semântica

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semântica Disciplina da linguística que se ocupa do estudo do significado das expressões linguísti cas (sejam elas fonemas,morfemas, palavras, sintagmas, frases) bem como das relações de significado que essas expressões estabelecem entresi e com o mundo. A semântica tem sido dividida em dois planos, de acordo com a unidade em análise: a semâ ntica da palavra e asemântica da frase. A semântica da palavra estuda as relações de sig nificado entre pares de palavras ou entremorfemas. São objeto de estudo as relações de s inonímia, antonímia, hiperonímia, hiponímia, ambiguidade lexical,polissemia, homonímia, metáfora e metonímia. A semântica da frase interessa-se por questões de ambiguidadeestru tural, anomalias na disposição das palavras na frase, por relações de paráfrase, contrad ição, implicação semânticae pressuposição. A semântica interessa-se também pela noção de redundância linguística e por problemas de restriçãona seleção semântica das palavras (n a frase *O cão cacarejou, há uma imposição na determinação do sujeito pelofalante, porque a ação do verbo 'cacarejar' só pode ser realizada pela espécie dos galináceos). No plano da semântica do verbo, abordam-se assuntos relacionados com a expressão linguís tica e significado dascategorias do Tempo, Aspeto, Modo e Modalidade. A semântica do nom e dedica-se à análise do funcionamento dasclasses semânticas dos nomes e dos processos d e que este dispõem para referir o mundo (operações dedeterminação). Nesta linha, os concei tos de sentido e referência ou denotação são fundamentais, apresentando-sebasicamente o sentido como significado conceptual e a referência como correspondência desse sentido no mundoempírico, passível de ser submetido a um valor de verdade ou falsidade. A semântica linguística radica na filosofia da linguagem de Gottlob Frege (1892) e Ludwi g Wittgenstein (1967), entreoutros. Nos últimos cem anos destacam-se cinco paradigmas linguísticos para os estudos em semânt ica lexical: semânticadiacrónica pré-estruturalista, semântica estruturalista, semântica lexical generativa, semântica lógica e semânticacognitiva. Nos finais do século XIX, os estudos semânticos eram dominados pela tendência geral da l inguística histórica deinspiração darwinista, em que se tomava como objeto de estudo a m udança de significado da palavra, segundo umaperspetiva diacrónica (semântica diacrónica pré-estruturalista). Este período, que se teria estendido de 1870 a 1930,teve como princ ipais representantes Michel Bréal e Hermann Paul. A aplicação do estruturalismo à semântica foi levada a cabo por Leo Weisgerber (1927), q ue começou por defenderuma conceção autónoma e imanentista do significado da palavra, re jeitando igualmente a anterior conceção diacrónicapara passar a privilegiar uma metodolo gia de análise sincrónica do significado. A semântica estrutural (Louis Hjelmslev,1943; Algirdas-Julien Greimas, 1966; Bérnard Pottier, 1967) concebe a língua como uma articula ção de unidadesmínimas de significado (semas inseridos em sememas).

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semântica

Disciplina da linguística que se ocupa do estudo do significado das expressões linguísticas (sejam elas fo

nemas,morfemas, palavras, sintagmas, frases) bem como das relações de significado que essas express

ões estabelecem entresi e com o mundo. 

A semântica tem sido dividida em dois planos, de acordo com a unidade em análise: a semântica da pala

vra e asemântica da frase. A semântica da palavra estuda as relações de significado entre pares de pala

vras ou entremorfemas. São objeto de estudo as relações de sinonímia, antonímia, hiperonímia, hiponími

a, ambiguidade lexical,polissemia, homonímia, metáfora e metonímia. A semântica da frase interessa-se 

por questões de ambiguidadeestrutural, anomalias na disposição das palavras na frase, por relações de 

paráfrase, contradição, implicação semânticae pressuposição. A semântica interessa-se também pela no

ção de redundância linguística e por problemas de restriçãona seleção semântica das palavras (na frase 

*O cão cacarejou, há uma imposição na determinação do sujeito pelofalante, porque a ação do verbo 'ca

carejar' só pode ser realizada pela espécie dos galináceos). 

