planta

quando e como a gente quiser, se chover agora, sou eu é quem decido se planto agora ou amanhã ou se

planto agora na esperança que amanhã ou depois vai chover, dar a quem a gente quiser”.

Continuando diz: “-Pra gente estar com total liberdade a gente necessita de ter grande

diversidade de sementes, seja milho, feijão, fava, algodão e etc., como também das plantas grandes,

como aroeira, braúna, angico e etc... Olhe, não que eu queira ser melhor do que ninguém, por que eu sei

que “ninguém é melhor do ninguém”, mas ser liberto é muito bom, ser liberto é bom que só, não tem

pareia melhor, ser liberto é muito bom demais”.

Existe muito a fazer para se melhorar em quantidade, onde só é possível serem

“adotadas”(estocadas)sementes produzidas sem o uso de veneno, a dificuldade de ampliar a

participação(e número de pessoas) de colaboradores que ainda não aderiram com mais afinco, não só

na organicidade do banco, como também na aceitação do cultivo e criação de forma agroecológico, na

questão da qualidade, afirma estar conseguindo manter-se satisfatoriamente devido ao “rígido”

seguimento das orientações e normas técnicas agroecológicas de estocagem.

Nos relata que possui mais sementes no seu pequeno lote necessitando serem colhidas,

separadas e selecionadas, mais que está com pouco tempo, no momento sem colaboradores pra ajudar

nessas tarefas, onde isso é justificado pelo aumento de trabalho causado pela antecipação da estiagem

na região, por vezes têm que se ausentar do lote para participar de espaços de articulação e formação

sobre a convivência no semiárido que ele é convidado.

Sobre os avanços e vantagens do implantar e manter o banco de sementes, completa Seu

Carlinhos: “- Veja bem, avanços, vantagens e lucros financeiros praticamente ainda não tem, o avanço é

você mudar a sua forma de viver e cultivar, o avanço e vantagens quem vai ter é Mãe Terra, a Mãe Terra é

quem vai ficar feliz com isso, por que quando você planta uma diversidade ela é quem vai ficar rica, e não

vai ficar doente porque você não vai usar e nem colocar veneno no chão, onde ela vai assim tomar e

aumentar as formas que já existe e retomar as que deixaram de existir”.

“Sei que essa “conversa” pra muitos é repetida, mais acredito que vai servir pra essa juventude

que tá chegando pra aumentar e ajudar no crescimento da ASA”. Diz o “Caboclo Caipira” Seu Carlinhos.