No plano da semântica do verbo, abordam-se assuntos relacionados com a expressão linguística e signifi

cado dascategorias do Tempo, Aspeto, Modo e Modalidade. A semântica do nome dedica-se à análise do 

funcionamento dasclasses semânticas dos nomes e dos processos de que este dispõem para referir o mu

ndo (operações dedeterminação). Nesta linha, os conceitos de sentido e referência ou denotação são fun

damentais, apresentando-sebasicamente o sentido como significado conceptual e a referência como corr

espondência desse sentido no mundoempírico, passível de ser submetido a um valor de verdade ou falsi

dade. 

A semântica linguística radica na filosofia da linguagem de Gottlob Frege (1892) e Ludwig Wittgenstein (

1967), entreoutros. 

Nos últimos cem anos destacam-se cinco paradigmas linguísticos para os estudos em semântica lexical: 

semânticadiacrónica pré-estruturalista, semântica estruturalista, semântica lexical generativa, semântica 

lógica e semânticacognitiva. 

Nos finais do século XIX, os estudos semânticos eram dominados pela tendência geral da linguística histó

rica deinspiração darwinista, em que se tomava como objeto de estudo a mudança de significado da pala

vra, segundo umaperspetiva diacrónica (semântica diacrónica pré-estruturalista). Este período, que se te

ria estendido de 1870 a 1930,teve como principais representantes Michel Bréal e Hermann Paul.

A aplicação do estruturalismo à semântica foi levada a cabo por Leo Weisgerber (1927), que começou po

r defenderuma conceção autónoma e imanentista do significado da palavra, rejeitando igualmente a ant

erior conceção diacrónicapara passar a privilegiar uma metodologia de análise sincrónica do significado. 

A semântica estrutural (Louis Hjelmslev,1943; Algirdas-Julien Greimas, 1966; Bérnard Pottier, 1967) conc

ebe a língua como uma articulação de unidadesmínimas de significado (semas inseridos em sememas). 

Assim, o significado de uma palavra seria a combinação de semas que existiriam em número finito. A an

álise sémica oucomponencial de uma palavra era a decomposição do seu sentido em traços mínimos de 

significação. Os problemassurgiam quando se tentava reduzir todo o universo de significações das língua

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s a um conjunto finito de unidadesmínimas de significação. 

Por volta dos fins dos anos 60 e princípios dos anos 70, o generativismo reformulou e reabilitou o estrutu

ralismo,através do desenvolvimento de uma linguagem formal baseada em modelos matemáticos. O suc

esso da análisecomponencial dos fonemas das línguas pelo generativismo, baseado num conjunto de tra

ços binários e de condiçõesnecessárias e suficientes, serviu de justificação teórica para a sua utilização c

omo ferramenta metodológica para aanálise em semântica lexical. A semântica surge confundida com a 

sintaxe no modelo proposto por Noam Chomsky(1965) em que as estruturas profundas seriam uma form

ulação semântica das estruturas de superfície, manifestadaspela sintaxe. Este modelo de análise ficou co

nhecido como semântica generativa ou semântica componencial.

Desenvolvimentos posteriores da semântica lexical generativista conduziram ao aparecimento de dois q

uadros teóricosem paralelo: a semântica lógica de Donald Davidson e a gramática de Montague, por um l

ado, e a semântica cognitivade raiz psicologista, por outro. Ambos os quadros teóricos decorreram da fal

ência de algum aspeto da semânticacomponencial de raiz generativista. 

A semântica lógica, por seu lado, aperfeiçoou o aparelho formal de análise do significado através de uma 

reelaboraçãoe de um refinamento da lógica clássica. A linguagem era entendida como sendo gerada a p

artir de regras lógicas etraços semânticos objetivos, podendo por isso ser formalizável. Surgiu assim uma 

semântica altamente formal, centradanas condições de verdade e nas propriedades da proposição, desvi

ando-se do estudo individual da palavra. 

Paralelamente, as investigações psicologistas de Eleanor Rosch (1973, 1975, 1978) e de Brent Berlin (19

74) sobre aorganização categorial das cores e das plantas, respetivamente, conduziram à aplicação de u

ma abordagemcognitivista aos estudos semânticos. Além disso, já o paradigma generativista continha a 

conceção cognitivista de quea linguagem é um sistema de conhecimento. Para o cognitivismo, a linguag

em em interação com outros sistemascognitivos (perceção, atenção, memória, raciocínio...) tem como fu

nção primária a categorização do mundo, impondo-lhe uma estrutura, uma organização. O cognitivismo, 

com a sua adaptação à semântica lexical, veio constituir umaalternativa ao paradigma generativista mai

s adequada ao objeto de estudo da semântica. 

A teoria do protótipo (Georges Kleiber, George Lakoff, John R. Taylor, Dirk Geeraerts) é um desenvolvime

nto do modelocognitivista, partindo do princípio fundamental de que não é possível encontrar um conjunt

o de traços sémicos comunsa todos os membros de uma categoria. A categorização não se faz por exclu

são dos semas que separam os membrosde uma categoria, mas sim pelo reconhecimento dos semas qu

e podem aproximá-los, isto é, aquilo que L. Wittgensteindesignou por "semelhanças de família" e que foi 

integrado no modelo cognitivista. As categorias apresentam muitasvezes limites difusos. Desta forma, ex

istem categorias com exemplares mais representativos, ou seja, mais prototípicos,do que outros, os quai

s se dispõem pelas margens do protótipo. Assim, por exemplo, a "azeitona" apresentacaracterísticas mai

s prototípicas da categoria legume, do que da categoria fruto, embora seja um fruto da oliveira. 

Atualmente os estudos em semântica do português dividem-se entre os paradigmas de pendor generativ

ista (FátimaOliveira, M. H. Costa Campos, A. Brito, entre outros) e cognitivista (Augusto Silva, José Teixeir

a, Hanna Batoréo, entreoutros).

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Como referenciar este artigo:

semântica. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-03].

Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$semantica>.

sema

Unidade mínima de significação em semântica componencial, equivalente ao traço fonológico distintivo, cuja soma comoutros semas permite formar o semema, unidade maior que o sema e onde o sema se realiza. Por outras palavras, domesmo modo que em fonologia os traços de vozeado e não vozeado distinguem os fonemas [p] ≠ [b], [t] ≠ [d] e [k] ≠[g], também em semântica os semas "macho"/ "fêmea" distinguem os sememas <cavalo>/ <égua>, ou os semas"jovem"/ "adulto" distinguem os sememas <pintainho>/ <galinha>. Segue-se um exemplo de análise componencial paraos sememas <poltrona> e <cadeira>, segundo a proposta de B. Pottier (1963):

Os semas distinguem sememas dentro do mesmo campo lexical (neste caso, <poltrona> e <cadeira> pertencem aocampo lexical mobiliário para sentar). B. Pottier distingue os semas constantes (que por sua vez se dividem em específicos e genéricos), que possuem umadimensão denotativa, dos semas variáveis e atualizáveis (também designados por virtuemas), que pertencem aocampo conotativo. Por exemplo, <cavalo> teria por semas constantes e específicos "animal", "mamífero", etc., porsemas constantes e genéricos "animado não humano", "descontínuo" e por semas variáveis ou conotativos "velocidade","elegância", "personalidade", "nobreza". A análise sémica coloca algumas questões. Primeiro, a análise dos semas conotativos, na designação de B. Pottier, oucontextuais, na expressão de A. J. Greimas, só pode ser feita em termos de análise do discurso em que os lexemas seinserem, e não apenas ao nível da língua ou do significado dicionarizado. Segundo, a descrição de um semema emtermos de semas não prevê toda a variedade de realizações possíveis de uma entidade no mundo real, uma vez queexistem por exemplo, cadeiras com braços e até sem pés; daí que esta análise veio a ser reformulada em função dosconceitos de imagem mental e de protótipo. Terceiro, ao contrário da fonologia em que existe uma lista fechada detraços fonológicos, não parece haver limites no inventário de semas, o que torna a análise sémica dependente datipologia encontrada por cada semanticista. Contudo, apesar das dificuldades teóricas apresentadas e de outras também existentes a análise sémica foi aplicadacom sucesso ao ensino de línguas, ao nível da aprendizagem do vocabulário, uma vez que permite resolver problemasde tradução e de interpretação geral do léxico.

Como referenciar este artigo:

sema. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-03].

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sememaSegundo a proposta de análise componencial de B. Pottier, o semema é o resultado da soma dos semas que formam osignificado global de um lexema. Assim, o semema <cadeira> é o resultado de Sema1 "para sentar", mais o Sema 2 "compés", mais o Sema 3 "com encosto", mais o Sema 4 "sem braços": 

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Semema <cadeira> = S1 (para sentar) + S2 (com pés) + S3 (com encosto) + S4 (sem braços)

O semema distingue-se do lexema na medida em que representa o conteúdo semântico do lexema, constituído pelosomatório de semas, sendo o lexema uma unidade de mais alto nível que contém informação morfológica e semântica. Segundo L. Bloomfield e U. Weinreich, semema é uma unidade mínima de significado à semelhança da conceção dePottier, mas excluindo a análise do significado por semas.

Como referenciar este artigo:semema. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-03].Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$semema>.

teoria dos protótipos

Nascida na antropologia e na psicologia cognitivista, a teoria dos protótipos constituiu um desenvolvimento teóricodentro do paradigma da linguística cognitiva, tendo sido assim estendida à análise léxica e semântica. A teoria dosprotótipos, que teve como precursores Georges Kleiber (1990, 1991) e George Lakoff (1987), apresentou-se como omodelo de explicação do fenómeno da categorização, conceito essencial para as ciências cognitivas, partindo doprincípio fundamental de que não é possível encontrar um conjunto de traços sémicos comuns a todos os membros deuma categoria. A categorização da realidade envolvente não se faz por exclusão dos semas que separam os membrosde uma categoria, mas sim pelo reconhecimento dos semas que podem aproximá-los, isto é, aquilo que Wittgensteindesignou por "semelhanças de família" e que foi integrado no modelo cognitivista. As categorias apresentam muitasvezes limites difusos. Desta forma, existem categorias com exemplares mais representativos, ou seja, mais prototípicos,do que outros, os quais se dispõem pelas margens do protótipo, os membros periféricos do protótipo. Assim, porexemplo, quando se faz um inquérito a respeito dos exemplares que cada indivíduo considera fazerem parte dacategoria fruto, obtemos resultados ligeiramente diferentes segundo cada pessoa, mas o centro do protótipo para frutocontém certamente exemplares como laranja, maçã, ananás, ameixa, uva, enquanto que exemplares como azeitona outomate ficarão nas margens do protótipo. Isto explica-se pelo conjunto de características que associamos à imagemmental de fruto (sumarento, doce, utilizado para sumos, utilizado como sobremesa, utilizado em saladas com outrosfrutos, etc.) e que estão presentes em cada exemplar de forma diferente. A inclusão de um elemento dentro de umacategoria define-se em função do grau de semelhança estabelecido com o protótipo.

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linguísticaDisciplina científica que se dedica ao estudo do funcionamento da linguagem e das línguas naturais. A linguística atual tem desenvolvido diversas linhas de investigação, cujos estudos e progressos contribu

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íram para aformação de verdadeiras subdisciplinas dentro da linguística, em que a interdisciplinaridade é uma constante na suametodologia de análise. As principais linhas de investigação na linguística contemporânea são:

Linguística geral: estudo dos princípios gerais e translinguísticos subjacentes ao uso e funcionamento das línguasnaturais, independentemente da sua especificidade e diversidade. Fonética: estudo da realidade acústica, do funcionamento articulatório e anatómico e da interpretação percetiva dossons de uma determinada língua natural. Fonologia: estudo do sistema sonoro de uma língua, das regras subjacentes à combinação desses sons e do modocomo esses sons exprimem distinções de significado. Prosódia: estudo da dimensão suprassegmental da língua e do impacto, do ponto de vista comunicativo, que essadimensão exerce na língua, ou seja, a prosódia dedica-se à análise das variações sofridas pela frequência fundamental(também entoação), pela intensidade e pela duração de certos segmentos linguísticos.Morfologia: estudo da formação e da estrutura interna das palavras na língua.Sintaxe: estudo das regras subjacentes à organização das palavras numa frase gramaticalmente bem formada.Semântica: estudo do significado da produção e interpretação de palavras e frases.Pragmática: estudo do uso da língua em contexto por oposição ao estudo do sistema da língua.Análise do discurso: estudo do uso e funcionamento dos vários tipos de organização discursiva (como o discursonarrativo, descritivo, argumentativo, explicativo, dialogal, entre outras possibilidades tipológicas). Linguística histórica (ou diacrónica): estudo da origem e evolução de uma dada língua ao longo de um certo períodotemporal. Linguística aplicada: aplicação ao ensino/aprendizagem das línguas maternas e estrangeiras dos princípios teóricos emetodológicos resultantes da investigação das diversas áreas da linguística.Sociolinguística: estudo das características e dos fatores de ordem social que influenciam e determinam uma línguaou variedade linguística. Psicolinguística: estudo da relação entre processos mentais (perceção, memória, atenção) e a aquisição edesenvolvimento da linguagem verbal. Disciplina em relação com as outras disciplinas - as Patologias da Fala e aPsicologia do Desenvolvimento. Dialetologia: estudo das características e do funcionamento subjacente à diversidade geográfica das línguas, refletidaem dialetos e sotaques. Neurolinguística: estudo da relação entre o cérebro e a linguagem e dos mecanismos subjacentes à aquisição eutilização da capacidade da linguagem pelo homem. Linguística computacional (também designada por engenharia da linguagem): interseção entre as novas tecnologiasde processamento computacional das línguas e os conhecimentos fornecidos pela linguística teórica. Inclui oprocessamento da linguagem natural (PLN) e o processamento computacional da fala, com destaque para a síntese dafala e reconhecimento de voz.Terapia da fala: diagnóstico, análise e tratamento das perturbações da fala e do processamento cognitivo dalinguagem. Lexicologia: estudo do vocabulário no que respeita à sua frequência, distribuição, conteúdo, formação e história. Lexicografia: ramo da lexicologia que se dedica à realização de dicionários monolingues e bilingues.

A linguística como ciência surgiu no início do século XIX com o método histórico-comparativista. Até ao século XIX,os estudos sobre a linguagem encontravam-se associados à filosofia e à gramática normativa, que possuíam objetos deestudo, finalidades e métodos diferentes dos que viriam a ser desenvolvidos pela linguística moderna. Em 1816, FranzBopp publicava o primeiro estudo sobre morfologia comparada indo-europeia: "Sobre o sistema flexional da línguasânscrita, comparado com os do grego, do latim, do persa e das línguas germânicas". Seguiram-se os estudos deoutros indo-europeístas, os dinamarqueses Rasmus Rask e Karl Verner, e o alemão Jacob Grimm, que desenvolveramtrabalhos sobre as tendências evolutivas do ramo das línguas germânicas no quadro geral das línguas indo-europeias.As descobertas de Charles Darwin sobre a evolução das espécies vieram reforçar os estudos evolucionistas sobre aslínguas indo-europeias e garantir um estatuto científico às novas metodologias linguísticas. Nos anos 70 do século XIX, um grupo de académicos da Universidade de Leipzig desenvolveu a Teoria Neo-Gramática, baseada no princípio de que as tendências gerais descobertas para as línguas germânicas não eram maisque leis linguísticas, à semelhança das leis científicas proclamadas por Darwin. Os neo-gramáticos, de onde constam osnomes de Hermann Osthoff, Karl Brugmann, A. Leskien e Hermann Paul, lançaram as bases que viriam a tornar alinguística uma ciência, assente nos seguintes princípios:

1. há uma regularidade na mudança fonológica - toda a mudança dos sons da língua obedece a leis que não admitemqualquer exceção;2. a diversidade sincrónica das línguas é o ponto de partida para estudar a diacronia dessas mesmas línguas;

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3. a analogia é um dos motivos psicológicos que estão na base da mudança linguística, o que explicaria sempre oscasos que escapassem às regularidades fonológicas.

A teoria neo-gramática elegeu a linguística histórica como objeto de estudo, tendo-se dedicado em especial àfonologia, à morfologia e à sintaxe diacrónicas. Nos alvores do século XX, concretamente em 1915, é publicada, a título póstumo, uma obra que viria a ser consideradacomo a base dos estudos em linguística contemporânea: o "Cours de Linguistique Général", de Ferdinand de Saussure.Esta obra, que reunia as aulas ministradas por Saussure e compiladas pelos seus alunos C. Bally e A. Sechehaye, viria adefinir com rigor o método e o objeto de estudo da linguística, assinalando o seu carácter descritivo e não normativo,destacando-se da filologia ou da gramática comparativista oitocentista. A nova linguística saussuriana nasce entre asemiologia, enquanto estudo dos signos da língua, e o pensamento estrutural, enquanto estudo da língua comoestrutura e sistema, lançando assim as bases de uma nova ciência da linguagem.Nos anos 30 do século XX, o Círculo Linguístico de Praga lança as bases do chamado "estruturalismo europeu", que viriaa ser continuado pelas escolas da Glossemática de L. Hjelmslev (1943) e do Funcionalismo de A. Martinet.Paralelamente, desenvolve-se no mundo anglo-saxónico o "estruturalismo Americano", que conheceu desenvolvimentosmais profundos no Distribucionalismo de L. Bloomfield, C. F. Hockett (1958) e Z. S. Harris (1951, 1962) e vindo aencontrar a sua mais ampla expressão no Generativismo de N. Chomsky (1957, 1965) e seus seguidores. Nos anos 60 do século XX, William Labov dá início a uma revolução no campo da linguística, com estudos sobre o tecidosocial americano e a sua influência nos falares da região. Labov, com a sua obra Sociolinguistic Patterns, veiodemonstrar que a mudança linguística é visível na sincronia, quando se avalia a diversidade e a dinâmica social. O boomda sociolinguística viria a ter grande impacto na linguística em geral e sobretudo na linguística aplicada às línguasestrangeiras. A pragmática e a análise do discurso viriam a nascer por esta altura, com os estudos de Émile Benveniste sobre aenunciação e a subjetividade na linguagem. Também no mundo anglo-saxónico, os trabalhos dos filósofos da linguagemJohn Austin e John Searle sobre os atos ilocutórios e os estudos de H. Paul Grice sobre o funcionamento daconversação lançaram os princípios de uma nova conceção e metodologia em linguística, instituindo uma linguísticaassente no uso/ funcionamento da língua em alternativa a uma linguística do sistema, que viria a ser continuada atéhoje pelos desenvolvimentos em torno do generativismo de Noam Chomsky. O advento das novas tecnologias e da sociedade de informação fizeram com que a linguística fosse aplicada a novasáreas científicas, tendo assim surgido novas linhas de investigação como a linguística computacional, a engenharia dalinguagem, o processamento das línguas naturais, o processamento computacional da fala, a tradução automática, etc.A interdisciplinaridade dominante nos novos paradigmas da ciência e o desenvolvimento do paradigma cognitivistaaplicado às ciências cognitivas, conduziram a linguística para as áreas das ciências da saúde e da psicologia, tendodado origem à terapia da fala, à psicolinguística e à neurolinguística.

Como referenciar este artigo:linguística. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-11-04].Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$linguistica>.

implicação (lógica/semântica)Relação lógica entre duas proposições P e Q, expressa pela fórmula lógica se P então Q (P→Q), em que se P éverdadeira então Q também tem que ser verdadeira, porque a informação contida em Q está também incluída em P. Deigual modo, se Q é falsa, P também deve ser falsa para que haja uma relação de implicação. É um tipo de relaçãoapenas centrado nos valores de verdade das proposições. Como exemplos, considerem-se as frases seguintes: 

i) Tareco é um gato.ii) Tareco é um animal.

iii) A tua camisola é azul.iv) A tua camisola tem uma cor. 

A proposição i) implica a proposição ii), assim como a proposição iii) implica a proposição iv) se ambas as proposiçõesforem verdadeiras no mundo real ou possível em que se inserem. Esta relação é assegurada pela relação de hiperonímia/hiponímia estabelecida no plano lexical entre os lexemas gato (hipónimo) / animal (hiperónimo) e azul (hipónimo) / cor(hiperónimo). 

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Em semântica, este tipo de relação entre proposições designa-se por implicação estrita, podendo ser definida pelarelação entre uma frase ou um grupo de frases (implicans) e outra frase (implicatum) cujo sentido está implicado noconteúdo semântico da(s) outra(s) frase(s). Ou por outras palavras, P implica estritamente Q se em todos os mundosem que P é verdadeira, Q também é verdadeira. Um exemplo de implicação estrita pode ser observado no raciocíniosilogístico: 

v) Todos os homens são mortais.vi) Pedro é homem.vii) Pedro é mortal.

A conclusão do silogismo (frase vii) é uma proposição verdadeira. Sendo as anteriores proposições também verdadeiras,podemos afirmar que v) e vi) implicam estritamente vii). A implicação é uma relação entre proposições próxima da pressuposição.

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pressuposição semânticaRelação de sentido entre duas proposições em que se P é verdadeira, Q também é verdadeira, mas se P for falsa, Qmantém-se verdadeira. A sua propriedade permanece mesmo quando se faz a negação da proposição. Os exemplosseguintes são exemplos do funcionamento da pressuposição semântica:

i) Afirmação: O polícia tem muita pena que a senhora tenha sido roubada.ii) Interrogação: O polícia tem muita pena que a senhora tenha sido roubada?iii) Negação: O polícia não tem pena que a senhora tenha sido roubada.iv) Pressuposição: A senhora foi roubada. 

Analisando as proposições, podemos constatar que estamos perante exemplos de implicação estrita, uma vez que averdade de i) implica a verdade de iv). Porém, o que distingue a relação de pressuposição da relação de implicaçãoestrita é que para a implicação estrita, se i) é verdade, iv) também é verdade, enquanto que para a pressuposição, iv)é sempre verdade mesmo perante a negação de i) (cfr. iii)) e a interrogação de i) (cfr. ii)). Ou seja, iv) é sempre umaproposição verdadeira independentemente da atitude proposicional que se tiver (negação ou interrogação). 

Os estudos em semântica permitiram identificar as construções que desencadeiam pressuposições semânticas.Encontramos pressuposição semântica com: 

a) predicados factivos (lamentar, ter pena, saber que; estar contente/ triste que; estar surpreendido); 

b) verbos auxiliares de aspeto (voltar a, deixar de, continuar a) 

i. O João deixou de fumar. ii. Pressuposição: O João fumava.

c) frases clivadas ou encaixadas (com processos de foco sintático)

iii. Foi o Futebol Clube do Porto que ganhou o campeonato.iv. Não foi o Futebol Clube do Porto que ganhou o campeonato.v. Foi o Futebol Clube do Porto que ganhou o campeonato?vi. Pressuposição: Algum clube ganhou o campeonato. 

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cognitivismo e linguística cognitivaParadigma científico contemporâneo nascido nos anos 70 (Brent Berlin, 1974; Eleanor Rosh, 1975), que procura estudaro domínio complexo da cognição humana (incluindo problemas de representação e organização do conhecimento,questões de processamento da linguagem e de aprendizagem, mecanismos de a

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preensão da experiência e da vivênciabiológica, cultural e social) através da interdisciplinaridade de domínios científicos como a neurologia, a inteligênciaartificial, a psicologia, a linguística, a filosofia e a antroplogia. A aplicação do cognitivismo à linguística constituiu uma alternativa ao paradigma generativista que dominou, durantemeio século, o panorama dos estudos linguísticos, na medida em que compreende o fenómeno da linguagem humanacomo resultado da experiência física, social e cultural de um indivíduo. A linguística assume um papel fundamental nopanorama das ciências cognitivas, na medida em que a linguagem, pela sua função essencialmente categorizadora,contribui para o conhecimento do real ao mesmo tempo que lhe impõe uma organização, uma estrutura, umaconstrução. A forma como categorizamos a realidade é um fenómeno linguístico e cognitivo, uma vez que é o resultadoda interação entre a nossa experiência corpórea e o mundo. Esta dependência corpo-linguagem-mundo é o princípioque está na base daquilo a que George Lakoff (1987) designou por experiencialismo, por oposição ao objetivismo dosparadigmas tradicionais pré-cognitivistas. Lakoff (1987) enuncia os postulados do paradigma cognitivista: 

1. o pensamento é "embodied", ou seja, os sistemas categorizadores e conceptuais decorrem da nossa experiênciacorporal e social;2. o pensamento é imaginativo, não é apenas "mirror of nature", e através de processos cognitivos como a metáfora,a metonímia e imagens mentais, é capaz de ir para além da representação imediata da realidade;3. o pensamento tem "gestalt properties", logo não é atomista; os conceitos não são apenas o resultado da simplesjustaposição de semas e unidades individuais.

Ronald Langacker (1987) acrescenta ainda que:

1. O estudo da linguagem não pode separar-se da sua função cognitiva e comunicativa, pelo que deve partir da análisedo seu uso e não do seu funcionamento teórico;2. A categorização da realidade não se realiza a partir de condições necessárias e suficientes, segundo os postuladosda semântica componencial generativista, mas sim a partir de relações conceptuais, de aproximação/ afastamento emrelação ao protótipo, de semelhanças de família; 3. A função primária da linguagem é a significação, o que a torna iminentemente simbólica. A gramática não se separada semântica, pois também ela é representativa e estruturadora da componente semântica;4. A linguagem deve ser entendida como uma entidade dinâmica cujos componentes (semântica e pragmática,semântica e gramática) estão em continuidade e não em dicotomia. A gramática é um organismo em evolução contínua,que se mantém ou altera pelo uso linguístico que se faz dela. 

A linguística cognitiva é o resultado da confluência de várias linhas de investigação, de onde se destacam as seguintestendências: 

Teoria dos protótipos: modelo de explicação do fenómeno da categorização, partindo do princípio de que não épossível encontrar um conjunto de traços sémicos comuns a todos os membros de uma categoria. A categorização deum determinado exemplar não se faz por exclusão das propriedades que separam os membros de uma categoria, massim pelo reconhecimento dos semas que podem aproximá-los. Desta forma, existem categorias com exemplares maisrepresentativos, ou seja, mais prototípicos, do que outros, os quais se dispõem pelas margens do protótipo e queconstituem os membros periféricos do protótipo. Destacam-se os nomes de John R. Taylor (1989), Dirk Geeraerts(1988, 1989, 1992, 1995), Georges Kleiber (1990). 

Semântica cognitiva : propostas teóricas que procuram perceber a interação entre o significado de dicionário e osconhecimentos enciclopédicos. Esta conceção de semântica, inseparável da de pragmática, deu lugar aos conceitos demodelo cognitivo idealizado (G. Lakoff, 1987), domínio cognitivo (R. Langacker, 1987, 1991), marco (C. Fillmore, 1985),espaço mental (G. Fauconnier, 1984). 

Teoria da metáfora : modelo que parte da hipótese de que a metáfora não é apenas uma figura estilística, mas simum processo cognitivo, à semelhança da metonímia, que partindo do uso linguístico em interação com a experiênciasensorial e cultural, torna abstratos conceitos originariamente concretos. Desenvolvida por G. Lakoff (1987, 1993),Mark Johnson (1980) e Mark Turner (1991, 1996). 

Gramática cognitiva: modelo que considera a gramática como um conjunto organizado de unidades simbólicas,resultante da articulação entre uma dimensão semântica e uma dimensão formal (constituída pelo léxico, morfologia esintaxe). Forma e significado são dependentes, pelo que qualquer alteração na forma tem implicações no significado evice-versa (R. Langacker, 1987, 1990, 1991). 

Gramática de construções: construída em torno do conceito de construção, unidade básica da gramática, seguiu doispercursos diferentes: um menos formalizado, aproximado com a gramática de Langacker, 

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seguido por A. E. Goldberg(1995); e outro altamente formalizado, próximo até das orientações generativistas, com C. Fillmore e P. Kay (1988). 

Teoria da gramaticalização: ainda que vinculado ao funcionalismo anglo-saxónico, trata-se de um modelo que sededica à mudança linguística, concebendo a língua como entidade dinâmica em contínuo processo de mudançamotivado pelo seu uso (P. Hopper & S.Thompson, 1985, P. Hopper, 1987; E. Sweetser, 1990; B. Heine et al, 1991).

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